fISIOPATOLOGIA DA DOR PDF
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1-12, 2008
Printed in Brazil ISSN 1517-784X
PATOFISIOLOGIA DA DOR
(Pathophysiology of pain)
de dor mais difusa e persistente e formam, na As fibras aferentes nociceptivas terminam no corno
periferia, receptores de alto limiar para estímu- dorsal da medula, que pode ser dividida em seis lâminas.
los térmicos e/ou mecânicos. Existem também Os neurônios nociceptivos do corno dorsal estão locali-
zados nas lâminas mais superficiais: a lâmina marginal
fibras do tipo C polimodais que respondem a
(lâmina I) e a substância gelatinosa (lâmina II). A maioria
estímulos mecânicos, térmicos e químicos. desses neurônios recebem conexões diretas de fibras
Os campos receptivos destes neurônios Aδ e C. Muitos dos neurônios da lâmina I respondem
oscilam entre 2 e 10 mm (BESSON, 1997; exclusivamente a estímulos nociceptivos e projetam-se
TRANQUILLI, 2004; PISERA, 2005). para centros superiores. Alguns neurônios dessa lâmina,
denominados neurônios de faixa dinâmica ampla (WDR),
FORSS N. et al. (2005) relatam que os impul- respondem de maneira gradativa a estimulação mecâni-
sos nociceptivos mediados pelas fibras A e C são ca nociva e inócua. A substância gelatinosa (lâmina II) é
processados numa mesma área no córtex cerebral formada quase que exclusivamente por interneurônios,
porém em diferentes janelas de tempo. tanto inibitórios quanto excitatórios (TRANQUILLI, 2004;
PISERA, 2005; DREWES, 2006).
As lâminas III e IV possuem neurônios que se co- zado com o avanço da idade. Sua excitabilidade não
nectam diretamente com terminais centrais de fibras pode ser aumentada pelo processo inflamatório.
Aβ, que respondem predominantemente a estímulos As fibras aferentes (FIGURA 2) de primeira ordem
inócuos. A lâmina V possui neurônios WDR que se formam conexões diretas ou indiretas com uma das
projetam ao tronco encefálico e certas regiões do três populações de neurônios do corno dorsal da
tálamo. Recebem contatos monossinápticos de fi- medula: 1) interneurônios, subdivididos em excitató-
bras A e A , também recebem informações de fibras rios e inibitórios; 2) neurônios proprioespinhais que
C. Os neurônios da lâmina VI estão conectados de extendem-se por múltiplos segmentos espinhais e
forma monossináptica com aferentes A de músculos estão envolvidos com a atividade reflexa; 3) neurô-
e articulações e respondem a estímulos inócuos. nios de projeção (WDR) que participam na transmis-
Finalmente os neurônios das lâminas VII e VIII do são rostral através da medula espinhal até centros
corno ventral podem responder a estímulos nocicep- supraespinhais como o mesencéfalo e córtex. Os três
tivos, mesmo que de forma mais complexa, através componentes são interativos e são essenciais para
de conexões polissinápticas (PISERA, 2005). o processamento da informação nociceptiva, o que
Segundo KITAGAWA et al. (2005) os neurônios facilita a geração de uma resposta à dor apropriada
nociceptivos em indivíduos idosos exibem hiperex- e organizada (MILLAN, 1999; LAMONT e TRAN-
citabilidade, sugerindo que o sistema nociceptivo do QUILLI, 2000; DREWES, 2006).
corno dorsal da medula espinhal torna-se sensibili-
duração dos potenciais de ação sinápticos lentos distensão da musculatura lisa. O trato gastrintestinal
gerados por fibras Aδ e C. Os potenciais sinápticos possui receptores químicos e mecânicos de adap-
podem durar mais de 20 segundos e resulta na soma tação lenta e rápida que são classificados em dois
de potenciais de baixa freqüência repetidos em noci- grupos: o grupo de receptores de alto limiar para
ceptores estimulados, gerando uma despolarização estímulos mecânicos leves, e o grupo de baixo limiar
progressiva e de longa duração (LTP – long term po- para estímulos mecânicos que responde a estímu-
tentioation) nos neurônios do corno dorsal. Somente los agressivos e não agressivos. O primeiro grupo
alguns segundos de estímulo de fibras C podem ge- é encontrado no esôfago, sistema biliar, intestino
rar vários minutos de despolarização pós-sináptica. delgado e cólon e o segundo, apenas, no esôfago
Também observa-se um tipo de potenciação a curto e cólon. A relação entre a intensidade do estímulo
prazo em neurônios espinhais após estimulação de e a atividade nervosa é somente evocada após a
fibras C. Este evento, chamado “Wind-up”, é media- estimulação nociva. (LAMONT e TRANQUILLI, 2000;
do por receptores NMDA (N-metil-D-aspartato), que KRAYCHETE e GUIMARÃES, 2003). A dor visceral é
ligam-se ao glutamato; e receptores da taquicinina, profunda e dolorosa, mal localizada e, freqüentemen-
que ligam-se à substância P e à neurocinina A. A te relacionada a um ponto cutâneo. O mecanismo
ativação de receptores NMDA resulta em influxo de da dor referida não está totalmente esclarecido, mas
cálcio e ativação da proteína cinase C, que modifica pode ser relacionado a ponto de convergência de
estruturalmente o canal de NMDA, aumentando sua impulso sensorial cutâneo e visceral em células do
sensibilidade ao glutamato (LAMONT e TANQUILLI, trato espinotalâmico na medula espinhal. (GOMES
2000; GARRY et al., 2004; SCHAIBLE 2006). et al., 2002)
As fibras Aβ que antes respondiam apenas à
sensações inócuas, são agora recrutadas gerando Dor neuropática
dor como resultado do processamento central alte-
rado no corno dorsal da medula espinhal (LAMONT A dor neuropática ou neurogênica é produzida
e TANQUILLI, 2000; GARRY et al., 2004; SCHAIBLE pelo dano ao tecido nervoso. Caracteriza-se pela
2006). aparição de hiperalgesia, dor espontânea, pareste-
Os neurônios aferentes sofrem também altera- sia e alodinia mecânica e por frio (PISERA, 2005;
ções fenotípicas importantes, em conseqüência da SCHAIBLE, 2006).
exposição a neurotrofinas como o fator de crescimen- A lesão de nervos periféricos induz descargas
to neural (NGF), liberado por células de Schwann, rápidas e intensas por períodos mais ou menos
macrófagos, fibroblastos e queratinócitos, aumen- prolongados, na ausência de estímulos. Estes es-
tando a expressão de substância P, glutamato, óxido tímulos parecem produzir a ativação de receptores
nítrico e peptídeo relacionado ao gene da calcitonina NMDA, originando o fenômeno de “wind up” nos
(PISERA, 2005). neurônios do corno dorsal da medula. Logo de-
pois a indução de processos inflamatórios faz com
Dor visceral que certos mecanismos desencadeantes da dor
neurogênica sejam comuns ao da dor nociceptiva.
Os mecanismos neurais que envolvem a geração As extremidades do nervo lesionado “aderem-se”
da dor inflamatória e da dor visceral, por muito tempo logo após o trauma, podendo formar uma estrutura
foram tidos como iguais, porém existem diferenças de crescimento irregular denominada neuroma,
relevantes. As vísceras raramente são expostas a que pode dar origem a descargas espontâneas
estímulos externos mas são alvos comuns de diver- e hipersensibilidade a estímulos mecânicos. São
sas doenças. O conceito de aferentes nociceptivos produzidos padrões anormais de comunicação
ativados por um estímulo direto sobre o tecido é interneuronal na periferia, nas quais um neurônio
difícil de transferir para os tipos de dor visceral. A modifica a atividade de neurônios adjacentes.
sensibilidade do tecido visceral a estímulos térmicos, Logo após a lesão, as fibras simpáticas (que nor-
químicos e mecânicos difere significativamente. As malmente não afetam a sinalização dos terminais
vísceras parecem mais sensíveis à distensão de sensoriais) respondem a estímulos, tanto na peri-
órgãos cavitários de parede muscular, sem dano te- feria como nos gânglios da raiz dorsal, a agonistas
cidual, isquemia, e inflamação. A área sobre a qual o α (norepinefrina), em particular os neurônios Aβ.
estímulo acontece pode ser uma determinante crucial Os neurônios aferentes lesados também sofrem
no desenvolvimento dos tipos de dor. Os receptores alterações fenotípicas, observando-se maior ex-
mecânicos ou mecanorreceptores existentes na pressão de peptídeos pró-nociceptivos, como a co-
musculatura lisa de todas as vísceras ocas são do lecistoquinina (TJOLSEN e HOLE, 1993; LAMONT
tipo Aδ e C, e respondem a estímulos mecânicos e TRANQUILLI, 2000; JI e STRICHARTZ, 2004;
leves, tensão aplicada ao peritônio, contração e SCHAIBLE, 2006).
Segundo PITCHER e HENRY (2005) em conse- mensional produzida por padrões característicos ou
quência das alterações fenotípicas que acontecem neuroassinaturas, geneticamente predeterminadas,
durante a neuropatia periférica, os aferentes mielini- que podem ser desencadeadas independentemente
zados sintetizam e liberam substância P que ligam- do estímulo nociceptivo ou modificadas por estímulos
se a receptors NK-1. O resultado é a expressão de nociceptivos ao longo da vida do indivíduo. Esta hipó-
neurônios nocicpetivos espinhais que respondem de tese poderia explicar o aparecimento da dor fantasma
forma exagerada a estímulos inócuos. e outras em que a percepção da intensidade da dor
Uma importante seqüela da injúria nervosa e é incompatível com a complexidade da patologia
outras doenças do sistema nervoso como ataques (MELZACK, 1993; THURMON et al., 1996).
virais, é a apoptose de neurônios na periferia e no
sistema nervoso central. A apoptose parece induzir Resposta sistêmica à dor e injúria
sensibilização e perda do sistema inibitório, causando
um processo irreversível (ZIMMERMANN, 2001). O sistema nervoso é o principal alvo da informação
nociceptiva e fornece o veículo pelo qual o organismo
Teoria do controle do gatilho ou do portão pode reagir contra estímulos. Dor induz respostas
reflexas que resultam no aumento do tônus simpáti-
A teoria do portão proposta por MELZACK e co, vasoconstrição, aumento da resistência vascular
WALL em 1965 (apud MELZACK,1993), muito sistêmica, aumento do débito cardíaco pelo aumento
embora possa ser exposta em termos simples, da freqüência cardíaca e do débito cardíaco, aumento
possui diversificações bastante complexas e por do consumo de oxigênio pelo miocárdio , diminuição
isso vem recebendo muita atenção atualmente, do tônus gastrointestinal e urinário e aumento do tônus
pelo fato de levar em consideração um elemento músculo-esquelético (MATHEWS, 2005).
participante do mecanismo da dor: a emoção. A resposta endócrina compreende aumento
Essa teoria pode ser exposta da seguinte maneira: da secreção de corticotropina, cortisol, hormônio
os milhões de receptores do corpo conservam antidiurético, hormônio do crescimento, AMP cíclico,
o cérebro abastecido de informações sobre catecolaminas, renina, angiotensina II, aldosterona,
temperatura e condições dos tecidos e órgãos. glucagon e interleucina 1, com concomitante diminuição
Estas informações são moduladas na Lâmina II ou da secreção de insulina e testosterona. Estas alterações
substância gelatinosa. Como já visto, os receptores são traduzidas por um estado catabólico caracterizado
e o sistema nervoso central comunicam-se por meio por hiperglicemia, aumento do catabolismo protéico,
de um complexo código neural, que compreende lipólise, retenção renal de água e sódio, com aumento
a atividade relativa de fibras grossas e fibras finas. da excreção de potássio e diminuição da taxa de
As fibras mais grossas ou Aβ transmitem impulsos filtração glomerular. A estimulação nociceptiva
como os originados nos receptores do tato; as de centros cerebrais leva à hipoventilação e a
mais finas, do tipo C e Aδ, de transmissão mais resposta simpática descrita contribui para aumento
lenta, conduzem os impulsos de dor. Esses nervos da viscosidade sanguínea, aumento do tempo de
convergem para a medula espinhal e ali, através de coagulação, fibrinólise e agregação plaquetária
conexões com neurônios WDR, os autores da teoria (LAMONT e TRANQUILLI, 2000; MATHEWS, 2005;
admitem a existência de um mecanismo semelhante TEIXEIRA, 2005).
a um portão que usualmente permanece fechado A estimulação nociceptiva do tronco cerebral causa
para bloquear a dor mas, às vezes, pode abrir-se taquipnéia, com tendência à dor, secundária às doen-
para admiti-la (MELZACK, 1993; THURMON et ças torácicas e abdominais, resultando em espasmos
al., 1996). musculares de reflexo e fadiga involuntária da muscu-
Quando se arranha a pele suavemente, latura e consequente hipoventilação e piora na relação
as fibras grossas conduzem impulsos que são ventilação/perfusão (MATHEWS, 2005).
percebidos, porém não traduzem uma sensação Estes efeitos constituem a clássica resposta ao
desagradável pois a “porta” conserva-se fechada. estresse e correspondem a uma adaptação desen-
Se a pele continuar a ser arranhada, cada vez com volvida para otimizar a sobrevivência no período ime-
maior intensidade, mais receptores são estimulados diatamente após a injúria. No entanto, a persistência
e as fibras grossas sobrecarregadas fazem com deste quadro clínico pode ser deletério, visto que a
que a “porta” se abra e as fibras finas transmitem resposta neuroendócrina à dor pós traumática ou pós
impulsos dolorosos aos centros nervosos superiores cirúrgica é suficiente para desencadear estado de
(MELZACK, 1993; THURMON et al., 1996). choque (LAMONT e TRANQUILLI, 2000).
Sugere-se ainda que a existência de um A supressão do eixo adrenal-pituitário da resposta
estímulo nociceptivo não seja um pré-requisito para hormonal ao estresse tem sido descrita como o prin-
geração de dor. A dor seria uma experiência multidi- cipal objetivo do controle da dor. O reconhecimento
de marcadores intracelulares do estresse tem redi- também modulam a experiência dolorosa e devem ser
mensionado este objetivo. Estes marcadores são combatidos através da terapia multimodal. (LAMONT
gerados nos neurônios do corno dorsal da medula e TRANQUILLI, 2000).
espinhal e acredita-se que contribuam para mudanças Os opióides são um grupo de fármacos naturais
fenotípicas nos neurônios sensoriais periféricos: 1) ou sintéticos amplamente utilizados no manejo de dor
expressão de genes (c-fos) que codificam proteínas pós-operatória e em processos oncológicos. Recepto-
envolvidas na iniciação da excitabilidade neuronal de res opióides específicos estão localizados na periferia,
longa ação, 2) ativação de enzimas (proteína cinase medula espinhal e estruturas supra-espinhais, sendo os
C e óxido nítrico sintase) que produz importante papel receptores µ(OP3) e κ(OP2) os de maior importância
na sensibilização central e desenvolvimento de tole- clínica reforçando a ação fisiológica das endorfinas e a
rância a opióides, 3) secreção de fator de crescimento das vias inibitórias noradrenérgicas e serotoninérgicas.
neural e citocinas neuropoiéticas que contribuem A eficácia analgésica dos opióides pode variar segundo
para sensibilização central e periférica (LAMONT e a característica, duração intensidade do estímulo; dosa-
TRANQUILLI, 2000). gem e espécie. Os opióides bloqueiam a transmissão
periférica e central da via nociceptiva aferente e por
Implicações para o manejo da dor isso, tornam-se bastante eficientes no tratamento da dor
inflamatória aguda. No entanto, eles não são igualmente
Segundo GLEED e LUDDERS (2006) a maioria eficazes para todo tipo de dor como, por exemplo, a dor
das síndromes dolorosas são complexas e envolvem neuropática que possui uma resposta pobre ou de curta
mais de um tipo de dor. A primeira estratégia para ma- duração aos opióides (RIBEIRO et al., 2002, BASSANE-
ximizar o sucesso da terapia analgésica é o conceito ZI e OLIVEIRA FILHO, 2006). Agentes opióides como
de analgesia preemptiva. O tratamento iniciado antes tramadol e morfina contribuíram para modulação da
da injúria inibe o processo de sensibilização periférica resposta neuroendócrina à dor, após a OSH em cães
e central. A segunda estratégia envolve a combinação (MASTROCINQUE e FANTONI , 2001).
de fármacos analgésicos e técnicas que promovam Os anestésicos locais atuam tanto no bloqueio de
efeito sinérgico como analgesia balanceada. Com estas canais de sódio, como prevenindo a transmissão do
técnicas, pode-se utilizar baixas doses, diminuindo a impulso nervoso e a excitação do nociceptor ou inibindo
possibilidade de efeitos colaterais (KUMAZAWA, 1998; o processo modulatório de nocicepção quando adminis-
LUNA, 2006). trado por via central (LAMONT e TRANQUILLI, 2000;
A analgesia preempitva ou analgesia preventiva BASSANEZI e OLIVEIRA FILHO, 2006).
envolve a administração de analgésicos antes da injúria Os anti-inflamatórios não esteróides (AINE) continu-
tecidual, para minimizar a dor pós-operatória e promo- am sendo a principal ferramenta no tratamento da dor
ver um curto período de recuperação ao paciente. O crônica. Acredita-se que os efeitos analgésicos destes
principal objetivo da analgesia preemptiva é bloquear o fármacos deve-se à sua habilidade em inibir a ativida-
Wind-up celular e, com isso, bloquear a sensibilização de da ciclo-oxigenase e lipo-oxigenase e prevenindo
central, prevenindo a dor ou tornando-a mais fácil de a síntese das prostaglandinas e a sensibilização de
controlar. Apesar do exposto, a técnica não é aceita para nociceptores periféricos. Existem dois tipos principais
indução e manutenção de anestesia isoladamente e não de COX: a COX- 1 e COX- 2, presentes na maioria dos
elimina a necessidade de analgésicos no pós-operatório tecidos. Existem também relatos da existência de um
(SHAFFORD et al., 2001; GLEED e LUDDERS, 2006; terceiro tipo de COX (COX-3), presente principalmen-
LUNA, 2006; ROBERTSON, 2006). te no córtex cerebral, que é inibida seletivamente por
A analgesia balanceada ou multimodal utiliza mais drogas analgésicas e antipiréticas, como a dipirona e o
de uma modalidade de analgésicos. O processo de acetaminofeno. A ação dos AINE é dose /resposta limi-
nocicepção e dor envolve diversos mecanismos e tada (efeito teto), ou seja, a sua administração em doses
parece óbvio que um único fármaco não seja capaz superiores às recomendadas não proporciona analgesia
de aliviar a dor completamente. Um plano efetivo inclui suplementar, aumentando a incidência de efeitos cola-
fármacos de diferentes classes analgésicas, atuando terais. (LAMONT e TRANQUILLI, 2000; BASSANEZI
em pontos diferentes dos mecanismos fisiopatológicos e OLIVEIRA FILHO, 2006; ROBES, 2006).
que envolvem a dor (ROBERTSON, 2006). Já os glucocorticóides diminuem a expressão do
A dor crônica, resultante da persistência de estímu- ácido araquidônico e conseqüentemente diminuição
los nociceptivos ou disfunções do sistema nervoso, não de seus metabólitos (prostaglandinas, leucotrienos e
é uma versão prolongada da dor aguda. Dor crônica tromboxanos), diminuem a expressão de interleucinas
perde a função biológica e caracteriza-se pela sua na- e TNFα e parecem estar envolvidos na diminuição da
tureza multidimensional, em que além dos fenômenos resposta dolorosa em processos autoimunes (LAMONT
neurofisiológicos, os aspectos psicológicos, cognitivos, e TRANQUILLI, 2000).
comportamentais, sociais, familiares e vocacionais
Os α 2-agonistas ligam-se a receptores pré- mente patológicos. Tais informações são essenciais
sinápticos α localizados na fibras aferentes sim- para a instituição de uma terapia analgésica eficiente,
páticas, modulando a liberação de norepinefrina, preemptiva e multimodal, pois a síndrome dolorosa
substância P, peptídeo relacionado com o gene da pode ser considerada uma doença, gerando alte-
calcitonina e outros neurotransmissores envolvidos rações na homeostasia orgânica que implicam em
na transmissão da informação nociceptiva. No SNC perda da qualidade de vida do paciente.
os receptores α2 encontram-se no tronco cerebral e As conseqüências negativas da dor de longe
a ativação de seus núcleos resulta em sedação e excedem alguma preocupação especial para a uti-
anestesia. Também no tronco cerebral, a ação dos lização de analgésicos. O estresse causado por tal
agonistas α2 ativa uma via inibitória descendente da situação deve ser impedido de tomar proporções
medula espinhal, diminuindo o tônus simpático. Na catastróficas para o indivíduo, ou seja, antes que haja
medula espinhal estes receptores estão localizados a exaustão das reservas biológicas de energia. Deve-
no corno posterior e sua ativação inibe a transmissão se ter em mente que não existem efeitos negativos
da informação dolorosa, resultando em analgesia da utilização dos analgésicos, mas sim, relacionados
(LAMONT e TRANQUILLI, 2000; BASSANEZI e à escolha inadequada ou a dose.
OLIVEIRA FILHO, 2006).
Os antagonistas dos receptores NMDA como a
cetamina, previnem o fenômeno de “wind-up” e a REFERÊNCIAS
conseqüente sensibilização dos neurônios do corno
dorsal. Devido seu efeito modulatório da medula
espinhal, a cetamina pode ser eficaz no tratamento ALMEIDA, T. P.; MAIA, J. Z.; FISCHER, C. D. B.;
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dor induzindo o córtex cerebral à não percepção
da informação nociceptiva que está sendo recebida BASSANEZI, B. S. B.; OLIVEIRA FILHO, A. G. D.
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