Relatório Económico de Angola 2016
Relatório Económico de Angola 2016
Relatório Económico de Angola 2016
RELATÓRIO
ECONÓMICO
DE ANGOLA
2016
INVESTIGADORES PERMANENTES
Alves da Rocha
Francisco Paulo
Nelson Pestana
Osvaldo Silva
Precioso Domingos
Regina Santos
Cláudio Fortuna
Carlos Vaz
Vissolela Chivunda
Esperança Tchili
INVESTIGADORES COLABORADORES
Albertina Delgado
Carlos Leite
Eduardo Sassa
Fernando Pacheco
Luís Bonfim
Gilson Lázaro
José Oliveira
Carlos Pinto
Margareth Nanga
ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS
Margarida Teixeira
Lúcia Couto
Evadia Kuyota
Afonso Romão
Website do CEIC: www.ceic‑ucan.org
APRESENTAÇÃO .................................................................................................................... 7
INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 11
BIBLIOGRAFIA....................................................................................................................... 283
Angola encontra‑se, uma vez mais, numa encruzilhada tremenda. A transição da economia
centralizada, ineficiente, planificada, burocrática e administrativa para a economia de mercado
dependeu de nós próprios e foi uma opção política perante a ineficácia de resultados dos anos
de socialismo. A transição da guerra para a paz dependeu igualmente de esforços internos –
mais ou menos violentos – ainda que com envolvimento de uma parte da comunidade interna‑
cional. A transição de um sistema político de partido único para um outro multipartidário foi,
da mesma forma, uma construção dos angolanos, ainda que se não possa falar de completa
democracia (os índices internacionais classificam o regime político de Angola de autoritário).
Fim de ciclo e viragem de estratégia num ambiente social muito difícil, muito provavelmen‑
te até, pelo menos, 2020. Porquê? A degradação das condições de vida da grande maioria da
população é evidente, pois a situação financeira é de carência de recursos, a económica é de
aumento do desemprego e retracção do crescimento da produção e inexistem mecanismos de
mitigação social dos efeitos da crise. O ponto de acumulação destas disfuncionalidades é a desi‑
gualdade de rendimentos e de riqueza, que, de acordo com determinados indicadores, não tem
diminuído e segundo outros índices até tem piorado, sendo de esperar que os efeitos da crise
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As perguntas anteriores – fim de ciclo, começo de quê/começo de quê, viragem para onde/
/viragem para onde, ao serviço de quem – cabem perfeitamente bem no processo de transi‑
ção política pós‑José Eduardo dos Santos. O ano de 2016 marca o início do fim do ciclo político
de um Presidente da República que esteve no poder durante 38 anos e que deixa o país numa
encruzilhada crítica, do ponto de vista financeiro, económico e sobretudo social. O PIB por habi‑
tante em 2016, de pouco mais de USD 3500 (menos de USD 10 por dia), retrata bem alguns dos
insucessos/atrasos económicos (dos quais os mais importantes são do domínio das reformas
estruturais de mercado) registados e que tiveram consequências sociais indeléveis sobre as
condições de vida da grande maioria da população. O seu ciclo político chega ao fim, mas não
o do regime por si fundado, com o apoio persistente do seu partido. Ou seja, começa um novo
ciclo político com um novo Presidente da República, esperando‑se que o novo modelo seja mais
democrático, mais comprometido com a população e o combate à pobreza, mais desenvolvi‑
mentista, mais aberto a propostas de outros modelos de gestão económica e social que tenham
como ponto forte a inclusividade das políticas.
Um modelo social de mercado – modelo muitas vezes repetido pelo Presidente cessante em
diversas intervenções públicas, durante o seu mandato – tem elementos económicos e sociais
que se devem conjugar, através de políticas públicas diferentes, mas eficientes e eficazes, no sen‑
tido do progresso social da maioria esmagadora da população. A expressão “crescer mais, para
distribuir melhor” do Programa Eleitoral do MPLA de 2012 pode ter sido uma boa aproximação
desta necessária e importante conjugação entre os elementos económicos e sociais de um siste‑
ma de economia de mercado. Mas em Angola falhou completamente: o país nem cresceu mais
(pelo contrário, em 2015 e 2016, segundo as Contas Nacionais, registou‑se não apenas uma assi‑
nalável quebra dos ritmos de crescimento do PIB, como se deu conta de episódios de recessão
económica), nem se distribuiu melhor. Os coeficientes medidores da pobreza e da distribuição
primária do rendimento nacional têm vindo a piorar, sendo preocupante como 60% da popula‑
ção pode viver com menos de USD 2 por dia com uma taxa de inflação superior a 40% em 2016.
Dir‑se‑á que a abrupta e continuada queda do preço do petróleo é a razão essencial explica‑
tiva da actual crise. Mas não é verdade. O abaixamento do preço do barril de petróleo só veio
pôr a nu as falhas de gestão económica num país que foi capaz de gerar cerca de USD 580 mil
milhões de receitas de exportação do petróleo. Como se disse anteriormente, a mais importan‑
te prioridade definida pelo MPLA foi a da acumulação primitiva de capital e a criação de uma
burguesia nacional capaz de disputar o poder financeiro às empresas estrangeiras existentes
e comprando activos mobiliários e imobiliários nas praças estrangeiras e deixando o país sem
USD 29 mil milhões colocados no exterior a título de transferências de capitais1. Para além de se
1
Carlos Rosado de Carvalho – Editorial do Semanário Expansão de 3 de Março de 2017: “Os investi‑
mentos angolanos no estrangeiro e os maridos que comem fora de casa”.
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não terem feito as reformas estruturais fundamentais, os próprios angolanos não têm confian‑
ça em si, nem no seu país. Estará a futura nova liderança do país interessada e capaz de mudar
radicalmente este status quo?
Admitindo que esta viragem pode acontecer, a dúvida seguinte é “ao serviço de quem”? Os
resultados do intenso crescimento económico ocorrido entre 2002 e 2008 foram distribuídos
de uma forma muito desigual e o IBEP 2008/2009 revelou que 60% do PIB (ou do rendimento
nacional) foram captados por menos de 20% da população. A inaceitável e inexplicável crise nos
hospitais ocorrida no final de 2015 e em 2016 é prova cabal de que o domínio social da econo‑
mia angolana tem sido o parente pobre do crescimento económico, não colhendo a justificação
oficial de que o Orçamento de Estado tem conferido verbas crescentes para o seu funcionamen‑
to e gestão. Ainda que possa ser verdade em termos puramente aritméticos, a questão funda‑
mental é a da sua eficiência. A questão colateral é a da corrupção que grassa todos os serviços
sociais do país. Que margem política o futuro Presidente da República terá para mexer e atra‑
palhar os poderosos interesses aqui instalados?
No entanto, as mudanças são sempre de saudar e apoiar. Para isso é necessário que a nova
liderança do país se abra a novas ideias, formatos e modelos.
Foi então neste contexto de expectativas de mudanças e de incerteza que o ano económico
de 2016 se desenrolou, apresentando um desempenho final reconhecidamente recessivo –
uma taxa de crescimento do PIB de ‑3,6% – com consequências sociais muito adversas para a
grande maioria da população, que não dispõe de meios que lhe permitam sobreviver em con‑
dições minimamente dignas.
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Criou‑se um capítulo novo (na circunstância, o sexto) para se tratar, mesmo que de modo
resumido, a situação social da população, num contexto de abaixamento sistemático do valor
do rendimento médio por pessoa desde 2013. O capítulo intitula‑se “Pobreza, desigualdade e
desenvolvimento humano”.
Na abordagem sectorial do PIB e apesar de ser o principal responsável pela crise financeira
e económica do país – dado que a sua influência na gestão macroeconómica do crescimento
ainda é importante e mesmo decisiva, tendo em atenção o seu relevante peso nas exportações
– e ainda o único produto que verdadeiramente conta para o saldo da balança comercial, deci‑
diu‑se retirar do Relatório Económico a análise do sector petrolífero e do gás. O Relatório de
Energia vai passar a ser o local privilegiado de análise do sector petrolífero, nas suas diferentes
vertentes que passarão a constar desse documento do CEIC.
Resolveu‑se, desta vez, monografar a província do Moxico para completar o ciclo de mono‑
grafias das províncias do corredor do Lobito.
10 |
A actual situação financeira de Angola tende a ficar cada vez mais grave, sendo difícil vislum‑
brar‑se o que vai acontecer até final da década. Há algumas certezas:
a) Falta estrutural de divisas, devida à queda do preço do barril do petróleo (USD 30, Bloom‑
berg 11 Fevereiro 2017) e à inexistência de alternativas sustentáveis de geração de recei‑
tas de exportação. A consultora Business Monitor Internacional (BMI) considera que o
aumento de produção de petróleo em Angola nos próximos anos e consequente receita
de exportação deverá ser insuficiente para compensar os preços baixos que a indústria
enfrenta (LUSA, 12 de Fevereiro 2017).
b) Exíguas receitas fiscais do Estado (assiste‑se agora a uma autêntica caça ao imposto, dis‑
farçada de campanha de sensibilização cívica quanto à obrigatoriedade de se cumprir
com este preceito constitucional, continuando os contribuintes sem saber a quem servirá
o seu sacrifício de redução do seu rendimento disponível, já de si exíguo, pois continua a
assistir‑se à atribuição de obras públicas de avultadíssimos valores monetários a empre‑
sas e empresários fiéis ao regime político e para cujo financiamento os nossos impostos
serão seguramente canalizados).
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destina‑se, como referido, a cobrir o défice fiscal de 2015 e de 2016. O défice fiscal ins‑
crito no OGE de 2016 é de 5,5% do PIB, ou sejam, 710,9 mil milhões de kwanzas (cerca
de 4,7 mil milhões de dólares). O Fundo Monetário Internacional é mais optimista; 4,1%
do PIB ou 3,9 mil milhões de dólares2. No entanto, a busca de novos financiamentos e a
contratação de novas linhas de crédito vão iniciar‑se de novo para se compensar a falta de
dinheiro do Estado. A desvalorização cambial – aumentando‑se em kwanzas as receitas
fiscais petrolíferas – podia ser usada como um instrumento de redução do défice orça‑
mental, num cenário de cortes mais ousados, generalizados e profundos das despesas do
Estado (não serão excessivos 35 Ministros e 70 Secretários de Estado?) Em 2001 e depois
de um processo complexo de reajustamento dos efectivos da Função Pública foi declara‑
do, oficialmente, o fim dos funcionários fantasmas, mas parece que voltaram a aparecer
e em situações mais descabidas do que no passado. É perfeitamente possível mais aus‑
teridade na actividade do Estado sem prejudicar as transferências e as prestações sociais
para os mais pobres. Por esta via, o endividamento público podia ser travado, em defesa
das gerações futuras, melhor focado em prioridades de investimento público mais racio‑
nais e com um efeito de contágio sobre a economia e a sociedade muito maior e vigoroso
e podia ser muito mais selectivo, reduzindo o efeito de crowding out. Evidentemente que
teria de ser feita uma gestão inteligente do trade‑off com a taxa de inflação.
d) E m quanto pode o país endividar‑se? O que pode significar este crescente endividamento
para as gerações futuras e a sua capacidade tributária? Em quanto o seu rendimento dis‑
ponível expectável será afectado e, com ele, o seu nível de vida?
e) As taxas de juro para financiamentos internacionais estão a aumentar, podendo tornar
incomportável a obtenção de empréstimos externos (fala‑se que o lançamento de novos
títulos da dívida pública só será possível a taxas de juro superiores a 10%).
2
Fundo Monetário Internacional – Angola: Consultas de 2016 ao Abrigo do Artigo IV, 7 de Fevereiro
de 2017.
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a) Baixa intensidade de crescimento do PIB, pelo menos até 2021 (taxa média anual entre
2017 e 2021 de 1,4%)3. Se não forem criadas outras condições básicas e essenciais para
se inverter este ciclo de crescimento económico de baixa intensidade e de desacelera‑
ção estrutural da dinâmica evolutiva da economia nacional – que já vai relativamente
longo, já que se iniciou em 2009, ainda que com alguns episódios fugazes com taxas de
crescimento ligeiramente acima de 4% – então o futuro apresenta‑se sombrio. O cresci‑
mento diminuiu significativamente de 2015 para 2016, conforme já anotado, podendo
apontar‑se como uma das causas o abrandamento muito acentuado da actividade não
petrolífera (de 8,2% em 2014, para 1,5% em 2015 e 1,1% em 2016), dado que os secto‑
res industrial, da construção e dos serviços se ajustaram aos cortes no consumo privado
e no investimento público num contexto de disponibilidade mais limitada de divisas, e
do fraco desempenho da agricultura face ao seu potencial devido a choques da oferta.
Receia‑se que em 2017 a situação possa piorar, porque, e ainda de acordo com a análi‑
se do Fundo Monetário Internacional: “Os indicadores de actividade económica de alta
frequência apontam para um abrandamento mais profundo em 2016, tendo a confiança
empresarial atingido os níveis mais baixos já registados no segundo e terceiro trimestres
de 2016”4.
3
Fundo Monetário Internacional: Angola – Consultas de 2016 ao abrigo do Artigo IV, 7 de Fevereiro de
2017, página 45, Cenário Base Ilustrativo de Médio Prazo 2010‑2021. Num cenário mais optimista,
a taxa média anual de crescimento do PIB poderá atingir 2,4% ainda assim inferior à taxa de cresci‑
mento demográfico, estimada pelo INE em 3,1%. Até pelo menos 2021 a economia nacional estará
para além do estado estacionário de Solow, com quebras anuais das condições gerais de vida entre
‑1,7% e ‑0,7%, o que, em termos acumulados, significa que, no geral, a população vai ficar mais pobre.
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Fundo Monetário Internacional: Angola – Consultas de 2016 ao abrigo do Artigo IV, 7 de Fevereiro
de 2017.
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Revisto previa uma variação real do PIB de 1,1% e para a economia não petrolífera de
1,2%, quando, na realidade e pela mesma ordem foram de 0,1% e de 1,1%). Na medida
em que tem sido o sector não petrolífero o mais importante criador de emprego líquido,
uma taxa na vizinhança de 1% – expressando uma retracção do investimento privado – é
insuficiente para se terem incrementos significativos na taxa de emprego da economia.
No entanto, as estatísticas oficiais sobre esta variável económico‑social já nos habitua‑
ram a uma inversão da Teoria Económica e da correlação entre crescimento e baixa do
desemprego. Na verdade, parece que a economia angolana tem uma especial apetência
para criar mais postos de trabalho justamente quando a sua dinâmica de crescimento se
atenua. Como a Teoria do Emprego tem alicerces fortes e universalmente reconhecidos,
então tem de se admitir, pelo menos em tese, que as informações estatísticas não expres‑
sam a realidade dos factos. No respectivo capítulo – o sétimo, com o título “Emprego e
Produtividade” –, estas matérias encontram‑se estudadas e analisadas, como, de resto,
em anos anteriores. Segundo o Fundo Monetário Internacional, “As autoridades referi‑
ram que estão em vias de encerrar 48 empresas públicas que não estão operacionais e de
privatizar outras 53. Além disso, um plano de reestruturação da Sonangol foi lançado em
junho de 2016 a ser implementado ao longo de 24 meses. O Conselho de Administração
recentemente nomeado planeia reorientar a Sonangol para os seus principais negócios
de petróleo e gás, tornando a empresa mais transparente e eficiente”5.
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Fundo Monetário Internacional: Angola – Consultas de 2016 ao abrigo do Artigo IV, 7 de Fevereiro
de 2017.
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Fundo Monetário Internacional: Angola – Consultas de 2016 ao abrigo do Artigo IV, 7 de Fevereiro
de 2017.
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f) A taxa de inflação vai permanecer em dois dígitos: desvalorização cambial, falta de produ‑
tos (excesso de procura), especulação, retracção da economia, etc.
Receia‑se pela estabilidade social, pelo respeito dos direitos humanos (Angola recuou no
Índice da Freedom House de 2016 (Semanário O Novo Jornal de 29 de Janeiro, página 6), pela
melhoria das condições de vida da maioria da população e pela saúde da democracia.
| 15
Outra preocupação para 2016 relacionou‑se com o comportamento do preço das principais
commodities, que durante os últimos 4 anos foi sujeito a uma pressão em baixa, com reflexos
significativos sobre a capacidade de crescimento de muitas economias africanas, cujas expor‑
tações e geração de receitas externas dependiam, num elevado grau, destes produtos de base.
Para 2017, as instituições internacionais apontam para uma subida e estabilidade do seu valor.
Na África Subsariana surgiram novos focos de tensão política que podem pôr em causa as
expectativas de crescimento (Gâmbia, Sudão do Sul, Moçambique, África do Sul que irá esco‑
lher um novo líder do ANC em Dezembro de 2017, Burundi onde o desacordo quanto ao terceiro
mandato do seu actual presidente Nkurunziza permanece, Zimbabwe, República Democrática
do Congo, etc.). Ainda que se preveja uma retoma dos preços das matérias‑primas no merca‑
do mundial, a instabilidade política pode atrasar, mais uma vez, a recuperação dos excelentes
índices de crescimento registados entre 2003 e 2008. Também para a África Subsariana a nova
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política económica de Trump poderá revelar‑se perversa, não apenas de uma forma indirecta
através da China – que acabará por crescer menos devido às barreiras alfandegárias sobre as
suas exportações para a primeira economia mundial – mas igualmente por algumas das opções
anunciadas.
As economias avançadas irão crescer em 2017, no seu conjunto, 2,0%, com destaque evi‑
dente para os EUA (presume‑se que ainda sem a incorporação do efeito‑Trump), que vai res‑
ponder por cerca de 40% desse crescimento, mantendo o estatuto de primeira economia do
mundo.
Não deixa de ser curioso que as previsões de crescimento para o Reino Unido minimizem o
efeito BREXIT (a taxa passa de 1,8% em 2016, para 2% em 2017), embora as consequências mais
negativas – se as houver – possam ocorrer depois de consumada a sua saída da União Europeia.
Na verdade, como se irá também ver no capítulo das previsões económicas deste relatório, em
2018 se preveja uma redução para 1,5%.
| 17
A Índia e a China podem vir a ser os países mais afectados com o retorno dos investimentos
americanos realizados durante muito tempo nestes países, pelo que as taxas de crescimento
previstas não consideram, por enquanto, a incidência deste fenómeno. O primeiro destes dois
países pode mesmo vir a ser o mais prejudicado.
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2. POLÍTICA ORÇAMENTAL
O Estado/Governo acaba por ser um gestor destes mecanismos de aplicação das receitas
dos impostos. Por isso é que tem de ser confiável, senão, por muitas campanhas que existam
para estimular ou obrigar cidadãos e empresas a pagar tributos, a tendência será sempre a
da evasão e fraude fiscal. O Estado tem de dar sinais muito concretos da sua competência,
honestidade e transparência no uso de fundos públicos, de todos, para estimular o crescimento
da economia e promover melhorias consistentes e sustentáveis no nível de vida dos cidadãos.
É para isto que os Orçamentos de Estado e a política orçamental existem, e não para facilitar e
estimular processos de enriquecimento dos agentes políticos da governação, seus familiares e
amigos. Daí a necessidade de serem respeitadas regras de elaboração dos Orçamentos de Esta‑
do, como a da universalidade, a da especificidade, a da não consignação de receitas, a do orça‑
mento bruto, a da anualidade e a do equilíbrio. Esta última é basilar: não se deve gastar mais do
que se tem. É um princípio também aplicável aos orçamentos das empresas e das famílias. O seu
incumprimento sistemático gera défices e cria dívida. Não necessariamente nefastos, depen‑
dendo de para onde o dinheiro vai. Ou seja, se o excesso de despesa for aplicado no aumento
de capacidade de geração de rendimentos adicionais, então défice e dívida podem ser virtuosos
e ser debelados nos ciclos económicos e financeiros seguintes. Exemplos: investimento público
e privado em capital físico e investimento público e privado em capital humano (sobretudo edu‑
cação, incrementando‑se a produtividade do factor trabalho e as respectivas remunerações).
| 19
PIB7. Trata‑se de uma violação clara da regra do equilíbrio orçamental, só atenuada se os efeitos
económicos das despesas públicas (crescimento económico e melhor distribuição do rendimen‑
to) forem positivos. Um aumento das despesas públicas provoca um incremento do produto
nacional e do emprego, equivalendo a um efeito expansionista sobre a actividade económica8.
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
–20,0
–40,0
–60,0
Taxa crescimento gastos públicos (%) Taxa crescimento PIB nominal (%)
Nota‑se uma correlação quase perfeita entre gastos públicos e evolução do PIB nominal, a
despeito de em alguns períodos se apresentar desproporcionada e de sentido inverso, talvez
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
devido à influência de outras variáveisRI.2017.0000.01.01
como o investimento privado e o consumo das famílias,
potencialmente aumentado pelas remunerações dos funcionários públicos. Na verdade, entre
DT_01 públicos foram superiores ao crescimento do
2006 e 2009, os incrementos nominais nos gastos
3.ª prova
7
Na Europa do euro, o debate sobre o rigoroso cumprimento
30 maio 2017 da regra do equilíbrio orçamental con‑
tinua muito vivo, considerando a ComissãoPaulo
Europeia que
Amorim todos os países não podem exceder o limite
máximo de 1,5% ao ano, com tendência para zero dentro de alguns anos. A principal razão é a do
endividamento excessivo, prejudicial ao andamento das economias. Joseph Stiglitz e Paul Krugman
têm dado a sua opinião quanto à rigidez dos rácios do défice e da dívida pública, afirmando o pri‑
meiro que nenhum daqueles limites tem sustentação na Teoria Económica ou em indícios econó‑
micos, tudo dependendo, afinal, de para onde o dinheiro vai: “se for para investimento, reforça‑se a
economia”. Se é verdade esta afirmação, acrescento que só o bom investimento do Estado tem esta
capacidade. O mau investimento público prejudica a economia, introduz assimetrias entre sectores
e regiões, facilita a corrupção e promove o tráfico de influências. Angola tem muito investimento
público mau, devendo agora todos os cidadãos pagá‑lo através do aumento da dívida pública.
8
Nomeadamente pelo investimento público. Sendo em infra-estruturas físicas – estradas, caminhos‑
-de‑ferro, portos, escolas e hospitais, etc. –, o efeito final sobre o rendimento pode ter um lag menor
do que em capital humano, incluindo a investigação, mais exigente em tempo para se induzirem
melhorias no produto potencial.
20 |
PIB nominal (provavelmente pouca eficácia dos mesmos, prevalência de influências negativas,
internas e externas, sobre a economia (crise económica internacional 2008/2009, queda do
preço do petróleo), enquanto no período 2009/2011 parece registar‑se o efeito multiplicador
das despesas do Estado sobre a economia (Ky,g>1). No intervalo temporal 2011/2014, o efeito
reprodutivo das despesas públicas é neutro (Ky,g=1).
Esperava‑se, tal como a Teoria Económica o sugere, que uma redução no valor dos gastos
públicos tivesse efeitos mais devastadores sobre o PIB (anos 2013, 2015 e 2016). Porém, em
2009, a teoria funcionou: uma redução de ‑14,5% nas despesas do Estado induziu menor cresci‑
mento numa quantidade de ‑26,5%. Já para 2015 e 2016, embora prevaleça a correlação nega‑
tiva, os impactos negativos sobre a actividade económica são de menor extensão.
As evidências empíricas anteriores são insuficientes para se deduzir uma “teoria da inefi‑
ciência dos gastos públicos em Angola”. Há‑que investigar mais, desdobrando‑se a actividade
financeira do Estado (medida pelos seus gastos – correntes e investimentos) noutras variáveis
(salários dos funcionários civis e militares – quais os de maior efeito multiplicador sobre a eco‑
nomia? – despesas de funcionamento, despesas sociais, etc.). Por exemplo, é possível medir o
impacto das transferências do Estado para as famílias sobre a distribuição do rendimento e a
melhoria das suas condições de vida, conseguindo‑se, assim, uma escolha pública mais criteriosa
(no Relatório de Fundamentação do OGE 2017 prevêem‑se 1920,6 mil milhões de kwanzas para
os sectores sociais e 1012,6 mil milhões de kwanzas para a defesa e segurança: porquê? Que
critérios foram usados? Não terão as despesas sociais um efeito multiplicador sobre a economia
maior do que as orientadas para a defesa e segurança? Qual a componente importada de cada
uma delas (quanto maior for, maiores as perdas para o exterior em favor dos países exportado‑
res)? Estão disponíveis metodologias e algoritmos facilitadores duma abordagem orçamental
mais criteriosa e as instituições do Estado têm informação estatística suficiente para tornar as
escolhas públicas mais racionais.
Assim sendo, que efeitos sobre a actividade económica decorreram dos aumentos dos gas‑
tos públicos no período 2002/2016?
9
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (Regional Economic Outlook, Sub-Saharan Africa,
October 2016), a taxa de poupança em Angola é muito baixa, rondando não mais do que 3% do PIB
entre 2014 e 2016. Em 2012, o seu valor foi de 26,9% do PIB, graças à actividade do sector petrolífero.
Auferindo 60% da população menos de 2 dólares diários de rendimento, a sua preferência é para con‑
sumo (necessidades básicas), ficando a capacidade/propensão de poupar para outras classes sociais.
Lembra‑se, no entanto, que em 2015 a remuneração média mensal do factor trabalho no país foi de
aproximadamente AKZ 50000 (equivalente a USD 413, à taxa de câmbio oficial média desse ano).
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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Incremento PIB
-156,7 1079,1 5267,5 4875,5 6634,5 16 955,3 -6361,7 -1252,3 14 764,4 8547,5 -116,3 3880,4 -25 279,9 -6637,6
com Ky,g de 1,19
Incremento real
847,7 6776,5 16 310,0 12 561,0 13 005,1 22 921,3 -23 462,2 17 828,0 28 069,8 14 706,1 -713,5 1971,8 -24 936,6 -2974,6
do PIB
% de participação -18,5 15,9 32,3 38,8 51,0 74,0 27,1 -7,0 52,6 58,1 16,3 196,8 101,4 223,1
Influência de outros
1004,4 5697,4 11 042,5 7685,4 6370,5 5966,0 -17 100,5 19 080,2 13 305,4 6158,6 -597,2 -1908,6 343,3 3663,0
factores (X, C)
Tal como já tinha sido anteriormente sublinhado, confirma‑se a influência positiva dos gas‑
tos públicos sobre o nível geral da actividade económica, de onde se destacam os investimentos
públicos, físicos e humanos. Porém, a conclusão não deve de imediato ser no sentido do seu
incremento sistemático, porquanto existem outros considerandos a respeitar, como a capaci‑
dade de endividamento do Estado para cobrir os consequentes défices fiscais, a regra do equi‑
líbrio orçamental e a eficiência da actividade do Estado. Um Ky,g igual a 1,19 pode ser sintoma
da existência de filtros na economia impeditivos de o multiplicador assumir um valor mais rele‑
vante: elevada taxa de pobreza responsável por uma propensão marginal ao consumo excessi‑
vamente alta (evidentemente que o consumo privado é também um factor de crescimento, mas
com desfasamentos temporais superiores aos do investimento, donde efeitos menos expres‑
sivos e com maiores tempos de espera)10, taxa média de imposição fiscal alta, afectando o
rendimento disponível das famílias e empresas e por arrastamento a sua disponibilidade de
investimento (as famílias não consomem apenas, também investem em habitação e bens de
consumo duradouro) e uma elevada exposição ao exterior medida pelo coeficiente de impor‑
tação (Angola produz muito pouco e por isso os efeitos económicos directos e indirectos dos
gastos do Estado perdem‑se a favor dos países exportadores).
a) Até 2008, dentro do período 2003/2016, a relação entre gastos públicos e nível geral da
actividade apresenta‑se tal como a Teoria Económica ensina, tendo aumentado a sua
percentagem de participação nos incrementos do PIB. A percentagem de 74% em 2008
indiciava já a necessidade de a política orçamental ser contracíclica, devido aos efeitos da
crise económica internacional.
10
O actual modelo de crescimento económico de Portugal passou a considerar o consumo privado
como um factor relevante pela via do aumento de rendimentos das famílias (reposição de salários,
descongestionamento e aumento de pensões e reformas (modelo centrado na redistribuição do
PIB)). Os resultados ainda são incipientes, continuando as exportações (sobretudo de serviços) e
o investimento privado (o investimento público tem severas restrições orçamentais impostas pelo
cumprimento das metas do défice fiscal estabelecidas por Bruxelas) a serem os principais motores.
22 |
c) Em 2011 e 2012, a Teoria Económica voltou a funcionar, com percentagens importantes
de influência dos gastos públicos sobre o crescimento do nível geral da actividade econó‑
mica, respectivamente 52,6% e 58,1% de incremento do PIB.
Os investimentos públicos em capital físico e capital humano têm sido objecto de controvér‑
sia, em especial os aplicados em obras públicas executadas por empresas chinesas11. A qualidade
das mesmas tem sido o principal elemento de crítica e a comprová‑lo a reduzida durabilidade
de muitos milhares de quilómetros de vias rodoviárias (alguns em reconstrução pelas mesmas
empresas chinesas), diminuindo a sua rendibilidade económica e utilidade social. O incremento
do stock de capital público – físico e humano – está computado em USD 113 623,7 milhões no
período 2002/2016. Muito dinheiro retirado, pela via dos impostos, aos rendimentos das famí‑
lias e aos lucros das empresas. A maior parte dos esperados efeitos económicos destes investi‑
mentos incide, especialmente, sobre a actividade da economia não petrolífera, cujo PIB registou
uma variação, naquele mesmo período, de USD 71 248,1 milhões. A rendibilidade média dos gas‑
tos de capital do Estado é, portanto, de 1,6 significando que por cada unidade de investimento
público se geram 0,6 unidades de produto não petrolífero. O melhoramento deste rácio depen‑
de da qualidade das obras de infra‑estruturas, do seu custo de construção (talvez 20% a 25% se
perdem em comissões), da sua fiscalização e da sua correcta programação. Se em cada ciclo de
investimento público se perdem 20% a título de bónus e comissões, então desde 2012 que se
transferiram USD 22720 milhões para intermediários e facilitadores da contratação pública.
Do lado das receitas fiscais, o Governo tem privilegiado o seu aumento, como forma de con‑
trolar os défices orçamentais, sem cuidar dos seus efeitos sobre a economia e continuando a
11
A última estimativa do acumulado de dívida à China é de 12,5 mil milhões de dólares, não sendo
claro se com o novo aeroporto e as respectivas vias de acesso – novamente autorizado o seu início –
ou devendo recorrer‑se a novos empréstimos. O recente Fórum China‑Angola teve uma representa‑
ção chinesa significativa.
| 23
manter despesas públicas de elevado montante sem introduzir reformas fundamentais, como
a diminuição do número de funcionários públicos (para além da identificação de cerca de
55 000 considerados fantasmas nada mais se fez), de modo a ajustar as suas remunerações à
sua real produtividade, o ajustamento e a reestruturação dos Ministérios e a melhoria dos ser‑
viços prestados aos cidadãos e às empresas (tal como se encontra, e mesmo considerando os
realinhamentos introduzidos no seu funcionamento no âmbito de vários programas de refor‑
ma administrativa desde há mais de 25 anos, a Administração do Estado ainda não é amiga dos
cidadãos e dificulta bastante a criação e funcionamento de grande parte das empresas que
estão afastadas do círculo político do MPLA).
A Reforma Tributária, que aparentemente no seu essencial terminou, manteve taxas eleva‑
das para alguns impostos, impendentes sobre as famílias e as empresas, reduzindo‑se os res‑
pectivos rendimentos disponíveis, de onde se retiram consumos privados (também alavanca do
crescimento económico, ainda que por vias indirectas) e investimento privado, variável directa
de aumento do PIB presente e potencial.
200,0
150,0
100,0
50,0
0,0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
–50,0
–100,0
Do gráfico anterior retira‑se que parece valer a pena aumentar impostos, dado que em
Angola a correlação com o PIBRELATÓRIO ECONÓMICO
é positiva: quanto maisDE elevada
ANGOLA a2016
variação das receitas tributá‑
RI.2017.0000.01.01
rias maior o crescimento do produto. É assim? A Teoria Económica diz o contrário (Curva de Laf‑
fer, multiplicadores de Keynes, fiscalidade neoliberal,
DT_02 coeficiente de Colin Clark). No entanto, as
informações financeiras do Estado, entre 2003 eprova
2.ª 2017, apontam para um ajustamento perfeito
entre aumento da fiscalidade e incremento do PIB. Mas este relacionamento positivo exige uma
25 maio 2017
acrescida investigação: tipo de impostos que mais
Paulo contribuíram para o aumento das receitas
Amorim
24 |
fiscais, modificações ou não da taxa fiscal de cada imposto, alteração das bases fiscais de cada
imposto, o peso da inflação no crescimento nominal do PIB e dos impostos, o desfasamento
temporal na equação fiscal (T=T0+tY), etc.
O pico das receitas fiscais foi em 2012, notando‑se uma quebra de mais de USD 38 000
milhões em 2016, tornando urgente a busca de outras fontes de financiamento do Estado, uma
das quais está, seguramente, na diminuição do seu peso na economia e na contracção da sua
dimensão.
A Teoria Económica demonstra que é possível ampliar o PIB através do aumento dos impos‑
tos e das despesas públicas, em determinadas condições: estrutura da fiscalidade (os efei‑
tos negativos dos impostos directos são mais elevados do que os dos indirectos), escalões de
rendimento, amplitude da base fiscal, incidência da evasão e fraude fiscal e justiça tributária.
O imposto sobre fortunas e rendimentos dos mais ricos pode ser uma via de aligeirar o sacrifício
12
Ainda que se sustente que este coeficiente fiscal seja igual ao da África do Sul, este país dispõe de
argumentos competitivos que Angola está longe de deter: acervos tecnológicos e científicos, investi‑
gação científica, sistema financeiro internacionalmente credível e confiável, organização institucio‑
nal reconhecida, universidades que estão bem classificadas nos rankings internacionais, etc. O Brasil
também tem um elevado coeficiente fiscal (cerca de 42%), mas tem sido possível captar investimento
externo devido a outras facilidades que oferece aos investidores privados.
| 25
fiscal sobre os rendimentos mais baixos detidos pela classe baixa e média baixa: quando se taxa
as pessoas mais ricas, o efeito de contracção é muito menor do que o efeito expansionista con‑
seguindo ao apoiar as pessoas com rendimentos mais baixos, podendo ainda ser mais forte ao
aplicar‑se o dinheiro em bens públicos essenciais, como educação e saúde.
A distribuição de rendimento em Angola é tão desigual, díspar e acintosa que remete para
a vala dos deserdados cada vez mais pessoas. A crise financeira e económica, iniciada em finais
de 2013, está a agravar a situação de exclusão social no país, atirando crescentes camadas da
população para situações de pobreza, absoluta e relativa.
A Teoria Económica igualmente fornece razões e algoritmos que permitem reconhecer que,
mesmo preservando o equilíbrio financeiro das contas do Estado, ainda se gera crescimento
através do multiplicador keynesiano do equilíbrio orçamental. Portanto, só considerandos de
índole estritamente política podem justificar desmandos orçamentais e violação da regra do
equilíbrio orçamental. Por isto, e evidentemente por outras razões consignadas à crise finan‑
ceira e económica, grave, que o país atravessa, é que o Fundo Monetário Internacional reco‑
menda que o défice orçamental global deveria ser contido na vizinhança de 2,25% do PIB13.
Evidentemente que são admissíveis excepções quando os desequilíbrios económicos são de tal
envergadura – próximos da recessão – que exigem a intervenção do Estado através de políticas
orçamentais activas e anticiclo económico14.
O défice fiscal global projectado pelo Governo para 2017 (‑5,8% do PIB) não respeita a regra
de ouro das finanças públicas, que estabelece que o seu valor não deve ultrapassar o rácio do
investimento público (5% para 2017), um factor adicional de criação de produto potencial da
economia15.
Uma situação de crise financeira como a actual perdurará sempre para lá dos limites acei‑
táveis e comportáveis por causa das obrigações que deixa atrás de si e consubstanciadas na
dívida pública.
13
Relatório de Missão ao Abrigo do Artigo IV, Novembro de 2016.
14
O valor do multiplicador keynesiano do orçamento equilibrado é igual à unidade, querendo signi‑
ficar que um aumento dos gastos públicos compensado por incremento de impostos tem um efeito
sobre a actividade económica igual à variação das despesas do Estado.
15
A produtividade média aparente do trabalho foi de USD 13 242,7 no período 2002/2015 (baixa,
não apenas de per se, mas também para estruturar uma competitividade internacionalmente com‑
parável (para este mesmo período a produtividade média aparente do trabalho na África de Sul foi
de USD 47 000)). A taxa de desemprego estimada pelo CEIC para 2015 foi de 21,6%. Se considerar‑
mos como possível uma situação de pleno emprego correspondente a uma redução de 17 pontos per‑
centuais e uma produtividade média de USD 20000, o produto potencial da economia pode atingir a
cifra de USD 254,3 mil milhões (as estimativas para 2016 dão uma cifra de USD 98,9 MM para o PIB).
O défice fiscal calculado em relação ao produto potencial denomina‑se défice estrutural ou de pleno
emprego, ou seja, uma correcção para 2,26% do PIB, entendendo‑se melhor ainda a sugestão do FMI.
26 |
Mas o rácio da dívida pública com que normalmente se opera em Angola é mais restrito e
atingiu o seu máximo justamente este ano (ver Relatório de Fundamentação do OGE 2017) com
61,9%. Para 2017, o Governo projecta 52,7%, uma redução de quase 10 pontos percentuais.
Não está completamente claro o modus faciendi desta redução, porquanto o défice fiscal vai
ser de ‑5,8% do PIB (a ser coberto com financiamento externo e interno que se soma ao stock
de dívida presente), o crescimento do PIB de 2,1% (para o FMI 1,25%), o investimento público
aumenta 3,5% e as despesas correntes incrementam‑se em 8,2%. Só através da conjugação de
vários factores tal poderá ocorrer (o stock de dívida pública aumenta de USD 61 198,7 milhões
em 2016, para USD 69 927,6 milhões em 2017):
a) Se o montante previsto para amortização da dívida existente for superior ao incremento
da dívida (nova dívida a contrair).
b) Se a taxa de crescimento nominal do PIB for de 20,8%17 sendo suficiente reduzir‑se a
metade para que o rácio da dívida suba para 64,1%.
c) Se a desvalorização do kwanza face ao USD for de 20% em 2017, o rácio da dívida pública
poderá atingir 61,1% do PIB.
d) Se fosse previsto um saldo primário positivo, poder‑se‑ia presumir que parte seria para
amortização da dívida e outra para pagamento de juros, não sendo, porém, o caso em
análise, com o défice fiscal programado.
16
Há dois tipos de dívida pública com que a política orçamental e a política monetária operam: dívida
bruta (presumindo‑se que o rácio de 52,7% a esta se refira) e dívida líquida, consolidando a dívida
bruta com os activos do Estado).
17
Calculada na base da conversão do PIB em kwanzas (Relatório de Fundamentação) para USD com
uma taxa média de câmbio de 165,37 (desvalorização de 15%).
| 27
A sustentabilidade das dívidas públicas deve ser enquadrada por 3 factores: défice fiscal pri‑
mário, taxas reais de juro e taxas de crescimento do PIB. O rácio da dívida pode ser controlável
(62% registado em 2016), se e só se os restantes factores forem positivos e sintetizados numa
inequação: taxa de crescimento do PIB> Taxa real de juro. Isto significa que a médio prazo – até
2020 se o cenário do comportamento do preço do petróleo se mantiver, no essencial, constante
(USD 50 o barril) – o país pode ter problemas com a sua dívida pública. Porquê?
d) As contradições entre políticas orçamentais activas (em favor do crescimento) e políticas
orçamentais de estabilidade (favoráveis à preservação de equilíbrios macroeconómicos
fundamentais) são mais evidentes em situações de crise financeira e económica, como é
claramente o caso de Angola.
18
De acordo com o Relatório de Fundamentação do OGE 2017, o rácio dos juros da dívida pública evo‑
luiu da seguinte forma: 0,8% em 2013, 1,2% em 2014, 2% em 2015, 2,6% em 2016 e projecta‑se
um valor de 2,5% para 2017. Consequentemente, o défice primário em relação ao PIB, pela mesma
sequência temporal, é de 1,1%, ‑5,4%, ‑1,3%, ‑3,3% e ‑3,3% (um acumulado de ‑12,2%).
19
Calculada em kwanzas correntes (Relatório de Fundamentação do OGE 2017).
28 |
A taxa de crescimento do PIB e a taxa de juro – em termos reais ou nominais – servem para
se avaliar o chamado efeito “bola de neve”, ou seja, para se saber se o simples pagamento dos
juros agrava ou não o rácio da dívida (uma das manifestações de insustentabilidade da dívida
pública aparece quando a taxa nominal de juro for superior à taxa de crescimento do PIB).
Mas há outros factores, fora da rota estrita da gestão orçamental do Estado, que podem
impactar negativamente a dívida pública: a recapitalização do BPC (o Estado já colocou nesta
instituição cerca de USD 1000 milhões), do BCI (talvez um montante menor de recapitalização),
da TAAG (a sua reestruturação está em curso, tendo sido identificadas novas necessidades de
financiamento para aquisição de novas aeronaves, acompanhadas de despedimentos de pes‑
soal, como forma de redução dos custos de funcionamento), da Sonangol (segundo declarações
públicas a sua dívida pode ascender a USD 9000 milhões e a quem a China recusou o pedido de
empréstimo de USD 5000 milhões, depois de ter aberto uma linha de crédito para o país de USD
15 000 milhões por intermédio do CDB – China Development Bank20), da Endiama (a braços
com a queda da cotação internacional do diamante), da SODEPAC – Fazenda Pungo Andongo
(a necessitar de injecção urgente de dinheiro, especialmente de divisas, para reactivar a pro‑
dução, segundo declarações do seu presidente), etc. É nisto que dá ter‑se um Estado exage‑
radamente grande (ainda a herança socialista, exigindo uma reformulação do seu modelo de
intervenção na economia, que terá de ser muito mais indirecto – através de políticas de incen‑
tivo – e muito menos directo) e significativamente atreito a jogos e tráficos de influências polí‑
ticas do partido no poder.
A privatização de bancos comerciais públicos e de muitas empresas estatais tem de ser a via
para se amenizarem os défices orçamentais e centrar a actividade do Estado na criação de efi‑
ciências para o crescimento do PIB.
A matéria dos juros da dívida pública – que impacta o peso que a mesma tem na vida das
famílias e das empresas21 – pode ser vista de dois ângulos diferentes. Tratando‑se de dívida
pública interna, os juros pagos aumentarão o rendimento disponível das famílias e empresas –
o que é bom, pois o consumo privado e o investimento privado podem aumentar (na ausência
20
Gustavo Costa – “China Recusa Novo Empréstimo à Sonangol”, Semanário Expresso, Caderno de
Economia de 15 de Outubro de 2016.
21
O Relatório de Fundamentação do OGE 2017 apresenta o montante de juros pagos pelo Estado e
a sua repartição em moeda nacional e divisas, havendo, assim, a possibilidade de analisar os sacri‑
fícios solicitados às gerações presentes pelos “desmandos” da gestão financeira do Estado. Como
sublinhado mais atrás, os défices orçamentais que originam dívida pública só serão virtuosos se
incrementarem o produto potencial da economia e melhorarem as condições de vida da população
(mais crescimento, mais emprego e mais rendimentos para distribuir). Sempre que assim não for, os
desequilíbrios fiscais favorecem a elite burguesa do círculo político da governação.
| 29
Quanto à divida pública externa, o efeito é só um (poder‑se‑iam detectar outros, mas cuja
lógica é um bocado tortuosa, mesmo em circunstâncias económicas e financeiras normais que
Angola não apresenta neste momento), qual seja: dívida contraída em divisas no estrangeiro,
transferência integral dos juros em moedas fortes (a não ser que outras condições tenham sido
negociadas no momento de contracção do empréstimo). Os efeitos positivos sobre o aumento
do rendimento disponível perdem‑se completamente a favor dos credores estrangeiros e das
suas economias. Daí a importância da estratégia de endividamento: aplicar os empréstimos na
importação de bens e serviços finais é um erro, porque consomem‑se esses produtos e fica a
dívida. Os financiamentos externos – incluindo as linhas de crédito – devem contribuir para a
criação de produto potencial – capacidade de crescimento futuro – de modo a serem gerados
rendimentos de onde se retirarão as partes a transferir para o exterior para cumprimento do
serviço da dívida.
Dívida pública total (USD MM) 30,6 41,6 48,6 56,6 62,8
% do PIB 24,5 32,8 47,4 61,9 52,7
Externa (USD MM) 15,7 20,2 22,2 26,5 32,5
% do PIB 12,6 15,9 21,6 29,0 27,3
Interna (USD MM) 14,9 21,4 26,5 30,0 30,3
% do PIB 12,0 16,9 25,8 32,9 25,4
O facto de não haver dívida privada externa é um sintoma evidente da falta de credibilida‑
de e confiança internacional no sistema financeiro, nas empresas e nos empresários nacionais.
30 |
Como já destacado, a reforma integral do Estado (de que faz parte a alteração de menta‑
lidades de governantes e do middle management22 dos Ministérios e instituições públicas em
geral) tem de vir em primeiro lugar, sendo possível incentivar a economia (o abaixamento dos
impostos sobre o valor agregado das empresas e a estabilidade fiscal a médio prazo têm efeitos
indeléveis sobre o crescimento económico futuro e o aumento de emprego líquido e, conse‑
quentemente, sobre a ampliação das receitas fiscais) e, simultaneamente, aumentar as despe‑
sas sociais estruturantes duma maior produtividade e competitividade do sistema económico.
Basta estudar muitas experiências internacionais para se recolherem informações e modelos
de como o fazer. Mas sem vontade política para se garantir a transparência e erradicar vícios de
amiguismos e trade off de influências nada feito.
Receitas fiscais totais (USD MM) 50,2 44,7 27,9 20,4 22,2
A diminuição das receitas fiscais do Estado iniciou‑se em 2013, tendo assumido contornos
catastróficos em 2016, provavelmente o pior ano do desempenho económico e financeiro do
país (a crise presente é claramente pior que a ocorrida no período 2009/2010, bastando para
isso comparar os principais indicadores e rácios económicos e sociais). A dependência do petró‑
leo continua a verificar‑se, embora com baixa intensidade. Porém, bastará que o preço do barril
de petróleo atinja a faixa de USD 60, o coeficiente de subordinação voltará a níveis anteriores
– porque não foram feitas reformas económicas estruturais e a economia não petrolífera conti‑
nua a apresentar uma insuficiente capacidade de crescimento.
22
É também por intermédio do middle management que os países podem exercer o soft power, o
poder de influência interna e internacional baseado na atracção e persuasão da qualidade das insti‑
tuições de um país, públicas e privadas. Este conceito e os outros dois relacionados – hard power e
smart power – foram criados por Joseph Nye, Professor de Geopolítica da Universidade de Harvard,
nos anos 80 do século passado e que tanta difusão e creio mesmo aplicação tiveram.
| 31
90,0
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
23
Jan Tinbergen (1903‑1994) “compreendendo as notáveis possibilidades que a Econometria e a
modelização numérica das economias traziam à resolução concreta dos problemas económicos, o seu
esforço foi sempre para criar sistemas práticos de apoio à decisão política real; a maioria dos seus
trabalhos dirigiu‑se à construção de modelos de planeamento e à resolução da enorme montanha de
problemas concretos que esse trabalho trazia consigo”, in João César das Neves, Nobel da Economia,
Principia, 2009. Nestes aspectos talvez a obra mais relevante de Tinbergen tenha sido Mathematical
Models of Economic Growth, com H. C. Bos, 1962.
32 |
Mas o OGE 2017 apresenta dois objectivos novos e verdadeiramente centrais e de cuja
implementação pode depender a recuperação económica e financeira do país: geração/aumen‑
to da poupança e fortalecimento do sistema financeiro (quanto a este item ver capítulo “O sec‑
tor monetário”).
Com um PIB por habitante de pouco mais de USD 3500 em 201624, elevadas carências bási‑
cas da população e das empresas e um Coeficiente de Gini de 0,55 a propensão à poupança
é naturalmente baixa e assim continuará por mais alguns anos. A taxa de poupança – medi‑
da como a proporção do não consumo no Produto Interno Bruto – tem sido tradicionalmente
baixa, típica de países pobres como Angola, o que não deixa de ser, em certa medida, paradoxal
numa sociedade sem sistemas de segurança social e sem acesso generalizado ao crédito para
consumo25. Mas tremendamente realista quando o rendimento nacional disponível é baixo e a
distribuição do rendimento despudoradamente desigual. Em média, a proporção poupada do
PIB foi de 3,3% entre 2015 e 2016, de acordo com o Regional Economic Outlook, Sub-Saharan
Africa, October 2016 do Fundo Monetário Internacional. Porém, se referida aos anos 2012 e
2013 a taxa média de poupança foi de 24,5% por influência dos rendimentos petrolíferos das
empresas do sector. Mesmo assim, abaixo dos padrões internacionais e das necessidades de
autofinanciamento da economia nacional.
24
Pouco mais de USD 2340 de rendimento per capita, considerando as deduções a título de saldo de
transferências de rendimentos factoriais, que diminuem o rendimento nacional (produto nacional
líquido a custo de factores).
25
Outra forma de calcular a taxa de poupança, talvez a mais correcta do ponto de vista macroeconó‑
mico, tem como base o rendimento nacional disponível.
26
Ver Adérito Sedas Nunes – Sociologia e Ideologia do Desenvolvimento (Moraes Editores, 1968),
A. Costa Pinto – Sociologia e Desenvolvimento, 2.ª edição, Editora Civilização Brasileira, SA, 1965 e
Bert Hoselitz – Aspectos Sociológicos do Crescimento Económico, Editora Fundo de Cultura, 1960,
onde se relacionam os aspectos culturais do desenvolvimento e se destaca a importância dos mes‑
mos enquanto factores estruturantes do progresso social.
27
Ambientes económicos e institucionais incertos e instáveis só por si podem incentivar a poupança,
como forma de prevenção de efeitos de crise. Do outro lado desta moeda, ambientes inflacionistas
relativamente descontrolados, diminuem a poupança por contrapartida do incremento do consumo
(uma maneira de resistir à degradação do valor da moeda).
| 33
características. O Papa Francisco utiliza nas suas declarações e escritos um conceito importan‑
te de crescimento e define‑o: “o crescimento equitativo exige algo mais do que o crescimen‑
to económico, embora o pressuponha; requer decisões, programas, mecanismos e processos
especificamente orientados para uma melhor distribuição das receitas, para a criação de opor‑
tunidades de trabalho, para uma promoção integral dos pobres que supere o mero assistencia‑
lismo”28.
De acordo com dados absolutamente oficiais – Contas Nacionais de 2002 a 2012 e Relató‑
rios de Fundamentação do OGE entre 2013 e 2017 – o crescimento económico de Angola pode
ser dividido em dois períodos distintos: 2002‑2008, apelidado pelo CEIC de “mini‑idade de ouro
do crescimento económico do país” e 2009‑2016 e denominado, igualmente pelo Centro de
Estudos da Universidade Católica de Angola, de “fase de desaceleração estrutural do cresci‑
mento económico”. O indicador usado para a sua caracterização é a taxa de crescimento real do
PIB. Assim, para a “mini‑idade de ouro” a taxa média anual de variação do volume de riqueza
criada em cada ciclo de 365 dias foi de 10,1%, enquanto para a “fase de desaceleração estrutu‑
ral” foi de 3,1%, uma desproporção de 7 pontos percentuais. Mas pelo meio ocorreram aconte‑
cimentos interessantes, como:
28
Papa Francisco, “Exortação Apostólica Evangelii Gaudium”, n.º 204, citado por João César das Neves
em As 10 Questões do Colapso, D. Quixote, 2016.
29
Grandes empresas mundiais, como a General Electric (1890), Walt Disney Studios (1929) e a Micro‑
soft (1975) nasceram durante recessões económicas.
34 |
crescimento revelado durante a fase dourada, as taxas de 2015, 2016 e 2017 podem vir
a ser utilizadas para caracterizar um mini período de “crescimento económico anémico”.
• Nesta fase de desaceleração estrutural foram registados três anos em que as taxas de cres‑
cimento nominal do PIB (medido em USD) foram negativas, podendo falar‑se de recessão
económica: 2013 (‑0,6%), 2015 (‑19,6%) e 2016 (‑2,9%). Em diferentes pontos deste texto
de reflexão foram feitas considerações sobre a validade do agregado PIB nominal e a sua
importância para as políticas de distribuição do rendimento nacional, sob a forma de salá‑
rios, lucros, juros e rendas, que só podem ter expressão monetária numa economia em
que o dinheiro é o equivalente universal dos bens e o intermediário por excelência das
trocas30.
Angola está a crescer pouco, mas, pior ainda, não se espera que nos tempos mais próximos
(até 2022?) possa atingir as dinâmicas dos anos gloriosos das receitas petrolíferas espanto‑
sas. Por falta de capital – mesmo durante o período em que as receitas petrolíferas atingiram
montantes estratosféricos, este factor de produção esteve sempre em défice31 – e de recur‑
sos humanos habilitados e qualificados, o país não reúne as condições do turn over senão no
médio/longo prazo.
30
Numa pesquisa realizada no município de Calandula, o CEIC detectou que o equivalente univer‑
sal das mercadorias nesta localidade da Província de Malanje era a crueira e não o kwanza, rejeitado
pelas populações devido à sua forte deterioração real e ao facto de a moeda nacional aí não chegar
(falha do sistema bancário).
31
Não se pode confundir dinheiro (que o país teve e malbaratou) e capital, que não tem, nem mesmo
com os investimentos públicos realizados depois da paz (USD 107 606,9 milhões entre 2002 e
2016). Desconhece‑se qual o stock de capital físico (ou fixo) da economia, que inclui estradas, fábri‑
cas, equipamentos, tecnologia, edifícios (fabris, escolas, universidades, habitações, etc.), pontes,
caminhos‑de‑ferro, infra‑estruturas, materiais de telecomunicações, etc., etc.
| 35
magistrado, ainda que se simule serem o Governo e o Parlamento quem tem essa prerrogativa.
Foi deste modo que a opção ideológico‑doutrinária sobre a acumulação primitiva em Angola (a
favor da classe dirigente, política e empresarial) foi tomada, tendo os principais instrumentos
para a sua concretização sido o Orçamento de Estado e a Sonangol.
O aumento das despesas públicas em períodos eleitorais – uma prática também bastante
utilizada e apreciada em Angola – provoca efeitos de evicção perniciosos sobre as economias,
não sendo compensados pelos esperados efeitos multiplicadores, muitas vezes perdidos, numa
percentagem elevada, a favor do exterior, nos casos de economias muito abertas e dependen‑
tes das relações económicas com o estrangeiro.
Ao longo deste Relatório Económico, várias serão as referências ao ciclo negativo do petró‑
leo, enquanto um dos elementos explicativos (e não justificativos) da insuficiência de receitas
públicas. Um dos factores, porque provavelmente os mais relevantes são do domínio da res‑
ponsabilidade das políticas públicas em todos os sectores, maioritariamente reactivas e adap‑
tativas e muito poucas vezes antecipativas e prescientes.
32
E por maioria de razão, após a independência nacional em 11 de Novembro de 1975, com a escolha
de um modelo económico e social em manifesto contrapé com a História.
33
Os tais desacertos de calendários de que falava o saudoso Professor Mário Murteira quando se refe‑
ria às escolhas ideológicas dos países africanos de expressão portuguesa.
36 |
dinâmica do sector não petrolífero que se devem equacionar – dentro de modalidades racionais
defensoras da eficiência fiscal e que evitem a ocorrência de fenómenos macrofiscais como a
Curva de Laffer34 – onde as fontes alternativas à fiscalidade petrolífera devem ser investigadas.
Nos balanços fiscais do Governo são evidentes as incapacidades de criação de novas fontes
tributárias ou reforço das existentes, num contexto em que se estabelecem relações de incom‑
patibilidade entre alguns objectivos da política orçamental (por exemplo, mais despesa pública,
mesmo em áreas sociais, de que não se conhecem os retornos e nas obras públicas, agrava o
défice e determina o aumento da dívida pública), agravadas pelas relações de potenciação da
política monetária, conservadora quanto à preservação da estabilidade dos preços.
34
Tem‑se a sensação que este fenómeno descoberto pelo economista norte‑americano Arthur Laffer
já ocorre no sector petrolífero. As companhias estrangeiras têm apresentado sucessivas queixas sobre
a exorbitância do quadro fiscal aplicado à sua actividade, estando a ocorrer o conhecido efeito‑rendi‑
mento através da diminuição da produção, justamente devido ao desincentivo e penalização fiscais.
35
CEIC – Ficheiro “Quadro Macroeconómico Comparativo”.
| 37
O peso percentual das tarifas aduaneiras estacionou em 1%, em média anual 2013/2016,
naturalmente porque as importações e os investimentos têm diminuído devido à crise de cres‑
cimento e o consumo privado (essencialmente das famílias mais pobres) reage em baixa, adap‑
tando‑se à quebra do poder de compra dos seus rendimentos devido à elevada inflação.
Outro aspecto de relevância é o das contribuições para a previdência social (em média anual
0,95% do PIB), concluindo‑se pela incipiência do sistema de previdência e segurança social no
país. Evidências empíricas diversas demonstram que a conjugação entre impostos progressivos
e sistemas de previdência social reduz consideravelmente a desigualdade (económica e social)
e potencia a redução da pobreza em bases sustentáveis (ver, no Capítulo 6 deste Relatório, a
abordagem sobre a desigualdade em Angola).
Em conclusão: 2016 foi um ano muito difícil para as finanças do Estado e só o aumento da dívi‑
da pública (interna e externa) permitiu que as despesas mais estratégicas e essenciais – do ponto
de vista do Governo – pudessem ser implementadas com reajustamentos de pequena monta,
dada a já assinalada insuficiência de meios financeiros próprios captados através dos impostos.
Ou seja, optou‑se por uma abordagem minimalista de ajustamento orçamental, com acertos
pequenos nas despesas do Estado, quando a situação exigiria mais coragem de adaptação às
suas reais capacidades e disponibilidades financeiras (diminuição do número de Ministérios, de
Ministros e Secretários de Estado, corte do número de funcionários fantasmas, adaptação da
estrutura administrativa das instituições públicas aos efectivos níveis de produtividade.
38 |
novos financiamentos. Na verdade, as taxas de juro têm subido bastante, no mercado finan‑
ceiro internacional, por causa da quebra de confiança e de credibilidade do sistema financeiro
nacional e internamente devido às elevadas taxas de juro que o Estado propõe aos subscritores
das suas obrigações, como forma de atrair as poupanças privadas. Acresce que a elevada taxa
de inflação em 2015 e 2016 ajudou à subida das taxas de juro cobradas pelo sistema bancário.
A significativa redução do peso relativo das aquisições de bens e serviços deixa no ar a hipó‑
tese de ter havido uma deterioração das condições de funcionamento da máquina do Estado
e de prestação de serviços colectivos aos cidadãos e às empresas. Entre 2013 e 2016, a quebra
deste tipo de despesas foi de 31%.
As prestações sociais, através das quais se intervém na redução das desigualdades e na equa‑
lização das oportunidades, depois de experimentarem um incremento de 0,6 ponto percentual
entre 2013 e 2015, passaram a representar tão‑somente 1,2% do PIB em 2016 (50% a menos do
que em 2015). O rendimento disponível das famílias – aplicado em poupança (financiamento do
investimento) e em consumo (factor de crescimento) – pode sair prejudicado face a esta dimi‑
nuição, afectando‑se as situações de pobreza. Refira‑se que esta rubrica orçamental passou de
AKZ 283,2 mil milhões em 2015, para AKZ 200,1 mil milhões em 2016, uma redução de 29,3%).
36
Montante global AKZ 1484 mil milhões e um quantitativo de emprego de 467 135.
| 39
O cenário fiscal seguinte foi retirado do último relatório de missão do FMI datado de 27 de
Março de 2017. O Governo normalmente não apresenta cenários fiscais de médio prazo, limitan‑
do‑se os Relatórios de Fundamentação, quando muito, a um alongamento de apenas um ano.
Fonte: Fundo Monetário Internacional, Angola – Consultas de 2016 ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro de 2017.
40 |
Ainda que se trate de um cenário de base, que normalmente considera uma projecção com
manutenção das condições presentes, sem influência de políticas de reajustamento estrutural,
verifica‑se que a situação financeira futura do país será de enormes dificuldades:
a) Uma perfeita igualização da participação relativa das receitas fiscais petrolíferas e não
petrolíferas. Na prática, a confirmação do fim da era do petróleo em Angola, sem que,
entretanto, tenham ocorrido as transformações estruturais necessárias e essenciais, nos
domínios das infra‑estruturas, da agricultura, da manufactura e da energia. Trata‑se, afi‑
nal, de uma diversificação sem suporte estrutural, sem futuro e sem consistência. Admi‑
tindo que o fenómeno esteja realmente em marcha.
b) Uma tendência decrescente na participação das despesas correntes no PIB, o que é posi‑
tivo para a sanidade das finanças do Estado e para o aumento do espaço de intervenção
da iniciativa privada. No entanto, há que acautelar os sectores sociais, nomeadamente
a educação, de cuja quantidade e qualidade dependerá a qualidade de crescimento e a
sua potencialidade.
c) Uma manutenção da taxa de investimento do Estado, sem que ainda o país esteja dotado
de um stock de capital fixo da economia. O cenário fiscal seguinte foi retirado do último
relatório de missão do FMI datado de 27 de Março de 2017.
O país enfrenta, na verdade, desafios hercúleos para o vencimento dos quais faltam capital
humano, recursos financeiros e capacidade estratégica de governação.
The following analyses the evolution of the non‑oil tax revenues in Angola since the end of
the war in 2002.
Increasing revenue
In nominal terms, there has been a formidable increase in tax revenue. During the 14 years
of peace, the nominal tax revenue increased 37 times. Was this as a major advance for the
Angolan economy and society? What does it tell us about the tax reforms since 2011?
| 41
1557
1128 1144
972
711 723
594
539
468
338
188 239
92 128
42
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Most importantly, these were the years ofDT_03a very high economic growth in Angola. The GDP
2.ª prova
increased from 405 to 16,880 billion kwanza between 2002 and 201637 – a nominal expansion
of 42 times. The dollar worth of the GDP25increased maio 2017more than 10 times. Inflation was high
during this period, albeit oscillating. It fell from
Paulo 105 per cent in 2002 to 2006 when it stabilised
Amorim
at an average of 11 per cent per year for nearly the next decade (inflation started to rise sharply
again in 2015, in 2016 it was 41.95 per cent). Clearly, both economic growth and inflation con‑
tributed to the tax revenue expansion.
Compared to the economic growth in the non‑oil sector, did the tax revenue grow satisfacto‑
rily? As illustrated in the following Figure , the growth pattern of the non‑oil GDP – like the total
Angolan GDP – fluctuated a lot during these years, with a high point in 2007 (an amazing 25 per
cent real annual growth) to an expected low point in 201638 (1.2 per cent).
We see that the increase in the tax revenue was steady in spite of the high volatility of the
growth in the non‑oil sector GDP. From the point of view of public finances, and specifically for
the tax reform, this seems to be a reassuring trend.
37
Relatório de Fundamentação do OGE 2003 e 2017, Ministério das Finanças.
38
Relatório de Fundamentação do OGE 2017, Ministério das Finanças.
42 |
%
1800 30
1600
25
1400
Billion of kwanzas
1200 20
1000
15
800
600 10
400
5
200
0 0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Non-oil Ttax (Billion of kwanzas) Non-oil GDP Growth
Source: CEIC, based on Relatórios de Fundamentação do OGE 2003‑2017, Ministry of Finance.
As commonly known, the oil revenue increased enormously in Angola during the same
years, driving economic growth also in the
RELATÓRIO non‑oil sector.
ECONÓMICO The following
DE ANGOLA 2016 Figure shows the rela‑
RI.2017.0000.01.01
tive importance of both oil and non‑oil revenue to the state budget. More than anything, it
shows Angola’s exceptionally high dependence on the oil revenue, as oil revenues accounted
DT_03b
for a steady average of around 80 per cent of2.ªallprova
government revenue. This dependence led to
the current dramatic situation for the public finances as the international oil prices, and thus
25 maio 2017
Angola’s oil revenues, plummeted after 2014. The importance of non‑oil revenue increased
Paulo Amorim
somewhat from 2012, already before the drop in oil price.
%
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Oil revenue (% of total revenue) Non-oil revenue (% of total revenue)
Source: CEIC, based on Relatórios de Fundamentação do OGE 2003‑2017, Ministry of Finance.
| 43
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
RI.2017.0000.01.01
Relatorio_economico_2016_01a288.indd 43 6/6/17 6:02 PM
CEIC / UCAN
The following Figure illustrates the dramatic fall in oil revenues. The increase in non‑oil tax
revenue is nowhere near compensating for the loss of oil revenue.
A reservation regardingRELATÓRIO
the 2016 figures
ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
RI.2017.0000.01.01
There is an important reservation regarding the figures for 2016. As seen from Figure below,
comparing the budget forecast to the executed revenue, the government forecast was quite accu‑
DT_03d
2.ª prova
rate until the onset of the tax reform in 2011. For some reason, the government thereafter crea‑
ted overly optimistic forecasts until 2016,25when all of a sudden the preliminary executed figure
maio 2017
shows that the government underestimated Paulothe revenue. As discussed below, we find that the
Amorim
inflation rate, which started to spiral again in 2015, is the most likely explanation for this change.
Forecast Executed
Source: CEIC, based on Relatórios de Fundamentação do OGE 2003‑2017, Ministry of Finance.
44 |
The next Figure qualifies the picture in a very important way. Despite the tremendous grow‑
th in the nominal worth of the non‑oil revenue, we see that as a percentage of total GDP, non‑
‑oil taxes remains at more or less the same level as it was in 2002. There are, however, some
important qualifications.
We see that the high point of nominal non‑oil taxes to GDP was in 2009, the year when there
was a massive decrease in oil revenues (linked to “global financial crisis”), with a resulting dip in
the overall GDP. From 2009 to 2012, there is a decrease in the weight of the non‑oil taxes as per
cent of GDP. Then, from 2013 to 2014, after the onset of the “tax reform” phase, the ratio of the
non‑oil taxes to GDP recovered again, in order to reach the same level as in 2002. If non‑oil taxes
in Angola has stayed at a steady average of 8 per cent of GDP in Angola, this compares to 15 per
cent in Algeria, 14 per cent in Gabon, 5 per cent in Equatorial Guinea, 4 percent in Libya and 3.5
per cent in Nigeria, all major oil producing countries in Africa.39 Only Algeria and Gabon have a
non‑oil tax to GDP ratio above 10 percent, the rest of African oil producing countries have very
low ratios, and lower than Angola.
1800 10
1600 9
1400 8
7
Billion kwanzas
1200
6
GDP (%)
1000
5
800
4
600 3
400 2
200 1
0 0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Non-oil tax revenue (billion kwanzas) Non-oil tax revenue (% GDP)
| 45
corresponding growth in the non‑oil tax revenue. This can be explained by the hypothesis that
in Angola, non‑oil growth is itself closely connected to the growth in the oil sector. Oil remains
the “motor” of the Angolan economy.
30
25
20
15
10
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
The growth of the nominal tax revenue seems to follow another dynamic. If there is a dis‑
connection between the non‑oil sector and the non‑oil tax revenue, what has then driven the
nominal growth of the non‑oilRELATÓRIO
revenue? ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
RI.2017.0000.01.01
What explains the high nominal revenue growth?
DT_03g
2.ª prova
We shall in turn look at three possible explanations. Firstly, since inflation tends to go
along with a higher nominal income base, 25
canmaio
inflation
2017 explain it? Could the expansion of the
taxpayer base explain it (collecting from Paulo taxpayers)? Could an increase “tax burden”
moreAmorim
explain it (collecting more from each taxpayer)? Or is the explanation some combination of
the above?
The next Figure shows that the inflation rate cannot alone explain the nominal growth of
tax revenue. For most of the period under analysis, the nominal tax revenue increased with a
higher rate than inflation. However, it does not rule out the possibility that in 2016 – when infla‑
tion rose sharply – the government expected higher revenue yields precisely because of the
generally increased price level. For instance, as long as there is economic growth, higher prices
will immediately result in higher returns on the consumption tax.
46 |
1800 120
1600
Million of kwanzas
100
1400
Inflaon rate
1200 80
1000 60
800
600 40
400
200 20
0 0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2002 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
The Ministry of Finance has provided fresh data on the expansion of the base of active tax‑
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
payers (contribuintes) between 2003 and 2015. As seen in the following Figure, the number of
RI.2017.0000.01.01
active taxpayers increased rapidly from an extremely low level.41 In 2015, there were 548,180
40
• 0.2 per cent were companies or other collective personalities that by their nature of acti‑
vity are exempt from paying corporate tax (type 7).
40
The Ministry of Finance provided figures for three categories: Active taxpayers, the ones who are
currently paying their tax; “ceased” taxpayers, the ones who are somehow not paying tax; and “regis‑
tered taxpayers”, all who are registered in the rolls. From the registered subtracting the ceased, one
gets the total number of active taxpayers. The first few years after 2003, we found anomalies and
variations in the numbers. From about 2005 – way before the onset of the fiscal reform – the number
of ceased taxpayers is almost insignificant in comparison with the registered, indicating a “stabilisa‑
tion” or a consolidation of the taxpayer records.
41
Luther et. al (2017) claim that the Angolan taxpayer base broadened “from 964,000 taxpayers in
2010 to 3.74 million by the end of 2015”. That is an increase of 2.77 million taxpayers. Although a
senior figure in the tax administration, Luther does not provide a source of their data.
42
Law decree no. 61/04, of 28 September defines the four “types” referred to above. Each type of tax‑
payer has a corresponding tax identification number starting with 1, 2, 5 or 7 respectively – hence,
there are no “missing” types in between.
| 47
Coming out of the civil war in 2002, Angola’s tax system was in complete disarray, and the
registered held a mere 453 people as actively paying tax in that year.43 Compared to countries
of similar GDP levels, the number of individuals paying tax was exceptionally low, even in 2015.
The 509 thousand individuals paying income tax represented a mere 4.6 per cent of the popu‑
lation above 18 years of age (around 11 million people).44
NUMBER OF TAXPAYERS
560 040 548180
515242
477154
389921
270 028
199495
185393
133555
90 693
40 510 38 223
453
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Source: AGT (General Tax Administration).
43
We here recognise that there may have been many more, as the wild fluctuations between the
“registered” versus the “active” and “ceased” taxpayers, making it difficult to make strong affirma‑
tions about real numbers until about 2005.
44
Demographic data from UNICEF, at https://www.unicef.org/infobycountry/angola_statistics.html
48 |
The numbers tell us that the most rapid increase in the taxpayer base took place before the
tax reform period (from 2011). From 2011 onwards, the rapid expansion of the tax base appears
to have largely ended. In the five years from 2007‑2011, the number of individual taxpayers
(type 1) increased by 320 per cent, while for next five year period (2011‑2015) it expanded only
38 per cent.
We can best understand the figures when broken down to individuals and companies. Firstly,
we should mention a demographic fact of some concern: The numerical increase of individual
taxpayers from 2012 to 2015 was of 61,440 people, which represents a 4 per cent annual grow‑
th on average – only slightly higher than the 3.2 per cent population growth. The high popula‑
tion growth in Angola means that AGT needs to expand its rolls by another 20‑25,000 annually
just to keep up with the population growth. One also needs to take into account that a good
portion of the individual taxpayers during the last decade, particularly during the years of high
growth (2004‑12), was actually foreigners paying taxes for working in Angola (we do not have
exact figures). Many of these foreigners have left the country after 2014 since the economic
downturn quickly made working in Angola less attractive to foreigners.
One part of the reason for the relative slow‑down in the expansion of the individual taxpayer
base is that there is a natural limit to that numerical expansion given by the number of people
registered in formal employment (and likewise in the number of real existing and active busines‑
ses/corporations). Even so, there is a long way to go in order to get all people in employment to
register as taxpayers. Angola’s central statistical office (INE) provides the employment figures for
all sectors, including the primary sectors. When comparing the number of individual taxpayers
with the number of “employed people” we found that in 2006 only 2 per cent of the employed
were registered as taxpayers, 7 per cent in 2011 and 8 per cent in 2015. The next Figure shows
how few are the registered individual taxpayers in comparison to the total employment.
600 000
500 000
400 000
300 000
200 000
100 000
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
| 49
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
RI.2017.0000.01.01
Relatorio_economico_2016_01a288.indd 49 6/6/17 6:02 PM
CEIC / UCAN
The breakdown of the taxpayer types reveals an important improvement that may be attri‑
butable to the tax reform: since 2013 – after the height of the tax reform period – the increase
in the number of individual taxpayers may be slowing down, but the number of registered busi‑
nesses doubled (type 2, 5 and 7). By 2015, the number of corporate taxpayers in Angola was
39,109, representing 94 per cent of the 41,507 companies/organisations registered by INE (see
next Figure). That was the highest percentage measured since 2008, after a period (2008‑14)
when the figure averaged at 67 per cent. Hence, the tax administration seems to have had some
success in increasing its coverage particularly in 2015 – with the exception of the year 2012 that
was an anomaly probably due a typical case of “election year pork”.45
Whether the number will remain at that of its peak year is yet to see. In any case, coming
in the midst of economic slowdown, our hypothesis is that the administrative effort of regis‑
tering businesses – attributable to new practices at the AGT and witnessed in the coverage of
“INE registered businesses” – can better explain the increase than a growth in the real number
of businesses.
80 000
70 000
60 000
50 000
40 000
30 000
20 000
10 000
0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Acve businesses/Corporaons, Source INE Taxpayers type (2+5+7)
Source: CEIC, based on data from AGT and INE (National Institute of Statistic).
In summary, the tax reform has had a moderate and very recent success in registering the
universe of corporations (typeRELATÓRIO
5) in its taxECONÓMICO
base, with DE
theANGOLA 2016
figure for 2015 twice that of 2013, and
RI.2017.0000.01.01
three times higher than that of 2011. It has not had a similar increase in the expansion of its
base of individual taxpayers, neither as comparedDT_03nto the number of employed people, and far
2.ª prova
less to the number of adult citizens: it seems that more than 95 per cent of adult Angolans do
not pay tax.
25 maio 2017
Paulo Amorim
45
The national statistical office INE apparently failed to register the huge spike in the number of small
businesses (type 2) in 2012, the year of the general election. We assume that the explanation was the
creation of nearly 50,000 “micro‑businesses” registered at BUE (Balcão Único do Empreendedor) in
that year, a local office where individual “entrepreneurs” would register (and in the process receive a
taxpayer ID) in return for a small loan – the majority of which was, according to the authorities, never
recovered. http://www.redeangola.info/bue‑e‑angola‑investe‑longe‑dos‑objectivos/
50 |
Finally, can the expansion of the taxpayer base explain the high nominal growth of non‑oil
taxes? Largely it can, something that is clearly brought out by the following figure. It compares
the number of active taxpayers with the revenue from all income taxes (corporate, personal
and capital). For most of the period under analysis, the tax revenue grew in more or less a simi‑
lar pace as the tax base expanded. Only in 2014‑15 did the tax on income expand more rapidly
than the number of taxpayers. In other words, in that year, the tax burden clearly increased.
Otherwise, there is no clear evidence of an increased tax pressure.
600 700,0
500 600,0
Thousands of taxpayers
Billions of kwanzas
500,0
400
400,0
300
300,0
200
200,0
100 100,0
0 0,0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
What does a disaggregation of the term “non‑oil taxes” tell us? What kind of taxes contribu‑
ted more to the treasury? A breakdown of the revenue figures is necessary in order to drive the
analysis further. The detailed revenue figures are, unfortunately, only comparable until 2014.46
46
At the time of this study the disaggregated tax revenues were only available up to 2014
| 51
It is tempting to treat the disaggregated data as a proxy for the (tax) authority’s priorities, for ins‑
tance that the revenue line that increased most did so because of the tax administration’s (AGT’s)
deliberate measures. We should caution against such an interpretation, as not only the efforts of
the tax administration, but also many political actions and the general economic development will
influence revenue collection. A full analysis of those variables is beyond the scope of this chapter.
Let us start with year 2010 – the last year before the tax reform – and compare it with 2014,
the last year for which we have fully disaggregated data. The table below shows that corporate
taxes in 2014 accounted for about a third of the non‑oil tax revenue (up from about 27 per cent
in 2010) , and together with the consumption tax (20.4 per cent in 2014), it accounted for more
than half of the non‑oil tax revenue. Tax on personal income, however, accounted for merely
16.6 per cent in 2014 (up from 13.1 per cent in 2010). These observations are consistent with
the above proposition that the tax reformers gave priority to increasing the taxpayer base for
the constituency that already rendered the most revenue: The corporations and businesses
paying corporate tax. In contrast to the consumption tax, the revenue from these sources can
relatively easily be increased by expanding the taxpayer base.
One noteworthy figure is the property tax, which accounted for only 2.5 per cent of the
total in 2014 (up from 0.5 per cent in 2010), or 28 billion kwanza. In 2014 that corresponded
to approximately USD 250 million. A breakdown of the figures showed us that 90 per cent of
the property tax collected was the “tax on urban real‑estate” (imposto predial urbano), a tax
that was negligible until 2011. Importantly, the tax on urban real estate could form the basis
for a possible new local government tax regime when the Angolan authorities finally create the
autarquias – elected local governments with some fiscal autonomy. For a city like Luanda, the
revenue figure today is by far enough to sustain a municipality, but the potential is substantially
higher than what was collected in 2014.47
2010 2014
47
The property tax figure seems especially low. Some Angolans own urban property worth hundreds of
millions of dollars, and the total annual appreciation of property in Luanda around 2014 must have been
worth billions of dollars. There is considerable potential for the state to take back some of this value from pri‑
vate hands (particularly if considering that the appreciation would not have been possible without the state).
52 |
The previous table shows that after the introduction of the tax reform, the corporate tax
and the personal income tax were the two revenue sources that increased most in importance,
although the consumption tax still add more weight than the personal income tax (20 per cent).
The relative increase in the personal income tax is also quite low, meaning that lion’s share of
new nominal revenue during this period comes from taxes drawn from businesses and corpo‑
rations.
During the years 2010‑14, the nominal corporate tax revenue increased 232 per cent, while
the number of type 5 taxpayers increased by 192 per cent, but due to inflation this increase can‑
not be understood as an increase in the average tax burden on businesses. In 2010, businesses
(type 5) paid an average 29 million kwanza (ca. USD 290,000) in annual corporate tax, rising
to only 34 million in 2014. That average increase accounts for far less than the inflation. Thus,
there was no increase in tax burden on businesses in the period. However, the integration and
enrolment of many new businesses may be understood that the overall tax burden on the busi‑
ness sector increased. In other words, the increase in the number of businesses taxed was far
more important to the treasury than the amount extracted from each individual business. This,
however, are only average figures, which means that certain types of businesses and/or sectors
may have experienced either a tightening or an ease in the tax burden. The figures made avai‑
lable to us are not sufficiently detailed to determine that.
The following Figure shows us the importance of the corporate tax, as it generate almost
as much in revenues alone as the consumption and personal income taxes. Corporate tax also
appears to raise revenues more rapidly than other taxes.
400
350
300
250
200
150
100
50
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
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Relatorio_economico_2016_01a288.indd 53 6/6/17 6:02 PM
CEIC / UCAN
The period 2010‑14 covers the major part of the reform period. Assessing the revenue figu‑
res according to source, the following propositions can be suggested as resulting from the non‑
‑oil tax reform:
• Three taxes have increased in relative importance: Corporate, personal income and pro‑
perty tax. The increase in corporate tax revenues is by far the most salient.
• Despite much controversy around the tax on foreign trade after 2014, it actually decreased
in relative importance to the treasury.48
A clear tendency can be seen when examining these figures together with the size of the tax
base. It tells us about a tax reform that has succeeded more in taxing businesses than to draw
more individuals into the tax system.
• This has important implications for the future direction of the reform : drawing more peo‑
ple and businesses into the tax base and generating more fiscal revenues for the Treasury.
Conclusions
Although the percentage of non‑oil taxes to the total revenue of the treasury increased
substantially around 2012, and is now 42 per cent of the total, the tax reform period has not
resulted in reduced dependence on oil revenues. The drop in oil prices led to a dramatic overall
drop in government revenue, since the non‑oil taxes were not able to compensate for the redu‑
ced oil revenues. The importance of non‑oil taxes to the overall GDP remains roughly the same
today as in 2002. Therefore, the government of Angola has resorted to large‑scale borrowing
and major budget cuts after 2015.
Nevertheless, there has been a huge increase in nominal income. The increase in revenues
has taken place independently of the fluctuations in the overall growth of the economy and the
non‑oil economy itself. Thus, the expansion of the number of registered taxpayers administra‑
tive through administrative measures is the most important explanation for this development.
Indeed, the taxpayer base expanded steadily since 2002, with particular emphasis on corporate
taxpayers from around 2012.
• The relative disconnect between economic growth and the tax potential may be an impor‑
tant insight for policy makers. If one can increase revenue by expanding the tax base in
Angola, then one should not wait until economic growth has recovered. Furthermore,
our analysis provides little support to the argument that tax revenue can be increased
by so called “growth enhancing” fiscal stimuli (that is, tax holidays, etc.). It also gives less
reason for optimism for the “diversification” argument. There seems to be no automatic
link between “growth through diversification” and increased tax revenue. Only insofar as
48
The increased tax on foreign trade in 2014 was justified as a protectionist measure, not to increase
revenue.
54 |
diversification spurs more new businesses to be established that actually register and pay
revenue, will diversification lead to increased tax revenue.
• There is still some potential to make more businesses pay more taxes. Six percent of the
registered business in Angola are still not registered as taxpayers. Some of these could be
potentially significant contributors. Throughout the country, there are still a huge number
of small businesses linked to trade, agriculture and small crafts that operate in the “infor‑
mal economy”, meaning they are registered neither with INE nor as taxpayers with the AGT.
• There appears to be a large potential to increasing the number of individual taxpayers. More
than 10 million adult Angolans do not pay taxes. If only half of these could be taxed small
amounts from their income, it would generate a modest contribution to state coffers.49
There are more reasons to tax than just to create an instant increase in government inco‑
me. In a country like Angola, where more than 95 per cent of the adult citizens do not pay tax,
the citizenship effect – with the expected “fiscal contract” – would be of immense importance.
According to the above discussion, there seems to be some merit in making the tax admi‑
nistration concentrate on bringing businesses and people into the tax system, thus creating the
habits of paying taxes rather than to tighten the noose on existing businesses and taxpayers.
That, however, does not rule out the possibility that there is a vast untapped potential in taxing
rich individuals and businesses who today may be registered contribuintes, yet contribute far
less than their taxable capacity.
49
The poorest have almost no capacity, but perhaps a million more Angolans have a vast untapped
potential. For instance, if one million more people paid say, USD300 per year, it would bring another
USD 300,000,000 to the government coffers, which is quite significant in the Angolan context.
| 55
3. O SECTOR MONETÁRIO
3.1 Introdução
a) À supervisão bancária.
d) À coordenação com outras instituições públicas, com realce para o Ministério das Finanças.
56 |
b) Aumentos de capital de bancos angolanos em 2017, para adaptação das contas ao novo
regime de normas internacionais de contabilidade (IFRS).
c) USD 4000 Milhões – Necessidades de aumento de reservas dos cerca de 30 bancos ango‑
lanos, de acordo com analistas consultados pela agência Bloomberg. Risco de colapso
de bancos em Angola e Moçambique “elevado”, segundo consultora Exx Africa. Outros
países africanos com sectores bancários debilitados: Nigéria, Uganda, Quénia, Gana. “As
consequências da inação serão desastrosas… colapsos de bancos representam riscos de
contágio significativos para outros bancos, empresas públicas e sociedades privadas”,
segundo Robert Besseling, da Exx Africa (Bloomberg).
f) O FMI considera que o sistema bancário precisa ser reforçado para que possa contribuir
para a recuperação da economia e fomentar o crescimento inclusivo. Os esforços do BNA
de reforçar a regulação e supervisão bancária são acolhidos com agrado. Além disso, as
medidas iniciais tomadas para reestruturar e recapitalizar o BPC são positivas. “O BNA deve
manter os seus esforços para mitigar os factores determinantes e os riscos resultantes da
perda das relações com bancos correspondentes, que é um desafio que também está a
afectar muitos outros países. As acções do BNA devem ser centradas no reforço do diá‑
logo com os reguladores nacionais de origem dos bancos correspondentes, no reforço e
| 57
Declarações, em 2016, do Governador do BNA fazem recear o pior para o sistema bancário
angolano (“o sistema financeiro angolano está praticamente em ‘falência técnica’ por falta de
liquidez”).
Quando o CEIC apresentou e divulgou o seu Relatório Económico 2015, em 21 de Julho pas‑
sado, teve‑se o cuidado de dizer que o sistema bancário não estava bem e que a falência de um
qualquer banco (estando à frente o BPC – uma instituição sem regras de concessão de crédito,
ou seja, com favoritismos políticos inaceitáveis que geraram um elevadíssimo coeficiente de
inadimplência – e o BCI) teria consequências catastróficas. Nessa altura, choveram críticas no
sentido de que esta instituição de investigação era muito pessimista.
Afinal o Governador do BNA vem explicitamente e com ousadia reconhecer que afinal o sis‑
tema bancário angolano está em falência técnica, com alguns bancos absolutamente insolúveis,
não dispondo de capacidade de concessão de crédito e num ambiente internacional de grande
descredibilidade dos bancos angolanos. O Governador do BNA tem perfeita consciência desta
situação e tem andado preocupado em restaurar a confiança internacional do sistema bancário
angolano. Só que o Banco Central angolano não é autónomo, nem muito menos independente.
As directrizes sobre política monetária e cambial vêm de cima e o exercício da sua actividade –
que deveria ser em benefício da economia e dos cidadãos e da transparência e clareza de pro‑
cedimentos – está sujeita a jogos de interesse e a tráfico de influências.
Claro que não se pode deixar um sistema bancário falir. Portanto, tal como no caso do BPC,
do BCI e do BDA (e no passado recente, também no ex‑BESA), terá de ser o Estado o salvador,
mas à custa dos impostos dos cidadãos (classe média e pobres, pois a percentagem que os ricos
pagam é muito pequena) e sem se penalizar criminalmente os verdadeiros responsáveis por
esta situação – os inadimplentes, que se sabe quem são.
Que investidores estrangeiros virão investir em Angola nesta situação de quase falência téc‑
nica do sistema bancário? Que investidores estrangeiros virão investir no país com o índice geral
de confiança em patamares quase negativos, devido ao incumprimento de regras mínimas de
decência cambial e bancária? Provavelmente só os empresários chineses. Seguramente que
neste contexto alguns objectivos e muitas metas do OGE 2017 estarão, com certeza, em causa.
Pior que os factos individuais (falências ou intervenções salvadoras do Estado, sempre com
efeitos nefastos e contraproducentes sobre a economia e, em Angola, também com propósi‑
tos políticos de cobrir os erros gestionários e a corrupção generalizada nos bancos públicos) é
o conjunto e a sequência do processo que acabam por minar gravemente o activo financeiro
mais precioso, a confiança. A desconfiança em Angola é geral e as declarações oficiais que pre‑
tendem acalmar os espíritos são, quase sempre, desmentidas pelos factos. Com a agravante de
surgirem discordâncias entre algumas entidades reguladoras do sistema.
58 |
A falta de solvabilidade e de liquidez são duas doenças financeiras graves, mas uma é mais
profunda do que a outra. A liquidez é relacionada com a falta momentânea de capacidade
de pagamento – deficiente programação dos recebimentos, dificuldades de ressarcimento
de dívidas pelos clientes – e pode ser resolvida ou atenuada com a injecção de capital até
que a crise seja resolvida. A insolvabilidade é a incapacidade de cobertura de despesas indis‑
pensáveis com receitas da actividade bancária. Neste caso, injecções adicionais de fundos
são quase equivalentes à Lei de Greshan, pois correspondem a deitar‑se fora o bom dinheiro
(pelo menos enquanto se não proceder à reestruturação global e profunda do sistema finan‑
ceiro).
E é justamente desta refundação que se necessita em Angola, onde os bancos têm proble‑
mas de liquidez e de solvabilidade. A pensar‑se numa eventual nova era de crescimento – ainda
que de baixa intensidade, mas com mais segurança e consolidação e menos altos e baixos.
| 59
b) Estabilidade dos preços eleita como o objectivo central e fundamental da política mone‑
tária, sobretudo depois do advento do monetarismo de Milton Friedman e ainda hoje
considerado relevante. Este economista americano que um nível estável de preços
influenciava muito positivamente as transacções internas e internacionais e, derivada‑
mente, o crescimento económico. Do seu ponto de vista, o asseguramento deste objec‑
tivo exigia que, a curto prazo, o incremento da oferta de moeda não deveria ultrapassar
5% e a longo prazo 2%.
c) Controlo dos ciclos económicos, objectivo acrescentado aos anteriores a partir dos anos
30 do século passado, para o que as autoridades monetárias deviam expandir o crédi‑
to e baixar as taxas de juro, em situações de recessão e de abrandamento do ritmo de
crescimento do PIB, e adoptar comportamento oposto em fases de sobreaquecimento
da economia. Este propósito da política monetária não pode ser alcançado apenas por
intermédio do manuseamento isolado dos agregados monetários, apelando‑se a uma
combinação virtuosa com os instrumentos da política orçamental (ver parágrafo 3.4.
deste capítulo). Na actual situação de crise económica e financeira em Angola – coe‑
xistência de baixo (ou mesmo negativo) crescimento económico, elevado desemprego
(taxa de desemprego de longo prazo entre 23,6% (2010/2016) e 26% (2000/2021)), alta
taxa de inflação (43,7% em 2016), redução considerável das receitas em moeda externa
– a ampliação do crédito combinada com uma política orçamental expansionista, como
a que consta do OGE 2017 – pode desencadear efeitos contraditórios sobre a economia,
nomeadamente entre o controlo da inflação e o incremento da produção.
60 |
a) O problema dos atrasos (lags), relacionado com o facto da política monetária envol‑
ver frequentemente vários objectivos intermédios (não só dentro da política monetá‑
ria ela‑mesmo, mas igualmente em termos sequenciais na relação com outras políticas
económicas) que é preciso atingir sucessivamente até se chegar ao objectivo final. Pode,
entretanto, acontecer, que as autoridades se atrasem na identificação dos problemas (por
insuficiência/deficiência/atraso das estatísticas), e, por razões semelhantes, na tomada
de medidas, num processo de tentativas que é moroso.
Quanto aos canais de transmissão da política monetária – que importa conhecer e dominar
em nome da sua eficácia – são vários e diferentes, embora correlacionados.
a) Canal da taxa de juro, identificado há mais de 70 anos e que se apoia na visão tradicional
keynesiana da eficiência marginal do capital, na qual as despesas de investimento são
determinadas pela relação entre taxa de juro e eficiência marginal do capital (que é inver‑
sa, isto é, para valores elevados de eficiência marginal do capital correspondem baixas
taxas de juro).
b) Ainda dentro deste canal de transmissão: é a taxa de juro real e não a taxa de juro nomi‑
nal que afecta as decisões de investimento (e também as de consumo), donde a impor‑
tância do controlo dos preços (justamente dos objectivos da política monetária). O Banco
Nacional de Angola deve actuar sobre a taxa de juro nominal através da oferta de moeda:
sendo os preços rígidos, uma política monetária expansionista reduz a taxa de juro nomi‑
nal (e também a taxa de juro real) – o que acontece mesmo num contexto de expectativas
– e consequentemente o investimento. Só que, um excesso de moeda pode não combi‑
nar bem com a estabilidade de preços.
c) É a taxa de juro de longo prazo e não de curto prazo que tem mais impacto na despesa,
influenciando as decisões de investimento e de consumo. A taxa de juro de longo prazo
é uma média das taxas de juro de curto prazo esperadas no futuro: se o Banco Central
aumenta as taxas de juro de curto prazo e os agentes do mercado têm uma expectativa
de diminuição da taxa de juro de curto prazo no futuro, então a taxa de juro de longo
aumenta, mas menos do que a taxa de juro de curto prazo. Ou seja, as expectativas
dos agentes económicos (no caso precedente) funcionam como um facto correctivo para
baixo.
| 61
económicos a substituir moeda por capital físico, aumentando‑se o seu stock e diminuin‑
do‑se a sua taxa marginal de rendibilidade.
O comportamento dos principais agregados monetários está traduzido pelo gráfico seguinte
(as taxas de variação respeitam a variações em preços nominais das grandezas representadas).
%
50
40
30
20
10
0
-10
2011 2012 2013 2014 2015 2016
Moeda em circulação 20,9 17,8 12,7 23,2 12,1 11,8
Depósitos à ordem
moeda nacional 37,8 9,1 40,6 29,5 18,8 12,0
Depósitos a prazo
moeda nacional 42,4 17,8 19,0 29,7 7,8 12,0
Depósito em moeda
externa 34,0 2,6 -2,9 -3,3 6,4 12,0
Massa Monetária (M3) 37,2 4,9 14,1 16,2 11,8 12,0
Produto Interno Bruto 29,0 12,6 9,5 3,4 -1,1 27,7
Fonte: Fundo Monetário Internacional, Angola – Consultas 2016 ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro 2017.
De 2015 para 2016, o PIB nominal registou um aumento considerável – cerca de AKZ 3408
mil milhões – ao que, seguramente, não é alheia a elevada taxa de inflação de 2016.
62 |
%
40
35
30
25
20
15
10
5
0
-5
2011 2012 2013 2014 2015 2016
Massa Monetária (M3) 37,2 4,9 14,1 16,2 11,8 12,0
Produto Interno Bruto 29,0 12,6 9,5 3,4 -1,1 27,7
Fonte: Fundo Monetário Internacional, Angola – Consultas 2016 ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro 2017.
Fonte: Fundo Monetário Internacional, Angola – Consultas 2016 ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro 2017.
| 63
15 729
7580
Fonte: Fundo Monetário Internacional, Angola – Consultas 2016 ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro 2017.
Crédito líquido Governo Central ‑223 ‑446 ‑942 ‑666 69 352 1088
Crédito Governos Provinciais e Locais 10 1 1 2 0 0 0
Crédito ao Sector Privado 1532 1974 2451 2820 2852 3354 3769
Fonte: Fundo Monetário Internacional, Angola – Consultas 2016 ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro 2017.
64 |
De acordo com as Contas Nacionais, o sector financeiro – bancário e de seguros – tem apre‑
sentado um desempenho económico tal como se transcreve na tabela seguinte.
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
VAB (milhões USD) 1067,0 1537,8 1538,5 1489,4 1624,3 1314,9 1499,3 1630,1 1348,6 1924,0
Taxa real de
62,4 23,1 10,1 21,6 10,9 11,3 0,0 0,0 0,0 13,5
variação (%)
Emprego 11 489,0 14 138,0 15 561,0 18 925,0 20 994,0 23 357,0 23 357,0 23 357,0 23 357,0 23 357,0
Produtividade
92 867,8 108 769,5 98 869,7 78 699,8 77 370,9 56 297,3 64 192,3 69 791,5 57 740,4 76 761,5
(USD)
Ganhos de
‑32,6 12,0 18,0 ‑15,9 ‑6,9 ‑9,7 ‑3,4 ‑11,3 31,6 9,6
produtividade (%)
Salário mensal (KZ) 25 664 42 223 51 323 66 478 77 596 102 448 0 0 0 0
PIBe/PIB (%) 1,4 1,6 2,9 2,1 2,8 3,5 3,7 3,9 4,1 2
Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre Produtividade e Emprego” com base em dados oficiais.
a) O seu Valor Agregado tem sido, em média anual entre 2007 e 2016, de cerca de 1500
milhões de dólares, inferior a todos os mais relevantes sectores da economia angolana,
como a agricultura, manufactura, construção, transportes, petróleo e derivados. A sua
capitação em 2016 foi de apenas USD 71 por habitante.
b) O peso relativo médio do sector financeiro no Produto Interno Bruto é de 2,8%, donde
se tratar de uma actividade ainda em processo de consolidação e desenvolvimento. Em
2016 a sua representatividade baixou para 2% como consequência da presente crise eco‑
nómica.
d) Em 2016, de acordo com as Contas Nacionais, a taxa real de crescimento foi de 13,5% em
manifesto contraciclo com a actividade económica geral que regrediu ‑3,6%.
| 65
A política orçamental e a política monetária são as duas mais importantes políticas de esta‑
bilização macroeconómica que qualquer país utiliza com o propósito de controlar os preços,
fomentar o emprego e estimular o crescimento económico. Afinal, os pontos mais essenciais da
função orçamental de estabilidade contida nos Orçamentos de Estado de todas as economias
de mercado e países de democracias reais e efectivas. A garantia dos seus propósitos passa, ine‑
vitavelmente, por uma articulação entre as variáveis orçamentais e os agregados monetários,
mitigando‑se as relações contraditórias ou antinómicas que necessariamente se estabelecem
no decurso da execução das políticas públicas.
Depois da euforia neokeynesiana – que durou entre finais da década de 40 até sensivelmen‑
te meados da década de 70 do século passado e que ficou conhecida como os “gloriosos 30” –
que foi claramente favorável à utilização da política orçamental como estabilizadora da procura
e após a desilusão na utilização persistente dessa política – revelada através do aparecimento
dos fenómenos de “estagflação” e das contundentes críticas clássico‑monetaristas subscritas
por Milton Friedman (1980) e neoclássicas de Robert Lucas (1990) –, será que a teoria económi‑
ca das Finanças Públicas ficará circunscrita às áreas de eficiência na utilização dos recursos finan‑
ceiros do Estado e, subsidiariamente, à correcção da repartição dos rendimentos e da riqueza?
Robert Solow, num artigo publicado em 1973, procurou desmontar esta tese. Sustentado
num modelo IS‑LM, demonstrou que se uma economia está estabilizada e com um défice finan‑
ciado por endividamento – e não por criação monetária – então a política orçamental apresen‑
ta um elevado grau de efectividade. No entanto, concorda com Friedman‑Lucas no sentido dos
défices serem perversos sobre o rendimento (ou o nível geral de actividade económica) se a
opção de financiamento (endividamento, aumento de impostos, diminuição de certos gastos
públicos) afectar a despesa privada. De acordo com Solow conclusões definitivas só por inter‑
médio de estudos empíricos, que, entretanto, elaborou para concluir por uma efectiva utilidade
da política orçamental de estabilização.
Mais recentemente, e desta vez sozinho, Robert Solow voltou a “reincidir” no tema, colo‑
cando as questões seguintes:
• Só a política monetária pode ser eficaz, funcionando a política orçamental como subsidiá‑
ria ou complementar?
66 |
• As despesas públicas (política orçamental) e as receitas públicas (política fiscal) só devem
ser utilizadas para garantir uma certa afectação de recursos e melhorar a distribuição de
rendimentos e riqueza?
• Será que é impossível utilizar bem a política orçamental ou tal política é pura e simples‑
mente inútil?
Para responder a estas questões Solow passou em revista, na sua comunicação ao Congres‑
so de Lisboa, as posições de economistas como Richard Musgrave e os mecanismos da função
orçamental de estabilização, Robert Lucas e a sua teoria dos ciclos de negócios e dos ciclos eco‑
nómicos reais e Robert Barro quanto à sua proposta da “equivalência ricardiana” sobre a neu‑
tralidade do financiamento das despesas orçamentais com mais impostos ou criação de dívida
pública.
Solow problematizou essas teses, correlacionou‑as e acabou por concluir pela existência
de mais‑valias da política orçamental, enquanto instrumento de atenuação de desequilíbrios
macroeconómicos, em particular quanto aos conhecidos estabilizadores automáticos. A invo‑
cação destes estabilizadores tem particularmente que ver com a existência de time‑lags na apli‑
cação da política orçamental, muito mais atrasada do que, por exemplo, a política monetária,
cujos instrumentos são muito mais automáticos no desencadeamento dos efeitos desejados:
“políticas orçamentais atrasadas, ou excessivamente antecipadas ou até erráticas, podem facil‑
mente tornar‑se perversas”, segundo o seu ponto de vista. É, no fundo, este desfasamento de
resultados que faz com que seja dada prioridade à política monetária, que não tendo os “time
lags internos” da política orçamental, permite uma acção mais rápida, embora mais problemá‑
tica, sobre a procura agregada.
É claro que existem limites para os estabilizadores automáticos, vindo‑se a constatar perda
da sua eficiência. No entanto, Solow recomenda um mix entre os estabilizadores automáticos
e medidas discricionárias.
Partindo das polémicas acontecidas nos anos 80 e 90 sobre a eficácia das políticas orça‑
mentais para estimular a actividade económica, Solow e Alan Blinder tentam identificar as cir‑
cunstâncias em que elas foram ou relativamente eficazes ou relativamente ineficazes. Nesta
perspectiva estão considerados os efeitos resultantes de aumentos das despesas públicas e
de reduções de impostos, calculados através dos respectivos multiplicadores. Mas também se
contemplam os casos em que contracções orçamentais foram expansionistas sobre a actividade
económica e que condizem com valores negativos dos correlativos multiplicadores.
| 67
• Depois, dos valores dos multiplicadores dos gastos públicos e das transferências.
• Depois ainda, das elasticidades dos gastos públicos relativamente ao Produto Interno
Bruto.
De que modo, os efeitos das políticas orçamental e fiscal se relacionam com o tempo? De
acordo com Solow, os efeitos multiplicadores orçamentais são, sobretudo, visíveis no curto
prazo, perdendo impacto ao longo do tempo, enquanto os efeitos multiplicadores fiscais veri‑
ficam‑se principalmente no longo prazo, embora possam surgir consequências logo no curto
prazo devido às expectativas que podem gerar nas decisões dos agentes económicos.
Outras preocupações expostas por Solow e Blinder prendem‑se com a não neutralidade do
nível de desenvolvimento económico dos países a que se dirigem as políticas orçamentais e
com aspectos institucionais da política orçamental:
• O enquadramento político‑constitucional.
Outra questão de relevância é: quando é que há resultados positivos ou nefastos das polí‑
ticas orçamentais?
68 |
• A dívida pública for baixa e o Governo não sofrer constrangimentos no seu financiamento: uma
dívida pública elevada tende a coagir a política orçamental a ser mais restritiva e logo a limitar
acréscimos da despesa pública. No mesmo sentido actuam as dificuldades de financiamento.
• Não existirem pressões inflacionistas: é evidente esta restrição e já foi mais atrás subli‑
nhada, no sentido de que aumentos das despesas públicas contribuírem ainda mais para
a espiral inflacionista. Por isso é que uma política orçamental com efectividade económica
só ser recomendada num estado de estabilidade.
• Surge o risco de não sustentabilidade da dívida pública, o que pode levar o Governo por
uma política orçamental restritiva.
• Medidas expansionistas gerarem incertezas quanto ao futuro, com efeitos negativos nas
decisões dos agentes privados, quer quanto a consumo, quer no concernente a projectos
de investimento.
Por sua vez, da literatura sobre estudos empíricos apresentada pelos autores, as conclusões
seguintes merecem realce:
• É muito difícil calcular com rigor os efeitos de crowding out, mesmo quando se sabe que
eles ocorrem.
• A política orçamental é mais efectiva quando o PIB está a ser afectado do lado da procura:
do lado da oferta é a política fiscal a mais actuante (supply side effects).
| 69
O INE, ainda que com algum atraso, publicou duas Folhas Informativas sobre as Contas
Nacionais de 2015 (preliminar) e 2016 (provisória), com dados actualizados desde 2002 até
2015. São Folhas incompletas, pois as informações aí contidas não têm a mesma dimensão
e profundidade da apresentada nas publicações do Instituto denominadas Contas Nacionais
2002‑2010 (Julho de 2013) e Contas Nacionais 2007‑2012 (Outubro de 2014).
CN Folha informativa 2015 0,5 4,7 3,5 8,5 5,0 4,1 0,9
CN 2007‑2012 (Outubro 2014) 2,1 3,6 1,9 7,6 ‑ ‑ ‑
CN 2002‑2010 (Julho 2013) 2,1 3,6 ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
Diferenças (pp) ‑1,6 1,1 1,6 0,9 ‑ ‑ ‑
70 |
Perante esta situação, cabe questionar se as taxas anuais de crescimento do PIB publicadas nas
Folhas Informativas (Preliminar de 2015 e relativas a 2009, 2010, 2011 e 2012) são, a partir de
agora, as definitivas.
As Contas Nacionais devem ser a fotografia real da economia, de modo a inspirarem con‑
fiança para as decisões de investimento empresariais, evitando‑se erros, que podem ser fatais,
para as unidades de produção ao falharem na sua percepção de evolução tendencial da eco‑
nomia. O processo de ajustamento e correcção dos valores dos agregados macroeconómicos
– inerentes à construção da contabilidade nacional – tem de ter um fim, não sendo compreen‑
sível que cifras de 2009, por exemplo, sejam corrigidas em 2015, em proporções expressivas
(quase dois pontos percentuais).
Já por algumas vezes, nos Relatórios Económicos de há dois anos, se escrevia não se com‑
preender a razão por que o Governo, nos seus exercícios de programação da política econó‑
mica, não usa os dados das Contas Nacionais, parecendo haver, no domínio macroeconómico,
duas contabilidades, a do INE/CN e a dos Ministérios responsáveis pela elaboração da sua polí‑
tica económica. As discrepâncias chegam a ser muito relevantes, como se constata na tabela
seguinte, onde as informações referentes ao Governo foram retiradas dos diferentes Relatórios
de Fundamentação do OGE.
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
PIB CN 3,0 10,9 15,0 11,5 13,9 11,2 0,5 4,7 3,5 8,5 5,0 4,1 0,9
PIB Governo 3,4 11,7 20,6 18,6 23,3 13,8 2,4 3,4 3,4 5,2 6,8 4,8 3,0
Diferenças (pp) 0,4 0,6 4,4 7,1 6,3 2,6 1,9 ‑1,3 ‑0,1 ‑3,3 1,8 0,7 ‑2,1
| 71
A – Óptica da produção
Produto Interno Bruto 7 701 651 10 500 942 12 224 950 13 195 004 14 323 859 13 824 174
Produção 12 171 798 16 062 289 18 593 757 20 562 373 21 361 804 20 529 998
Subsídios aos produtos (‑) 211 196 257 891 482 048 552 903 354 303 224 398
Consumo intermédio (‑) 4 553 803 5 613 856 6 202 823 7 188 395 7 114 232 6 966 195
B – Óptica da despesa
Produto Interno Bruto 7 701 651 10 500 942 12 224 950 13 195 004 14 323 859 13 824 174
Consumo final 4 069 560 5 483 409 6 510 062 7 808 116 8 944 162 9 524 252
Despesa de consumo das famílias 2 757 018 3 568 472 4 328 809 4 955 099 6 369 354 7 231 824
Despesa de consumo da
1 312 542 1 914 937 2 181 253 2 853 017 2 574 808 2 292 428
administração pública
Formação bruta de capital 2 171 659 2 774 806 3 260 098 3 449 566 3 939 127 4 771 347
Formação bruta de capital fixo 2 174 677 2 771 451 3 261 719 3 451 615 3 936 026 3 935 322
Variação de existência (‑) 3018 3355 (‑) 1621 (‑) 2049 3101 836 025
Exportação de bens e serviços 4 739 836 6 370 916 6 838 653 6 696 080 6 402 053 4 150 853
Importação de bens e serviços (‑) 3 279 403 4 128 189 4 383 863 4 758 758 4 961 483 4 622 278
C – Óptica do rendimento
Produto Interno Bruto 7 701 651 10 500 942 12 224 950 13 195 004 14 323 859 13 824 174
Remuneração dos empregados 1 819 917 2 395 047 2 760 020 2 910 922 3 044 949 3 507 702
72 |
Algumas observações:
3) As exportações de bens e serviços estão a diminuir significativamente, desde 2012, com
um acumulado de ‑39,3%.
4) As despesas de consumo da Administração Pública (onde são incluídos os salários e outras
remunerações dos servidores civis e militares do Estado) – que em certas circunstâncias
(boa gestão e eficiência das mesmas) – pode ter um papel de aceleração do crescimento
de curto prazo, diminuíram 19,7% entre 2013 e 2015.
Segundo algumas estimativas para 2016, a situação económica piorou, com uma taxa de
variação real do PIB de apenas 0,1%, devendo, contudo, esperar‑se pelas Contas Nacionais para
se saber se na verdade foi assim.
50
Michael Todaro and Stephen Smith – Economic Development, Pearson Education Limited, Eighth
Edition, 2003.
| 73
cresce (por exemplo, o peso percentual do sector de serviços – bancos, seguros, telecomunica‑
ções, transportes, armazenagem, intermediação financeira, cultura e duma maneira geral todos
os relacionados com o lazer –, vai aumentando, correspondendo à passagem para o consumo
de bens imateriais, próprios de sociedades e economias modernas e desenvolvidas).
Sectores de actividade 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2015 2016
Agricultura, pecuária,
649,4 1080,0 1893,5 2996,0 3839,3 4556,1 6122,2 5402,6 4810,0
florestas
Pescas 290,0 389,1 834,0 1334,5 1166,7 1211,1 1606,5 1632,0 2886,0
Petróleo e gás 7092,7 9738,8 23 765,8 43 924,0 35 977,1 53 278,0 46 045,8 30 498,0 34 632,1
Diamantes e outros 406,9 575,4 849,7 866,1 777,8 726,7 1241,0 2550,0 1924,0
Indústria
588,8 1098,9 1898,7 3119,8 3342,9 4694,6 5690,6 8772,0 5772,0
transformadora
Electricidade 62,2 132,1 430,1 494,9 695,1 1338,0 1122,7 1122,0 962,0
Construção 869,6 1282,8 3603,4 5912,5 7273,2 10 692,5 14 457,9 11 016,0 9620,0
Comércio 1704,2 2881,6 4925,2 7927,5 7215,3 5801,9 7160,5 5924,1 12 506,0
Transportes e
292,0 433,9 917,9 2112,2 1754,2 2226,2 2668,6 2207,8 1924,0
armazenagem
Correios e
161,2 191,0 744,8 1422,9 1712,8 4037,1 5036,1 4166,5 1924,0
telecomunicações
Bancos e seguros 293,6 410,3 729,1 1537,8 1489,4 1314,9 1630,1 1348,6 1924,0
Estado 1428,1 2268,5 4526,6 8502,2 8861,9 13 760,7 24 130,1 17 819,4 6734,0
Serviços imobiliários 939,8 1473,8 2218,7 3331,9 3574,5 5190,5 7091,4 5866,9 4810,0
Outros serviços 1281,3 1811,0 5475,7 6124,6 6354,7 7935,8 5341,8 4419,4 5772,0
Ajustamentos -103,7 -186,3 -361,9 -1228,5 -1290,8 -1453,4 1422,8 0,0 0,0
ANGOLA 15 956,5 23 580,7 52 451,6 88 378,3 82 744,1 115 345,3 129 342,1 102 000,0 96 200,3
Fonte: Diferentes documentos oficiais: Relatórios de Fundamentação do OGE, Contas Nacionais e Relatórios de Balanço. Fundo Monetário Inter‑
nacional, Angola – Consultas ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro de 2017. INE – Nota de Imprensa, Produto Interno Bruto, IV Trimestre de 2016.
74 |
Média Média
Sectores de actividade 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
03/15 03/16
Agricultura, pecuária, florestas 11,8 6,9 6,0 4,8 23,7 8,0 8,7 0,0 8,1
Pescas 1,2 15,0 9,7 2,4 21,8 14,2 9,4 8,7 9,4
Petróleo e gás -2,4 -5,2 8,5 -0,9 -2,5 11,3 6,5 -2,3 5,9
Diamantes e outros -7,2 3,4 -2,1 4,1 0,7 6,5 5,2 0,6 4,8
Indústria transformadora 9,6 9,1 9,6 7,7 2,3 -1,1 6,7 -2,3 6,0
Electricidade 9,8 3,8 10,3 25,3 3,6 10,6 13,2 14,5 13,3
Construção 12,6 8,4 23,9 16,1 4,1 -2,2 12,9 -2,8 11,8
Comércio 8,5 8,8 7,0 5,6 13,3 4,0 8,0 -0,4 7,4
Transportes e armazenagem 9,6 11,3 10,6 5,8 12.3 14,2 8,6 -32,0 6,6
Correios e telecomunicações 6,6 80,3 5,5 18,0 8,8 8,3 14,3 11,4 14,1
Bancos e seguros 2,3 3,3 0,4 -3,4 -11,3 31,6 7,6 9,6 7,7
Estado 2,8 6,6 3,1 9,4 9,8 -7,0 6,7 -16,2 5,1
Serviços imobiliários 6,0 5,5 20,6 3,0 -3,5 0,4 7,5 2,8 7,2
Outros serviços 10,0 7,4 0,5 10,8 -2,2 -18,9 3,6 -4,9 3,0
ANGOLA 4,7 3,5 8,5 5,0 4,1 0,9 7,2 -3,6 6,5
Fonte: Diferentes documentos oficiais: Relatórios de Fundamentação do OGE, Contas Nacionais e Relatórios de Balanço. Fundo Monetário
Internacional, Angola – Consultas ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro de 2017. INE – Nota de Imprensa, Produto Interno Bruto, IV Trimestre
de 2016.
51
Causas, consequências e políticas de recuperação podem ser consultadas no Relatório Energia em
Angola, 2016, do CEIC, lançado no dia 5 de Abril de 2017.
| 75
Como mais adiante se refere, a indústria transformadora exerce um efeito económico pola‑
rizador muito importante, pelos laços a montante e a jusante que cria no processo de adensa‑
mento da malha de relações intersectoriais. E este adensamento é determinante para a redução
dos custos económicos das actividades industriais e agrícolas, bem como para a criação de uma
competitividade estrutural – para lá das pautas aduaneiras, que distorcem a eficiência na afec‑
tação dos recursos escassos –, indispensável para a inserção de Angola nas economias abertas
de todo o mundo.
Por grandes períodos de tempo, tal como se mostra no gráfico seguinte, o ano de 2008 é o
marco que divide duas épocas: 2002/2008 com 5 anos de crescimento médio anual do PIB de
10,2% (12,8% para o PIB não petrolífero). Como o CEIC tem vindo a demonstrar, tais dinâmi‑
cas não voltarão a ocorrer até 2021, mesmo que algumas das reformas estruturais de mercado
sejam feitas. É que todas as medidas de política económica têm um tempo de maturação, des‑
dobrado no lag de reconhecimento, no lag administrativo e no lag de resposta52.
20,0
15,0
10,0
5,0
16
0,0 20
02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15
20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20
–5,0
DT_04
76 |
2.ª prova
Relatorio_economico_2016_01a288.indd 76
25 maio 2017 6/6/17 6:02 PM
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
A política económica, na sua generalidade, foi passiva, aguardando que o preço do principal
produto de exportação retomasse os níveis de antes de 2008, o que acabou por acontecer em
2011 (USD 111,3), 2012 (USD 111,7) e 2013 (USD 108,8). Não obstante isso, à economia ango‑
lana começaram a faltar outros fundamentos para que as taxas de crescimento do PIB do perío‑
do dourado fossem recuperadas. Isto mostra que deixou de ser suficiente – embora ainda seja
necessário – o preço e a produção de petróleo.
Os tremendos investimentos no sector da energia – Angola acaba por deter das melhores
condições infra‑estruturais de energia na África Subsariana, podendo tornar‑se, a médio prazo,
um exportador líquido deste produto/serviço para a região da SADC mais vizinha de Angola –
ainda não começaram a dar os esperados frutos, continuando muitas actividades económicas,
com destaque para a indústria transformadora, mineira e o fornecimento de serviços variados
(o turismo, para o desenvolvimento do qual o país tem vantagens comparativas naturais) ainda
a dependerem muito mais de geradores, do que da electricidade da rede nacional.
Algum dia as contas da eficiência dos investimentos públicos vão ter de ser apresentadas,
por um lado, como justificação dos impostos pagos pelos contribuintes (pessoas singulares e
colectivas) e, por outro, como modelo para se definirem, duma forma racional (e transparente),
as prioridades do Estado em matéria das suas escolhas públicas. A percepção geral é a de que
os índices de eficiência dos investimentos públicos são baixos e que as prioridades são defini‑
das mais por influências políticas (geridas e absorvidas pelo Partido da governação), do que por
critérios de racionalidade, que estão disponíveis na Teoria das Escolhas Públicas.
| 77
12,8
10,2
7,5
6,9
5,1 4,8
4,1
3,0
PIB PIBnp
53
Ou seja, com garantias de sustentabilidade e com margens de manobra para os casos da ocorrência
de alguns desvios dessa rota. A Ciência Económica e a Política Económica dedicam capítulos das suas
matérias a estas condições de segurança temporal do crescimento económico.
78 |
A política do Governo tem tomado algumas iniciativas meritórias tendentes a alterar este
quadro de referência desfavorável, mas sem o sucesso esperado e desejado pela população e
pelos empresários. A imagem externa do país é de desconfiança para os potenciais investidores
estrangeiros, os riscos continuam a ser grandes – apesar da estabilidade política existente –, os
ambientes de negócios ainda enfermam de muita burocracia, corrupção, tráfico de influências e
demoras várias na obtenção de documentos e registos indispensáveis para a montagem de um
negócio e a dinâmica de crescimento diminuiu consideravelmente.
A consequência mais visível de todas estas insuficiências está no ritmo das transformações
estruturais, conforme se pode apreciar através do gráfico seguinte.
TRANSFORMAÇÕES ESTRUTURAIS
60
Peso relavo no PIB (%)
50
40
30
20
10
0
Agricultultura, Petróleo e Indústria
pecuária Construção Serviços
e florestas gás transformadora
2002 4 44 4 5 38
2013 4 38 4 10 40
2015 5 30 6 9 46
2016 6 38 6 9 55
Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudo e análise da eficiência da produção nacional”, com base em informações oficiais.
nem pela agricultura, nem pela indústria transformadora. Os serviços acabaram por aproveitar
DT_06
o espaço vagado pelo petróleo e gás, tornando‑se
2.ª prova hoje no mais importante sector da economia
nacional.
25 maio 2017
Paulo Amorim
54
Existem dúvidas sobre este valor (INE – Nota de Imprensa, Produto Interno Bruto – IV Trimestre
de 2016), pois outras fontes oficiais apontam para 18,9%, resultante de um PIB petrolífero de AKZ
3149,2 mil milhões e de um PIB de AKZ 16662,3 mil milhões. Para além do mais, a acreditar no valor
de 38%, então as opiniões oficiais (MPLA e Governo) de que a diversificação está a acontecer – porque
o peso relativo do sector petrolífero, latu sensu, está a diminuir – caem por terra. Como se tem escrito
neste Relatório, que não apresenta nesta edição de 2016 (pelas razões explicadas na Introdução) o
capítulo sobre a diversificação da economia, este fenómeno é complexo, exige tempo, investimentos
colossais e políticas económicas bem definidas e melhor aplicadas, para que na realidade aconteça.
| 79
O Relatório de Balanço das Actividades do Governo 2013‑2016 (uma antecipação, por razões
eleitorais, do balanço final do Plano Nacional de Desenvolvimento 2013‑2017) pontualiza o que
nesse período foi feito quanto à diversificação da economia, embora seja completamente
omisso quanto a indicadores estatísticos ilustrativos da situação.
c) Em curso, o processo de criação de uma Unidade Técnica de Apoio à Diversificação (UTAD).
80 |
j) Elaborado o estudo do sector das pescas (maricultura, aquicultura, peixe fresco, peixe
seco e salinas).
| 81
v) Em curso as acções para assegurar o fomento e a instalação dos pólos agro‑industriais de
Capanda, Cubal, Longa, Quizenga, Pedras Negras e Camabatela (MINAGRI e MIND).
y) Financiamentos com bonificação de juros: BMA (157), BCI (60), BFA (60), BAI (52), BIC
(45), BPC (31), BCGTA (22), BE (18), Sol (14), Keve (10), BANC (6), BNI (3), Finibanco (2) e
Standard (1). Emitidas 374 garantias de crédito, num total de AKZ 56 mil milhões.
aa) Suporte ao empreendedor: emitidos 602 certificados, até ao ano de 2016, totalizando
12 638 empresas certificadas; realizadas 2411 acções de formação; oferta de consultoria
do INAPEM com 510 estudos de viabilidade económico‑financeira.
bb) Quanto à desburocratização dos processos: publicado o Modelo dos pactos sociais de
constituição de sociedades comerciais e o Modelo de constituição imediata, presencial
e online; finalizado pelo MINJUDH os regulamentos da lei da simplificação; aprovado o
Modelo dos pactos de constituição de sociedades comerciais; publicado o diploma de
simplificação do licenciamento dos construtores, projectistas e fiscais de obras; finaliza‑
da a sistematização das propostas do licenciamento de obras e obtenção de alvarás de
obras, assim como o benchmark internacional sobre obtenção de alvarás de transpor‑
tes; concluída a revisão das propostas de regulamento da Lei da Simplificação; concluído
o Decreto Presidencial para o licenciamento de actividades de projectistas e fiscais de
obras; realizado o diagnóstico do processo de obtenção de vistos de trabalho e realizados
encontros com a equipa do relatório Doing Business do Banco Mundial; enviado ao Banco
Mundial um memorando a reportar as reformas realizadas pelo Executivo, com vista a
melhorar o ambiente de negócios; elaborado o Plano de acção para implementação da
Lei da Simplificação dos Procedimentos para a Constituição de Sociedades Comerciais;
publicadas as Leis de Redução dos Encargos Legais (Lei n.º 16/14) e da Simplificação (Lei
n.º 11/15), que elimina quatro procedimentos no processo de constituição de empresas.
82 |
cc) No domínio da monitorização dos benefícios fiscais para as MPME: prosseguida a divul‑
gação dos benefícios fiscais, sendo que foram contactadas, via e‑mail, 401 empresas
certificadas pelo INAPEM; reiterada a necessidade de isenção do Imposto de Selo para
as Microempresas; prosseguido o processo de monitorização dos benefícios fiscais, de
modo aferir o seu conhecimento e respectivo acesso pelas MPME's; elaborada a propos‑
ta de procedimentos para a atribuição às MPME de cada um dos benefícios fiscais previs‑
tos na Lei 30/11; Elaborado o documento relativo à isenção de emolumentos e encargos
legais no aumento de capital pelas MPME.
dd) No domínio da monitorização da aplicação dos apoios institucionais: em curso as acções
para a operacionalização dos Apoios Institucionais do Tipo B, em parceria com Serviço
Nacional de Contratação Pública; elaborada a proposta para a alteração da metodologia
de cálculo dos Apoios Institucionais do tipo A, de modo a que os resultados apurados
reflictam de forma mais apurada a execução orçamental; publicado o Decreto Executi‑
vo Conjunto do Ministério da Economia e do Ministério das Finanças referente aos pro‑
cedimentos do processo de Apoios Institucionais às MPME; concluídos os trabalhos de
adequação do SIGFE, pelo MINFIN, para que emita relatórios do cumprimento das obri‑
gações, no âmbito dos Apoios Institucionais.
ff) Sobre a dinamização dos Sectores Bandeira: elaborado o plano integrado de dinamização
do sector do leite com o MINAGRI; efectuado o acompanhamento dos projectos financia‑
dos ao abrigo do Programa Angola Investe; realizado o workshop de formação sobre os
frangos & ovos; realizado o 2.º encontro, com o Ministério da Indústria, para a dinamiza‑
ção do sector das confecções; definidos 3 sectores de bandeira prioritários: os lacticínios,
ovos & frangos, modas e confecções de tecidos; inserida proposta de subvenção da pro‑
dução leiteira no estudo da viabilidade do sector do leite; concluído o Plano de Fomento
das Confecções.
gg) Para incentivar o consumo da produção nacional: aprovadas 90 empresas num total
de 865 produtos; realizado inquérito aos aderentes sobre a utilização do selo Feito em
| 83
hh) Relativamente à dinamização dos pólos industriais, agro‑industriais e das Zonas Econó‑
micas Especiais: em análise as propostas de criação de ZEE no Cunene e Cabinda; apro‑
vada a proposta de Decreto Legislativo Presidencial que define o regime geral das ZEE,
bem como o Plano de Acção para a privatização das unidades industriais da SIIND; trans‑
ferida a tutela da ZEE para o Ministério da Indústria; em curso o Plano de Acção para a
capacitação e operacionalização das atribuições do Instituto de Fomento Empresarial
como supervisor das ZEE, em linha com o Regime Geral”.
A realidade, porém, é esta: a despeito de todas estas medidas a economia nacional entrou
em desaceleração justamente depois de 2012, com uma queda abrupta em 2015 e 2016, em
que a variação média real da actividade económica foi negativa e estimada em ‑1,35%.
Conforme o gráfico anterior sobre as alterações estruturais mostra, os dois mais importan‑
tes sectores para a diversificação – a agricultura (com pecuária e florestas) e a indústria trans‑
formadora – mantêm praticamente inalterado o seu peso relativo no PIB (uma média de 4,7%
entre 2002 e 2016, para qualquer um deles), ilustrativo das dificuldades em se promover o seu
arranque em direcção a uma estrutura produtiva mais alargada e densificada.
84 |
continuação
Alguns dos sectores económicos considerados como drivers da diversificação, não conse‑
guem assumir este papel, quedando‑se as suas contribuições para o crescimento do PIB em
cifras irrisórias.
6,00
5,00
Pontos percentuais
4,00
3,00
2,00
1,00
0,00
-1,00
-2,00
2004 2006 2008 2010 2012 2014 2015 2016
Agricultura, pecuária
e florestas 0,44 0,48 0,21 0,55 0,24 1,12 0,42 0,000
Petróleo e gás 5,73 5,92 5,10 -1,04 3,93 -0,89 3,39 -0,83
Indústria transformadora 0,77 0,24 0,21 0,388 0,389 0,10 -0,09 -0,14
Construção 1,31 0,80 0,60 1,11 2,22 0,46 -0,24 -0,28
DT_07
| 85
2.ª prova
%
16,0
14,0 13,6
12,0 11,2
10,2 10,6
10,0
8,0
6,0 5,1 5,4
4,1
4,0 3,0
2,0
0,0
1998/2016 1998/2001 2002/2008 2009/2016
55
Alves da Rocha – “A Energia é um factor de competitividade da economia nacional”, Semanário
Expansão, 7 de Abril de 2017.
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
RI.2017.0000.01.01
86 |
DT_08
2.ª prova
Relatorio_economico_2016_01a288.indd 86 6/6/17 6:02 PM
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
Vale ainda a pena voltar à questão da inconsistência das informações estatísticas oficiais,
tomado como ilustrativo a indústria transformadora, de resto já anteriormente destacado.
A visualização gráfica das suas dinâmicas de crescimento, na base de dados oficiais, apresenta
o desenho seguinte:
50,0
44,15
40,0
Taxas de crescimento (%)
30,0
20,0
9,6 9,6
10,0
7,0 7,7
5,9
2,0 2,3
0,0 -1,1 -2,3
2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018
10,0
Anos
Fonte: CEIC, Ficheiro “Índice do PIB”.
56
Governo de Angola – Linhas Mestras para a Definição de uma Estratégia para a Saída da Crise Deri-
vada da Queda do Preço do Petróleo no Mercado Internacional, Janeiro de 2016.
| 87
que sim, mas o balanço oficial da diversificação mostra que as medidas tomadas entre 2013 e
2016 ainda não produziram resultados estruturantes sobre o tecido produtivo nacional e em
particular incidindo sobre a indústria de transformação nacional.
88 |
Agricultura
O mesmo Relatório de Balanço das Actividades do Governo em 2016 faz saber que o
número de explorações agrícolas do tipo empresarial (EAE) é de 12 892, exactamente o
mesmo número de 2014. Por ser razoável imaginar que ao longo dos últimos anos surgi‑
ram novas empresas e devem ter colapsado outras, estamos perante mais uma cifra sem
credibilidade. De todo o modo, não parece racional incluir no mesmo grupo empresas tão
diferentes entre si em termos de dimensão física e de volume de negócios, bem como de
capacidade técnica e financeira, como se referiu no Relatório Económico de 2015. Não há
comparação, por exemplo, entre a BIOCOM ou a Nova Agrolíder, com milhares de trabalha‑
dores e muitas dezenas de técnicos, na maioria expatriados, com pequenas fazendas cujo
rendimento bruto não chega ao equivalente a dez mil dólares anuais. Daí a necessidade
imperiosa de catalogação de micro, pequenas, médias e grandes empresas nos termos da lei
já proposta pelo CEIC.
| 89
Todavia, este problema não se esgota aqui. É conhecida a grande diversidade entre as explo‑
rações agrícolas, quer as que entram na categoria de empresas (ver Relatório Económico de
2015, para além do que se disse atrás), quer as que se enquadram nas familiares, estas consi‑
deradas na sua quase totalidade como informais. A dissertação de mestrado de um sociólogo
da Universidade José Eduardo dos Santos veio trazer luz importante para a compreensão do
fenómeno58. Com efeito, o estudo de J. M. Katiavala realizado numa aldeia da Caála, na pro‑
víncia do Huambo, revelou a existência de quatro tipos de agricultura, diferenciadas segundo
dimensões e variáveis que têm a ver, entre outros aspectos, com o trabalho e com a ligação ao
mercado: agricultura camponesa, dois tipos de agricultura familiar distintos e agricultura de
família. Fazendo o cruzamento das variáveis “tipo de trabalho” e “origem dos rendimentos do
agregado doméstico” foi possível também identificar na mesma aldeia 11 categorias de pro‑
dutores agrícolas de acordo com os tipos de agricultura referenciados. O estudo conclui que
na aldeia em causa predominam os produtores agrícolas inseridos na agricultura familiar de
tipo I, ou seja, aquela em que o trabalho na unidade produtiva é essencialmente familiar. É uma
negação de quantos continuam a demonstrar ideias preconceituosas quando classificam toda a
agricultura não empresarial como agricultura de mera subsistência. Esta diversidade não pode
ser subestimada e vem confirmar uma vez mais a importância e a necessidade do já menciona‑
do censo agrícola.
Por outro lado, o professor catedrático português F. Gomes da Silva sugeriu correctamente,
há já alguns anos59, que o paradigma oficial baseado no “dualismo” entre agricultura familiar/
/camponesa e agricultura empresarial fosse corrigido com a inclusão do que designou por “agri‑
cultura familiar de média dimensão” que, segundo ele, poderá vir a constituir a base da “classe
média dos agricultores” angolanos do futuro e parece corresponder ao que Katiavala desig‑
nou por “agricultura familiar de tipo II”, isto é, aquela em se verifica, entre outros indicadores,
um acentuado recurso a força de trabalho assalariada dada a pouca relevância da composição
do grupo doméstico, e pela significativa canalização de produtos para o mercado, produtos
57
Número estimado pelo facto de o INE agregar na cifra divulgada o sector das Pescas, totalizando
1.826, o que correspondia a 4,4% do total de empresas em actividade no país em 2015.
58
Katiavala, José Maria – O processo de diferenciação socioeconómico dos produtores agrícolas na Pro-
víncia do Huambo: um estudo de caso da aldeia de Kapunge, Município da Caála, Faculdade de Ciências
Agrárias – Universidade José Eduardo dos Santos, Junho de 2016.
59
Silva, Francisco Gomes da – Contribuição para a definição de um modelo de desenvolvimento do sec-
tor agrícola para Angola, Fundação Eduardo dos Santos, XVI Jornadas Técnico‑Científicas, Luanda,
2011.
90 |
Estas reservas e críticas foram confirmadas pelo Executivo ao ter decidido refazer a sua
estratégia, com a aprovação da concessão de sete projectos de larga dimensão a agentes priva‑
dos, e da autorização para que o Fundo Soberano de Angola (FSDEA) passe a deter a totalidade
do capital social das sociedades concessionárias dos projectos em substituição da Gesterra, o
que pode significar o fim próximo desta empresa pública. A medida foi justificada com a neces‑
sidade de “reestruturação, maior capacitação, investimento e melhoria da gestão para viabili‑
zação da sua exploração sustentável”, devendo as novas concessionárias priorizar a produção
de bens de consumo interno e exportáveis e podendo tomar posse de até 49% do seu capital
societário, com autorização do Presidente da República.
O MINAGRI será a entidade que celebrará os contratos com as empresas, por períodos de
60 anos, renováveis por mais 30, processo que só pode ser concluído mediante a confirma‑
ção da detenção do capital social pelo FSDEA. A todos os projectos abrangidos pelo despacho
“podem ser atribuídos os benefícios fiscais e aduaneiros que se mostrem necessários para
a viabilidade económica e financeira”. De acordo com o semanário Valor, a alteração é devi‑
da à possibilidade do Estado poder fazer “recurso a linhas de crédito internacionais a que as
empresas angolanas não teriam condições de aceder”. Desse modo, os projectos vão estar
sob tutela do Fundo Soberano, que vai apoiar financeiramente através da banca comercial ou
do BDA. Reconhece‑se, assim e finalmente, que o Estado não está vocacionado para a gestão
60
Empresa pública tutelada pelo Ministério da Agricultura que funciona como uma espécie de holding
na gestão de empresas agrícolas públicas e na participação do Estado em empreendimentos público‑
‑privados, criada em 2006.
| 91
desse tipo de projectos. No início de 2016, o MINAGRI já havia concessionado as cinco explo‑
rações que integravam outra empresa pública, a AGRICULTIVA, a empresários privados61.
Área cultivada
Tal como já acontecera em 2015, a informação disponível não possibilitou saber a área
total semeada ou cultivada em 2016, mas apenas a que é atribuída às explorações familia‑
res “assistidas” que, de acordo com o IDA, foi de cerca de 4 milhões de hectares, contra 3,7
milhões em 2015, o que daria uma média pouco superior a 2 hectares por agricultor, abaixo
da de 3,3 de 2015. Se tivermos em conta a superfície das explorações empresariais de maior
dimensão62, uma estimativa grosseira poderá fazer crer que, na melhor das hipóteses, a área
cultivada nessas explorações com culturas anuais dificilmente chegará aos 100 mil hectares.
Contudo, fontes do MINAGRI indicam que as explorações empresariais devem ser responsá‑
veis por cerca de 450 mil hectares de área cultivada, o que parece exagerado. Por outro lado,
admitindo‑se que as 1,3 milhões de famílias fariam em média 0,750 hectares, num total apro‑
ximado de 975 mil hectares, seria legítimo estimar‑se que a área total cultivada em 2015/2016
deve ser de cerca de 5 milhões de hectares, o que representa aproximadamente – numa pers‑
pectiva optimista – 14% da superfície de terra arável, se considerarmos que esta é de 35
milhões de hectares63.
5%
61
Ver Relatório Sobre Desenvolvimento Nacional: BDA 10 Anos – o Ponto de Inflexão, 2016, página 292.
62
A BIOCOM, de longe a de maior dimensão,
RELATÓRIO ECONÓMICOcultivou em 2016
DE ANGOLA dez mil hectares de cana‑de‑açúcar e
2016
não chegam a vinte as que cultivam RI.2017.0000.01.01
mais de mil hectares.
63
Mais uma vez a recorrente falta de informação e a pouca credibilidade da existente deve ser tida
em conta e, consequentemente, admitir que DT_09a
estes números podem estar empolados. Na realidade, o
2.ª
número de explorações indicado pelo MINAGRI, prova
ainda que suportados pelos dados do Censo de 2014,
deve estar sobrevalorizado. Estimativas do CEIC apontam para um número mais realista de pouco
mais de 2 milhões. 25 maio 2017
Paulo Amorim
92 |
Mais uma vez se chama a atenção para a necessidade de se ter em conta o facto de em mais
de 63% da área cultivada pela agricultura familiar se fazer recurso a tecnologias extremamen‑
te rudimentares (com o uso predominante da enxada)64. Com efeito, segundo o IDA, do total
dos cerca de 4 milhões de hectares cultivados (a área semeada ou plantada é normalmente
um pouco inferior à preparada) com culturas anuais, apenas aproximadamente 117 mil (pouco
menos de 3%) foram preparados com tractores e 1,4 milhões (34%) foram trabalhados com trac‑
ção animal65. Isto é extremamente penoso num país que reclama avanços tecnológicos notáveis
noutros domínios, como, por exemplo, a entrada em funcionamento, em breve, de um satélite.
Porém, tal situação pode ser considerada um enorme desafio e uma oportunidade extraordiná‑
ria para se investir no aumento da produtividade do trabalho (através da mecanização gradual e
sensata) e da terra (com recurso a inputs adequados) e, consequentemente, da produção. Esta é
uma questão fundamental para reflexão em termos de mudanças da política agrícola angolana.
Produção alcançada
Como consequência das anomalias relacionadas com o número de produtores e das áreas
cultivadas, os resultados da produção são naturalmente confusos e contraditórios. De acordo
com o Relatório do Ano Agrícola 2014‑2015 e os dos anos anteriores já trabalhados pelo CEIC,
apresenta‑se a evolução da produção nos três últimos anos que em princípio reflectem apenas
a situação da agricultura familiar.
64
Na realidade, esta percentagem é substancialmente maior, pois os cálculos deixam de fora os agri‑
cultores familiares não assistidos pelo IDA, cujo número não pode ser estimado com rigor, mas é
seguramente significativo.
65
Este indicador de 117 mil hectares é muito pouco fiável, pois a responsabilidade pela sua execução
é atribuída pelo IDA vagamente a “parceiros” e apenas 727 hectares à Mecanagro, empresa pública
que está em processo de degradação por falta de recursos no sentido amplo do termo, o que permite
concluir que se está perante um caso de insucesso. Pelo que se acompanha no país, não se vislum‑
bra nas províncias indicadas a acção dos referidos parceiros que justifiquem tal área tão expressiva.
| 93
Uma comparação preliminar dos números das duas tabelas permitiria concluir que a pro‑
dução do sector empresarial passou a ter um peso considerável no conjunto da produção total,
como, por exemplo, no caso dos cereais, onde representaria cerca de 52% da produção total
de 2016, correspondente a 1,2 milhões de toneladas. Porém, uma análise mais atenta mostra
que o incremento da produção de cereais (milho principalmente) nas empresas – que na rea‑
lidade vem acontecendo, principalmente na província do Kuanza-Sul – está muito longe desse
número66. O mesmo tipo de exercício com as restantes culturas – com excepção do café, por
ausência de informação – conduziria a resultados idênticos. Isto permite confirmar, pois, que
algo de errado se passa com a informação estatística, na medida que não é sensato admitir que
a agricultura empresarial tenha atingido os números apontados67.
A análise do gráfico seguinte, que foi apresentado no Relatório de 2015, pode dar uma ideia
das diferenças de produção entre os agricultores familiares e empresariais em 2014, compro‑
vando‑se assim a reflexão feita para 2016, pois, insiste‑se, não é crível que a situação se tenha
alterado num ano de crise como foi o de 2016.
66
De acordo com o documento do Programa Dirigido de Cereais aprovado pelo Executivo a previsão
da produção de milho era de 42 544 toneladas, o que é revelador do que se diz no texto, mas ainda
que se desconheça o realizado, é quase certo que ficou longe da meta desejada.
67
Em 2014, último ano em que foi possível apresentar informação oficial relativa à produção aos dois
tipos de explorações, as familiares representavam 79% da produção total de cereais.
94 |
PRODUÇÃO OBTIDA PARA AS DIFERENTES FILEIRAS SEGUNDO O CONTRIBUTO DAS EAF E EAE,
NA CAMPANHA AGRÍCOLA 2013/2024
12 000,000
10 000,000
Toneladas
8 000,000
6 000,000
4 000,000
2 000,000
0
Cereais Raízes Leguminosas Frutas Horcolas Café
e tubérculos
O ciclo de estiagens que se regista há alguns anos nas regiões do sul do país manteve‑se em
2015/2016, mas em contrapartida no restante território as chuvas foram razoáveis e em alguns
casos irregulares ou excessivas (como no Kuanza‑Sul), circunstancialmente acompanhadas por
alguns fenómenos meteorológicos como ventos fortes, granizos, geadas ou cheias. O bom ano
de chuvas em algumas regiões foi favorável a algumas culturas, como, por exemplo, milho, café
e cana‑de‑açúcar. Todavia, a produção global continuou a ser prejudicada por incidências fitos‑
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
sanitárias, das quais a de maior relevo foi a persistência do mosaico da mandioca, mal que está
RI.2017.0000.01.01
longe de ser debelado.
DT_09b
2.ª prova
A campanha agrícola 2015/2016 foi afectada, como não poderia deixar de ser, pela indis‑
ponibilidade ou dificuldade de acesso a insumos agrícolas no mercado nacional, devido não só
30 maio 2017
aos problemas relacionados com a escassez de divisas,
Paulo Amorim mas também pelas crónicas deficiências
no sistema de abastecimento desses mesmos insumos aos agricultores, que viram piorar uma
situação que já era muito deficiente.
A subida dos preços dos fertilizantes no mercado, que chegaram a cinco vezes os anteriores,
mostra bem o dramatismo da situação, tendo o preço no último trimestre sido reduzido para
perto dos níveis anteriores, depois da importação, apoiada pelo Executivo, de 35 mil toneladas.
A falta de recursos financeiros prejudicou várias acções, como, por exemplo, o acompanhamen‑
to do programa de reconversão varietal de mandioca em curso em Malanje, ou a admissão de
técnicos para melhoria da assistência técnica aos agricultores.
A produção de milho nas empresas tem vindo a melhorar fruto dos investimentos de que
a cultura beneficia nos últimos anos, incluindo em assistência técnica, e da importância de
| 95
que se reveste para a produção de rações. Por exemplo, no caso da Aldeia Nova, depois dos
insucessos conhecidos, a produção e a produtividade conseguidas (7,5 mil toneladas e cinco
toneladas por hectare, respectivamente) podem ser consideradas interessantes no contexto do
país, ainda que longe de satisfazer os custos de produção68. Todavia, a meta prevista para 2017
(4,5 milhões de toneladas) seguramente que não será atingida, pois cometeu‑se o erro, desde
o fim da guerra, de ignorar a região a que alguém designou, com toda a propriedade corn
belt angolano, o triângulo Caconda‑Chicomba‑Caluquembe, onde se justificariam investimen‑
tos com base no enquadramento dos pequenos produtores locais, sob a forma de clusters, em
favor da produção em larga escala em regiões menos favoráveis, ou pelo menos com mais limi‑
tações69.
68
Revista Exame n.º 69, Abril/Maio de 2016.
69
Recentemente foi financiado pelo BDA uma moageira em Caluquembe (Huíla) para processamento
de milho proveniente de pequenos agricultores e sua transformação em fuba, com capacidade de uma
tonelada/hora. Em Cacuso (Malanje) está prevista uma fábrica de chips de batata‑doce, um produto
de referência da região. Este é o tipo de projecto que deveria ser multiplicado na região a fim de se
estimular a produção de milho.
70
Ver, por exemplo, Revista Exame n.º 71, Junho de 2016.
71
De acordo com fonte local, a ociosidade explica‑se também pela dificuldade ou recusa do BDA em
financiar a importação de matéria‑prima (arroz em casca). Este não é um caso isolado, pois no Soyo
(Província do Zaire) uma fábrica de rações está praticamente sem actividade desde a sua inaugu‑
ração por falta de divisas para importação de matérias‑primas. Além disso, outras unidades fabris
foram instaladas há vários anos e estão paralisadas, como três de tomate em Benguela, na Matala e
em Caxito. Ainda em Caxito uma unidade de processamento de banana também está paralisada. Com
estas situações absurdas, o grau de dificuldade para se avançar em direcção da diversificação da eco‑
nomia torna‑se muito maior.
72
No que respeita à produção de cereais é conveniente prestar atenção às ideias recentes de promo‑
ção da cultura de trigo. Numa altura em que ainda se registam imensas dificuldades com a superação
dos constrangimentos colocados aos outros cereais, que em princípio, serão menores que as que se
colocarão em relação ao trigo, não parece fazer sentido essa aposta. Seguramente que o assunto vol‑
tará a ser analisado no Relatório de 2017.
96 |
Uma terceira nota respeita à produção de café comercial, cujo registo em 2015 foi de 14
700 toneladas, menos de 10% da produção histórica (180 mil em 1973), tendo a exportação
no mesmo ano proporcionado apenas dois milhões de dólares de receita, um valor que susci‑
tava dúvidas por estar longe do esperado para aquele volume de produção. Em 2016, segun‑
do o Balanço do Governo, a produção “caiu”, sem justificação aparente, para 7950 toneladas,
das quais apenas se exportaram 675 toneladas73, sem se referir o valor, mas que não deve ser
superior aos dois milhões de dólares do ano anterior. Tendo em conta que a quantidade de
café transformado internamente é muito menor do que a exportada, segundo informação dos
empresários envolvidos, deduz‑se que o problema reside na quantidade de café que é declara‑
da como tendo sido produzida. Apesar do entusiasmo recente provocado pelo aparecimento
no mercado de novos actores que adquirem o produto a pequenos produtores, estimulados
pelo aumento dos preços no mercado internacional, pela desvalorização do kwanza e pela pos‑
sibilidade de obterem divisas, o Executivo não tem correspondido com medidas de política ino‑
vadoras e incentivadoras, o que faz com que esmoreça o interesse em investimentos, como se
esperava por parte de vietnamitas74.
Todavia, é preciso ter em conta que boas políticas podem fazer “milagres”. Veja‑se, por
exemplo, como o Uganda tem sabido aproveitar a subida dos preços de café no mercado inter‑
nacional para se situar entre os 10 maiores produtores de café do mundo, com cerca de 240 mil
toneladas, o que constitui 20% das receitas nacionais de exportação desse país. A sua estrutura
produtiva baseia‑se essencialmente em cerca de 500 000 pequenos produtores de café (sabe‑
remos nós quantos temos com rigor?)75, com menos de um hectare cada em média. O estudo
deste tipo de experiências poderia ser extremamente proveitoso para Angola.
Uma quarta nota para a retomada da análise feita no Relatório de 2015 sobre o açúcar.
A crítica mais severa feita à BIOCOM tem a ver com a sua dimensão exagerada, que está a
consumir elevados recursos, tendo o Estado angolano sido obrigado a emitir uma garantia
soberana, para um crédito de um sindicato de bancos de 210 milhões destinado a reforçar a
capacidade de produção. Recorde‑se que o investimento inicial previsto era de 200 milhões de
USD, mas já atingiu quase mil milhões. Em 2015 foram produzidas 25 mil toneladas de açúcar,
de uma previsão de 36 mil, mas em 2016 estes números foram largamente ultrapassados, ten‑
do‑se atingido 51, 5 toneladas, mais do que as 47 mil previstas, fruto de melhor organização e
de um melhor regime de chuvas.
73
Informações recolhidas junto de comerciantes que se dedicam à exportação referem que as expor‑
tações de café se situam à volta das duas mil toneladas anuais. Mas não tem sido possível confirmar
tal quantidade.
74
Seria interessante analisar a evolução das exportações, que para além do café comercial para diver‑
sos países pode vir a assumir a forma de café em pó, como atesta uma experiência que está ser feita
com os Estados Unidos.
75
Algumas fontes referem 20 mil famílias, mas o número pode ser maior.
| 97
O projecto tem claramente aspectos positivos, mas para além dos custos financeiros há
que questionar o modelo em si, caracterizado pelo fraco domínio do know-how por parte dos
nacionais e pela deficiente capacidade de gestão, que põem em causa a sua viabilidade e ren‑
tabilidade, e por favorecerem a corrupção e outros tipos de desvios, gerando uma excessiva
dependência externa, bem expressa pelo número de expatriados (8% da força de trabalho)
e pelo que isso representa. Por outro lado, o projecto tem riscos ambientais elevados pelo
intenso uso de agrotóxicos e pela exposição dos solos à erosão. Também aqui seria desejável
adequar a dimensão do processamento fabril à capacidade de produção agrícola ou procurar
soluções alternativas para constituição de clusters e aproveitamento de sinergias. O que se faz
noutros países é integrar a produção de pequenos produtores da região de modo a assegura‑
rem as matérias‑primas para as fábricas.
A produção de banana, que atingiu as 3,7 milhões de toneladas, está em franca produção,
apesar de problemas fitossanitários que teimam em subsistir. A exportação para a RDC e para
um mercado mais exigente como o português (1200 toneladas em 2016) são disso testemunho.
Em contrapartida, a cultura de algodão continua sem progressos substanciais, apesar das inten‑
ções do Executivo e do Governo da Província de Malanje. O projecto do Sumbe vai acumulan‑
do gastos – o investimento já ultrapassou os 66 milhões de dólares – e só se ouvem promessas
do tipo “este ano é que vai” desde há cerca de dez anos, sem que se tomem medidas de, pelo
menos, avaliar a situação para que sejam resolvidos os constrangimentos.
Finalmente são de realçar os resultados alcançados com os projectos dirigidos para a agri‑
cultura familiar, com assistência financeira e técnica externa, como o Banco Mundial, o FIDA, o
BAD e a União Europeia. Apesar de alguns erros de gestão e coordenação, é possível perceber
que a relação custo‑benefício de tais projectos é enorme e tem de ser encarado pelo Executivo
como um exemplo de boas lições. Com efeito, as medidas de assistência técnica – principal‑
mente através das Escolas de Campo, que começam a marcar diferenças nas áreas rurais – e
de aprovisionamento de insumos têm reflexos evidentes no incremento da produção agrícola.
Estas acções, em paralelo com a criação de infra‑estruturas de serviços rurais, estão a permitir
às populações envolvidas reconstruir e sustentar os modos de vida rurais, reverter a insegu‑
rança alimentar, melhorar a renda e reduzir a pobreza, num contexto em que elas não tiveram
outras oportunidades para enfrentarem os desafios do pós‑guerra.
98 |
Numa outra abordagem, torna‑se necessário prestar maior atenção a iniciativas do géne‑
ro da que o Centro de Formação Profissional Motiki Okada, localizado em Cacuaco, tem desde
2012 na promoção de agricultura natural, incluindo a criação de hortas caseiras e a ligação
com o desenvolvimento comunitário, sem uso de fertilizantes químicos, pesticidas e herbicidas.
Em colaboração com o MINAGRI e o Ministério da Administração Pública, Trabalho e Seguran‑
ça Social, o Centro já formou mais de 130 especialistas em agricultura natural, na sua maioria
angolanos.
Produtividade agrícola
Mas no panorama de pobreza dominante há que reconhecer excepções que mostram a pos‑
sibilidade de se atingirem resultados satisfatórios, desde que sejam tomadas as medidas mais
adequadas. É o caso da banana, cuja produtividade em algumas empresas chega a 130 tonela‑
das por hectare. É também o que se verifica com a mandioca assistida no âmbito do Projecto
de Agricultura Familiar Orientada para o Mercado (MOSAP) que atingiu em vários campos 15
toneladas por hectare. Num extremo oposto encontram‑se casos como o do café, cuja produ‑
tividade – 340 quilos por hectare – é cerca de dez vezes inferior à da média mundial, o que se
explica pelo relativo abandono a que a cultura foi votada ao longo de várias décadas.
76
A FAO estimou que para serem atingidos os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, Angola
deveria investir aproximadamente 168 milhões de dólares por ano na produção agrícola (entenda‑se
familiar) até 2020, o que permitiria um crescimento mínimo de 8% na agricultura (ver jornal O País,
4 de Abril de 2016).
77
Através do Planirriga, um projecto já aprovado pelo Executivo há vários anos mas não executado,
sabe‑se que Angola tem 7,5 milhões de hectares irrigáveis, mas apenas 30 a 45 mil (mais uma vez a
falta de rigor das estatísticas nos aflige) irrigados. É importante, porém, ter em conta que a imple‑
mentação de regadios, principalmente de grande dimensão, é um investimento caro e arriscado no
actual contexto do país.
| 99
2015/2016
Culturas
EAF EAE
Milho 0,81 2,6
Massango 0,32 0,40
Massambala 0,39 0,46
Arroz 1,23 2,0
Mandioca 12,6 13,5
Batata rena 7,8 10,0
Batata‑doce 6,2 9,4
Feijão 0,43 0,71
Amendoim 0,68 1,1
Soja 0,51 0,74
Café 79
0,34
Pecuária
Angola gasta somas avultadas com a importação de carne de vaca, de frangos e de ovos.
Tais somas devem estar próximas dos mil milhões de dólares anuais. Por tal razão, faria senti‑
do a decisão do Executivo em dar prioridade à produção de ovos e frangos de modo a serem
reduzidas as importações. A produção de ovos deve ter‑se aproximado dos 800 milhões de uni‑
dades (cerca de 70% das necessidades do país), sendo mais de 50% dessa produção originária
de três empresas (Pérola de Kikuxi, Aldeia Nova e Angolaves) e prevê‑se atingir os mil milhões
em 201780.
78
Comparando com as produtividades do ano 2013/2014, constata‑se igualmente que não houve
praticamente variações significativas.
79
Esta produtividade do café é geral para todo o tipo de explorações, pois não há informação para
cada um dos tipos.
80
As melhorias registadas na Aldeia Nova são em parte devidas aos resultados obtidos na produção
própria de milho atrás referidos, o que ajuda a resolver as dificuldades com as rações.
100 |
Contudo, os resultados ainda estão longe de satisfazer os objectivos visados, e uma das
razões tem a ver com o facto de não ter sido bem equacionada a problemática da produção de
milho, enquanto elemento preponderante na formulação de rações. Com efeito, a aposta nos
pólos agro‑industriais como principais produtores de milho, onde foram investidos quase mil
milhões de dólares, em detrimento da estratégia já mencionada para o chamado triângulo do
milho de Caconda‑Chicomba‑Caluquembe, revelou‑se muito negativa, mas ainda se vai a tempo
de reverter a situação, o que constituirá um importante desafio para o próximo governo.
Fonte: Programa dirigido para o aumento da produção de ovos e frangos e estimativa a partir de
fontes diversas para 2016.
Tudo isto se torna mais preocupante quando se projectam novos investimentos em produ‑
ção de carne bovina, como o repovoamento do Planalto de Camabatela, claramente para se
81
Em 2015 foram importadas 360 mil toneladas de carne de frango no valor de 450 milhões de dóla‑
res. Por outro lado, a criação de galinhas de modo tradicional continua afectada pela ocorrência fre‑
quente de surtos de doença de Newcastle, apesar da existência de um programa de produção de
vacinas cuja implementação vai sendo protelada desde há vários anos sem uma explicação plausível.
82
O despacho n.º 94/16, de 3 de Junho, do Ministro da Agricultura, levanta a interdição da entrada
de gado bovino a partir da Namíbia, pelo facto de a província do Cunene não ter registado casos de
febre aftosa desde Agosto de 2015, quando a proibição foi determinada. Contudo, a medida parece
reflectir uma situação demasiado lisonjeira, se tivermos em conta as fragilidades dos serviços vete‑
rinários no resto do país.
| 101
tentar mitigar o enorme erro de construção de um matadouro com uma capacidade de abate
de 300 animais/dia sem que existam efectivos que o justifiquem83, e outros no Kuando-Kuban‑
go e no Cunene com a mesma abordagem megalómana que claramente não tem resultado. Tais
investimentos, que se supõem privados, mas que deverão ter intervenção do Estado, deveriam
ser canalizados para projectos estruturantes que permitissem a criação ou reforço de capacida‑
des institucionais e empresariais e depois, sim, investir na produção, tanto empresarial, como
“tradicional”. Concorda‑se, assim, com a ideia de que a pecuária de bovinos de corte envolve
um dos maiores insucessos técnicos e financeiros, quando reunia condições para que sucedes‑
se o oposto84. A agravar a situação verifica‑se o aumento dos roubos de gado, que podem ser
explicados pela debilidade de autoridade local e pelo crescente nível de insatisfação das neces‑
sidades da população rural mais pobre.
A produção de leite constitui o outro sector bandeira definido pelo Executivo, mas não pare‑
cem haver condições reunidas para a sua concretização na dimensão desejada, dado que é uma
actividade que exige muita organização e disciplina, aspectos nos quais ainda se encontram
83
Um matadouro do mesmo tipo foi construído em Porto Amboim, cujo efectivo pecuário desapa‑
recerá para alimentar a capacidade de abate em menos de um ano. Para Camabatela está prevista a
importação de cerca de 10.000 animais da Namíbia em 2017, das quais cerca de 80% para abate e as
restantes para reprodução, uma operação recheada de riscos de vário tipo.
84
Conforme Relatório Sobre Desenvolvimento Nacional: BDA 10 Anos – o Ponto de Inflexão, 2016, pági‑
nas 306 e 307.
85
A conversão da quantidade de ovos em unidades para peso é feita tendo em conta que um ovo pesa
em média entre 50 e 60 gramas.
102 |
muitas debilidades. Algumas tentativas começam a ser ensaiadas, mas teme‑se que uma vez
mais se opte pelas soluções do tipo larga escala, sem serem tidas em conta experiências inte‑
ressantes em termos de qualidade, como as duas existentes há vários anos nos arredores da
cidade do Lubango. Depois de um período de retrocesso, a empresa Aldeia Nova parece estar a
recuperar alguma da capacidade de produção anterior.
Não foi possível obter informação sobre a produção de suínos, nem sobre a evolução dos
efectivos pecuários, mais um indicador da grande fragilidade que representa a ausência de
estatísticas. Assim sendo, para memória futura repete‑se a informação constante no Relatório
Económico de 2015, mais uma vez com as limitações de credibilidade conhecidas.
Número de cabeças
Espécie pecuária
2010/11 2011/12 2013/14
Bovinos 4 586 570 4 586 570 3 500 000
Caprinos e ovinos 4 958 351 4 958 351 7 000 000
Suínos 2 135 979 2 135 979 s/d
Galináceos 19 977 427 19 977 427 12 000 000
Importa insistir que a produção pecuária está a ser muito penalizada com a carência de
divisas para aquisição de vacinas e de medicamentos e que este facto terá inevitáveis efeitos
na quantidade e na qualidade das manadas. Aos problemas tradicionais juntam‑se os da febre
aftosa já abordada, e da dermatite nodular, que não estão a ser encarados com a seriedade que
se exige.
Tal como se referiu numa nota de rodapé, para o caso do milho, a produção pecuária pode
ser estimulada com a existência de projectos industriais que podem ser alimentados por maté‑
ria‑prima adquirida a agricultores familiares, o que permite a criação de sinergias, como aconte‑
ce no município da Cela com a empresa Valagro, que procura activamente caprinos nas aldeias,
o que é francamente positivo.
Em 2016 foi realizado o mapeamento da mancha da mosca tsé‑tsé no sul do país, com vista
à esterilização do macho da mosca morcitans, e efectuadas acções de luta contra o vector nas
províncias do Kuanza-Norte, Uíge, Kuanza-Sul e Bengo, com montagem de armadilhas e vigilân‑
cia com a busca activa de casos e tratamento dos animais infectados, tendo sido tratados 1373
animais e realizadas análises a 25 000 animais.
Este esforço poderia fazer mais sentido se associado a outras acções. O avanço da tsé‑tsé ou
“mosca do sono” (glossina) na região norte de Angola, como dizia o saudoso Dr. Rosário Pinto,
| 103
que foi o maior especialista na matéria em Angola, está ligado ao recuo do homem, por isso era
importante o cultivo do café antes da independência na luta contra a doença do sono. Ou seja,
quanto mais se investir no café, menos “espaço “ haverá para a mosca. Uma acção tipo dois
em um para utilizar uma expressão comercial popular. Já no Kuando-Kubango, onde há outro
tipo de glossina (rhodesiensis) deve haver uma luta anti-vectorial activa, para além do rastreio
do gado, dada a existência de uma manha que avança a partir do Botswana, o que exige uma
organização adequada dos serviços veterinários, algo que não parece estar nas prioridades da
agenda de povoamento acelerado de gado na região perspectivado86.
Florestas
115131
22%
283445
54% 2014
125405
24% 2015
2016
As principais províncias de produção de madeira em toro são Uíge (38%), Cabinda (24%),
Bengo (15%) e Kuanza‑Norte (13%), para a floresta natural. As percentagens referem‑se ao ano
de 2015, mas é natural que continuem mais ou menos válidas. Relativamente à floresta artificial
destacam‑se as províncias doRELATÓRIO
Huambo eECONÓMICO
Benguela. DE ANGOLA 2016
RI.2017.0000.01.01
A exportação de madeira em toro, como se disse, está em franco crescimento, tendo pas‑
DT_09c
sado de 31,3 mil metros cúbicos em 2015 para 55 mil metros cúbicos em 2016, de acordo com
2.ª prova
informação do IDF, mas os números reais devem ser muito superiores. Este facto é nocivo para
25 maio 2017
Paulo Amorim
86
Ver http://www.irinnews.org/news/2009/05/12/tsetse‑fly‑costs‑agriculture‑billions‑every‑year
104 |
a economia nacional, na medida em que não é incorporado nenhum valor à extracção, quando
poder‑se‑ia, pelo menos, exportar madeira serrada, que é o dobro do preço do metro cúbico,
mas é necessário pensar desde já no desenvolvimento da indústria de mobiliário.
Em 2015 foi decidido que o Fundo Soberano iria explorar as matas de eucaliptos na Huíla,
Huambo e Benguela, por razões industriais e preservação ambiental, de acordo com um Decre‑
to Presidencial, com a concessão pelo Governo de uma área de 80 000 hectares. A informação
sobre a evolução de tal medida é confusa. Parece ter sido constituída uma empresa que rea‑
liza a exploração, ligada ao grupo de origem suíça Quantum Global, que anunciou pretender
investir 43,2 milhões de euros em plantações de fibra de madeira na região do Planalto Central
angolano. A Quantum Global é um grupo que trabalha em articulação com fundos soberanos e
organismos do Estado para obter parcerias e investimentos em África.
Como se viu em 4.2, do mesmo modo que a indústria, a agricultura, sempre em sentido lato,
isto é englobando a pecuária e as florestas, apesar da sua importância para a diversificação,
mantém praticamente inalterado o seu peso relativo no PIB (uma média de 4,7% entre 2002
e 2016, o que é suficientemente demonstrativo das suas dificuldades, expressas no comporta‑
mento da produção ao longo dos anos.
O CEIC tem vindo a reiterar que as políticas agrárias do Executivo angolano implementadas
desde o alcance da paz têm sido, com certa frequência, confusas e contraditórias. Porém, se
revisitarmos a Estratégia 2025, elaborada em 2006 mas nunca formalmente aprovada, tendo
em 2013 sido publicamente considerada pelo Presidente da República o rumo do país, veri‑
ficar‑se‑á que são notórias as diferenças entre o que foi escrito e o que tem sido feito. Um
exemplo marcante é a prioridade atribuída aos empreendimentos produtivos públicos, que
consumiram entre 1,5 e 2 mil milhões de dólares (números estimados) sem efeitos correspon‑
dentes nos níveis de produção.
| 105
epidémicos de doenças que já estavam erradicadas (como a febre aftosa) ou não existiam (der‑
matite modular). Até no que respeita a estradas, que eram consideradas “as meninas dos olhos
do processo de reconstrução”, a situação inverteu‑se fazendo com que as principais estejam
em grande medida bastante deterioradas e sujeitas a mais intervenções de reabilitação muito
onerosas, e as secundárias e terciárias nunca chegaram a merecer a atenção que deviam, com
reflexos evidentes no desempenho do sector.
Do ponto de vista institucional a maior relevância no ano em análise deve ser atribuída, para
além da mudança na direcção do Ministério, à conclusão preliminar do inventário florestal e à
discussão da nova Lei de Bases de Florestas e Fauna Selvagem – apesar de só ter sido publicada
em Janeiro de 2017 –, bem como à aprovação do Decreto Presidencial que aprova o Regula‑
mento da Lei de Sementes (Lei n.º 7/05 de 11 de Agosto).
Decorrente das Linhas Mestras da Estratégia para a Saída da Crise Derivada da Queda do
Preço do Petróleo, o Executivo aprovou um conjunto de Programas Dirigidos orientados para o
desenvolvimento de projectos empresariais públicos e privados. No sector agrícola são de men‑
cionar os seguintes: Produção de Sementes, Aumento de Produção e Promoção da Exportações
de Café e Palmar, Aumento de Produção e Promoção da Exportação de Madeira, Aumento de
Produção e Promoção da Exportação de Mel, Cereais (Milho e Arroz), Apoio à Agricultura Fami‑
liar, Comercialização de Grãos, Aumento da Produção de Ovos e Frangos, Açúcar. Não é suficien‑
temente claro se outros foram elaborados e aprovados, como Leguminosas e Oleaginosas de
Grãos, Aumento de Produção e Promoção da Exportação de Leite Pasteurizado, Transformação
de Carnes e Suínos.
Com a aprovação e lançamento dos Programas Dirigidos, parece vislumbrar‑se uma oportu‑
nidade para a agricultura ocupar finalmente um lugar importante na agenda nacional. Previa‑se
a priorização do financiamento do sector agro‑pecuário familiar e privado, a subvenção do com‑
bustível destinado à actividade agro‑pecuária e florestal, a subvenção da aplicação de calcário
e a subvenção da transportação de insumos e equipamentos agrícolas, apesar dos escassos
recursos financeiros disponíveis. Nesse quadro, o Ministério das Finanças e o BNA deveriam
agilizar os processos de importação de insumos e equipamentos agrícolas. Visando a melhoria
do ambiente de negócios, o Executivo deveria incentivar a promoção de parcerias estratégicas
positivas, podendo os empresários agrícolas nacionais associar‑se a “fazendeiros” estrangei‑
ros e/ou contratar pessoal expatriado qualificado sem grandes constrangimentos. O sector foi
orientado a propor políticas semelhantes às que permitiram a Zâmbia e o Malawi passarem, em
pouco tempo, de países importadores a exportadores de alimentos.
106 |
Apesar de ter sido aprovada uma metodologia para a programação, execução, monitoria
e avaliação dos Programas Dirigidos, cedo se deu conta das suas dificuldades e insuficiências,
nomeadamente no que respeita às suas relações com o Plano Nacional de Desenvolvimen‑
to, pelo que não existe informação credível sobre os progressos, nem sequer no Relatório de
Balanço das Actividades do Governo 2013‑2016. Embora seja cedo para conclusões definitivas,
é legítimo questionar a abordagem dos Programas Dirigidos, dada a insistência no paradig‑
ma anterior, quando é voz corrente, mesmo entre os principais decisores de política, que esse
paradigma está esgotado. O caso dos ovos constitui uma excepção, mas as melhorias já vinham
acontecendo antes da aprovação do respectivo Programa e ainda assim é necessário alterar
muita coisa.
O crédito tem sido considerado com alguma frequência o maior constrangimento do desen‑
volvimento da agricultura ou do agronegócio, mas esta afirmação não pode ser considerada
verdadeira, na medida em que há um conjunto de factores, como por exemplo a disponibilida‑
de atempada dos insumos, os recursos humanos e, sobretudo, a capacidade de gestão, sem os
quais a atribuição de fundos não tem o efeito necessário.
Como é sabido, o Estado vem financiando o sector através da concessão de créditos em con‑
dições especiais, quer na modalidade das chamadas “manchas dinâmicas de desenvolvimento”,
com verbas disponibilizados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento, em parte cedidas pelo
BDA a bancos comerciais (BPC, BCI, BMF e Banco Sol), quer na de projectos avulso a ele subme‑
tidos, que podem atingir cerca de um milhão ou mais de dólares cada.
No total, o BDA financiou desde 2006 544 projectos agrícolas em todas as províncias, com
destaque para Kuanza-Sul, Malanje, Kuanza-Norte, Huambo, Luanda, Huíla, Uíge e Bengo, no
montante de 43 033 milhões de kwanzas, o que representa 63% do número total de projectos
financiados, mas apenas 35% do crédito mutuado87.
87
Neste montante estão incluídos valores destinados a agricultores familiares nas províncias da
Lunda-Sul, Lunda-Norte, Kuando-Kubango e Namibe.
| 107
35%
51%
Agricultura
Comércio e serviços
14%
Indústria
88
Os dados do Angola Investe têm origem numa fonte do Ministério da Economia (Junho de 2016).
89
Empregos totais = empregos directos + empregos indirectos e induzidos.
108 |
Por outro lado, a linha de crédito criada pelo Governo em 2010, destinada principalmente a
agricultores familiares através de associações e cooperativas, deixou de estar operacional entre
2012 e 201591. Na época agrícola 2015/16 teve início a implementação da nova modalidade
do crédito agrícola de campanha, com muitas limitações de ordem financeira, tendo as Provín‑
cias do Huambo (municípios de Londuimbali e Caála), Bié, Benguela, Kuanza-Sul e Huíla sido
as primeiras beneficiárias desta fase com carácter experimental. Na Província do Huambo este
crédito beneficiou 262 famílias enquadradas em quatro cooperativas, através das quais foram
fornecidos Kz 8 024 400,00 que beneficiaram famílias produtoras enquadrados no Programa de
Calagem (correcção de solos).
90
Empregos totais = empregos directos + empregos indirectos e induzidos. Note-se, entretanto, que
na altura da sua aprovação o Programa prometia a criação de 300 mil empregos, tendo-se alcançado,
em teoria, pouco mais de 21%.
91
Para informação mais detalhada ver Relatório Económico de 2015.
| 109
Uma medida importante, que pode ter efeitos positivos a curto prazo foi a reestruturação
do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Agrário (FADA), com um novo estatuto orgânico e um
capital social de Kz 25 000 milhões (cerca de 145 milhões de euros). Para esta capitalização,
o Estado angolano deveria emitir dívida pública, de acordo com decreto executivo presiden‑
cial de 8 de Fevereiro, sob a forma de Obrigações do Tesouro em Moeda Nacional no valor de
2,5 mil milhões de kwanzas (equivalente a 14,1 milhões de euros), à taxa de juro de 5 por cento
ao ano. Prevê‑se ainda o seu financiamento regular com 10% das receitas fiscais associadas à
importação de produtos agrícolas, além de transferências anuais do Estado. O FADA terá a mis‑
são de conceder apoio “às acções viradas para o desenvolvimento da produção alimentar cam‑
ponesa e para o agronegócio” e funcionará como instituição financeira especializada destinada
a apoiar a política de fomento agrário, sob a tutela do Ministério das Finanças”.
Na linha do que vem acontecendo ao longo dos últimos anos, as verbas atribuídas pelo Exe‑
cutivo ao sector agrícola no OGE continuam exíguas, apesar do aumento de cerca de 12,3% em
relação a 2015.
PERCENTAGEM 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Mil milhões de AKZ 147,5 174,7 68,8 67,4 53,3 73,3 41,9 20,3 22,8 25,1
% OGE total 4,5 4,1 2,0 14,0 1,2 1,1 0,6 0,3 0,3 0,3
16,0 200
174,7 180
14,0 14,0
147,5 160
12,0
Mil milhões de kwanzas
140
10,0 120
8,0 100
73,3 80
6,0 68,8 67,4
4,5 53,3 60
4,0 4,1 41,9
40
20,3 22,8 25,1
2,0 2,0 1,2 20
1,1 0,6 0,3 0,3 0,3
0,0 0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Mil milhões de kwanzas % OGE total
Relatorio_economico_2016_01a288.indd 110
25 maio 2017 6/6/17 6:02 PM
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
integravam a Gesterra para a produção de milho e outros grãos; os 15 milhões para a Nova
Agrolíder – empresa que acumula já um investimento de 200 milhões de dólares – para a pro‑
dução de leite e derivados e ainda para a transformação de horto-frutícolas na Quibala; os 1,2
mil milhões do projecto Ezopark na província do Cunene, dos quais 380 milhões para a pro‑
dução e transformação de leite; 10,5 milhões da Aldeia Nova para o aumento da produção de
ovos e aquisição de equipamento para ordenha de leite e preparação de terras para milho e
soja. Além disso, mantém‑se a intenção dos investimentos no Kuando-Kubango, sendo 200
milhões dos italianos da Cremonini para 40 ou 50 fazendas com um matadouro para abater mil
cabeças de bovino e 2 mil de caprino por dia, ligada com o projecto de plantação de eucaliptos
e a produção de ferro gusa; outro de 20,6 milhões de dólares para produção de 64 mil tonela‑
das de milho e 20 mil de soja pela Tecnocarro; ainda outro dos brasileiros da Costa Negócios
no valor de 250 milhões para produção e exportação de 250 mil toneladas de milho e 150 mil
de soja ao fim de quatro anos, em parceria com a Comunidade de Empresas Exportadoras e
Internacionalizadas de Angola; e finalmente ainda outro da Costa Negócios para 400 fazendas
de cinco mil hectares num total de 800 milhões de USD para criação de 200 mil cabeças de
gado bovino.
Infelizmente voltou a não ser realizado o censo agrícola previsto para 2014, o que explica,
em certa medida, a ausência continuada de estatísticas que possam sustentar uma melhor for‑
mulação das políticas, programas e projectos, e que a falta de recursos não pode justificar o seu
continuado adiamento.
Por aprovar está ainda o Regulamento das Cooperativas Agrícolas. Como se viu atrás, o
desenvolvimento da agricultura angolana poderá estar muito dependente da evolução da
agricultura familiar para uma agricultura de pequenos e médios agricultores integrando uma
espécie de “classe média” que precisa de escala para beneficiar de insumos e realizar a comer‑
cialização e desse modo ser competitiva. Isso exigirá a adopção de uma estratégia associativa e
cooperativa para a qual se exige uma legislação favorável.
| 111
A indústria transformadora, dada a posição que ocupa nos tecidos económicos, desenca‑
deia efeitos a montante e efeitos a jusante de arrastamento de outras actividades produti‑
vas e de serviços. Para que o sector manufactureiro, em geral, e os correspondentes ramos
de actividade, em particular, sejam o motor da diversificação da economia, as relações a
montante devem ser mais numerosas do que as desencadeadas por outros sectores de acti‑
vidade.
Que ramos industriais devem ser envolvidos no processo de industrialização com diversifi‑
cação da economia? A selecção pode socorrer‑se de vários critérios, dos quais os efeitos a mon‑
tante e a jusante são dos mais usados.
Numa perspectiva de longo prazo (1998/2016, 18 anos), a taxa anual média de variação real
do Valor Agregado Bruto da Indústria Transformadora foi de 6%. Este valor pode ser conside‑
rado como uma proxy da real capacidade de crescimento do sector, não se entendendo, cabal‑
mente, a taxa de variação de 45,1% em 2011, seguida de uma quebra para 10% logo em 2012.
Fica, igualmente, por se explicar a queda em 2015 e em 2016: encerramento de empresas devi‑
do à crise de pagamentos externos, diminuição da produção por carência de matérias‑primas e
112 |
%
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
98 999 000 001 002 003 004 005 006 007 008 009 010 011 012 013 014 015 016
–10,0 19 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
DT_10
2.ª prova
25 maio 2017
Paulo Amorim
92
Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social – Programa de Reforma e Moder-
nização da Administração Pública, Conteúdo e Resultados, 1991‑2016, 1.ª edição, Luanda, 2017, pági‑
nas 27, 28 e 31.
| 113
7,0
6,0
5,0
Valores em %
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
1998/2016 2002/2008 2009/2016
Taxas tendenciais 5,7 6,4 4,5
É evidente a perda de dinâmica no período 2009/2016, durante o qual vários factos ocor‑
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
reram: a crise internacional do sub‑prime, aRI.2017.0000.01.01
primeira quebra do preço do petróleo em 2008 e
2009, a segunda baixa do preço da mesma commoditie em 2014 e anos seguintes, a reduzi‑
da oferta de incentivos aos investimentos privadosDT_11
associados às dificuldades de obtenção de
2.ª prova
financiamento bancário, a degradação e a falta de confiança no sistema financeiro interno, a
carência de divisas para cobertura da componente importada
25 maio 2017 da produção industrial, etc.
Paulo Amorim
A tabela seguinte apresenta as informações sobre a macroeconomia do sector manufactu‑
reiro nacional.
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
VAB (milhões
2212,5 3119,8 2414,9 3342,9 6205,8 4694,6 5079,6 5690,6 8772,0 5772,0
USD)
Taxa real de
2,02 5,91 7,02 9,6 9,1 9,6 7,7 2,3 -1,1 -2,3
variação (%)
Emprego 58 137 59 419 63 292 66 109 69 631,0 72 976,0 76 379 80 135 100 810 131 336
Produtividade
38 056,1 52 504,3 38 154,6 50 565,9 89 123,4 64 330,1 66 505,5 71 013,0 87 015,2 47 327,0
(USD)
Ganhos de
-1,70 3,62 0,47 4,93 3,56 4,54 2,93 -2,47 -21,35 2,30
produtividade (%)
Salário mensal
29 077,2 35 874,3 38 333,9 40 970,8 43 071,0 45 049,6 0,0 0,0 0,0 0,0
(Kz)
PIBm/PIB (%) 3,4 3,5 3,7 4,0 6,0 4,1 4,1 4,4 8,6 6,0
VABit/População
103,5 142,0 107,0 144,3 260,7 192,0 202,3 220,7 331,2 209,9
(USD)
114 |
A participação do VAB industrial no global do Valor Agregado nacional tem‑se mantido, rela‑
tivamente estável desde 2002, ainda que com apontamentos de subida do seu valor relativo.
Em média, entre 2002 e 2016, foi de 4,9%.
O balanço entre criação de emprego e de valor agregado, equilibrado até 2014, sofreu, em
2015 e 2016, alterações significativas, só explicáveis pela não consistência da informação desses
anos. Por isso, não é fácil explicar a subida do valor da produtividade bruta aparente em 22,5%,
logo seguida de uma quebra abrupta estimada em ‑48,2%. Evidentemente, fizeram‑se sentir, de um
modo negativo, os crescimentos reais negativos do seu Valor Acrescentado Bruto de ‑1,1% em 2015
e -2,3% em 201693. Mas, também, a variação nominal negativa entre 2015 e 2016 de ‑34,2%.94
O grau de industrialização das economias é, via de regra, apreciado através de dois indicado‑
res: a participação da actividade de transformação no Produto Interno Bruto e o PIB industrial
por habitante. Este último índice mede exactamente o poder de compra nacional por produtos
transformados e quanto mais elevado o seu valor maiores são os indícios de industrialização
dos países. Em Angola, o seu valor médio 2007/2016 foi de apenas USD 184 por habitante.
1,40
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
93
As informações oficiais anteriores, nomeadamente o Relatório de Balanço de 2016 do PND
2013‑2017, apresentavam outras informações: 2,1% em 2015 e – 3,9% em 2016. As que estão no
texto foram divulgadas pelo INE – Nota de Imprensa PIB – IV Trimestre de 2016, de Abril de 2017.
94 RELATÓRIO
É difícil de explicar esta significativa ECONÓMICO
quebra. DE ANGOLA
Em termos 2016
gerais e lineares, a elevada taxa de inflação
RI.2017.0000.01.01
em 2016 (cerca de 42%) deveria ter proporcionado um valor nominal mais alto do que em 2015, esti‑
mado em USD 12169,7 milhões, já corrigido do crescimento real negativo. A inconsistência geral das
informações provenientes do Governo pode serDT_12 uma das razões. É urgente que o INE retome a série
2.ª prova
das Contas Nacionais detalhadas terminada abruptamente em 2012.
25 maio 2017
| 115
Paulo Amorim
O incremento do PIB por habitante – tido como um dos factores da industrialização dos paí‑
ses – não tem constituído estímulo suficiente para o aumento do coeficiente de industrialização
em Angola. Na verdade, a leitura do gráfico antecedente mostra um declínio na elasticidade
da relação coeficiente de industrialização/PIB per capita ao longo dos anos, com uma quebra
expressiva em 2015. Razões possíveis:
a) Em 2015 e 2016, devido aos ajustamentos em baixa no valor do PIB por habitante, por
força da consideração dos dados definitivos do Recenseamento Geral da População de
2014, divulgados em 22 de Março pelo INE, e também das folhas informativas e correcti‑
vas da mesma instituição.
b) Dada a concentração da riqueza – não se pode perder de vista que o respectivo concei‑
to abarca rendimentos actuais, expectativas de rendimentos futuros propiciados pelos
activos imobiliários e mobiliários e o valor destes activos – o aumento sistemático do
PIB por habitante transformou‑se, provavelmente, em poupanças ociosas e em trans‑
ferências para o exterior da parte do grupo social melhor posicionado no processo de
distribuição de rendas existente (o capital angolano transferido para o estrangeiro, por
vias legais e ilegais, atingiu, em 2016, cerca de 29 mil milhões de dólares americanos,
de acordo com a leitura da Balança de Pagamentos feita por Carlos Rosado de Carva‑
lho95.
d)
Falta de apoios ao sector manufactureiro: crédito, incentivos fiscais bem focados,
ambiente geral de negócios (o Doing Business do Banco Mundial de 2015 e 2016 indica,
claramente, como fazer para se melhorar o clima de negócios no país, atractivo para o
investimento privado, nacional e estrangeiro). Neste mesmo parágrafo, mas mais atrás,
foi apresentada uma súmula das medidas que o Governo tem vindo a implementar desde
95
Carlos Rosado de Carvalho – “Os investimentos angolanos no estrangeiro e os maridos que comem
fora de casa”, editorial do Semanário Expansão de 3 de Março de 2017.
116 |
f) A
mbiente institucional inquinado pela corrupção e tráfico de influências: Apesar de todas
as boas intenções de alguns governantes e outras tantas instituições públicas, a corrupção
e o tráfico de influências inquinam, vertical e horizontalmente, o funcionamento de toda
a estrutura orgânica do Estado, transformando em verdadeiras epopeias a obtenção de
documentos essenciais para a vida em comunidade dos cidadãos, para a criação de novos
negócios, para o acesso ao crédito bancário, quando, se a ordem das coisas no país fosse
normal, a emissão destes documentos é um serviço público que o Estado deve prestar
de forma proficiente e em muitos casos gratuitamente. Mas o peso da burocracia é tanto
que se encontram sempre brechas legais ou para‑legais por onde entram a corrupção, o
amiguismo e o favorecimento.
A industrialização do país pode ainda ser apreciada através da evolução do ITI (índice de
transformação da estrutura industrial)96
96
É uma média aritmética simples em módulo da variação dos pesos relativos de cada indústria no
PIB global. Foram considerados, no seu cálculo, 16 ramos de actividade industrial.
| 117
0,3
0,25
0,2
0,15
0,1
0,05
0
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre a diversificação da economia”, com base em informações oficiais.
Uma ilustração deste cenário é dada pelo peso médio do conjunto dos subsectores das
indústrias alimentares e de bebidas no total da indústria, que tem rondado, entre 2002 e
2016, 86,8% do Valor Acrescentado Bruto Industrial. A produção (ou engarrafamento sim‑
ples) de bebidas descolou‑se do alimentar depois de 2006 e o seu peso médio (2002/2016)
encontra‑se na vizinhança de 50% do VAB industrial. Daí a relativa imobilidade do valor do
índice de transformação industrial, não significando o não aparecimento de outras activida‑
des industriais que estatísticas oficiais e não oficiais vão registando e divulgando.
Não obstante esses factos, a sua importância relativa ainda é pequena, necessitando de
apoios diversos para se consolidarem, sendo neste contexto que ganha sentido e facilidade
de defesa o argumento de protecção das indústrias nascentes, bem apresentado e desenvol‑
vido na Teoria do Comércio Internacional.
118 |
70
Total do VAB industrial (%) 60
50
40
30
20
10
0
2001 2015 2016
Alimentares 65,6 27,5 28,8
Bebidas 31,8 54,5 57,2
Outros 2,6 18,0 14,0
Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre a diversificação da economia”, com base em informações oficiais.
200,0
180,0 VAB bebidas per capita (USD)
160,0 Linear
140,0 (VAB bebidas per capita (USD))
VAB per capita USD
120,0
100,0
80,0
60,0
40,0 VAB alimentar per capita (USD)
20,0 Linear
(VAB alimentar per capita (USD))
0,0
–20,0
2000 2005 2010 2015 2020
Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre a indústria transformadora”, com base em informações oficiais.
No mapa de preferências dos consumidores há uma clara prioridade para as bebidas, cujo
VAB por cada cidadão poderá atingir USD 190, de acordo com a recta de tendência do gráfico
anterior.
Acresce ainda que, à medida que o rendimento médio de cada cidadão aumenta, vai sendo
possível introduzir novos produtos e serviços industriais para satisfazer os novos perfis da pro‑
cura doméstica, validados e possibilitados pela melhoria das condições de vida. Estão nestes
casos muitos produtos relacionados com as novas tecnologias de informação e comunicação,
com a moda, com a cultura, com a mobilidade (indústria automóvel e de ciclo motores), etc.,
cujos sistemas de produção interagem com muitas áreas, contribuindo para uma maior densi‑
dade nas relações intersectorias e uma maior industrialização.
97
Em alguns países da SADC (África do Sul, Maurícias e Tanzânia) é de 12,5% e no tempo colonial foi
de 26,3% (Estudos sobre a Diversificação da Economia Angolana, página 95, CEIC, Novembro de 2016,
lançado a 13 de Março de 2017).
120 |
INDUSTRIALIZAÇÃO EM ANGOLA
4,000
3,500
3,000
Base logarítmica
2,500
GDP per capita (USD)
2,000
Elascidade
1,500
1,000
0,500
0,000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre a diversificação da economia”, com base em informações oficiais.
4,000
2,500
2,000
1,500
Manufacturing/GDP (%)
1,000
Linear
0,500 (Manufacturing/GDP (%))
0,000
2000 2005 2010 2015 2020
Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre a diversificação da economia”, com base em informações oficiais.
Relatorio_economico_2016_01a288.indd 121
DT_17 6/6/17 6:02 PM
CEIC / UCAN
a) O aumento do rendimento médio dos cidadãos não tem estado em linha com a indus‑
trialização da economia angolana – as intensidades de variação média anual são distin‑
tas, ainda que maiores no indicador de industrialização – podendo presumir‑se por uma
preferência do investimento privado angolano por outras áreas com retornos maiores a
curto prazo98.
b) A
té 2020, de acordo com a recta de tendência projectada, o coeficiente de industrializa‑
ção não deve sofrer desvios significativos, mantendo‑se o país numa zona periférica de
transformação dos produtos.
8000
7000
VAB em milhões de USD
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre a indústria transformadora”, com base em informações oficiais.
98
É do rendimento que sai a poupança que financia o investimento.
122 |
O gráfico anterior mostra que nem sequer numa fase de industrialização intermédia o país
se encontra, porquanto inexistem indústrias de capital e tecnologia intensiva – o seu peso rela‑
tivo no Valor Agregado Bruto Industrial mal se vê – centrando‑se a matriz industrial angolana
nas transformações de produtos para consumo final (em especial nas alimentares e bebidas),
que muitas vezes não cobrem toda a cadeia de produção, pois são meras indústrias de enchi‑
mento, como na maior parte das bebidas.
| 123
continuação
Algumas notas:
a) Contradição claríssima nos dados do emprego para 2016: nas informações anteriores
foram identificados, pelo Ministério da Indústria, 3882 novos postos de trabalho, enquan‑
to no Relatório de Balanço do Governo 2013‑2016 estão referenciados 30 526 empregos
líquidos para o mesmo ano. Qual o dado certo?
124 |
f) Uma análise rigorosa dos dados anteriores, nomeadamente sobre se as cifras da produção
são altas ou baixas, passaria pelo conhecimento (cálculo ou estimativa) das capacidades
de produção de cada produto ou ramo industrial, para se avaliar o grau de subutilização
do capital investido (USD 457 milhões é muito dinheiro).
a) Elaboração de estudos técnicos e de viabilidade com vista à construção dos Pólos de Desen‑
volvimento Industrial da Matala, Kunge, Dondo, Soyo, Uíge, Lunda‑Sul, Malange e Kassinga.
b) Construção dos Pólos de Desenvolvimento Industrial de Viana, Bom Jesus, Lucala, Caála,
Catumbela e Fútila.
d) P
romover a Construção de Fábricas de Descaroçamento e Fiação de Algodão.
99
Ministério do Planeamento e do Desenvolvimento Territorial – Relatório de Balanço das Actividades
do Governo 2013‑2016, Março de 2017.
| 125
i) Em curso a criação do Instituto Superior de Engenharia Industrial de Angola (ISEIA), com
objectivo de formar 300 profissionais por ano, nas áreas de engenharia civil, mecânica,
química, ambiente industrial e electrónica.
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
VAB (milhões USD) 4843,9 5912,5 5355,6 7273,2 8152,9 10 692,5 12 917,5 14 457,9 11 016,0 9620,0
Taxa real de
17,69 8,93 12,78 25,95 8,37 25,41 3,38 8,00 3,50 3,2
variação (%)
Emprego 308 646 320 191 339 688 365 993 387 759 410 661 415 408 424 197 427 941 428 882
Produtividade (USD) 15 693,9 18 465,6 15 766,2 19 872,5 21 025,6 26 037,3 31 095,8 34 082,9 25 741,9 19 514,5
Ganhos de
3,37 5,00 6,31 16,90 2,29 18,42 2,20 5,76 2,59 2,97
produtividade (%)
Salário mensal (Kz) 21 596,3 40 659,4 44 164,7 53 055,7 57 283,6 61 880,3 0,0 0,0 0,0 0,0
PIBc/PIB (%) 7,4 6,7 8,3 8,8 7,8 9,3 10,4 11,2 10,8 8,7
126 |
A construção passou a assumir, depois de 2006, uma importância crescente para a formação
do Produto Interno Bruto do país, sendo neste momento o terceiro maior sector na composição
do PIB, com uma participação de 8,7% e de 8,4% em média 2002/2016. No sector não petrolí‑
fero é, actualmente, o de maior relevância económica e mesmo de investimentos (públicos e
privados).
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
15 16
20 20
0,0
03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14
20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20
-5,0
| 127
A sua contribuição média para o crescimento do PIB nacional é estimada em 0,877% (que
significa que 1% na variação real do seu Valor Acrescentado, propicia um incremento de 0,9%
no PIB), tornando‑o num dos sectores mais rentável dos 14 que constituem a rede de activida‑
des do sistema produtivo nacional.
16 000
Valores em milhões de USD
14 000
12 000
10 000
8000
6000
4000
2000
0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
VAB construção 4844 5913 5356 7273 8153 10 693 12 917 14 458 11 016 9620
Invest.público 7146 11 874 8314 7682 8995 11 997 14 248 15 729 6579 6684
Fonte: CEIC, Ficheiros “Estudos sobre produtividade e emprego” e “Quadro macroeconómico comparativo”.
dt20
relatório economico 2016
Pelo gráfico anterior constata‑se a elevada correlação entre este o sector da economia1p · FRe
Esta prevalência do público sobre o privado é um factor de risco para a actividade de cons‑
trução civil no país, bastando que ocorram imponderabilidades externas para que o investimen‑
to público diminua, como manifestamente são os casos registados em 2015 e 2016.
100
As empresas chinesas são um misto de privadas e estatais que concorrem aberta e deslealmente
com as angolanas no acesso às linhas de crédito provenientes da China.
128 |
100,0
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
-20,0
-40,0
-60,0
-80,0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Tx. va. inv. públ. 32,3 66,2 -30,0 -7,6 17,1 33,4 18,8 10,4 -58,2 1,6
Tx. cresc. const. 17,7 8,9 12,8 12,6 8,4 23,9 16,1 4,1 -2,2 -2,8
Fonte: CEIC, Ficheiros “Estudos sobre produtividade e emprego” e “Quadro macroeconómico comparativo”.
dt21
relatório economico 2016
A significativa quebra verificada em 2015 no investimento do Estado, repercutiu‑se em 1p taxas
· FR
A primeira apresentou uma forte quebra em 2016, com apenas 374 quilómetros de constru‑
ção e reabilitação de estradas em todo o país. A reabilitação de edifícios públicos e monumentos
foi zero em 2016, o mesmo que em matéria de reabilitação de infra‑estruturas aeroportuárias.
| 129
Estradas
Rede fundamental (km) (F) 1157 1336 400 120
Rede secundária (km) (F) 595 805 36 40
Rede terciária (km) (F) 776 864 1244 214
Avaliação patrimonial (un) (F) 0 751 315 100
Edifícios públicos e monumentos
Reabilitação (un) (F) 10 13 1 0
Avaliação patrimonial (un) (F) 10 11 0 0
Infra‑estruturas integradas
Projectos de execução (un) 11 0 5 17
Construção (un) 3 5 0 4
Infra‑estruturas aeroportuárias
Reabilitação (un) 1 2 1 0
Emprego
Emprego criado 5202 4413 1968 990
Deve destacar‑se a coincidência das informações nos valores do emprego criado em 2016,
entre o Relatório de Balanço e as estatísticas do Ministério da Construção, o que de resto nada
tem de especial, na medida em que o Balanço é elaborado com base nas informações sectoriais.
Todavia, um exemplo de consistência que outros Ministérios têm de seguir.
4.3.4 Transportes
O desenvolvimento do sector dos transportes tem como principal objectivo dotar o país de
uma rede de transportes integrada e adequada aos objectivos de desenvolvimento nacional e
regional, facilitadora do processo de desenvolvimento económico e potenciadora das políticas
territoriais e populacionais.
No ano de 2016, o orçamento aprovado para o Ministério dos Transportes (Mintrans), foi de
21 915 971 603,00 kwanzas mas, foi disponibilizado para execução das despesas apenas 32%
deste total. Durante o mês de Dezembro foram reforçados os projectos dos Programas de Inves‑
timento Público (PIP), o que originou uma variação no orçamento no valor de 74 583 144 065,39
kwanzas (ver tabela).
130 |
Fonte: Relatório de 2016 do Balanço Anual dos Órgãos e Institutos do Sector dos Transportes, Ministério dos Transportes, Governo de Angola.
Fonte: Relatório de 2016 do Balanço Anual dos Órgãos e Institutos do Sector dos Transportes, Ministério
dos Transportes, Governo de Angola.
Para o exercício económico de 2016, o Ministério dos Transportes como Unidade Orçamental
obteve do Tesouro Nacional quotas financeiras no montante de 19 430 216 423,69 kwanzas, distri‑
buídos por diferentes categorias. A execução financeira do valor recebido foi de 99,79% (ver tabela).
Fonte: Relatório de 2016 do Balanço Anual dos Órgãos e Institutos do Sector dos Transportes, Ministério dos Transportes, Governo de Angola.
| 131
Fonte: Relatório de 2016 do Balanço Anual dos Órgãos e Institutos do Sector dos Transportes, Ministério dos Transportes, Governo de Angola.
O Instituto Marítimo Portuário de Angola (IMPA) apresenta uma utilização de recursos superio‑
res aos recursos disponíveis no período devido à utilização de saldos de anos anteriores em bancos.
Para a operacionalização regular dos serviços de transporte ferroviário, foi reposta a circu‑
lação de todo o troço do Lobito ao Luau do Caminho‑de‑ferro de Benguela (CFB) e do Namibe
a Menongue do Caminho‑de‑ferro de Moçâmedes (CFM). Ainda com vista ao relançamento do
transporte ferroviário de bens e serviços, o Instituto Nacional de Caminhos‑de‑ferro de Angola
(INCFA), o IMPA, o Gabinete de Inspecção, o CFB e o Porto do Lobito reuniram para a elaboração
de um programa de acção.
132 |
Para alargar a rede de táxis a todo o país, incentivando os programas de apoio ao emprego e
à mobilidade, foram licenciadas, pelo Instituto Nacional de Transportes Rodoviários (INTR), 137
empresas e 204 veículos para serviços de táxis personalizados.
Para criar um sistema de transporte de massas eficiente, rápido e isolado (metro de super‑
fície) em Luanda:
1. Foi elaborado o estudo para a implementação de faixas‑bus com proposta de implemen‑
tação de Carreiras Expresso para acesso ao centro urbano.
2. Foi aprovado o projecto de construção dos corredores de infra‑estrutura de transportes
públicos.
Finalmente, no subsistema aéreo, verificou‑se o aumento das frequências para as rotas com
maior número de passageiros, em particular, das frequências de voos com as companhias Luft
hansa, Quénia Airways, KLM, Ibéria e Air France e uma redução dos cancelamentos nas rotas
com menor número de passageiros.
No ano de 2016, o sector dos transportes desenvolveu acções no sentido de aumentar o volu‑
me de carga e o número de passageiros transportados. As acções e medidas de políticas execu‑
tadas dividem‑se em dois programas principais: o programa 1 de «Capacitação Institucional e
Formação» e o programa 2 de «Reabilitação e Construção de Infra‑estruturas». No contexto do
programa 1, destacam‑se duas políticas: a primeira diz respeito à criação do Instituto Superior de
Gestão, Logística e Transportes e promover a criação de novas escolas e centros de formação; a
segunda diz respeito ao reforço dos Planos de Formação em todas as empresas públicas do sector.
| 133
2. Foi concluída a formação de técnicos para operar o sistema de registo, emissão de licen‑
ças, licenciamento e exames aeronáuticos no Instituto Nacional de Aviação Civil (INAVIC)
e foi concluída a formação em Normas (Legislação) Rodoviárias e Estatística Aplicada aos
Transportes Rodoviários. Foram realizadas outras formações e, ainda, verificou‑se a par‑
ticipação em diferentes reuniões e eventos.
De acordo com o Relatório de 2016 do Balanço dos Órgãos e Institutos do Ministério dos
Transportes, outras políticas afectas ao subsistema marítimo‑portuário dizem respeito à iden‑
tificação pela Sonangol do local para a construção do novo porto de águas profundas em Porto
Amboim, à assinatura da minuta de discussão para a pesquisa preparatória (revisão) do projec‑
to para a melhoria do Porto do Namibe entre a JICA (Agência de Cooperação Internacional do
Japão) e com o IMPA para a reabilitação do terminal multiusos do Porto do Namibe. Finalmente
foram iniciados os processos administrativos adstritos aos projectos do ramo marítimo‑por‑
tuário, inseridos na linha de Crédito da China, designadamente: projecto de construção de um
quebra‑mar para o Porto de Cabinda e projecto de construção de um terminal marítimo de pas‑
sageiros para as províncias de Cabinda e do Zaire (Soyo).
134 |
2. Foi prosseguido o processo de separação contabilística das actividades das empresas (CFL,
CFB e CFM) para a posterior passagem à fase da criação das três empresas de gestão de
infra‑estruturas, comando e controlo da circulação (uma para cada empresa ferroviária).
1. Foram reabilitadas e modernizadas as linhas do CFB e CFM, tendo sido inauguradas 124
estações (68 no CFB e 56 no CFM).
3. Foram inauguradas a ponte ferroviária do Luau, que liga Angola à República Democrática do
Congo (RDC), e as instalações do Gabinete do Corredor do Lobito (GCL), na cidade do Lobito.
9. Foi assinado o protocolo para a realização do estudo sobre o LRT (Metro de Superfície).
| 135
Para promover a instalação de Plataformas Logísticas Multimodais ao longo das linhas férreas:
2. Foi adquirido o título de direito de superfície de 332 hectares para a Plataforma Logística
do Lombe e concluída a desminagem, estudo de impacte ambiental, estudo geotécnico,
estudo de viabilidade, elaboração de projectos de infra‑estruturas e edifícios, desmata‑
ção e vedação, a terraplanagem e drenagem pluvial dos 50 hectares do porto seco e vias
de acesso, a terraplanagem e drenagem pluvial das vias da zona logística/industrial da Iª
parte, IV fase, e em curso a estabilização e impermeabilização de 30 hectares terraplana‑
dos na área para parqueamento de contentores do porto seco.
3. Para a Plataforma Logística Regional Intermodal do Soyo (província do Zaire) (25 hecta‑
res), foram criadas as condições técnicas para a recepção provisória de 2 armazéns de
1000 m2, do posto de abastecimento de combustível, construção de edifício administrati‑
vo, a pavimentação de 10 hectares e a instalação de estação de tratamento de águas resi‑
duais e está em curso a preparação do dossier de consulta de proposta de empreitadas
necessárias para a conclusão da primeira fase da referida plataforma.
6. E stá em fase final o processo de obtenção do título de direito de superfície de 100 hecta‑
res para a implementação da Plataforma Logística Transfronteiriça de Santa Clara (provín‑
cia do Cunene), e concluído os estudos de viabilidade económica e financeira.
136 |
7. Foi obtido o título de direito de superfície de 100 hectares no Yema e Massabi (província
de Cabinda). Foi concluído o estudo de viabilidade, a elaboração dos estudos de impacte
ambiental, o levantamento topográfico e concluída a respectiva empreitada de desminagem.
8. Foi obtido o título de direito de superfície de 100 hectares para a implementação da Pla‑
taforma Logística Transfronteiriça no Luvu (província do Zaire). Foi concluído o estudo de
viabilidade económica, a elaboração dos estudos de impacte ambiental e o levantamento
topográfico e concluída a respectiva empreitada de desminagem.
10. Foi analisado o fluxo comercial e das condições infra‑estruturais das fronteiras do Kim‑
bata, no município de Maquela do Zombo (província do Uíge), bem como do Minga (pro‑
víncia do Zaire), comuna do Buela no município do Kuimba, para aferir a possibilidade
de construção de Plataformas Logísticas ou portos secos transfronteiriços. Foi iniciado
o processo de aquisição e legalização dos 100 hectares para a Plataforma Logística do
Kimbata.
1. Foram prosseguidas as obras no terminal principal do NAIL (com uma área de construção
de aproximadamente 181 500 m2), nas áreas de construção, na plataforma de estacio‑
namento de aeronaves, na placa de estacionamento VIP, dos acabamentos das obras no
terminal VIP, do prédio de funcionamento dos serviços de controlo de trafego aéreo, da
torre de controlo, da estação de radar primário e secundário e do radar meteorológico.
2. Foi cedido o terreno para construção de casas para realojar populares que ocupam áreas
no NAIL e obtido o visto preventivo do contrato de fiscalização do NAIL.
Para concluir o Programa de Refundação da TAAG, foi assinado o acordo de parceria estra‑
tégica para o desenvolvimento da TAAG e o contrato de gestão da mesma com a EMIRATES.
| 137
O desenvolvimento das actividades relativas ao sector dos transportes permitiu que, até ao
ano de 2016, fossem apresentados os seguintes resultados nos “indicadores de objectivos” do
sector (ver tabela).
Fonte: Relatório de Balanço das Actividades do Governo de 2016, Ministério dos Transportes, Governo de Angola.
Na tabela pode notar‑se que, relativamente à execução, nos primeiros quatro anos de imple‑
mentação do Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017 (PND 2013‑2017), todos os indi‑
cadores do sector, registaram um grau de execução abaixo de 85%. O número de passageiros
transportados na rede pública (indicador 1) e a carga manipulada/transportada na rede públi‑
ca (indicador 2) tiveram um grau execução de 28,40% e 66,77%, respectivamente, explicado, a
138 |
partir de 2015, pela (i) redução da frequência de voos semanais da TAAG nas rotas de São Paulo
e Rio de Janeiro e abandono da rota do Dubai; (ii) paralisação da circulação no caminho‑de‑fer‑
ro de Luanda (CFL), na linha Luanda/Malange, por 45 dias, devido ao descarrilamento de car‑
ruagens e desabamentos causados pelas chuvas torrenciais, nos meses de Fevereiro a Abril; (iii)
paralisação de serviço de transporte de passageiros por via marítima; e (iv) degradação das vias
e da frota de transporte público associado à falta de peças sobresselentes. O indicador 5 (Novas
Escolas e Centros de Formação Instalados), não apresenta execução pelo facto de estarem em
fase de conclusão 3 centros de formação ferroviária, com previsão de entrega em 2017, sendo
a primeira em Março (Centro de Formação de Catete), a segunda em Abril (Centro de Formação
do Huambo) e a terceira em Maio (Centro de Formação do Lubango).
% de
Indicadores (construção) PND Execução PND Execução PND Execução PND Execução PND Execução
Execução
1. Rede fundamental (km)
3000 1157 3500 1336 3500 400 3000 120 13 000 3013 23
(Fluxo)
2. Rede secundária (km)
1000 595 1500 805 1500 36 1000 40 5000 1476 30
(Fluxo)
3. Rede terciária (km)
15 000 76 15 000 864 15 000 1244 15 000 214 55 000 3098 6
(Fluxo)
Infra-estruturas integradas
7. Projectos de execução
11 11 0 0 0 5 0 17 11 33 300
(un) (Fluxo)
8. Construção (un)
3 3 5 5 6 0 5 4 19 12 63
(Fluxo)
Infra-estruturas aeroportuárias
9. Reabilitação (un)
2 1 2 2 3 1 3 0 10 4 40
(Fluxo)
Emprego
10. Emprego (un)
30 900 5202 32 800 4413 33 700 1968 34 800 90 132 200 12 573 10
(Fluxo)
Fonte: Relatório de Balanço das Actividades do Governo de 2016, Ministério da Construção, Governo de Angola.
Na tabela, pode notar‑se que, relativamente à execução acumulada, nos primeiros quatro
anos de implementação do PND 2013‑2017, os indicadores relacionados com a rede viária,
como o número de empregos (indicador 10) e a reabilitação de infra‑estruturas aeroportuárias
(indicador 9) registaram taxas de execução abaixo de 50%, dada a paralisação de muitas obras,
em consequência das restrições financeiras.
| 139
Ano PIB (milhões USD) Exportações (milhões USD) Peso das exportações no PIB
2002 15 956 8328 52%
2003 16 805 9508 57%
2004 23 581 13 475 57%
2005 39 890 24 109 60%
2006 52 452 31 862 61%
2007 65 458 44 396 68%
2008 88 378 63 914 72%
2009 64 916 40 828 63%
2010 82 500 50 595 61%
2011 104 100 67 310 65%
2012 115 300 71 093 62%
2013 124 900 68 247 55%
2014 126 800 59 170 47%
2015 103 321 33 181 32%
2016 96 200 26 530 28%
Fonte: CEIC, Ficheiro “Sector Externo” com base nos dados oficiais.
80 000,0
70 000,0
60 000,0
50 000,0
40 000,0
30 000,0
20 000,0
10 000,0
0,0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Sector petrolífero Exportações sector não petrolífero
Fonte: CEIC, “Ficheiro Balança de Pagamentos” com base em dados oficiais (BNA).
140 | dt22
relatório economico 2016
1p · FR
Relatorio_economico_2016_01a288.indd 140 6/6/17 6:02 PM
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
Em 2016, as exportações registaram uma quebra de 20%, menos significativa do que a regista‑
da no ano passado (44%), devido à ligeira melhoria no preço do barril no decurso do ano transacto.
800 120
700
100
600
80
500
400 60
300
40
200
20
100
0 0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Volume (milhões de barris) Preço (USD/barril)
Fonte: CEIC, Ficheiro “Sector Externo” com base nos dados oficiais.
Considerando o seu peso nas exportações totais (4%), as exportações do sector não petrolí‑
fero, não constituem ainda, nem a curto, nem mesmo a médio prazo alternativa às exportações
petrolíferas, tendo em conta os problemas estruturais que o país apresenta e as dificuldades
que os produtores nacionais enfrentam a todos os níveis.
Neste período em que o preço do principal produto de exportação está em baixa, as expor‑
tações não petrolíferas têm sido residuais e o respectivo valor, em média anual, é de apenas
USD 1,2 mil milhões.
1800,0
1600,0
1400,0
1200,0
1000,0
800,0
600,0
400,0
200,0
0,0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Exportações sector não petrolífero Diamantes Café Outras exportações
Fonte: CEIC, Ficheiro “Sector Externo” com base nos dados oficiais.
dt24
| 141
relatório economico 2016
2p · FR
Relatorio_economico_2016_01a288.indd 141 6/6/17 6:02 PM
CEIC / UCAN
É interessante notar que, tal como as exportações petrolíferas, as não petrolíferas têm vindo
também a diminuir desde 2014. Em 2015 sofreu uma redução de 16% (passando de USD 1,5
mil milhões em 2014 para USD 1,3 mil milhões) e em 2016 verificou‑se uma diminuição de 9%,
alcançando o valor de USD 1,16 mil milhões. A dificuldade no acesso às divisas para a impor‑
tação dos insumos, bem como a fraca capacidade do tecido produtivo nacional, explicam, em
grande parte a redução das exportações não petrolíferas.
As Linhas Mestras para a Definição de uma Estratégia para a saída da Crise derivada da
Queda do Preço do Petróleo no Mercado Internacional elaboradas pelo Governo em Janeiro
de 2016, no contexto do qual se pretende “elevar as receitas em divisas do país e diminuir, por
conseguinte, a grande dependência do país dos recursos do petróleo”, promovendo assim as
exportações não petrolíferas. Aparentemente não têm produzido efeitos positivos, pelo contrá‑
rio, dá a sensação de efeitos contraproducentes.
No mesmo documento foram também identificados produtos que o país pode exportar no
curto prazo:
• Rochas ornamentais.
• Café.
• Mel.
• Madeiras.
• Minério de ferro.
• Leguminosas e oleaginosas.
• Hortícolas e tubérculos.
• Sal iodizado.
Consultando o registo das exportações da Agência Geral Tributária (AGT), o valor de expor‑
tação destes produtos em 2016 foi de cerca de USD 260 milhões, dos quais, 67 milhões de
cimentos, 56 milhões de bebidas, 55 milhões de produtos da pesca e 35 milhões de madeira.
Ora, não se consegue imaginar o país, sequer a duplicar produção destes produtos num hori‑
zonte de 3 ou mesmo 5 anos, tendo em conta o actual ambiente de negócios.
142 |
Apesar do valor das exportações destes produtos serem residuais, deve‑se, no entanto,
apostar na sua produção, apoiando os exportadores e atraindo mais investimento privado.
Para a promoção destas exportações o Governo vai levar a efeito as medidas seguintes:
Angola, sendo interveniente do comércio internacional, para além de exportar os seus pro‑
dutos, também adquire bens e serviços do exterior para satisfazer a procura interna. Na verda‑
de, devido à fraca capacidade produtiva, uma boa parte do consumo das famílias, do Estado e
das empresas é alimentado pelas importações.
dt25
relatório economico 2016
2p · Paulo
Como se pode ver no gráfico acima, de 2002 a 2010, em média, as importações representam
85% do consumo final das famílias e do Estado (coincidência entre as linhas gráficas represen‑
tativas das importações e do consumo). Durante este período, (coincidente com os primeiros
anos da paz), havia pouquíssima produção local de bens e serviços. De 2011 a 2015, observa‑se
| 143
uma redução no peso das importações no consumo final, situando‑se em média nos 62% (em
2015 o peso foi de apenas 50%).
O gráfico seguinte apresenta a síntese das importações desde 2002, sendo interessante
sublinhar o peso dos serviços nas aquisições externas. Muitos destes serviços podiam ser pro‑
duzidos e fornecidos localmente.
60 000
50 000
40 000
30 000
20 000
10 000
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Importações de serviços Importações de bens (f.o.b.)
Fonte: CEIC, Ficheiro “Sector Externo” com base nos dados oficiais.
dt26
relatório economico 2016
1p · FR
Devido à pouca disponibilidade de divisas, o Governo impôs uma política de restrição das
importações, o que está a levar à diminuição das mesmas. Como se pode observar no gráfi‑
co acima, em 2015 houve uma redução de 26% em relação a 2014, passando de USD 53,5 mil
milhões para USD 37,9 mil milhões e em 2016 verificou‑se uma diminuição na ordem dos 26%,
passando para USD 28 mil milhões.
Olhando para a dinâmica (de transformação) da estrutura das importações desde 2002 até
2015, não se notam mudanças relevantes.
144 |
1131
30%
2193
58% 2002
437
12% Bens de consumo corrente
Bens de consumo intermédio
Bens de capital
Fonte: CEIC, Ficheiro “Sector Externo” com base nos dados oficiais.
5825
28%
11 543
56%
2015
3325
Bens de consumo corrente
16%
Bens de consumo intermédio
Bens de capital
Fonte: CEIC, Ficheiro “Sector Externo” com base nos dados oficiais.
Em 2002, a importação de bens de consumo intermédio foram de USD dt27437 milhões (12%
relatório economico 2016
das importações totais) e as de bens de consumo corrente de USD 2,191p mil milhões (58% das
· FR
importações), o que significa que se importou 5 vezes mais bens de consumo corrente do que
bens de consumo intermédio. Catorze anos depois, o quadro continua quase o mesmo, confor‑
me se pode constatar no gráfico anterior. Em 2015, o peso da importação dos bens de consumo
intermédio foi 16% (ligeiro aumento de 4 pontos percentuais) e a importação dos bens de con‑
sumo corrente passou para 56% (ligeira diminuição de 3 pontos percentuais).
A importação dos bens de capital em 2002 estava avaliada em USD 1,13 mil milhões (30%
das importações) e em 2015 em USD 5,8 mil milhões (28% das importações), o que representa
uma redução de dois pontos percentuais. Esta análise mostra claramente não terem ocorrido,
ao longo destes anos, mudanças estruturais dignas de relevo na estrutura das importações.
| 145
Descrição 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Conta corrente -150,1 -719,6 686,2 5137,9 10 689,8 10 581,3 7194,3 -7571,6 7506,0 13 084,7 13 841,2 8145,1 -3747,5 -10 272,8 -6484,4
Bens (Mercadorias) 4567,8 4028,1 7643,2 15 756,2 23 084,6 30 734,7 42 931,8 18 168,0 33 928,0 47 081,8 47 389,4 41 915,5 30 589,6 12 488,6 14 309,3
Serviços (Líq.) -3115,2 -3120,1 -4480,0 -6614,2 -6027,0 -12 332,5 -21 809,9 -18 546,2 -17 897,5 -22 937,6 -21 364,3 -21 746,4 -23 276,3 -16 020,1 -14 664,2
Relatorio_economico_2016_01a288.indd 146
Rendimentos primários
(Líq.)
-1634,7 -1726,5 -2483,6 -4030,9 -6177,9 -7599,0 -13 717,5 -6823,1 -8086,9 -9697,3 -10 421,8 -9900,1 -8849,9 -5907,5 -5294,6
Conta de capital
e financeira
-549,2 1642,5 1111,0 -3118,3 -3981,5 -5813,8 1297,6 2498,1 -1136,5 -3979,5 -7277,9 -9017,6 -484,4 6927,3 6467,1
Conta de capital 0,0 22,0 10,6 7,8 1,4 7,2 11,5 4,1 0,9 2,3 3,9 0,6 1,64 6,28 6,28
Transferências de
capital (Líq.)
0,0 22,0 10,6 7,8 1,4 7,2 11,5 4,1 0,9 2,3 3,9 0,6 1,64 6,28 6,28
Conta financeira -549,2 1620,6 1100,3 -3126,0 -3982,9 -5821,0 1286,1 2493,9 -1137,5 -3981,8 -7281,7 -9018,2 -486,0 6921,1 6460,8
Investimento directo
estrangeiro (Líq.)
1643,4 3481,1 1414,0 -1523,2 -228,3 -1805,1 -890,7 2198,5 -4567,6 -5116,4 -9638,7 -13164,2 -2331,4 8235,5 638,2
Entradas 6610,4 11 911,1 5606,4 6796,0 9067,2 9795,9 16 581,0 11 673,1 12 156,7 14 123,6 15 077,7 14 345,9 16 543,2 16 176,4 8257,6
Saídas 4967,0 8430,0 4192,4 8319,2 9295,5 11 601,0 17 471,7 9474,5 16 724,4 19 240,0 24 716,4 27 510,1 18 874,6 7940,9 7619,5
Erros e omissões -67,6 -821,9 -1138,8 -574,2 266,5 -1641,0 -1235,9 457,4 239,7 -17,5 -2436,9 658,4 312,2 309,9 0,0
Balança global -767,0 101,1 658,4 1445,4 6974,8 3126,4 7256,0 -4616,2 6609,1 9087,7 4126,4 -214,1 -3919,7 -3035,7 -17,3
Variação de reservas
(aumento -)
356,3 -262,8 -780,2 -1817,3 -5401,7 -3019,0 -6672,6 4630,7 -6100,9 -9053,8 -4124,9 207,9 3920,3 3055,0 17,3
Reservas Internacio‑
nais Líquidas (RIL)
12 621,5 17 326,6 26 320,6 30 828,1 31 154,4 27 101,46 24 265,76 20 297,56
Rácios de reservas /
/ Meses de importação
0,6 0,9 1,5 2,5 6,0 5,1 5,0 3,8 6,6 7,8 8,6 8,1 7,11 7,72 8,7
Fonte: BNA.
6/6/17 6:02 PM
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
Conta Corrente
Desde 2014, a conta corrente tem vindo a registar défices sucessivos devido, por um lado, à
redução significativa das exportações petrolíferas e, por outro, aos défices crónicos nas balan‑
ças de serviços e rendimentos.
30 120,0
Preço do barril
%
25 100,0
20 80,0
15 60,0
10 40,0
5 20,0
0 0,0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
-5
-10
-15
Défice fiscal/PIB (%) Conta corrente/PIB (%) Preço do petróleo (USD/barril)
A política de endividamento que está a ser aplicada para financiar as despesas públicas está
a afectar negativamente o saldo da conta corrente, num contexto em que a poupança líquida
privada não tem sido suficiente para contrabalançar a poupança líquida pública, que tem sido
negativa nos últimos anos.
| 147
60 000,0
50 000,0
40 000,0
30 000,0
20 000,0
10 000,0
0,0
-10 000,0
-20 000,0
-30 000,0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Conta Corrente Bens (mercadorias) Serviços (líq.) Rendimentos primários (líq.)
Fonte:BNA
dt30
relatório economico 2016
Devido às limitações de pagamento ao exterior, a conta de serviços tem vindo a registar1p nos
· FR
últimos dois anos uma redução do défice, passando de USD 23,2 mil milhões em 2014, para
USD 16 mil milhões em 2015 e 14,6 mil milhões em 2016. Como se tem referido em Relatórios
anteriores, o défice na conta de serviços deve‑se ao facto de Angola ser um país importador
por excelência de quase todo o tipo de serviços, transportes e viagens, saúde, seguros, cons‑
trução, assistência técnica e manutenção dos equipamentos do sector petrolífero. Os serviços
de assistência técnica são os que têm pesado mais nesta conta, com valores anuais médios de
USD 8 mil milhões, seguidos da construção (USD 4,8 mil milhões), transportes e viagens (USD
4,3 mil milhões).
A situação actual desta conta espelha uma oportunidade de negócio para os investidores,
nacionais e estrangeiros, investirem mais no sector de prestação de serviços, o que poderá fazer
com que, se os mesmos forem dispensados com a devida qualidade, os consumidores nacio‑
nais optem pelos serviços produzidos internamente, contribuindo assim para redução do défice
enraizado que se verifica nesta conta da balança de pagamentos.
A remuneração dos factores de produção dos estrangeiros no território nacional e dos nacio‑
nais no exterior são registados na conta de rendimentos. Os lucros e dividendos das empresas
estrangeiras, juros da dívida externa e o rendimento dos expatriados estão reflectidos nesta
conta, que é sistematicamente negativa101. A tendência de agravamento do défice desta conta
vem a diminuir desde 2014 devido às restrições que se verificaram no acesso às divisas para
101
A título de juros, saíram do país USD 1,28 mil milhões em 2015 e 1,4 mil milhões em 2016. Lucros e
dividendos 4,3 mil milhões em 2015 e 3,5 mil milhões em 2016. Remuneração dos expatriados 494,8
milhões em 2015 e 496,4 milhões em 2016.
148 |
o envio dos rendimentos dos expatriados e os lucros das empresas estrangeiras para os res‑
pectivos países de origem. O défice passou de USD 8,8 mil milhões em 2014 para USD 5,9 mil
milhões em 2015 e USD 5,29 mil milhões em 2016.
O facto que nos intriga nesta conta é que os lucros e dividendos dos investimentos que os
angolanos fazem no exterior (USD 17,3 mil milhões anuais em média nos últimos 5 anos) não
estão registados nesta conta. Será que tais investimentos não geram retornos? É difícil acreditar
que seja o caso, pois se assim fosse não sairia tanto dinheiro. Se de alguma forma, os retornos
destes investimentos voltassem ao país, poder‑se‑ia melhorar o saldo deficitário da conta de
rendimento, com evidentes benefícios para a economia.
30 000,0
25 000,0
20 000,0
15 000,0
10 000,0
5000,0
0,0
-5000,0
-10 000,0
-15 000,0
-20 000,0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Investimento directo estrangeiro (líq.) Entradas Saídas
Fonte: BNA
dt31
relatório economico 2016
1p · FR
Em 2016, de acordo com as estimativas do BNA, registou‑se a entrada de USD 8,2 mil milhões,
uma redução de quase 50% face a 2015, ano em que entraram cerca de USD 16 mil milhões.
| 149
Desde 2005 que Angola não registava um montante tão baixo de investimento directo
estrangeiro. Com as dificuldades no sector petrolífero, as empresas estão a deixar de fazer
investimento devido às incertezas quanto ao preço do crude no mercado internacional102,
devendo o Governo e as suas instituições incentivarem o aproveitamento desta janela de opor‑
tunidades para outros sectores.
A rubrica do IDE regista também os investimentos que os nacionais fazem no exterior. É sabi‑
do que há angolanos a investir no estrangeiro. Nota‑se, no gráfico anterior, que de 2005 a 2014
o fluxo de saída do IDE foi maior do que o de entrada, o que mostra que neste período houve
mais investimentos de angolanos no exterior, do que dos estrangeiros no país.
Desde 2002 até 2016 saíram cerca de USD 196,3 mil milhões, enquanto no mesmo período
entraram USD 174,7 mil milhões, o que resulta num saldo líquido negativo de cerda de USD 21
mil milhões. Em 2015 e 2016 como houve mais entradas do que saídas, resultou que IDE líquido
fosse positivo. Como já referido na análise da conta de rendimentos, infelizmente os retornos
dos investimentos feitos pelos angolanos no estrangeiro não constam da balança de pagamen‑
tos, apesar de em geral haver mais investimentos de angolanos no estrangeiro do que os de
estrangeiros no país.
Depois de um aumento significativo de 2009 a 2013 (passando de USD 12,6 mil milhões para
USD 31,15 mil milhões, o valor mais alto verificado até ao momento), as poupanças em moeda
estrangeira e em ouro que o país consegue acumular estão a diminuir a cada ano que passa
desde 2014. O défice da conta corrente tem vindo a ser financiado com as reservas internacio‑
nais líquidas, por isso se verifica a redução constante das divisas nos últimos 3 anos.
102
Isso com certeza terá repercussões futuras quanto à capacidade de produção do petróleo nos pró‑
ximos anos, podendo verificar‑se um quebra significativa, caso não se retomem os investimentos.
103
De Janeiro a Dezembro a desvalorização foi de 7% (em Janeiro a taxa de câmbio era Kwanza/USD
156,4 e em Dezembro estava em Kwanza/USD 166,7.
150 |
35 000,00
30 828,06 31 154,38
30 000,00
27 101,46
26 320,58 24 265,76
25 000,00
20 000,00
20 297,56
17 326,62
15 000,00
12 621,48
10 000,00
5000,00
0,00
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
FONTE: BNA.
dt32
relatório economico 2016
1p · FR
Poderia verificar‑se uma maior diminuição nas RIL caso não houvesse um maior controlo
do Banco Central em restringir104 o acesso às divisas por parte dos agentes económicos impor‑
tadores e do público em geral. O aumento do nível das reservas depende essencialmente do
incremento das receitas de exportação provenientes do sector petrolífero, tendo em conta que
a curto prazo as receitas do sector não petrolífero não são alternativa (montante inferior a USD
2 mil milhões ano). Uma maneira de aliviar a pressão sobre as RIL é garantir o aumento da pro‑
dução interna dos principais bens e serviços actualmente importados, substituindo e apostar
nas exportações dos sectores não petrolíferos para que a médio e longo possam vir a ser uma
alternativa às receitas do sector petrolífero.
104
É óbvio que a forma através da qual o BNA disponibiliza à banca comercial as divisas é discutível,
o mesmo ocorrendo com a maneira como os bancos comerciais as disponibilizam aos agentes eco‑
nómicos.
| 151
152 |
período de análise e recolher informação adicional. Porém, o ponto central desta problemáti‑
ca da libertação (liberalização, liberação, qual dos termos utilizar?) dos mercados é: se não se
competir nunca se será competitivo. E esta afirmação é válida para todas as vertentes da vida
económica e até da vida social e mesmo pessoal. Parafraseando o poeta António Machado
1875‑1939 (em resumo “o caminho faz‑se caminhando”), a competitividade adquire‑se com‑
petindo.
Mas a discussão sobre a libertação dos mercados é igualmente válida para os mercados
internos, ou seja, para as diferentes franjas da economia de mercado nacional. Claramente
que é difícil, fora do âmbito teórico, analisar esta questão do ponto de vista da concorrência
pura e perfeita, equivalente a uma abertura total, funcional e eficiente de todas as vertentes
do mercado nacional. Existem e sempre terão de existir “reservas de mercado” para a actua‑
ção dos mecanismos de regulação detidos pelo Estado. Porque afinal são reconhecidas “falhas
de mercado”. Sendo os mercados imperfeitos, a distribuição do rendimento far‑se‑á de acordo
com os critérios de alocação dos recursos de produção no momento em que a mesma acontece
– critérios de maximização do lucro –, o que, normalmente, introduz distorções no modelo de
repartição mais equitativa do rendimento. Ainda assim, a liberalização económica interna é um
factor de criação de valor agregado e de geração de emprego e rendimento, sendo, portanto,
um objectivo a constar das políticas públicas.
Existe sempre o receio de que estas liberdades económicas possam ser socialmente impul‑
sionadoras de injustiças, económicas – os mais capazes acabam por ficar de fora por razões
extra‑competitivas – e sociais (exploração da força de trabalho, prática de salários incompatí‑
veis com a dignidade humana dos trabalhadores). Por isso, o Papa Benedito XVI, na sua Encíclica
“Caridade na Verdade” de 2011, apelava a um novo paradigma do capitalismo, onde a maximi‑
zação do lucro não continuasse a ser o único critério de afectação dos recursos e de distribuição
do valor agregado. A visão das empresas inseridas nas comunidades onde desenvolvem as suas
actividades de produção, portanto mais inseridas nos seus problemas e na procura das melho‑
res soluções que incentivassem os trabalhadores a considerarem os seus locais de trabalho
como o seu segundo lar, é o grande desafio do Papa Emérito. As teorias acerca da responsabi‑
lidade social das empresas também procuram encontrar fundamentos científicos que validem
uma nova visão do relacionamento empresas‑trabalhadores‑comunidades.
A publicação do Banco Mundial Doing Business 2016 explicita quais devem ser as compo‑
nentes de um bom clima de negócios, poupador de recursos, viabilizador de investimento priva‑
do, incentivador de eficiência e propiciador de ganhos estruturantes de competitividade. Uma
delas relaciona‑se com os passos, procedimentos e custos para se iniciar um negócio. A libera‑
lização dos mercados adentro das economias nacionais apela a processos desburocratizados e
facilitadores duma rápida e desempoeirada circulação de pessoas, produtos e factores de pro‑
dução dentro dos países. Número de procedimentos, tempo necessário, custo e o montante
de capital mínimo exigido são os itens através dos quais se pode apreciar e avaliar a liberdade
| 153
do mercado interno. E a conclusão do Banco Mundial é no sentido de que quanto mais baixos
forem os números relacionados com aqueles itens, mais actividades produtivas e de prestação
de serviços passarão a existir e, consequentemente, mais emprego e valor agregado se gerará.
Esta libertação dos mercados internos duma excessiva apetência de interferência do Estado
costuma ser também apontada como uma condição necessária para a inovação. Os investimen‑
tos privados aplicados na descoberta de novos produtos e processos de produção e de mais
eficientes modelos de organização e funcionamento das unidades empresariais têm de ter um
retorno, que poderá ser máximo se a actividade económica se encontrar liberalizada, ainda que
sujeita a procedimentos de regulamentação, dentro de padrões convencionalmente aceites.
Um aspecto muito sensível da liberalização dos mercados, na óptica interna, mas com signi‑
ficativas repercussões sobre a inserção internacional das economias, tem a ver com o mercado
de trabalho. E os elementos significativos são a produtividade do trabalho e a competitividade
das empresas. Mercados de trabalho livres aumentam ou não a produtividade do trabalho?
Seguramente que menos regulamentação ajuda a competitividade das empresas e das eco‑
nomias pelo viés da redução dos custos salariais. Mas a diminuição dos salários tem uma
correlação positiva com o aumento da produtividade? Mercados de trabalho livres são mais
competitivos, podendo, em alguns casos, viabilizar aumento do salário médio. Não obstante
os pontos positivos reconhecidos, esta liberdade pode arrastar diminuição do emprego, com
consequências económicas – redução do significado económico do mercado interno – e segu‑
ramente sociais, muito destacadas enquanto elemento de crítica ao paradigma neoliberal das
economias. É o clássico trade‑off entre equidade e eficiência. Até as economias ganharem mús‑
culo competitivo, o jogo acaba por ser a favor da eficiência. Quando o rendimento nacional por
habitante atinge uma quota na segunda parte da Curva de Kuznets, então a equidade é possível
em moldes socialmente significativos.
No entanto, compreende‑se que a livre circulação territorial do factor trabalho pode ser um
estímulo à deslocalização interna da actividade económica, do que resultará mais produção,
mais eficiência e possivelmente mais diversificação dos produtos.
Os aspectos focados anteriormente também são fundamentais para que se possam forjar
novos modelos de crescimento. Em Angola e em África. Durante os 40 anos de independência e
particularmente os 13 anos de pós‑guerra civil, Angola não alterou o seu modelo de crescimen‑
to, completamente centrado e dependente da exploração e exportação de petróleo. Os efeitos
perniciosos de tão elevada dependência – Angola é o segundo país no mundo com o maior
índice de concentração das exportações – já se fizeram sentir por diversas vezes com a queda
brusca e acentuada do preço do barril de petróleo (1981/82, 1986/88, 1998/99, 2008/2009 e
2014 sem fim à vista), sem que, aparentemente, tivéssemos aprendido a reduzi‑los pela via de
um novo modelo de desenvolvimento. E não há alternativa à diversificação, que devia ter come‑
çado, no mínimo, logo após a finalização da guerra civil, em 2002.
154 |
cumulação de capital humano: segundo os seus estudos de correlação entre este stock
a) A
de conhecimento e o crescimento, o capital humano contribui positivamente para a diver‑
sificação das exportações. O incremento nos níveis de educação contribui para o desen‑
volvimento do empreendedorismo e o aumento da produtividade do factor trabalho,
propiciando‑se, assim, condições para a mudança dos padrões de produção existentes.
105
Agosin, Alvarez e Ortega (2012) – Determinants of Export Diversification Around the World.
106
Parteka e Tamberi (2008) – Determinants of Export Diversification: An Empirical Investigation.
| 155
Olhando‑se para as estatísticas oficiais da actividade do sector da energia fica‑se com a sen‑
sação de que, em alguns períodos depois de 2002, a produção de electricidade – através de
diferentes fontes – aumentou de uma forma quase explosiva, sem, no entanto, tal facto se tra‑
duzir em maior disponibilidade deste factor de produção para a indústria, agricultura e outras
actividades directamente produtivas. No período a que se poderá chamar de longa duração
(1998/2016), a produção de energia no país cresceu a uma taxa média anual de praticamente
12%, o que, em termos lineares, deveria significar uma multiplicação por 7 em 2016. Mas, apa‑
rentemente, não é isto o que se passa na realidade dos factos, comprovadas as faltas, cortes,
interrupções de fornecimento, etc., que ocorrem constantemente.
16
14 13,6
dt33
156 | relatório economico 2016
1p · FR
O gráfico anterior mostra (também apresentado no parágrafo 4.1 por razões ligadas à efi‑
ciência do sector de energia) que foi o período 1998/2001 o que menores taxas reais de varia‑
ção apresentou para o sector de energia, provavelmente explicado pelos baixos montantes de
investimento público e pela instabilidade militar. O subperíodo 2002/2008 foi o de maior cres‑
cimento da produção de energia, com uma taxa média anual acima de 13,5%. Igualmente no
intervalo temporal 2009/2016 com uma taxa média real de variação anual de cerca de 11,8%.
OS CICLOS DA ENERGIA
A questão básica é: para onde, afinal, foi tanta energia produzida? Qualquer que seja o
período considerado, a taxa média anual de variação real do PIB energia foi sempre superior à
do PIB. No longo período 1998/2016 – quase 20 anos – a diferença média foi de 7,6 pontos per‑
centuais. Muito desperdício. Explicações possíveis:
c) Fraca verosimilhança dos dados estatísticos (a produção pelos geradores entra nestas
estatísticas oficiais?).
| 157
d) Baixa eficiência na utilização empresarial da energia, por sua vez eventualmente relacio‑
nada com a idade dos equipamentos industriais, o uso de tecnologias ultrapassadas (mais
consumo energético para a mesma ou menor quantidade de produção obtida).
Muita energia e relativamente barata consequencializa custos económicos baixos, que pos‑
sibilitam melhorar a competitividade estrutural da economia nacional.
África tem visto a sua dinâmica de crescimento atenuar‑se nos últimos anos (2012‑2015),
principalmente devido ao comportamento em baixa dos preços da generalidade das commodi‑
ties, à diminuição dos fluxos de investimento privado (desviados para os Estados Unidos depois
de superados os efeitos da crise de 2008/2009), às dificuldades de obtenção de financiamentos
internacionais e à redução das ajudas financeiras ao desenvolvimento (IMF, Regional Econo‑
mic Outlook, Sub‑Saharan Africa, October 2015). De uma taxa média anual de variação real do
PIB de cerca de 5,5% durante o período entre 2000 e 2012, os últimos registos apontam para
um valor de 2,5%. Os dois grandes motores do crescimento económico de África (a Nigéria e o
Egipto) apresentaram comportamentos tímidos nos últimos anos, respectivamente 2,6% para o
primeiro e menos de 2,1% para o segundo país. A África do Sul, outro gigante económico afri‑
cano, desde há bastante tempo que tem vindo a creditar registos bastante modestos de cres‑
cimento do seu PIB (média geral de 2,4% ao ano entre 1989 e 2105) e apenas 1,7% em média
anual entre 2013 e 2015.
O abrandamento chinês é uma das três maiores ameaças que as nações africanas enfren‑
tam no seu desenvolvimento económico, de acordo com as conclusões de um painel de ana‑
listas, promovido pelo think tank norte‑americano Instituto Brookings. “O continente africano
continua a enfrentar vários desafios devido à ‘tripla ameaça’ da queda dos preços das maté‑
rias‑primas, abrandamento económico chinês e aumento do custo da dívida pública, o que ofe‑
rece, por outro lado, uma oportunidade para implementar políticas inovadoras e robustas para
acelerar o crescimento e assegurar um crescimento sustentável”, conforme consta do seu mais
recente relatório.
Angola atravessa, desde 2009, uma situação económica e social bastante difícil, sem estru‑
turas económicas, institucionais, sociais e empresariais capazes de mitigarem os tremendos
158 |
efeitos negativos provenientes da queda do preço do barril do petróleo. De uma taxa média
anual de variação do PIB de 11% (2002/2008), passou‑se para um valor de 2,8% em 2015, pra‑
ticamente o mesmo que a taxa de crescimento da população. Apesar disso e de se não terem
realizado as reformas estruturais exigidas por um processo de substituição das importações e
de diversificação das exportações – tendo‑se, portanto, perdido oportunidades de o fazer com
custos económicos e sociais mínimos – Angola detém um peso (económico e político) relevante
em África, nos PALOP, na CPLP, na SADC e na CEEAC.
Angola integra várias organizações regionais africanas, tais como a SADC (fundada em 1992),
a CEEAC (adesão em 1999), NEPAD (integração em 1995), o Banco Africano de Desenvolvimento
(membro em 1980) e CGG (fundada em 2001 e que inclusivamente tem a sua sede em Luanda),
para além da própria União Africana à qual aderiu ainda enquanto Organização de Unidade Afri‑
cana em 1975. Dum ponto de vista internacional, o país é membro da Organização Mundial do
Comércio à qual se juntou em 1996, do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (1989)
e da OPEP, em cuja organização se incorporou em 2007. No espaço lusófono, Angola é país‑fun‑
dador dos PALOP e da CPLP.
Angola detém uma posição económica dominante nos PALOP e na CEEAC, da qual retira, evi‑
dentemente, alguns dividendos políticos e na SADC e CPLP aparece como relevante em termos
de Rendimento Nacional Bruto, a despeito das incidências negativas da crise financeira e eco‑
nómica mundial de 2008/2009 e da actual recessão nos preços do barril de petróleo. Também
em África e na África Subsariana a posição económica de Angola é significativa. A tabela seguin‑
te visualiza o seu posicionamento (sendo o indicador de comparação o Rendimento Nacional
Bruto de cada um dos países dos agrupamentos considerados).
ANGOLA 2014 2015 2014 2015 2014 2015 2014 2015 2014 2015
1.º 1.º 2.º 2.º 1.º 1.º 5.º 5.º 3.º 3.º
Mas, ainda que a posição de Angola naqueles rankings seja significativa, a expressão nomi‑
nal do seu PIB é pequena em relação aos seus parceiros.
Igualmente Angola apresenta taxas médias anuais de crescimento do PIB de longa duração
medianamente elevadas, ainda que tivessem tido como seu factor essencial as exportações de
petróleo.
| 159
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S.
1989/2015 2002/2015
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relatório economico 2016
1p · FR
No entanto, a estrutura produtiva angolana é fraca, com uma capacidade de resiliência a cho‑
ques externos muito baixa, sem diversificação que aumente a densidade de relações produtivas
internas, sem alternativas a curto prazo quanto a outras fontes de financiamento da economia e
da actividade do Estado (que não sejam os empréstimos externos com consequências negativas
sobre a dívida pública e a dívida externa) e com problemas sérios ao nível do capital humano e
capital institucional. Por exemplo, a Nigéria, o Gabão, o Congo e mesmo os Camarões, também
países produtores de petróleo, mostraram índices médios anuais de crescimento das suas eco‑
nomias superiores aos de Angola, entre 2013 e 2015. O que significa, em conclusão, que as exce‑
lentes posições nos rankings do RNB não têm sustentabilidade na estrutura produtiva interna de
Angola, que necessita urgentemente de dar início a um processo consistente de diversificação,
eliminando‑se quer os obstáculos conjunturais (ambiente de negócios propício ao investimento
privado, corrupção, tráfico de influências, compadrios e incompetências diversas), quer os de
natureza mais profunda revertíveis ao capital humano, capital institucional e capital empresarial.
De adiamento em adiamento até à decisão final de não integrar a Zona de Livre Comércio
da SADC? A crónica deste processo parece indicar para esse desfecho, tantas têm sido as prote‑
lações. O primeiro estudo sério sobre as vantagens e desvantagens da adesão a uma zona eco‑
nómica onde as tarifas alfandegárias não existissem data de 1998 do século passado, quando se
discutiram as condições de subscrição de uma Convenção de Livre Comércio entre os países da
SADC, uma espécie de pré‑compromisso para a Zona de Livre Comércio. O país ainda se encon‑
trava em plena guerra civil, mas fazia todo o sentido equacionar‑se a abertura das fronteiras
aduaneiras de Angola, rumo a uma economia mais global e inserida em contextos internacio‑
nais mais competitivos.
As principais e mais importantes reservas a este processo vieram da parte dos empresá‑
rios nacionais e de muitos políticos em exercício de governação e com poderosos interesses
160 |
O Estado tem feito o seu papel e muitas das políticas em execução decorrem das exigências
e dos pontos de vista dos capitães‑de‑indústria angolanos, mas continuamos quase como par‑
timos para esta grande aventura do livre‑comércio, valendo a pena questionar se a preparação
de que o país necessita não deve agora ser colocada/questionada/reflectida não no âmbito
regional, mas numa perspectiva de mercado internacional, com muito mais oportunidades,
embora igualmente com mais riscos, exigências e incertezas, com certeza.
| 161
(é bom lembrar que a taxa de crescimento do PIB em 2016 foi de 0,1%, apontando as previsões
para 1,1% em 2017).
Existem, no entanto, outros argumentos que aconselham no sentido de uma maior refle‑
xão sobre as fases de integração económica da SADC – o ritmo que o Secretariado da SADC e os
países mais influentes na região pretendem imprimir na criação dos restantes arranjos (União
Aduaneira, Mercado Comum e União Monetária) vai seguramente aumentar as desigualdades
e assimetrias actualmente existentes entre os seus membros – e que devem ser lidos à luz das
presentes dificuldades da União Europeia e que fazem recear pelo seu colapso económico e
político. Nada do que se está a passar na União Europeia deve ser ignorado pelas instituições
que governam a SADC, do mesmo modo que as pretensões proteccionistas de Donald Trump
têm de merecer o devido enquadramento na região, por se tratar da maior economia do mundo.
Vale a pena revisitar a Teoria da Integração Económica e analisar, nos seus contornos mais
essenciais e actuais, a experiência europeia para se continuar a discutir a pertença de Angola
ao Livre Comércio da SADC.
162 |
vista económico, as desigualdades entre os diferentes países continuam a ser relevantes, dando
lugar a iniciativas de criação, ainda que informal, de agrupamentos de países mais semelhantes
em termos de estádios de desenvolvimento e de estruturas produtivas, sociais e de investiga‑
ção e desenvolvimento.
Mas também noutras regiões do mundo, a integração está a ser reequacionada, sendo o
Mercosul e a NAFTA os casos mais relevantes na actualidade. Os movimentos em sentido con‑
trário (acordo intra‑comercial entre o Canadá e a União Europeia, a recomposição e revitaliza‑
ção da integração económica asiática com a decisão dos EUA de daí se retirarem) não chegam
para contrariar a desilusão que estes processos estão a criar há muitos anos e traduzidos em
crescentes desigualdades sociais entre países e dentro de cada país.
• A integração, onde existe, não tem contribuído para a convergência real das economias,
prevalecendo diferenças significativas nos índices de competitividade, nas taxas de cresci‑
mento do PIB e nas taxas de desemprego.
• Onde está implantada, os níveis e condições de vida são muito díspares e as assimetrias
evidentes e cada vez mais acentuadas.
• As economias de escala têm favorecido os países mais estruturados e com um desenvolvi‑
mento tecnológico e científico mais acentuado.
Estes são aspectos cruciais para a integração de Angola na Zona de Livre Comércio da SADC
e para a própria organização em si, em cujo seio coexistem economias tão díspares entre si e
em estádios diferentes de desenvolvimento económico. Angola, de certa maneira, tem tentado
fazer o seu trabalho de casa em aspectos cruciais para o seu sucesso na ZLC.
• O modelo de abordagem da crise das dívidas soberanas, dos défices fiscais e do cres‑
cimento, provocada pela crise internacional 2009/2010, não foi o mais adequado para
países com deficiências e insuficiências estruturais e institucionais e com um índice de
| 163
• Apesar dos sinais de convergência e unidade que se pretendem dar depois de consuma‑
do o BREXIT, a Europa da moeda única apresenta‑se como duas realidades económicas e
sociais distintas: o eixo Alemanha‑França‑Holanda‑Luxemburgo‑Bélgica‑Itália (gerador de
prosperidade e de bem‑estar) e os países do Sul da Europa (Portugal, Espanha, Grécia, Chi‑
pre, Malta, França e Itália).
Mas, internamente, Angola apresenta ainda muitas deficiências para que a pertença à Zona
de Livre Comércio gere internalidades e externalidades positivas. Elencam‑se algumas:
• Inflação: para os próximos 3 anos, a taxa anual média de inflação poderá vir a situar‑se
entre 9% e 10%, de acordo com algumas projecções de instituições internacionais conhe‑
cidas. Enquanto muitas insuficiências de carácter estrutural não forem removidas, o país
perderá sempre em competitividade num clima de fronteiras económicas abertas.
•O
Estado continua a expandir os seus níveis de endividamento, contrariando uma das
metas acordadas na SADC de 60% do PIB. São conhecidos os efeitos negativos de níveis ele‑
vados de dívida pública sobre a sua própria sustentabilidade e a pressão que exerce sobre
a actividade económica e as condições de vida da população. Em Portugal, a Associação
Industrial Portuguesa, através de declarações do seu presidente, veio colocar em debate
a necessidade de reestruturação da dívida do país que representa mais de 130% do PIB.
• O sector financeiro do país tem estado, desde há mais de um ano, sujeito a um tremendo
stress, pois não funciona de acordo com as regras internacionais de transparência e com‑
pliance. Esta é uma clara desvantagem relativamente à África do Sul e às Maurícias. Para
o sistema financeiro são previstas várias medidas, tais como a reavaliação dos requisitos
mínimos de capital dos bancos comerciais para a melhoria dos rácios de solvabilidade e
de liquidez, a revisão das taxas aduaneiras que incidem sobre um conjunto de bens de pri‑
meira necessidade, ou que se demonstre serem mais consumidos pelas famílias de mais
baixo rendimento e a avaliação da implementação e monitoramento.
• As apostas na diversificação e nos apoios ao sector agrícola continuam muito tímidas,
sendo disso prova as dotações orçamentais. Por exemplo, no OGE 2017 o peso dos pro‑
gramas respeitantes à diversificação é relativamente baixo, o mesmo se passando com a
agricultura. As vantagens comparativas de Angola neste sector, face à África do Sul, Namí‑
bia, Botswana, Maurícias, são imensas, mas a sua praticidade depende de investimentos
públicos em infra‑estruturas e investigação.
• A indústria transformadora tem acumulado, nos dois últimos anos, crescimentos reais nega‑
tivos, demonstrando‑se, assim, a incapacidade desta actividade de transformação, vital
para o adensamento da malha de relações inter‑sectoriais e a criação de valor agregado
164 |
• Os fluxos de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) para Angola caíram no ano passado
para menos de metade do valor de 2015, quando subiram 351,7% devido às transferên‑
cias de capital das multinacionais para as filiais angolanas. De acordo com o relatório da
Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla
em inglês) sobre as Tendências de Investimento Global, divulgado em Genebra, “os fluxos
de IDE para África registaram um declínio de 5%, para 51 mil milhões de dólares” (47 mil
milhões de euros), em parte devido ao baixo preço das matérias‑primas que se regista
desde meados de 2014.
É neste contexto que mais um adiamento pode merecer o acordo do CEIC. No entanto, tem de
se saber para quê e se efectivamente existe vontade política para se entrar para a ZLC da SADC.
a) “A principal ilação refere‑se à falta de competitividade de Angola, seja qual for o indica‑
dor considerado”.
b) “A despeito de várias alterações positivas conseguidas depois de finalizada a guerra civil
em 2002 – estabilidade macroeconómica e controlo dos macro‑preços, ainda que este‑
jam agora ameaçados pela crise do preço do petróleo – construção de infra‑estruturas
económicas e sociais (mais de 93 mil milhões de dólares entre 2002 e 2014), melhoria de
algumas condições sociais, etc., parece que não foram suficientes para aumentar, duma
forma estrutural, a competitividade da economia nacional”.
| 165
Desde logo importa frisar que se tratam de dois espaços regionais muito diferentes, assu‑
mindo a SADC uma relevância muito maior em termos populacionais e económicos. Os paí‑
ses da CEEAC, com excepção do Gabão, são todos países de desenvolvimento humano baixo,
antevendo‑se, por este prisma, situações sociais mais problemáticas do que as verificadas na
SADC107. Uma síntese dessas diferenças marcantes pode ser adiantada pelo valor do PIB por
habitante: USD 2500 na CEEAC e USD 3800 na SADC.
(Milhões) %
107
Ver capítulo 6 do Relatório Económico de 2015, onde se faz uma análise das condições sociais das popu‑
lações da SADC, com base em diferentes indicadores, incluindo o IDH. As Maurícias, por exemplo, nas
estatísticas do Índice de Desenvolvimento Humano são um país de desenvolvimento humano elevado.
166 |
A sua expressão económica é muito modesta, tendo o seu Produto Interno Bruto atingido
USD 442,2 milhões em 2015108.
b) Os Camarões detinham, em 2015, 15,5% de toda a produção gerada na CEEAC, assumin‑
do a segunda posição económica. Em terceiro lugar está a República Democrática do
Congo, com 12,9% do PIB total.
c) Os três países citados detinham, naquele ano, 67,7% de toda a riqueza gerada em 2015,
equivalendo a um índice de concentração de 0,54 (tomando como referência a popula‑
ção).
108
A SADC, no mesmo ano, valorizou a sua actividade de produção doméstica em USD 1177,9 milhões.
Só o PIB da África do Sul (USD 650,1 milhões) é praticamente 50% maior que o de toda a região CEEAC.
| 167
b) Angola posiciona‑se com 2,79, enquanto o Gabão aparece com 7,55, o Congo com 2,38
e os Camarões com 1,16.
Dos países de maior expressão económica e apesar das vicissitudes conhecidas, Angola
ainda é o país com as maiores taxas de crescimento do PIB, em qualquer um dos períodos con‑
siderados. Mas o que se deve ressaltar é a fraca dinâmica de variação da actividade económica
na CEAAC e praticamente todos os países da região (excepção para a República Democrática do
Congo, o Ruanda e o Chade.
Angola perdeu muita da sua pujança de crescimento depois de 2008, conforme retratam as
informações do quadro anterior e referentes ao período 2004/2008 (uma quebra de 12,5 pon‑
tos percentuais quando comparada com 2004/2017). As perdas teriam sido maiores se o último
período da tabela fosse 2008/2016.
168 |
20,0
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2004-2008 2004/2016 2014/2017
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relatório economico 2016
Verifica‑se, por intermédio do gráfico de radar seguinte que, em termos médios, pratica‑
1p · FR
mente todos os países perderam ritmo de crescimento de 2004/2008 para os períodos mais
recentes, constatando‑se, ainda, a coincidência entre os períodos mais recentes, significando
uma estagnação dos respectivos compassos de variação real do montante de valor agregado.
Gabão Chade
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relatório economico 2016
1p · FR
Os países de maior PIB por habitante são a Guiné Equatorial, o Gabão e Angola, sem que
esse facto signifique os de melhores condições de vida. A excepção é o Gabão, que engloba os
países de desenvolvimento humano médio, na posição 109 ao lado do Botswana.
| 169
USD %
Nota: A 2.ª coluna representa o n.º de vezes do PIBpc de cada país sobre o PIBpc médio da CEEAC.
O rendimento médio por cada cidadão da CEEAC foi, em 2015, de apenas USD 2533, cerca
de 66,4% o valor registado, no mesmo ano, na SADC. Este indicador do poder de compra médio
de cada país é uma aproximação ao valor médio e global da sua produtividade e representa, de
certo modo, a sua dimensão económica média interna. Os valores da segunda coluna do qua‑
dro anterior representam uma aproximação às assimetrias regionais na CEEAC, medidas apenas
em termos de distanciamento relativo no rendimento médio por habitante.
14
Guiné Equatorial
11,8
12
10
Gabão
8 7,5
4 Angola Congo
2,7 S.Tomé
Camarões 2,4 e Príncipe
2 1,2 Chade 1,2
RCA 0,8 Rep. Dem. Ruanda
Burundi 0,2 Congo 0,7
0 0,3 0,3
0 2 4 6 8 10 12
País/média
Olhando de outro ângulo as diferenças entre os países da amostra – a taxa de variação anual
do PIB por habitante – notam‑se irregularidades, mas igualmente permanências. Atentando‑se
na tabela seguinte, aparecem nítidas as diferentes velocidades na melhoria das condições de
vida das populações, medidas tão‑somente através deste indicador.
O PIB por habitante tem uma correlação positiva com a competitividade de cada país –
maior dimensão económica interna, maior a possibilidade de se reduzirem custos de produção
pelas economias de escala – e a sua cadência de variação pode ser uma aproximação de ganhos
de produtividade.
109
Fundo Monetário Internacional, Angola – Consultas de 2016 ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro de
2017.
| 171
O gráfico de radar seguinte ilustra bem as diferenças de intensidades de variação do PIB por
habitante em cada país e para os três períodos de tempo.
Gabão Chade
Outro item é o da inflação, o que de uma forma mais directa pode impactar a competitivida‑
de. Na verdade, quanto mais elevado for o índice de preços, menor a capacidade concorrencial
desse país no mercado internacional.
172 |
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
la
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go
o
l
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né
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p.
i
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To
Gu
Re
S.
2004/2008 2004/2016 2014/2017
dt39
Dum modo geral, Angola, por este item considerado de uma forma absoluta, é o país
relatório economico da
2016
2p · Paulo
CEEAC com a mais elevada taxa de inflação nos períodos de tempo considerados na análise.
A República Democrática do Congo foi o país com maiores ganhos de competitividade pelos
preços entre 2004/2008 e 2004/2017, com uma quebra do índice geral dos preços de mais de
10 pontos percentuais.
Igualmente pelos preços relativos, Angola detém uma posição desfavorável neste espaço
de integração económica regional. Os valores da tabela seguinte foram calculados tendo como
base a taxa de inflação de Angola, para cada um dos períodos de análise, e as taxas de inflação
de cada um dos outros parceiros. Ou seja, a fórmula usada foi: (inflação de Angola/inflação do
país i). Valores acima da unidade correspondem a situações de menor competitividade compa‑
rada de Angola face aos seus parceiros. Logicamente que abaixo representam ocorrências de
maior competitividade comparada de Angola.
| 173
continuação
2004/2008 2004/2015
174 |
Deste ponto de vista, Angola – tal como acontece na SADC – é o país menos competitivo,
representando a sua taxa de câmbio ponderada pela inflação local e pela inflação internacional
um desincentivo para as exportações e um incentivo forte para as importações que só se con‑
seguem controlar por medidas administrativas, como o agravamento das tarifas aduaneiras.
Duma maneira geral, todos os países da CEEAC são incompetitivos no mercado internacio‑
nal, ressalvando‑se a pequena economia burundesa e a não menos pouco representativa neste
espaço regional economia são‑tomense.
300
250
200
150
100
50
0
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2004/2008 2004/2015
Angola
CEEAC 300
250 Burundi
200
S. Tomé e Príncipe 150 Camarões
100
50
0
Ruanda Rep. Centro Afr.
Gabão Chade
dt41
Fonte: Regional Economic Outlook: Sub‑Saharan Africa, Outubro de 2016.
relatório economico 2016
1p · FR
| 175
Dum ponto de vista da dinâmica dos ganhos de competitividade pelas taxas de câmbio, verifi‑
ca‑se que no período 2009/2015, Angola valorizou a taxa de câmbio do Kwanza a uma velocidade
média anual de 8,4%, só comparável à de S. Tomé e Príncipe e à da República Centro Africana.
2004/2016 2004/2017
176 |
A taxa global de investimento em Angola é a segunda mais baixa da região, inferior mesmo
à da CEAAC. A Guiné Equatorial é a “campeã” dos investimentos, graças ao sector petrolífero.
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
a
s
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Re
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S.
2004/2016 2004/2017
dt42
Em termos de investimento estrangeiro líquido, a situação está reflectida na tabela
relatório seguinte.
economico 2016
1p · FR
2004/2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2004/2016 2004/2017
Angola ‑0,6 2,9 ‑5,5 ‑4,9 ‑8,4 ‑10,5 ‑1,8 5,6 ‑3,2 0,7 ‑2,9 ‑2,6
Burundi 0,1 0 0 0,2 0 2,6 2,4 1,6 1,7 1,9 1,0 1,1
Camarões 1,8 2,1 1,8 1,8 3,1 2,9 2,9 2,1 1,8 1,6 2,3 2,2
República Centro Africana 3,3 2,1 3,1 1,7 3,2 0,1 0,1 0,3 1,6 1,8 1,7 1,7
Chade 3,5 2,7 2 1,5 3,4 2,8 ‑3,4 4,3 4,5 3,8 2,4 2,5
República Democrática do
5,3 ‑1,5 13,3 6,5 10,5 5,2 4,2 3 1,7 1,9 5,4 5,0
Congo
Congo 22,8 20,2 18,2 21,1 ‑2,1 18,7 19,6 10,6 10,8 12 15,5 15,2
Guiné Equatorial 7,9 ‑6,5 ‑4,2 ‑2,2 ‑4,4 ‑3,3 ‑1,5 ‑1,7 ‑0,5 ‑2,6 ‑1,8 ‑1,9
Gabão 4,2 5,2 3,5 4,0 3,6 4,4 5,6 4,4 5,1 5,0 4,4 4,5
Ruanda 1,2 2,2 1,4 1,9 1,2 0,8 0,5 0,3 0,5 0,7 1,1 1,1
São Tomé e Príncipe 16,6 7,6 24,2 12,4 8,3 1,5 5,6 6,3 1,2 2,6 9,3 8,6
CEEAC 6,0 3,4 5,3 4,0 1,7 2,3 3,1 3,3 2,3 2,7 3,5 3,4
| 177
Neste espaço de integração económica regional, Angola e a Guiné Equatorial são os países
menos confiantes para o investimento estrangeiro directo. São, na verdade, os únicos paten‑
teando uma taxa de investimento líquido estrangeiro negativa, significando uma saída de capi‑
tais maior do que as entradas, que foram essencialmente do sector petrolífero, em qualquer um
daqueles dois países. Quebra da dinâmica de crescimento, relativa instabilidade política – quan‑
do um governante detém o poder de governação e de comando por tanto tempo, os receios
(as expectativas de ocorrência de instabilidade aquando da transição para um novo Presidente)
– corrupção, ambientes de negócios poluídos e inquinados por excessiva burocracia, falta de
infra‑estruturas e a sua baixa eficiência económica, podem ser algumas das razões para estas
saídas líquidas de capitais.
178 |
6.1 Introdução
Mais recentemente (Janeiro 2017) e através do Relatório da Oxfram (uma ONG britânica
preocupada com os problemas das desigualdades no mundo) divulgou uma estatística arre‑
piante: 8 indivíduos dispuseram, em 2016, de um acumulado de activos de 400 mil milhões de
dólares, o mesmo que o rendimento de metade da população mundial (cerca de 3,5 mil milhões
de pessoas). O sistema capitalista mundial e a globalização não têm sido capazes de, ao nível
global da humanidade, reduzir as assimetrias na distribuição do rendimento. Todos os países –
incluindo a China e mesmo a Coreia do Norte – são hoje economias de mercado e reproduzem
internamente os vícios, insuficiências e disparidades do modo de produção capitalista. Quanto
mais abertas as economias e mais participantes da globalização, aparentemente mais desiguais
| 179
A desigualdade tem três vertentes: a expressa pela riqueza, a visualizada pelo rendimento
e a revelada pelo consumo. Luís Cabral (“Imposto sobre o Consumo”, caderno de Economia,
Semanário Expresso de 21 de Junho de 2014; é economista e Professor da Universidade de
Nova Iorque) defende que, dum ponto de vista do bem‑estar social “o mais importante é a desi‑
gualdade do consumo entre o cidadão médio e os escalões mais elevados da pirâmide socioe‑
conómica”. O que deve então ser tributado? O rendimento? A riqueza? O consumo? Ou os bens
de luxo? Qual das vias é a mais justa e equitativa e a que menos mossa provoca no sistema geral
de relações económicas e de incentivos ao investimento? Por exemplo, Thomas Piketty é a favor
da tributação fortemente progressiva sobre a riqueza, em contraste com as correntes fiscais
mais conservadoras que preferem a incidência fiscal sobre os rendimentos, resguardando o
que, no seu entender, pode ser uma fonte de poupança e de investimento.
Sem dúvida que o recente livro de Thomas Piketty, O Capital no Século XXI (2015) veio agi‑
tar o já de si muito revolto mar das desigualdades económicas e sociais no mundo e dentro de
cada país. Joseph Stiglitz no final de 2012 (The Price of Inequality) lançou também muitas achas
para a fogueira da discussão do cada vez maior peso das fortunas e das riquezas individuais no
produto interno bruto. Mia Couto, nas suas colunas de intervenção na revista África 21, alerta
para o facto de que o drama dos países subdesenvolvidos é criarem ricos em vez de riqueza.
Em Angola, são manifestamente insuficientes declarações bombásticas, mas vazias de sentido
económico e ocas de vontade política, como “crescer mais para distribuir melhor” (não é abso‑
lutamente necessário que a economia cresça mais para se distribuir melhor; provavelmente o
mais importante é redistribuir já o que a economia e a sociedade acumularam).
Quer Stiglitz, quer Piketty entendem que a melhor forma de proceder à redistribuição do
excesso de acumulação e de riqueza é a via fiscal, por intermédio de impostos fortemente pro‑
gressivos sobre os rendimentos acima de níveis considerados decentes e não pornográficos.
Impostos progressivos sobre as riquezas nacionais e um imposto global sobre o mesmo agrega‑
do para evitar transferências de activos financeiros de um país para outro é a tese essencial de
Piketty para se reduzirem as desigualdades de rendimento ao nível planetário. Evidentemente
que, do estrito ponto de vista económico, uma excessiva progressividade dos impostos sobre
rendimento e riqueza pode engendrar determinados efeitos perversos, como fuga de capitais,
evasão fiscal, custo de oportunidade do trabalho e do dinheiro, etc.
180 |
uma riqueza de mais de 50 mil milhões de dólares, mas a sua habitação vale cerca de 350 mil
dólares, Mukesh Ambani, o empresário indiano, vive numa mansão servida por 600 pessoas
e avaliada em mil milhões de dólares, o milionário russo Roman Abramovich tem um iate que
custou mais de 300 milhões de dólares e o empresário inglês dono das lojas BHS gastou na sua
festa de anos 20 milhões de dólares”. O que deve então ser tributado? O próprio Buffett pro‑
põe que se aumente a taxa do imposto sobre o rendimento como forma de atingir a riqueza,
já que aparentemente, este tipo de incidência não afecta o investimento. Para Luís Cabral, a
tributação sobre o consumo tem vantagens sobre a incidente sobre o rendimento, nomeada‑
mente em termos de eficiência económica: a partir dum certo limite de imposto, cortam‑se
seriamente os incentivos para a criação de riqueza. Este inconveniente não ocorre se a tribu‑
tação incidir sobre o consumo, onde se podem ter taxas marginais de 100%: quem quiser dar
uma festa de aniversário, casamento, baptizado, comemoração de bodas de prata, ouro ou
diamante, etc., de 20 milhões de dólares pode fazê‑lo desde que pague um imposto de valor
equivalente. Parece uma boa sugestão para alguma reforma tributária pretendente a diminuir
excesso de dependência de tributação sobre a exploração de recursos naturais. A festa de casa‑
mento da filha do Presidente da Nigéria, que teve a originalidade de se ofertarem aos milha‑
res de convidados I‑Pad revestidos a ouro, pode ser um exemplo de algumas das vantagens da
tributação sobre o consumo. Em Angola também se organizam festas de aniversário de alguns
milhões de dólares.
Uma das medidas gerais de desenvolvimento social é dada pelo valor do PIB por habitante,
ainda que insuficiente para medir as desigualdades na distribuição dos frutos do crescimento
económico (desde há cerca de 25 anos que o Índice de Desenvolvimento Humano substituiu,
sem o destronar, o rendimento médio pessoal, enquanto indicador mais abrangente e capaz
de ilustrar alguns casos de desigualdade, sendo o mais usado a diferença entre os rankings do
IDH e do PIB por habitante sinalizando em quanto o crescimento é ou não é transformado em
desenvolvimento).
Em termos lineares, quanto mais baixo o valor do PIB por habitante, maior a percentagem
de cidadãos sem acesso às condições mínimas de dignidade humana. Quando este valor baixo é
complementado por evidências de desigual e injusta repartição do rendimento nacional (distri‑
buição primária e secundária), então o índice de pobreza será mais elevado. O candidato oficial
do MPLA a Presidente da República reconheceu, no comício da sua apresentação à população
do município de Viana, que “mais da metade dos angolanos ainda vive em situação de extrema
pobreza”110 (menos de USD 1,25 segundo a classificação de rendimento dos organismos inter‑
nacionais para este fenómeno), valendo por dizer que afinal a taxa de pobreza de 2008/2009
110
Semanário Nova Gazeta, 30 de Março de 2017.
| 181
determinada através dos resultados do IBEP em 36,6% está desenquadrada da realidade actual,
o que é absolutamente compreensível e aceitável, num contexto de degradação sistemática
do poder de compra dos rendimentos mais baixos e de crescimento económico quase nulo111.
Esta variável (PIB por habitante), simultaneamente económica (mede em última instância
a dimensão económica do mercado interno) e social (capacidade de acesso a bens materiais e
imateriais), apresenta a evolução seguinte em Angola.
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
-1000
-2000
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Incrementos anuais PIB per capita (USD)
Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos do PIB por habitante” com base em dados oficiais e do FMI.
O valor do PIB por habitante em 2016 foi de USD 3497,7 e a tendência, depois de 2011, é
dt43
sempre decrescente, como, de resto, os incrementos anuais o expressam, comeconomico
relatório episódios
2016de
variações negativas em 2014, 2015 e 2016. Tudo o resto mantendo‑se constante, seguramente
1p · FR
111
Afirmou ainda que é pela via da criação de emprego que a taxa de pobreza pode ser reduzida e,
assim, alargar a dimensão da classe média. Não existem evidências empíricas definitivas quanto à
relação entre emprego e pobreza, não sendo, portanto, claros os mecanismos através dos quais mais
emprego equivale a menos pobreza. Do ponto de vista da Ciência Económica, a relação entre emprego
e crescimento económico está estudada, no sentido de que sem crescimento económico não há cria‑
ção de novos postos de trabalho, mas pode inclusivamente ocorrer crescimento económico com dimi‑
nuição de emprego, bastando verificar a influência dos processos de produção capital/tecnologia
intensivos. Por outro lado, o que pode, na verdade, reduzir a pobreza é o bom emprego, bem remune‑
rado e ao qual corresponde uma produtividade elevada e também políticas de inclusão social, muito
caras em termos orçamentais, mas com enormes impactos a médio prazo sobre a redução das desi‑
gualdades, humanamente imorais. Segundo as Contas Nacionais de 2012 – no item do emprego ainda
não estão actualizadas para 2013, 2014 e 2015 – o salário médio nacional era de AKZ 37000, insu‑
ficiente para tirar da pobreza a maior parte dos cidadãos que se encontram nessa situação. É muito
difícil e arriscado basear as políticas de redução da pobreza apenas no emprego. O Ministério da Eco‑
nomia fez saber (Semanário Expansão de 17 de Março de 2017) que é bastante elevada a taxa de mor‑
talidade das empresas em Angola: por cada 100 criadas, apenas sobrevivem 30.
182 |
que o índice de pobreza aumentou e mesmo o valor do IDH deveria ter reflectido esta deterio‑
ração no índice de rendimento. Mas tal não aconteceu no Relatório do Desenvolvimento Huma‑
no de 2015, tal como se perceberá no parágrafo seguinte. As estatísticas internacionais usam
o PIB por habitante em paridade do poder de compra112, sendo talvez por isso que o IDH de
Angola tenha melhorado ligeiramente de 2014 para 2015, sem que isso signifique uma real e
efectiva alteração das condições de vida da população.
Com prestações económicas tão reduzidas, tanto em termos de PIB, quanto de PIB por habi‑
tante, não são de prever melhorias nas condições de vida da população, sendo, portanto, natu‑
ral que a taxa de pobreza tenha aumentado.
112
O Relatório do IDH de 2015 apresenta um rendimento nacional bruto por pessoa de USD 6291 em
paridade do poder de compra, enquanto o PIB por habitante sem esta correcção foi de USD 3888,9.
A teoria da paridade do poder de compra propõe que a taxa de câmbio entre duas moedas se encon‑
tra em equilíbrio quando o poder de compra das moedas é equivalente ao da taxa de câmbio. Assim,
por exemplo, a taxa de câmbio oficial de 1 USD é de cerca de AKZ 200, significando que as duas moe‑
das estariam em equilíbrio se um dólar comprasse nos Estados Unidos a mesma quantidade de bens
que AKZ 200 em Angola. Ou seja, AKZ 200 compram tantos bens nos Estados Unidos quanto um dólar,
logo uma paridade internacional do kwanza é elevada.
113
Se por qualquer motivo esta taxa tendencial se mantivesse, seriam necessários cerca de 90 anos
para que o PIB por habitante fosse duplicado.
| 183
foram disponibilizados para a força de trabalho nacional, ainda assim, uma tremenda quebra
de ‑53,6% face a 2014 (o peso, afinal da crise económica, financeira e social para onde o país foi
arrastado). Nos sectores sociais e para o mesmo período foram disponibilizados tão‑somente
62634 novos empregos foram disponibilizados. Este assunto do emprego será retomado e tra‑
tado de um modo mais apropriado no capítulo 7 deste Relatório.
A metodologia que o CEIC usa para estimar a taxa de pobreza relaciona‑a com o crescimento
económico (sua taxa de variação real e na presunção de que sem economia não há o social), a
taxa de crescimento (ou decrescimento) do rendimento nacional bruto por habitante114 e um
coeficiente (de valor negativo que expressa a elasticidade pobreza‑rendimento e que pode ser
considerado como um proxy do modelo de redistribuição do rendimento).
Taxa crescimento PIB per capita (%) 1,9 3,5 1,6 ‑2,2 ‑6,6
Fonte: CEIC, Ficheiro “Cenários de redução da pobreza”, com base em informações oficiais.
Com crescimento reduzido a taxa de pobreza tem tendência para aumentar, sendo essa a
razão do seu valor de 36,5 % em 2014, ou seja, como a taxa de variação do PIB foi de 4,8% (bem
acima da registada em 2015 e 2016) então é natural que a taxa de pobreza tenha diminuído,
admitindo‑se melhorias nos mecanismos e esquemas de redistribuição do rendimento nacio‑
nal. No entanto, a sustentabilidade deste processo só será possível com medidas específicas de
reafectação de parte do rendimento nacional às classes sociais mais desfavorecidas, o que terá
de ser comprovado por investigação adicional.
Ainda em relação à tabela anterior e devido à quebra do PIB por habitante e da sua taxa
de variação anual, a taxa de pobreza para 2016 pode ser estimada em 40,1%, um aumento de
quase 4 pontos percentuais relativamente a 2014.
Considerações sobre a taxa de pobreza do IBEP (2008/2009) de 36,6% (parece que este
Inquérito já está a ser objecto de actualização proximamente):
a) Para que tivesse sido registada em 2009 e aplicando a metodologia do CEIC, a taxa de
crescimento do PIB deveria ter sido de 9,5% e na realidade foi de apenas 2,1% (Contas
Nacionais).
114
Em 2015 a taxa de variação do rendimento nacional por habitante foi de – 2,2% e em 2016 de ‑3%,
num acumulado aritmético de ‑5,2%.
184 |
b) No mesmo sentido, a elasticidade pobreza‑rendimento teria de ser igual a ‑1 (efeito con‑
tágio perfeito).
c) A sua verificação exigiria que a taxa média de crescimento do PIB por habitante tivesse
sido de 6,4%, quando afinal foi negativa e de ‑28,5%.
a) A taxa de crescimento médio anual do PIB entre 2014 e 2017 teria de ser de 11%115.
c) O processo de acumulação primitiva de capital ou teria de cessar nos moldes pouco trans‑
parentes, corruptivos, injustos, desequilibradores e assimétricos que o têm caracterizado
ou então ser substituído por um outro mais inclusivo e mais centrado no emprego, nas
remunerações do trabalho e no incremento da produtividade.
115
Entre 2014 e 2016 foi de 0,7556 % e de 0,865%, adicionando a previsão para 2017.
| 185
Taxa crescimento PIB per capita (%) ‑1,8 ‑1,6 ‑1,7 ‑1,6 ‑1,6
Fonte: CEIC, Ficheiro “Cenários de redução da pobreza”, com base em informações oficiais.
O Africa Progress Panel de 2013116, presidido pelo antigo Secretário‑geral das Nações Uni‑
das, Kofi Annan, refere que Angola é o país africano que “ilustra da forma mais poderosa a
divergência entre riqueza de recursos naturais e bem‑estar social”, sendo o país que detém um
dos padrões mais desiguais de distribuição do rendimento. Acrescenta‑se que “a actividade das
empresas do Estado se esconde atrás de um sistema financeiro opaco que não cumpre regras
mínimas de transparência e beneficia figuras públicas ou políticas”. Confirma‑se, assim, por
um lado, que os problemas do sistema financeiro angolano, internacionalmente denunciados,
foram afinal identificados e reconhecidos desde há algum tempo e, por outro, está configurado
para servir uma pequena elite política ligada ao poder. Talvez se compreenda agora melhor a
preocupação do actual Governador do BNA, publicamente manifestada algumas vezes, de reor‑
ganizar o sistema bancário para o colocar também ao serviço do povo e da estratégia de comba‑
te à pobreza. Mas os interesses da elite são tantos e tão poderosos que semelhante desiderato
dificilmente será atingido.
O modelo de difusão social do crescimento económico que tem sido aplicado revelou‑se
errado (a renda petrolífera serviu para que fosse criada uma faixa muito reduzida de popula‑
ção excepcionalmente rica, usando‑se a Sonangol e o OGE como instrumentos privilegiados) e
insuficiente. Melhorar a distribuição do rendimento nacional apenas pela via do emprego – cuja
criação nem sempre atingiu as metas estabelecidas pelo Governo, estando ainda na memória
de toda a gente a promessa de 1 300 000 novos postos de trabalho entre 2008 e 2012 – é cla‑
ramente escasso, como o comprovam as abordagens teóricas sobre o emprego e as inúmeras
evidências empíricas reveladas por estudos e pesquisas independentes.
116
Africa Progress Report, 2013.
186 |
A primeira leitura interpretativa dos valores dos indicadores inseridos na tabela seguinte
aponta para uma ligeira diminuição da desigualdade em Angola. Na verdade, os dois indica‑
dores‑chave que ao nível macro podem dar uma aproximação do estado da desigualdade (IDH
e IDH ajustado à desigualdade) melhoraram durante o período 2011‑2015 a um ritmo médio
anual, respectivamente, de 0,9% e 2,45%. Sobretudo esta última cifra é a mais indicativa da
melhoria na redistribuição do rendimento. Ainda assim, estas melhorias não representam, por
enquanto, uma influência nas taxas de pobreza determinadas no parágrafo anterior.
No entanto, os seus valores absolutos (IDH e IDH ajustado à desigualdade) ainda não são sufi‑
cientemente altos para retirar o país do grupo de desenvolvimento humano baixo e a posição relati‑
va no ranking mundial continua a ser não melhor (em 2015, Angola ocupava a 150.ª posição, contra
a 149.ª em 2014), porque os restantes países também aplicam políticas macro e microeconómicas
de alteração das condições de repartição dos benefícios do crescimento económico. Neste grupo de
países, ocupado na sua grande maioria por países africanos subsarianos, existem alguns onde as tra‑
duções sociais dos ganhos do crescimento económico foram mais convincentes do que em Angola.
Outra nota de relevância é dada pela perda de lugares registada no IDH ajustado à desigual‑
dade (17 em 2013 e 8 em 2015) significando uma melhoria nos mecanismos de distribuição do
rendimento, mesmo num quadro geral de remunerações baixas dos factores de produção, em
especial do trabalho (consequentemente da grande maioria das famílias). Também o coeficien‑
te de desigualdade humana patenteia uma melhoria média de 7 pontos percentuais entre 2013
e 2015, mais um acrescento à conclusão de partida de que foram registadas ligeiras melhorias
na mitigação da desigualdade em Angola.
| 187
As estatísticas internacionais e diversos estudos sobre esta matéria – por exemplo, a Orga‑
nização Internacional do Trabalho efectua‑os com regularidade no âmbito das suas responsa‑
bilidades internacionais quanto à força de trabalho – são claros quanto à eficácia daqueles dois
instrumentos na melhoria das desigualdades de rendimento e fortunas. Mas igualmente eluci‑
dam que este é um processo demorado e está intimamente ligado ao crescimento económico
e à natureza das políticas macroeconómicas. É o caso do Japão. Em 2014 apresentou um Coe‑
ficiente de Gini de 0,376 que deveria tomar o valor de 0,570 não tivessem sido as influências
da Segurança Social e dos impostos progressivos. O percurso da redução das desigualdades de
rendimento no Japão, desde 1967 do século passado, é deveras interessante.
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
1967 1972 1975 1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 2002 2005 2008 2011 2014
Gini sem política fiscal e segurança social Gini com impostos progressivos e segurança social
Fonte: Tomoya Asano – Política Monetária, Cambial e Fiscal no Japão após a Segunda Guerra Mundial, Seminário promovido pelo BNA, 19
de Abril de 2017.
Foram precisos quase 50 anos para se obterem ganhos efectivos e sustentáveis na melhoria
dt44
da distribuição dos rendimentos e na diminuição das desigualdades económicas
relatórioeeconomico
sociais neste
2016
país asiático. São, na verdade, alterações onde o tempo é um factor importante, no sentido 2p · do
FR
acerto das políticas públicas e na eliminação de entraves políticos à obtenção dos melhores
resultados. Apesar de o Coeficiente de Gini ter aumentado o seu valor em cerca de 14,7% de
1967 para 2014, os ganhos são evidentes e medidos pelo aumento da diferença entre os dois
Coeficientes de Gini: de 0,0473 para 0,1945117.
Outro aspecto a relevar, nesta análise temporalmente longa, relaciona‑se com a constatação
de que afinal o crescimento económico é ele próprio construtor de desigualdades de rendimen‑
tos – o que no gráfico precedente é ilustrado pelo declive da recta de tendência que se poderia
117
Quanto mais elevada a diferença, melhor se encontra a igualdade de rendimentos.
188 |
ajustar à linha correspondente ao Coeficiente de Gini com as medidas correctoras –, não que‑
rendo significar uma rejeição do seu processo. Os mecanismos de mercado reproduzem, na
atribuição dos rendimentos dos factores de produção, os vícios e as deformações – situações
de monopólio, oligopólio, concertação de estratégias empresariais, etc., as conhecidas falhas
de mercado que os afastam de um funcionamento próximo do óptimo de Pareto – ocorrentes
na afectação dos factores de produção ao processo económico. Estes desvios e ineficiências dos
mecanismos de mercado devem e podem ser corrigidos com políticas públicas incidentes sobre
a repartição secundária do rendimento nacional, exactamente como o Japão operou com os
impostos progressivos e a Segurança Social.
Fonte: UNDP, Relatórios de Desenvolvimento Humano, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015.
Contudo, esta visão geral de mitigação relativa e ligeira das desigualdades no país apresen‑
ta aspectos negativos, ou seja, e igualmente numa análise meso, o factor determinante desses
ganhos é o rendimento (ou seja, e afinal o crescimento económico) tal como o atesta o com‑
portamento do respectivo índice. Não é estranho que isso aconteça, porque, no final do dia,
| 189
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
2011 2012 2013 2014 2015
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) IDH ajustado à desigualdade
Fonte: UNDP, Relatórios de Desenvolvimento Humano, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015.
Em termos comparativos, Angola continua a não se aproximar dos países de médio desen‑
dt45
volvimento humano, onde as políticas de inclusão são de muito maiorrelatório
alcance, sendo2016
economico os que
1p · FR
em termos de padrões de transparência se colocam manifestamente em posições superiores.
190 |
Fonte: UNDP, Relatórios de Desenvolvimento Humano, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015.
Os países africanos da amostra anterior são os melhores nos três indicadores (com excepção
de Angola), ainda que pertençam a grupos de desenvolvimento humano diferentes, destacan‑
do‑se as Maurícias do grupo de países de desenvolvimento humano elevado. Entre si e Angola
as diferenças são absolutamente significativas (pertencem ambos à SADC, embora só as Maurí‑
cias façam parte da sua Zona de Livre Comércio), sendo a seu favor 46,5% no IDH, 99,1% no IDH
ajustado à desigualdade, também 99,1% no IDH educação ajustado à desigualdade e 179,7%
para o IDH saúde ajustado à desigualdade.
120
100
80
60
40
20
0
Noruega África do Sul Namíbia Cabo Verde Botswana Maurícias Angola
dt46
relatório economico 2016
O gráfico anterior mostra quão distante Angola se encontra do melhor país em desenvolvi‑
1p · FR
mento humano, também produtor de petróleo, mas com preocupações humanas e de desen‑
volvimento social igualitário, bastando para tal observar os valores dos índices de educação e
saúde ajustados à desigualdade.
| 191
A primeira conclusão é que até 2021 (ou seja, entre 2017 e 2021), o incremento médio
anual do PIB por habitante (que não é rendimento nacional como se sabe) será de tão‑somen‑
te USD 240, dando‑se bem conta das dificuldades para se melhorarem as condições de vida da
grande maioria da população. Com toda a probabilidade, nem uma modificação dos esquemas
políticos e partidários de acesso privilegiado e desigual ao rendimento nacional, iria provocar
um impacto significativo sobre o modo de vida médio da população. USD 240 de rendimento
incremental para redistribuir é nada. O gráfico dinâmico ilustrativo desta situação é o seguinte.
1000
500
-500
-1000
-1500
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Incremento anual do PIB (USD) Incrementos médios anuais (USD)
Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos do PIB por habitante” com base em dados oficiais e do FMI.
dt47
192 | relatório economico 2016
1p · FR
Outra forma de se analisar esta mesma questão é por intermédio da taxa de crescimento
do PIB por habitante.
30
20
10
-10
-20
-30
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Taxa crescimento PIB per capita Linhas tendenciais crescimento PIB per capita (%)
Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos do PIB por habitante” com base em dados oficiais e do FMI.
a) O que haverá para distribuir até 2021 é claramente irrisório. Só um safanão na estrutu‑
ra económica do país – diversificação das exportações, salários condignos e capazes de
gerarem poupanças das famílias, abertura da economia, valorização do capital humano,
incremento da competitividade, melhoria dos ambientes de negócios – será capaz de
provocar alterações significativas neste cenário de degradação sistemática do viver quo‑
tidiano dos cidadãos.
b) Como se afirmou já, o crescimento do PIB é fundamental, mas não suficiente. O modelo
de acumulação primitiva do capital, doutrina oficial do MPLA, deve cessar nos seus con‑
tornos actuais e ser substituído por outro mais socialmente inclusivo e economicamente
gerador de externalidades potenciadoras dos índices de eficiência da economia.
c) Menos suficiente será a taxa de crescimento do PIB quando, como é o caso, a sua cadên‑
cia média anual de variação, entre 2017 e 2021, não ultrapassará 1,4%. Ainda que anual‑
mente o PIB por habitante se incremente em USD 240 – irrisório face às necessidades de
consumo e investimento – o crescimento do PIB a uma taxa inferior a 1,5% ao ano não
é bastante para se alterarem as actuais condições de reprodução do sistema económico.
Tender‑se‑á para um modelo de reprodução simples.
| 193
d) É bom lembrar que a taxa média anual de 1,4% incorpora já o sector não petrolífero,
donde as folgas para se melhorarem as condições de vida da maior parte da população
são menores. E não vai ser possível regressar aos crescimentos médios anuais de 12,5%,
da “mini‑idade de ouro” de crescimento da economia angolana, por razões sobejamen‑
te conhecidas e constantes de relatórios do Governo e das mais relevantes instituições
internacionais ligadas aos problemas do desenvolvimento.
8
7
6
5
4
3
2
1
0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
dt49
relatório economico 2016
1p · FR
118
INE, Nota Informativa – Dados da Projecção da População de Angola, População de Angola em
2017, 18 de Janeiro de 2017.
194 |
7. EMPREGO E PRODUTIVIDADE
7.1 Introdução
A população tem sido, por norma, avaliada enquanto um factor decisivo de desenvolvimen‑
to das economias, não apenas enquanto suporte básico do crescimento do consumo, como e
principalmente no seu papel de factor de evolução tecnológica e cultural das sociedades.
119
Jeffrey Sachs – Common Wealth, Casa das Letras, 2008.
| 195
crescimento populacional sobre ecossistemas cada vez mais frágeis (em particular nas regiões
mais pobres do planeta), no aumento da pobreza e na ameaça da estabilidade política global.
Concluiu que o mundo devia adoptar um conjunto de políticas para ajudar a estabilizar a popu‑
lação global, vendo‑se na China um exemplo a seguir.
Qual a dimensão óptima da população em Angola? Isto é, a partir de que limiar a população
pode ser um factor importante de crescimento e desenvolvimento? A pergunta é de resposta
difícil. Há estudos internacionais, liderados pelas Nações Unidas, que admitem que o nosso
120
Sachs, op. cit.
196 |
país só entrará na fase de estabilidade demográfica a partir de 2020. Que critérios devem ser
considerados, em Angola, para se raciocinar sobre o nível aconselhável para a dimensão da
população?
Considere‑se, então, um rendimento médio anual de 25 mil dólares (68,5 dólares por dia).
Admitindo‑se a remoção da maior parte dos obstáculos ao crescimento económico sustentado,
presuma‑se que a taxa anual de variação do PIB fosse de 6% ao ano até 2026. Esta meta só seria
possível se a população diminuísse para 6 899 000 habitantes, o que é impossível sob todos os
pontos de vista. Ou seja, a optimização do quantitativo populacional tem de seguir outras vias,
em especial a do crescimento económico.
A conciliação dos dois objectivos para 2026 (USD 25000 de rendimento médio por habitante
e uma densidade demográfica de 30 habitantes por quilómetro quadrado) conduz a uma taxa
média anual de crescimento do PIB de 25,5% (932,5 mil milhões de dólares e 37,3 milhões de
habitantes).
121
Nota Informativa do INE de 18 de Janeiro de 2017.
INE, Ministério da Saúde, The DHS Programa e ICF Internacional: Angola: Inquérito de Indicadores
122
2017.
124
Ibidem.
| 197
Obviamente que existem outras variáveis‑instrumentais que podem ser accionadas, como
a redução do valor da taxa de fecundidade para níveis próximos dos calculados para a fecundi‑
dade urbana, incentivos ao controlo da natalidade (de acordo com o Inquérito de Indicadores
Múltiplos, a taxa de natalidade em 2015 foi de 43,4% na classe etária 15‑49 anos), subsídios
ao planeamento familiar, etc. No estrito contexto económico não existe qualquer possibilida‑
de de a economia movimentar‑se com uma velocidade média anual de 25,5% mesmo se todos
os obstáculos fossem removidos com critério, eficiência e eficácia. Inclusivamente se, no prazo
de 10 anos, o modelo de economia de enclave fosse abandonado/substituído tal taxa seria
possível.
Todavia, um rendimento médio de 25 mil dólares anuais não é garantia de igualdade e equi‑
líbrio.
A situação em Angola é agravada pelo facto de a agricultura ter sido abandonada por força
da guerra e a sua recuperação debater‑se com problemas decorrentes da maior ou menor irre‑
versibilidade no movimento populacional campo‑cidade e das condições de segurança para
o desenvolvimento das actividades agrícolas e pecuárias. Este estado de malnutrição a que o
balanço agricultura‑população conduz contém gérmenes de crises sociais endémicas, franca‑
mente impeditivas da constituição dum capital humano nacional, no sentido dado mais atrás,
e geradoras de insegurança, quando aumentam os fluxos migratórios para as cidades e aqui
fomentam a criação de sectores económicos informais submersos importantes.
198 |
Na sequência do exercício (especulativo) anterior, vale a pena acrescentar que uma das
razões para se querer evitar a desaceleração e os fracos desempenhos das economias é rever‑
tível aos custos e sacrifícios que semelhante situação impõe aos cidadãos e à sociedade. Se a
economia não cria empregos suficientes, a maior parte dos indivíduos não encontra trabalho,
causando dificuldades a si, seus familiares directos e ao próprio país. Os altos e baixos dos mer‑
cados de trabalho são uma componente da teoria das flutuações económicas e compreender
as suas causas é um ponto essencial para, neste caso especial, se desenharem boas políticas de
emprego. E também de rendimentos.
Como repetidas vezes se tem referido neste Relatório, não existem estatísticas oficiais do
desemprego em Angola. As Contas Nacionais (completas apenas até 2012) apresentam apenas
registos das pessoas empregadas, por sectores de actividade, o que já não é nada mau, pois por
aqui podem ser feitas aproximações às taxas de desemprego.
125
A taxa natural de desemprego pode variar com o tempo e entre os países. Nos Estados Unidos –
onde surgiu a Lei de Okun – as estatísticas estimam‑na entre 4 e 5,5%. Já na Europa esta taxa situa‑se
entre 7 e 10%. O valor da taxa natural de desemprego afecta o cálculo do produto potencial das eco‑
nomias.
126
Muitos economistas deixaram de atribuir grande significado científico à conhecida Curva de
Philips, por já não responder aos problemas actuais dos diferentes países nesta matéria de desocupa‑
ção de uma parte da sua força de trabalho.
| 199
desemprego considerável (os dados do Censo Populacional falam de uma taxa de desemprego
de 24% e o Relatório Económico 2015 do CEIC/UCAN aponta para um intervalo de 21%‑24% em
2015) e crescimento económico em abrandamento significativo (0,1% do PIB e 1,2% do PIB não
petrolífero, em 2016). Talvez ainda seja cedo para se falar de estagflação – não menos de 3 anos
de dados estatísticos e análises correspondentes –, mas os sinais são preocupantes.
A estratégia tributária do Governo centra‑se num aumento dos impostos caldeado por uma
pretensão de melhoria da sua eficiência pela via da eliminação/correcção das situações de frau‑
de e evasão fiscais. Com impostos e taxas de juro elevadas torna‑se difícil combater o desem‑
prego pelo aumento da produção (supply side economics), sendo, portanto, provável que a
recuperação da economia – perdida a alavanca do petróleo caro – demore algum tempo (nesse
sentido se colocam as previsões divulgadas pelo Banco Mundial, FMI e OCDE e também as
do CEIC a serem apresentadas no capítulo 8 deste Relatório Económico de 2016. Mas existem
outras razões para o desemprego.
Pode o salário mínimo ser um estímulo ao aumento da procura das famílias? A prática de
um salário mínimo numa qualquer economia é controversa. É o velho dilema eficiência/equi‑
dade. O poder de compra dos rendimentos em Angola, e não apenas dos salários, tem sofrido
perdas sucessivas desde 2012. São perdas, que do ponto de vista do CEIC, são irrecuperáveis
e os detentores de rendimentos, em especial dos rendimentos do trabalho, vão ter de por si
sós ajustar em baixa ou o consumo ou a poupança ou os dois em devidas proporções. A actua‑
lização do salário mínimo, que deve ser feita no seio da concertação empresários/sindicatos,
pode desencadear efeitos sobre os restantes salários da economia. É bem verdade que o salário
nominal médio nacional é baixo – cerca de AKZ 44 400 no final de 2014 – mas não deixa de estar
conforme os níveis de produtividade, igualmente baixos. Em 2016, a produtividade média bruta
127
Para se completar a análise da problemática do desemprego haveria ainda de se falar do desem‑
prego estrutural alimentado pelas transformações da estrutura da procura e da produção: a moder‑
nização tecnológica é fundamental para a competitividade, mas, em certas condições, inimiga do
emprego (ou amiga do desemprego).
200 |
aparente do trabalho foi de pouco mais de USD 14 500 por trabalhador. Existe uma Comissão
governamental para o estudo do salário mínimo e que tem uma metodologia de cálculo dos
ajustamentos a introduzir no salário mínimo nacional, essencialmente centrada nos preços de
um cabaz de bens de primeira necessidade, o que é correcto. Só que as variáveis explicativas do
comportamento dos salários são muitas e algumas são complexas no seu inter‑relacionamento
que não constam dos estudos dessa Comissão. Um valor eventualmente aceitável para o ajus‑
tamento do salário mínimo seria o respectivo incremento absorver, por inteiro, a inflação ocor‑
rida em 2016, ou seja, AKZ 18 450.
O salário mínimo é nacional e não apenas do Estado. Portanto, tem‑se de saber igualmente
qual a capacidade do sector empresarial privado – o sector empresarial público pode fazê‑lo
duma maneira mais fácil dados os subsídios que recebe do Estado para colmatar eventuais pre‑
juízos financeiros – para aceitar e absorver, dum ponto de vista económico e de produtividade
geral dos factores de produção, possíveis aumentos. Volta‑se a sublinhar que o ponto essencial
relaciona‑se com os impactos económicos sobre a competitividade nacional, num momento
em que o Governo está aflito em encontrar, a curto prazo – verdadeiramente difícil – fontes
alternativas de geração de receitas externas, dado justamente a generalizada falta de capacida‑
de competitiva da economia nacional.
A maior parte das novas previsões de crescimento económico em Angola até 2020/2021
apontam para uma taxa média anual de pouco mais de 2% e do sector não petrolífero um pouco
acima de 2,5%. Qualquer um dos valores é claramente insuficiente para patrocinar a melhoria
do nível geral de vida da população que cresce a uma taxa de 2,71% ao ano (ou 3,1% ao ano, de
acordo com o INE na sua última revisão128). A taxa de desemprego formal estimada pelo CEIC
situa‑se no intervalo 22%‑24%, evidentemente muito alta e afastada dos propósitos de melho‑
rar a distribuição do rendimento nacional.
128
INE – Nota Informativa, Dados da Projecção de Angola, População de Angola em 2017, Luanda, 18
de Janeiro de 2017.
| 201
A relação entre progresso técnico e emprego é complexa e antiga (desde os tempos da 1.ª
Revolução Industrial – introdução da máquina a vapor na indústria – e dos escritos de Karl Marx
sobre a formação da mais‑valia do trabalho), mas tem ganho muita actualidade devido às per‑
manentes inovações tecnológicas introduzidas nos vários sistemas de produção e corporizadas
pela informática e robótica. No imediato, passa a haver substituição de trabalho por capital e os
salários tendem a baixar, devido ao excesso de oferta.
O que pode acontecer no futuro – longo prazo – ainda não se sabe muito bem: os empregos
perdidos serão recuperados? Antes de mais, depende do tipo de profissões dispensadas pelas
máquinas e da possibilidade/capacidade de reconversão/aperfeiçoamento dos trabalhadores.
Depois, dos efeitos a montante e a jusante desencadeados pela produção desses novos equi‑
pamentos: serão suficientes para recuperar (e acrescer) os empregos perdidos? Finalmente, da
propagação, através do sistema económico, dos ganhos de produtividade proporcionados pelas
revoluções tecnológicas: havendo alargamento de mercado derivado dos incrementos da pro‑
dutividade – nomeadamente pelo abaixamento dos preços e aumento da procura – então serão
gerados mais empregos. Porém, o longo prazo está sujeito a uma série de constrangimentos e
incertezas – no mundo de hoje a única certeza que se tem é a incerteza – contando, portanto,
o curto prazo. E neste caso, ainda que o longo prazo se faça duma sucessão de curtos prazos, o
progresso tecnológico origina economias de mão‑de‑obra e mesmo havendo a possibilidade de
alguma reconversão profissional, é provável que a maior parte dos empregos criados não seja
ocupada pelos titulares dos postos de trabalho suprimidos.
202 |
Nos subcapítulos 4.1 e 4.2 está apresentado o quadro da presente situação económica em
Angola: alta inflação, elevado desemprego e baixo crescimento económico. Sabe‑se que entre
os conflitos de objectivos de política económica, o mais controverso e discutido na literatu‑
ra económica é, sem dúvida, o dilema entre inflação e desemprego: o aumento do emprego
pode fazer subir a inflação e a luta pela estabilidade dos preços (controlo da inflação) poten‑
cia o incremento do desemprego. Este dilema foi estabelecido por A. W. Philips em 1958 para
a economia do Reino Unido129. Esta relação inversa entre salários e desemprego constitui uma
boa descrição do mercado de trabalho, pois quando o desemprego é baixo, as empresas têm
de subir os salários para obterem a mão‑de‑obra de que necessitam (inversamente quando o
desemprego é elevado, os salários crescem menos ou estabilizam ou podem mesmo diminuir).
Posteriormente em 1960, Paul Samuelson e Robert Solow transpuseram a curva original para
uma relação inversa entre a taxa de inflação e a taxa de desemprego, nos moldes explicados
anteriormente. Estes autores refizeram o exercício de Philips para a economia dos EUA, no
período 1900‑1960, tendo baptizado a relação obtida por Curva de Philips, tornando‑se, desde
então, uma das peças centrais da política macroeconómica130.
O estudo deste economista incidiu sobre os salários e o desemprego (dados estatísticos entre
129
1861 e 1957) e culminou com o estabelecimento duma relação econométrica inversa entre o cresci‑
mento dos salários nominais e a taxa de desemprego.
130
Para se passar da curva original (salários versus desemprego) para a nova curva (inflação versus
desemprego), é suficiente considerar a existência de uma relação directa entre salários e inflação,
como admite a teoria da inflação pelos custos.
| 203
Outro aspecto que contribui para o aumento do receio sobre a consistência (e mesmo vera‑
cidade) das informações estatísticas sobre o emprego relaciona‑se com os sectores de energia
e águas e geologia e minas, que desde 2013 aparecem como os maiores criadores de emprego
líquido na economia nacional. Tratando‑se de actividades capital‑tecnologia intensivas, é difícil
compreender como é que o sector de energia e águas acresceu ao seu stock de emprego em
52 617 novos empregados em 2016, 50 064 em 2015, 57 349 em 2014 e 39 309 em 2013. Um
total de cerca de 200 mil novos trabalhadores em 4 anos.
Ainda outra relevância prende‑se com a relação entre crescimento económico e variação
percentual do emprego (ou seja, entre PIB e emprego). As evidências empíricas e a Ciência Eco‑
nómica mostram que para haver criação de emprego tem de haver forçosamente crescimen‑
to económico, global, sectorial e regional. A intensidade de reacção do emprego ao aumento
da produção depende da natureza dos processos produtivos, intensivos em capital‑tecnologia
ou em trabalho. Ou seja, não há nenhuma garantia de que 1% de incremento do PIB induza,
necessariamente, um aumento do emprego igual. Aparentemente, em Angola as coisas não se
passam exactamente assim, sendo disso prova a indústria transformadora, a energia e água e
as actividades diamantíferas e de extracção de outros minerais. Parece haver uma ciência eco‑
nómica específica a Angola para a análises destas correlações.
131
Ministério do Planeamento e do Desenvolvimento Territorial – Relatório de Balanço das Actividades
do Governo 2013‑2016, Luanda Março de 2017.
204 |
Na verdade, para as actividades indicadas – que são as mais destacadas neste item da incon‑
gruência, porque há outras – as taxas de crescimento dos seus PIB registadas em 2015 e 2016
foram muitos pontos abaixo do aumento relativo do emprego, conforme se pode observar pelo
gráfico seguinte.
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0
2015 2016 2015 2016 2015 2016
-10,0
Indústria transformadora Energia e águas Geologia e minas
Tx. cres. emprego 25,8 30,3 48,3 34,2 50,3 39,5
Tx. cres. PIB -1,1 -2,3 10,6 14,5 6,5 0,6
Fonte: CEIC, “Ficheiro Estudos sobre a Produtividade”, com base em informações oficiais.
dt50
relatório economico 2016
As seguintes aproximações interpretativas são possíveis: 1p · FR
a) A produtividade bruta média aparente do factor trabalho, não só é baixa nessas actividades
económicas, como tem vindo a diminuir significativamente desde 2012. Como se tratam
de sectores que são relevantes para o processo e a estratégia de diversificação da econo‑
mia e para construção de uma competitividade estrutural – nomeadamente a manufactura
e a energia – então as combinações produtivas entre os diferentes factores de produção
não obedecem a critérios e regras, nem da macroeconomia, nem da microeconomia.
b) As informações sobre o emprego são muito inconsistentes, quando comparadas com
outras variáveis económicas, das quais o PIB é apenas uma delas. Ter‑se‑á de esperar
pelas Contas Nacionais definitivas de 2015 e 2016 para se saber, de facto, qual foi a capa‑
cidade de geração de novos postos de trabalho da economia nacional.
| 205
e) N
o capítulo 5, versado sobre a competitividade, deu‑se conta de uma outra disparida‑
de, desta feita entre o crescimento da produção de electricidade e da produção do país
(muito mais da primeira do que do segundo), tendo‑se, então, questionado para onde, no
final de contas iria tanta energia.
Segundo informações oficiais – Relatórios de Fundamentação OGE 2015, 2016 e 2017, Con‑
tas Nacionais, Relatórios de Balanço sobre o comportamento da economia e outros – foi possí‑
vel elaborar a tabela seguinte onde se apresenta o comportamento do emprego na economia
nacional desde 2002 até 2016 (o período temporal está intercalado para não sobrecarregar o
quadro) e pelos sectores económicos da Contabilidade Nacional.
Verifica‑se, então, que em 2016 o emprego total na economia angolana era de 6 632 881
trabalhadores em todas as actividades directamente produtivas e de prestação de serviços
diversos, representando esta força de trabalho empregada cerca de 48,2% do total da popula‑
ção economicamente activa (considerando‑se um factor demográfico de 50%).
A agricultura, pecuária e florestas são os sectores produtivos com o maior número de tra‑
balhadores (em 2016, 2 977 734), embora o conceito clássico e usual de emprego não tenha
completa aplicabilidade nestas actividades em Angola.
Sectores de actividade 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2015 2016
Agricultura, pecuária,
2 231 434 2 369 037 2 510 897 2 621 107 2 766 221 2 913 360 2 932 763 2 959 269 2 977 734
florestas
Pescas 26 868 28 440 30 233 33 447 37 052 40 626 43 234 44 761 45 782
Petróleo e gás 14 223 14 996 15 394 64 559 79 697 92 241 92 241 92 241 83 017
Diamantes e outros 10 577 32 483 36 157 22 904 21 827 20 142 41 079 61 754 86 127
Indústria transformadora 56 255 53 745 56 017 59 419 66 109 72 976 80 135 100 810 131 336
Electricidade 2389 7871 8852 11 646 10 281 7079 103 737 153 801 206 418
Construção 169 722 216 104 271 086 320 191 365 993 410 661 424 197 427 941 428 882
Comércio 796 139 852 508 909 051 949 645 1 005 284 1 061 862 1 170 836 1 218 598 1 231 759
continua
206 |
continuação
Transportes e
68 329 72 641 76 886 81 377 88 778 96 359 157 715 228 174 236 710
armazenamento
Correios e
2476 3175 4339 4574 8327 12 167 13 287 13 885 14 509
telecomunicações
Bancos e seguros 5072 5722 7074 14 138 18 925 23 357 23 357 23 357 23 357
Estado 326 709 346 856 367 626 420 832 469 091 431 610 467 095 467 135 467 135
Serviços imobiliários 334 320 356 424 494 562 562 562 562
Outros serviços 332 760 356 211 410 455 438 841 481 596 525 078 653 462 693 784 699 553
Angola 4 043 287 4 360 109 4 704 423 5 043 104 5 419 675 5 708 080 6 203 700 6 486 072 6 632 881
Incrementos 316 822 344 314 338 681 376 571 288 405 495 620 282 372 146 810
Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudo sobre a Produtividade”, com base nas Contas Nacionais 2002‑2012 e outros documentos oficiais.
A tabela anterior também mostra que o emprego na manufactura tem estado sempre a
subir desde 2004, sendo um facto absolutamente extraordinário para qualquer economia.
Entre 2002 e 2016, o emprego nas indústrias transformadoras do país aumentou 144,4%, uma
variação média anual de 7,7% (valor que a manter‑se no futuro pode consequencializar uma
duplicação até 2025).
Outro facto extraordinário relaciona‑se com as actividades de geologia e minas (onde está
a extracção de diamantes), cujo volume de emprego em 2016 foi de 86 127 trabalhadores, cuja
comparação com 2014 proporciona uma variação percentual de 165,1% equivalente a uma
cadência média anual de 8,5% e uma possibilidade de duplicação até 2024.
Mas o caso mais verdadeiramente excepcional respeita à energia e águas. O volume total de
emprego em 2016 foi de 206 418 trabalhadores, equivalente a uma variação percentual, desde
2014, de 2522,5% (uma estonteante taxa média anual de 31,3% e uma possibilidade de dupli‑
cação já em 2019).
| 207
Agricultura, pecuária, florestas 2,5 2,7 2,6 0,5 0,1 0,9 0,6
Pescas 5,4 4,8 4,6 4,8 1,6 3,5 2,3
Petróleo e gás 23,9 6,2 8,9 0,0 0,0 0,0 ‑10,0
Diamantes e outros 6,3 ‑5,3 ‑2,6 89,1 7,9 50,3 39,5
Indústria transformadora 4,5 5,3 4,8 4,7 4,9 25,8 30,3
Electricidade 4,7 3,8 ‑33,7 555,3 123,6 48,3 34,2
Construção 7,7 5,9 5,9 1,2 2,1 0,9 0,2
Comércio 2,6 2,9 2,7 2,3 7,8 4,1 1,1
Transportes e armazenamento 3,7 4,4 4,0 21,5 34,7 44,7 3,7
Correios e telecomunicações 24,0 23,6 18,2 4,5 4,5 4,5 4,5
Bancos e seguros 21,6 10,9 11,3 0,0 0,0 0,0 0,0
Estado 7,8 ‑8,4 0,4 1,2 7,0 0,0 0,0
Serviços imobiliários 8,6 6,7 6,6 0,0 0,0 0,0 0,0
Outros serviços 4,2 4,6 4,2 6,0 17,4 6,2 0,8
Angola 3,8 2,3 2,9 2,9 5,6 4,6 2,3
Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudo sobre a Produtividade”, com base nas Contas Nacionais 2002‑2012 e outros documentos oficiais.
Investigação adicional tem de ser efectivada para se perceber a atipicidade de alguns resul‑
tados oficialmente apresentados e, em especial, sobre o ano de 2015.
a) Quando a economia menos cresce é quando o emprego aumenta e com ritmos vários
pontos percentuais acima da taxa de variação do PIB. Esta observação contraria as leis
económicas de relacionação entre crescimento económico e criação de emprego. Devi‑
do aos avanços tecnológicos, às descobertas científicas e à influência das tecnologias da
informação, por vezes o que ocorre é registar‑se crescimento económico com redução
do emprego ou no limite sem incremento do emprego, devido ao fenómeno da substi‑
tuição entre os factores de produção, ou seja, entre trabalho e capital/tecnologia. Nunca
aumentos significativos de emprego com redução do crescimento económico. Daí ser
necessária mais investigação e muito maior credibilidade da informação estatística.
c) A política económica oficial tem dado uma prioridade maior à criação de emprego em
detrimento da produtividade, dos ganhos de produtividade e, consequentemente, da
competitividade.
208 |
A economia nacional tem estado sujeita, desde 2012, a um processo de degradação da sua
competitividade, vista do ponto de vista da produtividade bruta aparente do trabalho, o mais
importante factor de produção. A despeito da política de formação e reciclagem levada a efeito
pelo Governos e as suas instituições especializadas, a produtividade geral da economia perma‑
nece baixa e, mais grave, incomparável com outras economias dos países vizinhos de Angola,
sobretudo na SADC, mas igualmente na CEEAC. Em 2016 foram realizadas 12 050 acções de for‑
mação em diferentes domínios e para diferentes agentes, mas nenhuma para o sector empre‑
sarial, que beneficiou de 298 em 2013132.
Fonte: CEIC, Ficheiro Estudo sobre a Produtividade”, com base nas Contas Nacionais 2002‑2012 e outros
documentos oficiais.
132
Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social – Programa de Reforma e Moder-
nização da Administração Pública, Conteúdo e Resultados 1991‑2016, 2017.
| 209
GANHOS DE PRODUTIVIDADE
Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudo sobre a Produtividade”, com base nas Contas
Nacionais 2002‑2012 e outros documentos oficiais.
A economia não apenas está num processo de desaceleração estrutural do seu crescimento
depois de 2009, como igualmente entrou numa fase de perda sistemática de produtividade do
factor trabalho. A diversificação da economia e especialmente das exportações não se compa‑
dece com estas situações e provavelmente só acontecerá com custos elevados.
Apesar dos dados oficiais – com todas as reservas que merecem, depois de se terem detec‑
tado inconsistências com o comportamento de outras variáveis económicas – revelarem um
aumento percentual de emprego, em 2016, de 2,3% (uma redução face a 2015 (4,6%) e a 2014
(5,6%)), a taxa de desemprego permaneceu elevada, de acordo com as estimativas do CEIC e
face às mais recentes informações demográficas do INE já referidas. Porém, manteve o mesmo
valor de 21,4% estimado em 2015.
210 |
Para que se obtenha uma taxa de desemprego em 2021 de um dígito (8,3% na segunda
hipótese do mapa de previsões anteriores) é indispensável que a taxa média anual de cresci‑
mento do PIB seja de 9%. Relembre‑se que entre 2009 e 2016 a capacidade média anual de
crescimento económico se cifrou em tão‑somente 2%. Os desafios são tremendos para os 9%,
numa situação em que o petróleo já não ajuda o que ajudou no passado.
| 211
O Plano geral de formação dos funcionários públicos visou instaurar melhorias a nível da capaci‑
dade institucional, de desempenho dos servidores públicos e da qualidade da prestação de serviços.
O Programa de valorização do serviço público teve como ideia central tornar a administra‑
ção pública menos intangível e abstracta por um exercício da função pública ao serviço do cida‑
dão, da economia e da soberania.
212 |
8. PERSPECTIVAS DE CRESCIMENTO
8.1 Introdução
d) As taxas de crescimento da economia mundial têm sido objecto de revisões em baixa para
acomodarem as derrapagens da China, Brasil e Rússia. Consequentemente, as perspecti‑
vas para as exportações mundiais igualmente sofrem destes acertos em baixa.
e) As taxas de juro no mercado financeiro internacional estão cada vez mais elevadas para os
países africanos que enfrentam presentemente problemas sérios de queda das receitas
de exportação e de aumento das respectivas dívidas externas (incluindo a dívida pública).
| 213
Uma forma de o demonstrar seria calcular a quantidade necessária destes bens para que, às
cotações internacionais que estão em queda, compensassem as perdas petrolíferas.
133
Ennes Ferreira: “Qual o Real Impacto da Diversificação das Exportações?”, Semanário Expresso de
27 de Fevereiro de 2016.
214 |
d) Tudo somado, conclui Ennes Ferreira, o valor total das exportações diversificadas seria de
1,8 mil milhões de dólares.
Segundo dados oficiais para 2015, as exportações de petróleo renderam ao país 35,4 mil
milhões de dólares (informações oficiais ainda preliminares), representando esta diversificação
apressada um ganho de apenas 5,1%!!
Alguns factos internacionais seguramente que vão marcar a agenda económica de 2016,
com fortes probabilidades de se projectarem, nas suas consequências, até 2017.
Angola não vai passar ao lado.
O segundo aspecto com relevância em 2016 é o “diálogo” entre a política monetária e a polí‑
tica orçamental, enquanto instrumentos para retomar o crescimento onde está abalado e para
controlar os preços, nuns casos para os fazer subir, noutros para os fazer descer. O FMI continua
a entender que a política monetária pode ser mais útil do que a política orçamental para esti‑
mular o crescimento e desinflacionar as economias. Paul Krugman – um dos grandes economis‑
tas que tem escrito muitas reflexões sobre esta matéria, quer em termos gerais, quer sobretudo
direccionada aos países da União Europeia – pensa justamente o contrário, defendendo que a
política monetária, na Europa da moeda única e ainda a braços com dificuldades para estabilizar
o crescimento económico, depois da crise financeira internacional de 2008/2009, deixou de ter a
134
Quanto mais prósperas as pessoas forem, mais livres e exigentes se tornarão. Não é a mesma coisa
governar 27 milhões de angolanos entre os quais cerca de 2/3 com menos de dois dólares para viver
diariamente e governar as mesmas pessoas em que uma proporção razoável atingiu a prosperidade.
| 215
mesma relevância do passado para aqueles dois propósitos. E o exemplo que dá não poderia ser
mais contundente e elucidativo: nem com taxas de juro negativas aplicadas pelo Banco Central
Europeu a retoma sustentada do crescimento está a acontecer, mormente nos países periféri‑
cos do Sul da Europa. E acrescenta mesmo: “a Europa precisa desesperadamente de um impul‑
so orçamental”. Como se sabe, Paul Krugman é um keynesiano convicto, não sendo por acaso
que foi incumbido de escrever o prefácio da reedição da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da
Moeda”, a versão original da grande obra de John Maynard Keynes, um dos economistas mais
influentes do século XX. A política monetária em Angola não tem sido o veículo ideal para con‑
trolar os preços, nem para estimular o crescimento. Pelo contrário, perdida a âncora cambial, o
processo de subida dos preços disparou e a tentativa de controlo pela elevação das taxas de juro
tem prejudicado as possibilidades de retoma do crescimento económico. A política monetária
não pode continuar sozinha a segurar a retoma do crescimento e o controlo dos preços. A políti‑
ca orçamental tem de recuperar o seu espaço e estabelecer uma relação de complementaridade
com a política orçamental. Não é fácil e exige conhecimentos profundos e solidificados de políti‑
ca económica e de economia monetária. A Europa tem‑nos. Entre nós escasseiam.
O terceiro aspecto liga‑se aos Estados Unidos em processo relativamente seguro de recu‑
perar o seu trajecto de crescimento estável, perdido aquando da crise 2008/2009 e ao resulta‑
do das eleições presidenciais. Paul Krugman, nas suas sempre acutilantes colunas no New York
Times, considerava que seria um desastre para os Estados Unidos e o Mundo se algum republi‑
cano as vencesse. Identificava mesmo como um risco essa possibilidade, que arrastaria a alte‑
ração radical da política norte-americana.
O quarto aspecto está apontado para o Brasil, a segunda mais influente economia dos BRICS
e a atravessar talvez um dos períodos mais críticos do ponto de vista económico, social e políti‑
co da sua História recente. Nunca, nos tempos da sua jovem democracia, o país apresentou um
desempenho económico tão fraco como nos últimos 3 anos: zero por cento em 2014, ‑3,8% em
2015 e ainda com probabilidade de recessão em 2016. Mas também a Rússia está com sérios
problemas ocasionados pela queda das cotações do petróleo e gás. Tal como Angola, este país
tem uma dependência doentia das respectivas receitas externas e fiscais e a sua quebra afec‑
tou o desempenho económico em 2015, com uma taxa de crescimento do PIB de – 3,7%. Esta
recessão económica prolongou‑se em 2016 (‑0,2%), estando prevista uma recuperação positiva
em 2017 (1,4%).
A Europa da moeda única está expectante quanto à decisão popular do Reino Unido de
abandono da União Europeia. Grande parte dos britânicos mostrava-se muito apreensiva com
as burocracias de Bruxelas, considerando‑as entraves ao livre exercício da liberdade económi‑
ca que tanto prezam desde o tempo de Adam Smith e David Ricardo. A saída da Grã‑Bretanha
da Zona Económica Europeia não se fará sem perdas para ambos os lados, valendo bem mais
a redução da influência dos burocratas de Bruxelas e a facilitação das regras orçamentais que
encarar consequências imprevisíveis a curto e a médio prazo.
216 |
Outra preocupação para 2016 relacionou‑se com o comportamento do preço das principais
commodities, que durante os últimos 4 anos foi sujeito a uma pressão em baixa, com reflexos
significativos sobre a capacidade de crescimento de muitas economias africanas, cujas expor‑
tações e geração de receitas externas dependiam, num elevado grau, destes produtos de base.
Para 2017 e 2018, as instituições internacionais apontam para uma subida e estabilidade do
seu valor.
As taxas de juro nos Estados Unidos e de acordo com a nova política económica da Admi‑
nistração Trump, vão manter‑se estimuladoras para o investimento, como de resto ocorreu em
2016. Resta saber se se reflectirão na criação de novos postos de trabalho, outras das promes‑
sas do Presidente Trump.
Na África Subsariana, como no capítulo 1 se destacou, surgiram novos focos de tensão polí‑
tica que porão em risco as excelentes perspectivas de crescimento económico. As previsões do
FMI apontam para 3,5% a taxa de crescimento em 2018. Porém, o continente africano, em par‑
ticular a região ao sul do deserto do Sara, apresenta‑se como um mosaico económico e socioló‑
gico muito diferenciado, com tecidos económicos e estruturas produtivas fracas e sem grande
competitividade. Acresce que muitos desses países são também dependentes da exportação de
commodities e do comportamento dos respectivos preços, e não desenvolveram políticas estru‑
turantes de diversificação económica que os defendam das imponderabilidades externas, ainda
que se preveja uma retoma dos preços das matérias‑primas no mercado mundial.
| 217
Do conjunto de países europeus com moeda única, a Espanha deixou para trás os anos de
crise de crescimento e de influência das apertadas políticas monetárias e orçamentais coman‑
dadas a partir de Bruxelas, Desde 2015 que este país da península Ibérica reencontrou uma rota
de crescimento económico acima à do grupo a que pertence.
O crescimento do PIB americano para 2018 está longe das promessas eleitorais de Trump,
que na altura das eleições garantiu uma taxa mínima de 3,5% com o regresso dos capitais e
empresas americanas estacionadas no estrangeiro. No final de 2018 cumprir‑se‑ão dois anos
de mandato presidencial e se as previsões do FMI tiverem alguma sustentabilidade, a econo‑
mia americana ficará um ponto percentual a menos da meta garantida pelo actual presidente.
218 |
A Índia e a China podem vir a ser os países mais afectados com o retorno dos investimentos
americanos realizados durante muito tempo nestes países, pelo que as taxas de crescimento
previstas não consideram, por enquanto, a incidência deste fenómeno. O primeiro destes dois
países pode mesmo vir a ser o mais prejudicado. As ameaças de Donald Trump de penalizar os
investimentos americanos fora dos Estados Unidos (por exemplo, com a proibição ou pagamen‑
to de taxas aduaneiras elevadas sobre as suas exportações para o país de origem) e as primeiras
reacções de alguns gigantes económicos norte‑americanos podem penalizar as taxas de cresci‑
mento do seu PIB, que desde 2016 têm sido as mais altas do mundo.
| 219
Dudlley Seers identifica uma série de objectivos de desenvolvimento para os países pobres135:
•A
s rendas familiares deveriam ser adequadas, de modo a proporcionar uma cesta de sub‑
sistência de alimentos, moradia, roupas e calçado.
• T odo o chefe de família deveria ter acesso a um emprego, não só porque isso viria asse‑
gurar uma distribuição de renda tal que permitisse níveis de consumo de subsistência
generalizados, mas igualmente porque um emprego é algo sem o qual uma personalidade
não pode se desenvolver.
•O
acesso à educação deve ser aumentado e as proporções de alfabetização elevadas.
•D
eve ser dada ao povo a oportunidade de participar no governo.
Gunnar Myrdal adopta como premissas de valor instrumental certos ideais de moderni‑
zação136:
• Desenvolvimento e seu planeamento, com o sentido de que nos países pobres os meca‑
nismos de mercado são incompletos.
135
David Colman e Frederick Nixson – Desenvolvimento Económico – Uma Perspectiva Moderna, Edi‑
tora Campus da Universidade de S. Paulo, 1981.
136
Idem.
220 |
Indiscutivelmente que o país está em crise financeira e económica. A realidade dos números
e dos factos não permite nenhuma outra análise. Portanto, a questão desloca‑se para “o que
está para vir” e o “que fazer”.
O que está para vir é muito incerto, e se se atender às previsões das agências internacionais,
o preço do barril de petróleo pode descer até USD 45 (até onde pode ir a resistência da econo‑
mia nacional e da população?). Não existe, a médio prazo, modelo alternativo de manutenção
do crescimento da economia nacional ao baseado no petróleo.
Que falta está a fazer a diversificação da economia. A diversificação tem o seu timing para
que resultem efeitos sinergéticos sobre a produção de bens transaccionáveis (a “boa” diversi‑
ficação) e de bens não transaccionáveis, o emprego e a distribuição do rendimento. Tem de se
perceber que o que as economias necessitam para a diversificação é de boas condições de base,
retratadas no Doing Business, e não de intervenções desmedidas do Estado na economia, pre‑
tendendo fazer o que compete à iniciativa privada. A tendência normal é para as economias se
autodiversificarem, criando‑se novas oportunidades de investimento, conquistando‑se novos
mercados externos, desenvolvendo‑se invenções, tecnologias e formas de organização da acti‑
vidade produtiva. O Estado tem apenas de criar as condições. Porque uma excessiva e desme‑
dida intervenção do Estado pode gerar quebras de confiança no sector privado, aumentar os
compadrios, desenvolver uma cultura de tráfico de influências e reduzir a transparência na ges‑
tão dos recursos públicos a simples figuras de retórica política.
137
Idem, ibidem.
| 221
a) U
SD 1000 milhões – Dívida da Sonangol reclamada pelas oil majors: Chevron USD 380
milhões; BP USD 135 milhões; Total USD 360 milhões; ENI USD 125 milhões (Maka Angola).
c) Dívida pública entre 75% e 80% do PIB até final de 2017, violando‑se o limite constitucio‑
nal de 60% “O que o Governo está pretendendo fazer é flexibilizar o teto, que antes era
um teto rígido. Para que, se por ventura, numa situação excecional, tenha que se ir acima
do teto, não se viole a lei. Mas, obviamente, há que haver um plano para que, em dois,
três ou quatro anos, ou o período que seja, se volte para baixo desse teto, que agora será
de referência”, explicou o economista brasileiro Ricardo Velloso, chefe da Missão do FMI
a Angola.
g) No contexto da alínea anterior, a nova Administração americana com certeza que irá
rever o AGOA138 ou pelo menos os clausulados que possam ser considerados menos
138
The African Growth and Opportunity Act.
222 |
benéficos para os Estados Unidos (já que Trump não acredita nos benefícios do livre
comércio): “a suspensão ou revisão em baixa deste tratado de comércio pode vir a ter
consequências nefastas para África. Na realidade, entre 2008 e 2013, 70% das impor‑
tações americanas oriundas dos países integrantes correspondiam a produtos listados,
onde o petróleo contava com 90% do valor total (Nigéria, Angola, Chade), sendo o resto
de equipamento de transporte, produtos refinados, têxteis e vestuário e produtos agrí‑
colas.”139 Mesmo que Angola não tenha uma participação significativa nesta iniciativa
americana para ajudar as economias africanas – as mais intervenientes nesta iniciati‑
va têm sido a África do Sul, a Namíbia, o Botswana, o Lesoto, as Maurícias e o Quénia
– poderia, no entanto, constituir uma janela de oportunidade para a diversificação das
exportações.
h) O envio de petróleo para China para remuneração de empréstimos deixou o país com
um número limitado de barris para vender no mercado, para obter divisas. Em Janeiro de
2017, não está prevista a venda de algum carregamento, “possivelmente pela primeira
vez” (Reuters).
i) “O sector da promoção imobiliária vai reduzir drasticamente a sua actividade, sendo, no
entanto, previsível que os edifícios que se encontram em construção possam ser con‑
cluídos”; “Será difícil projectar um aumento da procura enquanto os valores do preço do
petróleo se mantiverem nos actuais níveis”, segundo o Relatório do Mercado Imobiliário
2016.
k) Angola e Nigéria vão ser os países mais afectados pela quebra do investimento no sector
petrolífero, que vai cair 100 mil milhões de dólares nos próximos cinco anos, segundo a
consultora Wood Mackenzie. “Os governos na África Subsariana têm de reavivar a indús‑
tria de exploração de petróleo, oferecendo vantagens fiscais atractivas em vez de procu‑
rar aumentar as receitas fiscais no actual contexto” (Agência LUSA).
l) “Um défice orçamental da magnitude projectada no projecto de orçamento para 2017 iria
deixar a economia vulnerável a preços de petróleo inferiores ao projectado e aumentar
a preocupação quanto à sustentabilidade da dívida pública. No nosso ponto de vista, o
139
Manuel Ennes Ferreira – “Olhar o Sul: África – O que esperar dos EUA”, Caderno de Economia,
Semanário Expresso, 19 de Novembro de 2016.
| 223
governo deveria almejar um défice fiscal não superior a 2,25 por cento do PIB para 2017,
consistente com uma melhoria moderada no saldo fiscal primário não petrolífero e com um
continuado ajustamento gradual a médio prazo para colocar a dívida pública numa clara
trajectória descendente”, conforme Relatório da Missão do FMI de Novembro de 2016.
As exportações de produtos não petrolíferos tem de ser a grande aposta para o crescimen‑
to económico futuro. A dimensão do mercado interno é insuficiente para que se possam gerar
economias de escala suficientes para a redução dos custos fixos e variáveis da produção. Pode
vir a ser um erro estratégico pensar‑se que o modelo de substituição de importações (a qual‑
quer preço) é a saída para se retomarem os ritmos de crescimento do PIB do passado e garantir
o seu take off em condições de sustentabilidade. A construção de uma competitividade estrutu‑
ral que abra o caminho para o fomento das exportações de bens transformados é um dos maio‑
res desafios ao crescimento económico sustentado do país, mas a única via a seguir.
O Governo tem sobre as suas mesas de trabalho muitos documentos de estratégia onde se
expõem ideias, políticas e medidas para atacar a presente situação de crise acentuada de cres‑
cimento do PIB (volta a lembrar‑se que, mesmo que ainda envolta em muita polémica entre
alguns organismos do Estado, o país teve uma recessão económica em 2016, estimada em
‑3,6%).
140
Para a citada taxa de inflação, o PIB nominal só poderá ser de AKZ 16 810,3 mil milhões.
224 |
garantiu‑se que o país conta com 29 empresas exportadoras e que com apoios dirigidos
podem, efectivamente a curto prazo, “redobrarem as exportações de uma gama de 14
produtos” (página 4).
c) Que ganhos efectivos se podem conseguir a curto prazo, admitindo haver produção
disponível ou disponibilizável mais ou menos de imediato e que é possível conquistar
franjas de alguns mercados internacionais (mesmo com parcerias internacionais estraté‑
gicas pode revelar‑se difícil penetrar em alguns mercados internacionais e, mais impor‑
tante, manter‑se essa participação, que só se compagina com cumprimento de prazos
de entrega, qualidade dos produtos, acções permanentes de marketing internacional,
acções de diplomacia económica incisivas, agressivas e convincentes)? Admitindo‑se
pressupostos optimistas de aumento imediato da produção dos 14 produtos seleccio‑
nados na página 4 do documento “Criação de Novas Fontes” os ganhos podem ser esti‑
mados em 1,8 mil milhões de dólares de incremento das exportações não petrolíferas,
ou seja, tão‑somente 5% do valor das exportações de petróleo de 2015. Segundo dados
oficiais para 2015, as exportações de petróleo renderam ao país 35,4 mil milhões de
dólares (informações oficiais ainda preliminares), representando esta diversificação um
ganho de apenas 5,1%.
| 225
8.3.4 As previsões
As previsões para o crescimento da economia angolana para 2016 (ainda não fechado) e
2017 continuam a ser revistas em baixa por algumas das mais prestigiadas instituições interna‑
cionais:
b) “Em 2017, estima‑se que o crescimento do produto suba para 1,25 por cento, com‑
parativamente à ausência de crescimento no ano corrente, reflectindo uma recupe‑
ração no sector não petrolífero devida ao aumento programado da despesa pública
e a melhores termos de troca. A projecção da inflação anual aponta para uma subi‑
da para 45 por cento, no final do ano, antes de declinar para 20 por cento no próxi‑
mo ano, com condições monetárias restritivas e um Kwanza estável a suportarem a
desinflação. A médio prazo, as perspectivas são de uma recuperação gradual da acti‑
vidade económica, embora existam riscos, entre os quais um declínio adicional nos
preços do petróleo e atrasos na implementação das reformas estruturais necessá‑
rias à promoção da diversificação económica, esperando‑se que o défice fiscal global
atinja cerca de 4 por cento do PIB em 2016. No entanto, a dívida pública deverá vir
a exceder 70 por cento do PIB no final de 2016, Relatório de Missão do FMI a Angola
em Novembro de 2016.”
c) As previsões do CEIC, no seu cenário de base, apontam para uma taxa média anual de
crescimento entre 2017 e 2020, de 3,2%, conforme Relatório Económico 2015.
d) A Economist Intelligence Unit (EIU) “prevê que Angola cresça menos de três por cento
ao ano até 2021, o que, aliado à subida do rácio da dívida pública face ao PIB, aumenta
o risco de incumprimento financeiro do país. A despesa com o serviço da dívida em 2017
deverá aumentar para 36,28%, o que, aliado a uma perspectiva de crescimento econó‑
mico baixo – menos de 3% entre 2017 e 2021, segundo a nossa estimativa –, aumenta a
vulnerabilidade de Angola a um incumprimento”.
Neste contexto de previsões, o Governo angolano é sempre muito cauteloso, não indo além
de um ano. Sabe‑se estar em processo de elaboração um novo Plano de Desenvolvimento Eco‑
nómico e Social para o período 2018‑2022 para substituir o actualmente em vigor 2013‑2017,
sempre planos quinquenais à “boa maneira soviética” (prevalecem ainda muitos comportamen‑
tos específicos da organização centralizada, dirigista, administrativa e autoritária dos regimes
226 |
Na verdade, vão longe os tempos dos crescimentos a dois dígitos e dos desperdícios das
grandes oportunidades de estruturar um modelo de crescimento inclusivo e virado para a gran‑
de maioria da população.
Sem o preço do petróleo nos níveis inebriantes dos anos passados, o país não voltará a regis‑
tar crescimentos reais do PIB de dois dígitos. Talvez, se isto acontecer, possa ser considerada
uma oportunidade para se reverem processos, modelos, políticas e programas e caminhar‑se
mais de acordo com as nossas reais capacidades de gestão e de percepção dos fenómenos eco‑
nómicos e sociais. Andou‑se depressa demais sem se ter percebido que o real crescimento das
economias só surge nas empresas, que precisam de condições para funcionar. Mas há outros
requisitos para a refundação do crescimento da economia nacional:
b) A
mudança de atitude das empresas e das famílias, no sentido de adquirirem hábitos
consolidados de poupança e de auto‑investimento, reduzindo a dependência do crédito
e preferindo‑se fundos próprios. Dir‑se‑á que com uma taxa de inflação de 40%, salários
| 227
baixos, empresas a fechar e produtividade em baixa, estas modificações não têm espaço
para acontecer. É verdade, no curto prazo, mas trata‑se de alterar mentalidades para o
futuro.
Produção petróleo (M barris) 664 702 675 250 675 250 675 250 675 250
Preço barril (USD) 49,4 53,2 54,1 55,0 55,0
Taxa crescimento PIB 2,9 2,5 2,0 1,8 1,8
Taxa crescimento PIBp 1,8 1,6 0,0 0,0 0,0
Taxa crescimento PIBnp 4,2 3,4 4,1 3,5 3,5
Fonte: CEIC
141
“Os Estados Unidos querem que os bancos angolanos deixem de ter, entre os seus accionistas, pes‑
soas com ligações políticas ou cargos públicos. Descontentes com as sucessivas violações às regras de
compliance, Washington fez saber, durante a recente visita efectuada aos Estados Unidos pelo Gover‑
nador do Banco Nacional de Angola, Valter Filipe: ou Angola afasta as pessoas expostas politicamente
da estrutura accionista dos bancos comerciais ou continuará a não ter acessos aos dólares”, Gustavo
Costa, Semanário Expresso, Caderno de Economia, 29 Outubro de 2016, sob o título “Estados Unidos
Fazem Ultimato a Luanda”.
228 |
A Organização das Nações Unidas (ONU), através do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), criou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em 1990 para
mensurar a qualidade de vida das pessoas nos diferentes países do mundo.
O IDH mede o nível de desenvolvimento de um país através do rendimento per capita, das
condições de saúde e de educação. A classificação dos países neste índice depende do valor
obtido, que varia entre 0 e 1. A classificação situa‑se nos intervalos de desenvolvimento baixo,
médio, elevado alto e muito elevado.
| 229
O Índice de Desenvolvimento Humano é liderado pela Noruega, com 0,949 (HDR 2016).
Este país nórdico apresenta os melhores indicadores de qualidade de vida, expectativa de vida
e educação.
Angola tornou‑se numa referência, do ponto de vista económico, durante o período em que
alcançou elevadas taxas de crescimento, alicerçadas no preço do barril de petróleo no merca‑
do internacional, situando‑se entre 2002 e 2008 a taxa média anual de crescimento do PIB em
10,1%.
O mais recente Relatório de Desenvolvimento Humano (2016) indica que Angola ocupa a
150º posição no ranking mundial, num universo de 188 países, no grupo dos países de desen‑
volvimento humano baixo. A Assembleia Geral da ONU adoptou uma resolução sobre a saída
de Angola do grupo de países menos avançados até 2020. Para a passagem ao estatuto de país
de rendimento médio, nos próximos cinco anos, Angola deve preparar uma estratégia nacional
que assegure essa transição enquanto recebe assistência técnica e beneficia de vantagens liga‑
das ao actual estatuto.
Mudança no
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) Crescimento médio anual IDH (%)
ranking
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2010/2015 2000/2010 2010/2015
0,495 0,508 0,523 0,527 0,531 0,533 4 2,38 1,49
Quando analisado o grupo dos 15 Estados que constituem a Comunidade para o Desenvolvi‑
mento da África Austral (SADC na sigla em inglês), verifica‑se que Angola fica na oitava posição,
cedendo a 7.ª posição que detinha em 2015 à Suazilândia. O país que detém a melhor coloca‑
ção é a Seychelles seguida pelas Ilhas Maurícias. Notamos que 6 países da SADC estão classifi‑
cados em países de desenvolvimento humano médio, acima de 0,550.
230 |
63 Seychelles 0,782
64 Ilhas Maurícias 0,781
108 Botswana 0,698
119 África do Sul 0,666
125 Namíbia 0,640
139 Zâmbia 0,579
148 Suazilândia 0,541
150 Angola 0,533
151 Tanzânia 0,531
154 Zimbabwe 0,516
158 Madagáscar 0,512
160 Lesoto 0,497
170 Malawi 0,476
176 República Democrática do Congo 0,435
181 Moçambique 0,418
Índice
Posição Países
(0 – 0,550)
179 Eritreia 0,420
179 Serra Leoa 0,420
181 Moçambique 0,418
181 Sudão do Sul 0,418
183 Guiné 0,414
184 Burundi 0,404
185 Burkina Faso 0,402
186 Chade 0,396
187 Níger 0,353
188 República Centro Africana 0,352
| 231
2. Doing Business
O Doing Business foi lançado pela primeira vez em 2002 sob a responsabilidade do Banco
Mundial. Desde a primeira publicação que o mesmo se tornou numa referência e numa ferra‑
menta.
O estudo realizado engloba 190 economias e busca fornecer medidas quantitativas de regu‑
lamentações de negócios em 11 áreas de regulamentação que são centrais para o funciona‑
mento do sector privado. O país melhor classificado é a Nova Zelândia.
232 |
Angola figura na posição 182, com 38,41 pontos, tendo subido um lugar entre 2016 e 2017,
e está entre os dez piores países do Mundo para se fazerem negócios.
Reformas implementadas entre 2015 e 2016 por Angola no ambiente de negócios tornaram
mais fácil o início de um negócio, ao eliminar o capital mínimo requerido, tornando o pagamen‑
to das taxas menos custoso e mais eficiente e adoptado uma nova Lei laboral.
A tabela seguinte apresenta os dez melhores países para a realização de negócios na SADC,
deixando claro o longo caminho a ser percorrido por Angola para que acompanhe as melhores
práticas e regulamentações.
1 71 Botswana 65,55
2 74 África do Sul 65,20
3 93 Seychelles 61,21
4 98 Zâmbia 60,54
5 100 Lesoto 60,37
6 108 Namíbia 58,82
7 111 Suazilândia 58,34
8 132 Tanzânia 54,48
9 133 Malawi 54,39
10 161 Zimbabwe 47,10
Fonte: Doing Business 2017.
| 233
3. Liberdade Económica
O Índice de Liberdade Económica procura avaliar o grau de liberdade económica de 178 eco‑
nomias em função de dez variáveis englobadas em quatro grupos: Estado de Direito, dimensão
do Governo, eficiência ao nível da regulação e criação de novos negócios.
Este índice demonstra, através daqueles grupos de variáveis, que as pessoas que vivem em
países com altos níveis de liberdade económica gozam de maior prosperidade, maiores liberda‑
des civis e políticas e de maior expectativa de vida.
LIBERDADE ECONÓMICA
Níveis Classificação
Livre 80 ‑100
Boa Liberdade 70 – 79,9
Moderada Liberdade 60 – 69,9
Pouca Liberdade 50 – 59,9
Repressor 0 – 49,9
Segundo os dados sobre “Liberdade Económica”, o país com maior liberdade económica no
mundo é Hong Kong.
234 |
34 Botswana 70,1
78 Namíbia 62,5
81 África do Sul 62,3
85 Seychelles 61,8
88 Swazilândia 61,1
105 Tanzânia 58,6
113 Madagáscar 57,4
117 República Democrática do Congo 56,4
119 Guiné‑Bissau 56,1
122 Zâmbia 55,8
As pontuações que Angola tem vindo a obter no índice de liberdade económica classificam
o país sistematicamente em “reprimido”. Fazendo uma comparação entre os índices de Angola
e a média mundial e regional verifica‑se que as pontuações de Angola têm estado muito abaixo
dessas médias. A tabela apresenta os avanços e retrocessos de Angola ao longo dos últimos seis
anos neste índice de liberdade económica entre 2011 e 2016.
LIBERDADE ECONÓMICA
| 235
4. Transparência Internacional
Uma maior pontuação significa menos (percepção de) corrupção, uma menor pontuação
significa maior (percepção de) corrupção. O índice varia entre 0 e 100 sendo que países com
maior índice de percepção de corrupção são aqueles que obtêm um valor entre 0 e 49.
A posição de Angola relativamente aos outros países é a 164, mas a sua pontuação, enten‑
dida como a percepção do nível de corrupção no sector público é de 18, num intervalo entre 0
a 100. A tabela a seguir apresenta a condição de Angola ao longo dos últimos cinco anos neste
índice de percepção da corrupção.
2011 168 2
2012 157 22
2013 153 23
2014 161 19
2015 163 15
2016 164 18
O país menos corrupto do mundo é a Dinamarca, cuja pontuação tem variado entre 90 e 92
no período entre 2012 e 2016 e o país mais corrupto é a Somália, com uma variação na pontua‑
ção no mesmo intervalo de tempo entre 8 e 10. Na lista dos países membros da Comunidade
para Desenvolvimento da África Austral (SADC), o Botswana, Ilhas Maurícias e a Namíbia lide‑
ram a lista dos dez países mais transparentes da SADC.
236 |
5. Índice Ibrahim
O Relatório de 2016 revela as tendências dos países africanos em boa governação entre
2006 e 2015 e captura pela primeira vez, através de inquéritos (o Public Attitude Survey), os
pareceres de cidadãos africanos sobre o desempenho da governação nos respectivos países,
em todas as quatro categorias.
Em África, as Ilhas Maurícias lideram a lista dos 10 países que apresentam as melhores
práticas de governação (79,9 pontos) e uma tendência positiva no período analisado de 2,3.
O segundo lugar é ocupado pelo Botswana (73,7) com tendência negativa de 0,5 e o terceiro
por Cabo Verde (73,0) e tendência de 1,9 positivo. Estes países têm demostrado que uma boa
prática de governação é verdadeiramente capaz de gerar desenvolvimento social e económico
sustentável.
6. Índice de Democracia
O Índice de Democracia é compilado pela revista The Economist com a finalidade de exa‑
minar o estado da democracia em 165 países. O índice baseia‑se em 60 indicadores agrupados
em cinco categorias: processo eleitoral e pluralismo, funcionamento do Governo, participação
política, cultura política e liberdades civis, com notas que variam entre 0 e 10. Quanto mais dis‑
tanciada for a nota do valor máximo menos democrático é o país na classificação.
| 237
Quase metade dos países do mundo podem ser considerados democracias de algum tipo,
mas o número de “plenas democracias” diminuiu de 20 em 2015 para 19 em 2016. A Noruega
é o país com a democracia mais forte, seguindo‑se a Islândia, a Suécia, a Nova Zelândia, Dina‑
marca, Canadá e Irlanda em sexto lugar, a Suíça, a Finlândia e a Austrália. Uma característica
central destes países é o facto de todos fazerem parte da lista dos países com desenvolvimento
humano elevado.
Segundo o Relatório, 76 Países ou 45,5% de todos os países podem ser considerados demo‑
cracias. Dos restantes, 51 são regimes autoritários e 40 são regimes híbridos.
Em África a lista é liderada pelas Ilhas Maurícias (18.º lugar, com 8,28 pontos) considera‑
da uma plena democracia, seguida por Cabo Verde (23.º, com 7,94 pontos) como democracia
imperfeita. O Botswana está na terceira posição, com 7,87 pontos, como democracia imperfeita.
238 |
Angola é considerada um regime autoritário, classificado no lugar 130, com 3,40 pontos.
Um dos elementos‑chave do funcionamento de uma democracia é a confiança nas instituições.
A tabela seguinte apresenta a posição e pontuação de Angola, num total de 167 países, em ter‑
mos da dimensão democrática.
7. Índice de Terrorismo
O Índice de Terrorismo classifica os países pelo impacto das actividades terroristas, fazendo
uma análise das dimensões económicas e sociais associadas com o terrorismo.
Este índice classifica 163 países, cobrindo 99,7% da população mundial e examina ten‑
dências desta actividade em diversos países. Os indicadores utilizados incluem o número de
incidentes terroristas, as fatalidades, ferimentos e danos patrimoniais. Existem três factores
estatisticamente relevantes associados ao terrorismo: violência patrocinada pelo Estado, quei‑
xas grupais e altos níveis de criminalidade. É fundamental realçar que as taxas de pobreza, os
níveis de escolaridade e a maioria dos factores económicos não possuem nenhuma associação
com o terrorismo.
A posição dos países depende duma escala de pontuação que vai de 0 a 10, sendo que 0
representa actividade terrorista nula e 10 actividade terrorista máxima.
O Relatório de 2016 reforça o facto de que o terrorismo é uma forma concentrada de vio‑
lência, cometida principalmente num pequeno número de países e por um pequeno número de
grupos. Os cinco países que sofrem o maior impacto do terrorismo medido pelo índice global
de terrorismo são o Iraque, o Afeganistão, a Nigéria, o Paquistão e a Síria que representaram
72 por cento de todas as mortes de Terrorismo em 2015. Há, no entanto, também a considerar
países africanos produtores de petróleo expostos ao terrorismo.
| 239
2011 65 1,696
2012 65 1,696
2013 nd nd
2014 95 0,41
2015 111 0,243
2016 130 0
240 |
10. R
ECAPITULAÇÃO DOS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS
ECONÓMICOS DE 2016
Pode dizer‑se que 2016, enquanto continuação da degradação da situação económica do país,
iniciada em meados de 2014, foi dominado por acontecimentos e registos justamente relaciona‑
dos com a grave crise financeira do país. Entre críticas e iniciativas governamentais, os aconteci‑
mentos económicos giraram todos eles em redor da crise e das perspectivas para a ultrapassar.
Janeiro
4
Empréstimo da China reduz impacto da crise
Angola recebeu da China novas linhas de crédito de seis mil milhões de dólares que vão
ajudar a enfrentar as dificuldades orçamentais provocadas pela quebra do preço do petróleo.
As novas linhas de crédito, negociadas na sequência da visita do Presidente José Eduardo dos
Santos a Pequim e destinadas a investimentos públicos em infra‑estruturas, elevam o valor total
dos empréstimos chineses assumidos por Angola para perto de 20 mil milhões de dólares.
21
Emissão de dívida capitaliza Banco
O Governo de Angola aprovou uma emissão especial de Obrigações do Tesouro até 27,4 mil
milhões de kwanzas (175,2 milhões de dólares) para capitalizar o Banco de Desenvolvimento de
Angola (BDA), nos termos de um despacho presidencial. A emissão especial tem um prazo de
amortização de 24 anos e paga uma taxa de juro de cinco por cento.
29
Importar cimento continua proibido
O Governo angolano decidiu manter a proibição de importação de cimento em 2016 em
15 províncias, no âmbito da política de protecção da produção nacional, numa altura em que
o país possui capacidade instalada para responder às necessidades internas, de acordo com
decreto presidencial. A decisão exclui as províncias fronteiriças de Cabinda, Cunene e Kuando-
-Kubango, que continuam a ter uma quota anual excepcional de importação individual de 150
mil toneladas. O decreto justifica a decisão com o investimento feito pelo sector nos últimos
anos que permitiu a produção anual de oito milhões de toneladas, valor acima das necessida‑
des de Angola que, em 2014, foram de cinco milhões de toneladas.
| 241
Fevereiro
18
Confirmada a descoberta da maior jóia
A Empresa Nacional de Diamantes (ENDIAMA) confirmou em comunicado a descoberta de
um diamante aluvionar de 404,2 quilates (80 gramas), extraído no Projecto Lulo, província da
Lunda Norte, pela operadora Lucapa Diamond Company Limited, empresa sedeada na Aus‑
trália. O diamante, o maior jamais encontrado em Angola, encontra‑se entre os 30 maiores
extraídos até à data no mundo. O Projecto Lulo é operado no âmbito de uma associação em
participação, onde a ENDIAMA detém 32 por cento, a Lucapa Diamond Company Limited 40 por
cento e a operadora Rosas & Pétalas 28 por cento.
Março
31
BNA eleva a taxa básica de juro
O Banco Nacional de Angola agravou todas as taxas de referência do mercado, como é o
caso da taxa básica de juro ou taxa BNA, que foi aumentada em dois pontos percentuais para
14 por cento, informou o banco central em comunicado divulgado em Luanda. A taxa de juro da
facilidade permanente de cedência de liquidez foi igualmente agravada em dois pontos percen‑
tuais, de 14 para 16 por cento, e a da facilidade permanente de absorção de liquidez foi aumen‑
tada em apenas meio ponto percentual, de 1,75 para 2,25 por cento.
Abril
18
Reformas dominam discussões com o FMI
As reformas económicas em curso no país, para combater a desaceleração económica, esti‑
veram no centro do discurso do ministro das Finanças, Armando Manuel, em Washington, no
quadro das reuniões da Primavera do Banco Mundial (BM) e do Fundo Monetário Internacio‑
nal (FMI). Armando Manuel, que falava num painel sobre ideias para combater a desacelera‑
ção da economia mundial, recordou que Angola, perante a queda do preço do petróleo, gizou
uma estratégia que visa introduzir no país um novo ciclo económico menos dependente desta
matéria‑prima. O ministro das Finanças frisou que um dos sectores que mais atenção recebe do
Executivo é o da agricultura. A par da agricultura destacou o sucesso da reforma tributária e a
entrada do país nos mercados internacionais com a emissão, em finais de 2016, dos Eurobonds.
21
FMI apresenta previsões desanimadoras
O Fundo Monetário Internacional (FMI) considerou a economia global cada vez pior e o
mundo a entrar num lugar cada vez mais arriscado e violento. “O mundo está a crescer pouco
há demasiado tempo”, afirmou Maurice Obstfeld, economista‑chefe do Fundo Monetário
242 |
Maio
Fundo soberano aumenta de valor
O valor líquido da carteira de investimentos do Fundo Soberano de Angola (FSDEA) está ava‑
liado em 4,7 mil milhões de dólares, dos quais 2,7 mil milhões (58 por cento) são destinados a
projectos em desenvolvimento no país e na África Austral, anunciou a instituição em comunica‑
do sobre o balanço do ano passado. A carteira do FSDEA está diversificada internacionalmente
e detém alocações aos fundos de capital de risco (58 por cento), a activos de renda fixa (23 por
cento), a activos de renda variável (19 por cento), aos derivados financeiros e às moedas. A nota
diz que a alocação a fundos de capital de risco, correspondente a 58 por cento da carteira, visa
o investimento directo em Angola e noutros países da África Subsariana.
Junho
10
Novas obras
O Governo adjudicou empreitadas de obras públicas a empresas chinesas por mais de 1,8
mil milhões de dólares, financiadas pela Linha de Crédito da China (LCC). A informação consta
de vários despachos presidenciais, com datas entre 23 e 31 de Maio. Os concursos, lê‑se nos
documentos, foram limitados “por prévia qualificação” das empresas, no âmbito desta linha de
financiamento.
15
Missão do FMI reconhece esforço fiscal
A missão do Fundo Monetário Internacional (FMI), que esteve de 1 a 14 de Junho em Luan‑
da, reconheceu o esforço fiscal realizado pelo Governo angolano em 2016 para tornar susten‑
tável a dívida pública. Alerta ainda para que a dívida pública seja mantida nos níveis correntes,
de modo a não comprometer o equilíbrio das contas do Estado em 2017.
Julho
2
Fim dos funcionários fantasmas reduz despesas na Função Pública
O Ministério das Finanças anunciou em comunicado que foram detectados mais de 55 mil
casos de funcionários “fantasmas” no Sistema de Gestão Financeira do Estado. A desactivação
destes funcionários no SIGFE, instrumento de gestão que permite ao Ministério das Finanças
honrar oportunamente o compromisso com os trabalhadores, atesta o esforço de contenção da
despesa pública com pessoal.
| 243
Agosto
10
País aderiu ao mecanismo de facilitação do comércio
Angola formalizou a adesão à convenção internacional para simplificação e harmonização
dos regimes aduaneiros da Organização Mundial das Alfândegas, que visa facilitar o comércio
internacional. A resolução que aprova a adesão a esta convenção, instituída a 25 de Setembro
de 1974, foi ratificada inicialmente pela Assembleia Nacional em Maio de 2015, mas carecia de
publicação oficial para entrar em vigor, o que aconteceu no final de Julho.
Setembro
9
Sector empresarial público acerta contas
O Instituto para o Sector Empresarial Público (ISEP) e o Ministério da Economia homologa‑
ram, em Luanda, as contas do exercício de 2015 de 29 empresas do Sector Empresarial Público
(SEP), oito das quais sem reservas. Para 2015, foram homologadas, sem reservas, as contas das
empresas Edições Novembro, Angop, Imprensa Nacional, Grupo ENSA, TAAG, Unicargas e das
empresas portuárias do Amboim e do Lobito.
10
Acordo bilateral combate a evasão
Dez meses depois da sua assinatura, o acordo, entre Angola e os Estados Unidos, para
melhorar o cumprimento das obrigações fiscais internacionais angolanas entrou em vigor no
final de Agosto. O documento permite a adesão de Angola ao Foreign Account Tax Complian‑
ce Act (FATCA), instrumento norte‑americano de combate à fuga aos impostos, que envolve
dezenas de países aderentes, para travar paraísos fiscais, branqueamento de capitais e apoio
ao terrorismo, prevendo sanções aos que não o integrarem. O acordo para a adesão de Angola
– visada internacionalmente por estas práticas ilícitas – ao FATCA foi assinado a 9 de Novembro
de 2015, mas a entrada em vigor desse entendimento com os Estados Unidos e a sua imple‑
mentação aconteceram a 29 de Agosto, conforme um decreto presidencial. “A implementação
pelo Banco Nacional de Angola das recomendações que constam do Plano Director do Grupo
de Acção Financeira Internacional [GAFI] ditou progressos significativos do país”, refere o banco
central. O BNA assegurou que “deixou de estar sujeito ao processo de monitoramento contra o
branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo (AML/CFT) a nível global”, de acordo
com o recente relatório emitido pelo GAFI, que visitou o país e os bancos nacionais em Janeiro.
17
Lei dos contratos públicos em vigor
A nova Lei dos Contratos Públicos, aprovada pela Assembleia Nacional, que revoga a antiga
Lei da Contratação Pública (Lei n.º 20/10, de 7 de Setembro) entrou em vigor refere uma nota
do Ministério da Economia. O documento, que defende a racionalização, redução e o controlo
244 |
dos gastos públicos, tem como principal objectivo modernizar e simplificar os procedimentos
de contratação pública. O diploma legal apresenta como novidades a consagração expressa do
procedimento de contratação simplificada aplicável à celebração de contratos de valor reduzi‑
do, bem como as situações materiais que justificam a adopção de um procedimento não con‑
correncial. O Ministério das Finanças diz que a proposta vem eliminar a fase de qualificação do
concurso público, clarificando a diferença entre este procedimento e o concurso limitado por
prévia qualificação, assim como a eliminação do procedimento de negociação.
Outubro
4
Nova plataforma da Bolsa
A Bolsa de Dívida Interna e Valores de Angola (BODIVA) iniciou, em Luanda, no dia 29 de
Setembro, o processo de migração dos Títulos do Tesouro (TT) para o Sistema Centralizado de
Valores Mobiliários (CE‑VAMA), anunciou ontem o Ministério das Finanças. A informação cons‑
ta da circular emitida pela entidade gestora no sistema e, indica o documento, as negociações
de Títulos do Tesouro por determinação do emitente, deixam de ocorrer no Mercado Regula‑
mentado de Obrigações e Valores Mobiliários (MROV) e passam a ser admitidos à negociação
no Mercado de Bolsa de Títulos Públicos, designado por MBTT, a partir do dia 21 de Outubro.
9
Falta aproveitar o comércio preferencial
Angola, com exportações maioritárias de petróleo, não obtém vantagens da Lei sobre Cres‑
cimento e Oportunidade de Desenvolvimento em África (AGOA), um mecanismo legal norte‑
-americano instituído em 2000 a favor dos países da África Subsariana sem acordos comerciais
com os Estados Unidos. A informação foi prestada pela embaixadora norte‑americana, numa
conferência de imprensa consagrada à II Cimeira de Negócios Estados Unidos‑África, realizada
em Washington. A exportação das 40 toneladas de café que em 2016 chegaram ao Porto de Bal‑
timore representa um passo significativo para Angola, onde o Governo lidera um processo de
diversificação da economia, considerou Helen La Lime.
Novembro
16
Mercado da Bolsa é aberto ao público
A abertura do mercado da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA) e o lançamento da
Central de Valores Mobiliários de Angola (CEVAMA), proporciona melhor ambiente de negó‑
cios, adequada segurança jurídica e legítima confiança de quem investe e de quem se financia,
afirmou o ministro das Finanças. Archer Mangueira, que presidiu ao acto, referiu que com estes
dois instrumentos, qualquer cidadão passa, a partir de agora, a ter acesso aos Títulos de Dívi‑
da Pública. Para o Estado, que tem sempre de se financiar, o mercado de Bolsa de Títulos do
Tesouro traz inúmeras vantagens, incluindo a remuneração das poupanças das famílias. Com o
| 245
mercado de Bolsa de Títulos de Tesouro, o ministro acredita que o mercado secundário de títu‑
los públicos vai também converter‑se num instrumento de política monetária à disposição do
Banco Nacional de Angola (BNA).
Dezembro
14
BDA relança o sector produtivo
O Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) financiou mais de 800 projectos, nos dez
anos de existência, perfazendo uma carteira de crédito de 240 mil milhões de kwanzas, infor‑
mou a instituição em comunicado. Com metade do montante global, o sector da indústria foi
o que mais beneficiou do crédito do BDA, seguido pela agro‑pecuária (27 por cento), enquan‑
to o comércio e serviços absorveu 23 por cento da carteira. Os projectos executados geraram
100 mil postos de trabalho directos e indirectos e um valor acrescentado bruto na economia de
cerca de 200 mil milhões de kwanzas.
31
BNA busca maior autoridade
Valter Filipe denunciou irregularidades no sistema financeiro que vão desde a incapacidade
de o banco central exercer o seu papel de regulador com o devido rigor até à promiscuida‑
de e atropelos à ética bancária pelos bancos comerciais, numa economia onde 70 por cento
das empresas são de imigrantes de origem duvidosa e 90 por cento das empresas alimenta‑
res geridas por estrangeiros. Para evitar que o sistema financeiro angolano seja atirado para o
isolamento, o novo Governo do BNA aplica um pacote de medidas denominado “Projecto de
Adequação do Sistema Financeiro Angolano às Normas Prudenciais e Boas Práticas Internacio‑
nais”. O novo instrumento alinha a prática bancária angolana com os mecanismos de controlo e
supervisão do sistema financeiro internacional. Assim, o BNA procura impor‑se como uma ver‑
dadeira autoridade de supervisão com capacidade para ditar regras de boas práticas aos ban‑
cos comerciais e outras entidades financeiras no sentido de evitar eventuais desvios de divisas.
Com as novas regras em mãos, a equipa de Valter Filipe tem negociado com o FED (banco cen‑
tral norte‑americano) e o BCE o apoio à normalização do sistema financeiro angolano.
246 |
Moxico é a maior e mais oriental província de Angola, com uma área de 223 023 km², ocu‑
pando 17,9 % da extensão territorial nacional. Está localizada entre os paralelos 10o16’ de lati‑
tude Sul e 18o24’ de longitude Este. Limita‑se a Norte com a província da Lunda Sul, a Sul com
a do Kuando-Kubango, a Nordeste com a República Democrática do Congo (RDC), a Leste e
Sudeste com a República da Zâmbia e a Oeste com a província do Bié (ver mapa). A capital da
província é a cidade do Luena, antiga Vila Luso, situada num planalto de 1 320 metros de alti‑
tude que se espraia entre os rios Luena a Sul e Lumeji a Norte, entre 11o45’99’’ de latitude Sul
e 19o56’6’’ de longitude Este, com edifícios bem alinhados ao longo de ruas amplas e sombrea‑
das de mangueiras e acácias rubras. Luena, no ano de 1895 foi (pelo tenente‑coronel Trigo Tei‑
xeira, chefe da primeira expedição de ocupação colonial portuguesa que chegou a esta região)
primeiro edificada à margem esquerda do rio Mussimwoji (hoje Moxico‑Velho, 17 km da actual
cidade) e em Maio de 1956 foi elevada à categoria de cidade. Luena dista 1314 quilómetros de
Luanda, por estrada (passando por Saurimo – a uma distância de 265 quilómetros, Malange e
N’dalatando) e 1034 quilómetros do litoral Atlântico (Lobito‑Benguela) pelo caminho‑de‑ferro
de Benguela (CFB).
| 247
República
Democrática
do Congo
Luanda
L A
O
G
N
Oceano Atlântico
A MOXICO
Zâmbia
dt51
Administrativamente a província do Moxico estárelatório
dividida em nove
economico 2016municípios denominados
1p · FR
Alto Zambeze, Bundas, Kamanongue, Kaméia, Leua, Luacano, Luau, Luchazes e Moxico e exis‑
tem 2622 autoridades tradicionais.142
Luau
Camanongue Luacano
A N G O L A Léua
Kameia
Luena
Alto Zambeze
Luchazes
Lumbala
Nguimbo
Zâmbia
0 50 100 km
N
dt52
relatório economico 2016
1p · FR
142
O nome Moxico (importante soba da região) é derivado de uma espécie de cesto feito de fibras
para o transporte de peixe, víveres ou tudo quanto se produzia e produz e, na altura da resistência
anticolonial, armas. O soba, o receptáculo de todas as questões da sua jurisdição (queixas, desaven‑
ças, injustiças, etc.), autodenominou‑se adoptando o nome Moxico, pelo qual passou a ser chamado e
conhecido, a ele e aos seus sucessores.
248 |
Luau
Caianda
A N G O L A Camanongue Luacano
Lago
Kavungo
Luena Léua Dilolo Lovua
Liangongo Alto
Kameia Zambeze Calunda
Kangumbe Lucusse
Caquengue Macondo
Lutuai Lumbala
Luvuei
Cassamba
Tempue Lutembo
Luchazes Sessa Lumbala
Muie Nguimbo
Mussuma
Cangombe Ninda
Zâmbia
Chiume
0 50 100 km
N
dt53
relatório economico 2016
De acordo com os dados do Censo 2014, a população estimada da província
é de 727 594 1p · FR
habitantes, representando uma densidade populacional de aproximadamente 3 habitantes por
km2. Cerca de 49% da população é do género masculino e 51% do género feminino. O municí‑
pio do Moxico é o mais populoso, concentrando 48% da população da província, seguindo‑se
os municípios do Alto Zambeze com 14%, Luau com 12% e Bundas com 9%. Estes 4 municípios
concentram 83% do total da população residente na província. O município do Luchazes regista
o menor número de residentes com 2% da população da província. Seguem‑se outros quatro
com uma população inferior a 5% da população da província, nomeadamente Kamanongue,
com 5%, Léua, com 4%, Kaméia com 4% e Luacano com 3%. Estes cinco municípios concentram
apenas 17% da população da província. Do ponto de vista da sua composição etnolinguística, a
população da província do Moxico é integrada maioritariamente pelos seguintes grupos: Cokwe,
Luvales, Ovimbundu, Lunda Dembo, Nganguela, Bundas e outros pequenos grupos étnicos.
| 249
143
O distrito do Moxico foi criado por decreto em 15 de Setembro de 1917, como território desmem‑
brado do distrito de Benguela, pelo Decreto 3.365 do Governo colonial português e a sua instalação
aconteceu em 1918. A criação do distrito do Moxico esteve ligada à ocupação político‑militar do terri‑
tório para consolidar as fronteiras com a Zâmbia, delimitadas pelo acordo com a Inglaterra em 1894.
Inicialmente, a sede distrital era a velha Moxico, a 18 quilómetros distância de Luena, que hoje é a
capital da província.
144
A zona agrícola 19 é conhecida como a zona de influência do CFB. A mandioca e o amendoim são
as principais culturas agrícolas praticadas em regime de sequeiro onde os solos de textura ligeira ofe‑
recem condições propícias ao seu desenvolvimento. A zona agrícola 20 é conhecida como anharas do
Moxico que são caracterizadas por superfícies planas sujeitas a inundações mais ou menos prolon‑
gadas na época das chuvas. A principal actividade da população é a pesca, praticada não só nos rios
como na própria chana. A zona agrícola 21 está localizada quase que integralmente na região de Alto
Zambeze e a actividade das populações é dominada pela agricultura tradicional, sendo a mandioca
a cultura dominante devido à adaptação às condições edafo‑climáticas da região. A zona agrícola
26/28 é caracterizada por possuir solos pobres e é conhecida regionalmente por Bundas e Luchazes.
A cultura de grande destaque é a mandioca porém, a floresta natural da região faz com que exista um
elevado potencial melífero. O Alto Zambeze e o Luau são os municípios que aparecem com a aptidão
agrícola mais diversificada.
250 |
período chuvoso apresentou dois cenários. Primeiro, o seu início atempado (5 de Setembro de
2015) que, apesar de tudo, induziu em erro os produtores nas sementeiras por se ter obser‑
vado um intervalo de 22 dias sem chover, provocando assim algumas inquietações no seio das
comunidades face às colheitas da 1ª fase. Segundo, as chuvas retomaram no primeiro decénio
do mês de Outubro (entre os dias 12 e 15) com algum excesso, o que causou algumas inquieta‑
ções no seio das famílias camponesas pelo excesso das quedas pluviais, prevendo‑se um impac‑
to negativo nos resultados das colheitas.
No quadro das políticas governamentais de combate à fome e à pobreza tem havido apoios
significativos com objectivos de reabilitação da capacidade de produção agrícola dos campone‑
ses como elemento fundamental da redução do desemprego. Neste contexto, e de acordo com
o Relatório Anual da Direcção Provincial, em 2016, as principais acções incidiram no apoio às
empresas públicas e privadas e à mulher rural, às comunidades organizadas, ex‑militares, anti‑
gos combatentes e veteranos da pátria, com vista à diversificação da economia e do combate
à fome e à pobreza.
De acordo com o mesmo relatório, a segurança alimentar foi considerada estável, com
excepção da situação nas comunas no sul dos Bundas, nomeadamente no Ninda e no Chume,
onde foram apoiadas 1549 famílias que se encontravam expostas ao risco após pouca chuva
nos meses de Outubro a Fevereiro. No entanto, é urgente que a produção agrícola responda de
forma imediata e vigorosa já que as necessidades alimentares internas continuam dependentes
da produção de outras regiões e das importações comerciais.
| 251
De acordo com o Relatório Anual da Direcção Provincial, as acções no âmbito do PEDR tive‑
ram como principais objectivos:
2. Promover a agricultura mecanizada com o recurso a técnicas de fácil manejo, bem como
o uso de máquinas, para permitir o aumento das áreas de cultivo.
A campanha agrícola em 2016 envolveu um universo de 141 200 famílias camponesas assis‑
tidas na implementação dos seguintes programas: O PEDR assistiu 19 360 famílias; O Programa
Municipal Integrado de Desenvolvimento Rural e Combate à Pobreza (PMIDRCP) assistiu 4200
famílias com a colaboração de parceiros sociais, nomeadamente a Organização não‑Governa‑
mental (ONG) LWF. Foram também apoiados pequenos produtores na organização produtiva
mercantil e na divulgação de novas técnicas de produção agro‑pecuária (ver tabela).
252 |
Foi realçado no Relatório da Direcção Provincial que, apesar dos vários constrangimentos, a
intervenção na forma de assistência técnica das famílias camponesas e pequenos agricultores foi
realizada em 280 aldeias onde foram assistidos 52 pequenos agricultores pelo PEDR. Beneficiaram
de assistência cerca de 50 famílias do município do Moxico através da ONG DT GROUP (Projecto
hortícola de Kaludjindji) e 525 famílias pela ONG LWF, sendo 160 no município de Kamanongue,
190 no município de Léua e 175 no município do Kaméia. Comparativamente ao ano de 2015 em
que foram assistidas 13 150, verificou‑se em 2016 um aumento de 6210 no número de famílias
assistidas tecnicamente e com acesso a distribuição de insumos (representa um aumento de 47 %).
Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província
do Moxico, República de Angola.
145
NPK é uma sigla utilizada em estudos de agricultura, que designa a relação dos três nutrientes principais para as
plantas (nitrogénio, fósforo e potássio), também chamados de macronutrientes, na composição de um fertilizante.
| 253
continuação
Foram preparados aproximadamente 171 444 hectares de terra onde foram cultivados pro‑
dutos diversos, tendo‑se estimado uma produção de 872 444,4 toneladas (ver tabela). No sector
empresarial (projectos Camaiangala e Sacassanje) foram preparados 914 hectares (estimativa).
Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e
Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.
254 |
ÁREAS CULTIVADAS
Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo
da Província do Moxico, República de Angola.
| 255
Produtos Kg Produtos Kg
Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural
e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.
Neste projecto, com uma área em aproveitamento de 5000 hectares já foram desbravados
1200 hectares dos quais aproximadamente 900 hectares foram semeados, tendo sido obtida
uma produção de 3479 toneladas de milho e 200 toneladas de soja (ver tabela).
256 |
Bovinos 17 660
Suínos 18 040
Caprinos 50 750
Aves 165 000
Total 251 450
PRODUÇÃO DE CARNE
Espécie
Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província
do Moxico, República de Angola.
O Moxico possui a segunda maior reserva florestal de Angola segundo o Ministério da Agri‑
cultura e Desenvolvimento Rural (MINADER).147 A exploração florestal tem potencialidades
146
De acordo com o Plano de Desenvolvimento Integrado da Província do Moxico 2012‑2025, os ani‑
mais selvagens têm sido tradicionalmente uma das fontes de alimentação quotidiana. Actualmente,
alguns animais estão praticamente extintos. No entanto, com manejo adequado e a criação espe‑
cializada, alguns animais como a galinha‑do‑mato, a pacassa, o cabrito‑do‑mato, o veado, algumas
variedades de antílopes, entre outros, poderiam voltar a ser abundantes e permanentes fontes de ali‑
mento.
147
Embora os recursos florestais coloquem Moxico como a segunda maior reserva florestal de
Angola, é nas florestas renováveis que se encontra um grande potencial da região Oeste da província
que, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e o MINADER,
apresenta boa aptidão para o eucalipto.
| 257
Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas,
Governo da Província do Moxico, República de Angola.
148
De acordo com o Plano de Desenvolvimento Integrado da Província do Moxico 2012‑2025, reco‑
menda‑se um manejo sustentável como forma de aproveitamento económico da floresta, princi‑
palmente a partir de um estudo botânico e bioquímico aprofundado, voltado para a identificação
de fármacos e dos diferentes usos mais adequados das espécies da flora. Estudos com outras espé‑
cies de crescimento rápido, mesmo que exóticas, mas que possam passar por um manejo contro‑
lado, podem ser opções ao desenvolvimento de produtos florestais de impacto económico positivo
e ambiental neutro. Um destes casos é o bambu. Em algumas árvores da província, tais como mus‑
sixi, mumanga, muvuca, mussamba, mucuwe, entre outras, as abelhas aproveitam o suco após a
germinação das flores, para transformar em mel. Este mel é conhecido pelas suas características
medicinais.
149
Durante a campanha florestal foram multadas 7 empresas, por incumprimento dos pressupostos
plasmados no regulamento florestal. Destaca‑se também a apreensão de 160 sacos de carvão, 65 vas‑
souras artesanais, 60 kg de insectos (Maiungo ou catato), 120 partes de carne de caça e 34 animais
frescos.
258 |
Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas,
Governo da Província do Moxico, República de Angola.
Relativamente ao sector das pescas, a pesca continental artesanal representa, pela grande
extensão de chanas, anharas e abundância de caudal dos rios (a par com a agricultura), a prin‑
cipal ocupação e sustento da população.150 Neste contexto, a aquicultura apresenta‑se como
um dos grandes recursos potenciais (através de projectos dirigidos dentro das tecnologias da
aquicultura sustentável) e com impactos no desenvolvimento económico e promoção social das
populações.151
No ano de 2016, a pesca continental registou a produção de 405 337 kg de peixe seco, a cap‑
tura em rios e lagos foi de 179 970 kg de peixe fresco, 1569 kg em tanques, estimando‑se um
somatório de 586 876 kg de pescado diverso (ver tabela seguinte). Comparativamente ao ano
de 2105 (1 107,558 kg de peixe), verificou‑se uma redução na produção de 520 682 kg de peixe
(586 876 kg de peixe, ou seja, uma redução em 47 %).
150
Os numerosos rios, lagos, lagoas e extensas chanas alagadas na época chuvosa potencial a pesca
fluvial e têm variadíssimas espécies de peixe, como tuqueia, mbuli (bagre), kele, kundu, mukunga,
pungu, mussoji. A pesca é praticada principalmente nos rios Luena, Lumeje, Tchivumagi, Zambeze e
nos lagos Dilólo, Calundo, Mulondola. As áreas potencialmente piscatórias e as mais expressivas são
as dos municípios do Moxico (Lucusse), Kaméia, Luau e Alto‑Zambeze.
151
De acordo com o Plano de Desenvolvimento Integrado da Província do Moxico 2012‑2025, a aqui‑
cultura sustentável é entendida como o processo de produção em cativeiro de organismos com habi‑
tat predominantemente aquático em que é levada em conta a mitigação dos impactos ambientais. É a
prática aconselhada para a produção comercial da piscicultura para a alimentação proteica humana
e tem como mercados as províncias da Lunda-Sul e do Huambo.
| 259
Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província
do Moxico, República de Angola.
Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas,
Governo da Província do Moxico, República de Angola.
260 |
Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas,
Governo da Província do Moxico, República de Angola.
De acordo com o Relatório de 2016 da DPADRP, foram beneficiados com acções de capacita‑
ção 1371 líderes comunitários e 150 associados em 8 municípios excepto no Luacano. As acções
de capacitação falaram de temas como a instalação de campos de demonstração e modalidades
de reembolso de sementes, entre outros.
Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província
do Moxico, República de Angola.
| 261
Associações
Moxico 1365 3
Kamanongue 100 1
Léua 700 1
Lumege‑Kaméia 3500 4
Luacano ‑ ‑
Luau ‑ ‑
Alto‑Zambeze ‑ ‑
Bundas ‑ ‑
Luchazes ‑ ‑
Total 5665 9
Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento
Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.
262 |
Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural
e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.
Para o programa dirigido do arroz, foram identificadas várias áreas para o cultivo do cereal
e o programa identificou o envolvimento de 7000 famílias camponesas das comunidades de
Caweie, Tchiesso e Nhalacatula, município de Kaméia. Para os mesmos propósitos, candida‑
taram‑se, nesse município, um total de 11 empresas. No quadro das iniciativas empresariais,
apenas a empresa Culinanga tem preparado e semeado 150 hectares de arroz e a associação
Tchuze tem 5 hectares de terra preparados e semeados.
Moxico 7560
Bundas 2150
Kaméia 3850
Luau 2100
Luacano 1200
Total 16 860
| 263
Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província
do Moxico, República de Angola.
O programa dirigido do mel tem como principais actores o sector familiar e empresarial e como
objectivos a profissionalização da actividade, o aumento da produção de mel e outros produtos
apícolas, o aumento do emprego e rendimento familiar e a diversificação das explorações.152
Instalação de Introdução de kits Produção de mel Mel não Cera bruta (kg)
cera (kg)
colmeias modernas procura de mel e cera não processado (kg) processado (kg) ano de 2017
6818 27 22 820 570 31 500 7875
Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província
do Moxico, República de Angola.
De entre muitos factores que estiveram na base de alguns insucessos, foram destacados
pelo Relatório da Direcção Provincial os seguintes para o ano de 2016:
152
Em 1956, o Moxico figurava na lista do maior produtor mundial de mel (Plano de Desenvolvimento
Integrado da Província do Moxico 2012‑2025).
264 |
1. Carácter de subsistência.
A província possui um potencial em recursos minerais e hídricos, entre outros, que uma
vez explorados, constituirão bases para alavancar a economia regional. Porém, neste domínio,
as actividades actuais resumem‑se fundamentalmente ao controlo de projectos de explora‑
ção de inertes das empresas no âmbito de construção civil. De acordo com o PDP 2013-2017,
a aprovação do Plano Nacional de Geologia e Minas irá permitir o desenvolvimento de um
| 265
Caixilharias de alumínio 4 7
Gráficas 3 1
Serrações e carpintarias 13 17
Unidades de produção de blocos de cimento 14 25
Casas fotocopiadoras 21 51
Panificadoras e pastelarias 10 17
Alfaiatarias, recauchutagens, moagens a martelo,
42 –
unidades de produção e gelo
Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial de Geologia, Minas e da Indústria, Governo da Província do Moxico,
República de Angola.
266 |
É salientado pela Direcção Provincial que durante o período em análise, foram fechadas 37
unidades geo‑mineiras e indústrias por vários motivos. Estão 68 unidades em pleno funciona‑
mento.
| 267
Prestação de Comércio
Municípios Grossista Retalhista Urbanos Ambulantes Feirante Total
serviços mercantis precário
Alto‑Zambeze 0 12 5 29 27 10 7 90
Bundas 0 5 2 67 28 0 0 102
Kamanongue 0 11 3 16 10 0 0 40
Luau 0 15 9 30 81 61 7 203
Luacano 0 7 0 8 2 0 0 17
Lumege‑Kaméia 0 15 0 12 9 0 0 36
Léua 0 11 3 10 10 0 0 34
Luchazes 0 2 0 6 8 0 0 16
Moxico 1 247 119 311 1199 76 8 1961
Total geral 1 325 141 489 1374 147 22 2499
Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial do Comércio, Hotelaria e Turismo, Governo da Província do Moxico,
República de Angola.
268 |
A ideia é a acção integrada entre os mencionados países na área ambiental e turística, den‑
tro de um projecto comum grandioso de formação de uma grande rede de parques nacionais
e privados que praticam a conservação da fauna e da flora, complementados por outros atrac‑
tivos temáticos e as singularidades da diversidade dos povos da região. No entanto, interessa
destacar que, actualmente, apesar do seu potencial a nível de promoção do comércio, o CFB
ainda não constitui uma alternativa relativamente ao sistema rodoviário no transporte de mer‑
cadorias de e para a província do Moxico. Como a maior parte da mercadoria transaccionada
no Moxico é proveniente de Luanda (Porto de Luanda) e o ponto partida do CFB é o Porto do
Lobito (província de Benguela), o transporte ferroviário acaba por representar uma alternativa
mais cara para os comerciantes.
| 269
Uma extensa rede de estradas de qualidade e bem conservadas é essencial para ligar comu‑
nidades, promover o desenvolvimento rural, a indústria, o turismo e assegurar o acesso aos
mercados. As estradas são o principal modo de transporte e permitem o desenvolvimento e a
circulação de recursos, tanto para as áreas rurais como urbanas. Estas são críticas para a maio‑
ria dos outros sectores e apoiam a prestação de serviços à comunidade, cuidados de saúde,
educação e outros. As infra‑estruturas de transporte na província do Moxico estão estruturadas
em rede ferroviária, transporte aéreo, rede rodoviária, fluvial (pequena dimensão) que permi‑
tem a transacções comerciais e serviços. No sector rodoviário, a província possui um sistema
extensivo de estradas tanto fundamentais, secundárias e terciárias (mais de 3477 km) que ligam
Luena com as províncias vizinhas, sedes municipais, comunais e outras localidades com poten‑
cial económico. No entanto, o sistema rodoviário foi praticamente destruído no período dos
conflitos e a sua reabilitação tem sido lenta.
2. Terraplanagem de vias no Bairro Kapango, numa extensão de 3 km, vias de acesso a Hos‑
pital Sanatório.
270 |
| 271
1. Redução de preços.
3. Benefício para as províncias vizinhas da Lunda‑Norte e Sul e para os países vizinhos como
a Zâmbia e a RDC.
272 |
Fonte: Relatório da Direcção Provincial dos Transportes, Telecomunicações e Tecnologias da Informação, Governo
da Província do Moxico, República de Angola.
Quanto à navegação fluvial, o rio Zambeze é navegável para pequenas embarcações e cons‑
titui sempre uma opção viável para a rede fluvial de navegação de África pois pode ligar o Alto
Zambeze à Zâmbia. No entanto, observou‑se que a única navegação regular é a praticada no rio
Luanginga, por pequenos barcos que ligam Lumbala‑Nguimbo à Zâmbia.
| 273
Luau
Caianda
Luacano Nana
Camanongue Lago Dilolo Candundo
Lumege Lovua
Léua Sandando
LUENA Cazombo Calunda
A N G O L A Lucusse
Lutuai Macondo
Lumbala
Luvuei Caquengue Caripanda
Cassamba Luzi Sachingando
Tempue (100 + 000)
Lutembo
Sessa (Km 152 + 250) Zâmbia
Cangamba
Lumbala Mussuma
Muie Nguimbo 0 50 100 km
Cangombe N
Ninda
Chiume Plataforma logística
Pólo industrial
Aeroporto
Estações
4. Criação de emprego.
274 |
Apesar das dificuldades, interessa referir que o mesmo Plano indica que, no contexto dos 10
projectos estruturantes identificados na província (2% do total nacional), metade dos projectos
e cerca e 75% do valor estimado para a província está consignado ao cluster Transportes e Logís‑
tica onde se inclui a reabilitação de estradas, de pistas aeroportuárias e o desenvolvimento da
Plataforma Logística de Luau.
De acordo com a Direcção Provincial da Energia e Águas da província do Moxico, está previs‑
to que até 2017 haverá água canalizada em Luena. A mesma fonte indicou que estão em curso
várias obras na província que permitirão que mais habitantes tenham acesso a água potável.
Com a entrada em funcionamento dos sistemas instalados nos bairros Vieira, Alto Campo e
4 de Fevereiro, nos arredores da cidade do Luena, e nas localidades do Donge, Mumanga e Chi‑
nanamata, no município de Kamanongue, mais de 16 mil famílias passarão a beneficiar de água
potável. Os empreendimentos têm capacidade para armazenar dez mil litros de água.
| 275
1. C
aptação de água em estado obsoleto.
2. Fraca capacidade técnica das empresas que intervém na construção de pequenos siste‑
mas de água.
3. F alta de quadros nos municípios para manutenção dos pequenos sistemas de água e dos
grupos de geradores existentes.
5. F alta de sistema de iluminação pública nas principais vias das sedes municipais.
276 |
Forças
1. G
rande potencialidade no sector agrícola, pesca, aquicultura e recursos hídricos.
2. D
isponibilidade de recursos minerais.
3. D
isponibilidade de recursos florestais e fauna.
4. B
acia hidrográfica do Okavango/Zambeze.
5. P
otencial turístico.
6. L ocalização geoestratégica da província no contexto da SADC.
7. P
resença de novos operadores da banca na província.
8. A
mbiente favorável de negócios.
Fraquezas
1. D
eficiente funcionamento dos sistemas de regadio e infra‑estruturas de gestão de água
para a prática de agricultura de rega.
2. V
ias de comunicação secundária e terciárias em mau estado de conservação.
3. F alta de infra‑estruturas de apoio à conservação e comercialização de produtos agrícolas.
4. F raca rede comercial.
5. P
rática da agricultura de subsistência.
6. P
ouco incentivo ao comércio rural.
7. Inexistência de aeródromos nalgumas sedes municipais devido à sua localização e à
distância com a sede da província.
8. Inexistência de um pólo de desenvolvimento agro‑industrial e base logística.
9. F alta de cadeias produtivas locais.
10. Fraco apoio às micro e pequenas empresas e empreendedores.
11. Reduzido investimento privado e também desconectado dos focos de desenvolvimento
da província.
12. Grande dispersão da população.
13. Ineficiência de recursos humanos especializados.
| 277
Oportunidades
1. C
aminho‑de‑ferro de Benguela.
2. A
mbiente económico estável.
3. P
rojecto regional Okavango/Zambeze.
4. P
osição fronteiriça.
5. P
rocesso de desconcentração financeira.
6. C
ondições climáticas favoráveis para a produção de energias renováveis.
7. P
lano de desenvolvimento eixo Lobito-Luau.
8. C
onsolidação das bases de integração regional.
9. Desenvolvimento das infra‑estruturas para facilitar trocas comerciais e a liberalização
económica.
10. Intenção de criação de um pólo de desenvolvimento agro‑industrial e base logística em
Luena e no Luau.
Ameaças
1. A
ssimetrias no desenvolvimento a nível nacional.
2. C
alamidades naturais.
3. E levada dependência de produtos das outras regiões e do exterior.
4. Imigração ilegal.
5. D
egradação dos solos e consequente progressão das ravinas.
6. P
rática de queimadas descontroladas e abate indiscriminado de árvores e animais.
7. S olos predominantemente ácidos.
8. F alta de oportunidades de emprego.
9. D
estabilização política na RDC.
10. Dificuldades alfandegárias para a circulação de bens e serviços para a RDC e Zâmbia.
278 |
ao Índico, a cultura dos seus povos, a sua localização geo‑estratégica fazendo fronteira com 3
províncias de Angola (Lunda-Sul, Bié e Kuando-Kubango) e com 2 países (Zâmbia e RDC), a pro‑
víncia deve posicionar‑se no contexto de desenvolvimento nacional e regional face à competi‑
tividade, tomando em linha de conta o desenvolvimento de factores estruturantes locais que
promovam o crescimento sustentável do território. O posicionamento sustentável da província
no contexto nacional e regional, dependerá fundamentalmente de factores estruturantes como
(Plano de Desenvolvimento da Província 2013/2017):
1. R
ecursos humanos locais qualificados.
3. C
riação de plataformas logísticas e o desenvolvimento dos pólos industriais, fomentando
em todos os municípios a agro‑indústria.
4. D
esenvolvimento rural para mitigar os efeitos das assimetrias.
1. C
onstrução de infra‑estruturas de conservação de produtos agrícolas.
5. R
eabilitação e construção dos perímetros irrigados de Luxia, Samaria, Caminina, Sacas‑
sanje e Kaméia.
7. A
poiar projectos de povoamento e repovoamento florestal.
8. C
riação de um centro de experimentação florestal.
9. P
romover o desenvolvimento da apicultura nas famílias.
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4. Montagem de cerâmica.
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8. Construção de uma ponte cais no Mussuma Mitete para permitir aumentar o número de
transacções com a Zâmbia.
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