Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Meios de Obtenção de Prova Na Fase PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 36

Meios de Obtenção de Prova na Fase

Preliminar Criminal: considerações sobre


reconhecimento pessoal no Brasil e na
legislação comparada
Rafael Francisco França
Departamento de Polícia Federal - Brasil

Dud

RESUMO
O presente artigo tem por objetivo definir pontos de discussão sobre o reconhecimento pessoal
dentro do contexto de obtenção de meios de prova no processo penal. Para tanto, serão concei-
tuados os institutos tendo como ponto de partida a legislação brasileira, com especial atenção
a questões práticas para, assim, destacar a situação de tais dispositivos na investigação criminal
preliminar. Dentro do objetivo mencionado, serão expostas informações sobre os procedimen-
tos adotados para o reconhecimento pessoal pelo sistema espanhol, pelo português, na Itália e
outros países, com o que se espera, por comparação, concluir sobre a necessidade de mudanças
na legislação pátria sobre tais assuntos.

PALAVRAS-CHAVES: argumentos de prova; reconhecimento pessoal; Legislação compara-


da (Espanha, Portugal e Itália).

1. INTRODUÇÃO

Em matéria de produção de argumentos de prova em sede de in-


vestigação preliminar, mais especificamente em sede de estudo das moda-
lidades disponíveis, são diversos os problemas enfrentados. Muitos são os
fatores determinantes desencadeados ainda na fase de inquérito, acarre-
tando a necessidade de maior atenção aos procedimentos adotados.

Tendo como pano de fundo a necessidade de demonstração ló-


gica do desenvolvimento da investigação criminal, torna-se imperioso
definir que, como garantia, as formas e os meios pelos quais as provas
são obtidos devem ser rigidamente obedecidos, sob pena de invalidade
e de não utilização em Juízo.

Revista Brasileira de Ciências Policiais 55


Recebido em 15 de junho de 2013. Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012. ISSN 2178-0013
Aceito em 7 de agosto de 2013. ISSN Eletrônico 2318-6917
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

Assim, este trabalho trata sobre aspectos polêmicos de um dos mais


importantes meios de obtenção de provas no processo penal, de polêmica
estrutura e de conturbada aceitação pela doutrina e pela jurisprudência: o
reconhecimento pessoal.

Percebe-se a necessidade de definição dos procedimentos adotados


não só no Brasil, mas também em outros países para que, pela comparação,
possam ser desmitificados alguns pontos tidos como conflitantes em decisões
judiciais exaradas pelos tribunais superiores durante os últimos anos.

Importante citar que não há a pretensão de abordagem profunda


aos temas, isso tendo em vista a necessária comparação dos institutos após
breves definições. Deve ser também citado que, embora sejam analisados
diferentes sistemas processuais, dar-se-á preferência ao estudo de elemen-
tos atinentes às fases investigatórias dos processos penais, estabelecidas as
dificuldades em se delimitar se há ou não investigação durante a instrução
da ação penal em tais sistemas.

Dessa forma, e para que sejam mais bem entendidos os pressupos-


tos de definição e comparação estabelecidos, foram feitas divisões em tópi-
cos e subtópicos de acordo com a proposta de estudo sobre os mencionados
meios de obtenção de prova.

Torna-se necessário determinar, desde já, que a medida cautelar de


reconhecimento pessoal durante a fase de investigação policial também se
difere em diversos aspectos do reconhecimento feito já na fase processual,
devendo ser observado que reconhecimento pessoal é prova irrepetível.

Nessa matéria podem ser encontrados diversos problemas a inves-


tigados e réus. Dentre eles, a exposição e o direito de não produzir provas
contra si mesmos e a possibilidade de serem reconhecidos por fotografia, o
que delimita o trabalho policial, torna a execução das medidas ainda mais
carente de formalidades e determina a necessidade de preparo dos agentes
responsáveis pela organização e execução das mesmas.

Por isso, optou-se por iniciar pela análise dos atos de reconhecimen-
to pessoal na legislação brasileira, isso com o intuito de delimitar o campo de
comparação com outras realidades em sistemas processuais, pelo que serão
apontados os pontos em que pode avançar a coleta de tal prova.

56 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Rafael Francisco França

A sistemática usada pelo Código de Processo Penal para o desenvol-


vimento das sessões de reconhecimento demonstra não só a falta de detalha-
mento necessário à execução da medida, mas, também, atesta a possibilidade
de realização sem a presença de advogado defensor, fato que pode macular os
resultados e prejudicar a investigação.

Ao final, apresentar-se-ão comentários e conclusões sobre o


tema, tido como central em matéria de busca por fontes de prova no
processo penal brasileiro, mormente em sede de investigações policiais
e em decorrências das análises comparativas efetuadas com base nas le-
gislações de outros países.

2. MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA NA


INVESTIGAÇÃO CRIMINAL PRELIMINAR

No contexto apresentado pela investigação criminal preliminar, e


levando-se em consideração a necessidade de estudo sobre as ferramentas
de investigação aqui proposta, é necessário citar alguns pontos sobre meios
de obtenção de provas durante a instrução de procedimentos policiais e
preliminares em sede de apuração de delitos, devendo ser levado em consi-
deração o valor probatório que pode ser alcançado por alguns deles.

Embora se tenha em mente que, segundo LOPES (2011), meio


de prova pode ser definido como “a atividade pelo meio da qual se in-
troduz no procedimento um elemento de prova.”, é importante definir
que, na fase de investigação policial ou preliminar penal não se tem,
ainda, produção de prova, a qual somente ocorrerá no desenvolvimento
de eventual ação penal. Por isso mesmo, segundo tal autora, a ativida-
de em tela exige sempre a participação do juiz e das partes, isso com o
dever de submissão ao contraditório, o que denota a possibilidade de
produção antecipada quando possível.

Portanto, embora seja possível definir e até mesmo apontar in-


dícios que levem ao reconhecimento e à autoria em sede de investigação
preliminar, é necessário que, posteriormente, tais informações sejam
filtradas pelo processo penal para que possam ser utilizadas em funda-
mentos de decisão e sentença.

Revista Brasileira de Ciências Policiais 57


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

De acordo com GRINOVER (1997)1, a sequência de atos que são pra-


ticados, por exemplo, na medida de interceptação telefônica determinam melhor
o que seria um meio de prova. Importante citar que as expressões “meio de prova”
e “indício” podem ser consideradas como diversas para este trabalho. A primei-
ra diz respeito ao procedimento de coleta ou separação de algum dado, objeto,
documento, gravação etc., que, submetido ao contraditório, possa servir de fun-
damento à tomada de decisão pelo Juízo. Quanto à segunda, esta é relacionada
ao procedimento de investigação, a algum dos itens acima citados que, embora
ainda não submetidos ao contraditório, possam servir de base à investigação (in-
diciamentos, pedidos de interceptação telefônica, buscas e apreensões etc.).

Dessa maneira, o reconhecimento fotográfico precário em sede policial


(indício-base a meio de obtenção de prova) pode dar azo ao reconhecimento pes-
soal como antecipação de prova ou, ao menos, como fator de embasamento da
denúncia. A importância da atividade investigatória, portanto, supera o precon-
ceituoso caráter de “mera peça de informações”2 para solidificar-se como período
de coleta de meios para a delimitação do alcance da própria ação penal vindoura.

Para tanto, todavia, considera-se a necessidade de obediência à for-


ma prevista na lei para que as atividades de investigação sejam desenvolvi-
das, para que, conforme será exposto em relação ao sistema processual de
outros países, os resultados possam ser considerados como meio de prova.

3. RECONHECIMENTO PESSOAL

Após a ocorrência do delito, e como dever de coleta de todas as infor-


mações possíveis sobre os fatos em reconstrução, cabe ao investigador ouvir
testemunhas, declarantes e informantes na tentativa de estabelecer a autoria.

1 p. 117. “Mas o termo “prova” não é unívoco. Em uma primeira acepção, indica o conjunto de atos
processuais praticados para averiguar a verdade e formar o convencimento do juiz sobre os fatos. Num
segundo sentido, designa o resultado dessa atividade. No terceiro, aponta para os “meios de prova”. Pode-
se, assim, distinguir entre fonte de prova (os fatos percebidos pelo juiz), meio de prova (instrumentos
pelos quais os mesmos se fixam em juízo) e objeto de prova (o fato a ser provado, que se deduz da fonte e
se introduz no processo pelo meio de prova).”. Interessante notar que a autora em tela também menciona
que: ”(...). O resultado da interceptação – que e uma operação técnica – é fonte de prova. Meio de prova
será o documento (a gravação e sua transcrição) a ser introduzido no processo.”. p. 174.
2 “Verifica-se, assim, que a expressão “mera peça” deveria ser excluída dos livros doutrinários, já que,
como é cediço, todas as provas produzidas dentro desse importante procedimento investigativo, são, na
maioria das vezes, apenas repetidas em Juízo.” – CARVALHO, Paulo Henrique da Silva. A importância
do inquérito policial no sistema processual penal. Disponível em http://www.advogado.adv.br/
artigos/2006/paulohenriquedasilvacarvalho/aimportanciainquerito.htm, acesso em 07/10/2012.

58 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Rafael Francisco França

Insta citar, nesse ponto, que o reconhecimento pessoal ou de coisas


é meio de obtenção de provas em diversos sistemas processuais, sendo que as
diferenças no modo como são desenvolvidos os atos determina a qualidade
da prova produzida. Trabalha-se com duas variantes: tempo e memória.

Conforme CUTLER (1996)3, sessões de reconhecimento são con-


sideradas importantes para a solução de investigações, sendo a forma mais
comum de testemunho em julgamentos criminais. Todavia, é importante
observar que há considerável possibilidade de erro se as sessões não forem
desenvolvidas de maneiras a evitar dubiedade e imprecisões.

Sendo assim, nos termos do que aponta FERNANDES (2007), ain-


da é possível apontar ser comum nas legislações penais que uma espécie de re-
conhecimento seja regulada e este regulamento sirva para determinar como
se dará outra modalidade. Ainda, aponta o mesmo autor para a necessidade
em se seguir um rito para tal meio de obtenção de prova, o que fica prejudi-
cado se for aplicado um modo para a sua realização a outro não previsto; é o
que chama de irritualidade.

Dessa maneira, discutiu-se nas XX Jornadas Ibero Americanas de


Direito Processual Penal, realizada em Málaga, Espanha, no ano de 2006,
que, no caso brasileiro, em sendo realizado reconhecimento por meio de fo-
tografia não haveria problema de atipicidade (tipo de reconhecimento) ou de
irritualidade. Chega-se, portanto, à conclusão de que o problema, sim, reside
no descumprimento do rito previsto, pois haveria coleta de prova típica por
meio de rito diverso. Dessa forma, ficou evidente que o reconhecimento fo-
tográfico é precário.

O ato de reconhecer, diga-se de passagem, é importante e necessário


para a aproximação da vítima dos atos investigatórios. No entanto, e até pela
carga de emoção envolvida no ato, torna-se ainda mais necessária a obser-
vância de cuidados elementares no desenvolvimento do ato de investigação
em tela, eis que podem ser cometidos erros de considerável gravidade, sendo
o principal deles o apontamento errôneo de autor de crime. Muitas vezes,
3 The criminal justice system recognizes that eyewitness testimony in general and eyewitness identification
in particular play profoundly important roles in the apprehension, prosecution, and adjudication of
criminal offenders. Police investigators rely heavily on eyewitness testimony in their initial investigation
of a crime (Fisher & Geiselman, 1992). Eyewitness identifications from photospreads and lineups are
frequent occurrences (Brigham & Bothwell, 1983; Goldstein, Chance, & Schneller, 1991). And the
eyewitness is probably the single most common form of witness in many criminal trials. The criminal
justice system also acknowledges the influence that eyewitnesses have on trial outcomes. p. 6.

Revista Brasileira de Ciências Policiais 59


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

pelo calor dos acontecimentos e pela necessidade de “vingança”, equívocos


cometidos na fase de investigação podem ser refletidos por anulações no pro-
cesso penal. A investigação, portanto, seguirá para caminho diverso e haverá
chance de fracasso na indicação de autoria.

Ademais, ressaltando-se a importância de tal procedimento, é pos-


sível definir que o reconhecimento é prova irrepetível (FERNANDES; AL-
MEIDA; MORAES, 2011, p. 20). Sendo dessa forma, não se pode simples-
mente anular um ato de reconhecimento, haja vista que não se pode renovar
tal sessão nos mesmos moldes já definidos. Ou seja, “não se reconhece o já
reconhecido”. Se não forem seguidos os ritos previstos, perde-se o valor pro-
bante do procedimento.

Dessa maneira, importa definir que se não forem seguidas re-


gras para a execução das sessões de reconhecimento pessoal, grande se
torna a possibilidade de se tornar inócua. Em determinados crimes,
como naqueles em que a palavra da vítima e suas percepções sobre o
crime são imprescindíveis para a elucidação e apontamento de autoria,
o reconhecimento pessoal surge como meio de prova de inigualável va-
lor. Por isso mesmo, deve ser revestido de estrita observação da forma
prevista pela lei. (LOPES, 2011, p. 6-7)4.

De tal modo, quer seja realizado de modo preliminar, por fotogra-


fias ou como antecipação de produção de meio de prova, o reconhecimento
pessoal deve obrigatoriamente ser envolto em formalidades5.
4 “Um dos meios de prova previstos expressamente no Código de Processo Penal brasileiro é o
reconhecimento de pessoas e coisas. O reconhecimento é meio de prova utilizado com a finalidade
de obter a identificação de pessoa ou coisa por meio de um processo psicológico de comparação com
elementos do passado. O reconhecimento tem a natureza jurídica de meio de prova. Realizado na
presença do juiz e com a participação das partes, formará elemento de prova e poderá ser levado em
consideração pelo julgador na sentença.”.
5 Todavia, conforme GUIMARÃES, “As provas produzidas administrativamente que não podem ser
repetidas em juízo, podem ser classificadas assim1: a) Prova integrante da instrução probatória por
força de lei: perícia; b) Prova integrante da instrução probatória por força própria: documento em
todas as espécies; c) Provas extraprocessuais passíveis de integrar o procedimento probatório por
contraste de regularidade: reconhecimento de pessoas ou coisas e, busca e apreensão”. GUIMARÃES,
Maurício Henrique et all. Provas policiais insuscetíveis de repetição. Revista da Associação dos
Delegados de Polícia do Estado de São Paulo. Marcos Antônio Gama (Coord.), São Paulo: ADPESP.
Ano 19, n. 26, dez/99. p. 16. Bom notar que o item “c” será irrepetível a prova se for produzida
com estrita observância aos preceitos legais aplicáveis à espécie, cuja regularidade será atestada na
instrução probatória processual pela testemunha que acompanha sua produção, havendo, então, um
contraste de regularidade, onde os relatos das testemunhas substituem o reconhecimento ou a busca
e a apreensão. Trata-se, na verdade, de prova testemunhal o “reconhecimento” feito em Juízo sem as
devidas formalidades.

60 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Rafael Francisco França

Todavia, cabe também considerar que, tratando-se de ato atinente


à memória das vítimas e testemunhas, ainda assim é possível ter como resul-
tado um equívoco6. Ainda, para piorar a situação, é possível determinar que
não há preocupação em preservar o meio de obtenção de provas que repre-
senta o reconhecimento pessoal no sistema brasileiro, baseado na memória
de vítimas, declarantes e testemunhas. (GIACOMOLLI; DI GESU, 2008)7.

Tal assunto já era tratado no sistema estadunidense há tempos, haja


vista que se trata de tema atinente também à Psicologia. A principal preocu-
pação incide sobre a transmissão dos dados da testemunha/vítima à Polícia
e a apresentação de tais dados perante a Corte. ( JOHNSON, 1973, p. 2)8 .

Nesse ponto, é também ponto de discussão o fator “tempo” na constru-


ção do reconhecimento pessoal e nos resultados que se esperam com a atividade.
A separação entre o fato (intervalo de retenção do dado a ser memorizado), con-
jecturado com as informações obtidas após o ocorrido, modifica a capacidade de
resposta da testemunha ou da vítima sobre o que deve ser reconhecido.

6 Os erros em reconhecimentos pessoais têm causado condenações errôneas nos Estados Unidos.
Conforme reportagem a seguir citada, os exames de ADN demonstraram que os condenados foram
reconhecidos equivocadamente, o que já provocou mais de duzentas libertações de inocentes. A
seguir, trecho da mencionada reportagem: In 1981, 22-year-old Jerry Miller was arrested and charged
with robbing, kidnapping, and raping a woman. Two witnesses identified Miller, in a police lineup, as the
perpetrator. The victim provided a more tentative identification at trial. Miller was convicted, served 24
years in prison, and was released on parole as a registered sex offender, requiring him to wear an electronic
monitoring device at all times. Recent DNA tests, however, tell a different story: Semen taken from the
victim’s clothing—which could have come only from the perpetrator—did not come from Miller. In fact,
when a DNA profile was created from the semen and entered into the Federal Bureau of Investigation’s
convicted offender database, another man was implicated in the crime. On April 23, 2007, Miller
became the 200th person in the United States to be exonerated through DNA evidence. DNA should clear
man who served 25 years. USATODAY JOURNAL, 4/23/2007 10:46 AM. Disponível em http://
usatoday30.usatoday.com/news/nation/2007-04-22-dna-exoneration-inside_N.htm, acesso em
23/10/2012.
7 Vários são os fatores responsáveis pela deterioração da lembrança, sendo que os dois principais são: 1)
o intervalo até a retenção (a diminuição da precisão da lembrança se deve ao esquecimento normal,
o qual é mais rápido após a aquisição e antes da retenção, tornando-se mais lento em seguida) e 2) as
informações obtidas após o ocorrido (durante o intervalo entre a aquisição e a retenção, ou mesmo
após a retenção, a testemunha está exposta a novas informações sobre o acontecimento presenciado,
por exemplo, por comentários posteriores de outras testemunhas, os quais criarão problemas para
distinguir entre a informação original e a incorporada posteriormente).”.
8 Eyewitness identifications involve both psychologica1 and procedural factors. The psychological aspects
of eyewitness identification challenges human perception and question the human ability to distinguish
one person from another. The procedural aspect is the questioning of: police procedures in obtaining
eyewitness identification and the court procedures in presenting and interpreting eyewitness testimony.
The main questions concerning the psychological aspect of eyewitness identification are: 1) the ability of a
person to record characteristics of another; 2) the ability to retain these perceptions and; 3) the ability to
communicate accurately and specifically these perceptions.

Revista Brasileira de Ciências Policiais 61


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

Segundo estudo realizado por MARSHALL (1969), há três fatores


que devem ser levados em consideração para a efetividade de reconhecimen-
tos pessoais: 1 - percepção (modo pelos quais os eventos são interpretados
pela testemunha/vítima levando-se em consideração seu estado de humor e
emoções); 2 - lembranças: período de tempo decorrido entre o evento e a
descrição feita pela testemunha/vítima sobre ele às autoridades, sendo que in-
cidem sobre a memória desta outros fatores que podem influenciar na iden-
tificação; 3 – articulação: as mesmas palavras são usadas com significados
diversos por pessoas diferentes. Por isso mesmo o artigo 6º do Código de
Processo Penal, em seu inciso VI, determina à autoridade policial que proce-
da ao reconhecimento de pessoas e coisas assim que tiver notícia e constatar
a ocorrência de fato definido como crime, evitando-se, com isso, a influência
do tempo sobre a memória de testemunhas e vítimas9.

Dessa forma, aduz-se que, conforme determinado por LOPES


(2011), em recente tese de doutorado defendida na Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo, “quando há procedimento estabelecido para a
prática de algum meio de prova, este dever respeitado, sob pena de se atentar
contra o devido processo legal e acarretar a nulidade do ato”.

Tanto a interceptação telefônica, quanto o reconhecimento pessoal


são atividades de investigação que devem ser enquadrados em tal concepção,
sendo imperiosa a obediência às formas estabelecidas10. A obediência às for-
malidades é garantia de produção de melhores resultados, já que todo objeto
de prova pode ser refutado na fase judicial da atividade.

Ainda, conforme o mesmo autor (ROBERTS, 2009), é possível apon-


tar que nos Estados Unidos foi feita recomendação às forças policiais para que
adotassem formas mais acuradas para o tratamento do reconhecimento pessoal.

Desta maneira, foi sugerida a substituição do reconhecimento simul-


tâneo pelo sequencial, ou seja, os componentes da linha de reconhecimento
não são postos às vistas da vítima/testemunha simultaneamente, mas de for-
ma sequencial, entrando um após o outro no ambiente de reconhecimento.

9 Conforme pensam LOPES JR e DI GESU (2007): “As contaminações a que estão sujeitas a prova
penal podem se minimizadas através da colheita da prova em um prazo razoável, objetivando-se
suavizar a influência do tempo (esquecimento) na memória. (...).”..
10 Conforme Andrew Roberts, professor da Universidade de Warwick (Reino Unido), e estudioso
do assunto, reconhecimentos feitos a partir de procedimentos bem elaborados, obedecendo-se a
sequência de atos e realizados o quanto antes são menos suscetíveis a erros. (ROBERTS, 2009).

62 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Rafael Francisco França

Se por acaso a vítima/testemunha apontar um dos reconhecendos como


autor de delito, não terá acesso aos demais da linha, o que difere tal pro-
cedimento do “tradicional” (linha de reconhecimento simultâneo), haja
vista que terá que tomar uma decisão a cada reconhecendo que entrar no
ambiente de reconhecimento.

É direito do investigado, caso concorde em participar da sessão


de reconhecimento, de ter todo aparato possível para que haja fidelida-
de nos resultados. Assim, conforme ROBERTS (2009)11, o acusado tem
o direito de que a prova seja produzida pelo meio mais acurado, com
maior precisão possível, não podendo o Estado alegar carência de meios
ou tempo para não proceder dessa forma.

Na verdade, os modelos para realização das sessões de reconheci-


mento (simultâneo ou sequencial), oferecem vantagens e desvantagens. Em
relação ao reconhecimento simultâneo, a vítima/testemunha pode comparar
as características físicas de todos os componentes da linha, eleger aqueles que
mantêm maior semelhança com o autor12. A partir daí, pode apontar qual
deles, componentes da linha, assemelha-se ao culpado. Já no reconhecimento
sequencial13 , tal possibilidade inexiste, já que terá que tomar uma decisão em

11 Where identification is, or might become, a central issue in a case, must the police always use
procedures which are thought to produce the most reliable identification evidence? In other words,
does a suspect have a right to the most accurate identification procedures? One way of addressing
the problem of finite resources is to claim that the suspect’s right to the use of the most accurate
identification procedures is a qualified right. Dworkin, for example, argues that an absolute right to
the most accurate procedures for determining innocence and guilt would require the criminal justice
system to have first call on the resources available to a government. Diversion of resources into the
criminal justice system to give effect to this right would lead to a state of affairs in which there were
insufficient resources to fund other aspects of governments’ welfare obligations.
12 Simultaneous presentation of subjects allows the witness to compare the persons appearing in the
procedure to one another. It is suggested that this might lead to the witness selecting the subject who
bears the closest resemblance to the culprit, though that resemblance may not, in fact, be particularly
close. The suspect may be identified on the basis that he is the ‘best candidate’”
13 Because in the sequential lineup the witness is shown only one image at a time and is required to make
a decision in relation to each image before the next is shown, the opportunity to compare subjects
does not arise. Because intra-subject comparison is not possible, any identification is more likely
to based on there being a close similarity in the suspect’s appearance and the witness’s recollection
of the culprit. It has been suggested that, as identification of a suspect through a shallow relative
judgment may amount to no more than speculation on the part of the witness, a higher rate of
false identification might be expected. This kind of speculation on the part of the witness might be
expected to lead to identification of suspects from time-to-time. If the opportunity to speculate is
removed then the rate of accurate identification may fall. However, suppose further research were to
reveal that the use of sequential lineups brought about a roughly equal reduction in the rate of false
and accurate positive identifications; that its use would produce no net gain in procedural accuracy.
Some might still advocate adoption of the sequential lineup on the grounds that its use would lead

Revista Brasileira de Ciências Policiais 63


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

relação cada um dos que forem aparecendo à sua frente, podendo, inclusive,
isentar o real autor por não reconhecê-lo, evitando, também, “falsos positi-
vos”. No entanto, os resultados obtidos pelo sequencial são mais confiáveis,
embora seja observado que há menor incidência de autores de crimes reco-
nhecidos por tal método. Bom ser também notado que esta consequência
é mais aceitável do que a indicação falsa de autoria pelas falhas do modelo
simultâneo, o qual permite a escolha do “mais parecido”.

Outro ponto interessante é relativo ao policial (ou policiais) respon-


sável pela condução da sessão. De acordo com definição posta por Schuster
(2007)14, se o policial que conduz a sessão tem conhecimento de quem é o
autor do delito dentre os que compõem a linha ou a sequência de reconhe-
cimento, voluntária ou involuntariamente acabará por sugerir à vítima ou à
testemunha que aponte este como o reconhecido15.

De tal modo, é interessante que a condução do reconhecimento seja


feita por policiais que não conheçam o suspeito, o que fará com que os re-
sultados sejam valorados de forma a embasar tomada de decisões em sede
policial ou até mesmo em Juízo.

3.1. Reconhecimento pessoal no sistema brasileiro

De acordo com o que está disposto no artigo 226 e seguintes do Có-


digo de Processo Penal16, procede-se ao reconhecimento pessoal obedecen-
to an appropriate allocation of the risk of error between suspect and state. A reduction in the rate of
accurate positive identifications might be viewed as a acceptable price for greater protection against
the risk of false positive identification.
14 Typically, the law enforcement official or lineup administrator knows who the suspect is. Experts
suggest that lineup administrators might—whether purposefully or inadvertently—give the witness
verbal or nonverbal cues as to the identity of the suspect. For instance, if an eyewitness utters the
number of a filler, the lineup administrator may say to the witness, “Take your time . . . . Make sure
you look at all the photos.” Such a statement may effectively lead the witness away from the filler. In a
“double-blind” lineup, however, neither the administrator nor the witness knows the identity of the
suspect, and so the administrator cannot influence the witness in any way.
15 Neste ponto, são conhecidas as “sugestões” feitas no decorrer das sessões: “olhe mais uma vez”, “tens
certeza?”, “quer que eu mande que se aproximem?”, “deseja olhar este mais de perto?”
16 Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á
pela seguinte forma: I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a
pessoa que deva ser reconhecida; II - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se
possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de
fazer o reconhecimento a apontá-la; III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o
reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa
que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela; IV - do ato de

64 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Rafael Francisco França

do-se a uma sequência concatenada de atos, sem o que pode ser maculado o
resultado da sessão de reconhecimento.

De tal modo, antes de ser regulada pelo mencionado dispositivo, a


necessidade de reconhecimento é tratada, na verdade, pelo artigo 6º do Có-
digo de Processo Penal. Em tal dispositivo, observa-se que, dentre as diligên-
cias que devem ser realizadas pela autoridade policial quando for até o local
do crime, figura o ato de tratar sobre tal procedimento de modo preliminar.
Assim, é nesse momento, se possível, que serão apontadas pelas testemunhas
e pelas vítimas as características do autor do delito, fato extremamente rele-
vante para a realização de outras diligências durante o inquérito.

Esta a principal razão para LOPES JR (2012)17 deduzir sobre a ne-


cessidade de estrito atendimento à forma prevista para a realização do ato.

De tal maneira, em sendo possível a indução da vítima em seu re-


conhecimento, considera-se necessária a reestruturação do procedimento18 .
reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para
proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais. Parágrafo único. O disposto no no
III deste artigo não terá aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento. Art.
227. No reconhecimento de objeto, proceder-se-á com as cautelas estabelecidas no artigo anterior,
no que for aplicável. Art. 228. Se várias forem as pessoas chamadas a efetuar o reconhecimento de
pessoa ou de objeto, cada uma fará a prova em separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas.
17 Trata-se de uma prova cuja forma de produção está estritamente definida e, partindo da premissa de
que – em matéria processual penal – forma é garantia, não há espaço para informalidades judiciais.
Infelizmente, prática bastante comum na praxe forense consiste em fazer reconhecimentos informais,
admitidos em nome do livre convencimento motivado.
18 Observa-se que a possibilidade de erro existe e, quando estes ocorrem, tumultuam-se investigação e
processo. Mesmo que sejam seguidos os ritos estabelecidos, ainda assim os resultados podem ser
facilmente questionados. Como exemplo, observe-se o caso a seguir, amplamente divulgado pela
mídia: GAZETA DO POVO. ON LINE. “Tragédia na Praia dos Amores em Caiobá. Disponível
em http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=853179&tit=Tra
gedia-na-Praia-dos-Amores-em-Caioba, acesso em 02/10/2012. Em determinado trecho da matéria
é possível compreender que as diligências policiais realizadas na sessão de reconhecimento, em tese,
determinaram que a vítima reconhecesse pessoa diversa (O perito Rodrigo Soares Santos, contratado
pela defesa do acusado de ter cometido o crime no Morro do Boi, em Matinhos, afirmou que a estudante
Monik Pegorari de Lima foi induzida ao erro pela polícia no reconhecimento de Juarez Ferreira Pinto.
Em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (1º), Santos disse que a utilização de pessoas com
biotipos físicos muito diferentes, fez com que a estudante associasse a imagem do criminoso com
Juarez.). Exemplo de complicações geradas pelo mau uso de tal meio de obtenção de provas está
disposto no conjunto de investigação gerado pelo crime cometido contra Monik Pegoraro de Lima
e seu namorado Osíris Del Corso em 31 de janeiro de 2009, conforme fatos amplamente divulgados
pela mídia. Mesmo que não se tenha a pretensão de avaliar a execução de atos de investigação no
decorrer de tal procedimento, realizado pela Polícia Civil paranaense, é possível perceber pela leitura
de matérias veiculadas que penderam dúvidas sobre a regularidade do resultado de reconhecimentos
pessoais efetuados pela vítima Monik. Segundo peritos contratados pela defesa de Juarez Ferreira Pinto,
apontado como autor do delito, Monik teria sido induzida ao erro pela Polícia Civil.

Revista Brasileira de Ciências Policiais 65


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

Tal “indução a erro” pode ser causada até mesmo se o procedimento for exe-
cutado de acordo com as regras do Código de Processo Penal. Por tais regras,
e conforme está disposto pelo artigo 226 do Código de Processo Penal, a tes-
temunha ou a vítima que tiver de fazer o reconhecimento será “convidada”19
a descrever a pessoa que deva ser reconhecida. Daí deduz-se que, antes da
sessão de reconhecimento pessoal, a testemunha ou a vítima deve fornecer
características físicas e do traje do suspeito, com o que vai ser preparada a
sessão de maneiras a deixar que os componentes sejam trajados todos de ma-
neira mais parecida possível20.

Em seguida, pela regra do inciso II, a pessoa a ser reconhecida deve


ser colocada, se possível, ao lado de outras que possuírem semelhança com ela.
A partir daí, o reconhecedor deve ter acesso ao grupo e, caso seja possível,
apontar quem deva ser reconhecido dentre os presentes.

Bom ser citado que, nos termos dos artigos 227 e 228 do Código de
Processo Penal, o mesmo rito aplicado ao reconhecimento pessoal deverá ser
seguido para objetos a serem reconhecidos. Além disso, se houver mais de
um reconhecedor, deverão ser separados para que não se comuniquem, não
sendo esclarecido se antes ou depois das sessões.

O inciso III do artigo 226 determina que se o reconhecedor demons-


trar estar intimidado pela presença do suspeito será providenciado que este
último não o veja durante a sessão. Tal dispositivo indica que a testemunha
ou a vítima demonstraram ou alegaram temor ou receio de participarem da
atividade se puderem ser vistas pelas pessoas a serem reconhecidas. Deve ser
levado em conta que, na fase judicial, provavelmente não será possível deter-
minar que o denunciado, o réu, fique alheio à identidade do reconhecedor, o
que causa problemas de toda ordem na sequência dos atos.

19 Pode a vítima se recusar a participar de sessão de reconhecimento na fase de investigação? Sim. Do


mesmo modo que o investigado não é obrigado a comparecer a tal sessão, também à vítima assiste
o direito de não participar de reconhecimentos pessoais ou fotográficos. Todavia, em relação às
testemunhas há o dever de comparecer e participar, embora seja bastante temerário o comparecimento
forçado de reconhecedores pela possibilidade de ocorrência de resultados diversos dos esperados.
Desse modo, fica dito que reconhecimento pessoal é ato de caráter voluntário.
20 Dessa maneira, não se podem colocar quatro homens com barba e cabelos compridos ao lado de um
com cabelos curtos e sem barba, ainda mais se, por exemplo, a vítima disser que o autor do crime tinha
estas características. Tal situação pode induzi-la em erro e acarretar a desconsideração dos resultados.
Ou seja, ela será induzida a reconhecer o componente que estiver trajado ou de características físicas
mais próximas daquele que traz em mente.

66 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Rafael Francisco França

Assim, a experiência demonstra que, mesmo que haja o reconheci-


mento pessoal na fase policial, respeitando-se as formalidades previstas no
referido artigo, a situação tende a mudar quando, colocada frente a frente do
réu, a vítima ou a testemunha são “convidadas” a novamente reconhecê-lo no
Juízo. Dois são os fatores que influenciam o reconhecimento nesta segunda
fase: o tempo decorrido entre o primeiro reconhecimento e a audiência ju-
dicial, algumas vezes de meses ou anos, e o temor em proceder ao reconhe-
cimento ao olhar no rosto do denunciado, muitas vezes algemado perante o
Juízo21 ou, ainda pior, já solto, podendo ter encontrado com o reconhecedor
na entrada do Fórum ou no corredor de espera.

Tal entendimento também é compartilhado por LOPES (2011)22,


quando assevera a necessidade de produção antecipada de prova no reconhe-
cimento pessoal na fase de investigação preliminar.

Ou seja, há problemas a serem resolvidos no procedimento adotado


pelas polícias e pelo Poder Judiciário no Brasil23 quanto ao sistema de reco-

21 Deve ser ainda levado em conta que, muitas vezes e quando o réu está solto, testemunha, vítima e
familiares aguardam pelo “pregão” no saguão do fórum, o que já determina a temeridade em participar
de reconhecimentos, haja vista que não são separados dos demais presentes.
22 A partir do momento que o reconhecedor teve contato com a pessoa a ser reconhecida, a imagem
guardada na memória influirá no segundo reconhecimento. Assim, estará o ato viciado. É, portanto,
meio irrepetível de prova. Assim, deve sempre ser produzido com todas as cautelas e observando
o procedimento existente em lei para sua realização (arts. 226 e ss. do Código de Processo Penal).
Em resumo, por somente ser produzido uma única vez, para que forme elementos de prova, deve ser
realizado de forma perfeita, respeitando rigorosamente o procedimento legal e sempre na presença das
partes e do juiz, em respeito ao princípio do contraditório. É também um meio de prova urgente e, por
isso, deve ser realizado antecipadamente. Levando em conta a influência que a memória produz no
reconhecimento, deve-se refletir o caráter de urgência existente na sua produção. O reconhecimento
deve ser um dos primeiros atos de investigação de um fato criminoso, pois, para a sua adequada
realização, exige-se que o sujeito ativo recorde muito bem a imagem da pessoa ou da coisa envolvida.”.
Ainda assevera tal autora: “Em resumo, tendo em vista que o reconhecimento se trata de um meio de
prova irrepetível, pois somente pode ser produzido uma vez, deve sempre ser realizado de acordo com
o procedimento previsto em lei e com a participação das partes e do juiz, em respeito ao princípio
constitucional do contraditório. Por ser meio de prova urgente, tendo em vista a influência negativa
que o tempo acarreta na memória, deve ser realizado o mais rápido possível, preferencialmente na fase
de investigação, antecipando-se a sua produção, com respeito ao rito e com a participação das partes e
do juiz.
23 Conforme entendimentos jurisprudenciais do Superior Tribunal de Justiça-STJ, é possível determinar
que ainda se está bastante distante de atendimento ao que determina a Constituição Federal em
sede de direitos e garantias fundamentais. Somente como exemplo, a ementa de uma das decisões:
“PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS PREVENTIVO SUBSTITUTIVO DE
RECURSO ORDINÁRIO. HOMICÍDIO. RECONHECIMENTO PESSOAL. DIREITO AO
SILÊNCIO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO. PROVIDÊNCIA PROBATÓRIA FACULTADA
AO JUIZ. LIVRE CONVENCIMENTO. 1. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que
o reconhecimento pessoal não é obrigatório, ficando ao prudente arbítrio do Juiz da causa a necessidade

Revista Brasileira de Ciências Policiais 67


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

nhecimento pessoal, devendo ser levado em conta que, em sede de crimes


patrimoniais e contra a liberdade sexual, a prova por tal meio é muitas vezes
essencial para a formação de culpa.

As modificações deduzidas pela doutrina são, portanto, necessárias e


urgentes, o que pode ser feito ainda no Projeto do Novo Código de Processo
Penal, em trâmite no Congresso Nacional. No entanto, conforme aduz LO-
PES JR (2009), as previsões não são favoráveis24.

Em virtude da carência de doutrina especializada sobre o tema, e pela


simples repetição do que determina superficialmente a lei, é possível apon-
tar que, como indicado acima por LOPES JR., se já não se tem disciplina

de realização dessa diligência. Precedentes do STJ e STF. 2. Habeas corpus conhecido e ordem
denegada. (HC 164.870/SP, Rel. Ministro ADILSON VIEIRA MACABU (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/RJ), QUINTA TURMA, julgado em 21/06/2012, DJe 03/08/2012).”.
E outra: “PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO.
RECONHECIMENTO PESSOAL. VÍCIO. SUPERVENIENTE RECONHECIMENTO
JUDICIAL. EIVA SUPERADA. REGIME INICIAL FECHADO. MOTIVAÇÃO:
ELEMENTOS CONCRETOS. ILEGALIDADE: AUSÊNCIA. 1. Resta superada a alegação de
vício em reconhecimento pessoal, levado a cabo em sede policial, diante de congênere providência
regularmente realizada em juízo. 2. Encontra-se motivada a sujeição ao regime inicial fechado quando
alicerçado em elementos concretos, a despeito destes não terem sido empregados na fixação da
pena-base, fixada no mínimo legal. 3. Ordem denegada. (HC 152.988/SP, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 02/02/2012, DJe 15/02/2012).
24 O reconhecimento de pessoas e coisas está previsto atualmente no art. 226 e ss. do CPP, e pode
ocorrer tanto na fase pré-processual como também processual. No anteprojeto de reforma do CPP,
o reconhecimento está regrado nos arts. 191 a 193, sendo o ponto nevrálgico estabelecido no art.
191. Basta uma rápida comparação para ver que não há nenhuma evolução ou reforma digna de nota.
Os velhos problemas persistem: quantas pessoas devem participar do ato de reconhecimento? E a
problemática lacuna em torno do “reconhecimento” por fotografias, será resolvida? E o reconhecimento
que dependa de outros sentidos, como o acústico, olfativo ou táctil, quando será disciplinado? No
anteprojeto do CPP, nada consta.”. LOPES JR, Aury. Reforma processual penal e o reconhecimento
de pessoas: entre a estagnação e o grave retrocesso. Boletim IBCCRIM : São Paulo, ano 17, n. 200,
p. 16-17, julho 2009. Ainda, interessante observar o que vem sendo aprovado no Anteprojeto de
Reforma do Código de Processo Penal quanto a tal matéria: Seção IV. Do Reconhecimento de
Pessoas e Coisas e da Acareação. Art. 191. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento
de pessoa, proceder-se-á da seguinte forma: I – a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será
convidada a descrevera pessoa que deva ser reconhecida; II – a pessoa, cujo reconhecimento se
pretender, será colocada ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-
se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la; III – a autoridade providenciará para que
a pessoa a ser reconhecida não veja aquela chamada para fazer o reconhecimento; IV – do ato de
reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada
para proceder ao reconhecimento e por 2 (duas)testemunhas presenciais. V – no reconhecimento do
acusado será observado o disposto no art. 265, §4o. Parágrafo único. O disposto no inciso III deste
artigo não terá aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento. Art. 192. No
reconhecimento de objeto, proceder-se-á com as cautelas estabelecidas no artigo anterior, no que for
aplicável. Art. 193. Se várias forem as pessoas chamadas a efetuar o reconhecimento de pessoa ou de
objeto, cada uma fará a prova em separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas.

68 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Rafael Francisco França

para a realização de reconhecimentos pessoais (e fotográficos), quiçá quanto


aos que necessitam ou dependem de outros sentidos para serem realizados
(acústicos, olfativos ou tácteis). O Código de Processo Penal fala apenas em
“pessoas e coisas”, não tendo ainda definição sobre demais meios de gravação
de imagem, como é possível observar no sistema processual português.

Outra questão interessante é a falta de regramento a ser seguido na


sessão de reconhecimento em si, ou seja, antes, durante e após o ato de ob-
tenção do meio de prova. Não se exige número mínimo de pessoas (somente
deduz-se que sejam exigidas duas outras além do suspeito), sequências de en-
trada dos “reconhecendos” no local a ser utilizado para a sessão de reconheci-
mento25, condições de repetição do ambiente, das vestimentas e, no mínimo,
das características físicas do suspeito26, presença do advogado do reconheci-
do, prévia comunicação ao Juízo, à defesa e ao representante do Ministério
Público para a realização das sessões, isso dentro outros pontos considerados

25 No que tange ao local em que são realizadas as sessões de reconhecimento, tal ponto de discussão
mereceria estudo mais aprofundado para que fosse possível repetir com a maior fidelidade possível o
ambiente em que o reconhecedor captou a imagem, a voz ou algum ponto característico do autor do
delito. No entanto, o que se vê nas Delegacias de Polícia e nas unidades da Polícia Militar pelo Brasil
é crucial para entender os motivos pelos quais o reconhecimento pessoal vem sendo atacados como
meio de obtenção de prova pelos estudiosos do Direito Penal. São muito comuns reconhecimentos
pessoais feitos com um só “reconhecendo” (por óbvio, o suspeito), com ele algemado, trajando roupas
e com semblante de quem está recolhido ao cárcere (sapatos sem cadarços, sem cinto nas calças, cabelos
despenteados, barba por fazer, camisa abotoada até o colarinho etc.) ou completamente diferente em
sua aparência dos demais. Além disso, são comuns reconhecimentos feitos através de frestas de portas,
por buracos em placas de compensado, por “olhos mágicos” de portas de gabinetes, por persianas ou
pelas cortinas da sala do cafezinho, sem iluminação e sem as mínimas condições de reprodução de
ambientes que se exigem em tal assunto.
26 Quanto às características físicas e de identificação do suspeito, já se decidiu que a vítima deve relatar
algo que possibilite minimamente o reconhecimento do suspeito como autor do crime. Assim:
“Número: 70050185339. Tribunal: Tribunal de Justiça do RS. Seção: CRIME. Tipo de Processo:
Apelação Crime. Órgão Julgador: Sexta Câmara Criminal. Decisão: Acórdão. Relator: Aymoré Roque
Pottes de Mello. Comarca de Origem: Comarca de Tramandaí. Ementa: AC Nº. 70.050.185.339
AC/M 4.074 - S 30.08.2012 - P 67 APELAÇÃO CRIMINAL. ROUBO MAJORADO. TESE
RECURSAL ABSOLUTÓRIA CENTRADA NA AUSÊNCIA DE PROVA SUFICIENTE
PARA A CONDENAÇÃO. ACOLHIMENTO. INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO
HUMANITÁRIO DO IN DUBIO PRO REO (ART. 386, INC. VII, DO C.P.P.). ABSOLVIÇÃO.
A única prova existente contra o réu no processo reside no reconhecimento pessoal feito pela vítima
direta do fato, única que teve contato com o assaltante. Ocorre que a vítima afirma não ter visto o
rosto do autor do fato, jamais tendo apontado qualquer característica física dele que possibilitasse o
reconhecimento. Forma do ato de reconhecimento que pode ter gerado indução do reconhecedor,
pois o réu foi colocado sozinho na sala logo após ter sido preso em razão de outro processo. Prova
frágil para embasar a condenação, quando desacompanhado de qualquer outro elemento de prova
a confirmar o aponte. Absolvição do réu que se impõe. APELO PROVIDO. (Apelação Crime Nº
70050185339, Sexta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Aymoré Roque Pottes de
Mello, Julgado em 30/08/2012). Data de Julgamento: 30/08/2012”. Disponível em http://www1.
tjrs.jus.br/busca/?q=%22reconhecimento+pessoal%22&tb=jurisnova, acesso em 07/10/2012.

Revista Brasileira de Ciências Policiais 69


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

importantes para melhor aceitação dos resultados como meio de obtenção de


prova na investigação.

Por fim, interessante citar que o investigado, indiciado ou réu não


é obrigado a participar de sessões de reconhecimento pessoal, haja vista o
exercício do direito a não produzir prova contra si mesmo 27.

Esta também uma das razões pelas quais o reconhecimento foto-


gráfico é tido como de precário valor, devendo necessariamente ser cotejado
com outras provas para que possa obter maior respaldo. Também vale tal as-
sertiva para os reconhecimentos feitos por imagens de câmeras de segurança,
circuitos internos de televisão, celulares etc., não se podendo admitir regras
menos rígidas para procedimentos tão importantes.

De acordo com LOPES JR (2012), o reconhecimento fotográfico


somente pode servir como ato preparatório para o reconhecimento pessoal,
sendo vedado seu uso como um substitutivo àquele ou, ainda, como prova
inominada (admissão do auto de reconhecimento fotográfico sem o poste-
rior auto de reconhecimento pessoal).

O referido autor deixa claro que o reconhecimento fotográfico so-


mente pode ser utilizado em duas oportunidades, quais sejam, de forma direta,
com o suspeito ou imputado presente (caso concorde em participar do ato),
e de forma indireta, haja vista o suspeito ou imputado não estar presente. No
primeiro caso, inclusive, seria possível substituir a descrição referida no inciso I
do artigo 226 do Código de Processo Penal pela fotografia reconhecida.

Ademais, também se faz necessário observar que não se pode subs-


tituir um modo de produção de prova (reconhecimento pessoal), por outro
(reconhecimento fotográfico) quando os procedimentos para a formação
dos resultados são tão diferentes. Na verdade, segundo Fernandes, Almei-
da Moraes (2011), busca-se burlar a disciplina legal do meio de prova que
poderia ter sido adotado, o que acarreta vício de origem e, se for usado na
instrução, vício processual28.
27 SAAD (2004) diz que “Portanto, além de calar-se, negando-se a declarar, ou até mentir, pode também
o acusado não contribuir para a atividade probatória levada a cabo pelos órgãos de investigação.
O acusado não pode ser compelido a declarar nem a participar de qualquer atividade que possa
porventura incriminá-lo ou prejudicar sua defesa.”.
28 Tratando sobre a citada substituição de prova, os autores dizem que “Também há referências à
ocorrência de substituição em casos de reconhecimento. Assim, substitui-se o reconhecimento pessoal
pelo fotográfico, quando o primeiro não pode ser realizado. Em juízo, substitui-se o reconhecimento

70 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Rafael Francisco França

Questões interessantes surgem quando a discussão avança para


elaboração de retratos falados e manipulação de fotografias de suspeitos
para submissão a reconhecimentos fotográficos. Ainda, é necessário tecer
comentários sobre álbuns de fotografias (agora, digitalizados) e oportuni-
dade para fotografar suspeitos na fase de investigação.

Desse modo, é possível confeccionar retratos falados atualmente


com o uso de softwares avançados, em nível bastante diferente dos antigos
desenhos à mão. Tal diligência não pode ser comparada a uma sessão de
reconhecimento fotográfico, mas ao estabelecimento de perfil de suspeitos
a serem procurados e investigados pela Polícia.

Assim, não há interferência no contexto apresentado se o perito incluir


boné, chapéu, bigode, óculos escuros etc., para que a descrição da vítima/teste-
munha aproxime-se ao máximo do que mantém em sua memória acerca do autor
do delito. O estabelecimento de padrões de autoria é elementar para refinamen-
to dos atos de investigação, restringindo o campo de trabalho e economizando
meios para a solução do caso. Se houver semelhanças entre o retrato falado e o
suspeito indiciado, tal resultado interessa, entretanto, somente à investigação.

A situação é modificada quando se aborda a segunda questão. Tendo


em vista a possibilidade de reconhecimento fotográfico como meio preparatório
para o reconhecimento pessoal, e levando-se em consideração as peculiaridades
do ato criminoso (por exemplo, se o autor do assalto utilizava óculos, se o estupra-
dor estava de gorro, se o sequestrador usava barba etc.), seria possível manipular
fotografias do suspeito para que sejam mostradas no reconhecimento?

No que diz respeito ao reconhecimento pessoal, Lopes Jr. (2012, p.


685) traz exemplo do ordenamento alemão em que há possibilidade de mo-
dificação do aspecto físico do imputado (cortar-lhe os cabelos, raspar barba
etc.) para que participe da sessão de modo aproximado à descrição da vítima/
testemunha29, o que não é permitido pela legislação brasileira.

pelo apontamento do acusado na audiência pela testemunha. Mencionam Rosa Maria Rocha e Teresa
Alves Martins crítica à admissão, pelo Supremo Tribunal de Portugal, de reconhecimento atípico
efetuado em audiência de julgamento sem observância dos formalismos legais para o reconhecimento
de pessoas, com invocação do princípio da livre apreciação da prova, embora o Tribunal Constitucional
tenha afirmado a impossibilidade de se admitir como prova reconhecimento feito sem a observância
dos requisitos legais. Lembra-se de que o reconhecimento na audiência tem sido considerado em
algumas decisões como meio de identificação e não de reconhecimento, não submetido, por isso, ao
regime deste. (p. 38).
29 Interessante notar que, no Brasil e em alguns casos, o indiciado/réu modifica suas características físicas

Revista Brasileira de Ciências Policiais 71


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

Mas o que se deseja é abrir discussão sobre a possibilidade de mo-


dificação de fotografias do suspeito para que sejam mostradas no ato (incluir
um boné, retirar o bigode, envelhecê-lo etc.). Dessa forma, e de acordo com
o que foi dito pela vítima/testemunha, seria possível definir que todas as
fotografias que forem mostradas tenham o adereço, ou estejam de bigode,
ou com cabelos loiros, o que definirá aproximação com a descrição original.

Não há restrição às modificações em tela, haja vista que podem até


mesmo servir para substituir o apontamento de características pela vítima/
testemunha antes da sessão de reconhecimento pessoal, conforme apontado
por LOPES JR (2012, p. 683-684). Todavia, não poderá manter valor se não
for realizada sessão de reconhecimento pessoal30 em seguida.

No que diz respeito aos álbuns de fotografias, estes atualmente e em sua


quase totalidade estão contidos em programas computacionais, com o que são
agrupadas as fotos de suspeitos, de presos e indiciados pelo delito cometido,
pela região em que atuam, pelo grupo criminoso do qual fazem parte etc., tudo
com o objetivo de facilitar a identificação de ações criminosas perpetradas.

Bom ser comentado que a grande maioria das forças policiais


toma tais providências, não sendo incomum a identificação de suspeitos
por vítimas/testemunhas por tais padrões.

Ainda, tais fotografias podem ser obtidas por atos de identificação


criminal, conforme dispõe a Lei nº 12.037/2009, ou pelos bancos de dados
disponibilizados aos órgãos policiais, os quais contêm dados de registros de
identidade, de carteiras de habilitação, do sistema prisional. Interessante notar
que a Internet também disponibiliza importantes ferramentas de identifica-
ção de suspeitos, haja vista a disseminação de redes sociais (Facebook, Orkut,
LINKEDIN, etc.), consideradas como “fontes abertas” de investigação, sítios
que armazenam fotos e dados interessantes para qualquer investigação.

aparentes durante o lapso de tempo decorrido entre o reconhecimento em sede policial e a audiência,
situação em que novamente será visto pela vítima/testemunha. Assim, corta cabelos, pinta-os, raspa
a barba ou deixa-a crescer, o que pode acarretar que não se confirme o reconhecimento. Assim, mais
uma razão para que se realize produção antecipada de provas quando do reconhecimento pessoal, nos
moldes do artigo 6º do CPP.
30 Mas, e se o suspeito não concordar em utilizar um boné, por exemplo, no ato da sessão de
reconhecimento pessoal? Mais uma vez tem que ser apontado que o reconhecimento pessoal é ato
voluntário pelo sistema processual brasileiro, não se podendo obrigá-lo a modificar sua apresentação
durante a sessão de reconhecimento.

72 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Rafael Francisco França

Portanto, não há ilegalidade na formação de bancos de dados de sus-


peitos para uso em sede policial, sendo questão de natureza técnica. O que
não pode ocorrer é a indução a reconhecimentos ou, ainda, a desconfigura-
ção do ato com a ausência de posterior reconhecimento pessoal.

3.2. O reconhecimento pessoal na legislação comparada

Pela proposta desse estudo, passa-se a citar as principais caracterís-


ticas dos sistemas de alguns países no que diz respeito ao reconhecimento
pessoal, seja visual presencial ou por fotografias, isso em atendimento à ideia
inicial de comparar os meios de obtenção de provas alienígenas com o que
vige no direito processual brasileiro.

De antemão revela-se interessante mencionar que as legislações ana-


lisadas não dedicam muitos dispositivos ao reconhecimento de pessoas e coi-
sas, modificando-se em maior grau no que tange ao momento em que são
realizados os procedimentos e ao valor probatório dos resultados obtidos.

No entanto, já se nota a necessidade de adequação dos procedi-


mentos aos meios tornados disponíveis pela tecnologia para gravação de
imagens e sons, o que certamente será objeto de discussão nos tribunais
superiores daqui para frente. Quer dizer, em virtude da grande quanti-
dade de câmeras e de equipamentos de gravação de dados espalhados
por todos os cantos das cidades, rodovias, shoppings, bancos, lojas etc.,
é possível concluir que, se forem utilizados como meio de apontamento
preliminar de suspeitos, deve haver um procedimento para tanto, por mi-
nimamente regrado que possa ser.

Passa-se, então, ao estudo sobre os dispositivos sobre reconhe-


cimento pessoal em sistemas processuais alienígenas, com o que se pre-
tende deduzir como está a situação do instituto na legislação nacional
através de quadro comparativo.

3.2.1. Reconhecimento pessoal no sistema processual italiano

Pelo que consta do Codice di Procedure Penale da Itália, há a pre-


visão do que foi chamado de “verdadeiro procedimento preliminar ao re-
conhecimento” por LOPES JR (2012, p. 682).

Revista Brasileira de Ciências Policiais 73


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

De tal modo, o reconhecimento no procedimento italiano segue as


determinações de forma previstas no artigo 213 e seguintes do mencionado
código, pelo que deverá o juiz convidar a vítima ou a pessoa a ser reconhe-
cedora a descrever a pessoa a ser reconhecida. Neste ato, deverá descrevê-la,
indicando todas características possíveis.

Importante mencionar que, por este sistema, a testemunha ou a


vítima são questionadas acerca da possibilidade de já terem participado
de algum outro “reconhecimento”, ou seja, se já viram o suposto autor do
delito por fotografia ou por imagens. A partir daí, será elaborada uma
ata em que estarão presentes todos estes dados. Somente daí se seguirá a
sessão propriamente dita. (BONILINI; CONFORTINI, 2012)31.

Portanto, no sistema processual penal italiano é possível a realização


de sessão de reconhecimento para objetos, o que não é previsto como rito es-
pecífico pelo artigo 226 do Código de Processo Penal brasileiro. Trata-se de
importante meio de comprovação da verossimilhança de afirmações em sede
de investigação preliminar, haja vista a possibilidade de reforço de hipóteses
na formação dos resultados a serem apresentados ao Juízo.

Além disso, fica caracterizado que há meios de identificação por re-


conhecimento de pessoas (artigo 213 do CPP italiano), coisa (artigo 215
do mesmo código) ou de voz, som ou qualquer outra coisa que possa ser ob-
jeto de percepção sensorial (artigo 216 do CPP italiano) (TONINI, 2002,
p. 182). Segundo TONINI (op. cit.), qualquer irregularidade cometida no
desenvolvimento das sessões de reconhecimento acarretará dúvidas na ido-
neidade do que chamou de “resultado probatório”.

Outro ponto a ser considerado é o número de pessoas que devem ser


chamadas para compor a fila de “reconhecendos”32. Pelo que se depreende dos
dispositivos do Código de Processo Penal italiano, são exigidas pelo menos duas
pessoas para acompanhar o suspeito na exibição ao reconhecedor, devendo ser
observado que devem ser fisicamente semelhantes a ele para os efeitos desejados.
Ainda, devem manter tal semelhança também nas vestimentas.
31 “La ricognizzoni è quel complesso mezzo di prova finalizzato a La conferma de un ato conoscitivo:
attraversso esso, a una persona che abbia visto un determinato individuo o abbia precepito con i propri
una cosa si chiede di riconoscerla individuandola tra altre simili.”.
32 Trata-se das pessoas que serão postas ao lado do suspeito para cumprimento do que determina a
legislação. Todavia, não se encontra menção a este termo no sistema italiano, tampouco no nacional,
sendo apenas utilizado no meio policial para facilitar o desenvolvimento do procedimento.

74 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Rafael Francisco França

Além disso, o suspeito pode escolher o local em que queira se posicio-


nar dentre as demais pessoas para que participe da sessão, o que não é sequer
citado no caso brasileiro. Ao ser obrigado a se posicionar em determinado local,
é possível definir que o investigado passe a ser mais um objeto do que sujeito em
tal fase, o que impede que exerça com plenitude seu direito à defesa33.

Em seguida à descrição detalhada da pessoa do autor do delito, ou de


quem se queira como reconhecido, o reconhecedor será convidado a se reti-
rar do local. Depois de tomadas as providências anteriores, o reconhecedor
retorna à sala e, perguntado, aponta se reconhece algum dos presentes, sendo
que, em caso positivo, deverá “precisar sua convicção”.

Por fim, outra diferença a ser indicado diz respeito à possibilidade do


acusado também ser chamado a efetuar um reconhecimento no sistema italia-
no. Todavia, como garantia fundamental, poderá exercer seu direito ao silêncio.

3.2.2. Reconhecimento pessoal no sistema processual português

O sistema processual penal português acolheu o reconhecimento


pessoal no artigo 147 do CPP34, pelo que é possível definir as principais ca-
racterísticas de tal procedimento na legislação daquele país.
33 Interessante mencionar que, de acordo com a Ley de Procedimiento Policial (Ley nº18.315 de 5
de julio de 2008 – Código de conducta para funcionarios encargados de hacer cumplir la ley), da
República Oriental do Uruguai, naquele país também é possível a escolha pelo suspeito do local em
que quer ficar na linha de reconhecimento (artigo 66, número 2).
34 Artigo 147.º Reconhecimento de pessoas 1 - Quando houver necessidade de proceder ao
reconhecimento de qualquer pessoa, solicita-se à pessoa que deva fazer a identificação que a descreva,
com indicação de todos os pormenores de que se recorda. Em seguida, é-lhe perguntado se já a tinha
visto antes e em que condições. Por último, é interrogada sobre outras circunstâncias que possam
influir na credibilidade da identificação. 2 - Se a identificação não for cabal, afasta-se quem dever
proceder a ela e chamam-se pelo menos duas pessoas que apresentem as maiores semelhanças possíveis,
inclusive de vestuário, com a pessoa a identificar. Esta última é colocada ao lado delas, devendo, se
possível, apresentar-se nas mesmas condições em que poderia ter sido vista pela pessoa que procede
ao reconhecimento. Esta é então chamada e perguntada sobre se reconhece algum dos presentes e,
em caso afirmativo, qual. 3 - Se houver razão para crer que a pessoa chamada a fazer a identificação
pode ser intimidada ou perturbada pela efectivação do reconhecimento e este não tiver lugar em
audiência, deve o mesmo efectuar-se, se possível, sem que aquela pessoa seja vista pelo identificando.
4 - As pessoas que intervierem no processo de reconhecimento previsto no n.º 2 são, se nisso
consentirem, fotografadas, sendo as fotografias juntas ao auto. 5 - O reconhecimento por fotografia,
filme ou gravação realizado no âmbito da investigação criminal só pode valer como meio de prova
quando for seguido de reconhecimento efectuado nos termos do n.º 2. 6 - As fotografias, filmes ou
gravações que se refiram apenas a pessoas que não tiverem sido reconhecidas podem ser juntas ao auto,
mediante o respectivo consentimento. 7 - O reconhecimento que não obedecer ao disposto neste
artigo não tem valor como meio de prova, seja qual for a fase do processo em que ocorrer. Código de
Processo Penal português, disponível em http://www.pgdlisboa.pt/pgdl/leis/lei_mostra_articulado.
php?nid=199&tabela=leis, acesso em 07/10/2012.

Revista Brasileira de Ciências Policiais 75


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

Conforme consta, o reconhecedor é também incitado a descrever


com detalhes a pessoa a quem deva reconhecer, o que determina que seja ou-
vida em declarações antes da sessão de reconhecimento, fato que é também
mencionado em seguida, eis que é também perguntada se já havia visto o
suspeito antes e em que condições. Ademais, é parte do procedimento a ela-
boração de questões ao reconhecedor que reforcem ou não a credibilidade no
resultado do reconhecimento.

A sequência da sessão de reconhecimento por esse sistema também é


revestida de garantias inexistentes no sistema nacional. De acordo com o que
está previsto pelo artigo 147 do Código de Processo Penal português, se o re-
conhecedor não der certeza sobre a identificação do suspeito, serão colocadas
outras pessoas com características físicas semelhantes (traços físicos e roupas,
por exemplo) para nova rodada de reconhecimento.

Importante observar que, de acordo com o mesmo dispositivo, se


não forem seguidos os passos determinados por este dispositivo, o reconhe-
cimento ou os resultados obtidos não poderão servir como meio de prova.
Ainda, fica também indicado que, se a identificação for cabal já no primeiro
contato, não serão colocadas outras pessoas com semelhanças físicas ao lado
do suspeito, conclusão retirada da leitura do dispositivo em tela.

Assim, embora se tenha alegado que a legislação portuguesa


possua regramentos mais evoluídos do que a brasileira na proteção das
garantias fundamentais do investigado/suspeito, de testemunhas ou de
vítimas, é imperioso também considerar que, de acordo com entendimen-
tos jurisprudenciais encontrados sobre o tema em tribunais daquele país
revelaram pouco ou nenhum avanço sobre os procedimentos adotados
no Brasil em tal matéria.

Bom ser notado que, conforme entendimento jurisprudencial sobre a


matéria pelo Tribunal da Relação de Coimbra, é possível afirmar que não se dis-
pensa o reconhecimento pessoal realizado na fase do inquérito policial, não ne-
cessitando o ato ser reproduzido na esfera judicial (audiência em julgamento)35.
35 PORTUGAL. Tribunal da Relação de Coimbra. Nº Convencional: 486/07.2. GAMLD.C1 JTRC
Relator: GOMES DE SOUSA Descritores: PROVA POR RECONHECIMENTO PROIBIÇÃO
DE VALORAÇÃO DE PROVAS Data do Acordão: 05/05/2010. Votação: UNANIMIDADE.
Tribunal Recurso: COMARCA DA MEALHADA Texto Integral: S Meio Processual: RECURSO
PENAL. Decisão: CONFIRMADA. Legislação Nacional: 147º, 355º DO CPP. Disponível em
http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/55466d6aa2c66c848025772a
0035046f ?OpenDocument, acesso em 07/10/2012.

76 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Rafael Francisco França

Conforme se depreende do julgado acima mencionado, tam-


pouco se exige em Portugal que se proceda ao novo reconhecimento de
forma obrigatória na fase judicial, dito que, se acaso o juiz entendê-lo
como necessário, deverá seguir as determinações do artigo 147 do Có-
digo de Processo Penal.

Ademais, percebe-se que o referido artigo determina que a seme-


lhança física dos indivíduos que compõem a sequência para reconhecimen-
to é fator de ordem para que a sessão tenha os efeitos de meio de prova
(valor). Ou seja, conforme o julgado a seguir colacionado, embora não
acarrete nulidade, o reconhecimento pessoal realizado sem atendimento
aos preceitos do artigo 147 do CPP em Portugal pode definir “uma maior
fragilidade na livre apreciação que o julgador deve fazer das provas obtidas”,
podendo, inclusive, não ter valor algum.

Todavia, e de acordo com a Lei nº 48/2007, de 29 de agosto, foi


regulado o reconhecimento por fotografia, por filmagens ou gravações no
direito processual penal português, o que representa avanço em relação à le-
gislação brasileira. Não é demais apontar que não raramente são apresentados
indícios de participação de indivíduos através de fotografias ou de gravações
de circuitos internos de segurança, o que traz problemas no ato da formaliza-
ção de reconhecimentos por carência de disposições legais.

Dessa maneira, conclui-se que, também em Portugal, a efetividade


do dispositivo em tela sofre sérias influências da estrita obediência à forma,
o que pende para o descumprimento na fase pré-processual. Interessante ser
observada a semelhança do menor valor (ou até mesmo desvalor) dado à ses-
são de reconhecimento realizada sem cumprimento das formalidades legais
com o instituto da inutilizzabilitá, previsto pelo sistema processual italiano,
conforme será tratado neste trabalho.

3.2.3. Reconhecimento pessoal no sistema processual espanhol

Nos termos do que está determinado pela Ley de Enjuiciamento Cri-


minal (LECrim), em seu artigo 368 e seguintes, a função de identificação do
acusado é “função típica da investigação preliminar, sem a qual não se pode
produzir a acusação”. (LOPES JR., 2012, p. 681). De tal modo, a execução
de “la diligencia de reconocimiento en rueda” é considerada inidônea para ser
realizada em plenário ou em algum ato de juízo oral.

Revista Brasileira de Ciências Policiais 77


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

A argumentação utilizada para tanto é baseada principalmente


no tempo que geralmente decorre entre a ocorrência do fato delituoso, a
realização de sessão de reconhecimento na fase preliminar e a realização
de audiência em contraditório perante a autoridade judicial. Com relativa
demora, é possível que a testemunha ou a vítima percam informações e me-
mórias que seriam importantes para assegurar maior fidelidade a eventual
reconhecimento pessoal realizado, com o que se determina a produção an-
tecipada de prova em relação a tal meio.

Importa também ressaltar que, de acordo com o LO nº 04/1997,


regulada a utilização de imagens captadas por câmeras de vigilância insta-
ladas em lugares públicos por “Fuerzas y Cuerpos de Seguridad”, isso com a
finalidade exposta por MARTÍNEZ et al. (1999, p. 481): “asegurar la con-
vivencia ciudadana, la erradicación de la violencia y la utilización pacífica de
las vías y espacios públicos, así como para prevenir la comisión de delitos, faltas
e infracciones relacionados con la seguridad pública.”.

Determinam os autores em tela, ainda, que como resultado da


observação de atos tidos preliminarmente como ligados a possível cri-
me, tais forças policiais devem reter a gravação e encaminhá-la, em até
setenta e duas horas ao Ministério Público ou ao Juízo para providências
cabíveis. Não sendo possível a gravação, será elaborado um relatório com
o resumo sobre o conteúdo das imagens e dos fatos averiguados pelos
policiais para os mesmos fins acima citados.

No que diz respeito ao reconhecimento em si, a Ley de Enjuiciamien-


to Criminal estabelece, no artigo 369, os requisitos que devem ser atendidos
para tal ato, ou seja, para que produza os efeitos desejados. Ademais, também
foram construídos entendimentos jurisprudenciais que fornecem limites e
reforçam os requisitos a serem cumpridos para tanto.

Sendo assim, segundo o SSTS de 02 de fevereiro de 1996, e


como garantia constitucional, tornou-se recomendada a presença do
juiz e do advogado nas sessões de reconhecimento. Ademais, conforme
consta, a pessoa a ser reconhecida deve ter colocada a frente da reco-
nhecedora ao lado de outras com ela fisicamente parecidas. O reconhe-
cedor ficará postado em local em que não possa ser visto pelas pessoas
que participam da sessão como possíveis reconhecidos.

78 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Rafael Francisco França

Em seguida, o juiz perguntará ao reconhecedor se, dentre as pessoas


presentes na “rueda o en el grupo de personas” está a que fora referida nas de-
clarações anteriormente prestadas. Ou seja, antes da sessão de reconhecimen-
to, a testemunha ou vítima é ouvida em declarações, situação em que relatará
as características físicas e demais detalhes sobre o autor do crime. Dessa for-
ma, na sessão de reconhecimento apontará se ali está o responsável de acordo
com suas anteriores declarações.

Importante notar que, pelos artigos 371 e 372 da LECrim, deve ha-
ver cuidado para que o autor do delito não modifique suas características
físicas (por exemplo, raspe a barba ou pinte os cabelos de outra cor) ou use
trajes diferentes no intuito de furtar-se ao reconhecimento. Fica encarregado
o diretor do estabelecimento prisional para onde foi enviado possível detido
pela guarda e conservação das roupas com que foi apresentado, isso para favo-
recimento e garantias durante possíveis sessões de reconhecimento.

Pelo sistema em tela, se forem vários suspeitos a serem reconhecidos,


serão efetuadas quantas sessões forem necessárias, isso de modo separado. Por
outro lado, se foram várias vítimas ou testemunhas para reconhecer um só
suspeito, pode ser realizado um só ato.

O que resta a ser confirmado quanto ao reconhecimento no modelo


espanhol é a característica que assume como prova de produção antecipa-
da, como já mencionado. (DOMÍNGUEZ; SENDRA; CATENA, 1999,
p. 380)36. Dessa maneira, deve ser observado que, de acordo com sentença
publicada recentemente pelo Tribunal Superior de Justiça da Catalunha, em
relação ao chamado Caso Banda Bing (SENTENCIA Nº 412, en Barcelona
a 29 de octubre de 2009. Francisco Javier Paulí Collado, Magistrado juez titu-
lar del juzgado Penal nº 22 de Barcelona)37, ficou determinado que:
En este punto se ha discutido por las defensas los reconocimientos
realizados, planteando en algún momento que o bien hubo previa
exhibición de fotografías, o bien lo que se reconoce es un dorsal y no
36 En muchas ocasiones, dado el tiempo que transcurre desde que ocurrieron los hechos hasta que se celebra
el juicio, se hace prácticamente imposible que en éste pueda reconocerse a la persona que realizó los hechos.
Por estas circunstancias la diligencia de reconocimiento en rueda puede ser absolutamente necesaria
para la condena del inculpado, convirtiendo en uno de los casos que están reconocidos en la ley y en la
jurisprudencia como de pruebas anticipadas o diligencias sumariales que producen en el juicio oral los
mismos efectos que las pruebas de cargo
37 Disponível em http://www.poderjudicial.es/cgpj/es/Poder_Judicial/Tribunales_Superiores_de_
Justicia/TSJ_Cataluna/Sala_de_prensa/Archivo_de_notas_de_prensa/Sentencia_Bada_Bing,
acesso em 04/10/2012

Revista Brasileira de Ciências Policiais 79


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

una cara. Establece el Tribunal Supremo en diversas resoluciones


de la que se destaca la de 29 de abril de 1997,nº 642-97, recurso
212-96 que la diligencia de reconocimiento en rueda constituye una
específica prueba sumarial que no se puede practicar en las sesiones
del juicio oral por resultar atípica e inidónea. Igualmente ha recono-
cido la virtualidad de esa diligencia practicada en las dependencias
policiales, a presencia de Letrado, cuando ha sido ratificada en el
Juzgado de instrucción y posteriormente en el acto del juicio oral por
la persona que ha intervenido en la misma, identificando, sin duda,
como sucede en este caso, a los autores de los hechos enjuiciados. Así
se han manifestado, entre otras, las sentencias de 7 de octubre y 10
de diciembre de 1991 que declaran la validez de la diligencia de
reconocimiento en rueda de detenidos practicada en Comisaría y en
presencia de Letrado, como actividad probatoria de cargo, siempre
que se cumplan las previsiones de los artículos 368 y siguientes de la
Ley de Enjuiciamiento Criminal, y sea posteriormente ratificada en
el acto del juicio oral.

Portanto, pelo que está disposto no trecho acima destacado, o reco-


nhecimento por meio de exposição de fotografias foi considerado válido, isso
com sua realização em sede policial. Todavia, tal reconhecimento foi depois
realizado de forma pessoal e com a presença de advogado, fato que foi confir-
mado no contraditório do processo penal (no Juízo de Instrução e no Juízo
Oral). Ou seja, no sistema espanhol, o reconhecimento pessoal ocorre em
fase preliminar ao processo, ressaltando-se que deve ser confirmado visual e
pessoalmente na fase judicial.

Todavia, considera-se importante definir que, conforme está dispos-


to por RUIZ e QUIROGA (2012, p. 282)38, é necessário submeter este re-
conhecimento feito na fase preliminar ao “interrogatório cruzado”, efetuado
durante o processo sob o crivo do contraditório.

Por outro lado, é possível apontar a importância de tal meio de ob-


tenção de prova para o processo penal espanhol, tendo em vista que é obri-
gatoriamente realizado na presença de advogado, não podendo acontecer de
maneira informal como soe ocorrer na investigação preliminar no Brasil.

38 “La verdadera diligencia de identificación procesal, como pone de relieve la citada Sentencia de 19 de
diciembre de 1994, es la prevenida en los artículos 368 y siguientes de la Ley de Enjuiciamiento Criminal.
Practicada con las debidas garantías y en forma contradictoria con la presencia del Letrado del acusado
sometido a reconocimiento en rueda, tal identificación pode valorarse si, comparecido en el Juicio Oral
en reconociente, puede ser sometido al interrogatorio cruzado de las partes a tal punto, para satisfacer el
principio o se aportan en otra forma válida, como puede ser su lectura en el caso de imposibilidad cierta de
comparecencia del testigo.”.

80 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Rafael Francisco França

No entanto, bom ser observado que, de acordo com entendimen-


tos jurisprudenciais coletados junto ao sítio do TSE (Tribunal Superior de
España)39 , não se despreza totalmente o reconhecimento feito em sede po-
licial com a presença do advogado do suspeito reconhecido, mesmo que tal
sessão tenha se dado por meio de mostra de álbum fotográfico, meio de reco-
nhecimento utilizado por diversas forças policiais em vários países como for-
ma de levantamentos iniciais de alvos de investigação ou seus cúmplices pela
descrição inicialmente fornecida pela vítima ou pelas testemunhas. (RUIZ;
QUIROGA, 2012, p. 282)40 .

De tal maneira, mesmo que se tenha por incidental o reconhecimen-


to fotográfico realizado preliminarmente ao reconhecimento pessoal, este
último terá valor muito maior se forem atendidos os requisitos para a reali-
zação das sessões, sendo um deles a realização com presença de advogado do
suspeito e dentro das regras estabelecidas pela legislação.

A exigência de cumprimento das formalidades previstas, portanto, é


cotejada com a busca de suspeitos pela polícia, sem o que seria impossível dar
conta de indivíduos a serem reconhecidos. No entanto, fica também indica-
do que, já tendo tido acesso à fotografia do investigado antes da sessão, por
meio de consulta às fotos cadastradas pela polícia, o reconhecedor pode ser
direcionado, mesmo que involuntariamente, a somente confirmar o reconhe-
cimento de forma pessoal, ou seja, ao identificar o mesmo rosto da fotogra-
fia ou imagem que lhe fora mostrada com o que aparece pessoalmente a sua
frente durante a sessão.

39 Roj: SAP M 12079/2012 Id Cendoj: 28079370072012100442 Órgano: Audiencia Provincial


Sede: Madrid Sección: 7 Nº de Recurso: 327/2012 Nº de Resolución: 702/2012 Procedimiento:
APELACIÓN Ponente: MARIA TERESA GARCIA QUESADA Tipo de Resolución: Sentencia.
http://www.poderjudicial.es/search/doAction?action=contentpdf&databasematch=AN&referenc
e=6479261&links=%22327/2012%22%20MARIA%20TERESA%20GARCIA%20QUESADA
&optimize=20120830&publicinterface=true, acesso em 07/10/2012. Na decisão, em certo trecho,
citou-se que “D) El valor de prueba de identificación no sufre merma alguna por el solo hecho de que
el reconociente en ella hubiese también reconocido antes en álbum fotográfico exhibido por funcionarios
policiales en el ámbito de su investigación, práctica que no contamina ni erosiona la confianza que pueden
suscitar las posteriores manifestaciones del testigo, tanto en las ruedas de reconocimiento como en las
sesiones del juicio oral".
40 Este também foi o entendimento exposto no julgado a seguir transcrito: “El valor de la prueba de
identificación no sufre merma alguna por el solo hecho de que el reconociente en ella hubiese también
reconocido antes en el álbum fotográfico exhibido por funcionarios policiales en el ámbito de su
investigación, práctica que no contamina o erosiona la confianza que pueden suscitar las posteriores
manifestaciones del testigo, tanto en las ruedas de reconocimiento como en las sesiones del Juicio Oral (STS
2ª – 822/2008 – 04/12/2008 – 818/2008 – EDJ2008253397-).”.

Revista Brasileira de Ciências Policiais 81


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

Portanto, mesmo no sistema espanhol, o reconhecimento pessoal é


tido como diligência problemática, que exige redobrada atenção às formali-
dades e na sequência dos atos a serem praticados para que não se cometam
equívocos que determinam a inconsistência dos resultados.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A busca por elementos de prova no processo penal começa pela indi-


cação dos meios para sua obtenção na fase investigativa preliminar. Por isso, é
necessário dar maior atenção ao que ocorre neste período, eis que os equívo-
cos e irregularidades cometidos aqui são diretamente refletidos na qualidade
da denúncia e, consequentemente, na instrução da ação penal.

Em matéria de reconhecimento pessoal, os dispositivos encontrados no


sistema brasileiro deixam clara as carências de maiores formalidades para o desen-
volvimento das sessões e até mesmo quanto ao momento em que devem estas serem
desenvolvidas. O que deve balizar o desenvolvimento de tal diligência é o respeito
ao direito ao silêncio e o de não produzir prova contra si mesmo. Por outro lado, de-
ve-se ter em mente que, por vezes, o único elemento de convicção disponível é o que
foi captado por câmeras, por fotos ou pelas memórias de vítimas e de testemunhas.

Deve-se também levar em conta que o ato de reconhecimento é


procedimento irrepetível. Assim, se houver reconhecimento, ainda que foto-
gráfico, na fase procedimental preparatória, não se pode repetí-lo durante a
instrução processual com a mesma validade. O simples contato com a fisio-
nomia ou com os dados do suspeito já maculariam os resultados.

Por outro lado, também deve ser observado que a efetividade de tal
meio de obtenção de prova tem estrita relação com o tempo. Assim, pertinen-
te considerar o que já determina o artigo 6º do Código de Processo Penal e
determinar que, sendo possível, seja realizada produção antecipada de provas.
Nesse contexto, é atribuição da Autoridade Policial determinar que se proceda
ao reconhecimento de pessoas e coisas o quanto antes, o que também leva a crer
que deva provocar a antecipação de produção de prova, evitando-se, com isso,
alegações de falhas cometidas e de pressões sofridas por reconhecedores.

Conforme consta do que foi citado em relação aos sistemas proces-


suais penais de legislações comparadas, é possível também definir que alguns

82 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Rafael Francisco França

dos vícios aqui existentes também são observados em outros países. Um de-
les, sem dúvida, é a possibilidade de admissão de reconhecimentos fotográ-
ficos realizados na fase de investigação quando da instrução processual, com
posterior convalidação dos resultados obtidos em Juízo.

Observa-se que, apesar de servir de base para possível reconhecimen-


to pessoal, o procedimento que utiliza fotografias para apontar suspeitos não
foi devidamente regrado no sistema processual brasileiro. Ainda são utiliza-
dos álbuns de fotografias, muitas vezes em preto e branco, sem que o reco-
nhecedor tenha opções a indicar dentro de fotos semelhantes.

Dessa forma, e a partir de reconhecimentos fotográficos realiza-


dos desta maneira, possivelmente a vítima ou a testemunha irão apontar
como autor do crime o mesmo indivíduo do qual viram fotografia em
sede policial. Portanto, se o reconhecimento fotográfico foi feito de ma-
neira equivocada, contaminará o argumento de prova e nem mesmo a
prova testemunhal poderá ser produzida em Juízo em relação ao mesmo
suspeito de forma convincente.

Embora se diga que o sistema legal brasileiro contará em breve com


novo Código de Processo Penal, em matéria de reconhecimento de pessoas e
coisas nada se modificou até agora no projeto de lei. Trata-se de reprodução
dos mesmos dispositivos do atual, não tendo sido contempladas situações
inerentes à evolução dos meios de investigação, tais como reconhecimentos
de sons, por meio de filmagens, etc.

Outro ponto a ser mencionado diz respeito à necessidade da pre-


sença de advogados de defesa e de representantes do Ministério Público
durante as sessões de reconhecimento pessoal. Verifica-se que em outras
legislações, a produção do reconhecimento alcança maior valor probatório
quando realizada desta maneira, ou seja, ampliando-se a ampla defesa e, de
certa forma, possibilitando-se o contraditório.

Portanto, o que deve ser levado em conta ao final deste estudo é que,
embora de difícil produção, o reconhecimento ainda é um dos mais impor-
tantes meios disponíveis para que se prove algo na investigação criminal. E
essa importância deve servir de base para que sejam modificados os dispositi-
vos legais acerca do procedimento a ser seguido, possibilitando maior aceita-
ção e acuidade de seus resultados.

Revista Brasileira de Ciências Policiais 83


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

Rafael Francisco França


Delegado de Polícia Federal; Especialista em Ciências Penais
pela PUC/RS; Especialista em Ciências Policiais e Investiga-
ção Criminal pela ANP/DPF; Mestrando em Ciências Crimi-
nais pela PUC/RS; Sócio do Instituto Brasileiro de Ciências
Criminais - IBCCRIM.

E-mail: franca.rff@dpf.gov.br

ABSTRACT
This article aims to define points of discussion of eyewitness recognition within the context of
obtaining evidence in criminal proceedings. So it must be cited and studied institutes having as
starting point the Brazilian law, with particular attention to practical issues thus highlight the use
of such devices in preliminary criminal investigation. Within the mentioned objective this article
will expose information on the procedures used for the recognition by the Spanish, the Portu-
guese, Italy and other countries legal systems, with the hopes that, by comparison, to conclude on
the need for changes in legislation on such matters homeland .

KEYWORDS: Evidence; Eyewitness Recognition; compared Legislation (Spain, Portugal and Italy);

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANSELMO, Márcio Adriano. LEUTÉRIO, Alex Pereira. A Interceptação


das Comunicações Como Meio de Investigação. Monografia
de conclusão (Pós-Graduação em Direito). Faculdade de Direito.
Universidade de São Paulo. 2012.
ARANTES FILHO, Márcio Geraldo Britto. A Regulamentação do Sigilo
das Comunicações Entre Pessoas Presentes e do Sigilo Profissional
no Direito Processual Penal Chileno. Revista Brasileira de Ciências
Criminais. n.80, Editora Revista dos Tribunais, Ano 17, setembro-
outubro de 2009.
AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas Ilícitas: interceptações
telefônicas, ambientais e gravações clandestinas. – 4. ed. rev. e
ampl. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2010.
BONILINI G., CONFORTINI M. – Codice di Procedura Penale
Commentato. Quarta edizione. Torino: Utet Giuridica. 2012.
BRASIL. Senado Federal. Comissão de Juristas Responsável pela
Elaboração de Anteprojeto de Reforma do Código de Processo
Penal. Anteprojeto de Reforma do Código de Processo Penal /

84 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Rafael Francisco França

Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de


Reforma do Código de Processo Penal. – Brasília : Senado Federal,
Subsecretaria de Edições Técnicas, 2009.160 p.
BRASIL. Poder Judiciário. Supremo Tribunal Federal. (HC 69818,
Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma,
julgado em 03/11/1992, DJ 27-11-1992 PP-22302 EMENT
VOL-01686-02 PP-00201).
________. Poder Judiciário. Supremo Tribunal Federal. (Inq 2424,
Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em
26/11/2008, DJe-055 DIVULG 25-03-2010 PUBLIC 26-03-
2010 EMENT VOL-02395-02 PP-00341).
________. Poder Judiciário. Superior Tribunal de Justiça. HC
164.870/SP, Rel. Ministro ADILSON VIEIRA MACABU
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RJ), QUINTA
TURMA, julgado em 21/06/2012, DJe 03/08/2012. Disponível
em http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visual
izacao=null&livre=%22reconhecimento+pessoal%22&b=ACOR#
DOC4, acesso em 08/10/2012.
________. Poder Judiciário. Superior Tribunal de Justiça. HC 152.988/
SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
SEXTA TURMA, julgado em 02/02/2012, DJe 15/02/2012.
Disponível em http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.
jsp?tipo_visualizacao=null&livre=%22reconhecimento+pessoal%2
2&b=ACOR#DOC4, acesso em 08/10/2012.
________. Poder Judiciário. Tribunal de Justiça do Estado do Rio
Grande do Sul. Processo número: 70050185339. Tribunal:
Tribunal de Justiça do RS. Seção: CRIME. Tipo de Processo:
Apelação Crime. Órgão Julgador: Sexta Câmara Criminal.
Decisão: Acórdão. Relator: Aymoré Roque Pottes de Mello.
Comarca de Origem: Comarca de Tramandaí. Ementa: AC
Nº. 70.050.185.339 AC/M 4.074 - S 30.08.2012.
CARVALHO, Paulo Henrique da Silva. A Importância do Inquérito
Policial no Sistema Processual Penal. Disponível em http://www.
advogado.adv.br/artigos/2006/paulohenriquedasilvacarvalho/
aimportanciainquerito.htm, acesso em 07/10/2012.

Revista Brasileira de Ciências Policiais 85


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

COLLI, Maciel. Interceptações Telefônicas: uma análise sob o direito


comparado da Itália, Espanha e Portugal. In Processo Penal
Contemporâneo. Nereu José Giacomolli, André Machado Maya
(Organizadores). Porto Alegre : Núria Fabris Ed., 2010.
CUTLER, Brian L. Mistaken Identification: the eyewitness,
psychology, and the law. Brian L. Cutler, and Steven D. New York:
Cambridge University Press, 1996.
DOMÍNGUEZ, Valentín Cortés. SENDRA, Vicente Gimeno. CATENA,
Víctor Moreno. Derecho Procesal Penal. 3ª ed. – Madrid, Editorial
Codex, 1999.
ESPANHA. Audiencia Provincial de Madrid. Roj: SAP M 12079/2012
Id Cendoj: 28079370072012100442 Órgano: Audiencia
Provincial Sede: Madrid Sección: 7 Nº de Recurso: 327/2012
Nº de Resolución: 702/2012 Procedimiento: APELACIÓN
Ponente: MARIA TERESA GARCIA QUESADA Tipo de
Resolución: Sentencia. Disponível em http://www.poderjudicial.
es/search/doAction?action=contentpdf&databasematch=AN&r
eference=6479261&links=%22327/2012%22%20MARIA%20
TERESA%20GARCIA%20QUESADA&optimize=20120830&p
ublicinterface=true, acesso em 07/10/2012.
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. USAToday Journal, 4/23/2007
10:46 AM. DNA should clear man who served 25 years. Disponível
em http://usatoday30.usatoday.com/news/nation/2007-04-22-dna-
exoneration-inside_N.htm, acesso em 23/10/2012.
FERNANDES, Antonio Scarance. Prova e sucedâneos da prova no
processo penal. Revista Brasileira de Ciências Criminais, n.66,
Editora Revista dos Tribunais, Ano 15, maio-junho de 2007.
FERNANDES, Antônio Scarance. ALMEIDA, José Raul Gavião de.
MORAES, Maurício Zanoide de. (Coordenadores). Provas no
Processo Penal: estudo comparado. São Paulo: Saraiva, 2011.
GAZETA DO POVO ON LINE. Tragédia na Praia dos Amores
em Caiobá. Disponível em http://www.gazetadopovo.com.br/
vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=853179&tit=Tragedia-
na-Praia-dos-Amores-em-Caioba, acesso em 02/10/2012.

86 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Rafael Francisco França

GIACOMOLLI, Nereu José e DI GESU, Cristina Carla – As Falsas


Memórias na Reconstrução dos Fatos pelas Testemunhas no
Processo Penal - Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso
Nacional do CONPEDI. Realizado em Brasília – DF, nos dias 20,
21 e 22 de novembro de 2008.
GOMES, Luís Flávio, CERVINI, Raúl. Interceptação Telefônica: Lei nº
9.296, de 24.07.96 . São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1997.
GRINOVER, Ada Pellegrini, FERNANDES, Antonio Scarance, GOMES
FILHO, Antonio Magalhães. As Nulidades no Processo Penal,
. 6. ed. rev., ampl. e atual. com nova jurisprudência e em face da
Lei 9.099/95 e das leis de 1996. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 1997.
GUIMARÃES, Maurício Henrique et al. Provas Policiais Insuscetíveis de
Repetição. Revista da Associação dos Delegados de Polícia do
Estado de São Paulo. Marcos Antônio Gama (Coord.), São Paulo:
ADPESP. Ano 19, n. 26, dez/99.
ITÁLIA. Codice de Procedura Penale. Disponível em http://www.
brocardi.it/codice-di-procedura-penale/libro-terzo/titolo-iii/capo-
iv/art267.html, acesso em 07/10/2012.
JOHNSON, Wanda B. Eyewitness Identification of Offenders: state-of-art
survey and research recommendations. Law Enforcement Assistance
Administration. Washington D.C: U.S. Department of Justice, 1973.
LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. – 9. ed. rev. e atual. – São
Paulo: Saraiva, 2012.
________. Reforma Processual Penal e o Reconhecimento de Pessoas:
entre a estagnação e o grave retrocesso. Boletim IBCCRIM : São
Paulo, ano 17, n. 200, p. 16-17, julho 2009.
LOPES JR, Aury. DI GESU, Cristina Carla. Falsas Memórias e Prova
Testemunhal no Processo Penal: em busca da redução de danos.
Revista de Estudos Criminais. Instituto Transdisciplinar de
Estudos Criminais. ano VII. n. 25. abr./jun. 2007.
LOPES, Mariângela Tomé. O Reconhecimento como Meio de
Prova: necessidade de reformulação do direito brasileiro.
Tese (Doutorado em Direito Processual). Faculdade de Direito.
Universidade de São Paulo-USP, São Paulo. Orientador: Antônio

Revista Brasileira de Ciências Policiais 87


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

Scarance Filho. 2011. Disponível em http://www.teses.usp.br/teses/


disponiveis/2/2137/tde-10092012-160242/pt-br.php.
LOPES, Mariângela Tomé. O reconhecimento de pessoas e coisas como
um meio de prova irrepetível e urgente. Necessidade de realização
antecipada In Boletim IBCCRIM. São Paulo: IBCCRIM, ano 19,
n. 229, p. 06-07, dez., 2011.
MARSHALL, James. Law and Psychology in Conflict. Garden City,
New York: Anchor Books. Doubleday & Co., Inc., 1969.
MARTINÉZ, Sara Aragoneses e outros. Derecho Procesal Penal. Nueva
edición, 30 de junio de 1999. Completada y actualizada. Madrid
:Editorial Centro de Estudios Ramón Areces, S.A., 1999.
PORTUGAL. Código de Processo Penal. Decreto-Lei nº 78/87, de
17 de Fevereiro, disponível em http://www.pgdlisboa.pt/pgdl/
leis/lei_mostra_articulado.php?nid=199&tabela=leis, acesso em
07/10/2012.
PORTUGAL. Tribunal da Relação de Coimbra. Nº Convencional:
486/07.2. GAMLD.C1 JTRC Relator: GOMES DE SOUSA
Descritores: PROVA POR RECONHECIMENTO
PROIBIÇÃO DE VALORAÇÃO DE PROVAS Data do
Acordão: 05/05/2010. Votação: UNANIMIDADE. Tribunal
Recurso: COMARCA DA MEALHADA Texto Integral: S Meio
Processual: RECURSO PENAL. Decisão: CONFIRMADA.
Legislação Nacional: 147º, 355º DO CPP. Disponível em http://
www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/55
466d6aa2c66c848025772a0035046f ?OpenDocument, acesso em
07/10/2012.
PORTUGAL. Tribunal da Relação de Coimbra. Nº Convencional:
209/09.1PBFIG.C1 JTRC. Relator: PAULO GUERRA.
Descritores: PROVA POR RECONHECIMENTO. Data do
Acordão: 10/11/2010. Votação: UNANIMIDADE. Tribunal
Recurso: COMARCA DA FIGUEIRA DA FOZ – 3º J. Texto
Integral: S. Meio Processual: RECURSO PENAL. Decisão:
CONFIRMADA. Legislação Nacional: ARTIGO 147º DO
CPP. Disponível em http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/8fe0e606d8f56b2
2802576c0005637dc/8fa09bd5c06877aa802577ee0041e7f1?Open
Document, acesso em 07/10/2012.

88 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Rafael Francisco França

PORTUGAL. Tribunal da Relação de Coimbra. Nº Convencional:


1582/04.3TBVIS.C1. JTRC. Relator: ELISA SALES
Descritores: PROVA POR RECONHECIMENTO DE
PESSOAS. Data do Acordão: 06/05/2009. Votação:
UNANIMIDADE. Tribunal Recurso:. COMARCA DE VISEU
– 2º J. Texto Integral: S. Meio Processual: RECURSO PENAL.
Decisão: REVOGADA. Legislação Nacional: ARTIGOS
147º DO CPP. Disponível em http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/
c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/ca88b9c730ebb885802575
be0039c450?OpenDocument&Highlight=0,M%C3%89TODOS,
PROIBIDOS,DE,PROVA. Acesso em 07/10/2012.
ROBERTS, Andrew. Eyewitness Identification Evidence: procedural
developments and the ends of adjudicative accuracy. International
Commentary on Evidence. Volume 6, Issue 2. 2009 Article 3.
United Kingdom, Berkeley, 2009. Disponível em http://wrap.
warwick.ac.uk/887/, acesso em 23/10/2012.
RUIZ, Juan Saavedra. QUIROGA, Jacobo López Barja de. Ley de
Enjuiciamiento Criminal: comentada, con jurisprudencia
sistematizada y concordancias. Madrid : Colección Tribunal
Supremo. El Derecho, 2012.
SAAD, Marta. O Direito de Defesa no Inquérito Policial. São Paulo :
Editora Revista dos Tribunais, 2004.
SCHOTT, Richard D.. Warrantless Interception of Communications.
Law Enforcement Bulletin, January 2003. Volume 72. Number
1. United States. Department of Justice. Federal Bureau of
Investigation. Washington, DC.
SCHUSTER, Beth. Police Lineups: Making Eyewitness Identification
More Reliable. National Institute of Justice Journal, n. 258.
October 2007. Disponível em http://www.nij.gov/journals/258/
police-lineups.html#note1, acesso em 23/10/2012.
TONINI, Paolo. A Prova no Processo Penal Italiano; tradução de
Alexandra Martins, Daniela Mróz – São Paulo : Editora Revista dos
Tribunais, 2002.

Revista Brasileira de Ciências Policiais 89


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.
Meios de Obtenção de Prova na Fase Preliminar Criminal

URUGUAI. Ministerio del Interior. Ley de Procedimiento Policial


(Ley nº18.315 de 5 de julio de 2008 – Código de conducta para
funcionarios encargados de hacer cumplir la ley – Adaptado por la
Asamblea General de las Naciones Unidas en su resolución 34/169,
de 17 de diciembre de 1979);

LVl

90 Revista Brasileira de Ciências Policiais


Brasília, v. 3, n. 2, p. 55-90, jul/dez 2012.

Você também pode gostar