(2015) Regulação e Serviços Públicos - Patrícia Sampaio
(2015) Regulação e Serviços Públicos - Patrícia Sampaio
(2015) Regulação e Serviços Públicos - Patrícia Sampaio
Serviços Públicos
AUTORES: SÉRGIO GUERRA E PATRÍCIA SAMPAIO
GRADUAÇÃO
2015.1
Sumário
Regulação e Serviços Públicos
Introdução...................................................................................................................................................... 3
Introdução
postos aos estudiosos do Direito Administrativo.8 Por exemplo: é sabido que nas princi-
8
c. Método participativo
A avaliação será composta por duas provas de igual peso. A nota final será
composta pela média aritmética entre as duas notas obtidas pelo aluno, notas
por conceito e eventuais atividades complementares que venham a ser opor-
tunamente solicitadas aos alunos.
g. Conteúdo da disciplina
PLANO DE ENSINO
Aula 1
I. TEMA
II. ASSUNTO
Regulação estatal.
O objetivo desta aula consiste em discutir alguns dos principais temas que
comporão o curso Serviços Públicos e Controle da Administração Pública.
9
CHEVALLIER, Jacques. O Estado pós-
IV. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO -moderno. Tradução de Marçal Justen
Filho. Belo Horizonte: Editora Fórum,
2009. p. 16.
O presente curso insere-se no contexto da crescente complexidade da so- 10
Post-modern condition. Minneapolis:
ciedade contemporânea e fortalecimento da democracia. Segundo Jacques University of Minnesota Press, 1985.
Chevallier, as transformações que os Estados conhecem atualmente não po- Eros Roberto Grau entende que estão
11
12
JUSTEN FILHO. Curso de direito ad-
ministrativo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva,
2006, p. 18.
13
Conforme advertência de Sabino
Cassese, a regulação existe quando a
classe política se libera de uma parte de
seus poderes a favor de entidades não
eleitas pelo povo, que são capazes de
bloquear as decisões das eleitas. Para
que essa condição ocorra, não basta a
separação entre regulador e operador.
É preciso, também, a separação entre
regulador e governo, cujo fim é evitar
a politização das decisões. Ele permite
distinguir toda forma de intervenção
Com as premissas da pós-modernidade e que acabaram por impor fortes ou controle desenvolvida sob a direção
do governo da regulação em sentido
mudanças na condução da Ordem Econômica em diversos países, notada- estrito. La globalización jurídica. Trad.
Luis Ortega, Isaac Martín Delgado e
mente na Europa durante a década de 80, o modelo de Estado Regulador foi Isabel Gallego Córceles. Madrid: Marcial
Pons, 2006, p. 151. Nas palavras de
confirmado no Brasil com a promulgação da Constituição Federal de 1988. Egon Bockmann Moreira, o fenômeno
Nesse novo sistema dito neoliberal, o modelo liberal e o intervencionismo da concentração sem centralização faz
com que o poder estatal seja fragmen-
social cedem lugar à intervenção estatal na ordem econômica social, impon- tado numa rede de autoridades inde-
pendentes, detentoras de competên-
do-se que “novas necessidades sejam identificadas e expostas, especialmente cias autônomas, com o poder central
para que o Estado neutralize os excessos e se valha de seu poder como instru- apenas estabelecendo a política geral
de todos os setores e as metas a serem
mento de controle da atuação privada”.12 atingidas. MOREIRA, Egon Bockmann.
Agências reguladoras independentes,
Diante desse contexto, e sob o aspecto orgânico, a Administração Pública déficit democrático e a “elaboração
processual de normas”. In: Estudos de
direta, considerando a premente necessidade de atrair investimentos — so- direito econômico. Belo Horizonte: Ed.
bretudo estrangeiros — decidiu abrir mão da função de regular diretamente Fórum, 2004, p. 172.
inevitabilidade da retração do Estado frente às necessidades sociais, ou, SOUTO, Marcos Juruena Villela. De-
18
VI. AVALIAÇÃO
Caso gerador
Aula 2
I. TEMA
II. ASSUNTO
Introdução
E conclui que:
39
Segundo dados obtidos no BNDES
A desestatização implementada no país foi executada mediante várias mo- (www.bndes.gov.br/privatizacao
acesso em 31 de julho de 2003), entre
-
dalidades39: alienação de participação societária detida pelo Estado, inclusive 1990 e 1992 foram incluídas sessenta
e oito empresas no PND, das quais de-
de controle acionário; abertura de capital; aumento de capital, com renúncia zoito foram desestatizadas, com a arre-
cadação de cerca de quatro bilhões de
ou cessão, total ou parcial, de direitos de subscrição; alienação, arrendamen- dólares norte-americanos, em grande
to, locação, comodato ou cessão de bens e instalações; dissolução de socie- parte através de títulos representati-
vos da dívida pública federal. Nos três
dades ou desativação parcial de seus empreendimentos, com a consequente primeiros anos do PND a estratégia
governamental constituiu-se em con-
alienação de seus ativos; e concessão, permissão ou autorização de serviços centrar esforços na venda de estatais
públicos.40 Conforme visto, o programa de desestatização fez-se acompanhar produtivas, pertencentes a setores
anteriormente estratégicos para o de-
da instituição de toda uma estrutura reguladora por parte do Estado, sen- senvolvimento do País, tais como com-
panhias siderúrgicas, petroquímicas e
do relevante, por conseguinte, estudar o significado da regulação do Estado de fertilizantes. Em 1993 e 1994 inten-
sificou-se o processo de transferência
sobre a atividade econômica, a partir das considerações a seguir tecidas, e o de empresas produtivas ao setor pri-
conseqüente impacto sobre o estudo do direito administrativo. vado, concluindo-se a privatização das
empresas siderúrgicas. Nesse período
foram desestatizadas quinze empresas,
com a arrecadação de cerca de quatro
e meio bilhões de dólares norte-ame-
ricanos, em sua maior parte em mo-
eda corrente. Em março de 1994, pelo
Decreto nº 1.068 o Executivo Federal
incluiu no PND as participações societá-
rias minoritárias detidas por fundações,
autarquias, empresas públicas, socie-
dades de economia mista e quaisquer
outras sociedades controladas, direta
ou indiretamente, pela União Federal.
Com a eleição do Presidente Fernando
Henrique Cardoso em 1995 houve uma
intensificação nas privatizações. O PND
foi apontado como sendo um dos prin-
cipais instrumentos do Programa Dire-
tor da Reforma do Aparelho do Estado.
Entre 1995 e 1996, após significativas
alterações da matriz constitucional
mediante a flexibilização dos serviços
de telecomunicações e do monopólio
da exploração do petróleo e do gás
natural, dentre outras, e com a edição
de lei específica acerca da concessão e
permissão dos serviços públicos (Lei nº
8.987/95), iniciou-se uma nova fase do
Regulação da atividade econômica PND, em que os serviços públicos foram
sendo concedidos à iniciativa privada,
com destaque para o setor elétrico, de
A terminologia “regulação da atividade econômica” apresenta mais de um transportes e telecomunicações. É re-
levante registrar que em 1997 ocorreu
sentido, dependendo do contexto em que for utilizada. Com efeito, o termo um dos grandes marcos do PND, com
a venda das ações da Companhia Vale
pode ser interpretado tanto como significando um conjunto de atividades do Rio Doce - CVRD, num processo de
estatais voltadas à regulamentação de um determinado setor específico da desestatização pautado por intensa
batalha de liminares judiciais. Com a
economia (como, por exemplo, os setores de telecomunicações, energia, se- privatização da Companhia Vale do
Rio Doce encerrou-se praticamente a
guros de saúde, petróleo, dentre outros), mas também como o conjunto das transferência à iniciativa privada das
empresas industriais e o início de uma
atividades estatais voltadas à fiscalização e regulamentação sobre a generali- nova fase, cujo foco principal foi a pri-
dade dos agentes da economia, como é o caso das atividades exercidas pelos vatização de empresas ligadas à área
de infra-estrutura e as concessões de
órgãos ambientais e de defesa da concorrência.41 De outra perspectiva, mas serviços públicos. Além da privatiza-
ção da CVRD, merece destaque, ainda,
igualmente espelhando a pluralidade de significados que o termo pode abar- o término da desestatização da Rede
Ferroviária Federal — RFFSA, com a
car, observa Vital Moreira: venda da malha Nordeste e o leilão de
sobras de 14,65% das ações ordinárias
Quanto à amplitude do conceito, aparecem-nos três concepções de da Companhia Espírito Santo Centrais
regulação: (a) em sentido amplo, é toda forma de intervenção do Estado Elétricas - Escelsa. Nesse ano também
foi realizada a primeira privatização no
na economia, independentemente de seus instrumentos e fins; (b) num setor financeiro, envolvendo as ações
do Banco Meridional do Brasil S/A. Em
sentido menos abrangente, é a intervenção estatal na economia por 16 de julho de 1997 foi editada a Lei nº
9.472, a Lei Geral de Telecomunicações,
outras formas que não a participação direta na atividade econômica, tornando-se possível o processo de
equivalendo, portanto, ao condicionamento, coordenação e disciplina privatização do setor de telecomuni-
cações, no qual foram licitadas con-
da atividade econômica privada; (c) num sentido restrito, é somente o cessões de telefonia móvel celular para
três áreas do território nacional. Em ju-
condicionamento normativo da atividade econômica privada (por via lho de 1998 o governo federal alienou
de lei ou outro instrumento normativo).42 as ações das doze holdings, criadas a
partir da cisão do Sistema Telebrás, re-
presentando a transferência à iniciativa
privada das Empresas de Telefonia Fixa
Dessa forma, a atividade estatal de regulação, em seu sentido mais técnico e de Longa Distância, bem como das
empresas de Telefonia Celular-Banda
e restrito, constitui uma espécie do gênero intervenção estatal na economia, A. O resultado financeiro com a venda
diferindo, todavia, da participação direta do Estado, tanto no que tange aos das ações dessas doze empresas somou
22.057 milhões de reais, sendo que o
seus pressupostos, quanto aos seus objetivos e instrumentos. Nesse sentido, ágio médio foi de 53,74% sobre o preço
mínimo. Foi transferida para a iniciativa
expõe Marçal Justen Filho: privada a exploração do Terminal de
Contêineres do Porto de Sepetiba (Te-
con 1), da Cia. Docas do Rio de Janeiro,
A regulação econômico-social consiste na atividade estatal de in- do Cais de Paul e do Cais de Capuaba
(Cia. Docas do Espírito Santo-CODESA),
tervenção indireta sobre a conduta dos sujeitos públicos e privados, Terminal roll-on roll-off (CDRJ) e Porto
de Angra dos Reis (CDRJ). No setor
de modo permanente e sistemático, para implementar as políticas de elétrico foi realizada a venda das ações
governo e a realização dos direitos fundamentais.43 de emissão da Companhia Centrais Elé-
tricas Geradoras do Sul S/A - GERASUL,
após a cisão efetivada em 29 de abril
de 1998. A arrecadação foi de 800,4
A regulação estatal da atividade econômica, longe de diminuir a impor- milhões de dólares norte-americanos,
pagos totalmente em moeda corren-
tância da participação do Estado na economia, apenas lhe confere uma nova te. Em 1999 o governo arrecadou 128
dimensão. O Estado deixa de ter uma função eminentemente empresarial, milhões de dólares norte-americanos
com a outorga das concessões para
para passar a atuar principalmente de forma indireta, como ente fomentador, exploração de quatro áreas de telefonia
fixa das empresas espelho que fazem
regulador, mediador, fiscalizador e planejador da vida econômica. concorrência às atuais companhias de
Conforme visto, a partir dessa mudança de perspectiva iniciada com a Telecomunicações. Em 23 de junho
daquele ano foi realizada a venda da
Constituição de 1988 e reforçada após as Emendas Constitucionais que pro- Datamec S.A - Sistemas e Processa-
mento de Dados, empresa do setor
piciaram o processo de desestatização44, ganha ênfase, no Brasil, a figura do de Informática, que foi adquirida pela
Unisys Brasil S.A pelo preço mínimo de
Estado regulador, cuja atuação, em sentido bastante amplo, é assim definida 47,29 milhões de dólares norte-ame-
por Alexandre Santos de Aragão: ricanos. O Porto de Salvador (CODEBA)
foi adquirido em 21 de dezembro pela
Wilport Operadores Portuários pelo
preço mínimo de 21 milhões de dólares
A regulação estatal da economia é o conjunto de medidas legislativas, norte-americanos. O resultado obtido
administrativas e convencionais, abstratas ou concretas, pelas quais o com o Programa Nacional de Desestati-
zação no ano 2000 atingiu cerca de 7,7
Estado, de maneira restritiva da liberdade privada ou meramente indu- bilhões de dólares norte-americanos,
representando, assim, a maior receita
tiva, determina, controla, ou influencia o comportamento dos agentes anual já auferida pelo Programa desde
o seu início. O destaque no ano consis-
econômicos, evitando que lesem os interesses sociais definidos no mar- tiu na venda das ações que excediam o
co da Constituição e orientando-os em direções socialmente desejáveis. controle acionário detido pela União na
Petróleo Brasileiro S.A. — Petrobrás, e
a desestatização do Banco do Estado de
São Paulo S.A — Banespa. A conclusão
É nesta perspectiva que o jurista, as entidades e os órgãos reguladores da mega operação de venda, no Brasil
e no exterior, das ações da Petrobrás
devem estar atentos para paradigmas regulatórios como a administrativiza- ocorreu em 09 de agosto daquele ano e
ção, fluidez, consensualidade, reflexibilidade, consensualismo, valorização o valor total auferido foi de 4 bilhões de
dólares norte-americanos. Observe-se
dos resultados em relação aos meios, permeabilidade aos demais subsistemas que se tratou de operação pioneira em
que, pela primeira vez foram aceitos re-
sociais, etc. cursos do FGTS na aquisição das ações.
Do mesmo modo, merece destaque a
A função reguladora da economia pelo Estado possui muitas e complexas alienação das ações do Banco do Estado
faces, donde a importância de a interpretação dos atos estatais nessa seara ser de São Paulo — Banespa, realizada em
20 de novembro. Nessa operação o ban-
realizada em consonância com os valores mencionados pelo autor. co espanhol Santander Central Hispano
adquiriu 60% do capital votante do
Qual é o impacto para essa função reguladora para o Direito Administrativo? Banespa por 7 bilhões de reais, corres-
pondendo a um ágio de 281% em rela-
A regulação de atividades econômicas pelo Estado desponta como uma ção ao preço mínimo de 1,8 bilhões de
“nova” categoria de escolha pela Administração Pública, sendo a estrutura reais. Foram realizadas no ano de 2000
vendas de participações minoritárias
estatal necessária para equilibrar os subsistemas regulados, suprir as falhas do da União incluídas no PND no âmbito
do Decreto 1068/94, bem como licita-
mercado, mediar e ponderar os diversos interesses ambivalentes (sem pender das, pela Agência Nacional de Energia
Elétrica - ANEEL, concessões para
para qualquer um dos lados). exploração de novos aproveitamentos
A escolha regulatória descentralizada tem mais condições de enfrentar os hidrelétricos e de novas linhas de trans-
missão. No ano 2001 foram realizados
desafios da reflexividade da vida social, que consiste no fato de que as práticas dois leilões de concessão dos serviços
de telefonia celular para as Bandas D e
sociais são constantemente examinadas e reformadas à luz de informação re- E. As Áreas 2 e 3 da Banda D e Área 1
novada sobre estas próprias práticas, alterando assim seu caráter. da Banda E, foram vendidas para a Tele-
com Itália, representando, respectiva-
A compatibilização desse modelo de atuação estatal com a pós-moderni- mente, 543 milhões de reais, com ágio
de 0,56%, 997 milhões de reais, com
dade está no fato de que o Estado deve, ainda, conter os excessos perpetrados ágio de 40,42% e 990 milhões de reais,
com ágio de 5,3%. A Área 2 da Banda D
pelos agentes que detêm o poder econômico privado por meio de valores e foi arrematada pela Telemar, pelo valor
princípios garantidos pela força normativa da Constituição Federal. de 1.102 milhões de reais, com ágio de
17,3%, e as Áreas 2 e 3 da Banda E não
A associação do direito administrativo à fase pós-moderna indica, portan- tiveram lances ofertados no dia do lei-
lão. Em 30 de abril de 2001 foi realizado
to, sua necessária adaptação às mudanças econômicas e sociais, permitindo leilão de ações, no âmbito do Decreto
seu perfeito acoplamento ao contexto da realidade para ser instrumento de 1.068/94, totalizando 26 milhões de
reais, e, em 18 de julho encerrou-se a
efetividade dos direitos fundamentais. A supremacia do interesse público e, oferta pública, no Brasil e no exterior,
de 41.381.826 ações preferenciais da
indiretamente, da Administração Pública, nessa fase, deve deixar de ser um Petrobrás, representativas de 3,5% do
seu capital total, perfazendo com a
atributo permanente e prevalente. venda um total de 808,3 milhões de dó-
Com efeito, as políticas nacionais típicas do Estado contemporâneo se lares norte-americanos. Em janeiro de
2002 foi privatizado o Banco do Estado
põem em prática mediante a edição de muitas regras gerais, em grande par- do Amazonas — BEA, por 76,8 milhões
de dólares norte-americanos.
te com indeterminações técnicas, que acabam por exigir mais do que uma 40
Bem a propósito, o Programa Na-
simples integração dessas mesmas normas, como ocorre com a escolha deter- cional de Desestatização foi objeto de
amplo questionamento perante os
minativa de conceito (conceito jurídico indeterminado) e a escolha discricio- Tribunais Superiores, onde destacamos
nária (discricionariedade). o acórdão do Tribunal Pleno do Supre-
mo Tribunal Federal, na ADIN 1078/RJ,
Com as premissas da pós-modernidade e o ingresso do Brasil no modelo julgada em 11 de maio de 1994, que
confirmou a constitucionalidade das
regulador, infere-se que novas necessidades devem ser identificadas e expos- privatizações, em textual: Ação Dire-
tas, especialmente para que o Estado neutralize os excessos e utilize seu “po- ta De Inconstitucionalidade. Medida
Cautelar. Medida Provisória n. 506, de
der” como instrumento de controle da atuação privada. 25/5/1994, art. 1º, e Decretos n.s 427,
de 16/01/1992; 473, de 10/3/1992, e
A importância da escolha administrativa regulatória é detectada na confor- 572, de 22/6/1992, todos concernentes
ao Programa Nacional de Desestati-
mação da garantia de equilíbrio de um subsistema, por meio de mecanismos zação, regulado pela Lei nº 8.031, de
para sua efetividade com vistas ao ajuste das oscilações econômicas e sociais, 12/4/1990. 2. Alegação de ofensa ao
art. 21, XII, 171, II e 176, par. 1.. da
ainda que possam parecer surpreendentes por suas características inovadoras Constituição. 3. Não conhecimento da
ação, relativamente aos decretos n.s
em relação ao direito administrativo passado. 427, 473 e 572, todos de 1992, por
não serem atos normativos, mas, tão-
Por meio do atual modelo de Estado, propício à escolha regulatória, deve- -só, atos administrativos individuais e
-se buscar um planejamento preventivo, pois não se concebe mais a idéia de que concretos. 4. Diante da viabilidade de
privatização de entidades da adminis-
há domínio, pelas casas legislativas, de todas as informações indispensáveis tração indireta, no sistema da Consti-
para apontar as variáveis mercadológicas a serem objeto de regras. Deve-se, tuição, a Lei nº 8.031, de 1990, instituiu
o Programa Nacional de Desestatiza-
ainda, perseguir a efetivação do fomento para seu correto desenvolvimento ção, cujas modificações poderão ser
feitas por lei, de acordo com a política
em bases sólidas, firmes; além de estar atento à proteção dos subsistemas, dian- da administração a ser seguida, respei-
te das pressões advindas dos interesses antinômicos — inseridos no próprio tadas as normas da Constituição. 5. Os
fundamentos da inicial não justificam a
subsistema — ou do sistema social. Sob esses pilares, pensa-se que a regulação concessão da cautelar, não se caracteri-
zando, também, o “periculum in mora”.
estará em condições próximas de se apresentar como apta a garantir direitos 6. Se porventura houver processo de
fundamentais, ponderando-os com outros interesses e direitos de idêntica privatização de empresa, que se tenha
como contrário à lei especial referida
dignidade jurídica e constitucional, observando-se princípios e valores sem ou aos princípios da Constituição, há
vias judiciais adequadas, para even-
uma predeterminada hierarquia entre os mesmos.45 tualmente atacar o ato administrativo
especifico, tal como já sucedeu. 7. Ação
conhecida, em parte, e, nessa parte,
indeferida a medida cautelar.
Considerações adicionais
Por último, é válido ressaltar que, de acordo com José Vicente Santos
de Mendonça, existiriam dois grandes problemas que circundam o fomen-
to público: o primeiro está relacionado à forma como ocorre sua concessão;
e o segundo à sua intensidade e duração. O fomento pode ser instrumento
adequado e necessário para a consecução de apoio ao desenvolvimento de
atividades particulares que tenham como objetivo precípuo o atendimento
a um interesse público, ou podem simplesmente ser objeto de corrupção,
constituindo uma ajuda “do rei aos seus amigos”, devido à forma como são
concedidos e à sua duração. 59
Assim, é de comum entendimento que as atividades beneficiadas pelo ins-
trumento de fomento estatal devam receber benefícios na exata medida em
que precisem desse aporte público e apenas durante o período em que este
seja necessário a sua viabilidade econômica. 60 Assim, “o bom fomento é aquele
calculado, que não falte nem exceda, e que dure o tempo suficiente para atingir
seus objetivos.” 61
V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS
Leitura obrigatória
Leitura complementar 59
SANTOS DE MENDONÇA, José Vicente.
“Uma teoria do fomento público: Crité-
rios em prol de um fomento público de-
MELLO, Célia Cunha. O fomento da administração pública. Belo Horizonte: mocrático, eficiente e não paternalista”
— Revista de direito Processual Geral,
Del Rey, 2003. Rio de Janeiro, (65), 2010. p.116.
60
Idem. “É possível que certas atividades
nunca venham a ser viáveis, se desempe-
MENDONÇA, José Vicente Santos de. Uma teoria do fomento público: nhadas de modo não fomentado, mas o
objetivo da auto-sustentabilidade deve
critérios em prol de um fomento público, democrático, eficiente e não-pa- estar sempre presente e ser, de tempos
ternalista. Revista da Procuradoria-Geral do Estado 65, pp. 115-176, 2010. em tempos averiguados”... “Por outro
lado, se a atividade é ontologicamente
deficitária, mas existem razões de inte-
resse público para que subsista, melhor
POZAS, Juiz Jordana de. “Ensayo de una teoria general del fomento em el dere- seria transformá-la, desde logo, em ser-
viço público.”(p. 117. )
cho administrativo”. Madri — Instituto de Estudios de Administracion local,
61
SANTOS DE MENDONÇA, José Vicente.
1961, p. 41-54. “Uma teoria do fomento público: Crité-
rios em prol de um fomento público de-
mocrático, eficiente e não paternalista”
— Revista de direito Processual Geral,
Rio de Janeiro, (65), 2010. p. 175
VI. AVALIAÇÃO
Caso gerador
Aulas 3 e 4:
I. TEMA
II. ASSUNTO
Filho, existem três correntes distintas para a conceituação dos serviços públi-
cos, que privilegiam três critérios distintos de análise:64
critério orgânico (ou subjetivo): serviço público é aquele prestado por ór-
gãos públicos;
Serviço público [é] toda atividade material que a lei atribui ao Esta-
do para que a exerça diretamente ou por meio de seus delegados, com
o objetivo de satisfazer concretamente às necessidades coletivas, sob
regime total ou parcialmente público.65
Alexandre Aragão:
O serviço público divisível pode ser remunerado por taxa ou tarifa. Nos
termos do art. 145, II, da Constituição Federal, a taxa remunera serviços
públicos obrigatórios, impostos ao administrado, específicos e indivisíveis,
sendo um exemplo clássico a taxa de prevenção de incêndio. Os serviços
públicos facultativos são remunerados por tarifa, que constitui um preço pú-
blico, podendo o usuário optar por usufruir ou não do serviço que a Admi-
nistração, de forma direta ou indireta, põe à sua disposição.
V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS
Leitura obrigatória
Leitura complementar
VI. AVALIAÇÃO
Caso gerador 1
Para Floriano de Azevedo Marques Neto, “não se nega que a atividade pos-
tal seja de enorme relevância para a integração do país e para a preservação da
identidade nacional. Mas isto remete muito mais à necessidade de existir um
serviço postal universal (dever de manutenção do mesmo) do que à contingên-
cia de ser ele monopolizado pelo Estado”.74 Adiante, o autor complementa:
Caso gerador 2
Caso gerador 3:
Aulas 5 e 6:
I. TEMA
II. ASSUNTO
A norma tem por finalidade evitar que a condução do serviço público seja
atribuída a outras pessoas que não as licitantes vencedoras da licitação sem
prévia aprovação do poder público, já que, em tese, a referida transferência
ou alteração de controle pode vir a prejudicar a execução do serviço.
Note-se, por outro lado, que a lei não veda a transferência da concessão
nem a alteração do controle acionário. Ao contrário, admite-as expressamen-
te, desde que previamente aprovadas pelo poder concedente. Essa possibili-
dade tem razão de ser, por exemplo, à vista dos longos prazos dos contratos
de concessão, que muitas vezes alcançam três décadas (ou mais, em caso de
prorrogação), não podendo se esperar que, durante todo esse largo período
temporal, não possa a situação da concessionária e de seu grupo econômico
vir a ser alterado. Entretanto, em prol da preservação da continuidade e da
qualidade do serviço, a lei exige que haja prévia aprovação do poder público
a toda e qualquer mudança que implique transferência da concessão ou alte-
ração do seu controle societário.
V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS
Leitura obrigatória
Leitura complementar
VI. AVALIAÇÃO
Caso gerador 1
Caso gerador 2
Aulas 7 e 8
I. TEMA
II. ASSUNTO
Introdução
82
Apelação cível 2006.001.19958.
Entretanto, até a presente data, o referido diploma legal não foi exarado,
de forma que se tem, nesse aspecto, um hiato normativo.83 A ausência de
norma expressa, contudo, não impede o reconhecimento dos direitos dos
usuários de serviços públicos, a partir da aplicação das previsões da Lei nº
8.987/1995 (a Lei de Concessões e Permissões de Serviços Públicos), bem
como dos dispositivos do Código de Defesa do Consumidor, naquilo em não
conflitarem com a ordenação jurídica dos serviços públicos.
dos agentes afetados: para o poder concedente, a alta da tarifa pode produzir
impacto negativo sobre o desenvolvimento econômico e um custo político;
para a concessionária, liga-se à sua receita e consequente retorno sobre os
investimentos realizados; já os usuários têm em regra uma sensação de que
a tarifa se apresenta elevada, produzindo impacto significativo sobre o custo
de vida.
Quanto aos conflitos envolvendo a questão tarifária, observam Solange
Ribeiro e Maria Isabel Falcão, analisando o tema sob o prisma das tarifas do
serviço público de distribuição de energia elétrica:
V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS
Leitura obrigatória
Leitura complementar
VI. AVALIAÇÃO
Caso gerador 1
Caso gerador 2
gens tem sido insufi ciente para cobrir todos os seus gastos, sendo que está
priorizando o pagamento dos funcionários.
Como advogado da concessionária de energia elétrica que distribui ener-
gia elétrica para João, Maria, a prefeitura e a concessionária de transporte fer-
roviário da cidade, que medida você proporia à sua cliente em cada uma das
situações acima relatadas? É possível cortar o fornecimento de energia elétrica
em todas as hipóteses? A sua resposta permaneceria a mesma se, ao invés de
energia elétrica, o serviço cujo pagamento se encontra em aberto fosse o de
fornecimento de água e esgoto?
Aula 9
I. TEMA
II. ASSUNTO
Introdução
Veja-se que o dispositivo legal exige que haja lei específica autorizando a
encampação, a qual somente pode ser efetivada após o pagamento da inde-
nização ao particular.
A caducidade, ao revés, poderá ocorrer nos casos de inexecução total ou
parcial, pela concessionária, dos deveres assumidos no contrato de concessão:
Da intervenção
serviço, e isso porque apenas esses foram alcançados pela projeção das tarifas.
Os bens adquiridos com sua própria parcela de lucros, todavia, permanecem
em seu poder, até mesmo porque situação contrária vulneraria o direito de
propriedade, assegurado no art. 5º, XXII, da CF.”103
No direito pátrio, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal há muito
consagra o entendimento de que só são reversíveis os bens efetivamente im-
prescindíveis ao contrato, conforme se constata do seguinte acórdão:
V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS
Leitura obrigatória
Leitura complementar
VI. AVALIAÇÃO
Caso gerador
po de vida útil dos trens, devendo, inclusive, ser substituídos; (iv) a Agência
Reguladora já solicitou um posicionamento da Concessionária ABC acerca
dos bens que entende reversíveis; e (v) os investimentos que a Concessionária
vem fazendo para a implantação das novas estações e trens; indaga-se: quais
os procedimentos administrativos que a ABC deve adotar, de forma que no
futuro, quando do advento do termo final do contrato, já estejam consolida-
dos todos os seus direitos relacionados aos bens vinculados à concessão?
Aula 10
I. TEMA
Parcerias público-privadas.
II. ASSUNTO
Desde 2012 a lei passou a admitir que o poder concedente aporte recursos
ao parceiro privado antes da disponibilização do serviço, desde que para a
realização de obras e aquisição de bens reversíveis:
A norma deixa claro que a característica que distingue as PPPs das de-
mais concessões, disciplinadas pela Lei nº 8.987/1995 (denominadas pela
lei “concessões comuns”), consiste na contraprestação pecuniária por parte
da Administração Pública. Nesse sentido, dispõe o art. 2º, §3º, da Lei nº
11.079/2004:
Leitura obrigatória
Leitura complementar
VII. AVALIAÇÃO
Caso gerador 1
Caso gerador 2
Aula 11
I. TEMA
Consórcios públicos.
II. ASSUNTO
“Muitas vezes, o serviço que uma pessoa jurídica pública não pode
ou tem dificuldades para executar sozinha torna-se possível ou mais
eficiente mediante a conjugação de esforços.”116
Natureza jurídica
Contrato de rateio
público, eis que, sem o aporte de recursos, os objetivos assumidos pelo con-
sórcio não poderão ser cumpridos.
A gravidade do não cumprimento das obrigações financeiras assumidas no
contrato de rateio fez com que a Lei nº 11.107/05 previsse a possibilidade de
exclusão do ente consorciado que não consignar, em sua lei orçamentária ou em
créditos adicionais, as dotações suficientes para suportar as despesas assumidas
por meio de contrato de rateio do consórcio público, após prévia suspensão.
V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS
Leitura obrigatória
Leitura complementar
VI. AVALIAÇÃO
Caso gerador
Aula 12
I. TEMA
II. ASSUNTO
escolhas políticas em diversas atuações. Marcos Juruena Villela Souto, por 118
Celso Antônio Bandeira de Mello
denota que existem três formas de
exemplo, destaca que com vistas ao desenvolvimento do atual papel pelo interferência do Estado na ordem eco-
nômica: poder de polícia, incentivos
Estado (regulador) estão previstas as seguintes formas de intervenção: norma- e atuação direta empresarial (BAN-
tiva, repressiva, tributária, regulatória e exploração direta da atividade econô- DEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso
de direito administrativo. 14. ed. São
mica.117 Outros autores apresentam classificações distintas acerca das formas Paulo: Malheiros, 2002. p. 619). Diogo
de Figueiredo Moreira Neto, sem con-
de intervenção.118 siderar o fomento público por não ter
Malgrado haver dificuldade prática em apontar todos os mecanismos de natureza impositiva, as classifi ca em
quatro tipos: regulatória, concorrencial,
intervenção estatal, no Estado Regulador, cumpre indicar algumas formas de monopolista e sancionatória (MOREIRA
NETO. Direito regulatório...., op. cit., p.
fazê-lo. 129). Por sua vez, Diogenes Gaspari-
ni apresenta as seguintes formas de
O Estado intervém quando proíbe, por meio de lei, a exploração de ativi- intervenção no domínio econômico:
dade econômica, como, por exemplo, a produção de materiais com o uso do controle de preços, controle de abaste-
cimento, repressão ao abuso do poder
amianto (Lei, do Estado de São Paulo, nº 12.684/07). econômico, monopólio, fi scalização,
incentivo e planejamento (GASPARINI,
Constitui mecanismo de intervenção do Estado ao reservar algumas ati- Diogenes. Direito administrativo. 7. ed.
São Paulo: Saraiva, 2002. p. 605).
vidades econômicas como sendo serviços públicos e, portanto, executados
177. (...):
I — a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros
hidrocarbonetos fluidos;
II — a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro;
V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS
Leitura obrigatória
Leitura complementar
VI. AVALIAÇÃO
Caso gerador
Aula 13
I. TEMA
II. ASSUNTO
das áreas que regulam, foi o afastamento da clássica estrutura hierárquica dos MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo.
126
O surgimento das Agências Reguladoras brasileiras, como já se teve a MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo.
132
idêntico fenômeno nos países com fortes desigualdades sociais e regionais, 134
GUERRA, Sérgio. Introdução ao direito
das agências reguladoras. Rio de Janei-
com pesados endividamentos e déficits fiscais, ou com sistemas políticos em ro: Freitas Bastos, 2004.
transição. 135
SARAVIA. Governança social..., op.
cit., p. 22.
do Poder Executivo, e investidos para exercer o múnus público por meio de Disponível em: <www.ofwat.gov.
139
Os mandatos dos Commissioners variam, sendo certo que sempre são 141
Disponível em: <www.caa.co.uk>.
Acesso em: 13 dez. 2010.
determinados por prazos escalonados, de forma que os mandatos não sejam 142
Disponível em: <www.oft.gov.uk>.
coincidentes. A nomeação do Chairman, que preside o órgão colegiado, com- Acesso em: 13 dez. 2010.
pete ao Chefe do Poder Executivo, com prévia aprovação do Senado Federal. 143
Disponível em: <www.natlotcomm.
gov.uk>. Acesso em: 13 dez. 2010.
nus, que pesam no preço dos serviços. Como esses recursos não podem
ser usados para cobrir outro tipo de despesa, entram no superávit. Um
dos principais refl exos da redução de receita é o enfraquecimento da
fiscalização. Sem dinheiro suficiente e quadro de funcionários restrito,
diminui a capacidade para detectar falhas no mercado. Isso dá mar-
gem para a piora na prestação de serviços. No setor aéreo, o aumento
da demanda provocou o caos nos aeroportos e testou a paciência dos
passageiros. O último episódio, no início do mês, expôs a fragilidade
da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que não conseguiu evitar
o colapso da mudança das escalas da Gol. No fim do ano passado, o
mesmo havia ocorrido com a TAM, que mudou o sistema de check-
-in. [...] Esse tipo de medida enfraquece e reduz o poder de decisão das
agências avalia o professor de direito administrativo da Fundação Ge-
tulio Vargas, Carlos Ari Sundfeld. Até o final do mandato, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva deverá indicar mais sete dirigentes de agências
reguladoras. Há duas vagas abertas, uma na ANP e outra na Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Nos próximos meses, haverá
mais cinco a preencher” (Receita de agências reguladoras perde R$37
bilhões em 12 anos. Zero Hora, Porto Alegre, 16 ago. 2010).
V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS
Leitura obrigatória
Leitura complementar
cartões telefônicos por parte das drogarias e farmácias. Como deve ser solu-
cionada a controvérsia?
Aula 14
I. TEMA
II. ASSUNTO
Agências Reguladoras
dos pela Consolidação das Leis do Trabalho. Naquela ocasião, assim se ma-
nifestou o ministro Marco Aurélio Mello, ao reconhecer a inconstitucionali-
dade de tal norma:
Além disso, nos termos das diversas leis que autorizaram a sua criação, as
agências reguladoras brasileiras possuem natureza de autarquias em regime
especial, sendo-lhes, portanto, aplicáveis todas as prerrogativas inerentes às
autarquias em geral, tais como personalidade jurídica e patrimônio próprios,
ausência de subordinação ao Ministério ao qual se vinculam, autonomia fi-
nanceira e orçamentária, além de terem por finalidade “executar atividades
155
Ação direta de inconstitucionalidade
típicas da Administração que requeiram, para seu melhor funcionamento, nº 2.310-1-DF, in Revista de Direito da
gestão administrativa e financeira descentralizada”, conforme a redação do Associação dos Procuradores do Novo
Estado do Rio ed Janeiro”, v. IX, pp. 433
art. 5º, I, do Decreto-Lei º 200/1967. a 435.
156
O art. 1º, caput, da Lei nº 10.871,
determina ser a lei aplicável às autar-
quias especiais intituladas agências
reguladoras: “Art. 1o Ficam criados,
Principais funções para exercício exclusivo nas autarquias
especiais denominadas Agências Re-
guladoras, referidas no Anexo I desta
Em breve síntese, pode esquematizar as atribuições das agências regulado- Lei, e observados os respectivos quan-
titativos, os cargos que compõem as
ras da seguinte forma: Função executiva, Função Normativa e Função Judi- carreiras de: (...)”
cante (ou de solução de controvérsias). 157
Vide, a respeito, MARQUES NETO,
Alguns autores sistematizam o tema de forma diversa, como, por exemplo:157 Floriano. “Agências reguladoras: instru-
mentos do fortalecimento do Estado”.
Texto disponível em http://www.abar.
org.br, acesso em 15.02.2005.
Por outro lado, alguns autores defendem que “a atribuição de funções nor-
mativas a órgãos de formação não eletiva, ou de composição mista, não cons-
titui violação do princípio democrático. Deve, no entanto, ser reconhecida
dentro daquele princípio fundamental, que encerra em si mesmo os demais,
exprimindo o balanceamento das manifestações da vontade política com a
garantia dos direitos, com respeito às razões de eficiência administrativa”160.
A partir dos debates doutrinários, observam Alexandre Santos de Aragão
e Patrícia Sampaio que a possibilidade e os limites da função normativa das
agências reguladoras “deve ser compreendida à luz da finalidade do exercício
da atividade administrativa, a qual reside no cumprimento das competências
constitucional e legalmente consagradas às autoridades. Nessa perspectiva, Direito administrativo, 12a ed. São
159
ceiras, que mudam com a evolução tecnológica ou comercial; se a lei colidência com o princípio da legalida-
de. (...) O fato é que a atuação destes
cuidasse de cada detalhe, estaria constantemente desatualizada e provo- órgãos reguladores reflete a crise vivi-
caria a freqüente necessidade de movimentação do Poder Legislativo.167 da pelo princípio da legalidade; crise,
esta, que não decorre meramente do
fenômeno do surgimento das agências,
mas da própria profusão de fontes nor-
Contudo, parte da doutrina sustenta que não se trata de “delegação”, haja mativas. Aqui parece se colocar a chave
para superar a crítica, sempre presente,
vista que a função reguladora — incluindo parcela normativa — não com- relativa à suposta contraposição entre
pete originariamente ao Poder Legislativo.168 Se por um lado se admite como a nova regulação estatal e o princípio
da legalidade. A oposição não está
constitucional a função normativa prevista expressamente nas leis de criação entre as competências das agências e a
figura da lei como fonte necessária das
das agências reguladoras,169 entende-se, por outro, que a função regulamentar competências do agente público. O que
de competência do presidente da República não se confunde com a função parece estar em questão é a motriz da
legalidade”. MARQUES NETO, Floriano
reguladora das agências reguladoras, que, em parte, se consubstancia na edi- Marques. A nova regulação estatal e
as agências independentes. Direito
ção de normas regulamentares.170 administrativo econômico. Carlos Ari
Sundfeld (org.). São Paulo: Malheiros,
Nesse sentido, é valiosa a manifestação do mestre J.J. Gomes Canotilho 2000, p. 94. Acerca das discussões ocor-
que leciona: “A função de regulação (e de controle) de um determinado sec- ridas sobre a Separação de Poderes no
período da Revolução Francesa, inclusi-
tor (mercado de valores mobiliários, comunicação social, energia, água e re- ve com profunda análise dos Cadernos
de 1789, ver a obra de Léon Duguit,
síduos) atribuídas por lei a certas entidades independentes fará delas essen- originalmente publicada em 1893. La
cialmente autoridades reguladoras que estabelecem as regras e controlam a separación de poderes y la asamblea
nacional de 1789. Madri, Centro de Es-
aplicação das normas. Fixar ‘regras reguladoras’ corresponde, tendencialmen- tudios Constitucionales, 1996, p. 9, ss.
abertura da lei para que o agente regulador pondere, de forma neutra, os in- mico. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 93.
Marçal Justen Filho inicialmente afirma
teresses concorrentes em conflitos setoriais, sejam eles potenciais ou efetivos. que o instituto da delegação legislativa
O Superior Tribunal de Justiça já examinou e julgou a questão, tendo não se aplica ao tema em estudo. Con-
tudo, logo a diante, afirma que “pode se
prevalecido a tese abaixo (MINISTRO LUIZ FUX — MARÇO/2006. STJ dar uma delegação normativa de cunho
secundário”. O direito das agências regu-
AGRG na MC 10443-PB): ladoras independentes. São Paulo: Dia-
lética, 2002, pp. 512-513. Em sentido
contrário - ao qual aderimos - denota
LIMINAR E TELEFONIA. SERVIÇO PRÉ-PAGO. DEFESA AO Alexandre Santos de Aragão: “nestes
casos, o que temos na realidade, é a
CONSUMIDOR. LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLI- execução pela Administração Pública
da Lei, que, contudo, deixou de estabe-
CO. RECURSO ESPECIAL ADMITIDO. CAUTELAR E EFEITO lecer maiores detalhes sobre a matéria
SUSPENSIVO. FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA legislada, fixando apenas standards e
finalidades gerais”. Agências regulado-
PRESENTES. ATUAÇÃO CONFORME ATO DA AGÊNCIA RE- ras e a evolução do direito administrativo
econômico., p. 411. Leila Cuéllar tam-
GULADORA. Vigente ato normativo da Agência Reguladora cujo bém não compartilha do entendimento
de que se trata de delegação de “poder
escopo é regular o segmento, não podem os estabelecimentos regula- normativo” às Agências Reguladoras.
dos absorverem danos e punições pelo fato do cumprimento das regras (As agências reguladoras e seu poder
normativo. São Paulo: Dialética, 2001,
maiores, posto engendrarem exercício regular do direito. Modificação p. 116). No mesmo sentido, Romeu Fe-
lipe Bacellar Filho (O poder normativo
ex abrupto dessas regras da Agência Reguladora por tutela provisória dos entes reguladores e a participação
em liminar concedida em ação, acarreta periculum in mora, mercê de dos cidadãos nesta atividade. Serviços
públicos e direitos fundamentais: os
o fumus boni iuris repousar no cumprimento do ato da Agência. De- desafios da regulação na experiência
brasileira. Revista de Direito Administra-
veras, somente a ausência de nulificação específica do ato da Agência tivo, Rio de Janeiro, v. 230, p. 153-162,
out./dez. 2002, p. 160. Sobre a desle-
autoriza o Judiciário e intervir no segmento, sob pena de invadir seara galização (que tanto pode ocorrer pela
administrativa estranha ao Poder Judiciário. (Sergio Guerra in Contro- exclusão legal de um comportamento a
qualquer tipo de regra ou pela substi-
le Judicial dos Atos Regulatorios, Editora Lumem Juris, Jan⁄2005, pags. tuição do referencial normativo), e seu
conceito oriundo da doutrina francesa,
355⁄369). Impossibilidade de atendimento técnico da decisão liminar, ver essa mesma obra na página 122, ss.
Recomenda-se, ainda, sobre o tema da
que configurou para o Relator periculum in mora inverso, máxime deslegalização no campo da sanção, a
porque a adoção da providência contrária ao ato da ANATEL (art. 55 obra de Fábio Medina Osório. Direito
administrativo sancionador. São Paulo:
da Resolução 316⁄2002, e itens 4.6 e 4.6.1, da Norma 03⁄98). Revista dos Tribunais, 2000, p. 215, ss.
169
A exemplo da lei criadora da ANVISA
(Lei nº 9782/1999): Art. 8º. Incumbe à
Agência, respeitada a legislação em vi-
gor, regulamentar, controlar e fiscalizar
Função executiva os produtos e serviços que envolvam
risco à saúde pública.
envolve apenas as partes envolvidas, mas todo o mercado que vai sofrer com cessidade de um estudo perfunctório
das funções executivas, eis que “ao
a relação custo/benefício. E conclui que as agências reguladoras têm compe- desenvolver essas atividades, a agência
tência judicante, pois essas entidades autárquicas têm por objetivo a solução estará desempenhando atuação muito
similar àquele objeto de estudo no
de conflitos entre os agentes, buscando o equilíbrio entre os envolvidos.184 tocante às demais entidades da Admi-
nistração indireta”. O direito das agên-
Por essa função judicante a agência reguladora deve buscar a promoção cias reguladoras independentes. São
da competição e, onde houver, a livre concorrência, a não discriminação, Paulo: Dialética, 2002, p. 481. Diogo
de Figueiredo Moreira Neto se refere ao
a utilização eficiente e o incremento de investimentos em infra-estrutura tema como “funções administrativas”,
exercidas em qualquer dos campos
voltada para a exploração das atividades econômicas e dos serviços públi- da administração, tanto no campo da
polícia administrativa, quanto no dos
cos, viabilizando que as informações sejam fornecidas de forma precisa, serviços públicos, no do ordenamento
sem criar dificuldades ao acesso de outros interessados pela sua ausência ou econômico ou no do ordenamento so-
cial, inclusive no do fomento público,
insuficiência.185 envolvendo, materialmente, desde ati-
vidades de planejamento às de gestão.
Desse modo, pode-se inferir, com aqueles doutrinadores que sustentam Direito regulatório, p. 108.
a legalidade e a legitimidade do exercício da função judicante pelas agências 177
Sobre as funções executivas das
Agências Reguladoras, Alexandre
reguladoras, que somente as entidades tecnicamente preparadas e dotadas de Santos de Aragão deu destaque à
todas as informações e mecanismos para regular um subsistema econômico competência fiscalizatória. Segundo o
Autor, são poderes para aplicar sanções
ou social têm condições de visualizar todo o cenário que envolve uma decisão “decorrentes do descumprimento de
preceitos legais, regulamentares ou
isolada diante do caso concreto. contratuais pelos agentes econômicos
Esse aspecto prospectivo da decisão que visa por fim a conflitos entre regulados”. E complementa seu enten-
dimento advertindo que a “aplicação de
agentes regulados, ou até mesmo entre o Poder Público e os consumidores, sanções deve estar apoiada em algum
dispositivo legal, ainda que genérico,
tem reais condições de ponderar e estabelecer um efetivo equilíbrio entre os ficando a graduação e a especificação
das penalidades a serem normatizadas
diversos interesses em presença. pela agência”. Agências reguladoras e a
A título exemplificativo, destaca-se no capítulo VII, da Lei nº 9.478/1997, evolução..., cit., p. 318.
que trata do transporte de petróleo, seus derivados e gás natural, que à Agên- Nesse sentido, dispõe a Lei nº
178
Tem-se, ainda, a previsão legal (Lei nº 9.427/1996, art. 3o,V)188 para que 179
DI PIETRO, Parcerias na administração
pública. São Paulo: Atlas, p. 79.
a Agência Nacional de Energia Elétrica — ANEEL delibere acerca das di- 180
Idem, p.80. Quanto à alteração do
vergências nos conflitos entre concessionárias, permissionárias, autorizadas, controle societário das concessionárias
de serviços públicos, e a atuação e in-
produtores independentes e autoprodutores, bem como entre esses agentes e tervenção do poder concedente, ver o
artigo de Arnold Wald (Da competência
seus consumidores. das agências reguladoras para intervir
Algumas leis de criação das agências reguladoras dispõem sobre a previsão na mudança do controle das empresas
concessionárias. Revista de Direito Ad-
da solução de controvérsias entre os agentes regulados no âmbito da função ministrativo. Rio de Janeiro, v. 229, p.
27-43, jul./set. 2002).
reguladora judicante.189 181
Conforme texto gentilmente cedido
A título exemplificativo, a Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997, que pelo Autor, de suas palestras proferidas
no Auditório do Superior Tribunal de
dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Petróleo — ANP, prevê que Justiça no dia 24 de junho de 2002, no
o contrato de concessão para as atividades de exploração, desenvolvimento Seminário organizado pelo Instituto
Brasileiro do Petróleo e pelo Sindicato
e produção de petróleo e gás natural deverão conter “regras sobre solução de das Indústrias Distribuidoras de Com-
bustíveis, e no Encontro de Integração
controvérsias, relacionadas com o contrato e sua execução, inclusive a conci- promovido pela Agência Nacional de
Saúde Suplementar — ANS, no dia
liação e arbitragem” (art. 43, X). 10 de julho de 2002, no Rio de Janei-
Do mesmo modo, a Lei nº 9.472, de 16 de julho de 1997, que criou a ro, parcialmente vertido para o idioma
francês, para apresentação como
Agência Nacional de Telecomunicações — ANATEL, dispõe no seu art. 93, Professor Visitante na Universidade de
Poitiers — França.
inciso XV, que o contrato de concessão deverá conter “o modo para solução 182
Para João Bosco Leopoldino da
extrajudicial das divergências contratuais”.190 Fonseca essas atribuições não são con-
sideradas judicantes, pois as Agências
É de notar-se que a conciliação é um meio de solução de conflitos onde o Reguladoras “são organismos públicos
conciliador não decide o conflito, mas age para facilitar, sugerindo, inclusive, (a lei brasileira as caracteriza como
autarquias especiais), desprovidos
a forma de acordo entre as partes. Na solução de conflito por meio da con- de poder jurisdicional. Elas não têm,
diferentemente do que a lei concede
ciliação não se leva em conta decisões anteriores, mas somente os interesses ao CADE, no Brasil, o poder judicante”.
das partes. Direito econômico. Rio de Janeiro: Fo-
rense, 2002, p. 261. Carlos Ari Sundfeld,
Por sua vez, a mediação é um instrumento de resolução de conflitos por apesar de hesitar na admissão da fun-
ção judicante pela Agência Reguladora,
meio do qual as partes se aproximam para alcançar tal intento. A aproxima- no exercício de um papel que compete
ao Poder Judiciário, acaba admitindo
ção das partes em conflito é feita por intermédio da agência reguladora, que que o Judiciário não é capaz de co-
deverá estar em posição de neutralidade. nhecer todos os conflitos surgidos em
decorrência da vida cotidiana, “e das
Como leciona Marcos Juruena Villela Souto, o recurso à mediação por normas editadas para transformar em
valores jurídicos os novos valores que
agente neutro é fundamental, pois o mediador intervém na pesquisa de solu- foram sendo incorporados pela socie-
dade”. SUNDFELD, Carlos Ari. Introdu-
ções, no favorecimento de trocas construtivas, estimulando as comunicações ção às agências reguladoras. In: Direito
e no enquadramento das negociações, determinando e explicando as regras Administrativo Econômico. São Paulo:
Malheiros, 2000., p. 31. Arnold Wald e
procedimentais, resguardando a observância das normas regulatórias.191 Luíza Rangel de Moraes sustentam, de
forma temperada, que “considerando
Assim, pode-se dizer que as principais diferenças entre mediação e conci- o grau de independência que deve ter
liação consistem na forma de atuação da agência reguladora, haja vista que a agência, é admissível conceber que
possa, eventualmente, ter uma compe-
na mediação ela apenas é uma facilitadora, ao passo que na conciliação ela tência quase judicial”. E advertem que
seria preciso que se constituísse no âm-
interfere no acordo e estimula os agentes regulados a se comporem. bito da mesma uma “Câmara Especial”,
que, não sendo dotada de competência
Tem-se, ainda, como forma de resolução de conflito o instituto da arbi- administrativa, esteja apta a julgar os
tragem. Na arbitragem, a intervenção da agência reguladora, com poderes conflitos entre o poder concedente e o
concessionário. Para esses Autores tal
decisórios, consistirá no julgamento do conflito entre os agentes regulados, solução se constituiria na organização
de uma forma de contencioso admi-
exarando e impondo uma decisão, contra a qual não caberá recurso. A arbi- nistrativo, funcionando, em relação às
tragem não se limita, como nas fases de conciliação ou mediação, a oferecer concessões, como os Conselhos de Con-
tribuintes atuam em matérias fiscais,
alternativas às partes para os conflitos, mas sim decidir sobre o problema ou como o Conselho de Recursos do
Sistema Financeiro Nacional no tocante
e impor a solução. Com efeito, quando é instituída, a arbitragem torna-se à área bancária, sem prejuízo da pos-
terior apreciação pelo Poder Judiciário
obrigatória entre os agentes regulados, não podendo estes rediscutir o assun- de qualquer lesão de direito. Agências
to. Dessa forma, a diferença fundamental entre a mediação e a conciliação, reguladoras. Revista de Informação
Legislativa, Brasília, v.141, p. 143-171,
de um lado, e a arbitragem, de outro, encontra-se na autoridade conferida à jan./mar. 1999.
agência reguladora para decidir o conflito e impor a solução às partes, sendo 183
Função regulatória. In: Direito em-
presarial público. Marcos Juruena Villela
que na mediação/conciliação a decisão é das partes, que podem, ou não, Souto e Carla C. Marshall (Orgs.). Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2002, p. 27.
chegar a um acordo.
184
Idem.
Diogo de Figueiredo Moreira Neto leciona que as funções judicantes po- 185
Idem, p.7. Nesse mesmo sentido,
dem ser exercidas sob diferentes modalidades, todas com características não Alexandre Santos de Aragão sustenta
que a função julgadora das Agências
jurisdicionais (como o são as atividades de conciliação, de mediação e até de Reguladoras não é, a exemplo do que
arbitramento de interesses em conflito).192 E conclui que não existindo um se dá quando exercida pelo Poder
Judiciário, voltada para o passado.
interesse público específico legalmente predefinido, todos os interesses em Ao contrário, há um marcante caráter
prospectivo de realização de políticas
conflito ou potencialmente conflitivos admitem ser legitimamente pondera- públicas cuja implementação lhes
incumbe. Destaca, ainda, que mais do
dos e até negociados, o que patenteia a existência de uma ampla disponibili- que visar a composição de determinado
dade relativa para o exercício judicativo extrajudicial da função reguladora.193 conflito entre as partes envolvidas, ob-
jetiva precipuamente a composição dos
Contudo, a possibilidade de imposição, pelas agências reguladoras, de um conflitos entre subsistemas setoriais.
Agências reguladoras e a evolução...,
juízo arbitral regulatório para a solução de conflitos com os agentes regulados cit., pp. 318-319. Para Manoel Gonçal-
ves Ferreira Filho, as Agências Regula-
não é tema livre de polêmicas. doras gozam de poder judicante pois
Marcos Juruena Villela Souto distingue a arbitragem comercial — que “têm atribuições que se estendem ao
contencioso, porque estão habilitadas
não se submete à revisão judicial — e a arbitragem regulatória, que resulta de a dirimir litígios, seja os que envolvam
empresas que exerçam atividade por
um ato administrativo regulatório. Nas palavras do próprio Autor: ela controlada, seja entre estas e os
usuários do serviço”. Curso de direito
constitucional. 28a ed. SP: Saraiva,
Há quem não reconheça a competência para a arbitragem regulató- 2002, p. 141. Em idêntico sentido, Mar-
çal Justen Filho aduz que “se pode con-
ria. Isto porque, no Direito brasileiro (Lei nº 9.307, de 23/09/96), a ceber a intervenção da agência regula-
dora para composição de conflitos de
arbitragem comercial exige um prévio compromisso arbitral, pelo qual interesses — sejam aqueles derivados
as partes acordam que qualquer conflito seja solucionado por um ár- de relações entre Estado e particular,
sejam os que comportem controvérsias
bitro. Entretanto, a arbitragem comercial, que trata de interesses dis- apenas entre particulares”. O direito das
agências reguladoras independentes.
poníveis, não se confunde com a arbitragem regulatória (que lida com São Paulo: Dialética, 2002, p. 555.
os interesses de uma coletividade afetada pelo conflito) em razão de os 186
BRASIL. Lei n. 9.478, 06 de agosto
de 1997. Art. 56. Observadas as dispo-
comandos da Lei de Arbitragem não se aplicarem aos segmentos regu- sições das leis pertinentes, qualquer
lados, salvo, por analogia, na parte procedimental. Não há qualquer empresa ou consórcio de empresas
que atender ao disposto no art. 5° po-
violação ao Princípio da Autonomia da Vontade. Quem adere a um derá receber autorização da ANP para
construir instalações e efetuar qualquer
segmento regulado se compromete a cumprir e a se submeter a todo o modalidade de transporte de petróleo,
seus derivados e gás natural, seja para
ordenamento jurídico setorial que orienta o seu funcionamento, que suprimento interno ou para importa-
tem implícito o poder da agência reguladora baixar normas estabele- ção e exportação. Parágrafo único. A
ANP baixará normas sobre a habilitação
cendo limitações à liberdade do contratado, interferindo nas relações dos interessados e as condições para a
autorização e para transferência de sua
entre fornecedores e entre fornecedor e consumidor. Este contrato titularidade, observado o atendimento
relacional vai ser constantemente fiscalizado e atualizado por normas aos requisitos de proteção ambiental
e segurança de tráfego. Art. 57. No
emanadas da agência reguladora, e os conflitos vão ser, possivelmente, prazo de cento e oitenta dias, a partir
da publicação desta Lei, a PETROBRÁS
solucionados pela via arbitral regulatória também. Todo esse contexto e as demais empresas proprietárias de
equipamentos e instalações de trans-
integra o marco regulatório, ao qual o regulado voluntariamente adere porte marítimo e dutoviário receberão
ao pleitear um consentimento de polícia ou ao firmar um contrato com da ANP as respectivas autorizações,
ratificando sua titularidade e seus di-
a Administração. A tanto não é obrigado, mas integrando o segmento, reitos. Parágrafo único. As autorizações
referidas neste artigo observarão as
por decisão própria, deve se submeter a todas as regras que orientam o normas de que trata o parágrafo único
seu funcionamento.” 194 do artigo anterior, quanto à transfe-
rência da titularidade e à ampliação
da capacidade das instalações. Art. 58.
Facultar-se-á a qualquer interessado o
A esse respeito, Alexandre Santos de Aragão sustenta que diante da indis- uso dos dutos de transporte e dos ter-
minais marítimos existentes ou a serem
ponibilidade dos interesses tutelados pelas agências reguladoras, a adoção da construídos, mediante remuneração
arbitragem só será possível se houver autorização legal. No caso das agências adequada ao titular das instalações.
§ 1º A ANP fixará o valor e a forma
reguladoras de serviços públicos, essa autorização está atendida pela parte fi- de pagamento da remuneração ade-
quada, caso não haja acordo entre as
nal do inciso XV do art. 23 e pelo art. 23-A da Lei nº 8.987/1995, que prevê partes, cabendo-lhe também verificar
se o valor acordado é compatível com
como cláusula obrigatória dos contratos de concessão o estabelecimento do o mercado. § 2º A ANP regulará a pre-
modo amigável de solução das divergências contratuais.195 ferência a ser atribuída ao proprietário
das instalações para movimentação de
Para a definição das tarifas que podem ser cobradas pela concessionária, a 190
A lei de concessões de serviços pú-
blicos (Lei nº 8.987/95) estabelece no
ANATEL possui uma resolução que dispõe sobre a definição de “área local”. seu art. 23 que uma das cláusulas es-
senciais do contrato de concessão deve
A definição da área local é de capital importância, pois identifica as áreas en- estabelecer o foro e ao modo amigável
tre as quais é admitida a cobrança de DDD — Discagem Direta a Distância, de solução das divergências contratuais
(inciso XV).
com tarifa diferenciada. Dentro de cada região, somente pode ser cobrada a 191
Direito administrativo regulatório. Rio
tarifa local. A concessionária iniciou suas operações seguindo a cobrança das de Janeiro: Renovar, p. 61.
Aula 15
I. TEMA
II. ASSUNTO
O art. 84, II, da Constituição Federal, por sua vez, dispõe competir pri-
vativamente ao presidente da República a direção superior da administração
federal, com o auxílio dos ministros de Estado.
Em síntese, é com fulcro nos supracitados dispositivos constitucionais, que
conferem ao presidente da República competência genérica de supervisão da
administração federal, que essa vertente doutrinária sustenta a possibilidade
de, quando uma decisão de agência reguladora for proferida em usurpação
de competência privativa do chefe do Poder Executivo (como no caso da
definição de políticas públicas), o ministro de Estado a que esteja vinculada
a agência possa conhecer de recurso interposto pelo administrado que se jul-
gar prejudicado. Explica-se a denominação recurso hierárquico “impróprio”
pela ausência de subordinação entre a entidade que expediu a decisão ou ato
questionado e a autoridade revisora.
V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS
Leitura obrigatória
Leitura complementar
VI. AVALIAÇÃO
Caso gerador
Aula 16
I. TEMA
II. ASSUNTO
O controle parlamentar
V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS
Leitura complementar
VI. AVALIAÇÃO
Caso gerador 1
Caso gerador 2
Aula 17
I. TEMA
II. ASSUNTO
Art. 5º (...)
XXXV — A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito.
3. Tal conceito não pode ser alterado por critérios introduzidos pela
Resolução 101/99 da ANATEL, porque refoge ao campo de compe-
tência normativa adstrito à agência reguladora, não amparado pelo art.
19, XIX, da Lei 9.472/97.
4. Preliminares rejeitadas e apelação provida para determinar o exa-
me do pedido administrativo com desconsideração dos dispositivos da
aludida Resolução relativos à participação acionária sucessiva.
5. Sentença reformada. (Grifamos)213
Ainda no que tange aos limites da revisão judicial dos atos administrati-
vos, faz-se necessário enfrentar o tema da possibilidade de o juiz substituir a
decisão proferida na esfera administrativa.
Como regra geral, tem-se que tal substituição é possível, mas não devida,
pois violaria o princípio da separação dos poderes. Com efeito, o juiz, ao anu-
lar uma decisão administrativa, não pode substituir o juízo de conveniência
e oportunidade que é próprio da Administração Pública, pois nem a Consti-
tuição nem as leis lhe outorgam tal competência214. Assim, deverá reenviar a
matéria para nova decisão pela entidade administrativa.
Excepcionalmente, em elogio ao princípio da eficiência, parcela da dou-
trina admite que, quando apenas uma solução legítima puder ser extraída do
ordenamento jurídico, estará o juiz autorizado a determiná-la, substituindo
o ato administrativo anulado.215
V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS
Leitura obrigatória
brança de assinatura básica, i.e., de uma tarifa que o usuário do serviço paga à ARAGÃO, Alexandre Santos de. Agên-
215
Aula 18
I. TEMA
II. ASSUNTO
Processo administrativo.
CAPÍTULO XII
DA MOTIVAÇÃO
Princípio da motivação
Leitura complementar
VI. AVALIAÇÃO
Caso gerador
A empresa XYZ Energia S/A foi multada pela Agência Nacional de Ener-
gia Elétrica (ANEEL) por supostamente ter infringido norma reguladora se-
torial que estabelece o tempo máximo em que o consumidor pode aguardar
atendimento ao telefone quando telefona para a concessionária.
Quando o Diretor da XYZ foi informado da decisão da ANEEL pelo
departamento jurídico já havia transcorrido o prazo de dez dias, previsto na
Lei 9.784/99, para a interposição de recurso administrativo. Todavia, o Di-
retor está inconformado, pois sustenta que houve erro material da ANEEL
na decisão, que teria confundido os índices de qualidade da XYZ com os da
concessionária ABC Energy S.A. Além disso, o Diretor observou que a XYZ
jamais havia sido notificada pela ANEEL da existência do referido processo
administrativo que resultou na multa, razão pela qual não teve oportunidade
de apresentar defesa. O Diretor, então, procura seus conselhos advocatícios.
Como você responderia a essa consulta?
Aulas 19
I. TEMA
II. ASSUNTO
sação do evento, pois, na realidade, seria iníquo que o Estado, ou seja, toda a
comunidade, respondesse pela composição de um dano para o qual a vítima
concorreu com culpa”.229
Marcelo Caetano, por sua vez, esclarece que a justificativa ético-jurídica
da adoção desta teoria está em que “os riscos acarretados pelas coisas ou ati-
vidades perigosas devem ser corridos por quem aproveite os benefícios da
existência dessas coisas ou do desenrolar de tais atividades (...) A Adminis-
tração deve responder pelos riscos resultantes de atividades perigosas ou da
existência de coisas perigosas, quando não tenha havido força maior estranha
ao funcionamento dos serviços (...) na origem dos danos e não consiga provar
que estes foram causados por culpa de quem os sofreu”. 230
São, portanto, requisitos para o nascimento do dever ressarcitório do Esta-
do, consoante a teoria do risco administrativo, hoje a mais difundida:
a) a existência de um dano correspondente a “lesão a um direito da víti-
ma”231, certo e injusto (para os adeptos da teoria subjetiva em caso de omissão
do poder público, estes casos exigem, ainda, o comportamento culposo da
administração, conforme adiante explanado);
b) o responsável pelo ato deve se revestir da qualidade de agente da Admi-
nistração Pública;
c) é preciso que haja nexo de causalidade entre o ato da Administração e
o dano causado. Ressalte-se que, na apuração da causalidade, o STF abraça a
teoria da interrupção do nexo causal, ou do dano direto e imediato, que pro-
clama existir nexo causal apenas quando o dano é o efeito direto e necessário
de uma causa.232
Conforme frisa Gustavo Tepedino, a adoção da responsabilidade objetiva
se coaduna com os princípios constitucionais da República:
Para Marçal Justen Filho, a responsabilidade civil do Estado por ato omis-
sivo pode ser desdobrada em pelo menos duas situações distintas:
1916, já revogado.
são configura atuação ilícita e gera a presunção de formação defeituosa da 235
TEPEDINO, Gustavo. “A Evolução da
vontade. O agente omitiu a conduta obrigatória ou por atuar intencional- responsabilidade civil no direito brasi-
leiro e suas controvérsias na atividade
mente ou por formar defeituosamente sua própria vontade — a não ser estatal”. In: Temas de Direito Civil. Rio de
Janeiro: Editora Renovar, pp. 191 e 192.
que a omissão tenha sido o resultado intencional da vontade orientada a Cumpre mencionar que a referência é
produzir uma solução conforme ao direito e por ela autorizada. ao artigo 15 do Código Civil de 1916,
já revogado.
V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS
Leitura obrigatória
Leitura complementar
VI. AVALIAÇÃO
Caso gerador
Ao ser chamada para atender a uma ocorrência, viatura policial com sire-
ne ligada entrou na contramão em determinada rua, vindo a atropelar um
menor. O motorista da viatura foi absolvido do crime de lesão corporal, por
ausência de culpa. Há responsabilidade civil do Estado nesse caso?
Aulas 20 e 21
I. TEMA
II. ASSUNTO
Agentes estatais.
A distinção dos regimes é realizada por José dos Santos Carvalho Filho da
seguinte forma:
Servidores Temporários
Referida lei deve ser editada por cada ente federativo (União, Estados e
municípios). No âmbito federal, a Lei nº 8.745/1993 dispõe sobre a contra-
tação temporária de servidores.
Servidores Comissionados
Por fim, vale mencionar que também são admitidos na Administração Pú-
blica pessoas estranhas aos seus quadros, na hipótese de cargos comissionados
(que podem ser preenchidos por funcionários de carreira ou não). A previsão
de cargos comissionados encontra-se no art. 37, II da Constituição Federal:
242
Manual..., 24ª ed. p. 555-556.
Art. 37.
XVI — é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, ex-
ceto quando houver compatibilidade de horários:
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
c) a de dois cargos privativos de médico;
XVII — a proibição de acumular estende-se a empregos e funções e
abrange autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e
fundações mantidas pelo Poder Público;
Empresas Estatais
V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS
Leitura obrigatória
Leitura complementar
VI. AVALIAÇÃO
Caso gerador
Seu Manoel está em dúvida sobre se faz concurso publico para o Banco
Central do Brasil ou para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES). O que você tem a lhe informar acerca da relação jurídica
entre essas entidades e os agentes públicos que compõem os seus quadros
efetivos?
Ao final dessas duas aulas o aluno deve ser capaz de diferenciar as diferen-
tes espécies de agentes públicos, assim como as características inerentes aos
cargos e empregos públicos. Deverá também conhecer as principais diferen-
ças entre sindicância e processo administrativo disciplinar.
Aula 22
I. TEMA
Agentes estatais
II. ASSUNTO
Sindicância
Merece ser lembrado que Estados e municípios têm autonomia para le-
gislar sobre seus respectivos processos disciplinares, tendo a Lei 8.112/90
natureza federal.
Do Processo Disciplinar
III — demissão;
IV — cassação de aposentadoria ou disponibilidade;
V — destituição de cargo em comissão;
VI — destituição de função comissionada
II — abandono de cargo;
III — inassiduidade habitual;
IV — improbidade administrativa;
V — incontinência pública e conduta escandalosa, na repartição;
VI — insubordinação grave em serviço;
VII — ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, salvo em
legítima defesa própria ou de outrem;
VIII — aplicação irregular de dinheiros públicos;
IX — revelação de segredo do qual se apropriou em razão do cargo;
X — lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional;
XI — corrupção;
XII — acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções públicas;
XIII — transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117.
V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS
Leitura obrigatória
Leitura complementar
250
CARVALHO FILHO, José dos Santos.
Manual de direito administrativo. 17a
ed. Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 2007,
p.906.
VI. AVALIAÇÃO
Caso gerador
Aula 23
I. TEMA
Improbidade administrativa.
II. ASSUNTO
Para fins didáticos, o tema será tratado adotando a divisão dos elementos
acima.
Ato Danoso
Dolo ou Culpa
Sanções
V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS
Leitura obrigatória
Leitura complementar
ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de Direito Administrativo. 22ª ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2012, páginas 636 — 641.
VI. AVALIAÇÃO
Caso gerador
Aula 24
I. TEMA
II. ASSUNTO
A lei anticorrupção
Acordo de leniência
259
ZANELLA DI PIETRO, Maria Sylvia. Di-
Dentre os mecanismos trazidos pela lei para desestimular práticas de reito administrativo. 20ª ed. São Paulo:
Atlas, p. 931.
corrupção está o acordo de leniência, instituto que foi introduzido no di- 260
Idem.
Abuso de Autoridade
a) à liberdade de locomoção;
b) à inviolabilidade do domicílio;
c) ao sigilo da correspondência;
d) à liberdade de consciência e de crença;
e) ao livre exercício do culto religioso;
f ) à liberdade de associação;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo; e
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.
V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS
Leitura obrigatória
DI PIETRO, Maria Sylvia. Direito administrativo. 27ª Ed. São Paulo: Atlas,
pp. 929-940.
Leitura complementar
VI. AVALIAÇÃO
Caso gerador
Sérgio Guerra
Pós-Doutor em Administração Pública pela EBAPE/FGV. Doutor, mestre
e bacharel em Direito. Visiting Researcher na Yale Law School (2014).
Coordenador Geral do curso International Business Law - University of
California (Irvine). Editor da Revista de Direito Administrativo (RDA).
Consultor Jurídico da OAB/RJ (Comissão de Direito Administrativo).
Coordenador do Mestrado em Direito da Regulação e Vice-Diretor de
Ensino, Pesquisa e Pós-graduação da FGV DIREITO RIO.
FICHA TÉCNICA