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Administração, Princípios Básicos e Contemporâneos

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A Administração:

Princípios básicos
e contemporâneos

MARCELO PEREIRA MARUJO


MARCOS FIGUEIREDO RODRIGUES
ANDRÉ LUIZ PARREIRAS
CLAUDIO STAREC
ORGANIZAÇÃO

DURVAL CORRÊA MEIRELLES

1ª edição
rio de janeiro 2014
Comitê editorial externo claudio starec, marcelo pereira marujo e marcos figueiredo rodrigues

Comitê editorial interno durval corrêa meirelles, jorge bezerra lopes chaves, juarez jonas
thives junior

Organizador do livro durval corrêa meirelles

Autores dos originais marcelo pereira marujo (capítulos 1 e 3), marcos figueiredo rodrigues
(capítulo 2), andré luiz parreiras (capítulo 4)

Projeto editorial roberto paes

Coordenação de produção rodrigo azevedo de oliveira

Projeto gráfico paulo vitor fernandes bastos

Diagramação paulo vitor fernandes bastos

Supervisão de revisão aderbal torres bezerra

Redação final e desenho didático rodrigo azevedo de oliveira

Revisão linguística michele paiva e ione nascimento

Capa thiago lopes amaral

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quais-
quer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou
banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2014.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

A238 A Administração: Princípios básicos e contemporâneos


Durval Corrêa Meirelles [organizador].
— Rio de Janeiro: Editora Universidade Estácio de Sá, 2013.
128 p

isbn: 978-85-60923-09-0

1. Administração. 2. Organização. 3. Planejamento. I. Título.

cdd 658.001

Diretoria de Ensino – Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido – Rio de Janeiro – rj – cep 20261-063
Sumário

Apresentação 7
1. A administração no Brasil e no mundo 9

A trajetória da Administração no mundo 12


O momento atual 13
A trajetória da Administração no Brasil 15
Administração: teorias e características 18
O “Taylorismo” 19
O “Fordismo” 21
Jules Henri Fayol 22
Maximilian K. E. Weber 25
Outros teóricos 26
As empresas e suas necessidades 27
Desafios à Administração 29
Considerações finais 32

2. Conceitos fundamentais 35

Organização, empresa e administração 36


Organizações 37
Empresas 37
Administração 37
Administradores 39
Nível organizacional 39
Tipo de organização 40
Dimensão da organização 40
A natureza do trabalho gerencial 40
Papéis do administrador 40
Habilidades do administrador 43
Competências do administrador 45
Organização como sistema 45
Sustentabilidade do negócio 46
Identificação do negócio 47
Considerações finais 47

3. O ambiente organizacional 51

Ambiente organizacional 54
Definições 54
Cultura organizacional 57
Clima organizacional 59
Comportamento organizacional 60
Ambientalismo 61
Ambiente global e suas influências 63
Considerações finais 65

4. Níveis organizacionais e o processo decisório 69

Os três níveis organizacionais 71


O processo decisório 72
Modelos de processos decisórios 74
Riscos e incertezas 76
Tipos de decisão 77
Decisões programadas 77
Decisões não programadas 78
Etapas do processo decisório 79
Racionalidade e intuição no processo de decisão 88
Considerações finais 88

5. O processo administrativo 91

O processo administrativo 93
As quatro funções administrativas: Planejamento, Organização, Direção e Controle 94
Planejamento 94
Organização 97
Controle 101
Considerações finais 101

6. As áreas funcionais da administração e as organizações funcionais 105

As funções organizacionais 107


Operações/produção 108
Recursos Humanos 108
Marketing 111
Finanças 114
Pesquisa & desenvolvimento 116
Considerações finais 117
Apresentação
Este livro é uma construção a “quatro mãos”, feita por acadêmicos, professores que se de-
dicam à sublime arte de capacitar pessoas, municiando-as para a materialização de seus
sonhos, de suas realizações e objetivos. Não estão preocupados em produzir conhecimen-
tos — até porque o acadêmico não tem esse objetivo —, e sim em divulgar o conhecimento
para os mais diversos ambientes. É, portanto, uma obra de todos, pois sem a participação
do aluno, fonte de inspiração do professor, este livro jamais poderia ser elaborado.
O objetivo desta obra é mais uma tentativa de instruir o aluno para o conhecimento da
ciência da Administração, sua origem, seu desenvolvimento e sua aplicabilidade, em um
mercado cada vez mais dinâmico, inovador, surgindo a cada instante novos modelos de
gestão com as mais diversas ferramentas e técnicas visando minimizar desperdícios, per-
das e mortalidade das organizações brasileiras.
Elaborar um livro cujo tema já é bastante conhecido, nas universidades e nas empresas,
torna-se um desafio em que os autores buscam colocar informações relevantes muito embo-
ra a vida útil dessas informações seja reduzida quase que instantaneamente. Outro desafio é
elaborar textos cujos conteúdos façam transversalidades com outras disciplinas dos diversos
cursos que usarão este livro, a busca do ineditismo acadêmico torna-se um esforço para um
professor que, ao criar um capítulo, obrigatoriamente estará expondo suas idiossincrasias.
É uma construção na qual o leitor encontrará, no primeiro capítulo, a historicização
da Administração, na tentativa de proporcionar a compreensão do quanto suas funções
tornam-se tempestivas e contemporâneas. O capítulo dois apresentará os conceitos funda-
mentais da Administração que servirão de base para o entendimento e o desenvolvimento
dos demais capítulos. Apresentará, também, os papéis, as habilidades e as competências
necessárias para se entender a essência da natureza do trabalho de um administrador,
além de descrever aspectos fundamentais para que o negócio seja sustentável.
O terceiro capítulo mostrará o ambiente organizacional em sua totalidade favorecendo
o melhor entendimento sobre o mercado orientador da sociedade. O capítulo quatro apre-
sentará os níveis decisores, na estrutura da organização, e seus possíveis impactos dentro
e fora da empresa. Os tipos e as etapas do processo decisório são apresentados ao longo
deste capítulo e conduzirão o leitor a um entendimento básico do processo de decisão nas
organizações. No quinto capítulo, será apresentado o processo administrativo como fun-
ção-chave, na gestão empresarial, sendo um conjunto estruturado de atividades inter-re-
lacionadas, interdependentes e indispensáveis que transformam as informações do am-
biente de negócios em produtos e serviços com a finalidade de agregar valor e atender às
necessidades e expectativas dos clientes internos e externos.
O processo administrativo é utilizado para que os gestores/administradores possam ter
uma visão geral da realidade da empresa, fornecendo informações essenciais, sejam elas
operacionais, táticas ou estratégicas, para auxiliar no processo de tomada de decisão, em
qualquer nível organizacional. O processo administrativo engloba os seguintes subproces-
sos ou funções: planejamento, organização, direção e controle, que serão apresentados de-
talhadamente nesse capítulo.
Finalizando esta obra, o sexto capítulo descreverá as áreas funcionais da Adminis-
tração moderna, entendendo que devem ser percebidas como as tarefas especializadas
que determinados profissionais executam, para que a organização consiga atingir seus

7
objetivos. São áreas essenciais que precisam operar para que os planos de ação possam
ser executados conforme o planejado. A Organização funcional se divide em várias áreas
ou departamentos funcionais; os mais importantes são: Produção (operações e logística),
Marketing (vendas e inteligência competitiva), Pesquisa & Desenvolvimento (inovação),
Finanças (contabilidade, controladoria e auditoria) e Recursos Humanos (comunicação
interna e desenvolvimento de competências). A administração central ou o principal exe-
cutivo (ceo — sigla em inglês que significa Chief Executive Officer) deve coordenar todas
estas funções, que precisam atuar de forma integrada.
No mais, esperamos que você consiga aplicar, na sua organização, tudo aquilo que
aprender neste livro.

Desejamos uma boa leitura e sucesso no seu curso!

jorge bezerra lopes chaves

8
1 A administração no
Brasil e no mundo

marcelo pereira marujo


1 AUTOR
A administração no
Brasil e no mundo
REFLEXÃO
Peter Drucker “A sociedade do conhecimento é a primeira sociedade humana em que o crescimento é
Peter Ferdinand Dru- potencialmente ilimitado. O conhecimento difere de todos os outros meios de produção,
cker (1909–2005) foi uma vez que não pode ser herdado ou concedido. Ele tem de ser adquirido por cada
um escritor, professor indivíduo e todos começam com a mesma e total ignorância.” (PETER DRUCKER)
e consultor adminis-
trativo de origem austríaca. Considera- A Administração, na contemporaneidade, carece de ser compreendi-
do o pai da administração moderna, é da como teoria do conhecimento diante de sua magnitude, uma forma
o mais reconhecido dos pensadores do de adquirir mais informações, saberes e conhecimentos, um meio e tam-
fenômeno dos efeitos da globalização na bém um fim de conhecer a realidade e suas várias generalidades que tanto
economia em geral e em particular nas propulsionam nosso modus vivendi a empreender estratégias diferencia-
organizações — subentendendo-se a ad- das diante das constantes emergências socioambientais (MARUJO, 2013).
ministração moderna como a ciência que Há tempos, a Administração apresenta-se como área de atividade
trata sobre pessoas nas organizações, humana fundamental à orientação da sociedade. A sociedade humana
como dizia ele próprio. necessita do constante norteamento da ciência da Administração para
sua melhor previsão e, sobretudo, para o seu provisionamento a fim de
atender as necessidades da sociedade contemporânea.
CONCEITO Este livro apresenta a Administração como condição necessária e in-
terdependente do mercado e da sociedade, a qual vem buscando diversi-
Modus vivendi ficadas propostas mais responsivas para suprir as intensas e iminentes
Condição à convivência flexível de demandas globais e locais.
maneira que as partes se permitem, Compreende-se como relevante desafio para os profissionais, não
mesmo diante de tanta contrariedade, apenas aos futuros profissionais de Administração, mas para todos os
construírem constantemente novos demais profissionais, o redimensionamento do conhecimento sobre
conhecimentos. essa ciência que tanto se fez e, ainda, muito se faz presente no desenvol-
vimento das organizações (MAXIMIANO, 2007).

REFLEXÃO
A organização é a maneira pela qual a sociedade consegue que as coisas se-
jam feitas. E a Administração é a ferramenta, a função ou o instrumento que
torna as organizações capazes de gerar resultados e produzir o desenvolvimento
(CHIAVENATO, 2003, p. 612).

Entender a Administração como ciência e também associá-la às mais


variadas atividades humanas que promovem o progresso passa a ser uma
condição muito importante, em especial por entender que a inter-relação
teoria e prática deve se tornar condição indissociável à construção de no-
vos conhecimentos sobre essa expressiva ciência e suas peculiaridades.

10 qcapítulo 1
Nessa perspectiva, o conhecimento científico e o conhecimento do CONCEITO
senso comum devem ser a unidade capaz de proporcionar a organici-
dade e o dinamismo necessário, possível de favorecer a prospecção das Unidade
administrações pública, privada e do terceiro setor. Nesta obra deve ser entendida como
Sendo assim, observa-se a imprescindibilidade de compreender a integração necessária e interde-
a Administração moderna de maneira necessária e simultaneamente pendente que se funde em uma úni-
sistêmica e complexa, como condições que favoreçam pesquisar/ ca condição para o desenvolvimento,
trabalhar as variadas especificidades da Administração de forma tanto na prospecção do profissional
mais integrada. quanto do organizacional, constante e
O mercado vem se mostrando mais necessitado de novas estratégias simultaneamente.
organizacionais capazes de atender mais tempestivamente a obsoles-
cência de produtos, de serviços e, principalmente, de conhecimentos
que se convertem em circunstâncias emergentes que tanto precisam de CONCEITO
respostas pontuais para as suas necessidades e que, por consequência,
vem fragilizando as administrações. Sistêmica
Refere-se à condição atualmente neces-
A Administração, muito mais que uma ciência, sária de se compreender as organiza-
ções, ou seja, como um sistema orgânico,
mostra-se ser a maneira multifuncional que a
dinâmico e interdependente. Pois, a pró-
sociedade humana se expande mediante suas pria organização compõe esse sistema
inter-relações familiares, sociais, profissionais juntamente com o mercado e a socieda-
e governamentais. de, para tanto são partes integrantes de
um único sistema que devem se retroali-
Igualmente, percebe-se também que a globalização fez com que a mentar de informações e necessidades.
Administração passasse a manter-se mais resiliente e proativa para com
as políticas globais e suas demandas globalizadas (LACOMBE; HEIL- Complexa
BORN, 2008), fatores que precisam de maior atenção para atender mais Condição de se (re)pensar as organi-
prontamente as variadas características dos mercados/sociedades. zações como de sistema complexo ou
Esse cenário emergencial e contemporâneo evidencia que a Admi- orientadas pela Teoria da Complexidade
nistração sempre influenciou e de forma bastante contundente pro- (MORIN, 2013). Passa a ser um impe-
move as organizações, propiciando o dinamismo necessário que o ditivo simplificar os processos; logo,
mercado vem demandando e assim favorecendo o desenvolvimento necessitando que desprezemos os pro-
da sociedade. cessos simples e comecemos a com-
Portanto, acredita-se que a Administração está cada vez mais conec- preender que tudo deve ser pensado de
tada com o mercado e a sociedade global — online, full time, on time —, forma complexa, mas não complicada.
situação de integração que demanda um processo formativo mais redi-
mensionado, de forma que um maior entendimento sobre as variadas
áreas de conhecimentos torna-se um imperativo.
Pode-se concluir que nessa dimensão global, a Administração, mui-
to mais que uma ciência, mostra-se ser a maneira multifuncional que a
sociedade humana se expande mediante suas inter-relações familiares,
sociais, profissionais e governamentais.
Entende-se que a Administração deve manter-se — validada também
para os seus profissionais — cada vez mais integrada com as constantes
novidades globais, condição que deve se aliar, fundamentalmente, com

capítulo 1 q11
as Tecnologias da Informação e da Comunicação (tic), tão efervescente e imprescindível
ao progresso da sociedade moderna.
Nessa perspectiva, ratifica-se que a Administração, a partir de seu processo histórico, o
qual suscitou necessárias proposições teóricas mediante problemáticas industriais em di-
ferentes momentos, e através de sua pertinência em prover novos conceitos e técnicas para
o melhor desenvolvimento das organizações, indubitavelmente se converte em área muito
importante à sociedade contemporânea.

ATENÇÃO
Nesse estágio, de agora em diante serão consubstanciadas as informações e os conhecimentos capazes
de proporcionarem melhor compreensão sobre as proposições teóricas, as quais orientarão e fundamenta-
rão o capítulo e suas imensuráveis proposições sobre a eloquente temática: Administração.
Na sequência, objetivamente, serão propostas às reflexões a trajetória da Administração no mundo e no
Brasil, diferentes tipos de empresas, teorias da Administração, características e suas variáveis norteadoras
e os desafios da administração diante das emergências globais.

A trajetória da Administração no mundo


Na busca da Administração, inclusive como ciência, pelo mundo será observada sua sempre
integração com o mercado e a sociedade como fator preponderante para o desenvolvimento.

CURIOSIDADE
Para muitos estudiosos de Administração, a sua história inicia-se na Suméria em torno do ano 5000 a.C.,
quando os antigos sumerianos buscavam melhorias das formas de contornar situações problemáticas em
suas práticas cotidianas, assim exercitando a arte de administrar.

Na Antiguidade, a Administração sempre se fez presente e necessária. Comprova-se tal


condição com base nas interpretações dos papiros egípcios (1300 a.C.) que já indicavam e
reconheciam como importantes a organização e a Administração nos estados burocráticos
da Antiguidade (KOONTZ; O’DONNELL, 1959).
As organizações de outrora e que na atualidade continuam importantes surgiram nesse
período, como é o caso do império romano, da igreja católica e dos exércitos que já mostra-
vam a Administração como propulsora ao progresso.
Na Idade Média, a Administração começa a se estruturar pela hierarquia de nobres
com o incondicional apoio do sacerdócio e de estudiosos da matemática, pelas relações
de trabalho hierarquizadas, ampliação de mercados e avanços tecnológicos e talvez o mais
curioso, os primeiros passos da terceirização, ou seja, o comércio começava a produzir e
negociar mercadorias de terceiros.
A Idade Moderna é marcada pelas agitações sociais nos diversos continentes, grandes e
marcantes revoluções, domínio pleno da classe burguesa, institucionalização dos variados
níveis de poder, pelo proletariado e, principalmente, pela Revolução Industrial.

12 qcapítulo 1
A Revolução Industrial nesse cenário mundial passa a ser a significativa circunstância
para que a Administração surja como área independente, uma vez que suas problemáticas
relacionadas com a produção carecem de ações efetivas para favorecer o processo de pro-
dução das fábricas (SOBRAL; PECI, 2008).

ATENÇÃO
Para tanto, pode-se dizer que foi a partir da Revolução Industrial, com as grandes indústrias e seus impo-
nentes maquinários, que os problemas de Administração surgem com mais evidência e força. Justamente
essas situações indesejáveis nas fábricas referentes à produção que passaram a ser objeto de insatisfação
e, consequentemente, de estudos para se buscar a melhoria contínua do processo de produção.

O momento atual
A sociedade moderna, não diferente das demais épocas, prossegue com indispensáveis
avanços à Administração, especialmente por compreender tal condição como necessária
diante da consolidação do capitalismo e, ainda, devido às imensuráveis e incontroláveis
disputas pela hegemonia global.
A pós-modernidade ostenta com veemência a tecnologia e sua consequente profusão de
informações como variável imprescindível para se manter consonante com a competitivi-
dade desenfreada e incontrolável peculiar da mundialização, a qual deve incessantemente
buscar corresponder às emergenciais demandas do mercado progressivamente dinâmico
para atender ao capitalismo.

REFLEXÃO
Não existem países desenvolvidos e países subdesenvolvidos, e sim países que sabem administrar a tec-
nologia e os recursos disponíveis e potenciais e países que ainda não o sabem (DRUCKER, 2001, p. 65).

Os governos desprovidos de competências, habilidades, ética e valores imprescindíveis


ao bom funcionamento das administrações públicas, praticamente situação comum de qua-
se todos os países, ratificam o quanto a ciência em questão faz-se primordial (MATOS, 2008).
Não diferente, organismos internacionais como as Organizações das Nações Unidas
(onu) mostram consideráveis fragilidades organizacionais diante da Administração não
responder, simultânea e proativamente, às indispensáveis contingências de seus países
membros e de seus variados organismos (Unesco, fao, oit etc).
Diante do extenso cenário internacional, corrobora-se que a Administração converte-se
em uma área fundamental, independentemente de se tratar de Administrações Pública,
Privada e do Terceiro Setor, à sociedade. As administrações carecem cada vez mais de redi-
mensionar sua capacidade orgânica, para se tornar mais capaz de prever e prover contigen-
cialmente alternativas à ascensão do mercado em maior harmonia com a sociedade global.
Empresas multinacionais e do Terceiro Setor, nesse mesmo nível, também foram e são
acometidas pelo fantasma da ineficiência da Administração, conjuntura que se instaura

capítulo 1 q13
CONCEITO em empresas que não acompanham as tendências e as novidades, con-
dições imprescindíveis para se manterem no mercado globalizado.
Terceiro Setor
É o setor constituído por organizações REFLEXÃO
sem fins lucrativos e não governamen-
tais, portanto, essas organizações têm As instituições privadas ou públicas, formais ou informais, com ou sem fins lucrativos,
como objetivo principal a geração de não existem por conta própria, mas para satisfazer uma necessidade exclusiva da so-
serviços de caráter público. ciedade, da comunidade ou do indivíduo. Existem para cumprir uma finalidade social
definida. Não são fins em si, são meios para que as necessidades sejam atendidas
(DRUCKER, 2001, p, 97).
CONCEITO
As empresas privadas, em geral, possuem administrações mais con-
E-commerce sistentes, uma vez que investem naqueles profissionais mais qualifica-
Trata-se da mais emergente modalidade dos e em tecnologia. Também, essas empresas mantêm continuamente
de comércio que realiza todas as suas programas de profissionalização, capacitação e qualificação dos seus
transações financeiras por intermédio empregados em seus diversos níveis.
de dispositivos e plataformas eletrôni- As organizações do Terceiro Setor, apesar de sofrerem com o proble-
cas, como computadores e celulares. ma da falta de administração, fator que vem mostrando as suas fragili-
dades e que se converte na principal causa de sua inércia, pouco propor-
cionam de profissionalização do seu pessoal.

ATENÇÃO
Sinaliza-se que a necessidade da formação e da profissionalização continuada pas-
sa a ser uma exortação para melhoria da qualidade dos serviços e da própria desen-
voltura das organizações para atenderem uma clientela cada vez mais informada e
consciente de seus direitos.

Sob outro prisma, as empresas virtuais também devem ser objeto


dessa reflexão pelo fato de se tornarem significativas e de se converte-
rem na tendência do mercado futuro.
Essas empresas carecem de uma estruturação estratégica bastante
complexa, especialmente por necessitarem de parcerias (terceirizações
e quarteirizações) para promover suas atividades de maneira satisfató-
ria. Contudo, essa questão não se relaciona às empresas multinacionais
que já contêm as suas próprias empresas virtuais.
Nessa mesma linha, o e-commerce (comércio eletrônico) já é reali-
dade para muitas empresas tradicionais e, sem nenhuma dúvida, é a
grande tendência do mercado, mediante o avanço das tecnologias da
informação e da comunicação.
Essa visão geral da trajetória da Administração no mundo e de suas
distintas organizações, como das administrações públicas, privadas e
do terceiro setor, nos ajuda a compreender a sua importância e o quanto
se faz procedente para a manutenção dessa via.

14 qcapítulo 1
Assim, a apresentação sobre o quanto a Administração acompanha, (re)desenha e im-
pulsiona a nossa história mundial serve para mostrar a sua expressividade para o desenvol-
vimento das organizações, do mercado e, por conseguinte, da sociedade.

A trajetória da Administração no Brasil


O Brasil, não diferente dessa historicização da Administração no mundo, por meio da ordem
e do progresso pauta-se nesta ciência (e por que não “arte”?) para empreender suas variadas
atividades políticas, econômicas e sociais, sobretudo por possuir um imenso território com
significativa potencialidade natural e cultural.

“Mesmo em contextos de adversidade cultural, existem


administradores aptos a guiar suas organizações com
eficácia e eficiência, e os brasileiros demonstram isso."
(SOBRAL e PECI, 2008, p. 19)

A Administração no Brasil é marcada pela chegada da Família Real, primeiramente na


Bahia e logo depois no Rio de Janeiro. Pelo fato de o Rio de Janeiro se tornar a sede da corte
portuguesa, inicia-se o processo de estruturação organizacional, já naquela época peculiar
da Administração, para o maior crescimento político e econômico do Brasil.
As proposições políticas da colônia evidenciaram a força e a pertinência da Admi-
nistração, materializada por meio da abertura do comércio às nações amigas, estímulo
às indústrias, construção de estradas, reforma portuária, criação do Banco do Brasil e
da câmara de comércio. Tais ações mostram o quanto se fez presente a Administração
para o progresso do país.
No século xix, período do Império no Brasil, a organização mais consolidada mostrava
o quanto um país precisa de estruturação administrativa para se manter em crescimento.
Na Era Vargas (a partir dos anos 1930), a Administração enquanto Ciência começa a
ganhar credibilidade e importância. Nessa conjuntura, o poder público começa a se orien-
tar pela Administração científica, condição que foi evidenciada pela seguinte proposição
governamental: governar é administração (Enap, 2007).
Na mesma dimensão, nas décadas seguintes, o setor privado, em conformidade com a
ousadia do poder público, começa também a dar mais ênfase à Administração. Como se
vislumbrava o processo de industrialização, daí a necessidade de se preparar e se organizar
previamente para responder as possíveis demandas.

ATENÇÃO
Mais especificamente em 1938, foi criado o Departamento de Administração Geral, centralizando as fun-
ções administrativas de todos os ministérios em um único órgão. Assim surge a elaboração e verbalização
do pensamento administrativo brasileiro (Enap, 2007).

capítulo 1 q15
Em relação às organizações privadas em atividade no país, na década de 1950, as mesmas
eram geridas por processos práticos com base na maneira com que os seus proprietários,
familiares e funcionários exerciam suas atividades. Essa situação de gestão se convertia em
uma situação fundamental para inserção de processos administrativos científicos.
Alguns estudiosos sinalizam ser esse momento — cenário nacional fértil — como pro-
pulsor das pesquisas e decorrentes publicações sobre a administração de organizações e
seus diversos processos de produção, circunstâncias que suscitaram o início da profissio-
nalização do administrador nas organizações.
Essa possibilidade provém do mais interessante dos recursos: o humano, que tem
como característica promover, de fato e significativamente, as transformações em distin-
tos ambientes, dessa forma adequando-os às necessidades da organização e do mercado
(MORGAN, 1996).

REFLEXÃO
Tanto o processo de construção de conhecimento quanto o seu produto refletem o desenvolvimento e a
ruptura ocorridos nos diferentes momentos da história. Em outras palavras, os antagonismos presentes em
cada modo de produção e as transformações de um modo de produção a outro serão transpostos para as
ideias científicas elaboradas pelo homem (ANDERY, 2007, p. 13).

No Brasil, em meados do século xix, esta interessante e orgânica relação — teoria e prá-
tica — vem favorecer a Administração. Surgem as possibilidades das ciências administra-
tivas redesenharem novos processos nas organizações frente às suas variadas atividades,
pois essa sinergia sempre favorece a construção de novas práticas administrativas.
Na década de 1960, a Administração se manifestou com caráter mais cartesiano e buro-
crático, de maneira que as questões administrativas se associaram com as questões políticas.
Nos anos 1980, observou-se uma Administração voltada para o empreendimento, uma
vez que havia forte postura empreendedora no país.
A cultura é um fator bastante influente para condicionar a Administração. Diante dessa
concepção, somos possuidores de valores expressivos, especialmente a criatividade, que
tanto proporciona redimensionar com mais distinção necessidades organizacionais. Pos-
sivelmente, trata-se de uma condição diferencial para o desenvolvimento de novas ações.
Para Sobral e Peci (2008, p. 19), “mesmo em contextos de adversidade cultural, existem
administradores aptos a guiar suas organizações com eficácia e eficiência, e os brasileiros
demonstram isso”.

ATENÇÃO
O ambiente nacional tem particularidades muito específicas que as organizações têm de passar a conviver
com mais atenção. Essas diferenças se tornam desafios para se conservarem no mercado, porque são
fatores complicadores, como: intensa tributação, pouca possibilidade de financiamentos, burocracia etc.

Observa-se que a Administração no Brasil, semelhante aos demais países do mundo,


sempre foi uma variável relevante para o seu progresso, fator que até hoje se faz neces-

16 qcapítulo 1
sário para prever e prover a indispensável integração das Administra- CONCEITO
ções Pública, Privada e também, mais recentemente, do Terceiro Setor
(KWASNICKA, 2004). Laranjas
A Administração, por meio da governança, converte-se na possibi- O termo "laranja" designa, na lingua-
lidade mais marcante dos eloquentes setores 1º, 2º e 3º — respectiva- gem popular, a pessoa ou empresa
mente, governo, empresas e organizações não governamentais (ongs) que intermedeia transações financei-
— favorecerem o desenvolvimento sustentável do mercado e, conse- ras fraudulentas, emprestando seu
quentemente, da sociedade local e global. nome, documentos ou conta bancária
Na Administração pública, tal situação é também evidenciada nos para ocultar a identidade de quem a
Governos (Federal, Estaduais, Distrital e Municipais) mediante o des- contrata. A criação de laranjas tem,
contentamento com as referidas administrações e suas respectivas ati- entre outras motivações, o intuito de
vidades e ações profissionais, ou melhor, em sua maioria pela ausência escapar do pagamento de taxas, im-
e/ou deficiência das mesmas. postos e outros tributos oficiais.
Da mesma forma, a Administração Privada vem encontrando os
mesmos problemas, talvez com menor intensidade. A necessidade de
constante busca por melhoria do desempenho administrativo é uma CONCEITO
constante e real necessidade.
Vale ressaltar que tal situação torna-se mais clara quando a iniciativa Caixa dois
privada passa a gerir empresas do governo e a mesma mantém-se inerte O termo “caixa dois” refere-se a recur-
e, muitas das vezes, até com menos eficiência e efetividade. sos financeiros não contabilizados e não
declarados aos órgãos de fiscalização
EXEMPLO competentes. É utilizado por algumas
organizações, que deixam de emitir ou
Como exemplo pode-se citar as empresas das áreas de transportes: rodoviário, fer- emitem notas fiscais com valor menor ao
roviário e aquaviário, situações essas que vêm impulsionando os problemas de mo- da transação realizada, para que sejam
bilidade urbana nos grandes centros. devidos menos tributos, o que constitui
sonegação fiscal.

REFLEXÃO
Tal conjuntura intrínseca à Administração serve para mostrar que nem tudo que
é público, concernente à Administração, é ruim; nem tudo que é privado, é bom
e satisfatório; mas, sim, que Administração é uma área que deve ser objeto de
constante desenvoltura.

Infelizmente, algumas empresas privadas optam por caminhos es-


cusos, muitas vezes bancando campanhas políticas a fim de se benefi-
ciarem das administrações públicas. Logo, visando ascensão, mas con-
trariando o senso ético-profissional que deve predominar nas políticas
organizacionais e, principalmente, nas Administrações Públicas.
Nesse mesmo objetivo, algumas organizações do Terceiro Setor, não
muito distantes das mencionadas situações que ocorrem com as empre-
sas privadas, também servem de laranjas para fazer o caixa dois para
campanhas e/ou investimentos estanques para fins eleitoreiros.

capítulo 1 q17
CONCEITO Essas são as administrações exemplos, mas que não devem ser em
hipótese alguma seguidas. Tais situações vão de encontro aos princí-
Teoria da Administração pios da Administração e do seu Código de Ética, em conformidade com
A Teoria da Administração, como cam- o Conselho Federal de Administração (cfa, 2014):
po do conhecimento humano, promove
estudos sobre a Administração em sua Art. 1º – São deveres do Profissional de Administração: I – exercer a pro-
totalidade, ou seja, de todas as suas fissão com zelo, diligência e honestidade, defendendo os direitos, bens e
áreas. Para tanto, trata-se dos estudos interesse de clientes, instituições e sociedades sem abdicar de sua dignida-
da Administração das Organizações. de, prerrogativas e independência profissional, atuando como empregado,
funcionário público ou profissional liberal. (p. 10)

O momento torna-se propício para confirmar que ações dessa nature-


za, antes de qualquer premissa, convertem-se em uma total falta de ética e
responsabilidade profissional, a qual afeta direta e indiretamente a todos.
Para Drucker (2001), a Administração é como um órgão da sociedade
que deve ser capaz de transformar os recursos disponíveis, promovendo
o progresso organizacional.

RESUMO
Observa-se que o panorama da Administração no Brasil não é muito diferente do res-
tante do mundo. Diante da atual conjuntura nacional pode-se perceber que as proble-
máticas nos setores supracitados mostram semelhanças com as administrações globais.

Administração: teorias e características


A Administração sempre se fez presente no desenvolvimento das socie-
dades. A Teoria da Administração veio para integrar os conhecimentos
científicos às diversas atividades práticas das organizações, pois sem es-
sas condições jamais existiriam e sobreviveriam.

REFLEXÃO
A teoria das organizações é composta por diversas peças, como um grande mosaico. E
esse sistema está continuamente em movimento: surgem novos elementos que alteram
sua compreensão, levando-nos não só a questionar, ao menos parcialmente as “certe-
zas” e crenças anteriores, gerando novos insights e momentos de compreensão, como
também a comparar e a buscar o entendimento cada vez maior (MOTTA, 2006, p. xiv).

A importância da Administração se justifica em qualquer dimensão


da utilização de recursos; assim, a mais destacada circunstância para se
desenvolver como disciplina evidencia sua importância para a melhoria
da performance de organizações de todos os tipos e dimensões.

18 qcapítulo 1
A base de conhecimento da empresa é formada pelo acúmulo de co- AUTOR
nhecimentos oriundos das experiências de cada indivíduo. A qualidade
desse conhecimento depende da variedade e da qualidade dessas expe- Frederick Taylor
riências e, também, da extensão em que os indivíduos são envolvidos no Frederick Winslow
processo de aprendizagem (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 29). Taylor, engenheiro
Tal panorama emerge com mais contundência na Europa do século americano, espe-
XVIII, durante a Revolução Industrial, quando a Administração começa cialista em mecânica e com atuação
a incessante busca de responder as conveniências do progresso. também no “chão de fábrica”, condição
As teorias da Administração materializam as necessidades deman- que lhe proporcionou ser mais perspi-
dadas pelas organizações em todos os momentos, de maneira que pas- caz e capaz de empreender processos
sado, presente e futuro se retroalimentam para se manter tempestivos de produção nas empresas. Taylor,
às iminentes proposições do mercado. considerado o “Pai da Administração
Científica”, e com a supracitada expe-
REFLEXÃO riência, objetivou a eficiência, a eficácia
e a efetividade operacional nas opera-
A aprendizagem da ciência é um processo de desenvolvimento progressivo do sen- ções industriais; assim, mediante seu
so comum. Só podemos ensinar e aprender partindo do senso comum de que o conhecimento, propôs a utilização de
aprendiz dispõe (ALVES, 1996, p. 9). métodos científicos cartesianos na ad-
ministração de empresas.
Essa contextualização converge-se em uma situação bastante pro-
pícia para o provimento da teoria da Administração. Nessa perspec-
tiva, serão apresentadas aqui as principais teorias da Administração
que surgiram no século xx, seus mentores e suas características, pois
somente nesse período a Administração começa a escrever o seu
desenvolvimento com mais força.
O início desse processo se fundamentou na organização eficiente
das atividades laborais nas empresas, logo surgindo pesquisadores
e estudiosos, como: Taylor, Ford, Fayol e Weber e ainda, em uma di-
mensão mais abrangente — humana e sistêmica — da Administração:
Mayo e Bertalanffy.

O “Taylorismo”
O pioneiro da Administração Científica foi o engenheiro americano
Frederick Taylor. Certamente, as constantes necessidades que começa-
ram a surgir nas fábricas tenham se convertido no ponto mais significa-
tivo para a criação da Ciência da Administração.
Acredita-se que a maior contribuição de Taylor à teoria de Adminis-
tração tenha sido sua insistência sobre a aplicação de métodos cientí-
ficos aos problemas da Administração. Assim, transformando-a da efi-
ciência do trabalho em uma constituição relevante de conhecimentos
com identidade própria.
A preocupação contínua de Taylor era em acabar com os desperdícios
e perdas das indústrias, dessa forma favorecendo a produção por meio da

capítulo 1 q19
aplicação de novos métodos e técnicas. O objetivo estava no aumento da eficiência da indús-
tria por meio da racionalização do trabalho.
Apesar de os princípios de Taylor buscarem redimensionar sua aplicação, seu obje-
tivo naquela ocasião não foi na administração geral da empresa, mas no nível de super-
visão da fábrica.
Taylor apresenta as tarefas como ênfase para a melhoria dos processos. Conjuntura que
visava a aplicabilidade de métodos científicos aos problemas da Administração em busca
da eficiência às organizações.
Inicialmente, ele apresentou à sociedade americana de engenharia o seu famoso estu-
do sobre a gestão de fábrica (shop management), o qual apresentava uma filosofia de Admi-
nistração sob princípios, como (KOONTZ; O’DONNELL, 1989):
• customizar a produção e favorecer a remuneração;
• aplicação de métodos para priorização da execução das tarefas;
• seleção de pessoal em conformidade com as tarefas específicas;
• clima organizacional satisfatório para que as atividades evoluam.

Em seu livro Princípios da Administração Científica (Principles of Scientific Mana-


gement), lançado em 1911, Taylor apresenta como resultados de suas pesquisas, e
com base também na sua experiência no chão de fábrica, os princípios fundamen-
tais da Administração Científica.

ATENÇÃO
Taylor apresenta nesta obra os quatro princípios fundamentais da Administração Científica: planejamento,
preparação, controle e execução:

Os métodos empíricos são substituídos por procedimentos científicos de


PLANEJAMENTO maneira que o trabalho seja planejado e executado para teste, ainda que os
movimentos sejam reduzidos e racionalizados.

Trabalhadores selecionados em conformidade com as atividades que executarão,


PREPARAÇÃO assim treinados para ser mais eficientes em suas tarefas para ampliar as metas.

Observação sobre o processo para constatar se o trabalho está sendo executa-


CONTROLE do conforme metodologia estabelecida para minimizar as atividades.

Organização das atividades de forma que a tarefas sejam distribuídas e as responsa-


EXECUÇÃO bilidades referidas para que o trabalho atenda as necessidades da organização.

A despeito da intenção evidente de apresentar princípios aplicáveis à Administração,


seu empenho primordial era a obtenção de eficiência dos seres humanos e das máquinas,
através do estudo de tempo e movimentos, ao qual se tem feito referência como “a pedra
angular da Administração científica” (KOONTZ; O’DONNELL, 1989, p. 21).

20 qcapítulo 1
As características mais expressivas da Administração Científica, al- AUTOR
gumas sendo objetos de muitas críticas, são as seguintes:
• significativas divisões de tarefas; Henry Ford
• otimização constante do processo de produção; Empresário empre-
• superespecialização do trabalhador mediante intenso treinamento endedor americano
sobre atividades específicas; que revolucionou a
• melhorias do ambiente de trabalho e da participação no aumento indústria de transportes. Construiu o
da produção; primeiro automóvel capaz de desenvol-
• customização capaz de prover mais produtividade; ver velocidade considerável. A sua pro-
• utilização dos métodos científicos para afastar habilidades individuais; dução de carros tinha preços acessí-
• socialização das atividades e consequentes responsabilidades. veis para grande parcela da população.
A teoria taylorista, indubitavelmente, impactou a comunidade cien-
tífica e, por conseguinte, causou uma verdadeira revolução no sistema
produtivo/organizacional.
Assim sendo, deu-se início à nova busca por constantes aperfei-
çoamentos de sua teoria, ainda continuando a ser alvo de críticas;
contudo, faz-se fundamental sinalizar que Taylor foi o precursor da
Teoria da Administração.

O “Fordismo”
Além dos teóricos responsáveis pelas teorias da Administração já men-
cionados, Henry Ford foi mais um responsável pela criação de ativida-
des também importantes para as indústrias.

ATENÇÃO
Foi Ford o criador da linha de montagem móvel para a produção em massa. Eram
linhas de montagens que trabalhavam em série, de forma que o produto em fabricação
se deslocava por diferentes estágios (estações de montagem), porém a sua eficiência
ficava na dependência da total integração dos demais estágios de montagem.

Com a linha de montagem com tais características, Ford conseguiu


consolidar um padrão de organização capaz de coordenar os processos
produtivos, situação que o proporcionou tornar tal situação universal.

REFLEXÃO
“Quero construir um carro para toda a gente. Será
bastante amplo para comportar uma família e tão pe-
queno que um indivíduo só o possa guiar e zelar. Será
feito do melhor material e trabalhado pelos melhores
operários, segundo os mais simples desenhos criados
ford model t
pela técnica moderna. Mas de preço tão reduzido que

capítulo 1 q21
AUTOR qualquer homem poderá adquiri-lo para com ele gozar, na companhia dos seus, as
belezas e amenidades que Deus pôs na natureza.” (FORD, 2012, p. 67)
Fayol
Jules Henri Fayol, Esse contexto e suas variáveis ficaram conhecidos como fordismo, a
Engenheiro francês qual se refere à produção em massa de muitos automóveis com custos e
e um dos teóricos preços mais baixos, além de proporcionar aos funcionários da empresa
clássicos da Ciência da Administração. um salário mais digno e a possibilidade de adquirir esses automóveis.
Foi o fundador da Teoria Clássica da Essa foi a real proposição de Ford.
Administração e autor do mais expres- Outra ousadia de Ford foi a distribuição das ações da empresa com
sivo livro da época, intitulado “Adminis- os seus funcionários, ou melhor, participação efetiva nos lucros. Por-
tração Industrial e Geral”. que, como empreendedor, considerava que funcionários satisfeitos pro-
duziam muito mais e com melhor qualidade (FORD, 2012).

COMENTÁRIO
Jules Henri Fayol
A teoria de Fayol é, indubitavelmente,
uma das teorias mais consideráveis e Outro célebre mentor da Teoria da Administração, o engenheiro exe-
que mais contribuíram para o desenvol- cutivo Fayol, construiu sua teoria à evidência de suas atividades práticas
vimento do conhecimento administrativo na empresa, pois sempre foi propenso a criar e refletir sobre sua experi-
contemporâneo. ência na Administração, assim redesenhando os princípios que obser-
vava como necessários de serem redimensionados.

REFLEXÃO
Quase nunca se aplicará o mesmo princípio duas vezes em condições idênticas:
é necessário ter em conta circunstâncias diversas e variáveis, homens igualmente
variáveis e diferentes e muitos outros elementos também variáveis. Tais princípios
serão, pois, maleáveis, e suscetíveis a adaptar-se a todas as necessidades. A ques-
tão consiste em saber servir-se deles: essa é uma arte difícil que exige inteligência,
experiência, decisão e comedimento (FAYOL, 1997, p. 39).

As empresas, para Fayol, são dependentes de funções básicas, as


quais são necessárias para sua manutenção e prospecção. Essas são as
funções básicas da empresa (FAYOL, 1989):

FINANCEIRAS

CONTÁBEIS TÉCNICAS

ADMINISTRATIVAS

SEGURANÇA COMERCIAIS

Figura 1 — As funções básicas da empresa

22 qcapítulo 1
• Funções técnicas: relação com a variada produção de bens e/ou de serviços da empresa;
• Funções comerciais: relação com as atividades de compra, de venda e também de neces-
sárias transações de trocas;
• Funções financeiras: relação com a necessária e constante busca e gerência de capitais.
• Funções de segurança: relação com toda possibilidade de proteção, manutenção e pre-
servação dos bens e, principalmente, das pessoas;
• Funções contábeis: relação com os necessários inventários, todos os registros, balanços,
variados custos e estatísticas;
• Funções administrativas: relação com a integração orientadora das demais funções. Por-
que as funções administrativas devem coordenar as demais funções da empresa de manei-
ra que a sua integração torne-se fundamental para o seu desenvolvimento. Essa é a função
de coordenação sobre as demais.

Em seu livro Administração Industrial e Geral: previsão, organização, comando,


coordenação e controle, lançado em 1916, Fayol apresenta os princípios gerais e
os elementos da Administração, relacionando os princípios com normas e regras e
os elementos com as funções.

As mais relevantes proposições de Fayol, sem sombra de dúvidas, foram em relação às


funções da Administração, as quais são tempestivamente consideradas as funções do mun-
do moderno, já que são favoráveis ao seu desenvolvimento.
Assim sendo, as funções da Administração (Planejar – Organizar – Comandar – Coordenar
– Controlar) convertem-se em perspectivas imprescindíveis à prospecção da Administração. Se-
guem as mencionadas funções e suas respectivas especificidades (FAYOL, 1989, p. 10):
• Planejar: a mais importante e indis-
pensável das funções da Administra-
ção. Compreende todo o desenho
CONTROLAR para a melhor previsão e provisiona-
mento das administrações por pro-
COORDENAR PLANEJAR porcionar como e quando as ativida-
des serão executadas;
• Organizar: relaciona-se à dis-
COMANDAR ORGANIZAR tribuição do trabalho e suas atri-
buições e, ainda, favorece a mo-
bilização de recursos variados à
implementação das ações propos-
Figura 2 — Funções da Administração
tas/empreendimentos;
• Comandar: dirigir, avaliar e selecionar o pessoal a fim de otimizar as proposições a se-
rem empreendidas durante o planejamento, logo tornando-se condições necessárias à
pertinência das ações;
• Coordenar: trata-se da reunião e maior integração possível dos membros da empresa para
que todas as previsões sejam efetivamente materializadas a contento;
• Controlar: é todo cuidado e perspicácia necessária para que, com a contribuição de to-
dos os trabalhadores, tudo que foi previsto seja realizado da melhor forma possível, as-
sim, sendo constante objeto de avaliação e controle.

capítulo 1 q23
Sob uma dimensão mais prospectiva, Fayol sempre vislumbrou a organização em sua
plenitude, condição que sempre o fez compreendê-la como uma universalidade dos prin-
cípios. Acredita-se que tal possibilidade se relaciona à dimensão dos seus princípios, os
quais, na sequência, serão apresentados.
Na identificação das tarefas da Administração são apresentados os 14 princípios que
ainda são utilizados na prática administrativa (FAYOL, 1989):

DIVISÃO DO TRABALHO

CENTRALIZAÇÃO CADEIA ESCALAR AUTORIDADE

INICIATIVA ORDEM
REMUNERAÇÃO DISCIPLINA
ESPÍRITO DE EQUIPE EQUIDADE

SUBORDINAÇÃO ESTABILIDADE UNIDADE DE COMANDO

UNIDADE DE DIREÇÃO

Figura 3 — Princípios da Administração

• Divisão do trabalho: promove a especialização e aumenta os resultados, tornando os em-


pregados mais eficientes. Aplicar o princípio a todos os tipos de trabalho, tanto adminis-
trativo quanto técnico;
• Autoridade: concede ao gerente o direito de dar as ordens. A responsabilidade é o dever ou
obrigação de cumprir as ordens. A autoridade e a responsabilidade devem ser proporcionais.
• Disciplina: os empregados devem obedecer e respeitar as regras que governam a organi-
zação. A disciplina é resultado de uma liderança eficaz e uma clara compreensão quanto às
regras da organização e o uso judicioso das penalidades pelas infrações;
• Unidade de comando: cada empregado deve se subordinar a apenas um superior, e isso
significa que os empregados devem receber ordens somente de um superior;
• Unidade de direção: cada grupo de atividades organizacionais deve ter o mesmo objetivo
e ser dirigido por um gerente por meio de um plano;
• Subordinação dos interesses individuais aos gerais: os interesses de um empregado ou gru-
po não devem preceder os interesses superiores da organização como um todo. Isso é auto-
explicativo; quando entre os dois ocorrer divergência, a Administração deverá reconciliá-los;
• Remuneração: os trabalhadores devem ser pagos com salários adequados;
• Centralização: refere-se ao grau em que os subordinados estão envolvidos nas tomadas
de decisão. As tomadas de decisão devem ser centralizadas na Administração;
• Cadeia escalar: é a linha de autoridade que vai ao topo da organização, e o planejamento
do pessoal deve fazer com que as substituições sejam feitas rapidamente;

24 qcapítulo 1
• Ordem: pessoas e materiais devem estar no lugar certo e no tempo AUTOR
certo. Este é, essencialmente, um princípio de organização do arranjo
de coisas e pessoas; Weber
• Equidade: o gerente deve ser atencioso e justo com seus subordinados, Maximilian K. E. We-
e lealdade e devoção também devem ser conseguidas pelo administrador; ber, cientista social e
• Estabilidade na permanência do pessoal: a rotatividade elevada de economista alemão
pessoal é ineficiente. As pessoas devem permanecer o máximo possí- considerado um dos fundadores da
vel na organização, e o planejamento de pessoal deve fazer com que as Sociologia. Weber tinha em sua casa
substituições sejam feitas rapidamente; uma atmosfera intelectualmente esti-
• Iniciativa: os empregados responsáveis por executarem planos devem mulante. Fez faculdade de Direito de
manifestar esforço pessoal. A iniciativa é concebida pelo administrador, Heidelberg, um ano depois se transfe-
como a elaboração e a execução de um plano; riu para Estrasburgo e prestou o ser-
• Espírito de equipe: promover o espírito de equipe cria harmonia e unida- viço militar. Anos mais tarde reiniciou
de na organização. Esse é o princípio que faz a diferença nas organizações. os estudos universitários, em Berlim,
dedicando-se às áreas de Economia,
RESUMO História, Filosofia e Direito.

Fayol sempre considerou a empresa como um sistema integrado bastante racional


de regras e autoridade, fator que ratifica sua existência à medida de sua compreen-
são sobre sua atividade principal, que é na forma de bens, serviços e conhecimentos,
com a intenção de beneficiar seus clientes e/ou consumidores.

ATENÇÃO
Nesse momento, considera-se interessante sinalizar que o objetivo principal das
duas teorias, tanto a de Taylor quanto a de Fayol, era comum, ou seja, a permanente
busca da eficiência das organizações.

Maximilian K. E. Weber
Mais um célebre teórico da Sociologia, que pode ser considerado tam-
bém da Administração, embora com objetivo mais no comportamento,
nas organizações, Weber sempre buscou trabalhar com temáticas sus-
cetíveis inerentes aos mais diversos aspectos das sociedades humanas.
Seus estudos ostentavam a burocracia nas organizações.
Não obstante, seus estudos são provenientes de uma carência da Teo-
ria Clássica e da Teoria das Relações Humanas diante de seus paradoxos
que não proporcionaram uma visão global sobre as organizações.
Essa conjuntura suscitou a necessidade de um modelo de organi-
zação racional factível de contemplar as suas complexas variáveis e, da
mesma forma, o comportamento de seus empregados, tanto nas fábri-
cas quanto nas demais organizações humanas.

capítulo 1 q25
AUTOR Segundo Maximiano (2000, p. 62), Weber definiu as organizações bu-
rocráticas como “máquinas totalmente impessoais, que funcionam de
Elton Mayo acordo com regras que ele chamou de racionais — regras que dependem
É australiano e um dos sociólogos mais de lógica e não de interesses pessoais”.
renomados do mundo. Dirigiu uma fá- A Sociologia da Burocracia, que surge com as pesquisas de Weber,
brica da Western Eletric Company, em mostrava que os empregados poderiam ser remunerados para agir e se
Hawthorne, eua. Tal reconhecimento se comportar em certo padrão que suas emoções não os afetariam. Daí a
dá pelos seus expressivos estudos so- proposta de Weber sobre um modelo de organização norteado pela Teo-
bre a Sociologia nessa fábrica. Por con- ria da Burocracia na Administração.
seguinte, é considerado um dos princi- Essa teoria denota que a burocracia é a organização eficiente por
pais teóricos da Sociologia com atuação excelência. Porque, para se auferir eficiência, a burocracia deve es-
efetiva nas organizações. clarecer todos os detalhes, minuciosamente, de como as atividades
deverão ser desenvolvidas.

AUTOR
Outros teóricos
Bertalanffy
Karl Ludwig von Bertalanffy – biólogo Elton Mayo, sociólogo australiano, deu continuidade aos estudos de
austríaco, é o criador da teoria geral Munsterberg sobre a aplicação de métodos da psicologia experimental
dos sistemas. Desenvolveu estudos em na cidade de Hawthorne, que passou a ser reconhecida como o berço da
biologia e sempre se interessou pe- teoria comportamental, devido à realização do estudo sobre as variações
los organismos e pelos problemas do na iluminação e seus efeitos sobre o desempenho dos trabalhadores.
crescimento. Suas pesquisas foram de Nessa dimensão, Mayo constata a imprescindibilidade de promover
encontro com as pesquisas de cunho uma Administração mais humana e democrática; logo, experimentam-
cartesiano, fator que favoreceu a cria- se as ciências humanas mais influentes nas organizações.
ção de sua teoria. Assim, emerge a escola das relações humanas. Após intensas pesqui-
sas diante de consistentes resultados, denotando a importância do de-
sempenho não somente por causa do método, mas também pelo com-
portamento, foi proposta esta nova filosofia/teoria da Administração.
Numa outra corrente, Bertalanffy, inicia suas pesquisas sobre os
sistemas e suas necessárias correlações. Desse modo, começa a criar
uma enorme oposição com a limitada visão cartesiana e compartimen-
tada do universo. Ele considerava necessária a ampliação das aborda-
gens concernentes às organizações, condição que não ocorria, muito
pelo contrário, havia constantemente a predominância mecanicista
no processo organizacional.
Portanto, Bertalanffy propõe, por meio da teoria geral dos sistemas,
uma alternativa oportuna e capaz de proporcionar uma abordagem di-
ferenciada, ou seja, uma abordagem mais orgânica e dinâmica às orga-
nizações (BERTALANFFY, 1997).
Para essa composição, parte-se de duas variáveis: a primeira, que o
mundo real é composto de sistemas integrados; a segunda, que para
compreender o mundo real torna-se indispensável analisar, simulta-
neamente, o todo e suas partes por meio de possibilidades inter/trans/
multi/pluridisciplinar (BERTALANFFY, 1997; MARUJO, 2011).

26 qcapítulo 1
A condição que mais representa essa visão, intrínseca à Administração e o dinamismo
do mercado e da sociedade, é que a tecnologia e a sociedade estão cada vez mais complexas.
Assim, somente estratégias nesse dimensionamento — permeadas de complexidades —
propiciarão alternativas para contribuir com o desenvolvimento.
Ainda, acrescenta-se à pertinente visão de Bertalanffy, a proposição de Maturana e
Varela (1997), da mesma forma interessante, expandindo os sistemas como condicio-
nantes operacionalmente fechados, em um processo cíclico constante de autoconstru-
ção, factível de construir identidade, reduzir a complexidade e permitir a diferenciação
do ambiente.

ATENÇÃO
Na sociedade atual, as informações se apresentam aleatoriamente, dificultando a sua utilização, logo ca-
recendo de serem organizadas. Apesar disso, quando são organizadas, convertem-se em subsídios às
tomadas de decisões. Essa possibilidade está relacionada à capacidade humana de apreender as variadas
informações e organizá-las a fim de proporcionarem vantagens competitivas às organizações.

Pode-se observar que todas as conjeturas teóricas da Administração foram norteadas


por momentos e variantes expressivas. Nessa perspectiva, tudo iniciou com realce nas tare-
fas, e respectivamente na estrutura, nas pessoas, no ambiente e na tecnologia.
Essa trajetória temporal e seus substratos teóricos corroboram o processo constitutivo
da Administração enquanto Ciência, tão contemplada como variável fundamental para o
desenvolvimento sustentável das organizações, do mercado e, consequentemente, da so-
ciedade global e local.

As empresas e suas necessidades

REFLEXÃO
A organização é a maneira pela qual a sociedade consegue que as coisas sejam feitas. E a Administração é
a ferramenta, a função ou o instrumento que torna as organizações capazes de gerar resultados e produzir
o desenvolvimento (CHIAVENATO, 2003, p. 612).

As empresas atuais, tanto as nacionais quanto as multinacionais, vêm necessariamente


se aliando à tic (Tecnologia da Informação e Comunicação), condição que passa a ser um
imperativo para sua sobrevivência em um mercado bastante dinâmico, progressivamente
competitivo e sem fronteiras.
A economia global está sem rumo. A cada dia mais certeza temos sobre a incerteza da
economia mundial, que indiscutivelmente afeta muito as empresas em sua totalidade.
Esse panorama determina que as empresas devam se redesenhar continuamente para
conviverem melhor diante de tantas incertezas; logo, declinando de estratégias mais prag-
máticas e promovendo criativamente novos produtos e serviços em conformidade com a
emergência do mercado.

capítulo 1 q27
CONCEITO ATENÇÃO
Terceirização Com tal situação, as empresas multinacionais estão conseguindo maior efetividade
A terceirização ou outsourcing é uma global em detrimento da diminuição de seus negócios somente centrados na expor-
necessidade do atual mercado, por se tação. Circunstância que propulsiona as estratégias peculiares dessas empresas,
tratar de atividades com o intuito de como: ampliação do poder de operacionalização, maior geração de receita fora do
otimizar o custo e a constante melhoria país matriz, credibilidade e consequente visibilidade da marca, redimensionamento
da qualidade de serviços e/ou produtos. da cadeia de suprimentos e da empregabilidade local.
Geralmente, utiliza-se para atividades
volumosas de empresas que têm signi- As empresas nacionais contam com uma experiência sobre crises, pois
ficante potencial produtivo. conviveram muitos anos com trocas de moedas e contínuos ajustes econô-
micos, embora a dinamicidade do mundo esteja muito efervescente.
Além do mais, as empresas nacionais contam com um considerável
CONCEITO senso de criatividade, criticidade e improviso, comum do seu povo, para
contornar as mais diferentes problemáticas e adversidades, cotidiana-
Quarteirização mente, apresentadas como surpresas do mercado.
A quarteirização emerge do processo Não poderíamos deixar de ratificar a eloquência da tecnologia, no seu
de terceirização, ou seja, as atividades cerne, como organização potencial — tendência do mercado — materiali-
que deveriam ser desenvolvidas por zada na empresa virtual. Com característica bem distinta pela sua concen-
uma empresa contratada passam a ser tração e na maioria das vezes sem nenhuma divisão de departamentos.
desenvolvidas por outra empresa, por se Segundo Robbins (2006), a organização virtual tem uma “estrutura
tratar de outra contratada pela empresa, altamente centralizada, com pouca ou nenhuma departamentalização
inicialmente contratada, para provisio- e grande recurso à terceirização para muitas das principais funções da
nar tais atividades. organização.” (p. 189)
Vale ressaltar que conviver com os desafios de lidar com a terceirização
(outsourcing) e/ou quarteirização é mais um, dentre vários, enigmas e
incógnitas inquietantes para as empresas em um mercado muito com-
petitivo e compulsivo por permanentes inovações.

A empresa modelo, se é que devemos


falar de modelo, deve ser processo, e
não produto, de conhecimentos para sua
ascensão e, principalmente, para sua
manutenção/regeneração.

Tais possibilidades são encaradas como partes das estratégias de


muitas empresas uma vez que algumas, em sua própria constituição, já
optarem por tal condição para empreender seus negócios.
Assim, desvelam-se mais características de empresas e parcerias
que, intensamente, redesenham a dinâmica de mercado a fim de aten-
der as imprevisibilidades capazes de proporcionar o redimensionamen-
to do próprio mercado orientador da sociedade.

28 qcapítulo 1
ATENÇÃO
Não se pode caracterizar um perfil ideal de empresa na atualidade. Porque as empresas atuais carecem
de empreender estratégias para lidar melhor com tantas situações problematizadoras da sociedade global.
Mas, entende-se por obstinação para sua prospecção, a imperiosa condição de ser mais criativa, crítica,
inovadora, resiliente e proativa.

No que se refere à interface problema-oportunidade, as empresas nacionais, perante


a supracitada exposição, convivem melhor com as crises e incertezas, por terem amadu-
recido em tais complexas e desafiadoras situações, assim desenvolvendo competências e
habilidades para transformarem os problemas em oportunidades.

REFLEXÃO
A prática da Administração exige o conhecimento da organização inteira, permitindo a compreensão dos
reflexos que as decisões e ações dos administradores têm sobre toda a organização, uma vez que tais
decisões são tomadas no topo, e se espalham de cima para baixo (DRUCKER, 2001).

Em geral, as empresas estão mais cientes de suas imprescindíveis responsabilidades e,


sobretudo, de propagarem suas potencialidades intrínsecas e responsividade às iminentes
demandas globais e locais.
As multinacionais e as empresas nacionais devem, mais do que nunca, manter-se total-
mente conectadas com as novidades, na intenção de acompanharem a volátil descartabili-
dade de produtos, serviços e, em especial, de conhecimentos.
As empresas devem promover sua própria performance, consonantes com o mercado e, da
mesma forma, orientadas pelas imensuráveis e suscetíveis situações do mercado global/local.
Fatores esses que as manterão capazes de corresponderem de maneira resiliente e proativa
diante das mais diferenciadas situações: política, social, econômica, ambiental e cultural.
A empresa modelo, se é que devemos falar de modelo, deve ser processo, e não produ-
to, de conhecimentos para sua ascensão e, principalmente, para sua manutenção/regene-
ração. Todavia, deve-se primar pela incondicional manutenção da total harmonia com as
tendências do mercado e da sociedade globalizada.

Desafios à Administração

REFLEXÃO
O importante é percebermos que nosso modo habitual de pensar e perceber não é o único possível, nem
tampouco um que venha acontecendo há muito tempo. É o modo pelo qual passamos a pensar, pelo qual
passamos a perceber (BARFIELD, Owen. History, Guilty and Habit.Wesleyan University Press, 1979, p.74).

Inicialmente, parafraseando Sócrates: “uma vida sem desafios não vale a pena ser
vivida”. O principal desafio da Administração está no resgate do ser humano, porque

capítulo 1 q29
antes de qualquer premissa precisa-se de pessoas melhores. Acredita-se que pessoas
melhores terão percepções mais abrangentes e se tornarão administradores e ges-
tores mais responsáveis e comprometidos; assim, favorecendo as empresas e todo o
horizonte profissional.
Em outra visão, a competição de todas as formas também se torna um fator assustador
e cada vez mais incontrolável. O que precisa ser mais bem pensado e realizado não é exter-
minar a competição, e sim fazer com que a competição não se desenvolva em detrimento
da cooperação. Pois, entende-se que a cooperação deve favorecer, mutuamente, a competi-
tividade de maneira interessante às partes.
O desafio à Administração está na mudança de pensamento dos administradores e
também da Administração. Por isso, os administradores precisam entender melhor as
novas tendências, logo proporcionando às empresas manterem-se contingentes para
com essas intensas mudanças.

REFLEXÃO
A reforma do conhecimento exige a reforma do pensamento. A reforma do pensamento exige um pensa-
mento que possa religar os conhecimentos entre si, religar as partes ao todo, o todo às partes, e que possa
conceber a relação do global com o local, do local com o global. Nossos modos de pensar devem integrar
um vaivém constante entre esses níveis (MORIN, 2013, p. 184).

Da mesma forma, essa mudança deve acontecer nas instituições formativas, principal-
mente na formação inicial (graduação), em que as instituições devem procurar mostrar o
quanto a Administração é necessária e abrangente, fator que demanda novas competên-
cias e habilidades, inclusive sobre outras áreas do conhecimento.
Sob outro prisma, a economia global tem passado por constantes mudanças (JOHN-
SON, 1993). A mesma situação tem ocorrido com as empresas, as quais estão buscando
maior flexibilidade para conviverem com os seus instáveis ambientes; desse modo, mudan-
ças e perspectivas refletem as transformações ocorridas na economia.
Essa é uma questão que vem problematizando todos os países política e economica-
mente. Indiferentemente, os governos e as empresas constantemente vêm buscando alter-
nativas para tentarem conviver melhor com tanta vulnerabilidade.

ATENÇÃO
O problema da Administração contemporânea está, justamente, na ineficaz capacidade de manter interli-
gadas todas as variáveis da sociedade, assim provendo um pensamento administrativo e/ou empresarial
possível de enfrentar com mais naturalidade todos os desafios da complexidade do mundo real.

As soluções estão muito menos em fórmulas padrões e/ou receitas únicas e absolu-
tas; mas, sim, em proposições multivariadas inovadoras em conformidade com diag-
nósticos mediante abordagens complexas, sistêmicas e contingenciais que devem se
tornar comuns às organizações.
Para Chiavenato (2003) a Administração “é considerada uma criadora de novas opor-
tunidades. Modernamente, percebe-se que é a Administração que produz e impulsiona o

30 qcapítulo 1
desenvolvimento econômico e social: o desenvolvimento econômico e CONCEITO
social é o resultado direto e concreto da Administração” (p. 613).
Na era da informação, os valores se invertem, o capital financeiro dá Capital intelectual
lugar ao capital intelectual, o qual passa a significar o indispensável re- Constitui a matéria intelectual utiliza-
curso às organizações; assim, representando a sua maior riqueza. da para gerar riqueza, que é o produto
Mudanças são premências orgânicas para o desenvolvimento das do conhecimento. É difícil identificá-lo,
empresas. Porém, referem-se às mudanças política, cultural, tecnológi- distribuí-lo de forma eficaz. Na eco-
ca e, acima de tudo, das pessoas, a fim de tornarem as empresas propen- nomia atual compramos e vendemos
sas a entenderem a importância de estar, contingencialmente, buscan- conhecimento, não são mais os pro-
do as novidades para adequá-las à própria empresa e vice-versa. dutos e serviços, puros e simples, nem
mesmo os recursos naturais os frutos
RESUMO de renda da economia, mas sim a inte-
ligência, a capacidade mental utilizada
Na contemporaneidade, a Administração se relaciona com o processo de expansão para desenvolvê-los.
do capitalismo, com a crescente concentração de capitais e, ainda, com o apareci-
mento e disseminação das grandes corporações, o que exige considerável capaci-
dade efetiva de gerenciamento de recursos humanos, de tecnologias, dos sistemas
de produção e de distribuição das mercadorias.

Para a empresa criadora de conhecimento, o principal negócio é a inova-


ção constante. Mesmo assim, poucos administradores captam a verdadeira
natureza desse tipo de empresa e, menos ainda, sabem como administrá-la.
O motivo é bem simples: não compreendem o que é o conhecimento e o que
as empresas devem fazer para explorá-lo (NONAKA, 2005, p. 122).
Nessa dimensão, a sondagem ambiental — mais abrangente possível
— passa a ser uma variável sinérgica à composição da base para as previ-
sões e consequentes provisionamentos das empresas.
Os dois resultados mais populares para os quais é provável que a Ad-
ministração busque previsões são as receitas futuras e as novas conquis-
tas tecnológicas. No entanto, praticamente todos os componentes do am-
biente da organização podem ser foco de previsão (ROBBINS, 2006, p. 94).
O ambiente de mercado carece de compor as estratégias para a as-
censão das empresas. Logo, passa a ser uma premissa básica — cone-
xão total com o mercado e a sociedade global/local — para a busca de
se manter o mais responsivo possível às constantes mudanças e conse-
quentes e diversificadas demandas.
Além disso, a responsabilidade socioambiental passa a ser uma exor-
tação indispensável às empresas na atual conjuntura e, ainda, diante de
uma população mais cidadã e consciente de seus deveres e direitos, de-
vem ser cada vez mais conscientes da importância da preservação e da
conservação do ambiente.
Por fim, os desafios são muitos, complexos e impossíveis de serem
mensurados, mas se faz necessário manter-se sempre preparado para
enfrentá-los. A informação também deve ser incondicional aliada na
busca de novidades e para manter-se sagaz em um mercado repleto de

capítulo 1 q31
mudanças e inovações. Portanto, entender e lidar com as mudanças constantes tornam-se
condições imprescindíveis para o desenvolvimento e, realmente, o nosso desafio.

Considerações finais
Pode-se concluir que a Administração aliada à informação busca seu modus vivendi para
enfrentar as constantes incertezas peculiares do mundo globalizado.
Essas indeterminações variadas estão associadas à instabilidade do mercado. Essa situa-
ção instável e indesejável do mercado faz com que a sociedade, orientada pelo mercado, fique
da mesma forma, sempre dependente e desestabilizada.
Numa pertinente retrospectiva, mergulhando na historicização da Administração, per-
cebe-se que as técnicas, as estruturas, as pessoas, os sistemas e a tecnologia se convergem
e, especialmente, compreendem a unidade necessária e capaz de potencializar, tanto à Ad-
ministração quanto ao administrador, uma visão e decorrente capacidade proativa para
lidar com as frequentes transformações.
Indiscutivelmente são muitos os desafios advindos da era da informação, no entanto
somente se tornarão contornáveis, positiva e favoravelmente, quando forem entendidos
como precípuos aliados e, essencialmente, propulsores do desenvolvimento sustentável
provedor de responsabilidade socioambiental tão necessário à sobrevivência do planeta.
Além do mais, observa-se que as empresas vêm buscando reorientações para se man-
terem mais harmônicas com as tendências do mercado global/local. Possibilidades essas
capazes de favorecer suas perspectivas, sobretudo por se manterem consonantes com as
expressivas variáveis — política, social, econômica, ambiental e cultural — que tanto pro-
porcionam um desenvolvimento mais sustentável.
Independentemente do setor (1º, 2º e 3º) a que pertencerem as empresas, a ética e o pro-
fissionalismo devem se converter no fator essencial para seu desenvolvimento; assim, em
procedentes condições possíveis de proporcionar-lhes mais credibilidade e visibilidade.
Além disso, as teorias da Administração sempre corresponderam às problemáticas das
organizações; logo, proporcionando-lhes novas alternativas. Situação comum e não dife-
rente às organizações atuais, em que as variadas áreas da Administração integradas a ou-
tras áreas de conhecimento continuam na busca incessante por inovações.
Nessa mesma ótica, acredita-se que os desafios da era da informação devem se conver-
gir em alternativas providenciais para a Administração frente ao delicado e suscetível qua-
dro atual, conjuntura que requer um alerta permanente no que se refere aos inesperados
acontecimentos globais.
Tem-se por certeza que a Administração representa o eixo primordial e capaz de im-
pulsionar o desenvolvimento mais qualitativo das empresas, as quais são dependentes de
um mercado volátil que convive, continuamente, com imensuráveis desafios para o próprio
progresso da sociedade contemporânea.
Finalmente, constatou-se que os fatos sempre denotaram que a Administração é funda-
mental à prosperidade da sociedade. Atualmente, não é diferente e, muito pelo contrário,
a Administração estabelece-se necessária e proativamente em todas as organizações com o
objetivo de prover estratégias contingenciais — imperativo diante dos desafios do mercado
e da sociedade global e local.

32 qcapítulo 1
BIBLIOGRAFIA
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capítulo 1 q33
IMAGENS DO CAPÍTULO
p. 10 Peter Drucker p. 22 Jules Henri Fayol
Jeff McNeill · Wikimedia . dp Autor desconhecido · Wikimedia . dp

p. 19 Frederick Taylor p. 23 Administração Industrial e Geral


Autor desconhecido · Wikimedia . dp Divulgação · Editora Atlas

p. 20 Princípios da Administração Científica p. 22 Max Weber


Divulgação · Editora Atlas Autor desconhecido · Wikimedia . dp

p. 21 Henry Ford
Library of Congress · Wikimedia . dp

p. 21 T-Model Ford
Longhair · Wikimedia . dp

34 qcapítulo 1
2 Conceitos
fundamentais

marcos figueiredo rodrigues


2 Conceitos Fundamentais

É ainda muito comum nos dias de hoje uma grande parcela desinformada da população
acreditar que administrar é coisa fácil, é algo que qualquer um pode fazer e ter sucesso.
Isso porque quase todas as pessoas desempenham, constantemente, tarefas de admi-
nistração. As pessoas diariamente administram a utilização de seus recursos, sejam eles
financeiros, materiais, tecnológicos, humanos ou intangíveis (conhecimento, tempo, es-
paço), para atingir seus objetivos.
Contudo, administrar organizações é diferente, não basta o conhecimento empírico, su-
perficial, para saber conduzir um grupo de pessoas para atingir determinado fim. Exige uma
variedade muito maior de papéis para levar a organização a seus objetivos estabelecidos.
Diferentemente do que uma minoria pensa, um bom administrador não nasce pronto.
Inúmeros casos de fracasso gerencial e organizacional são em virtude desse pensamento
de que administrar é fácil e que qualquer um pode fazê-lo.
Pesquisas realizadas pelo Sebrae sobre a mortalidade das empresas até 2004, aponta-
vam que de cada 10 pequenas empresas abertas no Brasil, apenas duas sobreviviam até o
quinto ano de vida. Isso equivalia a 80% de empresas falidas.
As principais razões para esses fracassos eram a falta de conhecimento, a incompetên-
cia para se relacionar com o mercado, fidelizar clientes e expandir negócios e a falta de
estratégias de curto, médio e longo prazo.
Em recente pesquisa divulgada em 2013, o Sebrae constatou que esses números melho-
raram e que a taxa de sobrevivência das empresas, considerando os dois primeiros anos de
sua existência, passou a ser de 75,6%, sendo 24,4% a mortalidade.

ATENÇÃO
Visando a diminuir essas incidências de fracasso que ainda são expressivas, este capítulo tem o objetivo
de fornecer os conceitos fundamentais ou básicos, necessários para a iniciação e entendimento daqueles
que aspiram ser administradores.
Mais do que os conceitos, ele apresenta, também, os papéis, as habilidades e as competências necessárias
para se entender a essência da natureza do trabalho de um administrador, além de descrever aspectos
fundamentais para que o negócio seja sustentável.

Organização, empresa e administração


As organizações fazem parte de nossas vidas, uma vez que existem para satisfazer as nossas
necessidades. Não há duas organizações iguais. Um administrador bem-sucedido em uma
organização pode não sê-lo em outra, pois não existe uma única maneira certa de um admi-
nistrador agir ou de conduzir.

36 qcapítulo 2
Enquanto as organizações eram de tamanho pequeno, não sofriam quase impactos do
ambiente externo e não apresentavam muitas dificuldades e desafios a enfrentar; adminis-
trar era considerado algo relativamente fácil.
A partir do momento que seu tamanho e complexidade aumentaram, que o ambiente
que atua passou a ser mais exigente, que o número de funcionários aumentou e a compe-
titividade ficou mais acirrada, surgiu a necessidade de que a Administração fosse tratada
como Ciência, de modo que com o surgimento de uma Teoria da Administração, os diri-
gentes (gestores) teriam modelos e estratégias adequados a seguir para a solução de seus
problemas organizacionais.

Organizações

Segundo Sobral e Peci (2008, p.4): “As organizações são grupos estruturados de pessoas que
se juntam para alcançar objetivos comuns.” Podem ser formais ou informais:

q 0SHBOJ[B¥—FT GPSNBJT quando são estabelecidas por estruturas, regimentos etc., como no
caso das igrejas, forças armadas, empresas.
q 0SHBOJ[B¥—FTJOGPSNBJTquando se juntam sem exigências burocráticas para determinado fim,
que pode ser provisório ou não, como grupos para jogar futebol, vôlei etc.

Toda organização tem um propósito, uma finalidade, uma missão. É a razão de sua
existência. Para conseguir alcançá-la, é necessário desenvolver uma estrutura com regras,
procedimentos, cargos, funções e responsabilidades, capaz de suportá-la e lhe prover o ar-
cabouço necessário para atingir seus objetivos.
As organizações podem ser de vários tamanhos e existem com a finalidade de fornecer
todos os tipos de produtos e serviços.

Empresas

As empresas diferenciam-se das organizações tradicionais, sobretudo, por visarem lucro.


Estão sujeitas às leis do mercado e sofrem constantemente as interferências das variáveis
do ambiente externo, precisando se adequar e se adaptar rapidamente a elas para que não
sejam afetadas negativamente.

Administração

A palavra “administração” vem do latim: ad (direção, tendência para) e minister (subordina-


ção ou obediência), e significa aquele que presta um serviço a outro. No entanto, a palavra
sofreu uma radical transformação em seu significado original.
Segundo Maximiano (2004, p.33), significa “um processo dinâmico de tomar decisões
sobre a utilização de recursos, para possibilitar a realização de objetivos”.
Com o mesmo significado, encontramos também os termos manejo (que vem do inglês
management) e gestão (que vem do espanhol, gestión, e do francês, gestion).
Uma definição mais completa do termo é dada por Sobral e Peci (2008, p.5):

capítulo 2 q37
Administração é um processo que consiste na coordenação do trabalho dos membros da organiza-
ção e na alocação dos recursos organizacionais para alcançar os objetivos estabelecidos de uma
forma eficaz e eficiente.

Dessa definição, os termos “processo” e “coordenação” serão vistos em mais detalhes


nos próximos capítulos deste livro. Em princípio, pode-se adiantar que:

q 1SPDFTTPconsiste em uma sequência de atividades interligadas que utilizam os recursos orga-


nizacionais para atingir objetivos.
q $PPSEFOB¥¨Pconsiste em conduzir as partes desse processo de forma harmoniosa e coerente
para o atingimento dos objetivos.

Quanto aos conceitos de “eficência” e “eficácia” é importante defini-los agora, tendo em


vista que estão intrinsecamente ligados à forma pela qual os objetivos devem ser alcançados,
ou seja, o alcance dos objetivos não pode ser de qualquer jeito, mas de forma eficiente e eficaz.

q &GJDJ¢ODJB é fazer a coisa de forma correta, utilizando o mínimo de recursos possíveis. O foco
está nos meios, isto é, na utilização ponderada e econômica dos recursos organizacionais.
q &GJDªDJBé atingir os resultados, alcançar os objetivos estabelecidos. O foco está nos fins,
nos resultados.

Conforme afirmam Sobral e Peci (2008, p.5): “(...) Uma administração de sucesso consiste
em obter simultaneamente eficácia e eficiência na utilização dos recursos organizacionais”.
Logo, não basta ser eficiente, se não for eficaz¹. Assim como também não basta ser efi-
caz se a empresa não for eficiente².

¹ No primeiro caso, a empresa utiliza com maestria seus recursos, reduzindo seus gastos e evitan-
do desperdícios, mas não consegue atingir seus objetivos, ou seja, todos os esforços foram em vão.
² No segundo caso, a empresa atinge seus objetivos sem se preocupar com a forma que
conseguiu isso, ou seja, pode ter sido de forma ineficiente, desperdiçando recursos, ou até
mesmo de forma ilegal.

Portanto, o sucesso da empresa só está garantido se ela for eficiente e eficaz ao mesmo
tempo, como mostra a figura 1:

ADMINISTRAÇÃO EFICIENTE ADMINISTRAÇÃO EFICAZ


Fazer bem as coisas Fazer as coisas certas
Objetivar nos meios Objetivar nos fins
Buscar a melhor aplicação dos recursos Buscar otimizar a aplicação dos recursos para
melhor alcance dos resultados
Reduzir os custos Aumentar os lucros

SUCESSO EMPRESARIAL
Figura 1 — Administração Eficiente x Administração Eficaz

38 qcapítulo 2
Administradores
De acordo com Sobral e Peci (2008, p.6): “Os administradores ou gestores são os membros
que têm como função guiar as organizações de forma alcançar seu propósito.”
Para atingir esses objetivos, eles decidem onde e como aplicar os recursos. Então,
nem todas as pessoas que trabalham na organização são administradores. Os adminis-
tradores coordenam as atividades de outras pessoas. São eles os diretores, gerentes,
supervisores, líderes de equipes.
Já aqueles que só executam as tarefas que lhes são solicitadas não são administradores,
mas, sim, funcionários, subordinados, trabalhadores, operários, empregados ou, como
são chamados atualmente, colaboradores ou parceiros.
Sobral e Peci (2008, p.4) ainda reforçam dizendo:

Em um mundo cada vez mais globalizado e competitivo, o sucesso ou insucesso das organizações
depende da qualidade de sua administração. São os administradores que estabelecem objetivos e
guiam a organização de forma a alcançá-los. São também eles que preparam a organização para a
mudança, procurando adaptá-la a um ambiente cada vez mais dinâmico e imprevisível.

Como pode se notar pela citação anterior, em um mundo cada vez mais globalizado e com-
petitivo, principalmente por conta de ferramentas como a internet, é primordial para as organi-
zações que aspiram ao sucesso que os administradores sejam mais bem preparados e atentos
às diversas demandas advindas tanto do ambiente interno quanto do externo à empresa.
Essa competição muitas vezes desmedida e até mesmo “destrutiva” para se obter mais
fatias do mercado (marketshare) nos mostra que hoje não há mais espaço para amadores.

REFLEXÃO
Mas, então, como ficam os empreendedores que estão começando o seu negócio?
Aqueles que não tiverem conhecimento e prática em administrar terão de ter a humildade para pedir ajuda
aos órgãos ou pessoas preparadas para tal (Cursos Superiores e Tecnológicos de Administração, Cursos
Superiores de Tecnologia em Gestão, Universidades em geral, Sebrae, Senai, Senac, Consultorias, profis-
sionais da área etc.), pois o percentual considerado de fracassos e falências das empresas nos primeiros
anos do negócio dá-se, principalmente, pela falta de preparo e conhecimento em administrar. Mesmo
aqueles que possuem tais conhecimentos precisam ser humildes e pedirem ajuda quando necessitarem.

Existem fatores que diferenciam o trabalho de um administrador dentro de uma orga-


nização. Dentre eles, pode-se citar o nível organizacional (que será abordado no Capítulo 4
deste livro), o tipo e a dimensão da organização.
A seguir, falamos um pouco de cada um desses fatores:

Nível organizacional

Todos os administradores desempenham as funções de planejar, organizar, dirigir e con-


trolar, porém a intensidade dessas funções varia de acordo com o nível hierárquico do ges-
tor. Por exemplo, um administrador do nível estratégico ou institucional despende mais

capítulo 2 q39
AUTOR tempo com o planejamento e organização do que nos demais níveis (tá-
tico ou gerencial e operacional ou supervisão).
Henry Mintzberg
Henry Mintzberg es- Tipo de organização
creve sobre estraté-
gia de Gerência e de As organizações podem ser lucrativas (empresas) e não lucrativas
Negócios, com mais (Forças Armadas, Igreja, Serviço Público, Entidades Filantrópicas,
de 140 artigos publi- Organizações Não Governamentais — ong etc.). No caso dessas or-
cados e treze livros no seu nome. Seu ganizações que não visam lucro, os objetivos para os administrado-
mais produtivo livro, Ascensão e queda res são mais difíceis de definir, como a efetividade de suas ações, a
do planejamento estratégico, critica al- equidade e a justiça.
gumas das práticas de hoje do planeja- Entende-se por efetividade quando os resultados alcançados de
mento estratégico e é considerado leitu- forma eficiente pela organização trazem impactos positivos para seus
ra essencial para qualquer um que queira clientes que, na maioria das vezes, é a própria sociedade.
fazer parte do processo de tomada de Em outras palavras, não adianta construir uma ponte de forma efi-
decisões dentro de sua organização. ciente (conforme projetada e com o mínimo de recursos possíveis) e
dentro do prazo estabelecido, se ela estiver ligando nada a nada, ou seja,
não há efetividade na ação.

Dimensão da organização

Nas grandes organizações, a preocupação do administrador com o pla-


nejamento é muito maior e formal do que nas pequenas organizações,
em que o planejamento é mais informal, tendo em vista o escopo de
sua atuação.
As estruturas das grandes organizações são mais complexas e bu-
rocratizadas, além de exigirem um sistema de avaliação e controle
mais sofisticado.
Já nas micro e pequenas organizações, em virtude do tamanho e es-
copo de atuação ser bem menor, o administrador é por vezes obrigado a
acumular funções dos diversos níveis hierárquicos.

A natureza do trabalho gerencial


Para entender a essência do trabalho de um administrador é preciso
conhecer quais papéis desempenham nas organizações, quais habilida-
des lhes são requeridas e quais competências lhes são necessárias para
o desempenho de suas atividades.

Papéis do administrador

Papel é um padrão de comportamento que se espera de alguém dentro de


uma organização. Umas das pesquisas mais importantes sobre o papel
dos administradores foi realizada por Henry Mintzberg (1973).

40 qcapítulo 2
REFLEXÃO AUTOR
Mintzberg estudou detalhadamente cinco administradores de alto nível. Como con- Chiavenato
clusão de sua pesquisa, Mintzberg salientou os seguintes aspectos sobre a natureza Idalberto Chiavenato é um dos autores
do trabalho do administrador: nacionais mais conhecidos e respeita-
q "TBUJWJEBEFTEPHFSFOUFT¨PNVJUPWBSJBEBT SFHVMBSFT QSPHSBNBEBTFO¨PQSP- dos nas áreas de Administração de Em-
gramadas) e não obedecem à sequência racional das funções administrativas (pla- presas e de Recursos Humanos, tendo
nejar>organizar>dirigir>controlar); seus livros utilizados por administrado-
q 0BENJOJTUSBEPS£ BPNFTNPUFNQP VNHFOFSBMJTUBFVNFTQFDJBMJTUB PVTFKB  res no Brasil, nos países da América
deve ter uma visão holística e sistêmica e, simultaneamente, ser capaz de analisar Latina, em Portugal, na Espanha e nos
situações específicas; países africanos de língua portugue-
q "JOGPSNB¥¨P£PJOTVNPQSJODJQBMQBSBUPNBEBEFEFDJT¨P QSJODJQBMNFOUFBRVF sa. Atualmente, Chiavenato atua como
se recebe verbalmente; conselheiro no Conselho Regional de
q "TBUJWJEBEFTEPTBENJOJTUSBEPSFTT¨PDBSBDUFSJ[BEBTQPSSBQJEF[ WBSJFEBEF Administração do Estado de São Pau-
e fragmentação; lo (CRA-SP), é presidente do Instituto
q 0USBCBMIPBENJOJTUSBUJWP£NBJTBSUFEPRVFDJ¢ODJBFTFCBTFJBNVJUBTWF[FTFN Chiavenato de Educação.
processos intuitivos e na sensibilidade do que é certo;
q 0USBCBMIPBENJOJTUSBUJWP£DBEBWF[NBJTDPNQMFYP PCSJHBOEPPBENJOJTUSBEPSB
saber lidar com os diversos paradoxos que se apresentam.

Exemplificando tais paradoxos, Chiavenato (2007, p.73) menciona:

Na verdade, o administrador precisa ao mesmo tempo ser concreto (nos


resultados) e abstrato (nos conceitos), precisa alcançar no curto prazo (no
imediato) e no longo prazo (no horizonte estratégico), deve saber lidar com
as pessoas (habilidades humanas), com tecnologias (habilidades técnicas) e
com a estratégia da sua organização (habilidades conceituais). Precisa ser
duro (com quem negligencia) e suave (com quem colabora), precisa focar
o interior da organização (buscando eficiência nas operações) e viver em
contato com o mundo dos clientes, fornecedores, concorrentes (buscando
eficácia do negócio).

Portanto, para Mintzberg, os administradores, além de planejar,


organizar, dirigir e controlar têm muitas outras funções, outras res-
ponsabilidades gerenciais e desempenham vários papéis em cada or-
ganização. Segundo Mintzberg, os gerentes desempenham dez papéis,
divididos em três amplas categorias:

Papéis Interpessoais
Representam as relações com pessoas de dentro e de fora da organização:
funcionários, chefes, diretores, clientes, fornecedores, acionistas etc. Os
papéis interpessoais incluem os de:
• Símbolo ou Representação — o gerente age como um símbolo e
representa a organização (relações públicas). Acompanha visitantes, as-
sina documentos legais, fala em público, comparece a solenidades;

capítulo 2 q41
• Líder — dirige as atividades dos subordinados: motivando, persuadindo, orientando,
aconselhando, treinando, levando-os à realização dos objetivos da organização;
• Elemento de ligação — envolve a rede de relacionamentos que o gerente deve manter, tanto
dentro como fora da organização, e que permite o intercâmbio de informação. Acompanhamen-
to da correspondência, construção de coalizões de alianças, integração de sua equipe a outras.

Papéis Informacionais
Descrevem as atividades usadas para manter e desenvolver informações, envolvendo a co-
leta, o processamento e a comunicação de informações. Os três papéis informacionais de-
sempenhados pelos administradores, segundo Mintzberg, são:
• Monitor — envolve a necessidade e a capacidade de obter informações sobre a orga-
nização e seu ambiente de saber lidar com essa variedade de fontes de informação: revistas,
relatórios, contatos pessoais, participação em eventos;
• Disseminador — responsável pela disseminação interna da informação, seja ela ex-
terna ou de um subordinado para outro. Reuniões formais ou informais com grupos, tele-
fonemas e e-mails informativos, memorandos e relatórios;
• Porta-voz — envolve a transmissão da informação de dentro para fora da organização.
Fala oficialmente em nome da organização. Comunicados de imprensa, entrevistas à mí-
dia, participação em reuniões de acionistas.

Papéis Decisórios
Envolvem todos os eventos e situações que implicam a tomada de decisão. Os quatro pa-
péis decisórios identificados por Mintzberg são:
• Empreendedor — o gerente identifica oportunidades de novos negócios e inicia e
planeja mudanças para a melhoria da organização. Inicia projetos, assume riscos, realiza
reuniões de brainstorming com os funcionários, entre outras iniciativas;
• Solucionador de conflitos — o gerente resolve situações de distúrbios que estão par-
cialmente fora de controle gerencial. Atua em eventos imprevistos, implementa ações cor-
retivas em casos de disputas ou crises, resolve conflitos entre os subordinados, adapta a
equipe a mudanças e crises;
• Administrador de recursos — esse papel está presente em praticamente qualquer
decisão do gerente. Segundo Mintzberg, envolve a administração do próprio tempo, a pro-
gramação do trabalho alheio e a autorização das decisões tomadas por terceiros. O gerente
decide a quem atribui os recursos organizacionais, além de planejar, programar, orçar e
estabelecer prioridades para os mesmos;
• Negociador — consiste em representar a organização nas principais negociações.
Negociação com sindicatos, clientes, credores, empregados e instituições financeiras.

42 qcapítulo 2
RESUMO AUTOR
CATEGORIA INDICAÇÃO PAPEL
Robert Katz
Interpessoal Como o administrador q TŸNCPMPPVSFQSFTFOUB¥¨P
interage com as pessoas q MŸEFS Robert Katz foi o responsável por um dos
e influencia seus q FMFNFOUPEFMJHB¥¨P primeiros estudos a respeito das habili-
subordinados.
dades necessárias para se ter uma boa
Informacional Como o administrador q NPOJUPS liderança. Foi professor em Harvard e
intercambia e processa a q EJTTFNJOBEPS Stanford e também dirigiu empresas e
informação. q QPSUBWP[
atuou como consultor.
Decisório Como o administrador q FNQSFFOEFEPS
utiliza a informação em q TPMVDJPOBEPSEFDPOGMJUPT
suas decisões. q BENJOJTUSBEPSEFSFDVSTPT
q OFHPDJBEPS

Figura 2 — As categorias e os dez papéis do administrador segundo Mintzberg

O nível hierárquico, as habilidades e competências individuais, o tipo


e tamanho da organização, o ambiente organizacional, todos esses fato-
res condicionam a importância atribuída ao papel do administrador.

EXEMPLO
Por exemplo, o administrador de uma pequena empresa dará mais importância às
ações para o exterior, de modo a obter novas oportunidades de negócios, priorizan-
do, assim, o papel de porta-voz.
Já o de grandes empresas priorizarão as ações direcionadas para o interior, como a alo-
cação de recursos a equipes. Por outro lado, à medida que o administrador sobe na hie-
rarquia (nível operacional > tático > estratégico), seu papel de líder diminui ao passo que
o papel de monitor aumenta.

Conforme Chiavenato (2007, pg. 68):

Quanto mais o administrador se preocupar em saber ou aprender a fazer as


coisas (habilidade de executar), mais ele estará se preparando para atuar
no nível operacional da empresa. Quanto mais se preocupar em desenvolver
conceitos (habilidade de pensar e diagnosticar), mais ele estará se prepa-
rando para atuar no nível institucional da empresa.

Habilidades do administrador

Para desempenho de seus papéis, os administradores deverão possuir


certas habilidades.
Para Robert Katz (1955), existem três tipos de habilidades necessá-
rias para que o administrador possa trabalhar com sucesso: técnicas,
humanas e conceituais.

capítulo 2 q43
• Habilidades técnicas — consiste na capacidade do administrador para utilizar fer-
ramentas, métodos, técnicas e equipamentos necessários para o desempenho de tarefas
específicas, por meio da experiência e educação. São muito importantes para o nível ope-
racional;
• Habilidades humanas — consiste na capacidade do administrador para trabalhar
com pessoas, comunicar, compreender suas atitudes e motivações e liderar grupos de pes-
soas. São muito importantes para todos os níveis da organização;
• Habilidade conceitual — consiste na capacidade do administrador para compreen-
der a complexidade da organização como um todo e o ajustamento do comportamento de
suas partes. Essa habilidade permite analisar e interpretar situações abstratas e comple-
xas. São muito importantes para o nível institucional ou estratégico.
Conforme ilustra a figura 3, e afirma Katz, na medida em que se sobe para os níveis mais
elevados da organização, diminui a necessidade de habilidades técnicas, enquanto aumenta
a necessidade de habilidade conceitual. Já as habilidades humanas são igualmente impor-
tantes em todos os níveis hierárquicos, pois é fundamental saber lidar com as pessoas.

Nível institucional
ou estratégico

Nível intermediário
ou gerencial

Nível operacional
ou supervisão

Habilidade técnica Habilidade humana Habilidade conceitual

Figura 3 – Habilidades do administrador

ATENÇÃO
Principais habilidades: pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Administração (CFA), em 2011, apon-
ta como as principais habilidades que um administrador as seguintes: o relacionamento interpessoal, a
visão do todo, o preparo para a liderança, a criatividade e a inovação.

44 qcapítulo 2
Competências do administrador

Além das habilidades, os administradores necessitam de certas competências específicas


para desempenho de seus cargos, que variam de acordo com o nível organizacional. Segundo
Sobral e Peci (2008): “As competências são definidas como o conjunto de conhecimentos,
aptidões e atitudes relacionados com o desempenho eficaz de um administrador”.
Segundo Chiavenato (2007, p.69), as competências fundamentais são as seguintes:
• Conhecimento — é o saber acumulado pelo processo de aprendizagem, contudo pre-
cisa ser útil para ter valor. Aprender a aprender, aprender continuamente e compartilhar
conhecimento fazem parte dessa competência.
• Habilidades — é o saber fazer. Exigem uma visão ampla, sistêmica e global da situa-
ção. Trabalho em equipe, motivação e comunicação fazem parte dessa competência.
• Julgamento — é o saber analisar cada situação. O administrador define exatamente
o que, como, quando e por que fazer. Espírito crítico, ponderação e priorização fazem
parte dessa competência.
• Atitude — é o saber fazer acontecer. Com ela, o administrador torna-se um formador
de opinião e um agente de mudança na organização. Atitude empreendedora, inovação,
assumir riscos e autorrealização fazem parte dessa competência.

ATENÇÃO
Principais competências: pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Administração (CFA), em 2011,
aponta como as principais competências que um administrador deve possuir as seguintes: identificação de
problemas, formulação e implantação de soluções, enfrentar desafios e solucionar conflitos. Como atitudes
desejáveis, sobressaem o comprometimento, o comportamento ético e o profissionalismo.

Organização como sistema


Os conhecimentos teórico e prático são fundamentais para um bom administrador, contu-
do tais conhecimentos precisam se falar e se relacionar uns com os outros.
É preciso estudar Administração dentro de um conceito sistêmico em que todas as teo-
rias se interpenetram e interagem uma com as outras, de forma a poder sempre estar adap-
tado e contextualizado às ocorrências históricas e contingências atuais e preparado para as
demandas futuras de um ambiente de negócios cada vez mais competitivo.
Um sistema é um conjunto integrado de partes inter-relacionadas que existem para atin-
gir um determinado fim. Conforme mostra
Sociedade (Macroambiente)
a figura 4, uma empresa (microambiente)
pode ser considerada um sistema, que faz Empresa Organização
parte de um sistema maior, que é a socie-
dade (macroambiente), sendo seus depar- Departamento Departamento
tamentos subsistemas. As empresas atual-
mente são sistemas abertos que interagem
constantemente com o ambiente externo. Figura 4 — Organização como sistema

capítulo 2 q45
Quando não há a interação da organização com seu ambiente externo, ela é considera-
da um sistema fechado, ou seja, voltada para dentro de si mesma, única e exclusivamente
para seus processos internos.
Contudo, as organizações não são autossuficientes, elas precisam dos insumos do ambien-
te externo (matérias-primas, recursos humanos, capital, produtos e serviços) para produzir, as-
sim como os resultados por elas produzidos (bens ou serviços) terão repercussão nesse ambien-
te em que elas estão inseridas. Esse mesmo ambiente lhe retornará informações (feedback) que
indicará como elas deverão se adaptar adequadamente para atender às demandas externas.

Sustentabilidade do negócio
Em primeiro lugar, é preciso não confundir o que algum tempo atrás se chamava de
longevidade do negócio (sobrevivência, perpetuidade) com o conceito atual de sustentabi-
lidade do negócio.
Para o negócio ser sustentável, a empresa precisa crescer e fazer com que parte da so-
ciedade com o qual interage e também o meio ambiente cresçam junto com ela. É o que
chamamos de responsabilidade social da empresa.
O desenvolvimento sustentável é hoje um objetivo global. A sustentabilidade apoia-se
sempre em três pilares, como mostra a figura 5:
• Econômico — os resultados da empresa devem incluir, além do lucro, ganhos am-
bientais e sociais; caso contrário, sua imagem ficará arranhada;
• Social — respeito pelos direitos humanos, pela cidadania, pela soberania e pelo de-
senvolvimento econômico local;
• Ambiental — produção mais limpa e matérias-primas menos tóxicas, a fim de reduzir
o impacto ao meio ambiente.

Social A Socioeconômico
B Ecoeficiência
A C
D C Socioambiental
Econômico B Ambiental D Negócio Sustentável

Figura 5 — Os três pilares da sustentabilidade do negócio


Ao mesmo tempo em que representa um desafio, a busca pela sustentabilidade pode
representar novas oportunidades de negócios. A tendência de os consumidores preferirem
produtos e serviços sustentáveis é um exemplo disso.

46 qcapítulo 2
Identificação do negócio

Afinal de contas, qual o verdadeiro negócio da empresa? Em um mundo em constante


transição e mudança não se pode ter ou manter um negócio sempre da mesma forma. O
negócio precisa ser flexível, mutável, porém, consistente e com identidade.
O negócio não se resume ao produto ou serviço que as empresas oferecem ao mercado,
mas à finalidade maior que esse produto ou serviço oferece para satisfazer as necessidades
do cliente (consumidor). Logo, a definição do negócio depende do que o consumidor per-
cebe, pensa, acredita e quer em determinado momento.
É um processo de satisfação do cliente e não um processo de produção de produtos/
serviços. Assim, é preciso definir o negócio em função do mercado em que ele atua e não
pelos seus produtos.

EXEMPLO
Antigamente os proprietários da enciclopédia Barsa definiam seu negócio
como “Venda de enciclopédias” (por produto), hoje seu negócio é “Distribuir
informação” (por mercado).

Considerações finais
O estudo da Administração possui natureza multidisciplinar e interdisciplinar dos funda-
mentos conceituais da disciplina, além da mesma estar presente no dia a dia e na realidade
de cada pessoa, empresa, ou grupo.
Logo, para o administrador ser bem-sucedido é preciso interagir com outras disci-
plinas como Psicologia, Antropologia, Filosofia, Direito, Contabilidade, Economia, Esta-
tística, Ciência Política, Ética, Engenharia de Produção e Logística, contextualizando-se
dos principais aspectos dessas disciplinas para poder entendê-los e interpretá-los à luz
da ciência da Administração.
Como a natureza de seu trabalho varia de acordo com os papéis que desempenha, das
habilidades que possui e das competências que lhes são requeridas, seu padrão de compor-
tamento será fundamental para o sucesso da organização.
Para uma administração bem-sucedida, todos esses conceitos e interpretações têm de
estar interligados, integrados de forma sinérgica, ou seja, agregando valor.
Cada uma das funções administrativas (planejar, organizar, dirigir e controlar), que se-
rão vistas em capítulo mais adiante, precisam das demais para criar uma base sólida de sus-
tentação às áreas funcionais da Administração (Operações, Marketing, Recursos Humanos
e Finanças). Essas, por sua vez, precisam estar bem integradas, de modo a alimentar com
informações importantes umas às outras, permitindo, dessa forma, que cada uma tome
decisões certeiras e fundamentadas em suas áreas, diminuindo no que for possível a possi-
bilidade de erros ou equívocos.
Nos dias de hoje, o sucesso da empresa não está pautado somente por ela ser eficiente
e eficaz, é preciso que ela também seja sustentável. Sua imagem perante a sociedade,

capítulo 2 q47
sua responsabilidade social e sua interação com o meio ambiente são fundamentais para
que haja êxito em suas ações. Além disso, o administrador precisa humanizar as organi-
zações, para que estas sejam efetivamente comprometidas com seus objetivos, visto o
capital humano ser o principal ativo de qualquer organização.
Resumindo, a Administração atual não pode significar apenas supervisionar pessoas,
departamentos, finanças nem se restringir às funções do administrador, mas conforme
Chiavenato (2008, p.17), “significa conduzir toda uma organização em direção a objetivos
previamente definidos, para obter resultados concretos e alcançar sucesso e sustentabili-
dade ao longo do tempo”. Para isso, uma boa administração tem de ser sistêmica e deve
haver sinergia entre todas as partes (internas e externas) envolvidas.

ATIVIDADE
Questões para reflexão e discussão em sala de aula
1. Diferencie os termos “Organização”, “Empresa” e “Administração”.
2. Quais as características principais que um administrador deve possuir para que sua organização tenha sucesso?
3. Como se diferencia o trabalho do administrador em relação ao nível organizacional que atua?
4. Como se diferencia o trabalho do administrador em relação ao tipo e dimensão da organização?
5. Diferencie “Eficiência” de “Eficácia”. Qual a mais importante para o desempenho da organização?
6. Explique o papel do administrador na empresa.
7. Se você vier a administrar uma pequena empresa, a que papéis você deverá dar mais importância? Por quê?
8. O que são as habilidades técnicas, humanas e conceituais?
9. Explique como se dá a relação entre as habilidades necessárias ao administrador, de acordo com o nível
organizacional em que atua.
10. Por que uma organização deve ser encarada como um sistema?
11. O que é um negócio sustentável?
12. Se você for abrir um negócio novo, qual será a definição desse negócio? Por quê?

48 qcapítulo 2
BIBLIOGRAFIA
CHIAVENATO, Idalberto. Administração para não administradores: a gestão de negócios ao alcance de todos. São
Paulo: Saraiva, 2008.
__________. Administração: teoria, processo e prática. 4ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
KATZ, Robert L. Skills of an effective administrator. Harvard Business Review, p. 33-42. Jan./Feb. 1955.
MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à administração. 6ª ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2004.
MINTZBERG; Henry. The nature of managerial work. New York, & Row Publishers, 1973.
SOBRAL, Felipe; PECI, Alketa. Administração: teoria e prática no contexto brasileiro. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
www.cfa.org.br
www.sebrae.com.br

IMAGENS DO CAPÍTULO
p. 40 Ascensão e queda do planejamento estratégico
Divulgação · Editora Bookman

p. 47 &ODJDMPQ£EJB#BSTB
Autor desconhecido · www.estadao.com.br

capítulo 2 q49
3 O ambiente
organizacional

marcelo pereira marujo


3 O ambiente organizacional

Um ponto importante da sabedoria de vida consiste na


proporção correta com a qual dedicamos a nossa atenção
em parte ao presente, em parte ao futuro, para que um não
estrague o outro. Muitos vivem em demasia no presente:
são os levianos; outros vivem em demasia no futuro: são
os medrosos e os preocupados
(SCHOPENHAUER).

REFLEXÃO
Em todo o mundo, existe a consciência de que o ambiente é uma questão sistêmica, que envolve todas as
nações e o comportamento de cada pessoa. Praticamente, todas as necessidades humanas precisam ser
atendidas por algum tipo de produto ou serviço que cobra um preço da natureza. Sem limites, a produção
de bens e serviços acabará comprometendo a capacidade de renovação dos recursos naturais e a quali-
dade da vida. No extremo, a sobrevivência da espécie humana ficará comprometida pelo atendimento de
suas necessidades (MAXIMIANO, 2007, p. 409).

Inicialmente, faz-se necessário valorizar o ambiente global onde as fronteiras não repre-
sentam mais limites e que o desenvolvimento das ciências, as diferenças — políticas, sociais,
econômicas, ambientais, culturais — e as tecnologias tanto nos proporcionam e nos fazem
cada vez mais entender a importância do todo e de suas partes como uma unidade: ambiente.
Para Morin (2013), na contemporaneidade, o ambiente deixa de ser uma unidade unica-
mente territorial para ser entendido como uma realidade organizadora.
São com essas características e representações ambientais que devemos começar a
compreender o ambiente — mercado e sociedade — que tanto se (re)orienta continuamen-
te, assim contribuindo para se redimensionar a sociedade contemporânea.
O ambiente organizacional, com base nessa dimensão, deve passar a ser o cenário dos
fatos reais e também imaginários e, especialmente, das necessidades capazes de promover
o desenvolvimento do mercado e, consequentemente, da sociedade para um planeta me-
lhor para todos.
Evidencia-se que tal condição se relaciona com as proposições orientadoras apresen-
tadas no Capítulo 1, no que concerne, na contemporaneidade, se trabalhar em harmonia
com a visão — sistêmica e complexa —, assim, ratificando a sua importância para entender
melhor a dinâmica do mercado e da sociedade.
Nesse aspecto, a cultura organizacional mostra-se como protagonista importante capaz
de promover criativa e criticamente as necessidades orgânicas às organizações.
Em um profundo mergulho histórico na cultura, embora mostrando total atualidade e
sua conformidade com a nossa visão, para Tylor (1912), Cultura é “um todo complexo que

52 qcapítulo 3
inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade
ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade (p. 46)”.
Na sociedade atual, a Cultura transfigura-se em um quesito extremamente significativo;
portanto, o que mais afeta os ambientes é, justamente, a sua carência e/ou ausência. A cul-
tura limitada é um dos fatores que mais atrapalham o desenvolvimento das organizações
e, certamente, dos países.
A cultura organizacional, com base nos ambientes interno e externo, favorece o enten-
dimento da importância da transparência no ambiente organizacional para as necessárias
políticas que precisam ser demandadas para atender um mercado extremamente compe-
titivo e insustentável.
O ambientalismo é outra interessante ramificação que vem instituindo-se por meio de
diferentes movimentos (ambientalistas, estudantis, black blocks, rolezinhos etc.), demons-
trando a magnitude da especialidade, inclusive por meio da tecnologia da informação, lan-
çando novas concepções sobre a territorialidade.

REFLEXÃO
O chip de silício e outros avanços na informática alteraram permanentemente as economias mundiais e,
como em breve demonstraremos, o modo como as pessoas trabalham. A eletrônica digital, o armazenamento
ótico de dados, os computadores mais poderosos e portáteis que podem comunicar-se entre si estão mudan-
do a maneira como a informação é criada, armazenada, utilizada e distribuída (ROBBINS, 2006, p. 7).

O horizonte de ameaças e oportunidades — ambiente global — descortina-se nas infi-


nitas influências das políticas econômicas globais. Vem-se constatando que a sociedade
global com uma população crescente passa a ser o maior bem da humanidade; todavia,
também é a maior preocupação para os governantes.
Estrategistas internacionais mostram que o incontrolável aumento da população mun-
dial, o qual se alia e igualmente redimensiona o consumo, da mesma forma incontrolável,
converge-se em um dos maiores problemas ambientais do planeta.
O ambiente organizacional e suas expressivas questões mostram suas necessárias con-
dições que favorecem a interação e, sobretudo, a compreensão dos contextos — político,
econômico, social, cultural e ambiental — que tanto proporcionam o acesso às informa-
ções e suas novidades; contudo, sinalizam também a complexidade para lidar com uma
sociedade progressivamente globalizada e competitiva. Logo, considera-se o ambiente or-
ganizacional a proposição central comum subjacente à Administração.
O panorama que veremos no decorrer deste capítulo oportunizará o entendimento
sobre diversos posicionamentos teóricos de renomados autores, em nível nacional e inter-
nacional, seus distintos contextos relacionados ao ambiente organizacional e suas inúme-
ras necessidades intrínsecas ao desenvolvimento das organizações.
Dessa maneira, teremos a possibilidade de dialogar com teorias e autores que
construíram suas referências baseadas na prática, condição que favorecerá a maior com-
preensão e, ainda, melhor visualização e posicionamento mediante o dinamismo caracte-
rístico do mercado. “Quanto mais dinâmico o ambiente, maior a incerteza e mais provável
que a administração desenvolva previsões imprecisas” (ROBBINS, 2006, p. 97).

capítulo 3 q53
Ambiente organizacional

REFLEXÃO
Todas essas instituições necessitam de uma Administração, órgão eficaz e ativo que faz com que haja
desempenho. Nenhuma instituição existiria sem Administração. A Administração é a função ou processo
específico da instituição moderna, cujo desempenho determina o funcionamento e a própria sobrevivência
da entidade (GARRET; TACHIZAWA, 2006, p. 26).

Iniciaremos com o conceito de ambiente bastante abrangente, com a intenção de dar


conta da expressiva temática, dessa forma realinhando-se com a visão ambiental de totali-
dade como possibilidade de se compreender melhor a sociedade a partir, respectivamente,
das organizações e do mercado.

Figura 1 – Totalidade global – Ambiente organizacional

Um considerável conhecimento sobre


os diversos ambientes se converte em si-
AMBIENTE ORGANIZACIONAL tuação necessária para lidar com as res-
postas ao mercado. Em especial, por tal
ambiente compreender a sociedade e seus
distintos governos, políticas, economias,
culturas e tecnologias.

Definições

A seguir, apresentamos algumas definições de variados estudiosos sobre o ambiente or-


ganizacional, pois se entende que essa diversificada situação proporciona maior reflexão
sobre os ambientes e suas particularidades.
Para Megginson et al. (1998), o ambiente organizacional é uma composição de variadas
forças externas que intervêm no funcionamento e, consequentemente, influenciam na to-
mada de decisão das organizações e são constituídos nos seguintes ambientes:

Compreende os fatores controlados internamente e direto da organização, como


INTERNO a estrutura organizacional, os recursos humanos, financeiros, materiais e, ainda,
tecnológicos.

Compreende os fatores que favorecem a interação direta com a organização


OPERACIONAL quando é colocada em funcionamento, como fornecedores, concorrentes, clien-
tes e grupos de interesses especiais.

Compreende os fatores que, possivelmente, influenciam potencialmente as


EXTERNO estratégicas decisões das organizações, como os elementos da ação indireta
(políticos, normativos, econômicos, sociais e tecnológicos).

54 qcapítulo 3
Assim, a relevância do ambiente organizacional associa-se, necessariamente, a toda
teoria e conceitos sobre as gestões. Essa condição favorece tal construção com base na
observação mediante situação real e consequente análise do funcionamento operacional
das organizações.
O ambiente organizacional deve ser caracterizado e desenvolvido com base na concep-
ção de totalidade, a qual necessita para se empreender com mais coerência a visão sistêmi-
ca e complexa sobre o panorama global das organizações e também promover a formação
humana. Portanto, “o dado fundamental para se entender o ambiente de uma organização
é que ela cria incerteza potencial” (ROBBINS, 2006, p. 89).
Sob essa ótica, Mariotti (2007) concebe o ambiente, em sua totalidade, convertendo-o
em base sólida para se buscar novos horizontes, onde o ser humano deve manter-se prota-
gonista de seu processo formativo, assim contribuindo com a organização:

O desenvolvimento humano é um processo interminável. Seu primeiro passo consiste em sa-


ber como pensamos e como adquirimos conhecimento. Para dar esse passo, é importante ter
em mente que o conhecimento ocorre nos organismos vivos em decorrência de sua intenção
com o ambiente, onde estão, é claro, outros seres vivos. Desenvolver o conhecimento de uma
pessoa equivale a desenvolvê-la por inteiro. Um indivíduo desenvolvido fará bom uso de seus
conhecimentos, o que por sua vez levará a bons resultados. E aqui a expressão “bons resultados”
significa não apenas os econômico-financeiros, mas também os relativos à responsabilidade
sociocultural e ambiental (p. 172).

Para Nonaka e Takeuchi (1997), a organização vive se recriando e ao mesmo tempo des-
truindo o seu próprio sistema de conhecimento, logo encontrando novas alternativas de
criar, criticar e refletir com a intenção de refazer as suas diversificadas ações e atividades.
Consideram-se tais condicionantes fundamentais para promover com criatividade uma
gestão responsiva e mais eficiente diante das novidades da concorrência e, em especial,
das expectativas de uma clientela mais esclarecida sobre a qualidade/preço, seus direitos,
melhor distribuição das riquezas e preservação/conservação do planeta.

O desenvolvimento da sociedade organizacional cria padrões mais fragmentados e diferenciados


de crenças e práticas baseadas na sua estrutura ocupacional, mesclando os padrões tradicionais
de ordem social em termos de ideias comuns, valores e crenças (MORGAN, 1996. p. 117).

As organizações com seus ambientes interno e externo são capazes de proporcio-


nar ao mercado suporte para sua desenvoltura e orientação da sociedade. Porque “a
organização como conjunto interativo de pessoas ou de organismos é uma sociedade”
(GARRET; TACHIZAWA, 2006, p. 26).
Os ambientes emergem da construção de ações realizadas através de grupos de indi-
víduos e organizações, pois cada qual procede ativamente com base nas suas próprias in-
terpretações sobre uma sociedade (ambiente) que é, com efeito, orgânica e mutuamente
definida (MORGAN, 1996).
O ambiente interno — microambiente — deve levar em consideração todas as princi-
pais representações e características do mercado onde a atuação da empresa é mais convin-
cente e onde sofre maiores influências capazes de afetarem suas próprias decisões.

capítulo 3 q55
Tal situação compreende a organização nos seus diferentes setores e departamentos; as-
sim, oportunizando a promoção de cursos de capacitação e formação profissional, reestrutu-
ração de modelos de gestão e outras ações capazes de personalizá-la.
Concebe-se que, a luz dessas circunstâncias, ganham-se mais facilidades para a pos-
sível inserção de novos produtos e/ou serviços, ou ainda, a possibilidade de redirecionar
mais rapidamente suas alternativas frente às demais organizações e/ou também responder
mais prontamente ao mercado. Como afirma Schopenhauer, “os mesmos acontecimentos,
ou situações exteriores, afetam de modo diverso cada pessoa e, em igual ambiente, cada
um vive em um mundo diferente” (2005, p. 86).
No concernente ao ambiente externo — macroambiente —, podem-se apreender infor-
mações mais genéricas sobre o mercado, as quais interferem nas organizações, embora con-
tribuam muito para se redesenhar o prosseguimento das atividades das organizações.
Num outro aspecto, o ambiente externo também pode ser constatado por meio do
marketing. Para Kotler e Armstrong (2007, p. 58), “a empresa e todos os seus participan-
tes operam em um macroambiente mais amplo de forças que oferecem oportunidades
e impõem ameaças”.
As forças ambientais para esses autores são: demográficas, econômicas, naturais, tec-
nológicas, políticas e culturais (as referidos forças ambientais de marketing serão objeto
de maior reflexão no Capítulo 6).

As empresas e seus fornecedores, intermediários de marketing, clientes, concorrentes e público


operam em um macroambiente de forças e tendências que dão forma a oportunidades e impõem
ameaças. Essas forças representam fatores não controláveis que a empresa precisa monitorar e
aos quais precisa responder. Na arena econômica, as empresas e os consumidores são cada vez
mais afetados por forças globais (KOTLER, 2000, p. 160).

Para Kotler (1999) e Kotler e Armstrong (2007), as organizações que mais investem em
capital intelectual possuem olhares diferenciados para os ambientes interno e externo de
seus negócios. Logo, reconhecem mais facilmente o ambiente e suas novas oportunidades
e ameaças, fatores que compreendem a relevância do ambiente.
Em consequência da apresentação e suas significativas contribuições, com base na
visão de vários autores, considera-se o ambiente organizacional cada vez mais influen-
ciado e afetado pela hipercompetitividade peculiar do neoliberalismo que vem afetan-
do os custos, o crescimento da produtividade, a precariedade da empregabilidade e da
competição mais justa e responsável.
Sendo assim, o ambiente que deve ser objeto de reflexões para sua melhor com-
preensão é o ambiente real — global e local — dinâmico em demasia e muito incom-
preensível; então, conhecê-lo sempre melhor passa a ser uma condição importante às
estratégias das organizações.
Nesse momento, registra-se a expressividade dos ambientes, objeto das reflexões ante-
riores, como alternativas indispensáveis para as organizações confrontarem informações
com o intuito de converterem as ameaças do mercado em oportunidades.

56 qcapítulo 3
Cultura organizacional

Cultura é a aprendizagem acumulada e compartilhada por determinado grupo, cobrindo os elemen-


tos comportamentais, emocionais e cognitivos do funcionamento psicológico de seus membros
(SCHEIN, 1999).

Compreende-se que a potencial força da cultura organizacional vem da Administração.


A cultura organizacional surge em decorrência da necessária confirmação das atividades
organizacionais impulsionadas pelos teóricos das ciências administrativas.
Cultura, não diferente das demais temáticas, será redimensionada para que o seu en-
tendimento contemple o ambiente em sua totalidade. Pois a Cultura não representa so-
mente conhecimento, manifestação comum de variadas organizações e grupos e transmis-
são através da herança social.

Figura 2 — A interdependência do ambiente e


ENTE ORGANIZACIONAL
AMBI Cultura organizacional

Outrora, o conceito de Cultura já deno-


CULTURA ORGANIZACIONAL
tava essa necessária abrangência por ser
entendida como matéria-prima fundamen-
tal para o desenvolvimento da sociedade,
como “o todo complexo que inclui conheci-
mentos, crenças, arte, moral, leis, costumes
ou qualquer outra capacidade ou hábitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” (TYLOR, 1912, p. 25).

A cultura não é um poder, algo ao qual podem ser atribuídos casualmente os acontecimentos sociais, os
comportamentos, as instituições ou os processos; ela é um contexto, algo dentro do qual eles [símbolos]
podem ser descritos de forma inteligível — isto é, descritos com densidade (GEERTZ, 1978, p. 24).

Percebe-se que os autores Tylor (1912) e Geertz (1978) se orientam, respectivamente, em


bases diferentes — uma ambiental e a outra social —, embora as suas essências fundamen-
tem-se na disseminação de conhecimentos e ações efetivas entre os atores sociais.
Segundo Schein (1992), referência sobre a temática em questão, Cultura tem conside-
rável aporte nas teorias implícitas e nas crenças que circulam no contexto e através de seus
membros. Trata-se de condicionantes que inconscientemente são externadas e, portanto,
representam a organização e o seu próprio ambiente.
Para o mesmo autor, cultura organizacional compreende certo:

Padrão de pressupostos básicos que o grupo criou, descobriu ou desenvolveu, aprendendo a lidar com
seus problemas de adaptação externa e integração interna, os quais funcionam suficientemente bem,
podendo, assim, ser ensinados aos novos membros como o modo correto de perceber, pensar e sentir
em relação àqueles problemas (SCHEIN, 1992, p. 9).

capítulo 3 q57
Nos dias atuais, para se construir uma cultura organizacional, precisa-se de um con-
sistente processo de aprendizagem com base na teoria e na prática, uma vez que envolve a
promoção, tanto de alteração quanto de incorporação, de conceitos e princípios. Logo, de-
ve-se primar pela cognição como fator delineador de todo processo formativo organizacio-
nal com o intuito de tornar a aprendizagem mais significativa e representativa mediante a
liberdade de se criar e inventar mais.
A organização se recria destruindo o sistema de conhecimento existente e encontrando
novas formas de pensar e fazer (redesenhando) as coisas, de forma que se desenvolvam
mais consonantes para com suas necessidades diante da instabilidade comum do mercado
(NONAKA; TAKEUCHI, 1997).
A criação da cultura e a sua constante recriação passam a ser condições norteado-
ras para o processo de aprendizagem organizacional. Para tanto, incorporando teoria,
conceitos e princípios de maneira que essa circunstância passe também a ser comum
aos seus membros, impulsionando à aprendizagem de nível criativo, inovativo e reflexivo
(NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

REFLEXÃO
Hoje, espera-se que as empresas ajam como cidadãos responsáveis. A sociedade espera que as corpora-
ções, por exemplo, contribuam com as instituições beneficentes, apoiem programas comunitários e adotem
políticas benéficas ao ambiente. A responsabilidade social é um bom negócio (ROBBINS, 2006, p. 9).

No concernente à Administração, para Barbosa (2002), o termo cultura organizacional


surge em decorrência da valorização do universo simbólico das organizações.

Uma cultura organizacional pode ser conhecida pelos símbolos, imagens, mitos, estórias, lingua-
gem, rituais, cerimônias, hábitos e valores, além de artefatos visíveis da organização, tais como a
organização espacial, arquitetura, móveis e espaço físico (SCHEIN, 1985, p. 27).

A organização constitui a sua identidade por meio de suas atividades cotidianas — pro-
fissionais, sociais e culturais — tornando-se elementos fundamentais para nortear e man-
ter-se propensa às mudanças.

Todo sistema social é constitutivamente conservador, este se encontra em contínua mudança es-
trutural devido à perda de seus membros; incorporação de novos membros (com propriedades
diferentes); e mudança das propriedades de seus membros, que surgem de mudanças estruturais
(MATURANA, 1998, p. 71).

O fato de adentrar e permanecer em uma organização faz com que o indivíduo necessite
conhecer, entender e aprender para ampliar as normas, os valores, as distintas maneiras de
se posicionar e executar todas as atividades em conformidade com as expectativas aguarda-
das pela organização. Essa trajetória começa, de fato, com a entrada do indivíduo na orga-
nização e persegue toda sua trajetória socioprofissional na organização (ROBBINS, 2006).

58 qcapítulo 3
CONCEITO
Administrar é manter renovada a cultura organizacional. Em uma época de
grandes transformações, administrar a instabilidade demanda estratégia da Modus operandi
empresa que corresponda a valores (cultura e filosofia empresarial), orienta- Condições que nas organizações de-
ções (políticas) e planejamento da ação (estratégias) (MATOS, 2008, p. 42). signam a maneira de realizar variadas
atividades mediante certa padronização
para o seu adequado funcionamento.
Ainda para Maximiano (2007, p. 420), cultura organizacional “com-
preende normas de conduta, valores, rituais e hábitos das pessoas de
uma organização”.
Em relação à cultura organizacional, pode-se perceber diante de to-
das as exposições que são traços representativos que materializam os
conhecimentos e saberes das organizações mediante seus ambientes;
por conseguinte, proporcionando personalização de todas as suas ativi-
dades a partir de suas particularidades.

Clima organizacional

O clima organizacional refere-se ao ambiente interno que existe entre os


participantes de uma empresa e está relacionado com o grau de motivação
de seus participantes. Ele é a qualidade do ambiente organizacional, que é
percebida ou experimentada pelos participantes da empresa e influencia o
seu comportamento. O clima trata especificamente das propriedades moti-
vacionais da organização, ou seja, daqueles aspectos internos da empresa
que levam ao surgimento de diferentes espécies de motivação nos seus
participantes (SAUAIA, 2008, p. 33).

O clima organizacional é a materialização das influências organiza-


cionais. Caracteriza-se pela condição de ser, estar e vivenciar a cultura da
organização; logo, (re)significando-se por meio de seu modus operandi.
Sob um ângulo semelhante, o clima nas organizações está funda-
mentado no ambiente vivenciado onde as diferenças peculiares do
contexto organizacional (Cultura) passam a influenciar os seus compo-
nentes, essencialmen-
te, no que se refere ao
ENTE ORGANIZACIONAL
AMBI desempenho de suas
GAN
TURA OR IZACIONAL
CUL atividades laborais e/ou
socioculturais.
CLIMA
Figura 3 — O clima organi-
zacional integrado à Cultura
e Ambiente organizacional

capítulo 3 q59
Para Maximiano (2007, p. 420), o clima organizacional é o “produto dos sentimentos
individuais e grupais criados pelas propriedades objetivas e elementos da organização”.
Sob outra ótica, o clima organizacional influencia vários aspectos marcantes e deter-
minantes nas organizações, como: a motivação, o desempenho humano, a satisfação e o
prazer no trabalho. Além do mais, favorece algumas expectativas que se revertem em ações
diferenciadas; assim, aguardando sempre compensações, satisfações e frustrações na base
de suas percepções do clima organizacional (CHIAVENATO, 2003).

O clima organizacional é favorável quando proporciona satisfação das necessidades pessoais dos
participantes, produzindo elevação do moral interno. É desfavorável quando proporciona frustração
daquelas necessidades. (CHIAVENATO, 1994, p. 53)

Em uma mesma tendência, pode-se perceber que o clima organizacional transforma-se em


variadas circunstâncias que afetam muito as atividades laborais na organização. Para tanto, tais
causas também variam e incomodam os componentes da organização nos mais variados as-
pectos — políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais, cognitivos e psicológicos.
Corrobora-se a expressividade da questão em pauta — clima organizacional — pela sua
ampla abrangência e complexidade. Assim, mostrando suas diversas concepções, percep-
ções, valores, atitudes e sentimentos relativos à organização e suas respectivas ações, as
quais asseguram credibilidade e consequente visibilidade às partes envolvidas.

Comportamento organizacional

É fundamental que todos na organização tenham plena consciência dos valores imprescindíveis
norteadores das ações e comportamentos. Condição capaz de tornar manifesto os traços mais im-
portantes do ambiente organizacional; assim, o tornando mais responsivo às iminentes demandas
socioambientais (MARUJO, 2013, p. 78).

Acredita-se que o comportamento organizacional é base do clima organizacional e ao


mesmo tempo o influencia e, ainda, nessa mesma condição, respectivamente, retroalimen-
ta a cultura organizacional pelo fato de promover o seu desenvolvimento.
A referida interdependência mostra o quanto o comportamento organizacional precisa
romper com o conhecimento compartimentalizado e, assim, favorecer o diálogo aberto com
as variadas ciências e áreas de conhecimento tão necessárias à compreensão ambiental.

As mudanças no ambiente, em si e por si mesmas, não exercem um impacto significativo no de-


sempenho organizacional ou individual. Mas elas podem fazer com que certos comportamentos dos
funcionários se tornem mais fáceis ou não de serem executados. Desse modo, os desempenhos
do funcionário e da organização podem ser aumentados ou reduzidos (ROBBINS, 2006, p. 468).

O comportamento organizacional associa distintos elementos: pessoas, estrutura,


tecnologia e ambiente. Observa-se que essa associação compreende variáveis expressivas
sobre a natureza das pessoas e das organizações. Por isso, os membros das organizações

60 qcapítulo 3
estão no centro de toda organização/sociedade e por seu intermédio desempenhando com
pertinência as suas atividades com criatividade, criticidade, inventividade e competência
(DAVIS; NEWSTROM, 1998).
Quando do convívio e da vivência profissional em diferentes organizações proporcio-
narem mais conhecimentos sobre os contextos, passa-se a perceber que o comportamento
organizacional também estimula a produtividade e a melhoria do padrão do ambiente.

O ser humano é o único ser vivente que se pergunta sobre o sentido de sua vida. Educar para
sentir e ter sentido, para cuidar e cuidar-se, para viver com sentido em cada instante da nossa vida.
Somos humanos porque sentimos e não apenas porque pensamos. Somos parte de um todo em
construção (GADOTTI, 2005, p. 37).

Além disso, o cotidiano profissional converte-se em um campo fértil à expansão de co-


nhecimento, de competências e de habilidades capazes de redimensionarem a capacidade
dos seus membros (colaboradores).
Perante as concepções apresentadas entende-se que a motivação tem uma significativa
participação na composição do comportamento organizacional, fator que se torna neces-
sário para se buscar continuamente o crescente desempenho dos profissionais e também
da organização.

Ambientalismo

O ambientalismo é um movimento organizado que congrega cidadãos, empresas e agências go-


vernamentais engajados, com a finalidade de proteger e melhorar o ambiente em que vivemos
(KOTLER; ARMSTRONG, 2007, p. 526).

O ambientalismo e suas tendências objetivam apresentar um panorama capaz de mate-


rializar a expressividade do ambiente organizacional comum da aldeia global (LEVY, 2000).
Ainda, apresentar que essa conjuntura contemporânea afeta e interfere tanto nos contex-
tos (formas) quanto nas necessidades humanas (conteúdos).
Em uma sociedade em que a conexão com o global converte-se em cena real, que a po-
pulação está mais esclarecida e conhecedora de seus direitos, empresas mais associadas às
altas tecnologias e governos mais acessíveis, sinaliza-se a necessidade de governança em
que atores protagonizariam todas as propostas para o desenvolvimento.
Sob um foco mais abrangente, a geopolítica internacional nos dias atuais ratifica suas re-
lações diretas e indiretas com a política e com a economia nessa mesma perspectiva: mundial.
Apesar disso, precisa-se ancorar nestas variáveis — política e economia — para se re-
pensar nossas necessidades formativas, as quais nos propiciarão vivenciar e, por conse-
guinte, demandar estratégias mais ousadas às organizações.
A sociedade capitalista vem priorizando tais variáveis por serem possíveis de promover
o crescimento e o progresso. Mas afinal, qual progresso se deseja alcançar?
Neste momento, considera-se muito pertinente diferenciar crescimento de desenvolvi-
mento, especialmente no que se refere o progresso das diferentes sociedades.

capítulo 3 q61
Em geral, sem estabelecer parâmetros com variáveis específicas, pode-se entender que:
O crescimento visa a um aumento sem precedentes com foco em determinada questão.
Já o desenvolvimento busca uma relação com certa(s) situação(ões) a fim de favorecem
várias outras. Para Furtado (1996), o desenvolvimento se relaciona também ao grau de sa-
tisfação das necessidades humanas.

Podemos resumir a evolução da ideia de desenvolvimento, no último meio século, apontando para
a sua complexificação, representada pela adição de sucessivos adjetivos — econômico, social,
político, cultural, sustentável... (SACHS, 2004, p. 37).

De agora em diante, passa-se a entender o ambiente como parte do todo, ambiente global,
que tanto integra e ao mesmo tempo é integrado pelos diferenciados ambientes organizacionais.
Outro movimento na contracorrente das políticas atuais que vem ganhando muita for-
ça nas últimas décadas, principalmente por aliar o ambiente à sustentabilidade e que de-
fende a importância dos recursos naturais à sobrevivência do planeta, é conhecido como
ambientalismo sustentável.

Um número cada vez maior de empresas está adotando políticas de ambientalismo sustentável —
desenvolvimento de estratégias que não somente conservam o ambiente, mas também geram lucros
para a empresa. A sustentabilidade é crucial, porém difícil (KOTLER; ARMSTRONG, 2007, p. 526).

Esse movimento vem se expandindo bastante e buscando maior sensibilização sobre


a emergência da temática em questão — ambiente — em uma crescente e incontestável
sociedade que, apesar de entender sua importância, não consegue promover alternativas
mais sustentáveis para a sua desenvoltura com mais respeito e dignidade para o ser huma-
no e para o planeta.
Em conformidade com a proposição apresentada e também mencionada por Kotler e
Armstrong (2007), o ambientalismo sustentável passa ser uma condição indispensável à
previsão e por consequência ao provisionamento do ambiente organizacional.

Desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer


a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades. (NFC, 1991, p. 46)

Assim sendo, não se compreende na atual conjuntura o desenvolvimento de um am-


biente organizacional que não esteja fundamentado na perspectiva da sustentabilidade
como condição provedora de responsabilidade socioambiental.
Para tanto, a sustentabilidade deverá passar a ser entendida na seguinte dimensão:

A sustentabilidade na sociedade contemporânea passa a ser uma incontestável condição para o de-
senvolvimento das organizações, do mercado e, consequentemente, da sociedade. Pois tal condição
precisa ser necessária e simultaneamente empreendida de forma a contemplar as variáveis — políti-
ca, econômica, social, ambiental e cultural — como promotoras de responsabilidade socioambiental
(MARUJO, 2013, p. 12).

62 qcapítulo 3
Essa proposição fundamenta-se em uma sociedade em que o desenvolvimento deve ser
orientado de forma que a atenção com as condições já citadas propiciem alternativas mais
ambientáveis capazes de favorecerem a qualidade de vida.
Com esse entendimento, a sustentabilidade converge-se em um eixo motriz capaz de fa-
vorecer a evolução e o progresso das políticas globais. Em consequência, se apresenta como
um paradigma emergente dominante que vem propondo o recrudescimento econômico, sim,
entretanto não desprezando as demais variantes sociais como intensamente vem ocorrendo.
Com a mesma semelhança, o socioambiental também deve ser compreendido como a
unidade constituída do global e do local como dispositivo necessário para todas as propo-
sições favoráveis à ascensão das organizações.
O ambientalismo vem demonstrando que a relação ambiental está mais comum às so-
ciedades e que antes de ser uma necessidade é, sem dúvida, uma questão de sobrevivência.

Sustentabilidade se define como um princípio de uma sociedade que mantém as características


necessárias para um sistema social justo, ambientalmente equilibrado e economicamente próspero
por um período de tempo longo e indefinido (NFC, 1987, p. 34).

É certo da maior responsabilidade e comprometimento de todos com o ambiente. Des-


sa maneira, compreende-se que uma melhor harmonização dos atores sociais — cidadãos,
empresas, governos e terceiro setor — torna-se fundamental para o benefício das gerações
presente e futuras. Enfim, trata-se de um desafio especial para todos.

Ambiente global e suas influências

A era planetária construiu e desenvolveu uma realidade transcultural que associa as diferentes cultu-
ras em uma cultura mundial simultaneamente una e diversa (MORIN, 2013, p. 63).

O ambiente no decorrer do texto foi desenhado como sistêmico e complexo com a intenção
de contribuir para se compreender melhor a organização diante dos inúmeros desafios globais.
O ambiente organizacional não está dissociado em hipótese alguma do ambiente glo-
bal. Daí, a necessidade de apresentar um panorama das tendências globais e suas ques-
tões possíveis de provocar interferências diretas e/ou indiretas nos diversos ambientes,
tanto presente quanto futuro.
Toda essa explanação pretende tornar o ambiente organizacional mais integrado ao
ambiente global e local, sobretudo pela incondicional necessidade de pensar globalmente
para agir localmente (NFC, 1991).

REFLEXÃO
As fronteiras nacionais estão se tornando cada vez mais insignificantes na definição de fronteiras de ne-
gócios. Os avanços na tecnologia da comunicação e as reduções às barreiras comerciais entre as nações
contribuíram para a criação de uma aldeia verdadeiramente global (ROBBINS, 2006, p. 6).

capítulo 3 q63
Acredita-se que tal proposição torna-se uma premissa essencial para se demandar
ações mais agregadas para, com as múltiplas necessidades das organizações frente às no-
vas ações, consolidarem seus respectivos ambientes.
Em uma projeção real com o mundo atual, considera-se interessante mostrar de qual
sociedade se comenta nessa investigação: uma sociedade capitalista movida por estraté-
gias que priorizam, pura e simplesmente, o desenvolvimento econômico a qualquer custo.
Essa tendência de desenvolvimento está muito clara e, ainda, suas ações não se harmo-
nizam com uma sociedade que respeita os seus distintos ambientes, sequer o ser humano.
A carência de políticas globais mais responsáveis vem ampliando as problemáticas sobre
o crescimento desenfreado de ambientes e pessoas, especialmente nos grandes centros
urbanos, onde hoje se encontra quase 60% da população do planeta (a previsão da ONU é
de que nas próximas duas décadas esse percentual seja de 70%).
Atualmente, com uma população global de aproximadamente 7,2 bilhões (previsão de 9,6
bilhões em 2050) sinaliza-se, minimamente, um alerta sobre como a natureza — ambiente —
proverá tantos recursos se o consumo se mantiver incontrolável e insustentável (ONU, 2014).
Parte-se desse cenário preocupante para apresentar a política e a economia como fato-
res que mais problematizam o desenvolvimento sustentável do planeta.
O ambiente vem sendo dominado pelo poder político-econômico, o qual somente se
condiciona ao seu autodesenvolvimento, logo desprezando e/ou colocando em um segun-
do (terceiro, quarto...) plano todas as demais condicionantes sociais tão expressivas para
um desenvolvimento capaz de promover uma melhor qualidade de vida à população.
Julga-se necessário esclarecer que, a partir desse momento, o desenvolvimento deve ser
progressivamente contemplado de forma que o político, econômico, social, ambiental e
cultural estejam associados, necessária e interdependentemente, ao global e o local; sendo
considerados, assim como os conhecimentos, a tecnologia e a inovação, como variáveis
indispensáveis para retroalimentar o processo.

REFLEXÃO
Os avanços podem ser feitos se a formação se libertar do mercado e não continuar refém dele. Não ficar
muito distante do que se pratica no trabalho, mas também não ser dependente (MOTTA, 1998, p. 57).

Motta (1998) mostra que o ambiente de mercado é, ao mesmo tempo, importante e pe-
rigoso, porque a aproximação é necessária, embora a dependência passe a se constituir em
um problema. Esses fatores denotam muito bem o quanto o ambiente é cheio de situações
indesejáveis, mas que deve ser vivenciado em sua essência, porém com maiores distinções.
O ambiente nessa dimensão constitui-se em questão emergentíssima que, antes de ser um
espaço comum a todos, é a base indispensável para o desenvolvimento. Pois, converte-se em
questão potencialmente possível à criação de novos ambientes (organizacionais), em especial
quando orientada pela tecnologia e inovação na constante busca pelo autodesenvolvimento.
Ainda, as exposições revelam que, na busca de uma adaptação estratégica além da pre-
dominância de um comportamento que contemple uma visão mais sistêmica e complexa,
a organização sofre com intensas influências das políticas governamentais globais e locais.
Assim, essas políticas atuais em seus mais variados níveis influenciam as organizações,
sobretudo quando denotam sua ausência nas interferências diretas sobre o ambiente com

64 qcapítulo 3
forte determinação ambiental; logo, reduzindo a tensão ambiental em prol do desenvolvi-
mento das organizações.
Ter uma metavisão sobre o ambiente (percepção necessária do ambiente sob vários ân-
gulos e pontos de vista) é muito importante. Esta condição nos impulsiona para a expansão
do cenário em evidência, em que variadas áreas fazem-se necessárias para tal composição
e, consequentemente, proporcionam um melhor entendimento sobre o cenário global e
sua potencialidade.
O ambiente global, sem nenhuma dúvida, é um espaço muito influenciado por variados
fatores. Essas influências são originadas de toda relação homem e natureza. Portanto, o
desafio está em promover uma simbiose maior onde as partes em questão saibam respeitar
os seus próprios limites.
Por meio de uma influência mais tecnológica, a Tecnologia da Informação e da Comu-
nicação (TIC) passa a ser nesse processo, não mais um ator, mas uma variável de integração
do homem com a natureza de forma a promover um desenvolvimento capaz de respeitar e
privilegiar as partes.

Considerações finais

A globalização, a ocidentalização, o desenvolvimento são, assim, os três alimentos da mesma dinâmi-


ca que produz uma pluralidade de crises interdependentes, justapostas, entre elas a crise cognitiva,
as crises políticas, as crises econômicas, as crises sociais que por si sós, produzem as crises da
globalização, da ocidentalização, do desenvolvimento. A gigantesca crise planetária é a crise da hu-
manidade que não consegue atingir o estado de humanidade (MORIN, 2013, p. 33).

O início dessas considerações busca apresentar o ambiente em sua plenitude diante


de suas mutáveis relações com uma sociedade humana que prima cada vez mais por um
mundo melhor para todos.
Essas considerações demonstram que as mudanças convergem-se no diferencial —
inovador — para se administrar melhor e com mais coerência o ambiente organizacional.

REFLEXÃO
Inovação é um tipo especial de mudança. Conquanto mudança se refira a tornar as coisas mais diferentes,
inovação diz respeito a uma ideia nova aplicada à criação ou melhoria de um produto, processo ou serviço.
Por isso, todas as inovações envolvem mudança, mas nem todas as mudanças envolvem necessariamente
ideias novas ou conduzem a melhorias significativas (ROBBINS, 2006, p. 474).

Na era da informação, não poderíamos deixar de tecer o fechamento trazendo às refle-


xões sobre o ambiente organizacional duas variáveis tão expressivas: mudança e inovação.
O pensar global faz com que as mudanças se convertam em reais necessidades para se pro-
mover ações norteadas por inovações mais eficazes, eficientes e efetivas para com as constantes
demandas de um mercado extremamente competitivo. Espera-se que a competitividade se reo-
riente mais harmonicamente com a essência da competitividade citada na sequência.

capítulo 3 q65
A competitividade é a nossa capacidade de produzir bens e serviços que passem no teste da com-
petição internacional, enquanto nossos cidadãos desfrutam um padrão de vida que seja ao mesmo
tempo crescente e sustentável (KRUGMAN, 1999, p. 6).

As constantes modificações, o crescimento das organizações, a concorrência travada


por essas organizações, o desenvolvimento tecnológico, os fenômenos econômicos da in-
flação e a internacionalização das atividades exigem novas formas, outros modelos de or-
ganização onde as problemáticas socioambientais possam favorecer a construção de uma
mentalidade compatível com os novos desafios do mundo global e local, com a finalidade
de transformar esses problemas em oportunidades.
Essa condição caracteriza muito bem o que o ambiente organizacional representa: po-
líticas desencontradas e estratégias divergentes em que os protagonistas não encontram
objetivos comuns.
Contudo, tentar repensar e redimensionar esse ambiente — organizacional — diante de
tantas ameaças e oportunidades passa a ser um desafio considerável para os administradores.
São essas condições que influenciam e proporcionam a (re)construção e/ou desconstru-
ção de uma cultura capaz de tornar o ambiente organizacional mais responsivo às deman-
das de um mercado cada vez mais orientador da sociedade.
A cultura organizacional é fator preponderante na formação de seus componentes e
da própria organização. É a sua marca, a sua base para construção de um processo cons-
titutivo capaz de promover uma personalidade singular moldada com base em valores
intangíveis, como a ética, a moral e o profissionalismo, atualmente tão esquecidos na
sociedade contemporânea.
Igualmente, a cultura é um interessante balizador capaz de proporcionar o alinhamen-
to entre os ambientes, embora se compreendam interdependentemente, ainda que se con-
verta em um fator que contribua para uma melhor aproximação dos variados ambientes
das organizações.

REFLEXÃO
A Administração fixa o tom para a cultura da organização tanto por aquilo que ela diz (estratégia) como por
aquilo que ela faz (comportamento). E a administração precisa encorajar o conflito funcional. A chave para
desencadear a franqueza real no trabalho é ensinar as pessoas a desistir da obrigação de estar de acordo.
É necessário explicitar os paradoxos, os conflitos e os dilemas, para que coletivamente possamos ser mais
inteligentes do que individualmente (ROBBINS, 2006, p. 478).

Essa citação de Robbins (2006) materializa tudo que deveria acontecer, mas não aconte-
ce nas organizações: a propensão às reflexões de maneira que os conhecimentos — experi-
ência, acadêmico, profissional — integrados às necessidades ambientais criem sempre no-
vas alternativas com base em consensos democráticos capazes de favorecer a todos, assim
como favorecer a organização.
São espaços às reflexões como esses — democráticos, livres, responsáveis e com-
prometidos — que criam o clima organizacional que, infelizmente, não é comum na
maioria das organizações.

66 qcapítulo 3
Essencial às organizações, o clima organizacional é um componente fundamental à
proliferação de conhecimentos e saberes diferenciados e à promoção de uma cultura me-
diante essas condições, a qual contribuirá para impulsionar a organização por um cami-
nho mais estável e sustentável.
Acredita-se que a criação de um ambiente organizacional sustentável — ambiente de
contínua aprendizagem — se constituirá em um ambiente que aprende. Nessa perspectiva,
esse ambiente que aprende passa a desenvolver uma capacidade continuada às adequa-
ções, adaptações e necessárias mudanças comuns do ambiente global.
Em consequência, todos os componentes (pessoas, talentos, colaboradores etc.) da or-
ganização aprendem, situação que estará condicionada à essência do ambiente e que não
dependerá da vontade própria de cada qual de seus componentes; por conseguinte, consi-
dera-se requisito indispensável para sua sobrevivência.
Os referidos componentes oportunizam as organizações a reorientarem o seu próprio
comportamento com base em seus membros, assim passando a reescrever normas de con-
duta, simplesmente guiada por ações condizentes com o seu próprio ambiente. Fator esse
que cabe ressaltar, por evidenciar o dinamismo da sociedade atual — os movimentos am-
bientais — que está cada vez mais se propagando por conta de uma população mais escla-
recida e que está fazendo valer sua condição de cidadã.
Em especial, as organizações estão também se adequando a políticas mais comprome-
tidas com a população. Observa-se o aumento das ações de responsabilidade socioambien-
tal das organizações com comunidades, geralmente em seu entorno, o que também confir-
ma o seu comprometimento com uma sociedade melhor; no entanto, tais ações ainda são
muito isoladas e inexpressivas.
Todas essas condições estão relacionadas ao maravilhoso, mas vulnerável, ambiente
global. A instabilidade política global desestabiliza todo o ambiente local. Contudo, o Bra-
sil dos dias atuais convive com momentos políticos menos instáveis, o que ratifica a sua
capacidade de lidar com as constantes mudanças.
Finalmente, considera-se que a melhor compreensão sobre o ambiente organizacio-
nal mediante a proposição — sistêmica e complexa — pode contribuir muito para torná-lo
mais responsivo diante de todas as demandas e novidades advindas do ambiente global.

capítulo 3 q67
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68 qcapítulo 3
4
Níveis
organizacionais e o
processo decisório

andré luiz parreiras


4 Níveis organizacionais e o
processo decisório
O mundo que conhecemos hoje é um mundo de organizações que fornecem produtos e ser-
viços para que a sociedade tenha suas necessidades e desejos atendidos. Essas necessidades
surgem em inúmeros momentos da vida das pessoas, sendo algumas delas: saneamento, ener-
gia, saúde, alimentação, entretenimento, educação, vestuário entre outras. Além disso, as orga-
nizações, obviamente, proporcionam a troca de trabalho por diversas formas de remuneração.
As organizações assumiram tamanha importância na vida das pessoas que, pratica-
mente, tudo que existe hoje tem como pano de fundo a estrutura de uma organização, seja
ela ligada direto ao mundo físico ou ao mundo virtual.
Para que determinado nível de qualidade de vida seja alcançado, é preciso que as orga-
nizações sejam sadias, sustentáveis, éticas e com responsabilidade social, e isso pode ser
conquistado por meio da excelência no desenho e no desempenho se suas estruturas.
Essas estruturas são compostas por pessoas que ocupam diferentes posições com dife-
rentes níveis de responsabilidades e autoridades. A divisão do trabalho, que se caracteriza
pela especialização do funcionário ou grupos de funcionários para a melhoria da produ-
ção, é um componente vital para a eficiência e eficácia na realização dos objetivos por meio
de estratégias e planos de ação.
Associado a cada nível organizacional, apresenta-se, cada um dentro do seu grau de im-
portância e impacto, um grande volume de tomadas de decisão, que são realizadas diaria-
mente para que a estrutura como um todo possa responder de forma adequada aos grandes
desafios dos tempos atuais.
O processo de globalização que se iniciou nos anos 1980 com uma entrada vigorosa no
cenário competitivo mundial das empresas asiáticas, junto com a evolução das tecnolo-
gias tanto de comunicação quanto de produção, transformou o mundo em um ambiente de
grandes incertezas. A velocidade com que os novos e inesperados acontecimentos surgiam
aumentava cada vez mais. Ter informação de qualidade, no tempo certo, e compartilhá-la
na estrutura da organização, tornou-se um fator crítico de sucesso na tomada de decisão
para o alcance dos objetivos organizacionais.
As decisões podem ser divididas em:

Mais rotineiras e relacionadas aos níveis mais técnicos da organização e,


PROGRAMADAS portanto, muito previsíveis.

O nível de incerteza pode ser elevado em função das mudanças e variações


NÃO
dos acontecimentos no meio externo à organização e são associadas aos
PROGRAMADAS tomadores de decisão no seu nível mais elevado de decisão, o estratégico.

O processo decisório também é dividido em etapas que serão apresentadas e discutidas


na sequência deste capítulo. Como veremos ao final desta seção, a tão desejada racionali-
dade total nas decisões é uma utopia, pois as pessoas que tomam decisões não possuem
informações completas de todas as variáveis e são influenciadas por seus valores, crenças e
preferências, tornando a racionalidade limitada.

70 qcapítulo 4
Os três níveis organizacionais
Para lidar com os grandes desafios e mudanças do mundo atual, as organizações se estru-
turam por meio de três níveis que podem ser descritos como:

Este é o nível mais elevado da organização. Nele são tomadas as principais


decisões para o futuro da organização. É composto por proprietários, acionistas
majoritários e os altos executivos ou alto escalão, formado por executivos das
diversas áreas, sendo o principal deles o Presidente ou CEO (Chief Executive
NÍVEL Office). Sua principal preocupação é observar o mundo externo onde eventos
INSTITUCIONAL cada vez mais incertos e fora de controle podem impactar de forma drástica o
OU ESTRATÉGICO resultado esperado da organização.

Neste nível é elaborado o que se vai alcançar no futuro, ou seja, a visão da


organização para a sustentabilidade no mercado do seu negócio estabelecendo
as diretrizes, valores e políticas que devem ser permeadas pela organização.

Este nível é também chamado de gerencial por seu caráter mediador entre os
níveis estratégico e operacional. Lida com a captação dos recursos para por em
prática as decisões tomadas pelo nível superior. É composto por profissionais
NÍVEL
de média gerência com a responsabilidade de traduzir as estratégias definidas
INTERMEDIÁRIO para o alcance dos objetivos em planos de ação que serão executados pelo
OU TÁTICO nível operacional. É o grupo de pessoas que deve agir sempre que houver um
desalinhamento entre a execução e os objetivos estabelecidos, redefinindo
ações e prioridades.

Conhecido como o nível mais técnico que concentra o maior número de


pessoas e tem como responsabilidade fazer com que a execução programada e
cotidiana dos planos de ação aconteça de forma eficiente, ou seja, com a boa
utilização dos recursos e no tempo certo. Está diretamente associada à
produção de bens e serviços.
NÍVEL
OPERACIONAL Neste nível, os funcionários e/ou colaboradores têm contato direto com
máquinas e equipamentos das linhas de montagem, e em se tratando de
serviços, no contato direto com o público externo pelos balcões de atendimen-
to. O grau de cumprimento de rotinas e procedimentos deve obedecer a uma
regularidade e continuidade, limitando ao máximo o nível de incertezas dos
processos em execução.

Para Chiavenato (2004), cada nível dentro da organização tem como foco sua realidade
na busca de resultados, que variam em abrangência com relação ao grau de incerteza e sua
lógica de sistema aberto ou fechado (figura 1).

capítulo 4 q71
Definição da visão, objetivos e
Nível ALTO GRAU DE INCERTEZA
estratégias, além das políticas
institucional
gerais. Lógica de
ou estratégico
Altos executivos e acionistas sistema aberto

Definem os planos de ação


Nível MEDIAÇÃO ENTRE O GRAU
para o alcance de objetivos e
intermediário
estratégias.
DE INCERTEZA E A
ou gerencial LÓGICA DO SISTEMA
Média gerência

Execução das rotinas e


Nível INCERTEZA LIMITADA
procedimentos básicos na
operacional
produção de bens e serviços. Lógica de
ou supervisão
Técnicos e demais colaboradores sistema fechado

Figura 1— Níveis organizacionais e relações — Adaptado de Chiavenato (2004)


O grupo de nível intermediário ou gerencial merece uma especial atenção, pois enfrenta os
desafios tanto do lado das incertezas, quanto da maior racionalidade das rotinas e procedimen-
tos. Deste nível exigem-se maior flexibilidade e capacidade de adaptação às variações externas
para que causem poucos impactos ou perturbações no nível operacional, que não possui muita
flexibilidade para mudança. Manter o equilíbrio, absorver fortes impactos e assegurar a opera-
ção no rumo estabelecido são grandes desafios dos administradores no nível tático-gerencial.
Nas organizações, as pessoas não atuam isoladamente, mas por meio de interações ali-
nhadas com os objetivos comuns a toda a estrutura. O maior ou menor grau de interação
tem grande influência no resultado final dos planos e projetos executados. Segundo Chia-
venato (2008), a colaboração entre as pessoas está relacionada às vantagens e satisfações
que cada indivíduo percebe na sua relação direta com o trabalho.

RESUMO
Nos três níveis organizacionais apresentados, as pessoas estão continuamente tomando decisões, sejam
relacionadas ou não ao trabalho que estão responsabilizadas nas suas funções. Sendo assim, pode-se
entender uma organização como um local onde um complexo processo de decisões programadas e não
programadas acontece e dita o rumo e a velocidade com que os objetivos serão alcançados.

O processo decisório
Tomamos várias decisões no nosso dia a dia: Qual restaurante ir à noite? Para onde iremos
nas férias? Qual carro comprar? Onde estudar? Uma organização pode ser compreendida
como um complexo sistema de decisões em que alternativas são apresentadas para o me-
lhor alcance dos objetivos definidos no seu planejamento. Todos os níveis da organização
tomam decisões diariamente. Os tomadores de decisão seguem preferências e estudam a
melhor estratégia (melhor caminho) para pôr em prática sua decisão.

72 qcapítulo 4
REFLEXÃO AUTOR
Se existem alternativas, há uma decisão a ser tomada e mesmo quando existe ape- Chester Barnard
nas uma opção para a resolução de um problema, também uma decisão deve ser Chester Irving Barnard (1886–1961) foi
tomada: de seguir ou não adiante com a única opção. No universo organizacional, es- um pensador da Escola das Relações
colher a melhor opção de ação pode ser a diferença entre estar competitivo ou não. Humanas, corrente da Administração,
surgida com a Crise de 1929. Foi o cria-
O conceito de tomada de decisão foi introduzido no mundo da Admi- dor da Teoria da Cooperação, em que es-
nistração por Chester Barnard por volta de 1938, onde foi feita a distin- tuda a autoridade e a liderança, e um dos
ção entre decisões pessoais e decisões organizacionais. Mas é creditada primeiros teóricos da administração a ver
a Herbert Simon, economista e psicólogo norte-americano, a origem da o homem como um ser social, e a estu-
Teoria das Decisões, que ele concebeu para explicar o comportamento dar suas organizações informais dentro
humano nas organizações. das empresas. Para ele, as organizações
Segundo Simon, a organização é um sistema de decisões no qual cada eram sistemas sociais que exigiam coo-
indivíduo participa de forma consciente (racional) ou inconsciente por peração.
meio de decisões pessoais a respeito de alternativas racionais de comporta-
mento e limitadas pela dificuldade de se obter informações completas, ela-
borando, então, estratégias reducionistas para a resolução de problemas. AUTOR
Henry Mintzberg, posteriormente, e contrapondo a abordagem do
processo administrativo de Henry Fayol, descreve os diferentes tipos de Herbert Simon
tomadores de decisão com foco na área gerencial, em que os gerentes Herbert Alexander Simon (1916–2001)
respondem com velocidade às variações e mudanças no ambiente orga- foi um economista estadunidense e pes-
nizacional, ao invés de obedecerem a um processo sistemático de exe- quisador nos campos de psicologia cog-
cução (CHIAVENATO, 2006; PECI e SOBRAL, 2008; MINTZBERG, 2010). nitiva, informática, administração pública,
As decisões podem ser conceitualmente definidas como uma esco- sociologia econômica e filosofia. Rece-
lha entre diversas alternativas possíveis para que o administrador possa beu o Prêmio Nobel de Economia em
alcançar uma nova situação desejada e, assim, resolver um problema ou 1978, pela sua "pesquisa precursora no
aproveitar uma oportunidade. Ao final da execução, ou mesmo no seu processo de tomada de decisões dentro
andamento, novos problemas ou oportunidades podem surgir e, assim, de organizações econômicas".
realimentar (feedback) o processo para novas decisões. Essas etapas es-
tão visualizadas na Figura 2 a seguir.
CURIOSIDADE
IDENTIFICAÇÃO DO
TOMADA DE ANÁLISE DO
PROBLEMA OU EXECUÇÃO Decisão
DECISÃO RESULTADO
OPORTUNIDADE
A palavra decisão é originada do latim
de+caedere em que “de” (extrair, fora)
FEEDBACK
se antepõe a palavra “caedere” (parar
Figura 2 — Etapas do processo de decisão — Adaptado de Maximiano (2004) de cortar ou deixar de fluir). Levando
em consideração esse significado, po-
Dois elementos cruciais para a tomada de decisão são: a informação demos entender o ato de decidir como
e a comunicação da informação. um julgamento com o objetivo de encer-
Existem diversas visões sobre a palavra “informação” que podem rar algo, finalizar (GOMES e GOMES e
ser pesquisadas pelo estudante com muita facilidade. A definição bá- ALMEIDA, 2012).
sica vem do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa: dados acerca de
alguém ou de algo.

capítulo 4 q73
Ter uma informação vital pode causar transformações, de ordem quantitativa ou quali-
tativa, no sistema organizacional. Quantitativa, por exemplo, quando podemos facilmente
mensurar e comparar os resultados de desempenho interno e/ou externo da organização.
Qualitativa, quando usamos a informação para aprofundamento e estudo de novos concei-
tos, comportamentos e/ou gerarmos hipóteses para serem testadas e avaliadas.
A qualidade da informação e como ela circula na organização podem trazer impactos
no desempenho, tanto positivos quanto negativos. Em uma época de grandes incertezas,
a qualidade da informação, a velocidade com que circula entre os níveis organizacionais e
sua disponibilização podem ser fundamentais para criar e manter uma vantagem compe-
titiva perante concorrentes.
Para que os níveis executivo, gerencial e operacional tomem decisões apropriadas e alinha-
das com os objetivos definidos no planejamento organizacional, a implantação de ferramen-
tas tecnológicas é de grande relevância para o desempenho da organização como um todo.
O sig (Sistema de Informação Gerencial) pode ser um grande aliado dos tomadores de
decisão se as informações forem inseridas com qualidade e no tempo apropriado. Para
apoio na tomada de decisão dos atuais gestores, ferramentas como softwares de BI (Busi-
ness Intelligence) estão cada vez mais presentes nas grandes e médias corporações. O gran-
de desafio dos gestores é transformar a informação em conhecimento (RODRIGUEZ, 2002).

Modelos de processos decisórios


A Teoria da Administração apresenta alguns modelos relacionados ao processo decisório.
São eles:

Procedimentos lógico-formais são priorizados e o tomador da decisão


MODELO CLÁSSICO
examina, inicialmente, os fins, antes de escolher os meios para a resolução do
OU BUROCRÁTICO problema. A escolha de melhor decisão irá garantir o sucesso do resultado.

Os gestores se utilizam de previsões sobre o comportamento das pessoas na


MODELO
organização, evitando situações desagradáveis que possam comprometer o
COMPORTAMENTAL sucesso das decisões.

MODELO O foco está no que deve ser feito. Utilizado para problemas recorrentes ou
NORMATIVO altamente previsíveis nos ambientes técnicos e/ou profissionais.

MODELO Foco na maximização dos objetivos definidos pela alta direção e acionistas
RACIONAL majoritários.

É importante evidenciar que um mesmo problema pode ser entendido de forma dife-
rente, por diferentes tipos de pessoas (ALMEIDA et al.). A tomada de decisão está atrelada a
fatores contextuais tais como:

74 qcapítulo 4
o ambiente de competição (dinâmico e altamente competitivo);

estrutura de poder (centralizada, distribuída...);

cultura (poder, valorização de pessoas, de projetos...);

características do tomador da decisão (analítico, inovador, proativo...);

complexidade e urgência do problema que será combatido.

Cada área funcional de uma organização vivencia, a todo o momento, a identificação


de questões que precisam ser respondidas pelos gestores para o melhor desempenho da
organização (SOBRAL e PECI, 2008). Alguns exemplos são:

Quais dos novos produtos receberão investimentos?


Qual a melhor política de preços?
MARKETING Como vamos desenvolver competências nos vendedores?
Como será a distribuição dos produtos?
Qual empresa será responsável pela propaganda?

Quais fornecedores serão utilizados?


Quais processos podem ter um melhor desempenho?
PRODUÇÃO Qual investimento para a atualização dos equipamentos?
Quanto deve ser produzido no mês?
Como melhorar a qualidade da produção?

Como promover um programa de novas lideranças?


Quais níveis salariais e benefícios devem ser implantados para retenção de
RECURSOS talentos?
HUMANOS Qual programa de treinamento de novas competências pode ser desenvolvido
para o próximo ano?
Qual estratégia seguir para a captação de talentos no mercado?

Quais investimentos devem ser priorizados?


Como será a política de distribuição de lucro para os funcionários?
FINANÇAS Quais metas de resultados financeiros serão cobradas?
Quais critérios serão aplicados na avaliação dos resultados financeiros?
Onde aplicar os recursos monetários da organização?

capítulo 4 q75
Riscos e incertezas
Risco pode ser definido como um acontecimento possível, mas de difícil previsão. A infor-
mação disponível é suficiente para que o administrador, por meio de técnicas estatísticas,
modelos matemáticos e até a sua própria experiência, seja capaz de encontrar uma chance
probabilística para que o evento aconteça e, assim, elaborar planos de contingência, tam-
bém conhecidos como planos de continuidade de negócios, para situações não desejadas.
Devido à impossibilidade de se ter um conjunto de informações completas sobre deter-
minada situação, as empresas vivem constantemente sob o domínio das probabilidades,
que são resultados dos impactos das diferentes variáveis que compõem o ambiente compe-
titivo de uma organização.

EXEMPLO
Um exemplo para ilustrar o risco seria a escolha de investimentos em outros países para a expansão das
atividades da organização. O setor de construção civil brasileiro optou há décadas por atuar em países da
África, do Oriente Médio e recantos da América do Sul, correndo riscos calculados oriundos das barreiras
de entrada, barreiras de saída, fatores culturais e demais aspectos do ambiente externo que afetam todas
as organizações em um mercado competitivo global.

Incerteza se apresenta quando o volume de informações é insuficiente para que os ad-


ministradores consigam definir as probabilidades (riscos) que estão associadas a cada al-
ternativa selecionada no panorama de decisão. As variáveis do ambiente externo à organi-
zação, como: que tipo de governo assumirá, descontrole cambial, iminência de conflitos e
quais leis serão aprovadas, entre outras, estão confusas, com transformações imprevisíveis
e totalmente fora de controle.

EXEMPLO
Os conflitos de rua acontecidos no Brasil, no ano que antecedeu a Copa do Mundo de 2014, trouxeram
um ambiente de incertezas para os grandes patrocinadores que se mobilizaram para tentar transformar a
incerteza em risco, ou seja, situações que podem matematicamente ser previstas. Por outro lado, pequenos
pontos de comércio foram seriamente afetados, sem que nada pudessem fazer a respeito e os prejuízos
foram enormes.

Dentro de cada nível organizacional, do estratégico ao operacional, temos níveis acei-


táveis de riscos e incertezas. Quanto mais lidamos com expectativas futuras em ambientes
de difícil controle, ou seja, externos a organização, mais conscientes dos riscos e incertezas
estão os administradores da alta gerência.
Por outro lado, dentro de um ambiente controlado, como os domínios internos da organi-
zação (capacidade de produção, qualidade do produto), busca-se nada menos do que a certeza
nas decisões tomadas. Outro resultado não esperado pode sugerir que houve negligência ou
falta de conhecimento das pessoas envolvidas e que algo precisa ser feito para corrigir imedia-
tamente a falha detectada. Cabem às gerências de médio escalão e operacionais a busca de
respostas rápidas para solucionar o problema (MAXIMIANO, 2004 e PECI e SOBRAL, 2008).

76 qcapítulo 4
NÍVEL NÍVEL NÍVEL
OPERACIONAL GERENCIAL / TÁTICO ESTRATÉGICO

CERTEZA RISCO INCERTEZA

Figura 3 — Risco no ambiente da decisão — Adaptado de Peci e Sobral, 2008

Ao observarmos a Figura 3, evidencia-se que as decisões estratégicas são as que envol-


vem maior risco e incerteza, com consequente dificuldade para previsão de resultados. Não
é por acaso que os cargos executivos de uma organização são os de melhores remunerações
e benefícios, mas também os de maior rotatividade.

REFLEXÃO
Segundo dados da consultoria Booz & Company, a taxa de rotatividade de CEOs (Chefes Executivos) no
Brasil chegou a 19,8%, em 2012, acima da média mundial de 15%, conforme noticiado pelo jornal O Globo,
em 26 de maio de 2013. Uma das conclusões da reportagem aponta que a taxa elevada observada para
os países emergentes acontece devido a grande influência de governos e modificações em leis que afetam
demasiadamente as organizações.

Tipos de decisão
Como vimos antes, de acordo com as variáveis dos ambientes externo e interno, do grau
de qualidade da informação disponível, além do nível organizacional em que a decisão será
tomada, podemos categorizar as decisões em programadas e não programadas. Vamos de-
finir melhor cada uma das duas.

Decisões programadas

São aquelas em que se conhece muito bem o resultado esperado. Problemas enfren-
tados anteriormente, cujas variáveis são plenamente conhecidas no seu comportamento
estatístico devido a sua recorrência e os mecanismos de monitoramento e controle, são
também bem desenvolvidos. As ações de correção já estão predeterminadas e fica mais
simples para o administrador agir.
Quando determinado lote apresenta os seus produtos fora da conformidade esperada,
mecanismos de correção são acionados para eliminar o problema. Não há gasto excessivo
de tempo, pois as definições de ações de correção já foram elaboradas. Quanto mais opera-
cional for o nível da decisão, mais a solução será padronizada em virtude do grande volume
de informação já armazenada e útil para resolver a situação não desejada.
Um problema maior ocorre quando não há a descoberta da falha na produção, por
exemplo, e o produto vai para o mercado, conforme veremos a seguir.

capítulo 4 q77
EXEMPLO
Em 2013, um determinado produto da marca Ades, pertencente à empresa Unilever, foi disponibilizado
para o mercado e, posteriormente, identificada a sua não conformidade com a legislação de saúde pública
brasileira, o que foi amplamente divulgado nas principais mídias do país.
O problema rapidamente foi corrigido na linha de produção (nível operacional), mas o arranhão na imagem da
marca foi profundo. Nesse caso, EFDJT—FTO¨PQSPHSBNBEBT tiveram de ser tomadas, para corrigir a mancha
na imagem e convencer o público consumidor de que há responsabilidade e segurança na fabricação de seus
produtos, mesmo com as indefinições sobre as reações da imprensa em geral e dos habituais consumidores.

As decisões programadas seguem determinados conjuntos de regras, procedimentos e


políticas previamente definidas e de fácil execução:

Normas bem claras de como agir diante de determinada situação.


Por exemplo, para entrar em determinados locais onde a segurança é
REGRAS essencial deve haver o uso de equipamento adequado definido pelas
normas de segurança.

Sequências para serem executadas diante de uma situação bem identifica-


da e estruturada. Por exemplo, a substituição de um equipamento defeituo-
PROCEDIMENTOS so por outro de semelhante desempenho ou uma manutenção preventiva já
previamente agendada e com todas as partes da organização orientadas de
como proceder.

Definem normalmente as atitudes e comportamentos que devem ser


seguidos pelos funcionários e colaboradores em geral, diante de uma
situação pouco estruturada, mas já recorrente. Não definem uma solução,
POLÍTICAS mas orientam o tomador de decisão no caminho a seguir, deixando espaço
para novos procedimentos. Como exemplo, a política da organização estabe-
lece que a relação com os fornecedores deve ser justa e sem favorecimentos
pessoais. Cabe ao administrador equilibrar suas ações e atitudes.

Decisões não programadas

São tomadas para resolver situações não padronizadas e, portanto, pouco frequentes e
que afetam de forma significativa a imagem e o futuro da organização. Levam mais tempo
para serem tomadas, pois o melhor entendimento e análise do problema ou oportunidade
podem demandar esforços não definidos e obtenção de informação ainda não disponível
dentro da organização.
A maioria dessas decisões acontece no nível estratégico da organização e seu resulta-
do afeta toda a estrutura da empresa. A partir do momento que o administrador alcança
responsabilidades mais elevadas e sobe no nível hierárquico, mais decisões não progra-
madas são tomadas por ele.
Nas decisões não programadas, o julgamento pessoal do administrador é essencial
para a melhor escolha entre as alternativas, uma vez que nem todas as informações
estão disponíveis.

78 qcapítulo 4
ATENÇÃO
Faz-se importante ressaltar que são poucas as situações em que existem certezas absolutas, assim como
total incerteza. Dessa forma, as decisões programadas não eliminam completamente o julgamento do
gestor, assim como as decisões não programadas também podem seguir alguns procedimentos e políticas
já estabelecidos na organização.

RESUMO
CERTEZA RISCO INCERTEZA

NÍVEL NÍVEL NÍVEL


OPERACIONAL GERENCIAL / TÁTICO ESTRATÉGICO

PROGRAMADA TIPO DE DECISÃO NÃO PROGRAMADA


Figura 4 — Tomada de decisão — Adaptado de Peci e Sobral, 2008

Etapas do processo decisório


A Teoria das Decisões, segundo Herbert Simon, engloba seis elementos essenciais para a
escolha dentre as alternativas elaboradas para a solução do problema em questão. São eles:

TOMADOR O foco está no que deve ser feito. Utilizado para problemas recorrentes ou
DE DECISÃO altamente previsíveis nos ambientes técnicos e/ou profissionais.

Onde se quer chegar com a decisão tomada, ou seja, quais resultados são
OBJETIVOS esperados após a decisão de agir ou não agir.

Quais parâmetros ou padrões darão suporte ao julgamento e preferências do


CRITÉRIOS tomador de decisão.

Qual caminho seguir para que os objetivos possam ser alcançados


ESTRATÉGIA levando-se em conta os recursos disponíveis.

AMBIENTE
Variáveis não percebidas e que estão fora do controle do tomador de decisão.
SITUACIONAL

A resposta das ações que foram executadas levando-se em conta a estraté-


RESULTADO gia elaborada.

capítulo 4 q79
O processo decisório pode ser dividido em etapas, sendo que o desempenho de cada
uma delas é vital para o sucesso dos resultados alcançados pela administração. Deve ficar
claro que o final do processo decisório pode desencadear novas oportunidades ou proble-
mas que serão tratados em um novo ciclo de etapas.

IDENTIFICAÇÃO DO
TOMADA DE ANÁLISE DO
PROBLEMA OU EXECUÇÃO
DECISÃO RESULTADO
OPORTUNIDADE

FEEDBACK
Figura 2 — Etapas do processo de decisão — Adaptado de Maximiano (2004)

Vamos explorar agora cada uma das etapas do processo decisório:

Identificação do problema e/ou oportunidade


Todo processo de tomada de decisão inicia-se com a identificação de um desconforto entre
a situação atual e uma situação desejada, que é percebido como um problema ou oportu-
nidade. Este é um grande desafio do administrador, pois exige a superação de obstáculos
internos (fraquezas) ou externos (ameaças) à organização, ações de correção e o aproveita-
mento de oportunidades que ora se vislumbram no ambiente externo à organização.
É importante ressaltar que não basta apenas identificar o problema, é vital que exis-
tam motivação para o planejamento e ação, disponibilização de recursos, além de conhe-
cimentos e habilidades que transformam os resultados positivos em competências do
gestor e da organização.

EXEMPLO
Como exemplo de decisões que provocaram fracassos é citado por diversos autores o caso da implantação
da fábrica da Mercedes-Benz na cidade de Juiz de Fora, em 1999, para a produção do “Classe A”, versão
popular da marca que se mostrou um tremendo erro pela falha na identificação das reais condições de
ambiente no mercado brasileiro.
Outro exemplo muito citado nos meios acadêmicos e nas mídias em geral foi a decisão da IBM, que tinha
como estratégia a verticalização de sua produção e não acreditou muito no futuro do mercado de compu-
tadores pessoais (PCs) e entregou a produção dos sistemas operacionais para Microsoft e microproces-
sadores para a Intel, insignificantes comparadas ao que são hoje, líderes absolutas de mercado. Por outro
lado, aceitar o desafio foi a decisão acertada, tanto da Microsoft como da Intel.

É fundamental perceber que a identificação de um problema ou oportunidade não é


fácil. Requer a visão das tendências do mercado, da disponibilidade de recursos, e por que
não, contar com o favorecimento dos acontecimentos não previstos nas análises de riscos.

80 qcapítulo 4
Tomada de decisão

TOMADA DE DECISÃO
1 2 3

AVALIAÇÃO E ESCOLHA
DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS
DE ALTERNATIVA

Figura 5 — Desdobramento da etapa de decisão — Adaptado de Maximiano (2004) e Peci e Sobral, (2008)

Esta etapa se desdobra em:

1 Diagnóstico da situação
Nesta etapa, os gestores estão preocupados em realizar uma análise para associar as cau-
sas e consequências do problema ou oportunidade identificado. Alguns problemas podem
ser facilmente identificados e existem várias opções de ferramentas que ajudam o gestor a
analisá-los de forma sistemática.
O diagrama de Pareto (Figura 6) permite verificar quais situações estão causando maior
impacto na organização, partindo do princípio de que 20% das causas geram 80% das con-
sequências. Esse princípio conhecido como 80–20 possibilita observar que poucas são as
causas que têm consequências significativas, permitindo ao administrador decidir a prio-
rização das causas que devem ser problematizadas e resolvidas.

20% DAS CAUSAS GERAM: 80% DAS CAUSAS GERAM:


80% dos problemas de alto impacto 20% dos problemas de baixo impacto

Figura 6 — Princípio de Pareto — Adaptado de Maximiano (2004)

Outra ferramenta da qualidade muito utilizada para o diagnóstico de problemas é o


diagrama de Causa e Efeito, também conhecido como diagrama de Ishikawa (Figura 7).
A figura se apresenta na forma de uma espinha de peixe em que se mostram reunidos os
quatro principais problemas encontrados nas fábricas, conhecidos como os 4M (Figura 7):
Mão de obra, Máquinas, Métodos e Materiais. Desses quatro, mão de obra e método se des-
tacam pela maior ocorrência e são responsáveis pelos problemas mais críticos.

MÃO DE OBRA MÁQUINAS


POR QUE
OCORREM OS
PROBLEMAS?

MÉTODOS MATERIAIS

Figura 7 — Diagrama de Causa e Efeito — Adaptado de Maximiano (2004)

capítulo 4 q81
Como podemos visualizar no Gráfico 1, segundo Maximiano (2004), mão de obra e mé-
todos causam 80% dos problemas industriais.

120%

100%

80%

60%
60% Causa
Problemas
40%

20%
20% 15%
5%

0%
Mão de obra Método Materiais Máquinas
Gráfico 1 — Curva ABC representando o princípio de Pareto — Adaptado de Maximiano (2004)

A partir do momento da identificação das principais causas dos problemas, o gestor


pode realizar uma nova análise com a ferramenta GUT com o intuito de apontar as causas
e seus respectivos impactos na organização, atribuindo pesos de importância à: Gravidade
(impacto nos ambientes), Urgência (riscos e custos associados), Tendência (probabilida-
des de novas ocorrências) e a interconexão entre causas e consequências.

2 Geração de alternativas
A geração de alternativas de soluções válidas para eliminar ou reduzir causas é respon-
sável por grande parte do sucesso na resolução de problemas. Quando o administrador está
diante de decisões programadas, fica evidente a facilidade da tomada de decisão, uma vez
que boa parte da solução do problema já está descrita em normas e procedimentos. Por outro
lado, quando há a necessidade de uma decisão não programada, a elaboração de alternativas
eficazes precisa ser trabalhada, principalmente por questões de prazos e custos envolvidos.
Quando o gestor tem pela frente a necessidade de reunir um volume substancial de alter-
nativas para problemas não programados, torna-se necessário estimular a criatividade das
equipes que estão comprometidas com a solução do problema ou oportunidade identificada.
Uma técnica muito utilizada é o brainstorming (tempestade de ideias) que funciona
com a geração livre de ideias pela suspensão de julgamentos iniciais e pela sucessiva asso-
ciação dessas ideias para o surgimento de novas ideias. Quando a geração de ideias é inter-
rompida por esgotamento ou por decisão do condutor do processo, as ideias são reunidas
em categorias que são avaliadas e validadas. A validação é importante porque nem todas as
ideias são boas e podem colocar em risco uma decisão do administrador.

82 qcapítulo 4
Segundo Peci e Sobral (2008), as alternativas devem ter as seguintes características:

Ter várias opções de escolha. Por exemplo, na comunicação com o seu


TER público-alvo, pode-se utilizar mala direta, outdoor, redes sociais, e-mail
ABRANGÊNCIA marketing, entre outras. A escolha única ou uma combinação entre alternati-
vas pode ser a melhor opção.

Ser uma verdadeira alternativa e não apenas uma fraca opção. Exemplo: se
TER seu público é jovem, escolher se comunicar com eles através das redes
AUTENTICIDADE sociais pode ser uma escolha poderosa diante do grande uso dessas redes
por grande parte deste público.

TER Possibilidade de implantação da alternativa levando em consideração os


recursos, competências e capacidades da organização. Exemplo: gerenciar
CONDIÇÕES as relações da empresa via redes sociais necessita de competências
DE EXECUÇÃO tecnológicas e recursos materiais para dar certo.

SER EM Devem ser suficientes para representar uma verdadeira escolha, mas não em
GRANDE NÚMERO demasia para não dificultar e atrasar o processo de escolha da alternativa.

Outro procedimento para geração de ideias é conhecido como brainwriting (tempestade


de ideias escritas), em que não existe a exposição oral das ideias que surgem, como acontece
no brainstorming. As ideias são escritas e passadas adiante de forma aleatória aos participan-
tes e são incrementadas por novas ideias ou contribuições às ideias já apresentadas no papel.
Após o esgotamento das contribuições, segue-se o mesmo procedimento do brainstorming.
O MDPO (Método de Delineamento de Problemas Organizacionais), também conhe-
cido como paradigma de Rubinstein, é utilizado para organizar as relações existentes de
causa e efeito dos problemas, por meio de um diagrama. Para dar a partida neste método,
fazemos uma pergunta iniciada com a palavra “Como...?”.

EXEMPLO
Como podemos aumentar o faturamento da loja X?

1. Identificam-se os indicadores que devem ter os seus resultados melhorados


quando o problema for resolvido. Exemplo: ticket médio, taxa de conversão de
venda, novos clientes.

2. Identificam-se as variáveis que podem ser modificadas para contribuir para a


resolução do problema. Exemplo: qualidade no atendimento, mix bem variado de
produtos, layout apropriado.

3. Identificam-se parâmetros que não podem ser modificados.


Exemplo: localização da loja.

Depois que o diagrama (Figura 8) é montado, os administradores se debruçam nas proposições de alter-
nativas para que a situação desejada aconteça dentro das expectativas de tempo e recursos utilizados.

capítulo 4 q83
Como podemos aumentar o faturamento da loja X?

O QUE QUEREMOS ALCANÇAR? EFEITOS


Ticket médio aumentado;
Taxa de conversão de venda aumentada;
Número de novos clientes aumentado.

O QUE PODEMOS MUDAR? VARIÁVEIS


Qualidade do atendimento;
Mix de produtos;
Layout da loja.

O QUE NÃO PODEMOS ALTERAR? PARÂMETRO


A localização da loja

Figura 8 — Diagrama de Rubinstein (MDPO) — Adaptado de Maximiano (2004)

3 Avaliação e escolha de uma alternativa


Depois que o volume apropriado de alternativas de qualidade é definido, o gestor tem
agora uma tarefa, também árdua, que é a avaliação dessas alternativas e a posterior
escolha de qual opção seguir.
Segundo Peci e Sobral (2008), o processo de avaliação começa com a identificação dos
principais impactos que cada alternativa irá proporcionar à organização. São eles:

FINANCEIRO Qual a relação entre os custos e os benefícios de cada alternativa?

Quais vantagens serão obtidas com cada alternativa? Melhoria no atendimento


BENEFÍCIOS ao cliente, na qualidade de produtos, nos prêmios por produtividade, entre outros.

ATIVOS Como marca da empresa, reputação, relação com os funcionários e colabora-


INTANGÍVEIS dores entre outros serão afetados em cada alternativa?

Quais são os impactos por atrasos e adiamentos nas implementações de cada


TEMPO alternativa?

A organização tem os recursos de capital, competências humanas e tecnológicas


RECURSOS necessários para implementação da alternativa? Será necessário captar algum
recurso externo à organização?

Qual a probabilidade de sucesso de cada alternativa? Quais riscos estão associados


RISCO ao fracasso de cada alternativa?

Após a definição dos impactos de cada alternativa, podem ser aplicadas diversas téc-
nicas de apoio à tomada de decisão para análise crítica do gestor. Essas técnicas podem
variar de complexidade em função das variáveis envolvidas na escolha da alternativa.
Entre essas técnicas temos:

84 qcapítulo 4
ANÁLISE DE VANTAGENS E DESVANTAGENS (PRÓS E CONTRAS)
MATRIZ DE PRIORIDADES OU PONDERAÇÕES
ÁRVORES DE DECISÃO
MATRIZ DE RESULTADOS
SISTEMAS ESPECIALISTAS

Vamos detalhar um pouco mais cada uma delas:

Análise de prós e contras

É a ferramenta mais utilizada por ser de fácil utilização pela sua simplicidade, mas pode
mascarar efeitos pela não complexidade de seu uso. Cada vantagem e desvantagem é lista-
da, e a escolha da melhor alternativa é feita de acordo com seus impactos elencados pelos
estudos anteriores.

Matriz de prioridades ou ponderações

A partir da escolha dos critérios de decisão como, por exemplo, preço, qualidade, prazo de
entrega, atendimento pós-venda, facilidade de atualização entre outros, aplicam-se então
pesos para cada critério (relevância do critério) e uma pontuação é definida para os níveis
de cada critério, como mostra a Tabela 1.

EXEMPLO
CRITÉRIOS E RELEVÂNCIA (PESO)
TOTAL DE
FORNECEDOR PRAZO DE ATUALIZAÇÕES
PREÇO (10) QUALIDADE (7) PÓS-VENDA (6) PONTOS
ENTREGA (6) (6)
&NQSFTB" 4 10 5 8 10 248
&NQSFTB# 5 8 8 9 5 238
&NQSFTB$ 7 8 5 7 7 240

Tabela 1 — Matriz de prioridades — Adaptado de Peci e Sobral (2008)

&NQSFTB" = (10x4)+(7x10)+(6x5)+(6x8)+(6x10) = 248


&NQSFTB# = (10x5)+(7x8)+(6x8)+(6x9)+(6x5) = 238
&NQSFTB$= (10x7)+(7x8)+(6x5)+(6x7)+(6x7) = 240

Pela técnica da matriz de prioridades, a melhor alternativa seria comprar do fornecedor A, apesar de o pre-
ço não ser a melhor proposta. Quando um gasto maior de capital pode ser dispendido em função de outros
critérios, essa pode ser uma boa forma de escolher uma alternativa.

capítulo 4 q85
Árvores de decisão

A utilização da Árvore de Decisão é interessante quando temos um grau de incerteza razoá-


vel e um problema complexo se subdivide em problemas mais simples cujos nós (pontos de
derivação) representam atributos. É composta, graficamente, por ramos de derivação aná-
logos aos galhos de uma árvore. Cada resultado de uma alternativa pode estar associado a
uma probabilidade de acontecimento.
No exemplo da Figura 9, temos possíveis caminhos que podem auxiliar na tomada de de-
cisão de um esportista. Não há a expectativa por meio de probabilidades externada na figura.

Valeu o tempo e
Venta
o esforço, prazer.
Preparar
barco Frustração - perda
Não venta de tempo e dinheiro;
Previsão de melhorar previsão.
bons ventos Frustração - perda
Venta de momentos
Não preparar de prazer.
barco
Economia de
Não venta
tempo e dinheiro.

Figura 9 — Árvore de decisão sem probabilidades — Elaborado pelo autor (2013)

Na árvore da Figura 10, uma decisão importante precisa ser tomada. A construção de
novas instalações, que demandaria investimento de capital elevado, justifica-se caso a ex-
pectativa de crescimento do consumo se confirme. Por outro lado, caso a expectativa de
consumo não aconteça, a construção de uma nova fábrica poderia levar a organização a
amargar prejuízos.

Lucro de 4 milhões
Aumento do consumo
de reais.
%
70

Nova fábrica
Prejuízo estimado de
30
%

Estagnação 2 milhões de reais


Previsão de por excesso de produção.
expansão do consumo Lucro de 1 milhão de reais,
Aumento do consumo mas não atende a
demanda e perde clientes.
%
70

Manter a atual
Lucro estimado de
30
%

Estagnação 2 milhões de reais


e satisfaz a demanda.

Figura 10 — Árvore de decisão com probabilidades — Adaptado de Peci e Sobral (2008)

86 qcapítulo 4
Diante das informações da Figura 10, podemos calcular o valor esperado em função de
cada uma das escolhas:

Se a opção escolhida pelo gestor for a de construir novas instalações, temos o seguinte valor esperado:

7F OPWB
.    .  
 NJMI—FTEFSFBJT

Caso a opção tenha sido manter as atuais instalações, a conta do valor esperado a ser feita é:

7F BUVBM
.   .   NJMI—FTEFSFBJT

A utilização da Árvore de Decisão não fornece automaticamente a decisão que o ges-


tor deve tomar. É preciso que o tomador da decisão faça uma escolha pessoal usando seus
critérios de julgamento e sua propensão a correr riscos. Nas decisões não programadas, o
gestor sempre terá de correr riscos. Nesse caso, novamente a qualidade da informação no
tempo certo pode ser um fator crítico para mitigar esse risco nos resultados esperados.
Existem outras formas de se avaliar alternativas, que podem ser investigados pelo lei-
tor na bibliografia fornecida ao final do capítulo, tais como: Análise do Ponto de Equilíbrio
(custo variável x custo fixo), Análise do Campo de Forças (Kurt Lewin), Matriz de Resultados
e Sistemas Especialistas (simulação de resultados com regras qualitativas e quantitativas),
entre outros (MAXIMIANO, 2004).

Execução da melhor alternativa e análise de resultados

A execução da melhor alternativa requer a capacidade da organização em responder aos an-


seios da liderança. Se não houver a implementação das alternativas de forma concreta por
meio da mobilização e comprometimento das pessoas, a escolha pode ser um grande fra-
casso. Por isso, ao decidir por uma alternativa, o gestor tem de estar ciente dos valores, da
capacidade de resposta das pessoas e dos recursos disponíveis para a execução da alternativa.
O gestor deve se preocupar com a comunicação dos motivos que levaram a escolha da
alternativa, fazer compreender que as pessoas da organização participaram do processo de
decisão e que tipo de recompensas ou penalidades serão aplicadas mediante os resultados
esperados pela alta direção.
Em muitos casos, o fracasso advém da falta de disciplina na execução. Segundo Bossidy
e Charan (2005), “nenhuma estratégia que valha a pena pode ser planejada sem levar em
conta a habilidade da organização em executá-la”. Mais adiante, esses autores declaram
que o núcleo da implementação bem-sucedida é composto por processos bem definidos
de pessoal, estratégia e operações.

Monitoramento e feedback

Mais uma vez, vale ressaltar que o processo decisório é continuo, ou seja, não termi-
na após a execução de uma alternativa. Isso porque, com a complexidade dos problemas,

capítulo 4 q87
muitos deles estão interconectados e a escolha e execução de outras alternativas compõem
o conjunto de resultados esperados pela organização. Uma decisão pode gerar novas ela-
borações e escolhas de alternativas para solução de novos problemas e aproveitamento de
novas oportunidades, e assim o processo se mantém vivo dentro da organização.

Racionalidade e intuição no processo de decisão


Na prática, é impossível ter todos os elementos perfeitamente identificados para uma to-
mada de decisão completamente racional. Vários podem ser os motivos: faltam informa-
ções precisas ou essas estão incompletas, os objetivos não estão claros, existem restrições
de recursos e de tempo, nem todos os critérios e preferências foram identificados e ponde-
rados eficazmente, probabilidades atribuídas são expectativas com certo grau de incerteza.
A decisão completamente racional é uma utopia.
Então, podemos afirmar que existe uma racionalidade limitada que é composta pela
qualidade e organização das informações e da opinião, sentimentos, crenças e intuição
que nasce da experiência do administrador. Esse conjunto de objetividade e subjetividade
induz uma escolha que deve ser implementada com responsabilidade e comprometimento
por todos os envolvidos na organização.

Considerações finais
Após a exposição dos conteúdos e exemplos da vida real apresentados neste capítulo, fica
evidente que toda estrutura organizacional apresenta níveis de responsabilidades e de po-
der que podem, dependendo do nível da decisão tomada, impactar no desempenho de uma
organização, assim como no seu entorno: sociedade, governo, meio ambiente entre outros.
A qualidade da informação e o tempo de sua disponibilidade são vitais para a melhor ra-
cionalidade na escolha das alternativas para o tomador de decisão. Quanto mais técnicas e
próximas da operação, mais facilidade de acerto na escolha será possível.
Nos níveis gerenciais e estratégicos, o volume de decisões não programadas é maior, fa-
zendo do risco um companheiro presente na vida do gestor. As incertezas do mundo atual
e a velocidade dos acontecimentos muitas vezes fornecem uma falsa visão de futuro para
os administradores. Mitigar o risco é um desafio que sistemas com tecnologias de última
geração podem auxiliar o gestor diante da complexidade das variáveis que se apresentam
para análise e futura tomada de decisão. Sempre presente, a intuição tem grande influência
nas decisões tornando a racionalidade do processo limitada.

88 qcapítulo 4
ATIVIDADE
Questões para reflexão e discussão em sala de aula

1. Descreva os três níveis organizacionais e aponte as principais responsabilidades de cada um dentro da


estrutura da organização.
2. Por que podemos afirmar que o nível estratégico da organização tem como grande desafio lidar com as
incertezas do mundo moderno?
3. Por que os níveis gerenciais e operacionais de uma organização são relevantes e não podem ser subestimados?
4. O que é uma decisão? Que decisão você tem de tomar pela manhã quando se prepara para sair de casa?
5. Quais são os tipos de decisão que você conhece? Descreva cada uma delas.
6. Diferencie risco de incerteza.
7. Em relação aos tipos de decisão, relacione-os aos níveis organizacionais e ao grau de incerteza.
8. Em que tipo de decisão as políticas, regras e procedimentos estabelecidos na organização têm maior
impacto? Por quê?
9. Quais são as etapas do processo decisório? Descreva cada uma delas e aponte as principais ferramen-
tas de auxilio ao tomador de decisão.
10. Por que podemos afirmar que o processo de tomada de decisão é continuo, ou seja, não para no
resultado alcançado?
11. Por que podemos afirmar que a tomada de decisão tem sua racionalidade limitada? Qual o seu pen-
samento sobre a participação da intuição no processo de decisão? Seria a intuição mais utilizada do que a
racionalidade da informação? Justifique.
12. Em sua opinião, por que os sistemas inteligentes do tipo BI (Business Intelligence), que utilizam com-
putadores, são vitais para a tomada de decisão no ambiente empresarial atual?

BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Adiel Teixeira; GOMES, Carlos Francisco Simões; GOMES, Luiz Flavio Autran Monteiro. Tomada de decisão
gerencial: enfoque multicritério. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2012.
BOSSIDY, Larry; CHARAN, Ram. Execução: a disciplina para atingir resultados. 18ª ed. Rio de Janeiro: Campos, 2005.
CHIAVENATO, Idalberto. Administração para não administradores: a gestão de negócios ao alcance de todos. São
Paulo: Saraiva, 2008.
___________. Administração: teoria, processo e prática. 4ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à administração. 6ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Atlas, 2004.
MINTZBERG, Henry. Managing: desvendando o dia a dia da gestão. Porto Alegre: Bookman, 2010.
RODRIGUEZ, Martius. Gestão empresarial: organizações que aprendem. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.
SOBRAL, Felipe e PECI, Alketa. Administração: teoria e prática no contexto brasileiro. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2008.

capítulo 4 q89
5 O processo
administrativo

claudio starec
5 CONCEITO
O processo administrativo

REFLEXÃO
Feedback Daqui a vinte anos, a empresa típica terá pouca semelhança com a empresa indus-
Feedback se refere ao retorno que um trial da década de 1950 e, provavelmente, se parecerá com organizações às quais
profissional recebe em relação ao de- nem os gerentes praticantes nem os estudiosos de Administração dão hoje muita
sempenho das suas funções, das suas atenção: o hospital, a universidade e a orquestra sinfônica. A nova empresa será
habilidades, competências para execu- baseada no conhecimento, uma organização composta, sobretudo por especialistas,
tar determinada tarefa (habilidades e que dirigem e disciplinam seu próprio desempenho, por meio de feedback sistemá-
competências) ou sobre suas atitudes e tico de seus colegas, dos clientes e da alta administração. Peter Drucker (O Advento
comportamentos. da Nova Organização, in: Havard Business Review, 2000).

A visão de Peter Drucker, considerado o pai da Administração moderna,


AUTOR retrata uma nova organização envolvida em uma concorrência sem frontei-
ras, disputando mercados com produtos e serviços similares, preços equi-
Peter Drucker valentes e margens cada vez menores. Esse cenário desafiador fez com que
Peter Drucker (1909-2005) foi um es- as organizações, de maneira geral, repensassem a busca por diferenciais
critor, professor e consultor. Ele é consi- competitivos, ou seja, maneiras de tornar a concorrência irrelevante.
derado o pai da Administração moderna. No mundo dos negócios, uma empresa é considerada competitiva
Peter Ferdinand Drucker nasceu em Vie- quando consegue se diferenciar em um determinado mercado, aumen-
na e é reconhecido como um dos mais tando a sua participação e conquistando mais e melhores resultados, isto
importantes pensadores do fenômeno é, obtendo retorno e lucratividade acima da média. Em resumo: competi-
dos efeitos da globalização na economia tividade ocorre quando uma empresa consegue se colocar numa situação
e nas organizações modernas. de vantagem diante de seus concorrentes, aumentando seu tamanho, sua
participação no mercado e/ou sua lucratividade (CLARK & GUY, 1998).

CONCEITO ATENÇÃO
Competitividade Em um ambiente competitivo cada vez mais turbulento, não basta ter uma vanta-
Neste livro, entendemos competitivida- gem momentânea, é preciso mantê-la ao longo do tempo. Mais importante ainda
de no sentido estritamente econômico: é que ela seja sustentável. Assim, para que uma vantagem competitiva possa ser
qualidade de quem tem a capacidade de sustentada por um prazo mais longo, a empresa necessitará monitorar constan-
competir com outros fornecedores, ven- temente as variáveis e os fatores que afetam sua competitividade, além de inovar
dedores, mercados. É o ato de buscar para se posicionar de forma diferenciada dos seus concorrentes, isto é, implemen-
uma vantagem para se diferenciar da tando estratégias que não possam ser facilmente copiadas.
concorrência e ganhar ou manter uma
participação relativa nos mercados alvo. Administrar, como já foi discutido neste livro, pressupõe a existên-
cia de uma instituição a ser gerida, ou seja, uma estrutura organizacio-
nal constituída de pessoas, recursos e processos que se relacionam em
um determinado ambiente, que tenham objetivos comuns e que sejam
orientados para alcançar determinados resultados desejados.

92 qcapítulo 5
Segundo Maximiano (2000): “administrar é uma combinação de esforços individuais
que tem por finalidade realizar propósitos coletivos. Por meio de uma organização torna-se
possível perseguir e alcançar objetivos que seriam inatingíveis para uma pessoa sozinha.”
O autor argumenta que uma empresa multinacional ou uma pequena oficina, uma orques-
tra ou o clube de futebol, um hospital ou uma igreja são exemplos de organizações que têm
como maior objetivo gerar resultados para seus acionistas ou para a sociedade.
A Ciência da Administração surgiu da aplicação de métodos e metodologias de diversas
ciências após a Revolução Industrial. A organização do tipo “comando e controle” que des-
pontou pela primeira vez em 1870, segundo Drucker (ver no primeiro capítulo deste livro os
antecedentes históricos da Administração), deu origem à abordagem funcional da Admi-
nistração proposta por Henri Fayol. Drucker afirma que um dos aspectos mais importantes
da teoria de Fayol foi separar a tarefa da administração das tarefas operacionais e técnicas.
É justamente o que você verá a seguir.

O processo administrativo
“Administrar é fazer previsão e planejar,
organizar, comandar e controlar.”
Jules Henri Fayol (Administração Industrial e Geral)

Entender o processo administrativo é a essência do enfoque funcional da Administração.


O processo administrativo engloba os seguintes subprocessos ou funções administrativas:
planejar, organizar, dirigir e controlar, que são apresentados na figura a seguir:

AMBIENTE EXTERNO

q Planejar q Organizar
q Definir q Distribuir
q Programar
P O q Alocar

ENTRADAS SAÍDAS

q Controlar
q Avaliar
C D q Dirigir
q Liderar
q Realinhar q Executar

AMBIENTE INTERNO
Figura 1 — O processo administrativo e o ambiente organizacional
O processo administrativo é um elemento chave na gestão empresarial. É um conjunto
estruturado de funções inter-relacionadas, interdependentes e indispensáveis que trans-
formam as informações do ambiente de negócios em produtos ou serviços com a finalida-
de de atender às necessidades e expectativas dos clientes internos ou externos.

capítulo 5 q93
COMENTÁRIO Veja a seguir, cada uma dessas funções separadamente.

99% dos estabelecimentos


formais no Brasil As quatro funções administrativas: Plane-
Segundo dados mais recentes do IBGE,
as MPEs representam 20% do Produto
jamento, Organização, Direção e Controle
Interno Bruto (PIB) brasileiro, são res-
ponsáveis por 60% dos 94 milhões de Planejamento
empregos no país e constituem 99%
dos 6 milhões de estabelecimentos for- Planejar é definir os objetivos e escolher o melhor caminho para alcan-
mais existentes no Brasil. A maior parte çá-los. O planejamento define onde se quer chegar, o que deve ser feito
dos negócios está localizada na região para atingir o objetivo, quando o plano (cada ação) deve ser colocado em
Sudeste (com quase 3 milhões de em- prática (os prazos), por quem (responsabilidades), e quanto vai custar.
presas). O setor com maior número de Na prática, planejar estabelece os objetivos da empresa, especifican-
empresas é o comércio, seguido de ser- do o caminho de como serão alcançados e os recursos necessários para
viços, indústria e construção civil. Fonte: isso. Parte de um cenário futuro, desenvolvendo um plano de ações para
Portal Brasil atingir as metas traçadas. É o primeiro dos subprocessos administrati-
vos e serve de base para todos os demais.
Em um contexto turbulento e incerto como o atual, e com a con-
corrência sem fronteiras e cada vez mais agressiva, é inconcebível
administrar uma organização sem um plano de negócio ou um plane-
jamento formalizado. Mas, infelizmente, as pesquisas revelam que a
realidade é bem diferente.
Um pesquisa feita com os fundadores de cem companhias in-
cluídas na lista das 500 empresas de crescimento mais rápido nos
Estados Unidos, em 1989, revelou que os empreendedores america-
nos dedicavam poucos esforços ao planejamento dos seus negócios
(Mintzberg, 2000 p.105):

Simplesmente não tinham plano de


41% negócios

28% 28% Redigiram um plano completo


41%
Tinham apenas um esboço
5% 26% rudimentar de plano
26%
Elaboraram projeções financeiras
5% para investidores

No universo corporativo brasileiro, Longenecker, Moore e Petty


(1997) afirmam que a quantidade de planejamento praticada pelas mi-
cro e pequenas empresas (o que representa 99% dos estabelecimentos
formais no Brasil) não é o ideal, e o pouco de planejamento que existe
é “limitado e assistemático”. É importante registrar que o número de
pequenas e médias empresas no Brasil está aumentando a cada ano
em decorrência dos incentivos do governo. O pouco caso em relação

94 qcapítulo 5
ao planejamento é provocado pelo fato de a gerência concentrar sua COMENTÁRIO
atenção em questões consideradas prioritárias como produção e ven-
das, e consequentemente, deixa o planejamento para segundo plano; Estudo do Sebrae
isso acaba virando uma rotina e compromete o resultado de toda a or- A Pesquisa do Sebrae “Sobrevivên-
ganização. cia das empresas no Brasil”, divulgada
Levantamentos do Sebrae (Serviço brasileiro de apoio às micro e em 2013, tomou como referência as
pequenas empresas) reforçam esse ponto: das quase 500 mil empresas empresas brasileiras constituídas em
que são abertas todos os anos nas Juntas Comerciais do Brasil, quase 2007. O estudo foi elaborado a partir
metade fecha as portas nos dois primeiros anos de existência e 60% de- do processamento das bases de dados
las não sobrevivem a quatro anos de mercado. da Secretaria da Receita Federal (SRF).
O impacto da mortalidade das empresas se reflete diretamente na Esse relatório analisa a taxa de sobrevi-
perda da competitividade do país, apontada por vários indicadores in- vência das empresas com até 2 anos de
ternacionais. Entre 2000 e 2002, mais de 772 mil empresas fecharam, atividade no Brasil, e pode ser acessado
o que provocou a eliminação de 2,4 milhões de empregos formais, um no portal do Sebrae.
prejuízo estimado em 20 bilhões de reais com o fim desses negócios.
Segundo o Sebrae, as principais causas do fechamento prematuro
das empresas brasileiras estão direta ou indiretamente ligadas à falta de
planejamento: falhas gerenciais e logística operacional.

REFLEXÃO
A conclusão é clara ao apontar que as questões relacionadas ao gerenciamento
do negócio são determinantes para o sucesso ou o fracasso do empreendimento
e constatar que as empresas brasileiras morrem mais devido a falhas gerenciais do
que a problemas conjunturais ou taxação tributária.

As falhas gerenciais podem estar relacionadas à falta de planejamen-


to na abertura do negócio — o empreendedor brasileiro tem dificuldade
para avaliar fatores importantes para o sucesso do negócio, deixando
de verificar, por exemplo, a necessidade de ter um fluxo de caixa, a con-
corrência, se existem clientes potenciais, posicionamento do negócio,
segmentação etc. Falhas que possivelmente acabaram provocando de-
cisões equivocadas.
O mais recente estudo do Sebrae atestou que a taxa de sobrevivência
das empresas com até 2 anos de atividade passou para 75,6% em 2007.
Essa taxa foi superior à taxa calculada para as empresas nascidas em
2006 (75,1%) e em 2005 (73,6%). A pesquisa revelou um novo perfil do
empreendedor brasileiro está se capacitando mais e se preocupando em
planejar melhor para enfrentar os desafios do mundo dos negócios.
É importante entender que o administrador moderno precisa lidar
com três tipos de planejamento como mostra a figura a seguir:

capítulo 5 q95
Planejamento estratégico: é o planejamento
mais diretivo, capaz de mudar os rumos da
organização. É definido e aprovado pelos
PLANO ESTRATÉGICO principais executivos da organização. Ex.: re-
torno sobre o investimento para os acionis-
tas, decisões de abertura de novas unidades,
de posicionamento estratégico do negócio ou
PLANO TÁTICO outras definições estratégicas.
Planejamento tático: é o planejamento fei-
to no nível departamental ou de unidade de
negócio, tendo como metas: objetivos especí-
ficos dos departamentos ou objetivos geren-
PLANO OPERACIONAL ciais. Ex.: implementar um novo sistema de
gestão e de vendas ou melhorar a qualidade
de um produto e ou serviço.
Planejamento operacional: é o planejamen-
Figura 2 — Os três tipos de planejamento
to de curto prazo e é feito no nível operacio-
Fonte: Starec, 2014
nal. Ex.: admitir profissionais de controle de
qualidade ou consultores de vendas e incentivar o debate de novas ideias que diminuam as
falhas na produção ou que possibilitem o aumento nas vendas.

Características essenciais do planejamento


Quais são as premissas de um bom planejamento? Enumeramos 10 características essen-
ciais que são detalhadas a seguir:

1 O planejamento é um processo permanente e contínuo. O planejamento é uma relação entre as


coisas a fazer e o tempo disponível para a execução das tarefas e ações.
2 O planejamento deve ter o foco no futuro. Para alguns autores, o planejamento é muito mais
uma questão de foco no futuro do que uma junção de planos e programas de ação. A razão é muito
simples: o passado já se foi, e o presente está acontecendo (pouco se pode alterar), por isso, é
com o futuro que o planejamento se preocupa.
3 O planejamento é uma técnica que procura definir de forma antecipada, estudada e efetiva a
alocação dos recursos disponíveis da empresa ou da unidade.
4 O planejamento funciona como um meio de orientar o processo decisório, dando-lhe maior
consistência e buscando minimizar as incertezas do ambiente competitivo, melhorando o processo
de tomada de decisão; isto é, imprime maior dose de segurança e de consistência nas escolhas/
decisões a serem feitas.
5 O planejamento é sistêmico e deve levar em consideração tanto o sistema como os subsistemas
que o compõem; deve observar a totalidade da empresa, da diretoria ou departamento para o qual
foi feito, sem omitir os relacionamentos internos e externos entre os atores envolvidos.
6 O planejamento é interativo. Ele envolve passos ou fases que se sucedem. É um subprocesso
do macroprocesso administrativo.
7 O planejamento possibilita, à medida que é executado, a avaliação e mensuração para novos
planejamentos com informações e perspectivas mais assertivas.

96 qcapítulo 5
COMENTÁRIO
8 O planejamento é uma função administrativa que interage e está intima-
mente relacionado com as demais funções administrativas, (organização, Quando
direção e controle), influenciando e sendo influenciado por todas elas a todo O prazo pode ser explicitado por meio
momento e em todos os níveis da organização. de um cronograma, que é um gráfico de
9 O planejamento é uma técnica de coordenação e integração. O planeja- planejamento e controle. O cronograma
mento permite a coordenação, sincronização e integração de várias ativida- retrata o começo e o fim de cada evento
des para o alcance dos objetivos definidos. de um processo operacional, permitindo
10 O planejamento é uma técnica de mudança e inovação. O planejamento a sincronização das tarefas e dos prazos
é uma das melhores maneiras de se introduzir mudanças em uma empresa, de cada etapa do planejamento.
de forma previamente definida e programada para o futuro.

Após examinar todas as alterantivas possíveis, o planejamento deve


produzir como resultado prático um plano de ação, que é uma etapa es-
sencial entre o planejamento e a sua implementação. Todos os planos
têm um objetivo em comum: a previsão, a programação e a coordenação
de uma sequência lógica de eventos, os quais, se aplicados com sucesso,
deverão conduzir ao alcance dos resultados desejados.
Como um plano é um curso de ação, um caminho a ser seguido, ele
precisa proporcionar respostas às questões: por quê, o quê, como, onde,
quanto, quando e por quem. Há várias maneiras diferentes para se fazer
ou percorrer esse caminho; é preciso compará-las e escolher a mais ade-
quada. E a escolha é o resultado de um processo de tomada de decisão.

Organização

Organização é uma palavra que vem do grego, organon, que significa


“instrumento”, “utensílio” ou “aquilo com que se trabalha”. O termo or-
ganização apresenta duas referências básicas. Por um lado, a palavra é
utilizada para se referir a uma espécie de ordenamento, à ação ou resul-
tado de organizar os processos ou organizar-se. Por outro lado, designa-
se com o termo de organização àquele sistema desenhado para atingir
satisfatoriamente determinados objetivos ou metas.

CONCEITO
Organização é o conjunto de atividades que, em função do planejamento formulado,
estabelece a melhor disposição dos recursos das empresas. De modo geral, organi-
zação é a forma como se prepara para atingir os resultados pretendidos, em outras
palavras, é “arrumar a casa, as ações e planos a serem executados”.

Como subprocesso administrativo, organizar é o ato de definir


melhor o trabalho a ser realizado e determinar as responsabilidades
pela sua execução; é também o processo de distribuir os recursos
disponíveis segundo algum critério preestabelecido; é a forma de co-

capítulo 5 q97
CONCEITO ordenar todos os recursos da empresa, sejam humanos, financeiros
ou materiais, alocando-os da melhor forma segundo o planejamento
Coach que foi estabelecido.
A palavra coach surgiu na Europa e era Entretanto não basta alocar recursos. É fundamental que as pessoas
usada para chamar os cocheiros, os que fazem parte da organização se integrem (trabalhem em equipe), se
condutores das carruagens. Anos mais comuniquem e se comprometam a atuar de forma coordenada para al-
tarde, a academia se apropriou desse cançar os resultados esperados, o que será discutido a seguir.
conceito para classificar os professores
que iriam orientar os melhores alunos. Direção, execução e liderança
O conceito pegou e foi utilizado pelas Direção é o processo de realizar atividades e utilizar recursos necessá-
equipes esportivas de alta performance rios para atingir os objetivos desejados. Dirigir faz com que os funcioná-
que passaram a chamar seus treinado- rios executem o que deve ser feito. A direção estabelece que as relações
res de coach. No mundo empresarial, hierárquicas estejam claras e definidas, ou seja, que a forma como as
o conceito tem pouco mais de 30 anos equipes se relacionam, assim como o grau de participação e colabora-
e serve para definir uma nova liderança ção que se espera de cada um para a realização dos objetivos definidos,
que transforma ao orientar e conduzir as estejam explicitados.
equipes e as pessoas a alcançarem seus A implantação de qualquer planejamento seria inviável, ou melhor,
objetivos estabelecidos por meio de uma pouco efetiva, sem uma coordenação das atitudes, tarefas e esforços de
série de técnicas, de orientação, comuni- toda a empresa, para alcançar as metas estabelecidas e acordadas. Para
cação assertiva e muito feedback. que essa coordenação seja de fato eficaz, surge a necessidade de se ter
um responsável, um gestor, um líder. É relevante assinalar que o modelo
de gestão tipo comando e controle adotado por boa parte das organiza-
ções modernas foi inspirado em instituições militares. O chefe ou co-
mandante tinha e exercia o papel de capataz, não admitia contestações
e agia como o “senhor da verdade”.
Hoje, mais do que em qualquer outra era, o papel do chefe ganhou
outras conotações, exigindo desse profissional novas competências, um
alinhamento institucional e uma capacidade de envolver a equipe nos
objetivos organizacionais a serem alcançados. O capataz se transfor-
mou em condutor, daí vem a origem palavra coach, que define o que se
espera da liderança nos dias de hoje.
A liderança é um processo dinâmico de exercer influência sobre o
indivíduo ou grupo, para impulsionar esforços em função do alcance
de objetivos, em determinada situação. É importante ressaltar que a ha-
bilidade de liderança não é nata nem exclusiva de alguns. Ela pode ser
aprendida e incorporada para fazer parte do cotidiano do trabalho de
administradores, gerentes e de profissionais que ocupam posição de co-
mando nas organizações. Mas vale o alerta de Stheven Covey (2002): de
acordo com o autor, é fundamental que o líder saiba a diferença entre
gerenciar (controlar e administrar) e liderar (inspirar).
Por isso se faz necessário ressaltar algumas características essen-
ciais da liderança moderna:

98 qcapítulo 5
FOCO NOS Comprometimento na busca dos objetivos individuais, da
CONCEITO
OBJETIVOS equipe e organizacionais.

ORIENTAÇÃO PARA O líder põe a mão na massa e orienta a ação, a execução Stakeholders
AÇÃO das tarefas. Stakeholder é um termo usado em di-
versas áreas como gestão de projetos,
Em si e na sua equipe. Líderes inseguros acabam tornan-
AUTOCONFIANÇA administração e arquitetura de software
do suas equipes inseguras também.
referente às partes interessadas que
HABILIDADE NO devem estar de acordo com as práti-
Deve saber ouvir e saber falar. Ter empatia e simpatia.
RELACIONAMENTO cas de governança corporativa execu-
Resistência à frustração. Suportar pressão da função.
HUMANO tadas pela empresa. O termo foi usado
Atitude de abertura e receptividade. Uma constante predis- de forma mais ampla pelo filósofo Ro-
FLEXIBILIDADE
posição a negociações e mudanças se forem necessárias. bert Edward Freeman. Segundo ele, os
Estabelece prioridades, analisa alternativas e informações, stakeholders são elementos essenciais
TOMADA DE ao planejamento estratégico de ne-
utiliza todos os recursos disponíveis para minimizar os
DECISÃO gócios. De maneira mais ampla, com-
riscos do processo de tomada de decisão.
preende todos os envolvidos em um
O líder deve ter um profundo orgulho do seu trabalho e da
processo, que pode ser de caráter tem-
sua equipe. Ele cuida do negócio como se fosse sócio e
porário (como um projeto) ou duradouro
BUSCA DA está voltado para a obtenção de resultados. Não é indivi-
(como o negócio de uma empresa ou a
EXCELÊNCIA dualista. Busca a eficiência, a eficácia, a produtividade e a
missão de uma organização).
qualidade. Consegue se automotivar e motivar as outras
pessoas pelos desafios e pelas recompensas.

É um pioneiro. Encoraja a criatividade e a inovação. É um


VISÃO DO
modelo inspirador, traz emoção para o local de trabalho,
FUTURO
sem perder o foco nos objetivos traçados.

A lista pode ser muito maior, mas esses fatores e os seus impactos
no dia a dia das organizações fazem do administrador que reunir tais
características, um verdadeiro líder.
O maior desafio para qualquer líder é justamente trabalhar o proces-
so de comunicação de forma integrada para divulgar os objetivos, me-
tas, estratégias e ações por meio de um ou mais canais entre a empresa
e seus diversos stakeholders (influenciadores ou partes interessadas).
É importante registrar que não existe falta de comunicação nas or-
ganizações, e sim má comunicação. Acredita-se que a comunicação se
confunde com a própria vida: o ato de comunicar, que vem do latim co-
municare, “tornar comum”, passa a ser uma necessidade básica do ho-
mem e das empresas como regra geral, por ligar as equipes funcionais
aos valores, objetivos e estratégias com a cultura organizacional.
Em O Corpo Fala, Weil e Tompakow (1998) argumentam que é im-
possível não se comunicar. Os autores argumentam que o homem se
comunica o tempo todo, principalmente por meio da comunicação
não verbal, que seria responsável por mais de 90% da comunicação
interpessoal. O processo de comunicação seria formado por três mo-
mentos simultâneos:

capítulo 5 q99
7% O que você diz, ou seja, as palavras, corresponde a 7% do impacto que você causa.

Como você diz, a maneira como fala — seu tom de voz e sua inflexão, têm 38% de
38%
impacto.

Os 55% do impacto restante da comunicação estão ligados à postura comunicacional,


55%
isto é, o corpo fala.

Se isso vale para pessoas, acredita-se que possa valer também para organizações.
Um fator importante é a deficiência encontrada pelas empresas para se comunicar inter-
namente. A má comunicação interna é apontada como uma das principais falhas que ocor-
rem nas organizações. O maior problema é que, quando a comunicação falha, a primeira ví-
tima é o comprometimento do funcionário, afinal, como ele pode “vestir a camisa” de uma
organização e ajudá-la a alcançar suas metas e objetivos sem saber onde ela quer chegar?
Uma pesquisa, que pode ser encontrada no livro O oitavo hábito de Stheven Covey, refor-
ça essa tese. O levantamento feito pelo Instituto Harris Interative com 23 mil empregados
em tempo integral de empresas americanas, nas mais diversas áreas, constatou o seguinte:

40%

35%

30%

25%

20%
37%

15%

10% 20% 20%


17%
13%
5%

0%
Entendem Entusiasmados Confiança e Comunicação Confiam
claramente com as metas colaboração transparente plenamente

Apenas 37% dos empregados disseram entender claramente o que sua organização
37%
está tentando atingir e por quê.

Apenas um em cada cinco estava entusiasmado com as metas de sua equipe e de sua
20%
organização, pois tinha uma visão clara sobre suas metas e as da empresa.

Apenas 13% deles diziam ter relações de grande confiança e intensa colaboração
13%
entre os departamentos.

Apenas 17% sentiam que suas organizações promoviam comunicações diretas, objeti-
17%
vas, transparentes e abriam espaço para o diálogo.

20% Apenas 20% dos funcionários confiavam plenamente na organização em que trabalhavam.

100 qcapítulo 5
Em resumo, é papel da liderança dar a direção e propósito para a organização e para as
equipes. O maior desafio de um líder de sucesso é alcançar os três “Es” (Eficiência, Eficá-
cia, e Efetividade). Mas como é possível saber se a empresa está realmente caminhando no
rumo certo? É o que vamos discutir a seguir.

Controle

O controle é o processo de assegurar a realização dos objetivos e de identificar a necessida-


de de modificá-los. Controlar é estabelecer padrões e medidas de desempenho que permi-
tam assegurar que as ações executadas são as mais adequadas e estão alinhadas com o que
a empresa espera. O controle das atividades desenvolvidas permite maximizar a probabili-
dade de que tudo ocorra conforme o planejado, além de minimizar os riscos.
O controle é a função que objetiva a obtenção de informações sobre o desempenho or-
ganizacional para comparar o que foi realizado com o resultado planejado, verificar se esse
resultado está sendo alcançado, identificar desvios e corrigir o rumo. Por isso, o planeja-
mento se torna insumo da função controle, pois só se pode controlar o que foi planejado. O
controle é composto de quatro grupos de atividades essenciais:

Definição de indicadores de desempenho alinhados com os objetivos


identificados no planejamento

Medição do desempenho

Medição entre o realizado e o previsto

"EP¥¨PEFB¥—FTDPSSFUJWBTEPTEFTWJPTOFHBUJWPTJEFOUJGJDBEPT BTTJN
DPNPEFB¥—FTQSFWFOUJWBTEBTDBVTBTEFTTFTEFTWJPT

Ainda em relação ao controle, ele gera insumos que subsidiarão uma nova rodada de
planejamento, tornando o processo administrativo um ciclo que se repete sucessivamen-
te. Indicadores que mostram quando as empresas não vão bem são claros: queda de ven-
das, perda de participação de mercado, reclamação de clientes, retrabalho, entre outros.
No mundo empresarial, não falta informação, não existe escassez de conhecimento. Falta
ação, capacidade de sair da inércia corporativa e aplicar aquilo que se sabe para obter a tão
almejada vantagem competitiva sustentável.

Considerações finais
Como foi discutido neste capítulo, o processo administrativo é uma função-chave na
gestão empresarial. O administrador precisa entender que esse conjunto estruturado de
atividades inter-relacionadas, interdependentes e indispensáveis é a melhor forma de ad-
ministrar, ou seja, de gerar mais e melhores resultados.
Na prática corporativa, o processo administrativo é utilizado para que os gestores/admi-
nistradores possam ter uma visão sistêmica da realidade da empresa, fornecendo informa-

capítulo 5 q101
ções essenciais, sejam elas operacionais, táticas ou estratégicas, para auxiliar no processo
de tomada de decisão, em qualquer nível organizacional. Esse é um dos maiores desafios
do administrador do século XXI, minimizar os riscos do processo de tomada de decisão.
O processo administrativo não é complexo, mas também não é simples de ser trabalha-
do de forma efetiva em cada momento. Uma dura crítica que se faz ao profissional brasilei-
ro, de maneira geral, é que ele não planeja o suficiente e que improvisa demais. E o resulta-
do é um só: perda de competitividade para as organizações e para o país.
Da mesma forma que é preciso planejar mais e melhor, organização é essencial para
executar os planos traçados; o papel da liderança é fundamental, mas também não basta
ter organização adequada se não tiver uma direção para que o planejamento possa sair do
papel. Ao final do processo, é indispensável avaliar, mensurar e controlar tudo o que foi fei-
to, isto é, criar métricas e indicadores para checar se o que foi pensado foi realizado como
se deveria e se existem ações corretivas a serem feitas.
As empresas, de maneira geral, estão deixando de ser apenas o local onde se faz, para se
tornarem, cada vez mais, os lugares onde se pensa. A produção se rende à Era da Inovação.
Essa nova revolução ou choque de gestão impacta todo o processo administrativo, por isso
é papel do administrador planejar, organizar, dirigir controlar. Em resumo, o primeiro pas-
so é fazer um planejamento do que precisa ser feito, depois o administrador deve organizar
tudo, o terceiro passo é agir, dirigir até alcançar o que foi planejado, e o último passo é con-
trolar pra que não saia do plano combinado ou fazer os ajustes necessários.

ATIVIDADE
Questões para reflexão e discussão em sala de aula
1. Escolha uma empresa (de preferência a que você trabalha ou já trabalhou) e comente cada etapa do
processo administrativo.
2. O que é um processo administrativo?
3. Por que é tão importante para um administrador conhecer cada etapa do processo administrativo?
4. Toda empresa deveria ter processos desenhados?
5. Como as empresas deveriam gerenciar seus processos administrativos?

102 qcapítulo 5
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capítulo 5 q103
As Áreas Funcionais

6 da Administração
e as Organizações
Funcionais

claudio starec
6 As Áreas Funcionais da Administração
e as Organizações Funcionais

“Administrar é aplicar o conhecimento à ação.”


Peter Drucker (2001)

O objetivo deste capítulo é apresentar as áreas funcionais da Administração inseridas de


forma prática e atual nas organizações do século XXI. Como foi visto no capítulo anterior,
funções administrativas são conjuntos estruturados de tarefas e atividades inter-relaciona-
das, interdependentes e indispensáveis ao alcance da visão, missão, objetivos e metas de
uma organização. É importante ressaltar que organizações de uma mesma indústria, setor
ou ramo de atividade, provavelmente, possuem funções similares.
Existem funções que não são específicas de nenhum ramo de atividade, mas que são
essenciais para qualquer organização. São funções ligadas não ao objetivo fim do negó-
cio, mas que podem ser entendidas como tarefas de suporte. Em qualquer organização
— pública ou privada, governamental ou não governamental, nacional, multinacional ou
transacional, de grande, médio ou pequeno porte, virtual ou não, independentemente
de sua área de atuação —, há a necessidade de administrar seus recursos e o seu pessoal
para produzir ou entregar seus serviços, que de fato atendam ou superem as necessida-
des e expectativas dos seus clientes.
Uma organização segue o critério funcional (Maximinano, OPERAÇÕES
2000) quando cada departamento corresponde a uma função
COMERCIAL
ADMINISTRAÇÃO
principal. Em uma estrutura organizacional dividida segundo
o critério funcional, um administrador/executivo comanda CONTABILIDADE
tudo e cada diretor/gerente/coordenador é responsável por
uma função específica como mostra a figura ao lado. DEPARTAMENTO PESSOAL
Nas organizações modernas, o trabalho é organizado de DISTRIBUIÇÃO
acordo com as principais atividades de cada setor, área ou
departamento. Com a evolução da Administração, como foi Figura 1 — Principais funções
visto nos dois primeiros capítulos deste livro, as organizações da organização (adaptado de
passaram a adotar as seguintes funções organizacionais: Maximiano, 2000)

FINANÇAS
PRODUTOS
OPERAÇÕES
ADMINISTRAÇÃO

INSUMOS
RECURSOS HUMANOS CLIENTE
INFORMAÇÕES
MARKETING
SERVIÇOS
PESQUISA E DESENVOLVIMENTO

Figura 2 — As Áreas Funcionais das organizações modernas (Starec, 2014)

106 qcapítulo 6
As funções organizacionais COMENTÁRIO
Independentemente do seu porte, ramo de atuação ou complexidade, as Compartilhar informações e
organizações, de maneira geral, apresentam as seguintes características: experiências
• O modelo de tomada de decisão (como foi visto no Capítulo 4) é Apesar de ser desejável, o compartilha-
centralizado, isto é, a administração central ou o principal executivo mento de informações, conhecimentos
tem amplo controle sobre o caminho que a organização deve seguir. e experiências ainda é apontado como
• Uma vez que as responsabilidades estão bem definidas e entendi- um dos maiores desafios organizacio-
das para todos os atores envolvidos, as tarefas ficam claras e é possível nais. Várias pesquisas de clima organi-
cobrar responsabilidades. zacional feitas em grandes empresas
• A gestão de pessoas é mais bem controlada, o que quer dizer: como Petrobras apontam que boa parte
administrar o número de gerentes necessários para executar as ativi- das informações e dos conhecimentos
dades essenciais. existentes não é compartilhada interna-
• Compartilhar informações e experiências se torna possível, uma mente. Isso se deve à crença de que in-
vez que os especialistas de cada área estão reunidos num mesmo local formação é poder, quando, na verdade,
ou departamento. o entendimento deveria ser informação
• Quanto maior for a complexidade da organização, há uma tendên- é poder fazer.
cia a aumentar a especialização, ou seja, a divisão de tarefas e atividades,
o que pode dificultar a integração e a comunicação dentro das áreas.
Apesar de existirem muitos modelos de estrutura organizacional, boa
parte das organizações possui funções semelhantes. A missão da organi-
zação é desdobrada em cinco grandes funções: Operações ou Produção,
Marketing e Vendas, Recursos Humanos, Finanças e Pesquisa e Desenvol-
vimento. A Figura abaixo detalha as atividades de cada uma dessas funções:

PESQUISA E
RECURSOS
OPERAÇÕES DESENVOLVI- FINANÇAS MARKETING
HUMANOS
MENTO

Produção Pesquisa e Adm. Dimen. de Inteligência


Manutenção inovação finaceira pessoal competitiva
Tecnologia Auditoria Recrutamento Vendas
Engenharia Controladoria e seleção Comunicação
Utilities: Contabilidade Cargos e integrada
serviços Tesouraria salários Gestão de
gerais e Remunera- marcas
segurança ção e Promoção
benefícios Publicidade
Treinamento Relações
e desenvol. Públicas
Gestão de Pesquisa
desempenho Atendimento
Comunicação ao cliente
interna Responsabili-
dade social

Figura 3 — Áreas Funcionais da Administração (Starec, 2014)


Vamos ver agora cada uma dessas cinco áreas detalhadamente.

capítulo 6 q107
COMENTÁRIO Operações/produção

Organização baseada em Toda organização deve possuir uma área funcional de operações ou de
serviços produção. É na produção que ocorre o processo dos insumos em bens
É importante registrar que o setor de ou serviços que são entregues para os clientes finais.
serviços já corresponde a 67,3% do PIB
(Produto Interno Bruto) do Brasil. A in- As tarefas dessa área compreendem um ciclo de atividades produtivas que
dústria é responsável por 26,9% da in- vão desde a determinação da quantidade de produtos a serem fabricados
dústria e a agricultura por apenas 5,8%. ou clientes a serem atendidos, até a entrega efetiva dos produtos e serviços
Esse é o maior percentual entre os paí- (Maximiano, 2000).
ses que compõem os Brics (Brasil, Rús-
sia, Índia, China e África do Sul). Fonte: Na área industrial, a função de operações engloba a produção, uma
O Globo - 29/03/2012 [Fundo Mone- função essencial porque faz a engrenagem da organização se movimen-
tário Internacional e Banco Central]. tar em direção ao objetivo traçado. O maior desafio da área de operações
é fornecer e gerir os recursos (bens e serviços) e liderar pessoas no dia a
dia corporativo.
COMENTÁRIO Na indústria, a produção tem a responsabilidade de transformar
matérias-primas em produtos com maior qualidade e menor custo pos-
Procons do Brasil sível. Já no setor de serviços, a produção ganha forma de operações. A
Pesquisa realizada pelos Procons do produção de um serviço precisa ter uma série de cuidados especiais para
Rio e de São Paulo podem ser encon- garantir uma entrega de qualidade na percepção do cliente. Para evitar
tradas no site Portal do Consumidor. as “falhas” na entrega ou as lacunas na qualidade do serviço e garantir
a confiabilidade ou credibilidade do prestador de serviço é preciso “Do
it right, the first time”, que, traduzindo do inglês, quer dizer “fazer cer-
COMENTÁRIO to na primeira vez”. Essa deveria ser a missão de qualquer organização
baseada em serviços.
Recursos humanos O planejamento das atividades de operações e produção é conside-
Os seis subsistemas de RH são: di- rado um dos mais importantes das funções do administrador, porque
mensionamento de pessoal, cargos e está diretamente ligado à capacidade de atender as necessidades e ex-
salários, recrutamento e seleção, re- pectativas dos clientes. É muito comum empresas quebrarem ou serem
muneração e benefícios, treinamento e acionadas judicialmente porque foram incapazes de entregar o que
desenvolvimento e gestão do desem- combinaram com seus clientes. Essa é a principal queixa registrada pe-
penho. Cada subsistema precisa estar los consumidores nos Procons do Brasil.
alinhado com as diretrizes do plane-
jamento estratégico da organização. Recursos Humanos
Cada vez mais o RH ganha uma posição
mais estratégica nas empresas. O RH Jack Welch, considerado um dos mais admirados executivos e adminis-
também é responsável, de acordo com tradores do século passado por ter tornado a GE (General Eletric) uma
uma pesquisa da Associação Brasileira das maiores e mais valiosas empresas do mundo, dizia que não eram os
de Recursos Humanos RJ, pela Comu- objetivos e nem mesmo as estratégias que levavam as empresas a atingi-
nicação Interna, na maior parte das em- rem seus resultados, e sim as pessoas. Essa é a missão da área funcional
presas que possuem departamentos de de Recursos Humanos: encontrar as pessoas certas para os lugares cer-
Comunicação Interna. tos, no momento certo, e a um custo adequado à realidade da empresa.
É de responsabilidade da área de RH (Recursos Humanos) adminis-
trar todas as relações da empresa com seus empregados, desde o recru-

108 qcapítulo 6
tamento e contratação, passando pela remuneração e benefícios, pelo desenvolvimento de
competências e habilidade necessárias a uma boa atuação e até pela gestão do desempe-
nho de cada empregado contratado ou terceirizado.
A economia global mudou, e para sobreviver nesse ambiente de alta competitividade, as
empresas perceberam que precisam de pessoas mais qualificadas e preparadas, capazes de
criar soluções, dar respostas precisas e aumentar a produtividade.

ATENÇÃO
As organizações que irão sobreviver no futuro cheio de incertezas serão aquelas que descobrirem como incen-
tivar nas pessoas o comprometimento e a capacidade de aprender em todos os níveis, em todos os setores da
organização. As organizações que aprendem só serão possíveis porque, no fundo, todos são aprendizes (Senge,
1999). Não existem organizações inteligentes, que aprendem sem que seus colaboradores aprendam.

A ideia da “organização que aprende” (Learning Organization – Senge, 1999) é uma realidade
no cenário globalizado. Mas é importante registrar que não existem “organizações que apren-
dem” no sentido de se ter todas as respostas certas. Na prática, as organizações, apesar do uni-
verso de informações disponíveis, são tomadas por uma inércia que se origina, muitas vezes, no
fato de se saber muito e se fazer muito pouco com aquilo que se sabe (STAREC, 2011).

A NOVA ORGANIZAÇÃO EM TRANSIÇÃO


MODELO ANTIGO ORGANIZAÇÃO DO SÉCULO XXI
Mais flexível com redes de
Hierarquia rígida Organização
parcerias e alianças estratégicas

Desenvolver a maneira Estimular mudanças com valor


Missão
atual de fazer negócios agregado - reinventar-se sempre

Autocrática e centralizada Liderança Inspiradora e participativa

Domésticos Mercados Globalizados

Centralizada = Poder Informação Compartilhada = Poder fazer

Ferramentas para Ferramentas para


Tecnologia
desenvolver a mente desenvolver a colaboração

Homogênea Força de trabalho Heterogênea multicultural

Equipes isoladas Processos de trabalho Equipes interfuncionais

Desenvolvimento pessoal,
Sobrevivência e segurança Expectativa do funcionário
qualidade de vida e reconhecimento

Tarefa da empresa com parcerias


Tarefa da escola ou universidade Educação e treinamento
com escolas e universidades

Figura 4 — Modelos das organizações. Fonte: Starec, 2009. Adaptado de Meister, 1999.

capítulo 6 q109
Para a organização ter sucesso, isto é, alcançar os resultados planejados, precisa lidar
com duas questões fundamentais: a primeira é a externa, a mudança contínua do ambiente
competitivo, e a segunda deve ter ligação sistêmica com a cultura organizacional: a neces-
sidade de aprender sempre. Senge (1999) defende que esse aprendizado corporativo se dá
por meio do desenvolvimento de cinco disciplinas:

Tem relação com o autoconhecimento, a necessidade de autodesenvolvi-


MAESTRIA PESSOAL
mento e o aumento das responsabilidades para cada empregado.

Trata de como as pessoas influenciam e são influenciadas pela sua visão de


MODELOS MENTAIS
mundo e, em função dessa visão particular, interagem e tomam decisões.

Aborda as questões relacionadas com os objetivos e metas a serem alcan-


OBJETIVOS COMUNS çadas e a comunicação desses objetivos com toda a organização (compar-
tilhamento de informações).

Está relacionado ao desenvolvimento de habilidades coletivas, à adoção de


APRENDIZADO EM
melhores práticas e vivências e de ações coordenadas para que se possam
GRUPO
alcançar os objetivos comuns.

PENSAMENTO É ter a visão do “todo” e de ter “todo aprendizado” de alguma forma interliga-
SISTÊMICO do. É um aperfeiçoamento do processo de aprendizagem.

O principal objetivo da área de Recursos Humanos é encontrar, atrair e manter as pes-


soas na organização (MAXIMIANO, 2004 p.31). Entre as atividades mais importantes da
função Recursos Humanos estão as seguintes:

Quantificar o número de empregados (mão de obra) e qualificar as competências e


DIMENSIO-
habilidades necessárias (mente de obra) para atender as demais áreas ou funções
NAMENTO DE
administrativas. O dimensionamento de pessoal precisa estar alinhado com o plane-
PESSOAL
jamento estratégico e com as diretrizes da organização.

CARGOS E A definição dos cargos, funções, responsabilidades e salários é fundamental


SALÁRIOS para montar uma boa equipe, um time de alta performance.

Só depois de dimensionado é que a área de RH começa o recrutamento e a seleção


de profissionais que atendam as necessidades da organização. É cada vez mais co-
RECRUTAMENTO
mum a utilização da internet e das redes sociais para a busca desses profissionais.
E SELEÇÃO
Ex.: para contratar estagiários de comunicação, uma agência de comunicação de
São Paulo colocou as vagas na rede social Twitter.

110 qcapítulo 6
Para sobreviver neste ambiente de alta competitividade, as CONCEITO
empresas perceberam que precisam de pessoas mais qualifi-
cadas e preparadas, capazes de criar soluções e dar respostas Plano de negócios
precisas para aumentar a produtividade. A Petrobras, que atua O Business Plan ou Plano de Negócios
TREINAMENTO é um documento essencial para o em-
numa das áreas mais afetadas pela escassez de profissionais
E DESENVOL- preendedor avaliar as possibilidades,
preparados e necessita de gente extremamente qualificada, a
VIMENTO oportunidades e riscos do lançamento
de energia, vislumbrou há 50 anos que a saída para ter pessoal
qualificado seria investir na formação de seus quadros. A Pe- de um negócio, novo produto ou servi-
trobras é uma das empresas que mais investem em educação ço no mercado. Geralmente, o business
corporativa no mundo (STAREC, 2011). plan é composto por três partes: Plano
Operacional, Plano de Marketing e Pla-
Essa atividade é considerada uma das mais importantes, pois no Financeiro.
avalia o desempenho de cada colaborador e mede o quanto
ele contribuiu ou não para o alcance dos resultados planejados.
AVALIAÇÃO DE
Com base em indicadores de avaliação de desempenho é que
DESEMPENHO
muitas organizações estão direcionando a participação nos re-
sultados, que é uma prática cada vez mais utilizada para recom-
pensar aqueles empregados que tiveram melhor desempenho.

CONCEITO
Domenico de Masi (1999) argumenta que os brain workers (trabalhadores do co-
nhecimento ou mente de obra) desempenham um papel central na Sociedade pós
-industrial, marcada por cinco aspectos:
1) a passagem da produção de bens para a economia de serviços;
2) a preeminência da classe dos profissionais e dos técnicos;
3) o caráter central do saber teórico, gerador de inovação e das ideais diretivas nas
quais a coletividade se inspira;
4) a gestão do desenvolvimento técnico e o controle normativo da tecnologia;
5) a criação de uma nova tecnologia intelectual.
Mas foi Peter Drucker quem pela primeira vez usou o termo trabalhador do conheci-
mento num artigo na década de 1960.

Marketing

A área funcional do Marketing é responsável por criar e manter o rela-


cionamento da empresa com o seu mercado, de maneira geral, e com
seus clientes de forma ainda mais específica. Conhecer seu público é
essencial para que as ações do Marketing sejam mais efetivas. Empre-
sas orientadas para o mercado, em geral, dão muita importância para
as atividades da área de Marketing.
É importante ressaltar que no plano de negócios ou no processo
do planejamento estratégico os conteúdos e conceitos do Marketing
são muito utilizados.

capítulo 6 q111
Existem inúmeras definições e conceitos sobre o que é marketing. Segundo a AMA —
Associação Americana de Marketing (American Marketing Association):

O Marketing é uma função organizacional, uma atividade ou conjuntos de conhecimentos e os


processos de criar, comunicar, entregar e trocar ofertas que tenham valor para os clientes, bem
como a administração do relacionamento com eles, de modo que beneficie a organização e a
sociedade como um todo.

Já para Philip Kotler (2012), considerado um dos maiores pensadores sobre marketing
na atualidade, “Marketing é a arte de descobrir oportunidades, desenvolvê-las e lucrar com
elas. Marketing do século XXI é a arte de criar, conquistar e dominar mercados”.
Seguindo a definição de Kotler, o Marketing pode ser entendido como uma espécie de
radar que tem a missão de monitorar o ambiente competitivo no qual a empresa está inseri-
da, para identificar oportunidades de negócio e evitar ameaças como mostra a figura abaixo.

Figura 5 — Evitando ameaças. Fonte: Starec, 2014 adaptado da apresentação do Dr. Carlos Alberto
Schneider, 2008
A função do marketing é muito ampla e abrange atividades como:
Análise mercadológica e concorrencial;

Segmentação dos mercados a serem atendidos;

Pesquisa de mercado e identificação das necessidades e de tendências mercadológicas;

Posicionamento estratégico;

Desenvolvimento de produtos e/ou serviços;

Definição de praça, canais, distribuição e logística: desenvolvimento de canais de distribuição e


gestão dos pontos de venda;

Definição de preço (Pricing): determinação das políticas comerciais e estratégias de preço no mercado;

Administração da Comunicação Integrada de Marketing com o público-alvo, envolvendo promoção,


publicidade, propaganda e assessoria de imprensa.

112 qcapítulo 6
Como o principal objetivo é conquistar e manter um bom relacio- COMENTÁRIO
namento com seus clientes e com o mercado, os profissionais utilizam
o composto de marketing também conhecido como marketing mix. O Outros 4 "Pês"
composto de marketing define a estratégia de marketing da empresa ao O composto de Marketing ou Marketing
trabalhar com decisões sobre 4 “pês”: Preço, Praça, Promoção (comu- Mix foi formulado pelo professor da uni-
nicação) e Produto; e atualmente envolvendo outros 4 “Pês”: Pessoas, versidade de Michigan Jerome McCharty
Processos, Programas (são todas as atividades da empresa direcionadas na década de 1960. Como o mundo dos
aos clientes) e Performance (resultado) (KOTLER, 2012 p.24). negócios mudou muito nos últimos anos,
Veja a seguir um descritivo de cada “Pê” do composto de marketing: em virtude da abrangência, complexida-
de do próprio marketing, vários autores,
liderados por Philip Kotler, entendem que
Definir as especificidades do produto a ser fabricado ou
os 4 “Pês” iniciais já não representam
serviço a ser oferecido é, provavelmente, uma das mais im-
mais todo o cenário corporativo e propu-
PRODUTO portantes decisões que a organização pode tomar. As deci-
seram novos “Pês” aos já existentes.
(PRODUCT) sões sobre produto envolvem investimentos e ou financia-
mentos e precisam levar em consideração as competências
técnicas e os recursos existentes.

Definir corretamente o preço de um produto ou serviço é


outro desafio do composto de marketing. A definição de
pricing* não pode ser feita apenas olhando os custos ope-
PREÇO
racionais ou valor praticado pela concorrência, deve levar
(PRICE)
em consideração a expectativa do cliente, isto é, se ele está
disposto a pagar pelo preço estabelecido.
* Pricing, em inglês, significa precificar.

Não basta planejar corretamente o produto ou serviço e o


seu preço se o administrador ou o profissional de Marketing
PRAÇA não definir claramente o mercado no qual será adquirido ou
(PLACEMENT) contratado pelo consumidor. O planejamento de praça com-
preende decisões sobre canais de distribuição, logística, e
segmentação de mercado.

Definir de forma assertiva a comunicação é um passo im-


portantíssimo para que o produto ou serviço alcance os re-
sultados esperados. Como a audiência está a cada dia mais
pulverizada, as organizações passaram a adotar o conceito
PROMOÇÃO
da comunicação integrada de Marketing, o que quer dizer
(PROMOTION)*
usar mídias combinadas para fazer com que o cliente atual
ou potencial saiba da existência e das características e di-
ferenciais do produto e ou serviço.
* O termo Promotion, em inglês, significa comunicação.

capítulo 6 q113
Os novos “Pês” da Administração moderna de marketing (KOTLER, 2012 P.24) podem
ser definidos como:

Reflete o endomarketing (marketing interno) e o fato de os empregados terem


um papel importantíssimo no sucesso de qualquer estratégia de Marketing. Esse
PESSOAS
novo “Pê” sinaliza que as empresas devem ter sempre o foco do cliente, ou seja,
(PEOPLE)
conhecer bem o seu público para gerar relacionamento de longo prazo e não ape-
nas defini-lo como alguém que compra e consome produtos ou contrata serviços.

Reflete a administração de marketing, todos os processos e atividades envolvidas


PROCESSOS para gerar relacionamentos de longo prazo com seus clientes e benefícios mú-
(PROCESS) tuos. Segundo Kotler (2012), processos levam a organização a gerar de forma
criativa insights, ideias e inovações em bens, serviços e atividades de Marketing.

Reflete o conjunto de atividades e esforços de marketing direcionados aos con-


PROGRAMAS
sumidores. Eles englobam os antigos 4 “Pês” e outras atividades de Marketing
(PROGRAM)
que devem ser integradas para que os objetivos sejam alcançados.

Kotler (2012) define performance como o conjunto de indicadores de avalia-


PERFORMANCE
ção de resultado que tenham implicações financeiras, não financeiras (valor da
(PERFORMANCE)
marca) e de responsabilidade social, ética e cultural.

Além dos quatro novos “Pês” propostos por Philip Kotler, dois outros “Pês”, Posiciona-
mento e Pesquisa, deveriam completar a lista:

Conceito popularizado pelos consultores Al Ries e Jack Trout, autores o livro


POSICIONAMENTO
Posicionamento — A batalha por sua mente. Os dois autores mostram a impor-
(POSITIONING)
tância de se criar uma “posição” única na mente do consumidor.

É o “Pê” da informação e da inovação. No Marketing, como na Administração e


PESQUISA na vida, é impossível tomar boas decisões sem ter boas informações e inovação,
(RESEARCH) pela necessidade das organizações se reinventarem sempre para que possam
continuar competitivas.

Finanças

A função financeira é considerada uma das mais críticas e aparece de forma prioritária na
agenda de administradores e executivos pelo fato de ser a responsável por apontar se os
resultados financeiros planejados estão sendo alcançados pela organização. Os impac-
tos das decisões financeiras precisam ser avaliados, principalmente pela utilização eficaz
dos recursos disponíveis.

ATENÇÃO
Nos dias de hoje, é muito difícil encontrar algum planejamento ou mesmo plano de ação sem ter um desdo-
bramento financeiro. O ROI (do inglês return of investments), indicador que mede o retorno financeiro dos

114 qcapítulo 6
investimentos (qualquer que seja o investimento), está muito presente no dia a dia corporativo. No mundo
corporativo, acionistas, executivos e administradores querem saber se o investimento a ser feito vai trazer
algum retorno para a organização, qual é esse retorno e em quanto tempo ele virá.

Como preço e qualidade dos produtos estão a cada dia mais similares entre concorren-
tes (como foi visto no capítulo anterior) e as margens, de maneira geral, cada vez menores,
em função do aumento da concorrência é obrigatório pensar no planejamento financeiro
sempre que decisões ou opções estratégicas precisem ser tomadas.
A administração financeira não é uma tarefa simples. Na realidade, é bastante comple-
xa, por abranger uma série de outras funções e atividades. Decisões de planejamento estra-
tégico são afetadas principalmente pelas questões de investimento (em função do fluxo de
caixa, do dinheiro disponível depois dos pagamentos efetuados) e financiamento (identifi-
cando as opções de crédito).
É missão da área financeira gerar recursos para que a organização consiga manter em
dia seus compromissos com impostos e tributos, pessoal e infraestrutura (custos fixos e
variáveis), e ainda gerar caixa para financiar seus novos projetos ou aqueles que ainda estão
em andamento.
Em resumo, a função finanças abrange decisões de:

É a aplicação de algum tipo de recurso financeiro com a expectativa de obter


INVESTIMENTO
algum retorno futuro superior ao valor investido.

O financiamento é uma transação financeira em que uma instituição financeira


(banco ou financeira) fornece dinheiro ou crédito para a compra, locação ou
FINANCIAMENTO
leasing (espécie de aluguel com opção de compra) de um bem previamente
acordado.

Entre as perguntas mais relevantes para ajudar no processo decisório (como foi visto no
Capítulo 4) estão:

Quanto custa lançar um novo produto ou um novo serviço no mercado?

É mais interessante, do ponto de vista financeiro, lançar um novo produto/serviço ou melhorar o atual?

De onde virá o dinheiro para o lançamento de um novo produto ou a abertura de uma nova filial?

Quais alternativas de investimento e financiamento oferecem as melhores condições para a empresa?

Qual é o retorno sobre o investimento desse novo produto/serviço?

Esse é um bom negócio, em termos de retorno, para a empresa?

Encontrar as respostas para essas questões é um dos grandes desafios da Administra-


ção financeira. E para os administradores nas organizações do século XXI, a inovação é um
dos grandes objetivos a serem alcançados, como você vai ver a seguir.

capítulo 6 q115
CURIOSIDADE Pesquisa & desenvolvimento

“O gênio da lâmpada” A literatura comenta que antes de Thomas Edison inventar a lâmpada
O termo gênio da lâmpada foi recupe- elétrica, ele levou um ano inteiro e tentou, pelo menos, umas cinco mil
rado da matéria “Thomas Edison, o gê- de vezes. Edison acreditava que o sucesso de uma invenção era medido
nio da lâmpada”, capa da revista Super pela seguinte fórmula: “1% de inspiração e 99% de transpiração”. Foi as-
Interessante de dezembro de 1988. sim que “o gênio da lâmpada” teve outra “ideia luminosa” e criou uma
O texto reconta a história de Thomas das maiores empresas de todos os tempos, a GE (General Eletric), se
Edison, o gênio da lâmpada — conside- transformando num dos homens mais ricos e admirados da sua época.
rado o mais fértil inventor de todos os Edison acreditava que a criatividade representava uma pequena parte
tempos; criou o fonógrafo, a lâmpada no desenvolvimento de novos produtos e serviços.
elétrica, o projetor de cinema e aperfei- Nos dias de hoje, o sucesso organizacional é sinônimo de resultado
çoou o telefone. Ele traçou desse modo e está diretamente ligado à qualidade com que os administradores uti-
o perfil do mundo de hoje, intensivo em lizam a informação disponível para melhorar o processo de tomada de
energia, entretenimento e comunica- decisão, e também pelo conhecimento dos empregados e pela compe-
ção (indústria criativa). tência das suas ações, ou seja, por sua capacidade de inovar.

ATENÇÃO
No contexto atual da competitividade, em que a única certeza é a mudança, inovar
passa a ser uma questão de sobrevivência para as organizações. A sociedade mu-
dou e continua mudando cada vez de forma mais intensa. As organizações tentam se
adaptar aos novos e turbulentos tempos, as fronteiras desapareceram, novos merca-
dos estão surgindo a todo instante, e os administradores precisam acompanhar e se
adaptar a essas mudanças radicais.

Nas organizações modernas, a área de Pesquisa & Desenvolvimento


[P&D] tem o desafio de planejar o desenvolvimento de novos produtos
ou serviços monitorando o ambiente competitivo e identificando ten-
dências e oportunidades criadas pelo mercado.
A função de P&D é transformar informações de Marketing e tendên-
cias de mercado em ideias originais, que os avanços tecnológicos vão
transformar em novos produtos e serviços. Além de incentivar a inova-
ção, a área de Pesquisa & Desenvolvimento também poder ser responsá-
vel por identificar e introduzir novas tecnologias no processo produtivo,
ou seja, melhorar o processo de fabricação de determinado produto ou
da entrega de um serviço.
Entre os critérios apontados por diversos autores (Maximiano,
Kotler, Chiavenato, Starec) que influenciam o processo de inovação, es-
tão os seguintes:

Compatibilidade com a cultura organizacional;

Adesão da alta administração e sensibilização de toda a equipe;

116 qcapítulo 6
Alinhamento com a estratégia macro da organização e com o planejamento estratégico;

Custos do processo de inovação e tempo de desenvolvimento;

Mapeamento de riscos envolvidos;

Base tecnológica disponível;

Disponibilidade de mente de obra (pessoas com as competências necessárias);

Taxa de ROI (Retorno sobre o Investimento);

Margem de lucro esperada;

Complexidade com os processos de produção/entrega existentes.

Considerações finais
“Só sei que nada sei.” Sócrates

A frase de Sócrates bem que poderia sintetizar a premissa de toda vantagem competitiva sus-
tentável, que está na capacidade de aprender mais rápido e colocar esses aprendizados em
ação antes que os seus concorrentes o façam (GEUS, 1997). A prática corporativa atesta que
não basta inovar ou ter uma vantagem competitiva se essa inovação ou vantagem competitiva
não forem colocadas em prática antes que os concorrentes o façam (STAREC, 2011).
No cenário competitivo atual, as empresas simplesmente não competem mais com pro-
dutos ou serviços. Cada vez mais a competição se dará com informação (DRUCKER, 2001),
ou com base nas possibilidades de aplicação do conhecimento em termos de melhoria de
produtos ou processos, o que se pode classificar de inovação (STAREC, 2011).
As organizações perceberam a importância da gestão para aprendizagem, com foco
na criação de conhecimento, na inteligência aplicada e inovação nos negócios. Na reali-
dade, o acesso à informação já não é o grande desafio da Sociedade da Informação e do
Conhecimento, mas sim a aplicabilidade da informação na geração de novos conheci-
mentos, que, por sua vez, podem gerar melhorias nos produtos ou serviços, ajudar a mo-
nitorar tendências de mercado, identificar novas oportunidades de negócio e até mesmo
evitar ameaças competitivas (STAREC, 2011).
A nova organização tem agora a missão de aprender a se reinventar mais rápido do que
seus concorrentes na busca por diferenciais competitivos sustentáveis. E esse aprendizado
deve ser colocado em prática também de forma mais rápida que os concorrentes. Essa é
uma tarefa das mais difíceis de ser alcançada no mundo corporativo. Por isso, hoje, mais
do que em qualquer outra época, a educação está sendo construída em várias frentes com
distintos objetivos como fruto da demanda da Sociedade.
As novas organizações se caracterizam essencialmente pelo desafio de facilitar a comu-
nicação da informação, o compartilhamento das melhores práticas e o incentivo à aquisi-
ção/construção de novos conhecimentos pelos seus colaboradores. O sucesso desse mo-
delo organizacional tem uma ligação direta com as facilidades propiciadas pela revolução
tecnológica, ao fazer com que as informações se tornem mais acessíveis o tempo todo.

capítulo 6 q117
Essa nova e desafiante fronteira da Administração surgiu em função dos avanços tecno-
lógicos que contaminaram de forma decisiva indivíduos, organizações, governos e socieda-
des. O advento da nova organização só foi possível a partir da constatação de que não existe
organização sem pessoas e de que informação e conhecimento são as principais riquezas
da Sociedade do Aprendizado.

ATIVIDADE
Questões para reflexão e discussão em sala de aula
1. Como as áreas funcionais devem atuar?
2. Qual é a função do Marketing?
3. O que faz a área de operações nas organizações?
4. Qual é o papel essencial dos Recursos Humanos?
5. Como a área Financeira pode ajudar as demais a atingirem os resultados?
6. Por que é importante para um administrador inovar?
7. Na sua empresa quais são as áreas funcionais mais críticas?
8. Por que as áreas funcionais precisam operar em sinergia?
9. Por que é difícil compartilhar informações e conhecimentos?
10. O que você faria para incentivar a troca de informações na sua organização?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Administração de Empresas. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
______. Teoria Geral da Administração. Rio de Janeiro: Elsevier Brasil, 2003.
DRUCKER, Peter. Administrando em Tempos de grandes mudanças — Administração. São Paulo: Publifolha, 1999.
______. O Advento da Nova Organização. In: Gestão do Conhecimento Havard Business Review. Rio de Janeiro: Campus, 2006.
______. O melhor de Peter Drucker — a Administração. São Paulo: Nobel, 2001.
GEUS, Arie. A empresa viva. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
HAMEL, Gary; PRAHALARD, C.K. Competindo pelo futuro. Rio de Janeiro: Campus, 1995.
KOTLER, Philip; KELLER, Kevin L. Administração de Marketing. São Paulo: Pearson, 2012.
MASI, Domenico. A Sociedade pós-industrial. São Paulo: Senac, 1999.
MAXIMIANO, Antônio Cesar Amaru. Introdução à Administração. São Paulo: Atlas, 2000.
______. Introdução à Administração. São Paulo: Atlas, 2004.
MEISTER, J.C. Educação Corporativa. São Paulo: Makron Books, 1999.
SENGE, M. Peter. A quinta disciplina. São Paulo: Best Seller, 1999.
STAREC, Claudio (org). Gestão da Informação. Inovação e Inteligência Competitiva. São Paulo: Saraiva, 2012.
STAREC, Claudio. Educação corporativa em xeque. Rio de Janeiro: Senac Rio, 2011.
ZEITHAML, Valarie A.; BITNER, Mary Jo. Marketing de Serviços: a empresa com foco no cliente. São Paulo: Bookman, 2003.
Sites consultados
www.abrhrj.org.br
www.oglobo.globo.com
www.petrobras.com.br
www.portaldoconsumidor.gov.br
http://super.abril.com.br/cotidiano/thomas-edison-genio-lampada-438845.shtml, acesso em 6 de março de 2014

118 qcapítulo 6
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