Historia de Direito
Historia de Direito
Historia de Direito
CURSO DE DIREITO
CADEIRA DE HISTÓRIA DE DIREITO
TUTOR
Dr. JOSÉ CIPRIANO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 3
O regime de dominação e exploração colonial: o indigenato ........................................... 4
O Governo Directo ............................................................................................................ 4
O Governo Indirecto ......................................................................................................... 4
As autoridades tradicionais na armadura, política e administrativa e do estado
colonial português. ................................................................................................................ 6
O Direito colonial depois da conferência de Berlim .......................................................... 6
Aparecimento das companhias ............................................................................................ 7
O Estado Novo de Salazar.................................................................................................... 7
No seguimento da publicação da lei orgânica do ultramar de 1933. ............................... 8
Utilização das estruturas “tradicionais” respeito pelos usos e Costumes “indígenas”. 10
As Fontes de Direito ........................................................................................................... 12
Justiças especiais. ................................................................................................................ 12
Conclusão ............................................................................................................................ 14
Referências bibliográficas .................................................................................................. 15
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INTRODUÇÃO
É um fato que em algumas sociedades africanas as normas vigentes são, na sua maioria, fruto
de herança colonial e, como tal, não representam as características culturais desses povos
(baseada em mitos e crença tradicionais), mas sim os interesses dos colonizadores. Por
conseguinte, não foram tomados em consideração, no ato da sua criação, os usos e costumes
destas, pese embora, hodiernamente, para o caso de Moçambique, se verifique uma tendência
de se introduzir (timidamente) algumas reformas legais com vista a salvaguardar alguns usos
e costumes locais. Essa situação torna-se bastante controversa quando se toma em
consideração que as normas jurídicas regulam os aspectos mais relevantes da vida em
sociedade. E quando essa sociedade não se identifica ou não se revê nessas normas, as
mesmas podem provocar focos de discórdias e/ou conflitos. Entende-se que dentro desses
mitos e crenças tradicionais, a própria sociedade possui mecanismos locais de resolução de
conflitos que emergem na mesma, que muitas das vezes estão fora do âmbito do Direito, ou
seja, da hermenêutica jurídica europeia. Quer dizer, a própria sociedade possui formas de
resolver os problemas que surgem no quotidiano, cuja base são crenças e costumes
tradicionais, que não têm nada a ver com o direito e justiça europeus introduzidos durante o
processo de colonização do país pelos portugueses. Ela sanciona àqueles que infringem os
princípios tradicionais da sua comunidade de acordo com as formais locais direito e justiça,
muitas das vezes, essas formas de justiça estão à margem das formas de justiça do Estado.
Diante dessa situação, por vezes, este último, se mostra impotente para atuar, ou seja, se
impor diante dos sistemas de direito e justiça locais por estas estarem bem enraizadas nas
comunidades do que o sistema de direito e justiça estatal.
O trabalho pretende mostrar como as diferentes culturas políticas e jurídicas que perpassaram
o Estado Moçambicano ao longo da sua \história política e judiciária Moçambicana.
O Governo Directo
Pressupõe a existência de uma única ordem jurídica, assente nas leis da Europa, não
reconhecendo qualquer instituição ou direitos africanos. O domínio concretizava-se num
sistema colonial centralizado e hierárquico e na sujeição da maioria da população ao regime
do indigenato, que definia as regras para os não cidadãos. Este regime prévio que os indígenas
pudessem obter o estatuto de assimilados, adquirindo, desse modo, direitos de cidadania, mas
o número dos que adquiriam esse estatuto permaneceu sempre muito reduzido.
O Governo Indirecto
O código do Indigenato foi formalmente imposto em 1928, mas, de acordo com O’Laughlin,
sistematizava um conjunto de normas anteriores que definiam a cidadania em relação ao
trabalho forçado. A Lei do Trabalho de 1899 articulou, pela primeira vez, a distinção entre
cidadão e súbdito, não nativo e nativo. A lei estabelecia que «todos os nativos das províncias
ultramarinas portuguesas estão sujeitos à obrigação, moral e legal, de tentar obter através de
trabalho os meios de que necessitam para subsistir e melhorar as suas condições sociais».
Segundo Serra “ Portugal não era uma potência capitalista, mas sim uma potência
imperialista atrelado ao capitalismo sobretudo o Inglês”, desta feita Portugal não tinha
suporte financeiro suficiente para aguentar os encargos da ocupação efectiva dos seus
territórios, para tal optou por alienar cerca de 1/3 do território Moçambicano.
Neste contexto em 1890 foi pública um decreto, que criava o trabalho rural obrigatório, e a
ocupação efectiva, esse factor deu rapidamente a origem á formação de sociedades por
acções, as companhias, com capital predominantemente inglês, francês, alemão e suíço.
Foi no ano seguinte, promulgado o Estatuto dos Indígenas Portugueses, que na secção I. do
capítulo II, tratava da organização política nas colónias portuguesas, fixando no seu art.7° a
«transitoriedade» das instituições de natureza política tradicional e seguindo de perto, com
ligeiros aditamentos ou alterações legais, o regime da RAU no que se refere às atribuições,
direitos e deveres administrativos das autoridades gentílicas80• O Regulamento da
Repartição Central dos Negócios Indígenas, aprovado pela Portaria no 5:127, de l0 de Maio
de 1944, designava que a esta, competiam nos termos legais, os assuntos relativos aos deveres
e direitos socio administrativos das autoridades gentílicas de Moçambique e o estudo dos
caracteres somáticos e étnicos da população indígena da colónia portuguesa, para a
elaboração dos respectivos Códigos. Pelo Regulamento dos Auxiliares da Administração
Civil, aprovado pela Portaria nº5:639, de 29 de Julho de 1944, são pormenorizadas em
Moçambique as regras e princípios jurídico-administrativos consignados na RAU. Neste
sentido, o art.126 declarava que se constituíam como direitos dos regedores e dos chefes de
povoações «os salários e gratificações ou outros abonos fixados por lei; 2. a alimentação e
habitação gratuitas quando em serviço nas sedes dos concelhos, circunscrições ou postos
9
No campo da aplicação da lei este é o princípio mais importante, porque é por ele que se
realiza, na prática, o reconhecimento das instituições tradicionais dos indígenas e dos demais
povos ressalvados pelo Código Civil português, porquanto é por causa dele que as
autoridades administrativas e judiciais reconhecem o direito consuetudinário, e aplicam-no,
o que pode ser constatado através do Acórdão de nº 31 da Relação de Moçambique em que
eram partes: Apelante -Nuno Zena Binte Abdul Cadir e Apelado- Mohamade Amade Omar,
ambos mouros: houve apelação da decisão do “aquo” na qual se discutia se deveria ser
aplicada a lei maometana ou a lei civil Portuguesa. O caso envolvia direito sucessório e o
Juiz aplicou a lei maometana para decidir a questão, tendo a sua sentença confirmada pela
Relação no campo da aplicação da lei. Também se pode constatar o respeito aos usos e
costumes nas inúmeras decisões sobre divórcio, devolução de lobolo, guarda de filhos,
sucessão, nos milandos submetidos ao julgamento dos administradores de circunscrição e
comandantes militares.
Entretanto a grande maioria dos administradores não conheciam os usos e costumes dos
indígenas, que muitas vezes, embora não houvesse cumprimento, tenha sido determinada a
sua codificação, devendo-se atribuir isto, exatamente, à diversidade existente entre os
inúmeros povos que habitavam as colônias, além da desídia (negligência) dos funcionários a
quem incumbia este estudo e codificação. Em uma só colônia, a exemplo de Moçambique,
deveriam ser pelo determinado no Código Civil de 1867 e decreto de 18 de novembro de
1869 que tornou a sua aplicação obrigatória no ultramar, respeitados os usos e costumes dos
baneanes, bathiás, parses, mouros, gentios e indígenas, 8o que significava a codificação de
todos, e especificamente no caso dos indígenas, muitas outras teriam de ser observada dada
a diversidade étnica.
Inúmeras comissões foram criadas para a codificação, entretanto, somente uma delas, criada
em 1852, elaborou o Código Cafreal do Districto de Inhambane, que muitas vezes serviu de
guia na aplicação, pelos administradores, dos usos e costumes nas questões indígenas –
milandos, que lhes eram submetidos, embora muito poucos o conhecessem e soubessem da
sua existência.
penal (adultério, estupro, espancamento, mortes, roubo, fogo posto); direito administrativo
(reinado e sucessão do trono; emigrados e foragidos), direito processual (das provas). A
autoridade que deveria decidir os milandos era o capitão-mór, cujas atribuições também
podem ser encontradas também nesse código.
As Fontes de Direito
O Direito colonial trás consigo um caracter dualista, isto porque o colonizador ao longo de
todo o tempo vai deixar vigorar as ordens normativas nativas e o Direito Europeu
(Português), neste período as fontes do Direito vão ser os costumes locais associados as leis
gerais.
Justiças especiais.
Moçambique, única colônia que era banhada pelo Índico, se fazia importante, não só para o
comércio com o Oriente, como, também, para o tráfico de escravos e, por isso mesmo,
permaneceu por muito tempo sob a dependência do Estado da Índia, fazendo parte, da região
geográfica abrangida por esta rota das especiarias e administrada à distância, através de Goa,
o que, de acordo com Gilles Cistac (2009:4) provocou muitas desavenças não só entre o
Reino e a administração em Goa, como entre os capitães que administravam as feitorias.
Quando da organização judiciária uma vez que o Estado Português não poderia arcar com os
custos da implantação de um Tribunal da Relação em cada colônia, foi levada em
consideração e Moçambique permaneceu ligado a Goa, neste particular da Justiça, porque os
recursos das decisões dos juízes ordinários seriam julgados pela Relação de Goa, que passa
à condição de – Districto Judicial de Nova Goa, que se dividia em seis comarcas e três
julgados independentes.
Moçambique ficava com duas comarcas: Moçambique, com sede na Ilha de Moçambique e
Quelimane com sede na Vila de S.Martinho. A Relação tinha sede em Nova Goa.
sete vogais, juiz de direito como relator, três oficiais superiores de primeira linha, de maior
graduação e antiguidade e dois membros bienais do conselho de governo. Anteriormente
(1761) era composta do governador; ouvidor; juiz de fora e por três militares, as decisões
também era irrecorríveis e tomadas pelos votos da maioria, composição que foi alterada
através do Alvará de 1811, sendo os membros: o governador-geral, ouvidor e juiz de fora.
Os Juízes de direito tinham jurisdição na sua comarca e julgavam causas cíveis e criminais e
tinham alçada estabelecida no (art.º 56), eles instruíam os processos crimes que seriam
julgados pelas Juntas. Não sendo o distrito sede de Comarca, havia um Juiz ordinário com a
alçada fixada no (art.º 78). Os Juízes de Paz atuavam nas freguesias.
Esta reforma veio após a Convenção de Berlim (1885), quando António Ennes seguiu para
Moçambique para delimitar as suas fronteiras e estudar a viabilidade da colônia. Ali,
convivendo com os costumes dos indígenas pode perceber as singularidades do direito
consuetudinário deles e então idealizou a qualificação dos “indígenas portugueses” que a
partir daí (1893) adquirem, legalmente, o status de INDÍGENA, que significava a exclusão
legal de direitos atribuídos aos cidadãos portugueses. Com base nesta qualificação e no
princípio da missão civilizacional é que os indígenas passaram a escravos disfarçados.
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Conclusão
Durante o período de 1822 até 1894 muitas leis foram criadas e entraram em vigor em
Portugal e nas suas colônias, entretanto, o que era para ser lei geral e para tratar com
igualdade portugueses e africanos, estes últimos considerados portugueses pela própria lei,
foi se tornando cada vez mais especial, e esta especialidade tinha como meta o afastamento
do “indígenas” de direitos atribuídos aos portugueses. Isto não aconteceu tão somente com
as leis de direito material, aquelas que tipificavam e regulavam as condutas, mas também as
leis de direito processual, que fixavam os ritos, definiam as jurisdições as competências para
julgamentos das causas e as penas aplicáveis.
Entre o período colonial e o presente, o Estado Moçambicano passou por uma série de
modelos políticos, cujas rupturas não os apagaram de vez. Desde 1975 até hoje, foram várias
as transformações radicais, como o fim do modelo colonial; a construção do Estado
socialista; e a criação de uma economia neoliberal capitalista e de uma democracia
multipartidária. Boaventura de Sousa Santos serve-se de uma metáfora para caracterizar a
sociedade moçambicana: o palimpsesto de políticas e culturas jurídicas.
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61 DCSD nº. 31 de 20.03.1899, p.58 62 CLNU, Vol. XV, pp. 201-204, Este Decreto, no seu
art.19º dá competência ao administrador do concelho para a resolução de milandos, desde
que estes não tenham gravidade tal que necessitem da interferência do judiciário.~
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Referências bibliográficas
https://sociologiajuridica.net/pluralismo-juridico-em-mocambique-uma-realidade-em
movimento/.
http://repositorio.pucrs.br/dspace/handle/10923/5686
http://www.macua.org/livros/histmocfrel.html