DC I - Caso PR Tico 4 Resolvido
DC I - Caso PR Tico 4 Resolvido
DC I - Caso PR Tico 4 Resolvido
Direito Constitucional I
(resolvido)
O reitor de uma universidade exerce um cargo com uma acentuada componente de gestão
e de direção que em muito transcende e ultrapassa um cargo de natureza técnica. Sem
dúvida que também engloba essa componente, mas as suas competências em matéria de
gestão e direção são, sem dúvida, predominantes.
Os artigos 85.º e 92.º-1 da Lei n.º 62/2007, de 10/9, que aprovou o regime jurídico das
instituições de ensino superior, demonstram bem que as competências do reitor não são
apenas técnicas, verificando-se a existência de uma forte componente de natureza decisória
de nível gestionário e de direção.
(…)
O que é dito apenas significa que a Constituição não garante o acesso de cidadãos
estrangeiros residentes a cargos públicos de natureza eminentemente não técnica. Daqui
decorre que uma lei que reserve o acesso a esses cargos a cidadãos portugueses não será
inconstitucional. No entanto, nada impede que a lei ordinária (como a Lei n.º 62/2007, de
10/9), alargue também a estes cidadãos o acesso a cargos de natureza não técnica. Ou seja,
a lei poderá aumentar o leque de direitos conferidos a cidadãos (estrangeiros) que não se
encontrem constitucionalmente assegurados.
A esta luz é interessante notar que a Lei n.º 62/2007, de 10/9 pode ser interpretada no
sentido de permitir o acesso ao cargo de reitor a cidadãos estrangeiros, uma vez que aí se
estabelece que podem ser eleitos reitores “professores e investigadores da própria instituição ou de
outras instituições, nacionais ou estrangeiras, de ensino universitário ou de investigação” (artigo
86.º-3). Ou seja, não é descabido admitir que a lei pretendeu, ao referir a possibilidade de
candidatura de profissionais de universidades estrangeiras, que tanto cidadãos portugueses
como estrangeiros (mesmo que não residentes) se pudessem candidatar.
Em suma, a Constituição não garante a Charles o acesso ao cargo de reitor, mas admite-se
que a lei ordinária o possa fazer, alargando o leque de direitos assegurados. A ser assim,
Charles poderia candidatar-se se a lei ordinária fosse interpretada no sentido de abranger a
candidatura de cidadãos estrangeiros.
Por último, note-se que, estando Charles em Portugal há mais de dez anos e caso se
considere que este não se poderia candidatar ao cargo de reitor por ser estrangeiro, este
poderia tentar obter a nacionalidade portuguesa por via do artigo 6.º-1 da LN, o que
conseguiria, desde que i) provasse conhecer a língua portuguesa, ii) não tivesse sido
condenado a pena de prisão superior a três anos e iii) não constituísse perigo ou ameaça
para a segurança nacional pelo seu envolvimento em práticas terroristas. Dá-se por
adquirido que Charles é maior e reside legalmente em Portugal há mais de seis anos, tendo
em conta os termos do caso prático apresentado.
O direito de manifestação encontra-se garantido pela Constituição no seu artigo 45.º, sendo
por esta encarado como um direito, liberdade e garantia pessoal (ver epígrafe do Capítulo I
do Título II da Constituição). Ou seja, este direito não é considerado pela Constituição
como um direito, liberdade e garantia de participação política (ver epígrafe do Capítulo II
do Título II da Constituição), os quais se encontram consagrados nos artigos 48.º e segs.
Não sendo o direito de manifestação um direito político, mas antes pessoal, o seu exercício
por cidadãos estrangeiros residentes em Portugal não se encontra limitado pelo artigo 15.º-
2 CRP. Pelo contrário, estes cidadãos, como Charles, beneficiam desse direito nos mesmos
termos que os cidadãos portugueses (artigo 15.º.-1 CRP). Charles pode, por isso, organizar
a referida manifestação.
c) 3.ª questão: Será relevante a sua união de facto com Margarida para efeitos
naturalização?
Sem dúvida que sim.
O artigo 3.º-3 da LN determina que pode obter a nacionalidade portuguesa quem viva em
união de facto com um nacional português, o que é o caso. Porém, é necessário promover
uma ação judicial no tribunal cível competente para que se comprove a existência da união
de facto. Uma vez reconhecida a mesma, Charles pode adquirir a nacionalidade portuguesa.