Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
· Pendor filosófico;
· Fingimento poético;
Estilo;
1
"Sou um Evadido"
Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
Reflexão:
Através da reflexão filosófica a sua opção de fuga aos limites do ser, procura realçar
a naturalidade de cansaço que caracteriza o ser humano e afirma que ser uno é ser
prisão e que, por isso, só vivera plenamente fingido de si próprio.
2
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Reflexão:
A noção de viagem presente no primeiro verso está associada á ideia de procura para
o sujeito poético viajar não implica ganhar países, ganhar lugares na rota da sua vida;
significa, antes, procura de si mesmo, encontro consigo mesmo.
3
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Reflexão:
Este poema é claramente ilustrativo da temática do “ser”. Mas outros temas ou ideias
nele se revelam poesia pesoante: o desconhecimento de si mesmo; a perda de
identidade, a ideia de mobilidade; a solidão e a angústia.
"Autopsicografia"
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Reflexão:
Neste poema Fernando Pessoa fala da teoria do fingimento poético, pois um poema
não traduz aquilo que o poeta sente, mas sim aquilo que o poeta imagina a partir da
recordação do que anteriormente sentiu. O poeta é, assim, um fingidor que escreve
uma emoção fingida, pensada, por isso fruto da razão de da imaginação e não a
emoção sentida pelo coração, que apenas chega ao poema transfigurada na tal
emoção trabalhada praticamente.
4
O leitor não sente nem a emoção vivida realmente pelo poeta, nem a emoção por ele
fingida no poema, sentido apenas o que na sua inteligência é provocado pelo poema
– assim, a poesia, segundo Fernando Pessoa, é a intelectualização da emoção.
"Isto"
Reflexão:
O poeta neste poema compara todas as suas emoções a um terraço, esta comparação
permite salientar a separação entre as sensações e as emoções.
Basicamente, este poema foi escrito como resposta á falta de compreensão, por parte
dos leitores, do poema “Autopsicografia”. Como tal, no ultimo verso do poema, o
sujeito poético dirige-se aos leitores para salientar a ideia de que a eles caberá um
sentir diferente de poeta, isto é, cada leitor terá a liberdade de sentir o poema como
quiser, seja com emoção, ou seja. Com inteligência.
A relação existente entre os dois poemas “Autopsicografia” e “Isto” tem como tema
comum o fingimento poético, funcionando ambos como uma espécie de arte poética,
nos quais o sujeito poético expõe a sua teoria da poesia como intelectualização da
emoção.
5
"Ela canta, Pobre ceifeira"
Reflexão:
[não efectuado]
6
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
Reflexão:
Neste poema o sujeito poético revela trsiteza e desolação por não conseguir abolir o
viço excessivo do pensamento. O poeta afirma que gostaria de ser a ceifeira, com a
sua “alegre inconsciência” – gostaria de sentir sem pensar; mas paradoxalmente,
gostaria também de ser ele mesmo, ou seja, ter a consciência de ser inconsciente – o
que ele deseja é unir o plano do sentir e o plano de pensar
7
O que nela é florescer
Em nós é ter consciência.
Reflexão:
Este poema foi escrito para caracterizar o homem, que sente e pensa. Nele a razão e a
emoção são mentira porque não se conjugam. Por seu lado, a flor, nem sente nem
pensa e, no entanto, desabrocha sem precisar de razão e de coração. Para a flor,
florescer é um acto involuntário, tal como é um acto involuntário para o homem
pensar.
O sujeito poético procura realçar um apelo irónico ao “carpe diem” que procura
sugerir que, enquanto a morte não chega, devemos aproveitar cada momento da vida,
seja florindo inconscientemente como uma flor, seja pensando, como é inevitável no
homem.
8
Não se pára, se flui;
Não se existe ou de doí.
Reflexão:
Este poema foi feito para caracterizar os pensamentos do sujeito poético que eram
“leves” e “desatentos”, semelhantes a “algas” ou “cabelos” que “bóiam” lentamente
“á tona de águas”; são as coisas insignificantes como “pós” ou como “nadas”. O
sujeito poético, observando o seu mundo inteiro, redu-lo a uma insignificância
insuportável. Sobressaem, na caracterização dos pensamentos, os seguintes recursos:
a metáfora, a comparação, a adjectivação expressiva e o paradoxo.
O sujeito poético visiona neste poema um espelho coberto de elementos físicos sem
vida, que fazem lembrar desperdício e que não permitem o encontro consigo mesmo.
Deste desencontro resulta a angústia, a “mágoa”, o tédio, a dor, a frustração e o
sentimento de vazio que dominam o sujeito poético.
Reflexão:
O sujeito poético neste poema procura auto-analisar-se com a sua lucidez aguda, a
sua alma “lúcida e rica”, na tentativa de se auto conhecer. No entanto, aquilo que
encontra é um espelho sem reflexo, “um mar de sargaço” que impede o encontro
consigo mesmo.
9
"Não sei se é sonho, se realidade"
Reflexão:
O sujeito poético neste poema, numa primeira fase procurou colocar a hipótese de
poder alcançar o sonho, numa segunda fase contradiz a hipótese colocada, expondo a
concretização do sonho. Finalmente conclui que não é necessário fingir para o sonho,
porque aquilo que procuramos está dentro de nós mesmos. No entanto, ao referir que
é “Ali, ali / A vida é jovem e o amor sorri”, deixa entender que mesmo estando
dentro de nós, o sonho e a felicidade estão distantes, pois são difíceis de alcançar.
Este poema foi escrito para explorar o tema tipicamente pessoano do binómio,
sonho/realidade.
10
"Contemplo o que não vejo"
Reflexão:
Este poema foi escrito com o intuito de caracterizar a palavra “muro” que, neste
caso, representa metaforicamente a ideia de fronteira ou de divisão entre a realidade
e o sonho, uma separação que estabelece os limites do sujeito poético.
11
Houve em mim várias almas sucessivas
Ou sou um só inconsciente ser?
Reflexão:
No plaino abandonado
Que a morta brisa aquece,
De balas traspassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece.
12
Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
"O menino da sua mãe".
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
Reflexão:
Este poema foi escrito para poder ser visto de modo metafórico, a representação do
próprio poeta que sabe ser impossível o regresso ao regresso materno, porque a
infância ficou para trás, inevitavelmente perdida, ideia que pode relacionar-se com a
temática pessoana “a nostalgia da infância” – a época de ouro, da felicidade
inconsciente, para sempre perdida, que contrasta com a situação presente
caracterizada por consciência aguda que provoca no poeta a sensação de
desconhecimento de si mesmo, a perda de identidade.
O sujeito poético neste poema fala também da cigarreira dada pela sua mãe e o
lenço dado pela alma que o ajudou a criar, são representações do seu passado de
“menino” que viveu junto a quem o amava.
13