Meios de Obtenção de Prova Na Fase PDF
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Dud
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo definir pontos de discussão sobre o reconhecimento pessoal
dentro do contexto de obtenção de meios de prova no processo penal. Para tanto, serão concei-
tuados os institutos tendo como ponto de partida a legislação brasileira, com especial atenção
a questões práticas para, assim, destacar a situação de tais dispositivos na investigação criminal
preliminar. Dentro do objetivo mencionado, serão expostas informações sobre os procedimen-
tos adotados para o reconhecimento pessoal pelo sistema espanhol, pelo português, na Itália e
outros países, com o que se espera, por comparação, concluir sobre a necessidade de mudanças
na legislação pátria sobre tais assuntos.
1. INTRODUÇÃO
Por isso, optou-se por iniciar pela análise dos atos de reconhecimen-
to pessoal na legislação brasileira, isso com o intuito de delimitar o campo de
comparação com outras realidades em sistemas processuais, pelo que serão
apontados os pontos em que pode avançar a coleta de tal prova.
3. RECONHECIMENTO PESSOAL
1 p. 117. “Mas o termo “prova” não é unívoco. Em uma primeira acepção, indica o conjunto de atos
processuais praticados para averiguar a verdade e formar o convencimento do juiz sobre os fatos. Num
segundo sentido, designa o resultado dessa atividade. No terceiro, aponta para os “meios de prova”. Pode-
se, assim, distinguir entre fonte de prova (os fatos percebidos pelo juiz), meio de prova (instrumentos
pelos quais os mesmos se fixam em juízo) e objeto de prova (o fato a ser provado, que se deduz da fonte e
se introduz no processo pelo meio de prova).”. Interessante notar que a autora em tela também menciona
que: ”(...). O resultado da interceptação – que e uma operação técnica – é fonte de prova. Meio de prova
será o documento (a gravação e sua transcrição) a ser introduzido no processo.”. p. 174.
2 “Verifica-se, assim, que a expressão “mera peça” deveria ser excluída dos livros doutrinários, já que,
como é cediço, todas as provas produzidas dentro desse importante procedimento investigativo, são, na
maioria das vezes, apenas repetidas em Juízo.” – CARVALHO, Paulo Henrique da Silva. A importância
do inquérito policial no sistema processual penal. Disponível em http://www.advogado.adv.br/
artigos/2006/paulohenriquedasilvacarvalho/aimportanciainquerito.htm, acesso em 07/10/2012.
6 Os erros em reconhecimentos pessoais têm causado condenações errôneas nos Estados Unidos.
Conforme reportagem a seguir citada, os exames de ADN demonstraram que os condenados foram
reconhecidos equivocadamente, o que já provocou mais de duzentas libertações de inocentes. A
seguir, trecho da mencionada reportagem: In 1981, 22-year-old Jerry Miller was arrested and charged
with robbing, kidnapping, and raping a woman. Two witnesses identified Miller, in a police lineup, as the
perpetrator. The victim provided a more tentative identification at trial. Miller was convicted, served 24
years in prison, and was released on parole as a registered sex offender, requiring him to wear an electronic
monitoring device at all times. Recent DNA tests, however, tell a different story: Semen taken from the
victim’s clothing—which could have come only from the perpetrator—did not come from Miller. In fact,
when a DNA profile was created from the semen and entered into the Federal Bureau of Investigation’s
convicted offender database, another man was implicated in the crime. On April 23, 2007, Miller
became the 200th person in the United States to be exonerated through DNA evidence. DNA should clear
man who served 25 years. USATODAY JOURNAL, 4/23/2007 10:46 AM. Disponível em http://
usatoday30.usatoday.com/news/nation/2007-04-22-dna-exoneration-inside_N.htm, acesso em
23/10/2012.
7 Vários são os fatores responsáveis pela deterioração da lembrança, sendo que os dois principais são: 1)
o intervalo até a retenção (a diminuição da precisão da lembrança se deve ao esquecimento normal,
o qual é mais rápido após a aquisição e antes da retenção, tornando-se mais lento em seguida) e 2) as
informações obtidas após o ocorrido (durante o intervalo entre a aquisição e a retenção, ou mesmo
após a retenção, a testemunha está exposta a novas informações sobre o acontecimento presenciado,
por exemplo, por comentários posteriores de outras testemunhas, os quais criarão problemas para
distinguir entre a informação original e a incorporada posteriormente).”.
8 Eyewitness identifications involve both psychologica1 and procedural factors. The psychological aspects
of eyewitness identification challenges human perception and question the human ability to distinguish
one person from another. The procedural aspect is the questioning of: police procedures in obtaining
eyewitness identification and the court procedures in presenting and interpreting eyewitness testimony.
The main questions concerning the psychological aspect of eyewitness identification are: 1) the ability of a
person to record characteristics of another; 2) the ability to retain these perceptions and; 3) the ability to
communicate accurately and specifically these perceptions.
9 Conforme pensam LOPES JR e DI GESU (2007): “As contaminações a que estão sujeitas a prova
penal podem se minimizadas através da colheita da prova em um prazo razoável, objetivando-se
suavizar a influência do tempo (esquecimento) na memória. (...).”..
10 Conforme Andrew Roberts, professor da Universidade de Warwick (Reino Unido), e estudioso
do assunto, reconhecimentos feitos a partir de procedimentos bem elaborados, obedecendo-se a
sequência de atos e realizados o quanto antes são menos suscetíveis a erros. (ROBERTS, 2009).
11 Where identification is, or might become, a central issue in a case, must the police always use
procedures which are thought to produce the most reliable identification evidence? In other words,
does a suspect have a right to the most accurate identification procedures? One way of addressing
the problem of finite resources is to claim that the suspect’s right to the use of the most accurate
identification procedures is a qualified right. Dworkin, for example, argues that an absolute right to
the most accurate procedures for determining innocence and guilt would require the criminal justice
system to have first call on the resources available to a government. Diversion of resources into the
criminal justice system to give effect to this right would lead to a state of affairs in which there were
insufficient resources to fund other aspects of governments’ welfare obligations.
12 Simultaneous presentation of subjects allows the witness to compare the persons appearing in the
procedure to one another. It is suggested that this might lead to the witness selecting the subject who
bears the closest resemblance to the culprit, though that resemblance may not, in fact, be particularly
close. The suspect may be identified on the basis that he is the ‘best candidate’”
13 Because in the sequential lineup the witness is shown only one image at a time and is required to make
a decision in relation to each image before the next is shown, the opportunity to compare subjects
does not arise. Because intra-subject comparison is not possible, any identification is more likely
to based on there being a close similarity in the suspect’s appearance and the witness’s recollection
of the culprit. It has been suggested that, as identification of a suspect through a shallow relative
judgment may amount to no more than speculation on the part of the witness, a higher rate of
false identification might be expected. This kind of speculation on the part of the witness might be
expected to lead to identification of suspects from time-to-time. If the opportunity to speculate is
removed then the rate of accurate identification may fall. However, suppose further research were to
reveal that the use of sequential lineups brought about a roughly equal reduction in the rate of false
and accurate positive identifications; that its use would produce no net gain in procedural accuracy.
Some might still advocate adoption of the sequential lineup on the grounds that its use would lead
relação cada um dos que forem aparecendo à sua frente, podendo, inclusive,
isentar o real autor por não reconhecê-lo, evitando, também, “falsos positi-
vos”. No entanto, os resultados obtidos pelo sequencial são mais confiáveis,
embora seja observado que há menor incidência de autores de crimes reco-
nhecidos por tal método. Bom ser também notado que esta consequência
é mais aceitável do que a indicação falsa de autoria pelas falhas do modelo
simultâneo, o qual permite a escolha do “mais parecido”.
do-se a uma sequência concatenada de atos, sem o que pode ser maculado o
resultado da sessão de reconhecimento.
Tal “indução a erro” pode ser causada até mesmo se o procedimento for exe-
cutado de acordo com as regras do Código de Processo Penal. Por tais regras,
e conforme está disposto pelo artigo 226 do Código de Processo Penal, a tes-
temunha ou a vítima que tiver de fazer o reconhecimento será “convidada”19
a descrever a pessoa que deva ser reconhecida. Daí deduz-se que, antes da
sessão de reconhecimento pessoal, a testemunha ou a vítima deve fornecer
características físicas e do traje do suspeito, com o que vai ser preparada a
sessão de maneiras a deixar que os componentes sejam trajados todos de ma-
neira mais parecida possível20.
Bom ser citado que, nos termos dos artigos 227 e 228 do Código de
Processo Penal, o mesmo rito aplicado ao reconhecimento pessoal deverá ser
seguido para objetos a serem reconhecidos. Além disso, se houver mais de
um reconhecedor, deverão ser separados para que não se comuniquem, não
sendo esclarecido se antes ou depois das sessões.
21 Deve ser ainda levado em conta que, muitas vezes e quando o réu está solto, testemunha, vítima e
familiares aguardam pelo “pregão” no saguão do fórum, o que já determina a temeridade em participar
de reconhecimentos, haja vista que não são separados dos demais presentes.
22 A partir do momento que o reconhecedor teve contato com a pessoa a ser reconhecida, a imagem
guardada na memória influirá no segundo reconhecimento. Assim, estará o ato viciado. É, portanto,
meio irrepetível de prova. Assim, deve sempre ser produzido com todas as cautelas e observando
o procedimento existente em lei para sua realização (arts. 226 e ss. do Código de Processo Penal).
Em resumo, por somente ser produzido uma única vez, para que forme elementos de prova, deve ser
realizado de forma perfeita, respeitando rigorosamente o procedimento legal e sempre na presença das
partes e do juiz, em respeito ao princípio do contraditório. É também um meio de prova urgente e, por
isso, deve ser realizado antecipadamente. Levando em conta a influência que a memória produz no
reconhecimento, deve-se refletir o caráter de urgência existente na sua produção. O reconhecimento
deve ser um dos primeiros atos de investigação de um fato criminoso, pois, para a sua adequada
realização, exige-se que o sujeito ativo recorde muito bem a imagem da pessoa ou da coisa envolvida.”.
Ainda assevera tal autora: “Em resumo, tendo em vista que o reconhecimento se trata de um meio de
prova irrepetível, pois somente pode ser produzido uma vez, deve sempre ser realizado de acordo com
o procedimento previsto em lei e com a participação das partes e do juiz, em respeito ao princípio
constitucional do contraditório. Por ser meio de prova urgente, tendo em vista a influência negativa
que o tempo acarreta na memória, deve ser realizado o mais rápido possível, preferencialmente na fase
de investigação, antecipando-se a sua produção, com respeito ao rito e com a participação das partes e
do juiz.
23 Conforme entendimentos jurisprudenciais do Superior Tribunal de Justiça-STJ, é possível determinar
que ainda se está bastante distante de atendimento ao que determina a Constituição Federal em
sede de direitos e garantias fundamentais. Somente como exemplo, a ementa de uma das decisões:
“PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS PREVENTIVO SUBSTITUTIVO DE
RECURSO ORDINÁRIO. HOMICÍDIO. RECONHECIMENTO PESSOAL. DIREITO AO
SILÊNCIO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO. PROVIDÊNCIA PROBATÓRIA FACULTADA
AO JUIZ. LIVRE CONVENCIMENTO. 1. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que
o reconhecimento pessoal não é obrigatório, ficando ao prudente arbítrio do Juiz da causa a necessidade
de realização dessa diligência. Precedentes do STJ e STF. 2. Habeas corpus conhecido e ordem
denegada. (HC 164.870/SP, Rel. Ministro ADILSON VIEIRA MACABU (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/RJ), QUINTA TURMA, julgado em 21/06/2012, DJe 03/08/2012).”.
E outra: “PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO.
RECONHECIMENTO PESSOAL. VÍCIO. SUPERVENIENTE RECONHECIMENTO
JUDICIAL. EIVA SUPERADA. REGIME INICIAL FECHADO. MOTIVAÇÃO:
ELEMENTOS CONCRETOS. ILEGALIDADE: AUSÊNCIA. 1. Resta superada a alegação de
vício em reconhecimento pessoal, levado a cabo em sede policial, diante de congênere providência
regularmente realizada em juízo. 2. Encontra-se motivada a sujeição ao regime inicial fechado quando
alicerçado em elementos concretos, a despeito destes não terem sido empregados na fixação da
pena-base, fixada no mínimo legal. 3. Ordem denegada. (HC 152.988/SP, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 02/02/2012, DJe 15/02/2012).
24 O reconhecimento de pessoas e coisas está previsto atualmente no art. 226 e ss. do CPP, e pode
ocorrer tanto na fase pré-processual como também processual. No anteprojeto de reforma do CPP,
o reconhecimento está regrado nos arts. 191 a 193, sendo o ponto nevrálgico estabelecido no art.
191. Basta uma rápida comparação para ver que não há nenhuma evolução ou reforma digna de nota.
Os velhos problemas persistem: quantas pessoas devem participar do ato de reconhecimento? E a
problemática lacuna em torno do “reconhecimento” por fotografias, será resolvida? E o reconhecimento
que dependa de outros sentidos, como o acústico, olfativo ou táctil, quando será disciplinado? No
anteprojeto do CPP, nada consta.”. LOPES JR, Aury. Reforma processual penal e o reconhecimento
de pessoas: entre a estagnação e o grave retrocesso. Boletim IBCCRIM : São Paulo, ano 17, n. 200,
p. 16-17, julho 2009. Ainda, interessante observar o que vem sendo aprovado no Anteprojeto de
Reforma do Código de Processo Penal quanto a tal matéria: Seção IV. Do Reconhecimento de
Pessoas e Coisas e da Acareação. Art. 191. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento
de pessoa, proceder-se-á da seguinte forma: I – a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será
convidada a descrevera pessoa que deva ser reconhecida; II – a pessoa, cujo reconhecimento se
pretender, será colocada ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-
se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la; III – a autoridade providenciará para que
a pessoa a ser reconhecida não veja aquela chamada para fazer o reconhecimento; IV – do ato de
reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada
para proceder ao reconhecimento e por 2 (duas)testemunhas presenciais. V – no reconhecimento do
acusado será observado o disposto no art. 265, §4o. Parágrafo único. O disposto no inciso III deste
artigo não terá aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento. Art. 192. No
reconhecimento de objeto, proceder-se-á com as cautelas estabelecidas no artigo anterior, no que for
aplicável. Art. 193. Se várias forem as pessoas chamadas a efetuar o reconhecimento de pessoa ou de
objeto, cada uma fará a prova em separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas.
25 No que tange ao local em que são realizadas as sessões de reconhecimento, tal ponto de discussão
mereceria estudo mais aprofundado para que fosse possível repetir com a maior fidelidade possível o
ambiente em que o reconhecedor captou a imagem, a voz ou algum ponto característico do autor do
delito. No entanto, o que se vê nas Delegacias de Polícia e nas unidades da Polícia Militar pelo Brasil
é crucial para entender os motivos pelos quais o reconhecimento pessoal vem sendo atacados como
meio de obtenção de prova pelos estudiosos do Direito Penal. São muito comuns reconhecimentos
pessoais feitos com um só “reconhecendo” (por óbvio, o suspeito), com ele algemado, trajando roupas
e com semblante de quem está recolhido ao cárcere (sapatos sem cadarços, sem cinto nas calças, cabelos
despenteados, barba por fazer, camisa abotoada até o colarinho etc.) ou completamente diferente em
sua aparência dos demais. Além disso, são comuns reconhecimentos feitos através de frestas de portas,
por buracos em placas de compensado, por “olhos mágicos” de portas de gabinetes, por persianas ou
pelas cortinas da sala do cafezinho, sem iluminação e sem as mínimas condições de reprodução de
ambientes que se exigem em tal assunto.
26 Quanto às características físicas e de identificação do suspeito, já se decidiu que a vítima deve relatar
algo que possibilite minimamente o reconhecimento do suspeito como autor do crime. Assim:
“Número: 70050185339. Tribunal: Tribunal de Justiça do RS. Seção: CRIME. Tipo de Processo:
Apelação Crime. Órgão Julgador: Sexta Câmara Criminal. Decisão: Acórdão. Relator: Aymoré Roque
Pottes de Mello. Comarca de Origem: Comarca de Tramandaí. Ementa: AC Nº. 70.050.185.339
AC/M 4.074 - S 30.08.2012 - P 67 APELAÇÃO CRIMINAL. ROUBO MAJORADO. TESE
RECURSAL ABSOLUTÓRIA CENTRADA NA AUSÊNCIA DE PROVA SUFICIENTE
PARA A CONDENAÇÃO. ACOLHIMENTO. INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO
HUMANITÁRIO DO IN DUBIO PRO REO (ART. 386, INC. VII, DO C.P.P.). ABSOLVIÇÃO.
A única prova existente contra o réu no processo reside no reconhecimento pessoal feito pela vítima
direta do fato, única que teve contato com o assaltante. Ocorre que a vítima afirma não ter visto o
rosto do autor do fato, jamais tendo apontado qualquer característica física dele que possibilitasse o
reconhecimento. Forma do ato de reconhecimento que pode ter gerado indução do reconhecedor,
pois o réu foi colocado sozinho na sala logo após ter sido preso em razão de outro processo. Prova
frágil para embasar a condenação, quando desacompanhado de qualquer outro elemento de prova
a confirmar o aponte. Absolvição do réu que se impõe. APELO PROVIDO. (Apelação Crime Nº
70050185339, Sexta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Aymoré Roque Pottes de
Mello, Julgado em 30/08/2012). Data de Julgamento: 30/08/2012”. Disponível em http://www1.
tjrs.jus.br/busca/?q=%22reconhecimento+pessoal%22&tb=jurisnova, acesso em 07/10/2012.
pelo apontamento do acusado na audiência pela testemunha. Mencionam Rosa Maria Rocha e Teresa
Alves Martins crítica à admissão, pelo Supremo Tribunal de Portugal, de reconhecimento atípico
efetuado em audiência de julgamento sem observância dos formalismos legais para o reconhecimento
de pessoas, com invocação do princípio da livre apreciação da prova, embora o Tribunal Constitucional
tenha afirmado a impossibilidade de se admitir como prova reconhecimento feito sem a observância
dos requisitos legais. Lembra-se de que o reconhecimento na audiência tem sido considerado em
algumas decisões como meio de identificação e não de reconhecimento, não submetido, por isso, ao
regime deste. (p. 38).
29 Interessante notar que, no Brasil e em alguns casos, o indiciado/réu modifica suas características físicas
aparentes durante o lapso de tempo decorrido entre o reconhecimento em sede policial e a audiência,
situação em que novamente será visto pela vítima/testemunha. Assim, corta cabelos, pinta-os, raspa
a barba ou deixa-a crescer, o que pode acarretar que não se confirme o reconhecimento. Assim, mais
uma razão para que se realize produção antecipada de provas quando do reconhecimento pessoal, nos
moldes do artigo 6º do CPP.
30 Mas, e se o suspeito não concordar em utilizar um boné, por exemplo, no ato da sessão de
reconhecimento pessoal? Mais uma vez tem que ser apontado que o reconhecimento pessoal é ato
voluntário pelo sistema processual brasileiro, não se podendo obrigá-lo a modificar sua apresentação
durante a sessão de reconhecimento.
Importante notar que, pelos artigos 371 e 372 da LECrim, deve ha-
ver cuidado para que o autor do delito não modifique suas características
físicas (por exemplo, raspe a barba ou pinte os cabelos de outra cor) ou use
trajes diferentes no intuito de furtar-se ao reconhecimento. Fica encarregado
o diretor do estabelecimento prisional para onde foi enviado possível detido
pela guarda e conservação das roupas com que foi apresentado, isso para favo-
recimento e garantias durante possíveis sessões de reconhecimento.
38 “La verdadera diligencia de identificación procesal, como pone de relieve la citada Sentencia de 19 de
diciembre de 1994, es la prevenida en los artículos 368 y siguientes de la Ley de Enjuiciamiento Criminal.
Practicada con las debidas garantías y en forma contradictoria con la presencia del Letrado del acusado
sometido a reconocimiento en rueda, tal identificación pode valorarse si, comparecido en el Juicio Oral
en reconociente, puede ser sometido al interrogatorio cruzado de las partes a tal punto, para satisfacer el
principio o se aportan en otra forma válida, como puede ser su lectura en el caso de imposibilidad cierta de
comparecencia del testigo.”.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por outro lado, também deve ser observado que a efetividade de tal
meio de obtenção de prova tem estrita relação com o tempo. Assim, pertinen-
te considerar o que já determina o artigo 6º do Código de Processo Penal e
determinar que, sendo possível, seja realizada produção antecipada de provas.
Nesse contexto, é atribuição da Autoridade Policial determinar que se proceda
ao reconhecimento de pessoas e coisas o quanto antes, o que também leva a crer
que deva provocar a antecipação de produção de prova, evitando-se, com isso,
alegações de falhas cometidas e de pressões sofridas por reconhecedores.
dos vícios aqui existentes também são observados em outros países. Um de-
les, sem dúvida, é a possibilidade de admissão de reconhecimentos fotográ-
ficos realizados na fase de investigação quando da instrução processual, com
posterior convalidação dos resultados obtidos em Juízo.
Portanto, o que deve ser levado em conta ao final deste estudo é que,
embora de difícil produção, o reconhecimento ainda é um dos mais impor-
tantes meios disponíveis para que se prove algo na investigação criminal. E
essa importância deve servir de base para que sejam modificados os dispositi-
vos legais acerca do procedimento a ser seguido, possibilitando maior aceita-
ção e acuidade de seus resultados.
E-mail: franca.rff@dpf.gov.br
ABSTRACT
This article aims to define points of discussion of eyewitness recognition within the context of
obtaining evidence in criminal proceedings. So it must be cited and studied institutes having as
starting point the Brazilian law, with particular attention to practical issues thus highlight the use
of such devices in preliminary criminal investigation. Within the mentioned objective this article
will expose information on the procedures used for the recognition by the Spanish, the Portu-
guese, Italy and other countries legal systems, with the hopes that, by comparison, to conclude on
the need for changes in legislation on such matters homeland .
KEYWORDS: Evidence; Eyewitness Recognition; compared Legislation (Spain, Portugal and Italy);
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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