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EXTRATERRITORIALIDADE

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A extraterritorialidade do crime e a eficácia da lei brasileira

Jornalista Externo

Recentemente foram trazidos à baila, em Curitiba, dois casos criminais


envolvendo a questão da EXTRATERRITORIALIDADE DO CRIME e a EFICÁCIA
DA LEI PENAL BRASILEIRA no espaço.

Ambos cometeram crimes fora do território brasileiro, sendo que o primeiro


praticou um homicídio na cidade de Santiago do Chile, matando a esposa
quando em viagem de lua-de- mel e que foi processado naquele Estado mas
que não pode ser julgado por ter fugido para o Brasil onde acabou sendo
processado em Curitiba, julgado e condenado a vinte e sete anos de reclusão
pela pratica daquele crime.

No Chile corria o risco de ser condenado à pena de morte que na época vigia
naquele Estado.

O acusado, fugindo da Justiça chilena buscou a impunidade, fugindo para o


Brasil que não admite a extradição de seus nacionais.

Acreditava que aqui não poderia ser processado tendo em vista que o nosso
Código Penal acolhe como princípio geral o da territorialidade onde a lei
penal brasileira só é aplicada aos delitos praticados em seu território.

O segundo foi preso na Indonésia, onde responde a ação penal, quando


transportava escondido em pranchas de surfe, vários quilos de cocaína
ocorrendo a possibilidade de, igualmente como Smoralek, ser condenado à
pena de morte pela prática deste delito.

O crime praticado na Indonésia é de caráter permanente e foi cometido no


Brasil, sendo preso em território estrangeiro interessando a sua punição a
dois Estados.

No último caso a família tem a esperança de que, em razão de sua


nacionalidade, possa o mesmo a vir responder o processo no Brasil, onde a
pena, no caso de condenação é de três a quinze anos de reclusão.

Como regra geral a lei penal é elaborada para viger dentro dos limites
territoriais em que o Estado exerce a sua soberania.

A doutrina apresenta os critérios da ação, do resultado e da ubiqüidade para


estabelecer o lugar do crime.

Pelo critério da ação considera-se lugar do crime o local onde se deu a ação
ou a omissão.

Pelo critério do resultado o lugar do crime é aquele onde o resultado se


efetivou.

Pelo critério da ubiqüidade, que é o adotado pelo nosso Código Penal no


artigo 6.º, considera como local do crime, tanto o local do comportamento
(ação ou omissão) como o do resultado.

TERRITÓRIO, para os efeitos da lei penal, não se restringe à área limitada


pelas fronteiras terrestres, abrangendo o espaço aéreo, terrestre e faixas de
águas fronteiriças - rios, lagos e mar territorial - sobre os quais o Estado
exerce o seu poder ou sua autoridade que é a soberania.

As inúmeras questões apresentadas demonstram que o princípio da


territorialidade, por si só não poderá resolver as várias situações que podem
surgir na realidade da vida dos povos.

Cada país tem suas próprias leis, editadas para serem aplicadas no espaço
onde ele é soberano e a própria soberania impede que as leis de um Estado
sejam aplicadas em outro.
Adotou o nosso Código Penal em seu artigo 5.º o princípio da territorialidade
como regra geral.

O Código Penal em seu artigo 7.º previu como exceção à regra geral do
princípio da territorialidade, casos especiais de extraterritorialidade aplicando
a lei penal brasileira a certos fatos acontecidos no estrangeiro importando
em persecução do agente perante a Justiça brasileira.

A extraterritorialidade da lei penal pode ser incondicionada quando a


aplicação da lei não depender de nenhuma outra condição, salvo a natureza
do bem jurídico afetado (crime contra a vida ou a liberdade do Presidente da
República, contra o patrimônio ou a fé pública da União, contra a
administração pública e de genocídio).

E será condicionada quando a aplicação da lei exigir o atendimento de


determinada condição (crimes que por tratados ou convenções o Brasil se
obrigou a reprimir, crimes praticados por brasileiros, praticados em
aeronaves ou embarcações brasileiras ou crimes praticados por estrangeiros
contra brasileiros fora do Brasil onde não foi pedida ou negada a sua
extradição).

Para solucionar todas as questões surgidas foram concebidos mais os


seguintes princípios como exceção:

Princípios da nacionalidade ou personalidade, (art. 7.º,II,b) onde a lei penal


do Estado é aplicável a seus cidadãos onde quer que se encontrem.

Tem essa denominação porque o Estado entende pessoal a norma punitiva e


a aplica ao nacional.

Se não entrega o cidadão a outro país que o reclama por crime praticado no
estrangeiro, obriga-se o Estado a puni-lo pelo mesmo fato
Divide-se ainda este princípio na forma ativa quando se aplica a lei nacional
ao cidadão que comete crime no estrangeiro independentemente da
nacionalidade do sujeito passivo.

Na forma passiva exige que o fato praticado pelo nacional no estrangeiro


atinja um bem jurídico de seu próprio Estado ou de um co-cidadão.

Princípio da defesa ou proteção, (art. 7.º,I e § 3.º) também chamado de


princípio real onde se leva em conta a nacionalidade o bem jurídico lesado
pelo crime, independentemente do local de sua prática ou da nacionalidade
do sujeito ativo.

Princípio da justiça universal (art.7.º,II, a) preconiza o poder de cada Estado


de punir qualquer crime, seja qual for a nacionalidade do delinqüente e da
vitima, ou o local da sua prática.

Princípio da representação (art. 7.º, II, c) onde o Estado se substitui àquele


em cujo território ocorreu o crime, cujo autor não foi perseguido e punido por
motivo irrelevante.

Nesses casos a lei penal de determinado país é também aplicável aos delitos
cometidos em aeronaves e embarcações privadas, quando realizados no
estrangeiro e ai não venham a ser julgados.

Mas para a aplicação do princípio da extraterritorialidade da lei penal há


necessidade da existência de pressupostos ou condições exigidas pelo
Código Penal e que devem ocorrer simultaneamente e que são as seguintes:

Entrar o agente no território nacional, que pode ocorrer de forma voluntária


ou não, por erro, fraude ou violência ou para permanência definitiva ou
transitória.

Ser o fato punível também no país em que foi praticado - deve ser crime
Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição - nossa lei não admite a extradição de uma série de crimes -
crimes políticos

Não ter sido absolvido no estrangeiro ou não ter ai cumprido pena - se o


agente já foi julgado e absolvido no estrangeiro não é possível a aplicação da
lei brasileira

Não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou extinta a punibilidade

Retornando ao início verificamos que no primeiro caso, em razão do crime ter


sido praticado por brasileiro no estrangeiro foi aplicado o princípio da
personalidade ou nacionalidade previsto no artigo 7.º,II, letra b do Código
Penal, resultando em sua condenação no Brasil apesar do crime ter ocorrido
no estrangeiro, no território de outro Estado, projetando-se o princípio da
extraterritorialidade da lei penal e impedindo-se que o mesmo ficasse
impune diante da vedação constitucional que proíbe a extradição de
nacionais, demonstrando desta forma, a eficácia da lei brasileira.

No segundo caso que está sendo julgado na Indonésia para a aplicação do


princípio da extraterritorialidade da lei penal haveria necessidade da
aplicação do princípio da justiça universal previsto no artigo 7.º, II, letra a do
Código Penal ou o princípio da personalidade ou nacionalidade previsto no
artigo 7.º, II, letra b do Código Penal.

Para a sua efetividade haverá necessidade da entrada do autor em território


nacional, pois as demais condições exigidas estão cumpridas.

Neste caso, para a eficácia da lei brasileira não se aplicaria o princípio da


extraterritorialidade da lei penal já que o crime de tráfico de substancia
entorpecente é de natureza permanente e havia se consumado no Brasil,
devendo aqui ser processado e julgado diante do princípio da territorialidade
estabelecido no artigo 5.º do Código Penal.
Mas para a efetividade do princípio da territorialidade haveria necessidade do
reconhecimento por parte do outro Estado interessado na punição do
alienígena de que o crime já havia se consumado em território brasileiro,
ocorrendo no estrangeiro somente a sua apreensão havendo necessidade de
se decidir a competência penal internacional o que só poderá ocorrer com a
cooperação dos Estados interessados.

Dalio Zippin Filho é advogado. Palestra proferida em 27/8/04, no II Congresso


Brasileiro de Direito Internacional.

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