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Norma Penal Ou Lei Penal - Outra Formato

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DA LEI PENAL

1. Introdução
I - A lei penal é a fonte formal imediata do Direito Penal
porque só ela pode criar crimes e cominar as respectivas
penas (princípio da reserva legal ou princípio da estrita
legalidade).
II – O tipo penal incriminador é formado por (estrutura):
• Preceito primário: definição da conduta criminosa.
• Preceito secundário: pena cominada.
DA LEI PENAL

O Brasil adotou o sistema da proibição indireta (Karl Binding): a lei


penal não é proibitiva, mas descritiva. Ela
descreve uma conduta criminosa proibindo-a indiretamente.
2. Classificação
a) Incriminadoras
São aquelas que criam os crimes e cominam as respectivas penas.
Elas estão previstas na Parte Especial do Código Penal e na
legislação extravagante. Em outras palavras, não
existem leis penais incriminadoras na Parte Geral do Código Penal.
b) Não incriminadoras
São aquelas que não criam crimes nem cominam penas.
Elas se dividem em outras.
b.1) Permissivas
São aquelas que autorizam a prática de condutas típicas
em determinadas situações. Em outras palavras, são as
causas de exclusão da ilicitude.

Em regra, as leis penais permissivas estão previstas na


Parte Geral do Código Penal (CP, art. 231), mas também
estão previstas na Parte Especial e na legislação
extravagante. Exemplo: CP, art. 128
b.2) Exculpantes

São aquelas que estabelecem a não culpabilidade do


agente ou ainda a impunidade de alguns delitos.
Exemplos:
• Inimputabilidade: CP, art. 26, “caput”: “É isento de
pena o agente que, por doença mental ou
desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação
ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento”. • Perdão judicial (CP, art. 107, IX).
b.3) Interpretativas

São aquelas que estabelecem o alcance e o


significado de outras normas penais.

Exemplo (conceito de funcionário público para fins


penais): CP, art. 327: “Considera-se funcionário
público, para
os efeitos penais, quem, embora transitoriamente
ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou
função
pública”.
b.4) De aplicação, finais ou complementares

São aquelas que delimitam o campo de validade da lei penal.

Exemplo: CP, art. 5º: “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de


convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território nacional”.

b.5) Diretivas

São aquelas que fixam os princípios de determinada matéria.

Exemplo (princípio da reserva legal): CP, art. 1º


b.6) Integrativas, complementares ou de extensão

São aquelas que complementam a tipicidade na tentativa


(CP, art. 14, II), na participação (CP, art. 29, “caput”) e
nos crimes omissos impróprios (CP, art. 13, § 2º).

c) Completas ou perfeitas
São aquelas que apresentam todos os elementos da conduta
criminosa.

Exemplo: CP, art. 155, “caput”: “Subtrair, para si ou para


outrem, coisa alheia móvel”.
d) Incompletas ou imperfeitas

São aquelas que dependem da complementação da


conduta criminosa.

A complementação pode ser feita por:

• Lei. • Ato administrativo. • Aplicador do Direito.

A depender do complemento há duas espécies de normas:

• Lei ou ato administrativo: normas penais em branco. • Interpretação


ou valoração do aplicador do Direito: tipos penais abertos.
3. Características da lei penal

a) Exclusividade
Só a lei pode criar crimes e cominar as respectivas
penas (princípio da reserva legal ou princípio da estrita
legalidade).
b) Anterioridade
A lei penal incriminadora só pode ser aplicada a fatos
praticados após a sua entrada em vigor.

A anterioridade da lei penal é excepcionada na chamada


retroatividade benéfica.
c) Imperatividade

O descumprimento da lei penal acarreta na imposição de


uma pena ou de uma medida de segurança.

d) Generalidade
A lei penal é dirigida a todas as pessoas indistintamente.
e) Impessoalidade

A lei penal projeta seus efeitos para fatos futuros para


qualquer pessoa que venha a praticá-los.
4. Tempo do crime

I - Para possibilitar a aplicação correta da lei


penal é preciso identificar o tempo do crime, ou
seja, o momento
em que o crime considera-se praticado pelo
Direito Penal.

II – Teorias:

• Atividade. • Resultado. • Ubiquidade/mista.

Observação n. 1 (recurso mnemônico): “LUTA”.


III – Em relação ao tempo do crime o Código Penal
adota a teoria da atividade:

CP, art. 4º: “Considera-se praticado o crime no


momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o
momento
do resultado”.

IV - A teoria da atividade possui relevância apenas


nos crimes materiais ou causais.

Crimes materiais ou causais são aqueles em que o


tipo penal contém conduta e resultado naturalístico
e exigem a produção deste para a consumação.
A relevância dá-se porque apenas nos crimes materiais é que a
conduta pode ocorrer em um momento e o resultado noutro.

Observação n. 2: nos crimes formais e nos de mera conduta o


dispositivo (CP, art. 4º) é irrelevante porque eles
consumam-se com a prática da conduta, pouco importando o
resultado.

S. 711 STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime


continuado ou ao crime permanente, se a sua
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência”.

A súmula diz respeito ao tempo do crime tanto no crime


continuado como também no crime permanente.
Crime permanente:

• Crime permanente é aquele em que a consumação se prolonga


no tempo pela vontade do agente. Em outras palavras, o agente
deliberadamente mantém aquela situação contrária ao Direito
Penal.

• Exemplo de crime permanente: CP, art. 159 (extorsão mediante


sequestro): o crime se consuma com a privação da liberdade da
vítima e continua se consumando até a sua libertação.

Crime continuado (CP, art. 71) :


• São vários crimes da mesma espécie4 e pelas condições de
tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes devem os subsequentes ser havidos como
continuação do primeiro.
5. Lugar do crime

I – A correta aplicação da lei penal também depende da


identificação do lugar do crime.

II – Para o lugar do crime o Código Penal adota a teoria da


ubiquidade ou mista:

CP, art. 6º: “Considera-se praticado o crime no lugar em que


ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde
se produziu ou deveria produzir-se o resultado”.
III – O CP, art. 6º é aplicado somente aos chamados crimes à
distância ou crimes de espaço máximo. São
aqueles em que a conduta e o resultado ocorrem em países
diversos. Portanto, o problema é de soberania: um país não
pode subtrair do outro, igualmente soberano, o direito de
apurar, processar e julgar o criminoso.

Exemplo:

• “A” desfere tiros de arma de fogo contra “B” em solo


brasileiro, mas a vítima falece no Paraguai. • “A” poderá ser
processado e condenado e cumprir pena tanto no Brasil como
no Paraguai.
IV – Crimes à distância x crimes plurilocais.

Crimes à distância ou de espaço máximo são aqueles


em que a conduta e o resultado ocorrem em países
diversos; crimes plurilocais ou de espaço mínimo são
aqueles em que a conduta e o resultado ocorrem em
comarcas diversas, mas dentro do mesmo país.
Nos crimes à distância a questão de fundo é a
soberania dos países envolvidos; nos crimes
plurilocais a questão é de competência.
Para os crimes plurilocais, a regra está prevista no Código de
Processo Penal:

CPP, art. 70, “caput”: “A competência será, de regra,


determinada pelo lugar em que se consumar a infração,
ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o
último ato de execução”.

Portanto, o CPP adota como regra geral a teoria do resultado:


juízo competente é o do local em que o crime se
consumou. Exemplos de exceções:

• Nas infrações penais de menor potencial ofensivo plurilocais


adota-se a teoria da atividade (Lei n. 9.099/95, art. 635). •
Nos crimes dolosos contra a vida, quando plurilocais, a
jurisprudência adota a teoria da atividade.
6. Lei penal no espaço

6.1. Introdução

I - Existem dois vetores fundamentais que dizem respeito à lei


penal no espaço:

• Territorialidade (CP, art. 5º): aplica-se a lei penal aos crimes


cometidos no território nacional (regra).

• Extraterritorialidade (CP, art. 7º): aplica-se a lei penal


brasileira aos crimes cometidos no exterior (exceção).

II - Intraterritorialidade: é a aplicação da lei estrangeira a


crimes cometidos no Brasil. Exemplo: imunidades diplomáticas e
de Chefes de Governo estrangeiro.
6.2. Princípio da territorialidade (regra)

I – CP, art. 5º: “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo


de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território
nacional”.
II – O dispositivo é fruto da soberania. É uma nota característica
de todos os países.

III – O Brasil adota uma territorialidade mitigada ou temperada:


o art. 5º do Código Penal, ao mesmo tempo
em que prevê a territorialidade como regra geral, também prevê
exceções (“sem prejuízo de convenções, tratados e
regras de direito internacional”).

IV – Conceito de território: espaço em que o Estado exerce a sua


soberania política.
O Brasil também admite o território brasileiro por extensão:

CP, art. 5º, § 1º: “Para os efeitos penais, consideram-se como


extensão do território nacional as embarcações e aeronaves
brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro
onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada,
que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente
ou em alto-mar”.

6.3. Outros princípios

São princípios que se destinam a crimes praticados fora do Brasil


(aplicação da lei brasileira para crimes
cometidos fora do Brasil).
6.3.1. Princípio da personalidade ou da nacionalidade

a) Personalidade ativa

I – O agente é punido de acordo com a lei brasileira,


independentemente da nacionalidade do sujeito passivo e
do bem jurídico ofendido.

II – Previsão:
CP, art. 7º: “Ficam sujeitos à lei brasileira, embora
cometidos no estrangeiro:
I - os crimes:
(...)
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
domiciliado no Brasil;
II - os crimes:
(...)
b) praticados por brasileiro;
(...)”.
b) Personalidade passiva

I – Quando a vítima é brasileira.

II – Previsão:

CP, art. 7º, § 3º: “A lei brasileira aplica-se também ao crime


cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se,
reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:”.
6.3.2. Princípio do domicílio

I – O agente deve ser julgado pela lei do país em que ele é


domiciliado, pouco importando a sua nacionalidade.

II – Previsão:

CP, art. 7º: “Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos


no estrangeiro:
I - os crimes:
(...)
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado
no Brasil;

III – Se o agente fosse brasileiro aplicar-se-ia o princípio da


personalidade ativa.
6.3.3. Princípio da defesa, real ou da proteção

I – O crime ofende um bem jurídico brasileiro. Pouco importa a


nacionalidade do agente ou o local do delito.

II – Previsão:

CP, art. 7º: “Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no


estrangeiro:
I – os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito
Federal, de Estado, de Território, de Município, de
empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou
fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
(...)”.
6.3.4. Princípio da justiça universal

I – Outras denominações: “justiça cosmopolita”,


“competência universal”, “jurisdição universal ou mundial”,
“repressão mundial” e “universalidade do direito de punir”.

CP, art. 7º: “Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos


no estrangeiro:
(...)
II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a
reprimir;

Exemplos: tráfico de pessoas, comércio de órgãos humanos,


genocídio e tortura.
6.3.5. Princípio da representação

I – Outras denominações: “princípio do pavilhão”,


“princípio da bandeira”, “princípio subsidiário” e “princípio
da
substituição”.

II – Previsão:

CP, art. 7º: ““Ficam sujeitos à lei brasileira, embora


cometidos no estrangeiro:
(...)
II - os crimes:
(...)
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, quando em
território estrangeiro e aí não sejam julgados.
III – Questão n. 5: e se o crime for praticado em uma
aeronave ou uma embarcação brasileira pública ou a serviço
do Governo brasileiro? Não se aplica nenhum princípio, pois é
caso de território brasileiro por extensão.

7. Extraterritorialidade

É a aplicação da lei brasileira aos crimes praticados fora do


Brasil. São as exceções ao princípio da territorialidade.

Observação n. 3: a extraterritorialidade da lei penal


brasileira é aplicada somente para crimes. O Brasil não se
preocupa com as contravenções penais praticadas fora do
Brasil.
7.2. Extraterritorialidade incondicionada

I - Hipóteses:

CP, art. 7º: “Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos


no estrangeiro:
I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito
Federal, de Estado, de Território, de Município, de
empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou
fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu
serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
domiciliado no Brasil;
(...)”.
7.3. Extraterritorialidade condicionada

I – Hipóteses:

CP, art. 7º: “Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos


no estrangeiro:
(...)
II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, quando em território
estrangeiro e aí não sejam julgados.

II – A extraterritorialidade é condicionada porque depende de


algumas condições:

CP, art. 7º, § 3º: “A lei brasileira aplica-se também ao crime


cometido por estrangeiro contra brasileiro fora
do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo
anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça”.
8. Contagem de prazo

CP, art. 10: “O dia do começo inclui-se no cômputo do


prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo
calendário comum”.

I – Prazo é o intervalo dentro do qual deve ser praticado


determinado ato. Todo prazo tem termo inicial (“a
quo”) e termo final (“ad quem”).

II – Calendário comum ou gregoriano é aquele que


estabelece que dia é o intervalo entre a meia-noite e a meia
noite subsequente.

III – Razão da expressão “O dia do começo inclui-se no


cômputo do prazo”: o Direito Penal afeta a liberdade do
cidadão. Portanto, a disposição é no sentido de favorecer o
réu.
IV - Exemplos:

• Pena de um ano que começa às 23h59min do


dia 10/02/2015: inclui-se no cômputo do
prazo o dia 10. • Pena de um ano que começa
no dia 10/02/2015 termina em 09/02/2016
(exclui-se o dia do final). • Pena de um mês
que começa em 10/02/2015 termina em
09/03/2015.

V – CPP, art. 798, § 1º: “Não se computará no


prazo o dia do começo, incluindo-se, porém,
o do vencimento”.
9. Frações não computáveis da pena

CP, art. 11: “Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e


nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na
pena de multa, as frações de cruzeiro”.

Legislação especial

CP, art. 12: “As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos
incriminados por lei especial, se esta não
dispuser de modo diverso”.

I – O dispositivo consagra o princípio da convivência das esferas


autônomas.

O Direito Penal não é composto apenas pelo Código Penal, mas


também por centenas de leis extravagantes.
11. Lei penal em branco (norma penal cega ou aberta)

11.1. Conceito

I - Segundo Franz von Liszt, as normais penais em branco são


como corpos errantes em busca de alma. Ou seja, na norma penal
em branco existe o corpo, mas ela não pode ser aplicada sem que
exista um complemento (“alma”).

Na norma penal em branco o preceito secundário é completo,


ou seja, existe uma pena regularmente cominada, mas o
preceito primário é incompleto, ou seja, depende de
complementação.
11.2. Espécies

a) Homogênea ou “lato sensu”

É aquela que tem como complemento um ato de igual natureza


jurídica à norma penal a ser complementada.
Em outras palavras, norma penal em branco homogênea é
aquela cujo complemento é outra lei.

a.1) Homovitelina

É aquela em que a lei penal e o seu complemento estão


contidos no mesmo diploma legislativo.

Exemplo: CP, art. 304: “Fazer uso de qualquer dos papéis


falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297
a 302:”.
a.2) Heterovitelina

A norma penal e o seu complemento estão previstos em diplomas


legislativos diversos.

Exemplo:

• CP, art. 169, parágrafo único, I: “quem acha tesouro em prédio


alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem
direito o proprietário do prédio”. • A definição de tesouro está no
Código Civil.
b) Heterogênea, “stricto sensu” ou fragmentária

A norma penal em branco é complementada por um ato


administrativo.

Observações:

I – Não há ofensa ao princípio da reserva legal ou da estrita


legalidade. Pela taxatividade da lei penal é suficiente que a lei
penal descreva o conteúdo mínimo da conduta criminosa.
Exemplo:

1) Lei n. 11.343/06, art. 33, “caput”: “Importar, exportar,


remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar,
trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a
consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente,
sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar:”.

A relação de drogas está na Portaria n. 344/1998 –


SVS/MS.
Ao avesso ou inversa

I - Na norma penal em branco ao avesso ou inversa o preceito


primário é completo, mas o preceito secundário depende de
complementação. Em outras palavras, há o crime, mas falta a
pena.
LEI PENAL NO
TEMPO
1. Lei penal no tempo

Em primeiro lugar, para que lei entre em vigor ela deve seguir todo o
processo legislativo previsto na Constituição Federal.
1.1. Introdução

I - Ao falar em lei penal no tempo é comum fazer menção ao princípio da


continuidade das leis: depois de entrar em vigor, a lei permaneça nessa
condição – em vigor – até ser revogada por outra lei.

II – Lei somente pode ser revogada por outra lei. Portanto, não revogam a
lei:

• Costume. • Desuso. • Decisão judicial, ainda que ela seja proferida pelo
STF em sede de controle concentrado de constitucionalidade – a decisão
afasta a eficácia da lei.
1.2. Conflito de leis penais no tempo: Direito Penal intertemporal

I – Conflito de leis penais no tempo é a situação verificada quando


uma nova lei penal entra em vigor,
revogando a lei anterior. Em outras palavras, verifica-se na hipótese
de sucessão de leis penais ao longo do tempo.

II – Direito Penal Intertemporal são as regras e os princípios que


solucionam o conflito de leis penais no tempo:

• Regra geral: “tempus regit actum” (o tempo rege o ato).


Portanto, no conflito de leis penais no tempo aplica-se a lei que
estava em vigor na data em que o fato foi praticado. • Exceção: lei
penal benéfica (lei penal favorável ao réu).
A lei penal benéfica é dotada de extratividade.
1.3. Lei penal benéfica: retroatividade e ultratividade

1.3.1. Espécies: “abolitio criminis” e “novatio legis in mellius”

a) “Abolitio criminis”

I – Previsão:

CP, art. 2º, “caput”: “Ninguém pode ser punido por fato que
lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude
dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória”.
II – “Abolitio criminis” é a nova lei que torna atípico o fato até
então considerado criminoso.

III – A “abolitio criminis” cessa a execução e os efeitos penais da


sentença condenatória – exemplo: indivíduo que cumpre pena é
colocado em liberdade e deixará de ser reincidente.
Entretanto, permanecem intactos os efeitos extrapenais da sentença
condenatória – exemplo: obrigação de
reparar o dano.

IV – Natureza jurídica da “abolitio criminis”: causa extintiva da punibilidade.


Portanto, o Estado perde o direito de punir:

CP, art. 107: “Extingue-se a punibilidade:


(...)
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
V – A “abolitio criminis” depende de dois requisitos
(cumulativos):

• Revogação formal do tipo penal: o tipo penal é


formalmente revogado. • Supressão material do fato
criminoso: o fato deixa de ter relevância para o Direito
Penal.

Exemplo n. 1: o art. 240 do CP previa o crime de


adultério. O dispositivo foi revogado em 2005 e o
adultério deixou de interessar ao Direito Penal. Ademais,
não há qualquer outro dispositivo que o prevê como
crime.
b) “Novatio legis in mellius” (“lex mitior”)

I – É a nova lei que de qualquer modo favorece o agente.

Na “novatio legis in mellius” o fato continua constituindo crime,


mas a situação do agente é de qualquer modo
melhorada.

II – Previsão:

CP, art. 2º, parágrafo único: “A lei posterior, que de qualquer


modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória
transitada em julgado”.
1.3.2. Lei penal benéfica e “vacatio legis”

Questão n. 2: a lei penal benéfica já pode ser aplicada no seu


período de vacância? Posições:

• Majoritária: não. Fundamentos: a lei não é eficaz e ela pode


não entrar em vigor.
• Minoritária: sim. Fundamento: a medida é destinada a
favorecer o réu.
1.5. “Novatio legis” incriminadora (neocriminalização) e “novatio
legis in pejus”

I - “Novatio legis” incriminadora (neocriminalização): é a nova


lei que cria um crime até então inexistente.

II - “Novatio legis in pejus” (“lex gravior”): o crime já existia,


mas a nova lei de qualquer modo vem prejudicar a
situação do agente. A expressão “de qualquer modo” de ser
interpretada da forma mais ampla possível – exemplos:
aumento de pena, piora do regime prisional, impedimento a
algum benefício.

Tanto a “novatio legis” incriminadora como também a “novatio


legis in pejus” somente se aplicam para fatos Futuros.
1.8. Lei temporária e lei excepcional

I – Previsão:

CP, art. 3º: “A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o


período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado
durante sua vigência”.

II - Lei temporária: é aquela que tem vigência predeterminada no


tempo. Em outras palavras, a lei temporária
possui um prazo de validade. Exemplo:
III - Lei excepcional: é aquela que vigora somente
durante uma “situação de anormalidade”. Exemplo: lei
que torna crime o consumo de mais de 10 litros de água
por dia por morador durante período de racionamento
de água.

Características:

• Autorrevogáveis: findo o período de validade (lei


temporária) ou a situação de anormalidade (lei
excepcional), as leis estarão automaticamente
revogadas. Portanto, não há necessidade de lei
revogadora. É por isso que elas também são
denominadas de “intermitentes”.
• Ultratividade: aplicáveis mesmo depois de revogadas, pois o fato
foi praticado quando elas estavam em vigor. O fundamento é
evitar que a lentidão da persecução penal aliada à manobras
protelatórias da defesa levem à impunidade do fato.

- Conflito aparente de normas (Trabalho)


TEORIA DO CRIME
1. Teoria do crime: introdução, sistemas penais e fato
típico.
1.2- Critério legal

I – Crime é o que a lei define como tal:

Lei de Introdução ao Código Penal, art. 1º:


“Considera-se crime a infração penal que a lei comina
pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente,
quer alternativa ou cumulativamente com a pena de
multa;
contravenção, a infração penal a que a lei comina,
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou
ambas, alternativa ou cumulativamente”.
II – Gênero: infração penal. Espécies: crime e contravenção
penal.

A diferença entre crime e contravenção penal não é ontológica,


pois não há uma diferença de essência ou estrutura entre eles.
A distinção é meramente qualitativa (qualidade das penas) e
quantitativa (quantidade das penas):
• Crime:

✓ Pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer


alternativa ou cumulativamente com a pena
de multa.
✓ Os crimes possuem penas cominadas maiores que das
contravenções penais.

• Contravenção penal:

✓ Pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa


ou cumulativamente.
✓ As contravenções penais possuem penas cominadas menores
dos crimes.

III – A contravenção penal também é denominada de “crime


anão”, “crime vagabundo” ou “crime liliputiano”.
1.3. Conceito formal, analítico ou dogmático

I – O conceito formal é aquele que vai levar em conta


a estrutura do crime (elementos, componentes).

II – Teorias:

➢ Quadripartida:

• Fato típico. • Ilicitude. • Culpabilidade. •


Punibilidade.
A posição quadripartida teve como grandes defensores
Basileu Garcia (Brasil) e Giulio Battaglini (Itália). No
Entanto, a teoria não vingou. Sua grande falha
encontra-se na punibilidade.
A punibilidade não é um elemento do crime, mas um
reflexo seu: a prática do crime autoriza o exercício do
direito de punir pelo Estado.

➢ Tripartida:

• Fato típico. • Ilicitude. • Culpabilidade.

O fato é típico e ilícito e o agente é culpável.


2. Fato típico

2.1. Conceito

Fato típico é o fato humano que produz um resultado e


encontra correspondência em uma norma penal
incriminadora.
Fato atípico é o fato humano que não preenche os
elementos do tipo penal.

3. Elementos

• Conduta. • Resultado. • Relação de causalidade. •


Tipicidade.

Questão n. 1: os quatro elementos do fato típico estão


presentes em todos os crimes? Não.
3.1. Conduta

Conduta é o primeiro elemento do fato típico e está


presente em todo e qualquer crime. Em outras palavras,
não há crime sem conduta.

1. Conceito na teoria finalista

I - Conduta é a ação ou a omissão humana1, consciente e


voluntária, dirigida a um fim.
3.2. Características da conduta

a) Não há crime sem conduta

O Direito Penal moderno, legítimo e democrático não admite os


chamados “crimes de mera suspeita”.
b) Ser humano

Apenas o ser humano pode praticar condutas penalmente


relevantes – e as pessoas jurídicas nos crimes
ambientais. Portanto, o Direito Penal não se ocupa com atos
isolados da natureza ou de animais irracionais.

c) Conduta voluntária
Somente a conduta voluntária interessa ao Direito Penal – existe
tanto nos crimes dolosos como nos crimes
culposos.

d) Atos projetados no mundo exterior ingressam no conceito de


conduta
Não há conduta penalmente relevante enquanto a vontade
criminosa fica limitada à mente do agente.
3.3. Formas de conduta

I – Formas de conduta:

• Ação. (ato positivo, um fazer)

• Omissão. (Um não fazer)

II- Crimes Omissivos espécies:


Os crimes omissivos subdividem em dois grandes grupos:

• Crimes omissivos próprios ou puros: a omissão está descrita no próprio tipo


penal – exemplo: CP, art. 135.
Observações:

✓ Quanto ao sujeito ativo são crimes comuns ou gerais porque podem ser
praticados por qualquer pessoa. ✓ Não admitem tentativa porque são crimes
unissubsistentes (a conduta é composta de um único ato
suficiente para a consumação). ✓ São crimes de mera conduta: o crime se
consuma se esgota com a prática da conduta (o tipo penal não
prevê resultado naturalístico).
Crimes omissivos impróprios, espúrios ou comissivos por
omissão: o tipo penal descreve uma ação, mas a
inércia do agente que descumpre seu dever de agir (CP,
art. 13, § 2º) leva à produção do resultado
naturalístico. Observações:

✓ Quanto ao sujeito ativo são crimes próprios ou


especiais porque somente podem ser praticados por
quem tem o dever de agir para evitar o resultado2. ✓
Admitem tentativa porque são crimes plurissubsistentes
(a conduta é composta de dois ou mais atos
que se unem para juntos produzirem a consumação). ✓
São crimes materiais: a consumação depende da
produção do resultado naturalístico.
4. Exclusão da conduta

a) Caso fortuito e força maior

I - Caso fortuito e força maior são acontecimentos imprevisíveis


e inevitáveis que escapam do controle da
vontade humana.

b) Sonambulismo e hipnose

São estados de inconsciência.

c) Atos ou movimentos reflexos

I - São reações corporais automáticas que independem da


vontade do ser humano.
d) Coação física irresistível (“vis absoluta”)

I – O coagido é corporalmente controlado pelo coator


para cometer um crime. Portanto, há três pessoas
envolvidas: o coator, o coagido e a vítima do crime.
II – Na coação física irresistível não há conduta
penalmente relevante e, portanto, o fato é atípico.

III – Não confundi-la com a coação moral irresistível (“vis


relativa”): o coagido é gravemente ameaçado pelo
coator para cometer um crime.
Neste caso, existe vontade, mas ela é viciada pela coação e há a
exclusão da culpabilidade pela inexigibilidade de conduta diversa.

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