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Livro de Geografia Da População PDF

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GEOGRAFIA DA

POPULAÇÃO

Professor Me. Hugo Santana Casteletto

GRADUAÇÃO

Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Diretoria Executiva
Chrystiano Mincoff
James Prestes
Tiago Stachon
Diretoria de Design Educacional
Débora Leite
Diretoria de Graduação e Pós-graduação
Kátia Coelho
Diretoria de Permanência
Leonardo Spaine
Head de Produção de Conteúdos
Celso Luiz Braga de Souza Filho
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Supervisão do Núcleo de Produção
de Materiais
Nádila Toledo
Supervisão Operacional de Ensino
Luiz Arthur Sanglard
Coordenador de Conteúdo
Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Designer Educacional
Marcus Vinicius Almeida da Silva Machado
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a
Arte Capa
Distância; CASTELETTO, Hugo Santana.
Arthur Cantareli Silva
Geografia da População. Hugo Santana Casteletto. Ilustração Capa
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2016. Reimpresso em 2018. Bruno Pardinho
204 p.
Editoração
“Graduação - EaD”.
André Morais de Freitas
1. Geografia. 2. População. 3. Mobilidade. 4. EaD. I. Título. Fernando Henrique Mendes
Qualidade Textual
ISBN 978-85-459-0439-7 Danielle Marta Loddi Santos
CDD - 22 ed. 304.2
Ilustração
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Marta Sayuri Kakitani

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário


João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828

Impresso por:
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha-
mos com princípios éticos e profissionalismo, não
somente para oferecer uma educação de qualida-
de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-
-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo-
cional e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cur-
sos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais
de 100 mil estudantes espalhados em todo o
Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá,
Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de
300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de
graduação e pós-graduação. Produzimos e revi-
samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil
exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo
MEC como uma instituição de excelência, com
IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os
10 maiores grupos educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferen-
tes áreas do conhecimento, formando profissio-
nais cidadãos que contribuam para o desenvolvi-
mento de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou
profissional, nos transformamos e, consequentemente,
Pró-Reitor de
Ensino de EAD
transformamos também a sociedade na qual estamos
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
Diretoria de Graduação
e Pós-graduação este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe
de professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
AUTOR

Professor Me. Hugo Santana Casteletto


Mestre em Geografia Humana (mais precisamente na linha de pesquisa de
Dinâmicas Territoriais e Produção do Espaço) pela Universidade Estadual de
Maringá no Paraná.

Graduado em Geografia (Bacharel e Licenciatura) e atualmente professor do


NEAD UNICESUMAR no curso de Licenciatura em Geografia, além de atuar
como professor da Educação Básica da rede pública e privada na cidade de
Maringá-PR.
APRESENTAÇÃO

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

SEJA BEM-VINDO(A)!
Olá, caro(a) aluno(a). Esse é um trabalho realizado com muito carinho e atenção visando
sempre às necessidades de nossos alunos em consonância com a exigência que a ins-
tituição Unicesumar tem com a qualidade de seu ensino. Depois de muitas pesquisas,
muitas conversas e muitas trocas, este livro é fruto de intensas horas de debates, leituras
e escritas, no intuito de mantermos a qualidade tão consagrada de nossa instituição.
Neste livro, buscamos ressaltar diversas discussões a respeito da Geografia da Popula-
ção no âmbito nacional de pesquisa. A ideia era trazer para você um debate sobre os
principais autores históricos e contemporâneos do assunto, em vista das novas mudan-
ças às quais a população mundial vem sofrendo. Assim, mantemos o cunho acadêmico
do Curso de Licenciatura em Geografia, buscando mostrar as principais discussões que
temos hoje no âmbito da Geografia da População.
Além disso, esse livro vai se preocupar e doar grande parte ao fato de que a Geografia da
População é uma das disciplinas mais trabalhadas no âmbito escolar, e, não por menos,
pensamos nesse livro de uma forma que fosse possível usá-lo quando você for lecionar
suas próprias aulas.
Dessa forma, são mesclados conteúdos acadêmicos necessários à formação no Ensino
Superior, com conteúdos relacionados à Educação Básica, como conceitos de geopolíti-
ca, muito trabalhada no Ensino Médio e Ensino Fundamental.
Pensando nessa forma, a proposta do livro é levar você a compreender melhor a Geo-
grafia da População, e ao mesmo tempo prepará-lo(a) para a carreira docente, fornecen-
do base conceitual para suas aulas. Quando você vier a se tornar professor(a), poderá
revisar o conteúdo exposto aqui para que assim possa sanar dúvidas pertinentes a con-
teúdos ministrados no âmbito da Geografia da População.
Assim, no intuito de fornecer base a você, aliado ao compromisso que a Unicesumar
tem com seu(sua) aluno(a) e com sua qualidade no ensino, viemos gratificá-lo(a) e aco-
lhê-lo(a) da melhor maneira possível, para que, assim, sinta-se à vontade em debater,
questionar, opinar, elogiar, criticar, entre outras coisas, para que cada vez mais possamos
oferecer um ensino de extrema qualidade.
Desde já agradeço a todos que de alguma forma participaram da produção deste livro,
como a coordenação do curso, passando pela equipe de tutores e mediadores do curso,
além da equipe de diagramação e edição, ou seja, todos que fazem tornar realidade o
ensino de qualidade.
Esperamos contribuir com sua formação a partir desta leitura, e que nossa caminhada
rumo a esse sonho seu seja repleta de conhecimento e descoberta. Sucesso, caro(a) alu-
no(a), e vamos caminhar rumo ao conhecimento juntos!

Boa leitura!
09
SUMÁRIO

UNIDADE I

A TEORIA DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

15 Introdução

16 A Distribuição da População Mundial e Seu Crescimento Vertiginoso

28 Os Estudos Populacionais na Geografia

34 Os Conceitos Relacionados à Geografia da População

45 Considerações Finais

51 Referências

53 Gabarito

UNIDADE II

AS TEORIAS RELACIONADAS À GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

57 Introdução

58 Teorias Demográficas

59 Teoria Malthusiana

61 Teoria Neomalthusiana

65 Teoria Reformista

71 Teoria da Transição Demográfica

81 Considerações Finais

89 Referências

90 Gabarito
10
SUMÁRIO

UNIDADE III

O CONCEITO DE MOBILIDADE HUMANA

93 Introdução

94 A Mobilidade Humana

98 Mobilidade Física

102 Mobilidade Centrada no Trabalho

107 Mobilidade Social

113 Considerações Finais

119 Referências

121 Gabarito

UNIDADE IV

A MIGRAÇÃO PARA A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

125 Introdução

127 Os Tipos de Migração

133 Os Principais Tipos de Migração Trabalhados no Ensino Básico

140 As Grandes Migrações Mundiais

157 Considerações Finais

163 Referências

165 Gabarito
11
SUMÁRIO

UNIDADE V

A CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA

169 Introdução

170 A Formação da População do Brasil

178 Principais Povos Que Migraram Para o Brasil

182 A Estrutura da População Brasileira

189 O Processo de Transição Demográfica Brasileira

193 Considerações Finais

201 Referência

203 Gabarito

204 CONCLUSÃO
Professor Me. Hugo Santana Casteletto

A TEORIA DA GEOGRAFIA

I
UNIDADE
DA POPULAÇÃO

Objetivos de Aprendizagem
■■ Identificar os processos históricos de crescimento populacional, bem
como sua ligação com o homem que fixa território.
■■ Compreender os fatores de ordem natural, histórica e social de
distribuição da população no Planeta.
■■ Identificar os principais autores da Geografia da População, bem
como os motivos que levaram ao aumento da produção científica
nesse ramo da Geografia.
■■ Apresentar os principais conceitos relacionados à Geografia da
População.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A Distribuição da População Mundial e seu Crescimento Vertiginoso
■■ Os Estudos Populacionais na Geografia
■■ Os Conceitos Relacionados à Geografia da População
15

INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) aluno(a). Estamos começando mais uma disciplina do curso de


Licenciatura em Geografia, na qual observaremos como a ciência geográfica se
apropriou, durante muitos anos, dos estudos relacionados à população, e com-
preender seu papel como futuro(a) professor(a) de Geografia no ensino dos
conteúdos relacionados à população mundial e brasileira.
Nesta primeira unidade, faremos uma introdução a respeito do crescimento
populacional mundial nas últimas décadas e mostraremos como tal fenômeno
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tornou-se tão importante para os estudos geográficos. Também iremos nos apro-
ximar dos principais autores que contribuíram para a formação da Geografia
da População como ciência. E, por último, mas não menos importante, iremos
introduzir alguns conceitos criados no âmbito geográfico, para que você, como
futuro(a) professor(a), possa compreendê-los, entendê-los e difundi-los para
seus futuros alunos.
Lembre-se que, para a compreensão dos fatores que elencaremos nas outras
quatro unidades, é importantíssimo que você compreenda bem o que será exposto
nesta primeira unidade de nosso livro didático.
Portanto, fique atento a todas as explicações, desde os grandes movimentos
migratórios, passando pelas escolas geográficas que trabalharam com o tema, e
por último o entendimento dos principais conceitos que vão nortear nossos estu-
dos daqui para frente. Isso é de suma importância, pois nas unidades seguintes
tais temas serão trabalhados como se você já soubesse do que se trata. Quando
temas relacionados a esta unidade forem abordados nas unidades seguintes, saiba
que você terá que saber do que se trata, pois não há tempo hábil para retomar-
mos assuntos trabalhados nesta unidade em outras.
Espero que esta seja uma grande caminhada rumo ao conhecimento do
estudo da Geografia da População.
Vamos lá?!

Introdução
16 UNIDADE I

A DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL E SEU


CRESCIMENTO VERTIGINOSO

Neste tópico, iremos entender os fatores de distribuição da população pelo mundo,


bem como compreender os motivos que levaram à explosão demográfica do ser
humano no Planeta Terra. Desta forma, ao final da unidade I, você será capaz
de compreender os principais pretextos que levaram à criação dos estudos rela-
cionados à população como elemento importantíssimo para a ciência geográfica.
A princípio, tomemos por base uma passagem do livro “Geografia da

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
População”, de Pierre George (1986, reeditado uma série de vezes), em que o
próprio autor demonstra sua expectativa acerca do crescimento populacional
vertiginoso. Acompanhe:
[...] duzentos e cinquenta milhões de habitantes na época da Antigui-
dade Clássica, meio bilhão pelos meados do século XVII, um bilhão em
1850, dois bilhões em 1940, mais de quatro bilhões antes de 1980 [...] e
sem duvida oito bilhões antes do fim do século (GEORGE, 1986, p. 7).
©shutterstock

Observe que, segundo estimativa


do autor (o que não deixa de ser
uma previsão incorreta), a popula-
ção, que na idade antiga não passava
de duzentos e cinquenta milhões,
hoje já ultrapassa a casa dos nove
dígitos. Aprofundando ainda mais
a análise acerca desse trecho, vimos
que, da idade Antiga para meados
do século XVII, a população mais que dobrou. A humanidade precisou de cerca
de 1.100 anos para aumentar cerca de 2.000 vezes o número populacional, pas-
sando de duzentos e cinquenta milhões para meio bilhão de habitantes. Ainda
analisando este trecho, vimos que, do século XVII (por volta dos anos de 1.600)
para o século XIX (por volta dos anos de 1.800), a população dobrou de tama-
nho, passando de meio bilhão para um bilhão de habitantes. Ou seja, o que a
humanidade demorou 1.100 anos para atingir em relação a números absolutos
de habitantes, em menos de 300 anos já foi dobrado.

A TEORIA DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


17

No trecho escrito por George (1986), percebemos que, do século XIX para
o século XX, a população mundial, mais uma vez, dobrou de tamanho, pas-
sando de um bilhão para dois bilhões de habitantes. Ou seja, precisamos de cerca
de 100 anos para, mais uma vez, dobrarmos nosso contingente populacional.
Atualizando ainda mais os dados: de 1940 a 1980 mais uma vez a humanidade
se superou, passando de dois bilhões para cerca de quatro bilhões de habitantes,
uma explosão demográfica vertiginosa, permeada por uma série de melhorias
técnicas, científicas e sociais.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

QUEM FOI PIERRE GEORGE?


Pierre George foi um importante personagem da Geografia Francesa na se-
gunda metade do século XX, assumiu cargos universitários e dialogou com
outras ciências. Suas contribuições alcançam geógrafos do Canadá, do Mé-
xico e do Brasil, disseminando novas concepções sobre teoria e método. O
historiador francês Antoine Marès abre o artigo de homenagem a George
mostrando sua relevância como pensador de vanguarda. Em termos insti-
tucionais, George foi diretor dos Annales de Géographie por três décadas,
tendo papel destacado também como escritor. Sua assinatura aparece em
mais de seiscentas e cinquenta ocorrências (MARÈS, 2008). [...] Enfim, Ge-
orge orienta muitas pesquisas nessa época, assume cargos importantes na
universidade e consolida seu nome na Geografia mundial.
Fonte: Ramão (2013, p. 31 à 51).

Portanto, segundo Pierre George (1986), não seria errado falarmos em um


crescimento vertiginoso da humanidade ou mesmo falarmos em uma explo-
são demográfica, afinal, o número populacional que antes a humanidade levava
cerca de dois milênios para atingir, hoje, segundo dados estatísticos, é atingido
em meio século, por meio de nossa reprodução.
Porém, mesmo sabendo que as inovações na medicina, a melhoria na agricul-
tura, melhoria na distribuição de bens e serviços, entre outros fatores relacionados
ao meio técnico-científico-informacional, influenciaram nesse crescimento

A Distribuição da População Mundial e Seu Crescimento Vertiginoso


18 UNIDADE I

vertiginoso, devemos perceber que


ainda existem diferenciações na
distribuição dessa população, ou
seja, mesmo sabendo os motivos
que levaram a esse crescimento
demográfico da população, você,
aluno(a), deve entender que isso
ocorreu de forma diferenciada nas
diversas localidades do Planeta

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Terra. Esse crescimento popula-
cional variará de acordo com as
condições que cada país oferece à
©shutterstock
sua população.
Tais inovações na qualidade de vida da população vão diferenciar a expec-
tativa de vida da República do Chade (49 anos), da expectativa de vida no Brasil
(78 anos), da expectativa de vida do Japão (83 anos). Dentro de um país, ainda
podemos encontrar regiões com expectativas de vida muito diferentes devido às
características de acesso dessas populações aos bens e serviços fornecidos pelo
Estado, como, por exemplo, a China, que possui expectativa de vida na faixa de
76 anos de idade e a Região Administrativa de Macau, que possui expectativa de
vida em torno de 85 anos de idade. Isso se dá pelo investimento diferenciado do
governo nos seus mais diversos territórios, além, é claro, de aspectos culturais
que envolvem determinados territórios, como formas de alimentação, modelo
de educação dos filhos, modelo escolar de aprendizagem, entre outros fatores.
Outro exemplo importante que
podemos citar sobre a relação entre o cres-
cimento vertiginoso da humanidade e sua
distribuição no planeta é a diferenciação
de renda entre os mais variados contin-
gentes populacionais espalhados pelo
mundo. Essa diferença pode ser primor-
dial na concentração ou desconcentração
da população pela Terra.
©shutterstock

A TEORIA DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


19

©shutterstock

É, também, esse tipo de indicador que vai nos mostrar a diferença, por exemplo,
dos U$ 12.000 per capita no Brasil para os U$ 81.000 per capita da Suíça. Porém,
vale ressaltar que o alto índice de PIB per capita não garante que exista cresci-
mento vertiginoso ou não. Devemos nos atentar para outros aspectos sociais,
como custo de vida nesses países, religião, tradição, entre outros, que definem se
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

existirá ou não concentração populacional em determinada localidade.


Ainda devemos ressaltar que, dentro do mesmo país, existirão as diferen-
ciações de renda entre as mais diversas regiões. No Brasil, podemos citar como
exemplos as regiões sudeste e nordeste, que apresentam uma grande disparidade
em relação à renda da população. Assim, pode ou não haver diferentes tipos de
concentração populacional dentro de um mesmo território.
Vemos que, apesar do crescimento vertiginoso da espécie humana nos últimos

A população do mundo, embora sendo uma realidade aritmética em muta-


ção permanente, é também uma abstração geográfica, econômica e social.
De acordo com as condições e as possibilidades de vida de cada país, cada
nascimento assume um significado particular.
(Pierre George)

anos, ainda assim, os Aspectos Sociais criados pelo sistema econômico vigente
no mundo são grandes definidores da distribuição da população no Planeta
Terra. Porém, além dos Aspectos Sociais, como processo de ocupação, renda e
IDH, ainda teremos os Aspectos Naturais, como clima e relevo, influenciando
na forma como a espécie humana ocupou o Planeta. Analisemos mais uma pas-
sagem de Pierre George (1986) a respeito dessa distribuição:

A Distribuição da População Mundial e Seu Crescimento Vertiginoso


20 UNIDADE I

Um mapa geral da repartição da população mundial mostra uma gran-


de desigualdade na ocupação da superfície dos continentes. Algumas
zonas desses continentes contêm consideráveis núcleos de povoamen-
to, outras acham-se quase completamente vazias, enquanto vastas ex-
tensões se caracterizam por serem povoadas de forma esparsa. Quatro
quintos da população do globo ocupam menos de um quinto da super-
fície dos continentes (GEORGE, 1986, p. 9).
Ao observarmos essa passagem do livro de Pierre George (1986), vemos que
um dos fatores para tal distribuição irregular são os Aspectos Sociais já citados
acima. Outro ponto muito bem trabalhado pelo autor, que justifica tal irregula-
ridade, são os fatores Naturais (ou Aspectos Naturais, como chamaremos daqui

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
por diante). Isso se deve em muito aos climas extremos do Planeta Terra, às for-
mas de relevo encontradas e à cobertura vegetal que o compõe.

©shutterstock

Pierre George (1986) faz um levantamento muito interessante a respeito da


ocupação humana no Planeta Terra. Segundo o autor, o homem está quase que
totalmente ausente nas regiões polares, quando comparamos o número de mora-
dores dessas regiões com o número absoluto de pessoas pelo mundo. Ao norte do
paralelo de 65°N, vemos que as ocupações humanas não passam de ocupações
militares dos países industrializados, ocupações científicas que, em sua maio-
ria, são nômades ou temporárias, e de tribos já ambientadas a essas localidades,
como os chamados Inuítes ou Esquimós, que em sua maioria tendem a acabar
devido à falta de interesse das novas gerações em perpetuar tais tradições. Fora
esse padrão, não vemos qualquer outro tipo de ocupação mais fixa, devido às

A TEORIA DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


21

dificuldades de adaptação do corpo humano a climas extremos, dificuldade de


cultivo agrícola e diferença no regime de estações e presença do Sol. Ao sul do
paralelo 65°S, vemos uma situação ainda mais acentuada: a falta de conectivi-
dade com outras terras emersas do planeta fez com que a Antártida ficasse ainda
mais isolada, tendo um número infinitamente reduzido de ocupações, destacan-
do-se apenas as bases cientificas nômades e temporárias.
Nas palavras de Pierre George (1986):
A superfície abrangida pelo deserto ártico e subártico é da ordem dos
27 milhões de quilômetros quadrados: o Alasca com 1.600.000km² e
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

130.000 habitantes; o Norte do Canadá com 6.000.000km² e menos de


100.000 habitantes; a Groenlândia com 2.200.000 km² e 25.000 habi-
tantes; o Ártico soviético com cerca de 6.000.000km² e 500.000 habi-
tantes [...] No conjunto, 20% da superfície dos continentes contêm me-
nos de 0,02% da população mundial (GEORGE, 1986, p. 10).
©shutterstock

Mas você, aluno(a), sabe que o principal


motivo para essa falta de povoamento das
regiões polares é pura e simplesmente pelo
fato das médias térmicas não passarem de
0°, ou seja, por ser uma região em que o
mês mais quente é quando registramos uma
média de 10° acima de zero. É uma região
incompatível com o mínimo de temperatura
suportado pelo corpo humano.
Porém, vale lembrar que não é apenas a latitude que define se determinada
região vai ser mais ou menos fria. Podemos observar regiões na mesma latitude das
regiões polares que possuem um clima mais ameno. Vemos que existem cidades na
Europa que ficam próximas ao paralelo de 60° N e que possuem considerável ocu-
pação, devido às condições do relevo, continentalidade e maritimidade, que acabam
por amenizar o clima, dando assim maior acesso para a ocupação humana. Caso de
Leningrado (4.990.000 habitantes), que fica localizada próxima ao paralelo de 60º N
e é uma das cidades mais importantes, economicamente e historicamente, da Europa.
Mesmo nas regiões de média latitude, onde teoricamente a ocupação seria mais
acentuada, vemos que as massas continentais elevadas dificultam o acesso humano.
Caso do Himalaia, um soerguimento causado pelo choque entre as placas tectônicas,

A Distribuição da População Mundial e Seu Crescimento Vertiginoso


22 UNIDADE I

que mais parece um “deserto” no que diz respeito à ocupação. Poucas são as popula-
ções que habitam tal localidade, como é o caso dos tibetanos e mongóis que, juntos,
não passam de cinco milhões de habitantes, em uma extensa área ao sul da Ásia.
Esse Aspecto Natural não atinge apenas as regiões polares. As regiões áridas,
como os desertos, também são limitadores de ocupação humana, onde “a insufi-
ciência das precipitações, agravada pela alternância de baixas e altas temperaturas
[...] afasta toda a possibilidade de agricultura sedentária e de povoamento perma-
nente.” (GEORGE, 1986, p. 12). Contudo, Pierre George (1986) ainda ressalta que,
na mesma latitude, por exemplo, do Saara Africano, estão países como o México,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
República Dominicana, Cuba, Haiti, entre outros, que possuem climas bem “tropicais”.
Isso se deve à sua posição com relação aos alísios e às correntes marítimas,
além, é claro, de uma formação de Planalto que nada mais é que uma extensão
da Cordilheira Americana, o que garante a essas populações solos mais férteis
para cultivo permanente, como o caso do Altiplano ou Meseta Mexicana.

©shutterstock

A TEORIA DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


23

Perceba que as posições latitudinais são de extrema importância para compre-


endermos a distribuição da população humana pelo Planeta Terra. Porém, ela
não é a única explicação para tal fenômeno, principalmente quando falamos
dos Aspectos Naturais que influenciam a distribuição do homem pelo mundo.
Não muito longe, podemos observar aqui dentro do nosso próprio território
tal influência. Observe a ocupação da Região Amazônica: nessas regiões tropi-
cais, por exemplo, a altitude pode ser um elemento diferenciador de ocupação,
uma vez que as partes da região equatorial que possuem altitudes baixas são
geralmente ocupadas por Florestas Equatoriais muito densas e de difícil acesso
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ao ser humano, como é o caso da Amazônia e da Bacia do Congo.


Aí o obstáculo principal à vida humana é a proliferação da vida vege-
tal, bacteriana e animal. [...] o homem enfrenta adversários múltiplos e
temíveis num meio em que um calor e uma umidade permanentes esti-
mulam a reprodução de espécies de todas as dimensões. [...] o vigor da
vegetação espontânea constitui um obstáculo ao desenvolvimento das
iniciativas agrícolas. [...] Os vermes, as amebas, as bactérias instalam-se
nele irresistivelmente (GEORGE, 1986, p. 13).

Ou seja, a latitude, continentalidade, relevo, correntes marítimas, renda per capita,


expectativa de vida, vagas de emprego, ganhos salariais, entre outros fatores, são impor-
tantes para entendermos a distribuição da população pelo mundo. Portanto, Aspectos
Naturais e Sociais/Históricos são essenciais para compreendermos esse fenômeno.
Então, ao se trabalhar tal aspecto em sala de aula, você deve dar atenção a esses
pontos, para que não passe despercebido que o mundo não é totalmente ocupado.
Melhor dizendo, nem todas as partes do planeta Terra possuem ocupação humana
considerável, devido a uma série de condições naturais e sociais/históricas.

A Distribuição da População Mundial e Seu Crescimento Vertiginoso


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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A TEORIA DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


I
UNIDADE
24
25

A Situação dos Jovens e o que é o “Bônus Demográfico”


Muitos dos países com as maiores parcelas de jovens, hoje estão entre os
mais pobres do mundo, mas também estão à beira da transição demográfi-
ca que pode lhes render um bônus demográfico. A transição começa quan-
do as taxas de fecundidade e de mortalidade começam a cair, deixando
menos os jovens dependentes. Assim, mais pessoas, proporcionalmente,
encontram-se dentro do grupo integrante da força de trabalho de deter-
minado país. O bônus vem à medida que os recursos são liberados para o
desenvolvimento econômico e para maior gasto per capita em serviços de
saúde e educação de qualidade. O crescimento econômico decola. Inicia-se
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

um ciclo virtuoso no qual as capacidades e oportunidades crescem conti-


nuamente. (Capítulo 2 do Relatório Sobre a Situação da População Mundial
de 2014, elaborado pela UNFPA – Fundo de Populações das Nações Unidas).
Fonte: UNFPA (JOVENS E O BÔNUS DEMOGRÁFICO, 2014, on-line)1.

George (1986) chega à conclusão de que as regiões temperadas do planeta Terra,


no geral, são mais ocupadas, principalmente pela formação dos climas mais ame-
nos que contribuem para a fixação do homem. Contudo, o mesmo ressalta que,
dadas algumas adversidades naturais como relevo, correntes marítimas, qualidade
do solo, entre outros fatores, ainda encontraremos regiões localizadas na parte
temperada do planeta que não serão povoadas ou mesmo serão “vazios demo-
gráficos”, além é claro de aspectos históricos/sociais que interferem também na
proliferação do homem, como ganhos salariais, condições de vida, expectativa
de vida ao nascer, entre outros.

A Distribuição da População Mundial e Seu Crescimento Vertiginoso


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A TEORIA DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


I
UNIDADE

Fonte: Girardi e Rosa (2011, p. 117).


Figura 1 – Densidade Demográfica mundial
26
27

Agora que sabemos que a população mundial obteve um crescimento vertigi-


noso nos últimos anos, devido a uma série de fatores, e basicamente como está
distribuída a população pelo mundo, aprenderemos como surgiu o interesse da
Geografia para com os estudos populacionais, a fim de dar bases suficientes para
que você possa debater sobre o assunto. Aliado a isso, apresentaremos os prin-
cipais autores da Geografia da População para que você possa também buscar
outros elementos que sejam capazes de responder suas inquietações. Tais autores
clássicos são importantes para que possamos formular nosso próprio conheci-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

mento a respeito da Geografia da População.

O caos - superpopulação: pesquisas indicam que


se o mundo possuísse o mesmo nível de consumo
populacional que os Estados Unidos da América,
de hoje para amanhã necessitaríamos de quatro
planetas e meio, para dar conta de tamanho con-
tingente populacional. Imagine então se, de um dia
para o outro, dobrássemos o número de habitantes
no planeta. Que consequências sociais e ambien-
tais teríamos? Bom, para responder a esse questio-
namento, assista ao documentário realizado pela National Geographic, o
qual simula tal hipótese. É interessantíssimo!

A Distribuição da População Mundial e Seu Crescimento Vertiginoso


28 UNIDADE I

OS ESTUDOS POPULACIONAIS NA GEOGRAFIA

Neste tópico, discutiremos um pouco mais sobre os autores que fundamentaram


os estudos relacionados à Geografia da População. A partir da rápida percepção
da distribuição populacional no mundo, faremos um breve levantamento histó-
rico sobre como a humanidade passou a ter interesse nos estudos relacionados às
populações mundiais, além, é claro, de mostrar alguns autores que foram impor-
tantes para que tivéssemos, por exemplo, uma disciplina nos cursos de Geografia
que trabalhasse com a “População”.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Primeiramente, ao nos reportarmos à Pré-história, quando ainda éramos
povos nômades, podemos atestar que, talvez, tenha sido o momento da primeira
noção a respeito das migrações pelo mundo, ou seja, foram as primeiras vezes
que produzimos informações a respeito de nós mesmos, sobre nossa mobilidade.
Apesar de não termos “compilado” ou mesmo “armazenado” tais indicadores
sobre esse momento, sabemos que, por uma série de fatores, principalmente
oferta de alimento e fatores naturais, os nômades mudavam constantemente de
espaço, através de processos migratórios.
Para Rocha (1998), ao melhorarmos nossas técnicas de agricultura e de cons-
trução, ao nos tornarmos mais sedentários, ainda possuímos dificuldade de nos
mantermos de fato fixados, pois “as nações praticamente não existem, pelo menos
na moderna acepção do termo [...] não há também uma instância jurídica que
assegure o direito de propriedade [...] prevalece a lei do mais forte”, (ROCHA,
1998, p. 18). Ou seja, quase não existia interesse em se analisar e descrever os
processos populacionais vinculados à mobilidade, crescimento demográfico,
migração, entre outros fatores, devido à instabilidade pela qual passavam os ter-
ritórios dos Estados existentes.

A TEORIA DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


29
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

©shutterstock

Durante a Antiguidade e a idade Média, o que vimos foram apenas estudos rela-
cionados às novas descobertas de terras no mundo, sendo pouco ou nada visados
os estudos estatísticos relacionados à população. Nessa época, nem mesmo estu-
dos descritivos, que tanto seriam criticados pela geografia-crítica posteriormente,
eram mencionados. Na Idade Média, a situação a respeito do arcabouço teórico
relacionado à Geografia da População fica ainda mais defasada com o domí-
nio do cristianismo, colocando o mundo em um entrave científico, onde o que
predominava era a palavra da Igreja e não mais a dos cientistas. Nessa época,
tivemos grande regresso nos estudos geográficos, e não apenas para a Geografia
da População. A própria Cartografia sofreu muito com esse período, pois, com
a diminuição das possibilidades de se deslocar, o homem se viu impossibilitado
de “mapear”.
©shutterstock Durante o séc. XVII e, sobre-
tudo XVIII, aparecem os pri-
meiros estudos sobre a relação
existente entre o meio e a so-
ciedade. As reflexões filosófi-
cas, um repensar do mundo e
o triunfo do liberalismo frente
à Igreja, a Revolução Tecnoló-
gica (primeira Revolução In-
dustrial) e a Revolução Social
(Revolução Francesa) marcam
este período com importantes
reflexões sobre a sociedade e a
economia (ROCHA, 1998, p.
18).

Os Estudos Populacionais na Geografia


30 UNIDADE I

Principalmente na França é que vamos ter o surgimento de vários autores que


começam a trabalhar nesse sentido. Podemos citar Kant (1995), que, em sua
obra, tenta sistematizar a geografia em categorias, dando uma ênfase mais qua-
litativa à Geografia, contribuindo na formação da Geografia Humana; e o Barão
de Montesquieu (s/d), o qual foi um dos principais filósofos deste período,
dando abertura para o pensamento Iluminista e racional, sendo um dos primei-
ros a trabalhar com os processos sociais relacionados às populações existentes
nesse período, e considerado de grande relevância para a formação da Geografia
Humana.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 2 - Immanuel Kant, um dos maiores filósofos da era moderna

Contudo, apenas na primeira metade do século XX é que teremos um dos mais


importantes momentos históricos, que vai de fato dar bases para a formação da
Geografia da População. Afinal, para que se concretizassem as teorias a respeito
dos processos sociais e dos processos relacionados à Geografia da População, era
necessário que houvesse um arcabouço de indicadores que pudessem dar bases
a essas teorias. É então, nesse período, que Alemanha e França começam a rea-
lizar os primeiros censos demográficos de suas populações, formando a base de
dados necessária aos estudiosos que possuíam inquietações a respeito dos pro-
cessos sociais que ocorriam com a população mundial.

A TEORIA DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


31

Na França, tivemos grandes autores que, nesta época, já se preocupavam com


o ensino dos métodos geográficos, principalmente no que concerne à Geografia
Humana. Como expoente maior dessa vertente, tivemos Paul Vidal de La Blache,
que com obras como “Géographie Universelle” de 1918 (concluída após sua morte
em colaboração com outros autores), de certa forma, inaugura os estudos populacio-
nais a partir de levantamentos históricos a respeito da distribuição da raça humana
pelo mundo. O que difere seus estudos dos demais é que, em sua análise, o mesmo
observa uma distribuição desigual da população mundial em relação às terras emer-
sas da plataforma continental, tendo relação direta com as questões naturais como
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

clima, vegetação, relevo, além de acrescentar os aspectos sociais e históricos como


parte de sua explicação para essa distribuição desigual da população. Esse tipo de
estudo acaba rompendo com a Geografia mais antiga, na qual tudo se explicava por
base nos aspectos naturais.
Na Alemanha, teremos também grandes autores que trabalharam e contribu-
íram para a formação da Geografia Humana. São nomes como Freidrich Ratzel,
Carl Ritter e Alfred Hettner, que vão nortear os estudos relacionados à Geografia
Humana e os estudos relacionados à Geografia da População. Rocha (1998) lembra
que a obra “Antropogeografia” de Ratzel (1891) é que introduz o elemento humano
nos estudos da Geografia alemã, elemento até então descuidado pela maioria desses
geógrafos. Além da obra de Ratzel, “Antropogeografia” (1891), ainda há a “Geografia
Política” (1897), do mesmo autor; a “Geografia Universal”, de Carl Ritter (1859); e
“A Geografia: sua história, sua natureza e seus métodos”, de Alfred Hettner (1927).
Todas essas obras contribuíram significativamente para as fundamentações básicas da
Geografia da População, ajudado pelos levantamentos demográficos realizados nesses
países, que deram base para estudos quantitativos e principalmente para os estudos
qualitativos que seriam impostos pela Geografia Crítica no final da década de 60.
Mesmo com as bases teóricas sendo formadas, podemos dizer que somente
a partir de 1956, com a chamada “rubrica especial” (ROCHA, 1998, p. 21), que a
Geografia da População aparecerá na bibliografia internacional geográfica, dando
um salto qualitativo e quantitativo nos estudos deste ramo da Geografia. Isso aju-
dou, em muito, a elaboração de novas teorias, pois, afinal, agora a Geografia da
População possuía um arcabouço teórico-metodológico que ajudaria na difusão
do conhecimento.

Os Estudos Populacionais na Geografia


32 UNIDADE I

Um levantamento de Rocha (1998) nos ajuda a perceber bem como tal


momento histórico faz com que a Geografia da População se torne um grande
ramo da Geografia:
Noin (1994) apresenta um apanhado estatístico que de certa forma
ilustra o fluxo das reflexões sobre este ramo da ciência geográfica [...]
Conforme este autor, entre 1910 e 1950 os anais de geografia publica-
ram somente 22 artigos sobre a geografia da população, no caso dos
EUA, cerca de 2% dos artigos até 1946, e no mesmo período, cerca de
3% dos doutorados defendidos, tratavam de algo relativo à geografia da
população. (ROCHA, 1998, p. 21).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A partir do estabelecimento formal da Geografia da População como disciplina
da Geografia é que vamos ter um aumento significativo da produção neste ramo:
A pesquisa neste período aumenta, chegando a representar 10% dos
títulos de geografia geral [...] de 1962 a 1972 a proporção dos artigos
sobre população passa de 5% a 12% nos grandes periódicos da geogra-
fia nos EUA [...] observa-se, também, um importante aumento das pu-
blicações de comunicações que tratam de geografia da população nos
congressos de geografia. (ROCHA, 1998, p. 21)

Rocha (1998) ainda acrescenta que isso se deve “pela abundância de informações,
colocadas à disposição dos geógrafos pelos serviços de estatísticas de diversos
países e pela facilidade relativa de sua exploração” (ROCHA, 1998, p. 21).
Não podemos deixar de ressaltar a importância de um dos principais geó-
grafos modernos que trabalham com o tema: o francês Pierre George.
Este autor, que já foi citado no primeiro tópico dessa unidade, é um dos gran-
des expoentes desse ramo da Geografia. Em suas publicações, sempre ressaltou a
importância do processo histórico/social na compreensão dos fenômenos rela-
cionados às populações espalhadas pelo mundo.
Como já foi dito, em sua obra “Geografia da População”, George (1986)
faz um levantamento histórico minucioso, desde a Pré-história, passando pela
Antiguidade, Revolução Industrial e Revolução Francesa, sempre trabalhando
com hipóteses sobre as condições que mobilizaram os povos a migrarem, cresce-
rem e se concentrarem em determinadas localidades do planeta, nunca deixando
de lado também o aspecto natural do mundo.
Pierre George (1986) busca salientar a importância dos dados estatísticos

A TEORIA DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


33

para os estudos populacionais, porém ressaltando a importância da compreen-


são desses dados, não deixando que caíssem apenas no mérito descritivo, que é
muito criticado pela Geografia Moderna.
No Brasil, também tivemos grandes autores que contribuíram para a disciplina.
Vale lembrar Paul Singer (1980), que durante muitos anos se dedicou à questão
migratória dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos, ressaltando sempre a
diferença existente entre esse processo nesses dois modelos de países. Em seus
estudos no Brasil, ele conseguiu mostrar a intrínseca relação entre êxodo rural,
industrialização e urbanização, que hoje é uma das principais formas de explicação
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

para a urbanização brasileira. Tal forma de pensar, provavelmente, será traba-


lhada por você, aluno(a), quando vier a se dedicar ao Ensino Básico da Geografia.

“Essa criola tem o olho azul


Essa lourinha tem cabelo bombril
Aquela índia tem sotaque do Sul
Essa mulata é da cor do Brasil
A cozinheira tá falando alemão
A princesinha tá falando no pé
A italiana cozinhando o feijão
A americana se encantou com Pelé.”
(Bahiano/ Diego Blanco/ Herbert Vianna).

Expostos os grandes autores da Geografia da População e seu processo histórico


de formação, no próximo tópico você se aproximará mais dos principais conceitos
criados pelo ramo da Demografia e Geografia da População, para a compreensão
dos fenômenos relacionados a esta disciplina. É de suma importância que você,
aluno(a), apreenda este conhecimento, pois, futuramente, ao exercer sua ativi-
dade como professor(a), necessitará saber de tais conceitos, pois muitos deles
explicam uma série de problemas e soluções do nosso cotidiano como cidadão.
Vamos, então, aprender um pouco mais?

Os Estudos Populacionais na Geografia


34 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
OS CONCEITOS RELACIONADOS À GEOGRAFIA DA
POPULAÇÃO

Neste momento, você, aluno(a), já é capaz de interpretar determinados padrões


de concentração populacional ao redor do mundo. Além disso, somos capazes de
compreender como a Geografia da População se tornou importante no âmbito
geográfico como uma ciência capaz de interpretar os indicadores sociais e físi-
cos dos territórios espalhados pelo mundo, transformando dados quantitativos
em dados qualitativos. Agora, iremos nos atentar, basicamente, aos principais
conceitos que são amplamente difundidos nesta ciência, para que, deste modo,
você esteja preparado e apto para o exercício de lecionar tal conteúdo.
Neste tópico, abordaremos os conceitos relacionados à Geografia da População
a fim de uma maior compreensão sobre o que está sendo passado. Basicamente,
iremos usar o conhecimento adquirido nos dois primeiros tópicos desta unidade
para formarmos um próximo conhecimento.
Vimos no primeiro tópico desta unidade que a população mundial teve um
crescimento vertiginoso, principalmente neste último século que se passou. Isso
se deve, principalmente, à passagem de uma civilização nômade para uma civi-
lização sedentária, a partir de inovações técnicas e científicas que colaboraram
para o crescimento de uma série de fatores, tais como melhoria da medicina,
melhoria do saneamento, melhoria na educação, entre outros.
O primeiro conceito a ser abordado refere-se principalmente a esse cresci-
mento, é o chamado Crescimento Vegetativo ou Natural. Antes de explicarmos

A TEORIA DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


35

tal conceito, vale lembrar que o Crescimento Vegetativo ou Natural não é a única
forma pela qual determinada população cresce. Vale lembrar, antes de qualquer
coisa, que existem ao menos duas maneiras do aumento populacional ocorrer:
a primeira ocorre pela diferença entre o número de pessoas que saem do país
(emigrante) e o número de pessoas que entram em um país (imigrante), ou
seja, dependendo dessa diferença teremos aumento ou redução do contingente
populacional (tema que será melhor trabalhado nas unidades seguintes), e a essa
diferença daremos o nome de Imigração; a segunda maneira ocorre pela dife-
rença entre os nascidos (taxa de natalidade) e os mortos (taxa de mortalidade),
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sendo esse o processo que chamamos de Crescimento Vegetativo ou Natural, e


é exatamente esse conceito que trabalharemos agora.
O Crescimento Vegetativo ou Natural é calculado a partir de outros dois con-
ceitos: a Taxa de Natalidade, ou seja, quantos nascidos vivos têm para cada mil
habitantes; e a Taxa de Mortalidade, ou seja, quantos mortos tiveram para cada
mil habitantes. A diferença entre esses dois conceitos nos dará subsídios para
o cálculo do Crescimento Vegetativo de um país. O cálculo é bem simples: pri-
meiro temos que calcular a Taxa de Mortalidade e a Taxa de Natalidade:

Número de mortos x 1000


Taxa de mortalidade:
População absoluta

Número de nascidos vivos x 1000


Taxa de natalidade:
População absoluta

Exemplo: no país “Z” morreram 50 mil pessoas e nasceram 150 mil pessoas num
período de um ano, havendo uma população absoluta de 6 milhões de habitan-
tes. O cálculo fica da seguinte forma:

Os Conceitos Relacionados à Geografia da População


36 UNIDADE I

50.000 x 1.000
Taxa de mortalidade: = 8,33‰
6.000.000

150.000 x 1.000
Taxa de natalidade: = 25‰
6.000.000

Taxa de natalidade - Taxa de Mortalidade


= Crescimento Vegetativo ou Natural

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
25% - 8.33% = 16,67‰

Neste exemplo, vemos que a taxa de Crescimento Vegetativo do país “Z” é de


16,67 habitantes para cada grupo de mil. Desta forma, podemos observar quanto
cada país vem crescendo naturalmente, por isso que este conceito também é cha-
mado de Crescimento Natural.
Se observarmos, veremos que a queda na Taxa de Mortalidade é a responsável

A TAXA DE CRESCIMENTO NO BRASIL VEM CAINDO


Ao observarmos a Sinopse do Censo Demográfico 2010, na qual constam
os dados definitivos do Censo de 2010 divulgada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), veremos que a população brasileira aumentou
em 12,3% desde 2000. No caso, em 2000 havia 169,8 milhões de habitantes
no país, e o número chegou a 190.755.799 em 2010.
Fonte: Economia e emprego (PORTAL BRASIL, 2011, on-line)2.

pelo crescimento vertiginoso da população mundial nas últimas décadas. Com


a passagem do homem nômade para o homem sedentário, tivemos, de certa
forma, uma melhoria na qualidade de vida dos habitantes, culminando assim
na queda da mortalidade infantil e adulta.

A TEORIA DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


37

©shutterstock

Essa queda na taxa de mortalidade ocorreu, primeiramente, nos países desenvol-


vidos, devido às novas técnicas de saneamento básico, distribuição de alimentos,
medicina, entre outros fatores, ocorridos após a chamada Revolução Industrial.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Com a formação dos grandes centros urbanos, em decorrência das indústrias,


houve uma melhoria na qualidade de serviços prestados à população pelo Estado,
além de facilidade e disponibilidade no controle de vacinas, devido ao acúmulo
de pessoas em um pequeno espaço. Isso acabou ajudando em muito o controle
de mortes por doenças, principalmente nos primeiros anos de idade, diminuindo
significativamente a mortalidade infantil.
Como a Revolução Industrial ocorreu essencialmente e de forma maciça na
Europa, podemos observar, hoje, uma maior concentração da população nessas
localidades do mundo. Ou seja, após o desequilíbrio entre a Taxa de Mortalidade
e a Taxa de Natalidade, os países desenvolvidos, mais especialmente os países
europeus, tiveram um crescimento populacional muito acima da média.
Hoje, esses países se encontram numa fase em que a Taxa de Natalidade e
Mortalidade quase que se equiparam, ocasionando uma significativa redução no
Crescimento Vegetativo. Isso é muito típico de países desenvolvidos na atual fase
da economia que vivemos, onde o custo de vida, entre outros fatores, influencia
na forma como as pessoas planejam suas famílias. Porém, esse tema será melhor
trabalhado na próxima unidade.
Vale a pena, neste momento, salientar a diferença existente entre País Populoso
e País Povoado. Sabe-se que a População Absoluta de um país nada mais é que
o total de habitantes que determinado Estado possui. Porém, existem diferen-
ças entre ser Populoso e ser Povoado.
Para compreendermos esses conceitos, primeiro temos que saber o signi-
ficado de Densidade Demográfica. Basicamente, esse conceito diz respeito à
relação existente entre a População Absoluta de um determinado país e sua Área

Os Conceitos Relacionados à Geografia da População


38 UNIDADE I

Territorial. Essa relação nos mostra o quanto de “espaço territorial” existe para
cada um dos habitantes. Vamos ao exemplo. A conta é bem simples:

População Absoluta
Área Territorial

Exemplo: o país “Z” possui uma população total de 6 milhões de habitantes e


uma área territorial de 500 mil km². O cálculo fica da seguinte forma:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
6.000.000
= 12 hab/km²
500.000

Ou seja, a Densidade Demográfica do país “Z” é de 12 habitantes para cada qui-


lômetro quadrado de espaço territorial. Mas então, você, aluno(a), deve estar
se perguntando: qual a relação desse conceito com os conceitos de Povoado e
Populoso?








A TEORIA DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


39

Figura 3 – Densidade Demográfica brasileira


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Fonte: Girardi e Rosa. (2011, p. 17).

É simples: o conceito de Populoso refere-se basicamente ao número absoluto de


habitantes de um país, ou seja, o Brasil, por ter cerca de 200 milhões de habitan-
tes, é o 5º país mais Populoso do mundo; já o conceito de Povoado tem relação
com a Densidade Demográfica de um país, ou seja, é quanto da área territorial
de um país que é ocupada.
Vejamos o exemplo do Brasil e de Cingapura:

Os Conceitos Relacionados à Geografia da População


40 UNIDADE I

Tabela 1 - Densidade Demográfica no Brasil e Cingapura (2014)

DENSIDADE
POPULAÇÃO ÁREA
PAÍS DEMOGRÁFICA (HAB./
ABSOLUTA TERRITORIAL
KM²)
Brasil 205.563.063 8.514.876 24,14
Cingapura 5.399.000 693 7.790
Fonte: adaptado de Tradingeconomics (CINGAPURA, on-line) . 3

Vemos que em População Absoluta e Área Territorial o Brasil é imensamente


maior que Cingapura, porém a relação da População Absoluta com a Área

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Territorial nos torna um país um tanto “menos ocupado”. Ou seja, o Brasil é mais
Populoso que Cingapura, porém Cingapura é mais Povoado que o Brasil. Isso se
deve, basicamente, ao fato de Cingapura ter uma maior Densidade Demográfica.
A origem dessa diferença na Densidade Demográfica está na Área Territorial
de Cingapura, que é imensamente menor que a do Brasil, sendo totalmente ocu-
pada pelos seus pouco mais de 4 milhões de habitantes. Como sabemos, o Brasil
ainda possui grandes vazios demográficos, como a própria Região Norte, que
possui uma Densidade Demográfica de 4,1 hab./km², enquanto a Região Sudeste
possui Densidade Demográfica de 86,9 hab./km². Sendo assim, o Brasil não é
um país muito povoado, contudo é o 5º país mais populoso do mundo, devido
à distribuição irregular da população brasileira em seu território. Observem a
tabela abaixo que nos mostra exatamente essa irregularidade.

Tabela 2 - Densidade Demográfica das Grandes Regiões Brasileiras

DENSIDADE PORCENTAGEM
REGIÃO POPULAÇÃO ÁREA (KM²) DEMOGRÁFICA DA POPULAÇÃO
(HAB./KM²) BRASILEIRA
Norte 18.013.834 3.853.327 4,67 8,76
Nordeste 55.794.694 1.554.257 35,89 27,14
Sudeste 85.965.579 924.511 92,98 41,80
Sul 29.795.762 576.409 51,69 14,49
Centro-Oeste 15.993.194 1.606.371 9,95 7,78
Brasil 205.563.063 8.514.876 24,14 100
Fonte: IBGE (2013, on-line)4.

A TEORIA DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


41

Veja que a distribuição da população não segue exatamente o espaço geográfico


e natural disponível. A Região Norte, apesar de ser a maior em Área Territorial,
é a região menos ocupada do Brasil. Isso se deve aos fatores já expostos no pri-
meiro tópico desta unidade: os Aspectos Sociais, Históricos e Naturais.

Figura 4 - Crescimento Demográfico dos Estados do Brasil em 2010


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Fonte: Girardi e Rosa (2011, p. 37).

Os Aspectos Sociais e Históricos, devido à concentração de indústrias na Região


Sudeste e Sul, culminaram na concentração populacional ocasionada pela oferta
de emprego em décadas passadas. E os Aspectos Físicos, devido à dificuldade que
o homem tem de ocupar uma Região que é densamente ocupada pela Floresta
Equatorial da Amazônia, limitaram a migração populacional para a Região Norte.

Os Conceitos Relacionados à Geografia da População


42 UNIDADE I

Lembre-se sempre: o Brasil é um país populoso, mas pouco povoado.

Vemos que, apesar do número absoluto da população brasileira ser alto, ainda
possuímos uma distribuição irregular dessa população no solo brasileiro, con-
tudo este processo é um tema para as próximas unidades.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Ainda sobre os principais assuntos, abordaremos o conceito criado para
que fosse possível mensurar, de certa forma, a qualidade de vida das populações
mundiais: o chamado “Índice de Desenvolvimento Humano” (IDH), que foi um
índice criado pela ONU (ONU BRASIL, on-line)5, o qual varia entre 0 e 1 (para
melhor compreendermos, o cálculo realizado pela ONU terá sempre o resultado
entre 0 até 1. Desta forma, quanto mais próximo do 1 o resultado obtido pelo
país, melhor será sua qualidade de vida). A ideia inicial na elaboração desse con-
ceito era que o mesmo pudesse mensurar o que o Produto Interno Bruto (PIB)
não podia: medir a qualidade de vida da população dos países.
Enquanto o PIB nos demonstra a dimensão econômica que cada um dos paí-
ses tem, ou seja, denota toda a produção interna bruta de um território, o IDH
tenta nos demonstrar o quanto a população desses países tem acesso a serviços
básicos fornecidos pelo Estado. O IDH é calculado com base em três indicadores,
resultando assim numa noção do quanto a população pode ou não se desenvol-
ver plenamente. São esses três indicadores:
■■ PIB per capita
■■ Expectativa de vida
■■ Escolarização

A partir desses indicadores, é possível que tenhamos uma ideia do quanto deter-
minada sociedade é desenvolvida ou não no que diz respeito ao bem-estar social.
Na ponta inversa, o PIB nos mostra o quanto determinado Estado é desenvol-
vido economicamente.

A TEORIA DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


43

Contudo, não devemos confundir o IDH com “felicidade”. Na verdade, o bem-es-


tar da população e sua própria “felicidade” partem essencialmente do casamento
entre esses dois elementos: o PIB e o IDH. Assim, ter alto desenvolvimento social
e uma saúde econômica positiva pode significar que determinado território é
desenvolvido.
Poderíamos, aqui, nos prendermos apenas a falar sobre os conceitos que
envolvem os estudos populacionais. Contudo, temos muito que aprender, ainda,
neste módulo. Desta forma, vamos nos atentar a apenas um último ponto, para
que assim tenhamos esclarecido os principais conceitos que serão utilizados por
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

você quando professor(a). Esse conceito é o de Expectativa de Vida.


Primeiramente, não devemos confundir a Expectativa de Vida com Idade
Média de Vida da População. A Idade Média de Vida da População é uma média
aritmética das idades das pessoas que morreram em determinado país, incluindo
assim mortes por assassinato, acidente, ou seja, mortes antes mesmo que qual-
quer enfermidade por conta da idade avançada. Expectativa de Vida não inclui
tais indicadores, restringindo-se apenas a um cálculo que leva em conta acesso
à alimentação, saneamento básico e saúde pública, demonstrando o quanto a
população de determinado país pode viver em condições normais de vida.
Agora que você já tem bases conceituais dos estudos populacionais, na pró-
xima unidade iremos nos aproximar mais das Teorias Demográficas criadas para
a compreensão da evolução das populações mundiais. Agora, some tudo que
você aprendeu nesta unidade I, desde a distribuição da população até os prin-
cipais conceitos, passando pelos principais autores da Geografia da População,
e leia atentamente a próxima unidade, pois agora você possui as bases para sua
compreensão.

Os Conceitos Relacionados à Geografia da População


44

Figura 5 - Índice de Desenvolvimento Humano nos Países do mundo todo


UNIDADE
I

A TEORIA DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


Fonte: Girardi e Rosa (2011, p. 138).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
45

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir deste ponto, caro(a) aluno(a), você já possui a base para compreender o
que se seguirá nas próximas unidades. Desta forma, aprendemos nesta unidade
a origem dos estudos populacionais, bem como os contextos que determinados
autores viviam e que, consequentemente, trouxeram como contribuição para a
ciência dos estudos populacionais.
Além disso, foi possível nos aproximarmos mais das origens e consequências
da distribuição mundial da população, apontando os fatores naturais e sociais
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

que fazem com que a população mundial busque, em grande maioria, as regi-
ões temperadas do Planeta Terra. Fatores Naturais no sentido de mostrar como
clima, vegetação, relevo, disponibilidade de água, entre outros fatores, influem
diretamente na forma como o homem ocupou o mundo. Fatores Sociais no
sentido de mostrar que, com o advento do capitalismo, grandes massas popu-
lacionais se locomoveram no espaço em busca de melhores oportunidades de
ganhos, ou seja, pessoas migraram no intuito de conseguir melhores oportuni-
dades de emprego. Aliado a isso, também foi possível observar como existe uma
forte influência da questão econômica na distribuição da população mundial. Ou
seja, no geral, existe maior concentração de pessoas em regiões onde as oportu-
nidades de emprego são maiores.
Por fim, nesta unidade fizemos uma introdução dos principais conceitos que
norteiam as discussões a respeito da Geografia da População, através do levanta-
mento histórico e conceitual de cada uma das categorias que tal ciência abarca.
Agora, você, aluno(a), de fato entrará no âmbito conceitual da Geografia da
População, pois, a partir desse momento, você já possui bases para a compreen-
são dos fenômenos estudados pelas ciências populacionais. Fique atento(a) às
próximas unidades e, se for o caso, revise para que não surjam dúvidas sobre a
compreensão do conteúdo.

Considerações Finais
46

1. A respeito da distribuição da população mundial nas terras emersas do Planeta


Terra, explique a relação entre os Aspectos Sociais/Históricos e os Aspectos Naturais
e essa distribuição irregular do homem na Terra.

2. Na idade antiga praticamente não produzimos um grande arcabouço de informa-


ções sobre a distribuição e migração dos povos no Planeta Terra. O que sabemos é
que o interesse pelos estudos populacionais surge à medida que o homem passa
de um ser nômade para um ser sedentário. Compare a relação entre essa transição
e o interesse pela sistematização de informações a respeito dos povos distribuídos
pelo mundo.

3. Sobre o conceito de Expectativa de Vida, diferencie este conceito e o conceito de


Idade Média de Vida da População.

4. Sabemos que um dos indicadores mais confiáveis para se analisar a qualidade de


vida de uma população é o Índice de Desenvolvimento Humano. Esse índice nos
mostra o quanto determinada população tem a possibilidade de ter acesso aos in-
sumos básicos para sobrevivência e exercício da cidadania. Esse índice é calculado
através de algumas variáveis, dentre elas:
a) Número de empregos, chances no mercado de trabalho e qualidade na educação.
b) Expectativa de Vida, escolarização e PIB per capita.
c) PIB, acesso à renda e qualidade educacional.
d) Mortalidade infantil, acesso à tecnologia e PIB per capita.
e) Crescimento vegetativo, mortalidade infantil e escolarização.
47

5. É sabido que a população mundial cresceu vertiginosamente desde a Idade Anti-


ga. Dados apontam para uma dobra no número populacional com intervalos cada
vez menores de anos. As estimativas também apontam para um futuro próximo, no
qual a população mundial ainda deve crescer. Sabendo disso, assinale a alternativa
que apresenta, com maior precisão, as principais causas desse chamado crescimen-
to vertiginoso:
a) Melhora na distribuição de bens e serviços, na medicina e a inovação técnico-
-cientifica-informacional.
b) Pobreza extrema identificada em alguns países, o que gera um aumento conside-
rável no número de filhos.
c) Acesso maior a produtos de base sustentável, o que melhorou em muito a quali-
dade dos produtos e, consequentemente, o modo de viver.
d) Formação de Estados-Nações, que puderam, através de impostos pagos, reverter
em qualidade de vida de suas populações.
e) Aumento das classes mais favorecidas, culminado por uma maior distribuição da
renda produzida pelos países.
48

GEOGRAFIA HUMANA E GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO: PONTOS DE


TENSIONAMENTO E APROFUNDAMENTO NA CIÊNCIA GEOGRÁFICA
A população é objeto de investigação de várias ciências, entre elas a Geografia, por
ser um campo de investigação amplo, comumente o que vemos são estudos ligados à
população serem dissolvidos entre várias ciências, e subdivididos em áreas, onde cada
uma atribui à sua análise aquilo que lhe é peculiar. Outro aspecto característico ao se
pensar na população e sua concepção ao longo da história humana diz respeito ao em-
prego dos números, que historicamente, pode-se dizer, virou uma obsessão. O mundo
ocidental se configurou até o fim do século XIX como um misto de ideias e opiniões,
ora defendidas pelos representantes da Igreja, ora por filósofos, ora por políticos que
discutiam a respeito da dinâmica populacional. Uns defendendo o aumento da popu-
lação, outros com receio das consequências deste aumento, sem saber se seguiam os
preceitos religiosos ou as questões de ordem racional. Neste contexto, o crescimento da
população era visto quase que ao mesmo tempo como bênção e como castigo. A ideia
de população, seja ela em crescimento ou em decrescimento, foi por muitos séculos
tema de grande controversa, em especial por estar associada à noção de sobrevivência
da espécie humana.
A propositura deste trabalho é proporcionar e quiçá estimular o debate sobre como a
Geografia aborda os estudos populacionais, especialmente no que diz respeito à Geo-
grafia Humana e à Geografia da População. Para realizar este estudo, as contribuições
de Deffontaines, Lebon, La Blache, Brunhes e Foucault, entre outros, foram importantes.
Vale salientar que as obras desses autores propiciaram a discussão acerca da Geografia
Humana e dos assuntos afetos à população. Ao tratar sobre a Geografia da População,
foram importantes as contribuições de Ratzel, Trewartha, George, Levasseur, Zelinsky,
entre outros, que ofereceram especial atenção à questão da Geografia da População,
desenvolvendo trabalhos de alcance internacional.
Desta forma, buscou-se, por meio das fontes de pesquisas consultadas, trazer à tona o
debate sobre os estudos de população no âmbito da ciência geográfica, para isto foi
realizado um breve levantamento teórico para eleger os autores que auxiliariam no en-
tendimento da proposta, e por meio de uma leitura “interesseira” das obras e textos se-
lecionados encontrar manifestações na Geografia dos assuntos atinentes à população,
o que significa dizer que se buscou pela Geografia Humana e pela Geografia da Popu-
lação entender como a população foi sendo tratada pela ciência geográfica, e com isto
acenar como poderia ou deveria ser os estudos populacionais pelo viés geográfico. A
população é um temário rico, no qual a ciência geográfica tem muito a contribuir, tanto
para o fortalecimento como para a difusão dos estudos populacionais por meio de uma
abordagem crítica e contextualizada.

Fonte: Mormul (2013, p. 34).


MATERIAL COMPLEMENTAR

Geografia da População
Jacqueline Beaujeu-Garnier
Editora: Ed. Nacional, 1974
Sinopse: Neste livro, a célebre autora francesa
Beaujeu-Garnier dedica vários de seus capítulos para
trabalhar com as migrações internacionais, por meio
de uma série de dados estatísticos apresentados por
ela. Trabalhando com o tema da pobreza, a autora
tenta justificar a maior parte das imigrações através da
busca por oportunidades, e pelo descontentamento
das populações mundiais para com suas economias, trabalhando com vários conceitos, tais como:
nomadismo, seminomadismo, transumância e migração de temporada. Vale a pena conferir essa
grande obra da Geografia.

População e Geografia
Amélia Luísa Damiani
Editora: Zahar, 1999
Sinopse: A fome e a miséria de parte substancial
da população humana faz renascer, de forma clara
ou disfarçada, de tempos em tempos, o espectro
de teorias malthusianas. Aqui, há os que acham que
dificultando ou mesmo impedindo a reprodução dos
miseráveis, apenas os ricos e bem-nascidos habitariam
o planeta. Trabalhando com ideias como superpopulação absoluta (de Malthus), superpopulação
relativa (de Marx), a obra retoma e recupera a questão populacional no interior da chamada Geografia
Clássica. Leitura para geógrafos, demógrafos e estudiosos de temas populacionais.

Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR

Geografia da População
Pierre George
Editora: Difel, 6ª Edição, 1991
Sinopse: Neste livro, Pierre George nos mostra um
mapa da distribuição da população mundial no
território do Planeta Terra. Por meio de levantamentos
históricos, tenta dar sentido para a maior parte das
grandes migrações ocorridas na sociedade humana.
Uma excelente obra, que nos dará uma noção de como
aspectos sociais, históricos e naturais moldaram a ocupação da raça humana e sua dominação do
mundo.

Central do Brasil
Dora (Fernanda Montenegro) trabalha escrevendo cartas
para analfabetos na estação Central do Brasil, Rio de Janeiro.
A escrivã ajuda um menino (Vinícius de Oliveira), após sua
mãe ser atropelada, a tentar encontrar o pai que nunca
conheceu, no interior do Nordeste.

Este site contém conteúdos sobre Geografia Crítica, Geografia Política e diversos artigos e textos
sobre o tema.
Em: <http://www.geocritica.com.br/geocritica.htm>.
51
REFERÊNCIAS

BEAUJEU-GARNIER, J. Geografia de população. São Paulo: Ed. Nacional, 1974.


BLANCHE, P. V. de la; RECLUS, Elisée; et. al. Géographie Universelle. Paris: Hachette,
1918.
DAMIANI, A. L. População e Geografia. São Paulo: Contexto, 2008.
GEORGE, P. Geografia da População. 7 ed. São Paulo: Difusão Editorial S.A., 1986
GIRARDI, G.; ROSA, J. V. Atlas Geográfico do Estudante. 1 ed. São Paulo: FTD, 2011.
HETTNER, A. Die Geographie, ihre Geschichte, ihr Wesen, ihre Methoden. Breslau:
Hirt. 1927.
KANT, E. Physische Geographie, apud Unwin, T. El lugar de la Geografia. Madrid,
Cátedra, 1995.
MORMUL, N. M. Geografia Humana e Geografia da População: Pontos de Tensio-
namento e Aprofundamento na Ciência Geográfica. Caderno de Geografia, Belo
Horizonte-MG, v. 23, n. 40, p. 33-47, 2013.
RAMÃO, F. de S. A Geografia de Pierre George e a Questão Ambiental: Considerações
Iniciais. Revista Continentes, Rio de Janeiro, ano 02, n. 03, p. 31-51, 2013.
RATZEL, F. Antropogeographie, Die Geographie Verbreitung des Menschen (Zwei-
ter Teil). Stuttgart: J. Engelhorn, 1891.
______. Géographie Politique. Paris: Economica, 1897.
RITTER, K. Comparative geography. Tradução William L. Gage. Filadélfia: J. B. Li-
ppincott & CO, 1865.
ROCHA, M. M. A Espacialidade das Mobilidades Humanas – Um Olhar para o Nor-
te Central Paranaense. 1998. 186 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Departamento
de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade
Estadual de São Paulo (USP), São Paulo, 1998.
SINGER, P. Aprender Economia. São Paulo: Círculo do livro. 1980.
REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS ON-LINE

1 Em: <http://www.unfpa.org.br/swop2014/link/cap2.pdf>. Acesso em: 02 de abr.


de 2016.
2 Em: <http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2011/10/crescimento-po-
pulacional-do-brasil-e-o-menor-ja-registrado>. Acesso em: 21 de jun. de 2016.
3 Em: <http://pt.tradingeconomics.com/singapore/population>. Acesso em: 21 de
jun. de 2016.
4 Em: <http://www.ibge.gov.br/home/default.php>. Acesso em: 03 de fev. de 2016.
5 Em: <https://nacoesunidas.org/.> Acesso em: 03 de mar. de 2016.
53
GABARITO

1 – A população irá espalhar-se pelo mundo de acordo com as condições sociais e


ambientais. Os Aspectos Sociais que interferem nessa distribuição são guerras, ma-
zelas, mas principalmente a questão econômica e a busca por condições melhores
de vida. Assim, regiões que proporcionam isso serão mais densamente povoadas.
Os Aspectos naturais interferem através do relevo acidentado, climas extremos, ca-
tástrofes naturais, entre outros fatores que repulsam ou atraem população.

2 – A partir do momento em que o homem se torna sedentário, passa a manter


maiores relações. Dessa forma, cria-se a vida em sociedade, onde regras, direitos e
deveres devem ser cumpridos. Com o aumento da sociedade, surge a necessidade
de se conhecer melhor que população é essa, ou seja, que sociedade formou-se,
quais suas demandas, quais suas vantagens, entre outros fatores que são necessá-
rios para a melhoria na qualidade de vida das pessoas. Assim, podemos concluir que
a vontade de sistematizar dados a respeito das populações surge com a formação
da vida em sociedade, que antes não era necessária devido à constante mudança
de ambiente.

3 – A Idade Média de Vida da população é calculada a partir de uma média aritmé-


tica de tempo de idade de todos os habitantes, portanto, mensura apenas quanto é
a média de idade em determinado território. Expectativa de Vida é um conceito que
leva em conta outros fatores, como acesso à medicina, qualidade na alimentação,
acesso à educação e acesso à renda. Assim, é possível mensurar quanto determina-
do habitante de uma região poderá viver em média, caso não sofra nenhum tipo de
acidente ou sofra de algum tipo de doença mortal. Ou seja, a Idade Média de Vida
da População considera acidentes e enfermidades que podem levar determinadas
pessoas a óbito, enquanto a Expectativa de Vida leva em conta as chances de viver
sem que nada inesperado ocorra e leve à morte.

4 – B.

5 – A.
Professor Me. Hugo Santana Casteletto

II
AS TEORIAS RELACIONADAS

UNIDADE
À GEOGRAFIA DA
POPULAÇÃO

Objetivos de Aprendizagem
■■ Identificar, aplicando a realidade, as principais Teorias Demográficas.
■■ Apontar as principais características da Teoria Malthusiana.
■■ Apontar as principais diferenças entre a Teoria Neomalthusiana
e a Teoria Reformista, bem como contextualizar o período de
desenvolvimento das mesmas.
■■ Identificar as principais fases que compõem a Teoria da Transição
Demográfica.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Teorias Demográficas
■■ Teoria Malthusiana
■■ Teoria Neomalthusiana
■■ Teoria Reformista
■■ Teoria da Transição Demográfica
57

INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) aluno(a)! Estamos começando mais uma unidade na qual iremos
estudar temas importantes para o conhecimento de teorias que se desenvolve-
ram durante a história. Nestes estudos, teremos como foco as principais teorias
demográficas surgidas no âmbito histórico das ciências que trabalham com a
questão da população. A partir de um levantamento histórico e científico, foram
preparadas quatro explicações sobre as teorias, consideradas as mais importan-
tes que já surgiram na demografia.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Estudaremos, por exemplo, sobre as características das diferentes Teorias


Demográficas, como a Teoria Malthusiana, que é a proposta de solução, pois
pela primeira vez se falou no conceito de Planejamento Familiar; a Teoria
Neomalthusiana, que surgiu no período pós Segunda Guerra Mundial (1945);
a Teoria Reformista, que foi uma resposta dos pensadores dos países sub-
desenvolvidos frente às conclusões muitas vezes preconceituosas de autores
norte-americanos e europeus; e a Teoria da Transição Demográfica, que é o con-
ceito mais aceito hoje na Geografia Mundial.
Além disso, muitas dessas teorias serão trabalhadas por você, aluno(a),
quando vier a lecionar como professor(a) da Educação Básica, pois elas expli-
cam boa parte dos acontecimentos populacionais e da distribuição mundial.
Portanto, esta unidade é de suma importância para a compreensão dos mais
diversos fenômenos históricos e atuais de movimentos populacionais, sejam eles
verticais ou horizontais.
Deste modo, fique atento(a) a todas as explicações e peculiaridades de cada
teoria, para que fique claro a você, aluno(a), como surgiu cada fase.
Primeiramente faremos uma breve explanação a respeito do que seriam as
teorias demográficas para que, então, nos próximos tópicos seja possível expli-
car com mais calma cada uma das principais teorias que surgiram na Geografia
da População. Bom estudo!

Introdução
58 UNIDADE II

TEORIAS DEMOGRÁFICAS

Como vimos na Unidade I deste livro, ao longo da história cientistas e pesqui-


sadores que abordavam e procuravam entender as relações existentes entre o
crescimento populacional e o desenvolvimento econômico buscaram sintetizar
esse conhecimento em teorias. Dentre as muitas que surgiram, algumas “con-
quistaram” os ideais de muitos geógrafos, demógrafos e cientistas sociais devido
à complexidade pelas quais tais autores se baseavam.
Dentre as muitas teorias que surgiram ao longo da história, podemos aqui

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
citar as principais: Teoria Malthusiana; Teoria Neomalthusiana; Teoria Reformista;
e Teoria da Transição Demográfica.
Com exceção da Teoria Neomalthusiana e a Reformista, que foram elaboradas
no mesmo período histórico, as demais foram elaboradas em contextos diferentes
no qual foi possível ao longo de décadas observar as mudanças no crescimento
da população de determinados países e, porque não, relacionar tais aconteci-
mentos com a questão do desenvolvimento econômico. A Teoria Malthusiana e
a Teoria da Transição Demográfica foram originadas em contextos totalmente
opostos, sendo que a primeira data do final do século XVIII e a segunda com
surgimento em 1929, disseminando-se no contexto atual da Geografia Mundial.
A essas teorias damos o nome de Teorias Demográficas, e vamos estudá-las
na unidade II. Em princípio, iremos abordar rapidamente a teoria mais “antiga”,
criada por Thomas Malthus. Vamos nessa?!

AS TEORIAS RELACIONADAS À GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


59

©shutterstock

TEORIA MALTHUSIANA

Caro(a) aluno(a), você já deve ter lido ou até mesmo ouvido falar sobre essa
teoria. Muito difundida no meio acadêmico e social do século XIX, tornou-se
uma das poucas explicações para a condição de subdesenvolvimento de deter-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

minados países neste contexto. Tanto que hoje, principalmente em disciplinas


curriculares do Ensino Básico, nós, como alunos e professores, iremos de alguma
maneira abordá-la, devido à sua importância histórica. Sua teoria veio a ser tão
difundida que, alguns anos após sua morte, Thomas Malthus passou a ser cha-
mado de “pai da demografia”.
Thomas Malthus nasceu em 1766 em uma família rica formada por proprie-
tários de grandes fazendas no Reino Unido. Formado em Economia pela Jesus
College em Cambridge, Thomas Malthus propôs suas ideias sobre a relação do
desenvolvimento econômico com o crescimento populacional logo após ser con-
sagrado pastor da Igreja Anglicana, em 1797.
Assim, baseado em estudos e, principalmente, baseado nas crenças religio-
sas em relação à castidade, o então escritor e já professor da instituição em que
havia se formado publica por volta de 1798 o Primeiro Ensaio a respeito de como
o crescimento populacional exagerado podia ser responsável pela péssima con-
dição econômica de alguns países.
Segundo seus estudos, a população mundial cresce em Progressão Geométrica,
ou seja, a cada certo período de tempo a população dobraria (2, 4, 8, 16, 32, 64, e
assim por diante, como vimos na unidade I). Já a produção de alimentos cresceria
nesse mesmo período de tempo, em ritmo muito menos acelerado, ou seja, cres-
ceria em Progressão Aritmética. Assim, enquanto em um dado ciclo de tempo a
população iria dobrar, a produção de alimentos apenas iria manter-se no padrão
de produção (2, 4, 6, 8, 10, 12, e assim por diante), causando um colapso mundial
por falta de alimento para todas as nações. Em tese, ao fim de, por exemplo, 200
anos, a população teria crescido 30 vezes a mais do que a produção de alimentos.

Teoria Malthusiana
60 UNIDADE II

Como conclusão de seus estudos, Malthus propôs uma única solução para
tal problema: a “sujeição moral”.
A ideia de “sujeição moral” trata de como a população deveria se comportar
em relação à sexualidade. Para Malthus, a população deveria ter uma “postura”
de abstinência voluntária, ou seja, deveria se privar dos seus desejos sexuais
no intuito de diminuir a natalidade exagerada e assim, por fim, a Progressão
Geométrica do crescimento populacional.
Segundo ele, essa era a causa de muitos países estarem em condições precá-
rias. Isso resultaria em fome e guerras. Na época, a teoria foi amplamente aceita,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
devido ao contexto histórico de uma sociedade altamente segregada, onde os ricos
possuíam muito mais conhecimento e acesso aos bens e serviços de qualidade.
Contudo, nos dias atuais tal teoria tornou-se totalmente ultrapassada, devido,
principalmente, a dois fatores: a modernização da agricultura e a dinamização
econômica advinda da Globalização.

Crescimento populacional gera pobreza; ou a pobreza gera crescimento po-


pulacional?

A modernização agrícola permitiu a superprodução de alimentos, o que, de certa


forma, compensou o crescimento populacional, garantindo alimentos em grande
escala. A dinamização econômica advinda da Globalização permitiu que paí-
ses subdesenvolvidos recebessem investimentos externos advindos das grandes
potências, o que garantiu a uma parcela da população subdesenvolvida acesso
a diversos bens e serviços que, em tese, não seriam possíveis, segundo Malthus.
Porém, a importância de sua teoria no contexto histórico dos estudos popu-
lacionais permitiu o desenvolvimento de outras teorias que fossem capazes de
explicar o que não foi explicado por Malthus, e até mesmo contrariar muitas de
suas explicações, o que garantiu, nos anos que se passaram, um aumento na pro-
dução cientifica demográfica.

AS TEORIAS RELACIONADAS À GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


61

Agora que você já possui conhecimento sobre uma


das principais teorias demográficas elaboradas na
história dessa ciência e após você ter assistido ao
documentário sugerido na unidade I, faremos uma
nova pergunta: e se, ao invés de dobrarmos nossa
população, a população humana se extinguisse? E
se de um dia para o outros não houvesse mais hu-
manos? Para responder a esses questionamentos,
assista ao interessante documentário sobre como
seria o “Mundo Sem Ninguém”.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A seguir, iremos compreender como a teoria de Thomas Malthus ajudou na elabo-


ração da Teoria Neomalthusiana e na antagônica a essa: a Teoria Reformista, em
um contexto de pós Segunda Guerra Mundial e início de Guerra Fria. Acompanhe!

TEORIA NEOMALTHUSIANA

A Teoria Neomalthusiana surge, basicamente, no período pós Segunda Guerra


Mundial (1945), em um momento histórico caracterizado pelo aumento ver-
tiginoso da população mundial (como já foi visto na unidade I). Assim, o
desenvolvimento da medicina, aumento populacional no espaço urbano, melho-
ria na qualidade e distribuição de alimentos, melhoria no saneamento básico,
entre outros fatores, favoreceram o aumento da expectativa de vida e, conse-
quentemente, o aumento da população mundial.
O problema é que, para alguns autores radicados em países desenvolvidos,
esse aumento populacional poderia culminar no que Malthus já havia previsto
por volta do final do século XVIII e início do século XIX: a falta de alimento para
todos. Esse entendimento sobre a demografia mundial se agravou ainda mais
quando ecologistas adotaram tal teoria e passaram a considerar que os recursos

Teoria Neomalthusiana
62 UNIDADE II

naturais também estariam em risco devido ao aumento populacional.


Nesse período, podemos dizer que tivemos uma retomada do que Thomas
Malthus havia escrito em 1798. Mendonça (2011) lembra que esses pensamen-
tos neomalthusianos:
[...] tomaram um grande impulso logo depois da Segunda Guerra
Mundial, por meio da publicação, em 1948, do livro “O Caminho da
Sobrevivência”, de autoria do ecologista e ornitólogo norte-americano
William Vogt. (MENDONÇA, 2011, p. 4).

A essa nova vertente deu-se o nome de Neomalthusianismo. A intenção dos auto-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
res neomalthusianos era controlar o crescimento demográfico acelerado, bem
ilustrado por Vogt, defensor da ecologia, que aponta em passagens de seu texto
que se combatessem “medidas sanitárias que pudessem amenizar os sofrimen-
tos de grandes contingentes humanos” (MENDONÇA, 2011, p. 6). A justificativa
era de que o aumento da população mundial poderia destruir todos os recursos
naturais, o que comprometeria o fornecimento de recursos naturais básicos para
se manter o que ele chamou de “padrão de vida americano”. (VOGT, 1951, p. 62).
Assim, para o neomalthusianismo os grandes centros superpovoados poderiam
gerar grandes centros de subdesenvolvimento, pois em teoria, a “responsabilidade”
por um Estado ser pobre é inteiramente do grande crescimento populacional.
Por volta de 1950 já se tinha uma noção de métodos contraceptivos eficazes
para o controle populacional, contudo esse era um ponto que ia à contramão do
que pregava Thomas Malthus, pois, como pastor da igreja anglicana, Malthus
pregava a castidade do homem e sua consciência de que um dia era possível que
a produção alimentar não pudesse atender a todos no mundo. Já os neomalthu-
sianos defendiam o controle populacional através dos métodos contraceptivos,
o que na verdade era visto com maus olhos pela Igreja, pois segundo os dogmas
não se deveria pensar em “sexo” sem a “bênção” do casamento.
Contudo, como já vivíamos em tempos modernos, a Teoria Neomalthusina
passou a ser amplamente aceita nos países cujo grau de desenvolvimento eco-
nômico e populacional era alto. Dessa forma, podemos concluir que autores
que reproduziam essa teoria basicamente culpavam os países de terceiro mundo
pelas mazelas mundiais, devido à falta de controle de natalidade que tínhamos
em muitos deles.

AS TEORIAS RELACIONADAS À GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


63

©shutterstock

É nesse contexto que surgiria a ideia de Planejamento Familiar. Planejar-se antes


da reprodução veio salientar ainda mais as necessidades de respostas dos autores
vinculados a essa teoria. Mas, como já foi dito, tal ideia contrariava os princí-
pios religiosos, causando certo “problema de aceitação” por vários segmentos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

da sociedade.

O que é Planejamento familiar?


O Planejamento Familiar é uma medida prevista na Constituição Federal e
também na Lei n.º 9.263/96, procurando orientar e garantir que as famílias
possuam o número de filhos desejados. Nas palavras de Patrícia Albuquer-
que, “além de prevenir a gravidez não planejada, as gestações de alto risco
e a promoção de maior intervalo entre os partos, o planejamento familiar
proporciona maior qualidade de vida ao casal, que tem somente o número
de filhos que planejou”. (Patrícia Albuquerque, enfermeira obstetra do setor
de Planejamento Familiar da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP).
Fonte: Planejamento Familiar (PORTAL BRASIL, 2011, on-line)1.

Vários órgãos mundiais, como ONU (Organização das Nações Unidas), Banco
Mundial, FMI (Fundo Monetário Internacional), entre outros, promoveram
medidas de controle de natalidade em países subdesenvolvidos. Estes órgãos
investiram em esterilização das populações menos favorecidas (como ocorreu
na Índia); popularização de métodos anticoncepcionais, como pílulas, camisi-
nhas e dispositivos intrauterinos (DIU); publicidade em torno do planejamento
familiar e divulgação do que seria a “família ideal”. Em suma, para os neomal-
thusianos, quanto maior o controle populacional, maior a chance de um país

Teoria Neomalthusiana
64 UNIDADE II

ficar menos populoso, o que garantiria menos habitantes e, por consequência,


um PIB per capita maior.
Assim, segundo Paiva e Wajnman (2005):
Logo após a Segunda Guerra Mundial, o debate circunscrevia-se em
duas linhas de pensamento que se contrapunham. De um lado esta-
vam os chamados pessimistas, que, seguindo a tradição malthusiana,
entendiam que a população crescia muito rapidamente em relação aos
recursos disponíveis e, em consequência, tornava-se, no longo prazo,
um impedimento ao crescimento econômico. De outro lado estavam
os otimistas, que acreditavam que o crescimento populacional, ao con-

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trario, estimularia o consumo e ofereceria a mão de obra necessária ao
crescimento econômico. (PAIVA e WAJNMAN, 2005, p. 305).

Em sua maioria, os autores defensores da Teoria Neomalthusiana eram ori-


ginários de países desenvolvidos. Para eles, a grave crise econômica pela qual
passavam os países da África e América Latina estava intrinsicamente ligada ao
grande crescimento populacional nesse período. E, claro, houve grande reação
da comunidade acadêmica dos países subdesenvolvidos, criticando incisiva-
mente as conclusões dos estudos que se baseavam em Malthus.
É nesse momento que irá surgir uma teoria contrária ao neomalthusianismo,
ou seja, uma resposta dos pensadores dos países subdesenvolvidos frente às con-
clusões muitas vezes preconceituosas de autores norte-americanos e europeus.
Tal teoria veio a ser denominada Teoria Reformista, e basicamente busca uma
explicação reversa ao que foi proposto nos países desenvolvidos.
É nessa teoria que vamos nos aprofundar no próximo tópico. Vamos nessa?!

AS TEORIAS RELACIONADAS À GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


65

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TEORIA REFORMISTA

Ao longo do período pós Segunda Guerra Mundial, desenvolve-se uma série de


teorias que tentam explicar a condição humana e demográfica pelo planeta. Como
vimos, as teorias Malthusiana e Neomalthusiana basicamente retratam a visão
que os países desenvolvidos possuem das condições sociais dos países de terceiro
mundo, acarretando e responsabilizando o crescimento vertiginoso populacio-
nal como a principal causa da pobreza e do uso incessante de recursos naturais.
Foi neste contexto que a Teoria Reformista se difundiu pelo mundo. Uma
teoria contrária, surgida nas academias de territórios subdesenvolvidos, que
veio para explicar a pobreza, refutando tudo que Thomas Malthus e seus segui-
dores pregavam.
Para os reformistas, a principal afirmação de Malthus de que a superpopu-
lação é causa da pobreza deveria ser negada, pois não aponta as reais condições
encontradas nos territórios subdesenvolvidos. Na verdade, para esses autores a
pobreza e a falta de acesso aos insumos básicos que uma população necessita é
que geraria condições favoráveis para um crescimento vertiginoso da popula-
ção, ou seja, uma visão totalmente contraria à de Malthus.
Basicamente, a pobreza e a falta de acesso à educação, saúde, saneamento
básico, renda, falta de políticas de conscientização, entre outros fatores é que dão
condições para que a população se reproduza. Ou seja, a falta de conhecimento
sobre determinados assuntos de planejamento é que acarreta a reprodução des-
controlada das famílias.

Teoria Reformista
66 UNIDADE II

Vejamos como era o Brasil nesse período. Muitos de nós possuímos pais e
avós que possuem cinco ou até seis irmãos. Isso se deve a um período em que nos-
sos ancestrais não tinham informações a respeito de métodos anticoncepcionais,
acesso à educação, à saúde, em sua maioria vivendo em sítios ou fazendas, onde
dificilmente tais informações chegavam. Nos dias de hoje, se olharmos, fica quase
que impensável um casal ter cinco ou seis filhos, devido ao nosso conhecimento
adquirido durante anos a respeito do planejamento familiar e principalmente
das dificuldades financeiras que sabemos que temos em criar uma criança no
espaço urbano atual. Ou seja, houve uma diminuição da reprodução brasileira

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na medida em que obtivemos maior conhecimento sobre nossos corpos, sobre
a medicina, sobre a economia mundial e a respeito dos nossos direitos de acesso
a saneamento básico e saúde.

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Para os reformistas, a pobreza é causada pela má distribuição de renda no mundo,


causa e consequência da exploração econômica dos países desenvolvidos sobre
os países subdesenvolvidos. Assim, em um mundo onde quem domina as rela-
ções econômicas mundiais são os países de primeiro mundo, teremos sempre
a exploração econômica desses países sobre os que possuem menor poder nas
relações internacionais. Desta forma, criamos uma escala econômica dos paí-
ses, onde existem países mais ricos e países mais pobres.
Os países mais pobres, por sua vez, por essencialmente possuírem menor
renda, com certeza possuíram menores valores na distribuição de renda de sua
população. Com uma menor renda per capita, essa população acaba não tendo
acesso pleno aos seus direitos como saúde, educação, saneamento básico, entre

AS TEORIAS RELACIONADAS À GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


67

outros fatores, dentre eles a falta de acesso a um planejamento familiar adequado.


Como consequências, haveria menos pessoas conscientes de que a reprodução
exagerada é um problema para a própria questão financeira da família.

A Teoria Reformista também é chamada de Teoria Marxista, pois no período


pós Segunda Guerra Mundial vimos o surgimento da chamada Guerra Fria,
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que nada mais era que um embate político acerca de qual modo de produ-
ção seria o melhor (Capitalismo X Socialismo). Nessa época, muitas econo-
mias subdesenvolvidas apoiaram os pensamentos de Karl Marx, devido à
sua proximidade maior com as classes mais pobres. É nesse contexto que a
Teoria Reformista vai ganhar força entre os países latinos e africanos. Daí o
motivo dessa teoria também ser denominada Teoria Marxista.
Fonte: Teorias Demográficas (GEOGRAFIA OPINATIVA, on-line)2.

Josué de Castro, geógrafo brasileiro nascido em 1908, que já era muito conhecido
pelo mundo no período de 1930-1973, vendo que grande parte dos autores nor-
te-americanos tendia a aceitar as ideias de Malthus, buscou contrapor tal teoria
no intuito de explicar as reais condições pelas quais a pobreza e a fome existiam
em países considerados subdesenvolvidos. Assim, em 1949, Castro publica a
primeira edição de seu livro intitulado “Geopolítica da Fome”, que veio atacar
as ideias Malthusianas a respeito da pobreza e da superpopulação nos países
subdesenvolvidos. O próprio Castro, segundo Mendonça (2011), ataca direta-
mente William Vogt, chamando-o de “porta-bandeira do neomalthusianismo”.
(CASTRO, 1957, p. 67).
Iniciando sua obra com uma dura crítica a Malthus, Josué de Castro não se
limita a censurar apenas as ideias Malthusianas, mas também as novas ideias base-
adas em textos de Malthus, chamadas nesse período de neomalthusianas. Em um
dos trechos do livro, Castro (1957) ressalta como Vogt (1951) foi tendencioso ao
manusear seus dados e como o autor não se preocupa em se aprofundar em suas
análises, invertendo assim os dados científicos, valendo-se dos pensamentos de

Teoria Reformista
68 UNIDADE II

Malthus para provar algo que nem ele mesmo sabia se realmente era verdade:
Quando trata, por exemplo, dos problemas da América Latina, Vogt
afirma que a existência da fome nesta área resulta do seu superpovoa-
mento [...] A América Latina tem uma densidade demográfica das mais
baixas do mundo, só ultrapassada em sua raleza pela África e a Austrá-
lia. (CASTRO, 1957, p. 128-129).

Castro (1957) ainda acrescenta que nem os próprios conterrâneos de Vogt con-
cordavam plenamente com suas teorias, citando Kingsley Davis e sua opinião a
respeito dos vazios demográficos na América Latina:

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O demografista Kingsley Davis, quem afirma com toda a sua indiscu-
tível autoridade de especialista que a América Latina, sob o ponto de
vista demográfico, constitui uma das regiões privilegiadas do mundo,
dispondo de grandes potenciais em reserva, para a futura expansão de
suas populações. (CASTRO, 1957, p. 128-129).

Talvez as ideias de Malthus, por serem reproduções dos países desenvolvidos,


expliquem tamanha dificuldade em sintetizar determinado problema. O próprio
Vogt (1951) em sua teoria procura ressaltar que a superpopulação poderia agra-
var o uso incessante de recursos naturais, e, como os países subdesenvolvidos
eram riquíssimos em tais elementos, Vogt (1951) chega a propor a eliminação
dos pobres, claro, como justificativa para manter o “padrão de vida norte-ameri-
cano”, uma vez que o esgotamento dos recursos naturais poderia significar uma
mudança nesse padrão de vida.
Quando o povo aumentava, ultrapassando a capacidade da terra que
devia alimentá-lo, raramente havia outra saída senão a morte. A Grécia
antiga constitui exceção. A sabedoria do seu povo encontrou uma ex-
pressão que é raramente comentada; conscientes da ameaça constante
de excesso de população, reduziam propositadamente tal perigo por
meio da prostituição, do infanticídio, da emigração e da colonização.
Para muitos, é repugnante a ética de algumas dessas medidas, prefe-
ririam a miséria e a morte pela fome, em massa. Na maior parte do
mundo civilizado, o povo apenas morre por falta de alimento. (VOGT,
1951, p. 78).

Castro (1957) ainda é mais incisivo em suas críticas, ao lembrar que o neomal-
thusianismo faz nada mais que culpar os “famintos” pela sua própria condição de
vida, não atribuindo ao colonialismo e à exploração dos países desenvolvidos sobre

AS TEORIAS RELACIONADAS À GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


69

os países subdesenvolvidos a condição de pobreza. Pior, o neomalthusianismo,


segundo Castro (1957), acaba criminalizando os “famintos” pela diminuição dos
recursos naturais e econômicos mundiais, e, como criminosos:
[...] merecem um castigo exemplar e, por isto, os neomalthusianos os
condenam ao extermínio, individualmente, levando-os a morrer de
inanição, e coletivamente, controlando os nascidos, até que desapareça
do mundo a raça dos famintos-natos. (CASTRO, 1957, p. 66-67).

Para os reformistas, a falta de investimento principalmente na educação dos jovens,


que no geral são a maioria nos países subdesenvolvidos, cria um contingente
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populacional de baixas condições técnicas, ou seja, gera déficits de mão de obra


qualificada. Dessa forma, é muito difícil termos maiores salários no mercado de
trabalho, acarretando a essas populações um nível de renda muito baixo. Aliado
a isso temos a falta de acesso a informações sobre métodos contraceptivos, o que
aumenta o número populacional consideravelmente. Dessa forma, a falta de acesso
à renda e ao conhecimento cria um cenário em que surge o superpovoamento.
Como prova disso podemos analisar dados de países subdesenvolvidos que
vêm crescendo. É constatado que, quanto maior o nível escolar das mulheres,
menor é o número de filhos que vão formar a família. Aliado à escolaridade
temos o aumento salarial dessas mulheres, o que acarreta uma diminuição na
mortalidade infantil e, consequentemente, aumento do acesso dessas mulhe-
res aos serviços de saúde e saneamento básico. Assim, em tese, a população
diminuiria. Portanto, a superpopulação não é causa da pobreza, mas sim uma
consequência da mesma.
Como solução para esse problema, os reformistas defendem a implantação
de políticas públicas eficazes no combate às
mazelas sociais, criando assim um ambiente
educacional propício para uma maior distri-
buição de renda e uma maior conscientização
da população a respeito do planejamento de
suas famílias. Só assim o problema da pobreza
no mundo seria solucionado, e por consequ-
ência o problema do superpovoamento.

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Teoria Reformista
70 UNIDADE II

Realmente existe essa relação: “crescimento populacional gera pobreza; ou


pobreza gera crescimento populacional”? Não seria essa relação apenas
uma fase da economia dos países?

Entendidas as primeiras três teorias demográficas, partiremos agora para uma


última teoria a respeito da demografia no mundo. Na verdade, é a teoria mais
aceita nos dias atuais, pois trabalha com base no desenvolvimento industrial,
econômico e social de determinada sociedade, atrelando o crescimento econô-

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mico à diminuição da reprodução humana. Vamos em frente!









AS TEORIAS RELACIONADAS À GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


71

TEORIA DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA

A Teoria da Transição Demográfica é o conceito mais aceito hoje na Geografia


Mundial. A ideia parte do princípio do desenvolvimento da sociedade mundial.
Ela é muito bem explicada em uma passagem do Dicionário do Pensamento Social
do Século XX, editado por William Outhwaite e Tom Bottomore em 1996, com
a contribuição de vários autores, na qual é tratado o conceito de demografia.
Segundo consta no Dicionário do Pensamento Social do Século XX (1996),
em sociedades mais antigas, mais tradicionais, onde ainda tínhamos dificul-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

dade de acesso a tecnologias e outros implementos, a mortalidade era alta e a


fertilidade também. Em sociedades mais modernas, onde ocorreu o processo de
industrialização e aperfeiçoamento do mercado de trabalho, temos sociedades
com fertilidade e mortalidade baixa. Entre o processo de modernização do tra-
dicional para o industrial é que vamos encontrar o que chamamos de Transição
Demográfica.
Originalmente, essa teoria foi elaborada pelo demógrafo norte-americano
Warren Thompson por volta de 1929. A Teoria elaborada por Thompson acabou
se tornando a mais influente nos dias atuais, devido à constatação de determina-
dos fatos elencados pelo autor, tais como a queda na fecundidade e mortalidade
a partir do desenvolvimento da modernização dos países.
Basicamente, o autor descreve como o crescimento populacional está rela-
cionado diretamente com a questão do acesso aos bens e serviços básicos, tais
como renda e educação. Em tese, podemos dividir essa teoria em quatro fases,
passando-se depois a cogitar-se a hipótese de uma quinta. São essas as fases que
você irá conhecer.
Observe o Gráfico 1, o qual demonstra o modelo da transição demográfica.
Podemos observar que cada fase nos mostra como se comporta a demografia
de um país na medida em que se moderniza, não levando em conta problemas
sociais como guerras e problemas ambientais como tsunamis que podem cau-
sar grandes fluxos migratórios.

Teoria da Transição Demográfica


72 UNIDADE II

Gráfico 1 - Modelo de Transição Demográfica


Modelo de Transição Demográfica
50

40
Taxa por mil habitantes

30

20

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
10

-10 Fase 1:
Fase 2: Fase 3: Fase 4: Fase 5:
- Natalidade e - Natalidade alta e - Natalidade cai e - Natalidade cai e - Níveis de
Mortalidade Mortalidade Mortalidade Mortalidade baixa. Mortalidade
alto. caindo. baixa. - Crescimento acima da
- Crescimento - Crescimento - Crescimento populacional Natalidade.
populacional populacional começa a cair. estabiliza. - Crescimento
baixo. cresce. - Alto nível de
- Aumento no populacional
- Baixo nível de - Aumento do nível instrução.
nível de instrução. negativo.
instrução. de instrução. - Período
- Período - Alto níve de
- Baixa indus- - Período de indus- moderno.
trialização. industrial. instrução e
trialização. - Alto acesso a
- Baixo acesso a - Cresce o acesso custo de vida.
- Cresce o acesso a bens e serviços
bens e serviços a bens e serviços
bens e serviços básicos.
básicos. básicos.
básicos.
Natalidade
Mortalidade
Crescimento Demográfico

Fonte: o autor.

Na primeira fase podemos observar ainda uma sociedade basicamente rural,


onde a ocupação dos espaços urbanos ainda se mantém em níveis muito bai-
xos. Nesse período ainda pré-industrial, as relações comerciais e econômicas são
muito pequenas, e a ausência do Estado em diversas partes do território torna
difícil o acesso a bens e serviços básicos, como saúde, educação e segurança.
Nas palavras de Plá (2013), doutor em economia pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul:

AS TEORIAS RELACIONADAS À GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


73

[...] em particular, as taxas de mortalidade são elevadas e muito flu-


tuantes, motivadas por epidemias e catástrofes naturais incontroláveis
[...] para compensar a elevada mortalidade, há também elevada natali-
dade. (PLÁ, 2013, p. 66).

Assim, o próprio autor ainda conclui que sociedades que ainda estão nesse
período são sociedades em que viver no espaço urbano ainda nos torna mais
vulneráveis quanto à mortalidade, mais até que o próprio espaço rural, pois a
não existência de uma estrutura urbana básica nos torna parte do grupo de risco
de doenças graves e mortais.
Nessa fase, devido às altas taxas de natalidade e mortalidade, temos um cres-
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cimento natural ou vegetativo muito baixo. Mas claramente podemos dizer que o
alto número de crianças nascidas acaba compensando, de uma forma ou outra, o
número de adultos mortos, apesar da expectativa de vida nessa fase não ser alta.
Essa característica ainda é muito comum em países essencialmente agrários, cujo
desenvolvimento urbano e industrial ainda está longe de atingir todos os cam-
pos da sociedade, caracterizando assim uma população muito jovem, formada
em sua maioria por crianças e adolescentes. A seguir temos um modelo etário da
primeira fase, para que possamos ilustrar como seria caracterizada a população
nesse período (Gráfico 2). Vale lembrar que esse é apenas um modelo elaborado
pelo autor, não condizendo com a verdadeira realidade. Qualquer semelhança
com a realidade não é intencional.

Teoria da Transição Demográfica


74 UNIDADE II

Gráfico 2 - Modelo Etário da Primeira Fase da Transição Demográfica

Modelo Etário da Primeira Fase

90
80
70
60
Idade

50
40 Idade Mulheres (%)

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
30 Idade Homens (%)

20
10
0 5 10 15 20 25 30 35
Porcentagem

Fonte: o autor.

Na segunda fase da Transição Demográfica, o Estado inicia seu processo de indus-


trialização. Nesse período, o importante no sucesso econômico é a proximidade
e a facilidade de escoamento da produção. Para isso é imprescindível uma força
de trabalho numerosa. Porém, para que seja possível a atração desse contingente
de mão de obra, é necessário que as cidades se tornem um lugar agradável de
morar. Para isso são feitos investimento em infraestrutura básica, como rede
de esgoto e água encanada. Além disso, há um investimento na transmissão de
energia elétrica, rede de transporte eficaz, sistema de saúde e controle de epide-
mias, e principalmente segurança aos que vierem formar essa força de trabalho.
É nesse momento que a expectativa de vida da sociedade urbana se eleva. De
forma contrária, as taxas de mortalidade caem, contudo as taxas de natalidade
ainda se mantêm em parâmetros altíssimos, causando um rápido crescimento
demográfico. Assim, podemos dizer que esse período é um momento onde a
maior parte da população será formada por jovens, em detrimento da alta nata-
lidade acompanhada da melhora na qualidade de vida. Esse grande crescimento
vegetativo, principalmente na base da pirâmide etária, garantirá, num futuro pró-
ximo, alta porcentagem de pessoas integrando a População Economicamente

AS TEORIAS RELACIONADAS À GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


75

Ativa (PEA) do país, o que significa que numa próxima etapa o número de tra-
balhadores irá subir bruscamente, garantindo a força de trabalho necessária
para o desenvolvimento da economia. A isso damos o nome de “bônus demo-
gráfico”, pois é o momento do desenvolvimento da força de trabalho dos países.
A seguir temos um modelo etário da segunda fase, para que possamos ilustrar
como seria caracterizada a população nesse período (Gráfico 3). Vale lembrar
que esse é apenas um modelo elaborado pelo autor, não condizendo com a ver-
dadeira realidade. Qualquer semelhança com a realidade não é intencional.
Gráfico 3 - Modelo Etário da Segunda Fase da Transição Demográfica
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Modelo Etário da Segunda Fase

90
80
70
60
50
Idade

40 Idade Mulheres (%)

30 Idade Homens (%)

20
10
0 5 10 15 20 25 30 35
Porcentagem

Fonte: o autor.

A terceira fase da Transição Demográfica é um momento muito delicado para a


economia de um país e principalmente para a constituição familiar da população.
Nesse período, a urbanização está tão acentuada que a demanda por moradias
torna-se algo muito rentável para os proprietários dos meios fundiários. Com a
demanda maior por espaço urbano, o custo de vida nos grandes centros torna-
-se algo um tanto quanto insustentável. Além disso, as moradias ficam cada vez
mais longe dos centros de trabalho, o que aumenta o custo do transporte diário
para o trabalhador, além do aumento do tempo de deslocamento.

Teoria da Transição Demográfica


76 UNIDADE II

O que é PEA?
População Economicamente Ativa ou PEA é um termo criado para designar
a parcela da população que está no mercado de trabalho ou está procuran-
do se inserir. Ou seja, é o termo utilizado para especificar parte da população
que está contribuindo para a economia nacional. O PEA é constituído de
diversas formas em diferentes países. No Brasil, podem ser incluídas no PEA
pessoas entres 10 e 60 anos, o que de certa forma atrapalha o serviço do
instituto. Por exemplo, até o começo da década de 2000 os limites iniciais
da idade do PEA eram totalmente diferentes. No caso, o Censo Demográfico
e a PNAD consideravam o limite inferior de 10 anos. Ao contrário, na PME, o

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limite inferior era de 15 anos. Em geral, nos países desenvolvidos, considera-
-se 15 anos como o limite inferior do PEA.
Fonte: o autor, baseado em População Economicamente Ativa por Sexo
(PORTAL BRASILEIRO DE DADOS ABERTOS, on-line)3.

Plá (2013) lembra que “a expansão da oferta de mão de obra, por sua vez, deter-
mina que os salários permaneçam baixos.” (PLÁ, 2013, p. 66). Como consequência,
haverá uma rápida diminuição no número de filhos por família, devido ao alto
custo que cada um demanda para os pais. E isso ocorre de forma espontânea,
devido ao alto custo de aluguel, transporte e saúde que o espaço urbano irá
demandar de cada família.
É nesse momento também que grande parte do contingente feminino começa
a integrar o grupo da População Economicamente Ativa (PEA), pois se faz neces-
sário que a mulher busque outras fontes de renda para, de uma forma ou de
outra, contribuir nas despesas familiares. Dessa forma:
[...] as donas de casa sentem a necessidade de buscar um trabalho re-
munerado para complementar o salário do chefe do lar, que normal-
mente é insuficiente, o que colide com a dedicação exigida pela função
materna. (PLÁ, 2013, p.66).

Tem-se então uma queda brusca na natalidade, apesar de a mortalidade ainda


manter-se em níveis bem baixos. Nesse momento o crescimento vegetativo tam-
bém acompanha o ritmo da taxa de natalidade e despenca. Assim, teremos uma
grande porcentagem de população adulta, não se caracterizando mais o “bônus
demográfico”, que é o período entre o final da segunda fase e o começo da terceira.

AS TEORIAS RELACIONADAS À GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


77

A seguir, temos um modelo etário da terceira fase, para que possamos ilustrar
como seria caracterizada a população nesse período (Gráfico 4). Vale lembrar
que esse é apenas um modelo elaborado pelo autor, não condizendo com a ver-
dadeira realidade. Qualquer semelhança com a realidade não é intencional.
Gráfico 4 - Modelo Etário da Terceira Fase da Transição Demográfica
Modelo Etário da Terceira Fase

90
80
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

70
60
50
Idade

40 Idade Mulheres (%)

30 Idade Homens (%)

20
10
0 5 10 15 20 25 30 35
Porcentagem
Fonte: o autor.

A quarta fase seria o momento em que as taxas de natalidade e mortalidade


estabilizam novamente, diminuindo consideravelmente o crescimento vegeta-
tivo da população, devido aos fatores econômicos que envolvem o custo de vida
no espaço urbano. Contudo, ao contrário do que ocorre na primeira fase, nesse
momento as taxas de natalidade e mortalidade ficam muito abaixo do que vimos
na sociedade pré-industrial, apesar do crescimento vegetativo se manter em parâ-
metros muito parecidos nessas duas fases. O problema é que:
[...] a longo prazo haveria uma mudança na estrutura etária da popu-
lação, já que os estratos mais numerosos correspondem progressiva-
mente a coortes (conjunto de pessoas que possuem um evento e um
período em comum) de maior idade. (PLÁ, 2013, p. 66).

Assim, com uma população mais velha, consequentemente teremos uma diminui-
ção acentuada do PEA, caracterizando de certa forma uma redução na força de
trabalho. Podemos inferir, portanto, que esse é um período crítico da Transição

Teoria da Transição Demográfica


78 UNIDADE II

Demográfica em alguns países, pois o envelhecimento da população significa


maiores gastos com a previdência, sem que haja uma reposição considerável por
parte do PEA nos cofres da União.
Esse período já é enfrentado por parte dos países desenvolvidos, criando
um ambiente de insegurança a respeito do futuro da produção econômica em
seus territórios. Porém, ainda precisamos de mais alguns anos para poder inferir
algo mais aprofundado a respeito das consequências do envelhecimento popu-
lacional. Para Plá (2013):
Mais tarde, haveria uma elevação do número de indivíduos que ultra-

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passam a idade de trabalhar, originando a expansão da proporção da
população que necessita da ajuda da sociedade para atender suas ne-
cessidades. É a elevação da taxa de dependência, que coloca um desafio
para a administração dos sistemas de previdências. (PLÁ, 2013, p. 66).

A seguir temos um modelo etário da quarta fase, para que possamos ilustrar
como seria caracterizada a população nesse período (Gráfico 5). Vale lembrar
que esse é apenas um modelo elaborado pelo autor, não condizendo com a ver-
dadeira realidade. Qualquer semelhança com a realidade não é intencional.
Gráfico 5 - Modelo Etário da Quarta Fase da Transição Demográfica

Modelo Etário da Quarta Fase

90
80
70
60
50
Idade

40 Idade Mulheres (%)

30 Idade Homens (%)

20
10
0 5 10 15 20 25 30 35
Porcentagem

Fonte: o autor.

AS TEORIAS RELACIONADAS À GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


79

O modelo criado por Thompson (1929), que caracteriza a Transição Demográfica,


não apontava para uma quinta fase. Originalmente, sua teoria apenas apontava
quatro fases do crescimento populacional. Contudo, já é aceita hoje na Academia
uma quinta fase, ou seja, um momento em que o alto custo de vida no espaço
urbano faça com que as famílias procurem cada vez mais controlar o número
de filhos. Dessa forma, é previsível até mesmo a superação da taxa de mortali-
dade sobre a taxa de natalidade, muito devido ao alto grau de população idosa.
Como consequência, haveria uma queda no número absoluto da população
desses países, além de implicar numa redução drástica do número de pessoas
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participantes do PEA. Governos da Alemanha, Itália e França já trabalham


com essa possibilidade, o que agravaria muito o sistema econômico desses paí-
ses, além de criar um déficit nas contas da previdência. Nessa fase, a pirâmide
etária ficaria mais próxima de um retângulo, dando sobrepeso às classes etárias
mais velhas. Contudo, como já foi explicado, essa fase da Transição Demográfica
ainda não chegou a nenhum país, apesar do receio de muitos países desenvol-
vidos acerca do assunto.
A seguir temos um modelo etário da quinta fase, para que possamos ilustrar
como seria caracterizada a população nesse período (Gráfico 6). Vale lembrar
que esse é apenas um modelo elaborado pelo autor, não condizendo com a ver-
dadeira realidade. Qualquer semelhança com a realidade não é intencional.








Teoria da Transição Demográfica


80 UNIDADE II

Gráfico 6 – Modelo Etário da Quinta Fase da Transição Demográfica

Modelo etário da Quinta Fase


90
80
70
60
50
Idade

40 Idade Mulheres (%)


30
Idade Homens (%)

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
20
10
0 5 10 15 20 25 30 35
Porcentagem (%)

Fonte: o autor.

Muitos autores defendem a tese de que o aumento nos insumos básicos forneci-
dos à população foram fatores primordiais na queda do crescimento vegetativo.
Assim, para esses geógrafos a industrialização e a urbanização foram os princi-
pais motivos para o controle da natalidade.
Contudo, atualmente, alguns autores defendem que tais aspectos não podem
ser aplicados a todas as sociedades, pois alguns países da Ásia haviam diminu-
ído suas taxas de fecundidade sem apresentarem aparente melhoria na condição
socioeconômica de suas populações. Daí tais autores buscarem explicação nos
fatores culturais, como as relações familiares de parentesco, análises de casamen-
tos e divórcios, entre outros.
O fato é que as Teorias Demográficas vêm se modificando ao longo dos anos,
principalmente pelo desenvolvimento das sociedades atuais, que, mais que um
modelo, nos parece um organismo vivo que está em constante evolução. Agora
que você conhece as principais Teorias Demográficas, já é capaz de fazer análi-
ses mais aprofundadas acerca da evolução da população. A seguir, temos uma
atividade de estudo que irá ajudá-lo(a) na fixação do conteúdo.

AS TEORIAS RELACIONADAS À GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


81

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos nesta unidade que existem diferentes formas de se analisar a condição


populacional mundial. Vimos que, de acordo com o contexto histórico pelo qual
determinados autores estavam expostos, existiram diferentes formas de se ana-
lisar o crescimento e distribuição populacional mundial.
Fato é que existem mais teorias a serem vistas, pois, como já foi dito, as ciên-
cias que trabalham com o tema são muito dinâmicas, portanto esse tema é algo
que está em constante mudança. Porém, outro fato é que, essencialmente você,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

quando vir a trabalhar como professor(a), ao menos deverá ter conhecimento


prévio acerca das quatro teorias apresentadas nesta unidade.
Isso se faz necessário, devido aos conteúdos exigidos em vestibulares e exa-
mes nacionais, que, no geral, trabalham com o tema, ainda mais se falando hoje
de um assunto tão importante como a imigração mundial.
Por isso, lembre-se que, dentre todas essas teorias, a mais aceita no âmbito
geográfico nos dias de hoje é a chamada Teoria da Transição Demográfica, pois
é através dela que conseguimos nos nortear a respeito do futuro populacional
de determinados países. Contudo, é importante mais uma vez destacarmos que
isso não “fere” a contribuição que outras teorias trouxeram para nosso conheci-
mento acerca dos movimentos populacionais. Aliás, tais teorias foram o grande
“pontapé” para que fôssemos em busca do real motivo de determinadas popu-
lações crescerem ou não.
Para isso, é necessário que você, aluno(a), se atente às próximas unidades,
lembrando do conhecimento adquirido nas duas primeiras, para que sua leitura
flua com maior facilidade. Assim, você verá que todas as unidades se conec-
tam nesse livro, preparado especialmente numa sequência lógica, na qual você
poderá, a qualquer momento, rever os conteúdos.

Considerações Finais
82

1. A respeito da Teoria Demográfica de Malthus, explique qual sua principal caracte-


rística, contextualizando com o período social no qual vivia Thomas Malthus.

2. Sobre a Teoria Neomalthusiana, sabemos que foi formulada em um período de


pós Segunda Guerra Mundial. Nessa fase, alguns autores simpatizantes de Thomas
Malthus publicaram trabalhos onde os ideais de Malthus eram resgatados. Contudo,
ela foi chamada de Neomalthusiana pelo fato de possuir algumas diferenças com
relação à Teoria de Malthus. Explique como surgiu a Teoria Neomalthusiana e qual
sua diferença com relação aos pensamentos de Malthus.

3. No mesmo período em que foi elaborada a Teoria Neomalthusiana, alguns auto-


res radicados em países subdesenvolvidos logo criticaram as ideias baseadas nos
ideais de Malthus. Para isso, elaboraram a Teoria Reformista ou Marxista. Explique o
que é essa teoria e por que ela é considerada uma teoria antagônica à Teoria Neo-
malthusiana.

4. Na Teoria da Transição Demográfica, dividimos o crescimento vegetativo das


populações mundiais em cinco fases. Na chamada transição demográfica entre a
segunda e terceira fase, vimos que o país passa por um processo de Bônus Demo-
gráfico. Considerando isso, avalie as asserções abaixo:
É um período em que o número de pessoas na faixa etária de trabalho é maior.
PORQUE
A taxa da mortalidade fica em patamares altíssimos devido ao baixo investimento
em infraestrutura.
a) As duas asserções são proposições verdadeiras e a segunda é uma justificativa
correta da primeira.
b) As duas asserções são proposições verdadeiras e a segunda não é uma justifica-
tiva correta da primeira.
c) A primeira asserção é uma proposição verdadeira e a segunda é uma proposição
falsa.
d) A primeira asserção é uma proposição falsa e a segunda é uma proposição ver-
dadeira.
e) As duas asserções são proposições falsas.
83

5. Segundo a Teoria Demográfica Malthusiana, a população mundial cresceria em


Progressão Geométrica, enquanto a produção de alimentos cresceria em Progressão
Aritmética. A partir de tais análises, essa teoria propõe que:
a) A produção de alimentos seria, num futuro próximo, suficiente para a população
mundial. Assim, teríamos uma evolução econômica mundial.
b) A população mundial seria próxima ao que é produzido de alimentos. Assim, é
provável que, no futuro próximo, haja mais alimento do que população.
c) A produção de alimentos não seria suficiente para a população mundial. Assim,
no futuro próximo, não teríamos alimentos suficientes para todos.
d) A produção de alimentos seria muito superior ao da população mundial, caracte-
rizando uma superprodução que baratearia o custo dos produtos.
e) A produção mundial de alimento ajudaria na diminuição da população mundial,
devido ao alto custo dos produtos e, consequentemente, o alto custo de se ter filhos.
84

TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA NO BRASIL: UMA AGENDA PRA PESQUISA

A teoria tradicional da transição demográfica apresenta, como ponto de partida, três


postulados centrais. O primeiro deles consiste no princípio da precedência no tempo da
queda da mortalidade. Segundo este postulado, a transição demográfica se inicia com a
redução da mortalidade, em função de conquistas associadas ao progresso técnico, tais
como melhoria dos sistemas de saneamento (especialmente nas cidades) e o combate
a doenças transmissíveis. A alta mortalidade, especialmente a infantil, seria, portanto, o
maior estímulo à manutenção das elevadas taxas de fecundidade no período pré-transi-
cional. O segundo postulado seria o da transição reprodutiva, a qual ocorreria em duas
fases. Em primeira instância, o retardamento dos casamentos e, posteriormente, o con-
trole da fecundidade por parte das pessoas que vivem em união. Assim, as taxas brutas
de mortalidade e de fecundidade passariam a decrescer em valores assintóticos uma em
relação à outra, a partir de um dado momento no tempo, em que a fecundidade iniciaria
a sua queda. Vale dizer, também, que a fecundidade seguiria caindo a partir do ponto
em que a mortalidade atingiria um certo equilíbrio, deixando de cair ou caindo a taxas
mais brandas. O terceiro postulado seria dado pelas influências do crescimento econô-
mico moderno, no sentido atribuído por Simon Kuznetz, que destaca a importância dos
mercados na mobilidade e na dinâmica do crescimento populacional. Neste ponto, a
expansão do comércio mundial e a dinâmica da urbanização e da modernização agríco-
la, expulsando mão de obra do campo para a cidade, teriam tido efeitos no sentido de
incrementar o processo de queda da fecundidade.
Um estudo recentemente elaborado por Chesnais (1986) revela que a experiência his-
tórica de muitos países permite encontrar lacunas nesse processo, principalmente rela-
cionadas:
a) à noção de equilíbrio pré e pós-transicional. Muitas das experiências históricas mos-
tram momentos em que a fecundidade flutua antes e depois do período de transição
demográfica, destoando da natureza do processo correntemente descrito como padrão.
Na análise de experiências históricas, altera-se, também, a variável tempo. Os eventos
associados à transição demográfica ocorrem, no tempo, com densidades distintas,
quando são considerados os diferentes processos de transição demográfica, em nível
mundial;
b) ao caráter de população preponderantemente fechada como quadro de referência.
O modelo tradicional de transição demográfica não leva em conta as influências que a
migração de contingentes populacionais, com características socioculturais distintas e
padrões reprodutivos diferenciados, podem exercer no retardamento ou aceleração do
processo de transição demográfica;
c) à ênfase no componente “mortalidade” como fator “ativo” na dinâmica da transição e
à pouca atenção dada à influência que reciprocamente é exercida entre variáveis demo-
85

gráficas e econômicas. Se a queda da mortalidade tem sido analisada como decorrência


do crescimento econômico e social, pode-se dizer, analogamente, que a queda da mor-
talidade também tem sido um importante fator impulsionador do crescimento econô-
mico. Estas influências recíprocas podem ser observadas, nos países subdesenvolvidos
e em desenvolvimento, ao longo do período 1950-1980. Como a queda da mortalidade
está altamente associada ao combate de grandes endemias, pode-se dizer que ela ocor-
re conjuntamente com uma etapa da transição epidemiológica, que é mais favorável ao
aumento da produtividade do trabalho.

Fonte: Medici e Beltrão (1995, p. 200-201).


MATERIAL COMPLEMENTAR

Ensaio Sobre a População


Ernane Galvês
Editora: Nova Cultura, 1996
Sinopse: Neste livro, o autor resgata toda a história
bibliográfica de um dos maiores livros do gênero.
Através de uma síntese bem clara, busca retratar
a obra de Thomas Malthus, considerado o “Pai da
Demografia”, mostrando a intrínseca relação entre
sua teoria e a economia do período em que Malthus
elabora sua tese. Um excelente livro onde podemos
nos aprofundar mais na Teoria Malthusiana.

Demografia e Desenvolvimento: Elementos


Básicos
Adelino Torres
Editora: Gradiva, 1995
Sinopse: Um excelente livro para nos aprofundarmos
mais nos conceitos relacionados à Demografia. Muitas
vezes, nos valemos de conceitos, porém sem saber os
reais significados. Neste livro você terá um arcabouço
conceitual sobre o tema, com linguagem simples. Ótimo livro para tirar aquela dúvida sobre
determinado conceito.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Introdução à Demografia
Catherine Rollet
Editora: Porto Editora, 2007
Sinopse: Apresenta as principais fontes da
demografia, os indicadores de base e os modos
de representação mais correntes aplicados aos
fenômenos demográficos. Sublinhando a transição
demográfica como processo comum a todos os
países, revela no horizonte uma nova repartição da
população no espaço e uma modificação sensível
da pirâmide etária.

Inverno demográfico: o declínio da


família humana
O documentário “Inverno demográfico: o
declínio da família humana” expõe as severas
consequências econômicas e sociais da
fragilização da família e da queda da taxa de
natalidade em todo o mundo. No “Inverno
demográfico”, acadêmicos de várias áreas
apresentam o contexto econômico, social,
demográfico e histórico do declínio da
população e o impacto que as famílias têm na
resiliência e na estabilidade da sociedade.

Material Complementar
89
REFERÊNCIAS

CASTRO, J. de. Geografia da Fome. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1949.


______. Geopolítica da Fome. São Paulo: Brasiliense, 1957.
MEDICI, A. C.; BELTRÃO, K. I. Transição Demográfica no Brasil: uma agenda para pes-
quisa. Planejamento e Políticas Públicas, Brasília- DF, n. 12, p. 198-214, jun./dez.
1995.
MALTHUS, T. Ensaio sobre a População. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
MENDONÇA, M. G. de. Josué de Castro e o combate ao neomalthusianismo. In: XXVI
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA. Anais... São Paulo: Associação Nacional de His-
toria (ANPUH), 2011. p. 01-15.
OUTHWAITE, W.; BOTTOMORE, T. et al. Dicionário do Pensamento Social no Sécu-
lo XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
PAIVA, P. de T. A.; WAJNMAN, S. Das causas às consequências econômicas da transi-
ção demográfica no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Populacionais, São Pau-
lo, v. 22, n. 2, p. 303-322, jul./dez. 2005.
PLÁ, J. V. A. Industrialização e transição demográfica no Brasil. Revista Economia &
Tecnologia (RET), Curitiba, v. 9, n.1, p. 61-78, jan./mar. 2013.
ROLLET, C. Demografia: introdução à demografia. Porto: Porto Editora, 2007.
THOMPSON, W. Danger Spots in World Population, New York: Alfred A. Knopf,
1929.
TORRES, A. Demografia e desenvolvimento: Elementos básicos. Lisboa: Gradiva,
1996.
VOGT, W. O caminho da sobrevivência. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1951.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1 Em: <http://www.brasil.gov.br/saude/2011/09/planejamento-familiar>. Acesso


em: 21 de jun. de 2016.
2 Em: <http://www.geografiaopinativa.com.br/2014/09/teorias-demograficas-mal-
thusiana.html>. Acesso em: 21 de jun. de 2016.
3 Em: <http://dados.gov.br/dataset/populacao-economicamente-ativa-por-sexo>.
Acesso em: 21 de jun. de 2016.
GABARITO

1 – A principal característica da Teoria Malthusiana é a hipótese do crescimento


populacional ser proporcionalmente maior que a produção de alimento mundial.
Assim, Malthus conclui que, um dia, possivelmente faltaria comida para todos. Isso,
segundo o autor, era responsabilidade dos países subdesenvolvidos, que se repro-
duziam de forma alarmante. O mesmo autor pregava como solução a castidade
familiar. Essa teoria foi elaborada em um contexto no qual pouco se sabia sobre
as verdadeiras necessidades dos países subdesenvolvidos. Era um período onde a
Igreja tinha grande força nas decisões mundiais. Talvez por isso a proposta de solu-
ção fosse a castidade.

2 – A Teoria Neomalthusiana surge no contexto entre guerras, onde países desen-


volvidos passavam por dificuldades de acesso a bens e serviços, talvez por isso ela
tenha sido retomada no intuito de justificar problemas internos que esses Estados
sofriam. A principal característica que diferencia essa teoria da Teoria Malthusiana é
a proposta de solução: pela primeira vez, falou-se no conceito de Planejamento Fa-
miliar. Essa era a ideia nesse período: orientar os habitantes na formatação de suas
famílias. Isso era o contrário do que pregava Malthus, que era a simples castidade.

3 – Na verdade, a Teoria Reformista criticava a forma como os neomalthusianos viam


o mundo naquele período. Como justificativa para as dificuldades enfrentadas no
período entre guerras, os neomalthusianos buscavam explicar os problemas sociais
da Europa e o problema da miséria na África na falta de cuidado que as famílias ti-
nham em se reproduzir. Os reformistas logo criticaram os neomalthusianos, dizendo
que, na verdade, aquela situação era responsabilidade dos mesmos, que explora-
ram esses territórios e deixaram a população nativa sem acesso à educação, saúde,
renda e principalmente orientação sobre o planejamento familiar.

4 – C.

5 – C.
Professor Me. Hugo Santana Casteletto

O CONCEITO DE

III
UNIDADE
MOBILIDADE HUMANA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar o conceito de Mobilidade Humana e quais ordens
contemplam esse conceito na Geografia.
■■ Identificar a ordem de Mobilidade Física como um deslocamento
natural do homem no espaço.
■■ Identificar, por meio da Mobilidade Física, a diferença entre a
Macromobilidade e a Micromobilidade.
■■ Identificar a ordem de Mobilidade Centrada no Trabalho e seu papel
na lógica capitalista.
■■ Identificar a ordem de Mobilidade Social a partir do estudo da
formação das classes sociais.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A Mobilidade Humana
■■ Mobilidade Física
■■ Mobilidade Centrada no Trabalho
■■ Mobilidade Social
93

INTRODUÇÃO

Nesta unidade, apresentamos a você, caro(a) aluno(a), a noção geográfica do con-


ceito de mobilidade. Muito se fala na Geografia sobre mobilidade, e por conta,
muitas vezes, do uso da palavra no senso comum, acabamos por confundir esse
conceito com outro muito importante também na ciência geográfica: o conceito
de migração. Dessa forma, fez-se necessário uma unidade do livro exclusiva para
que possamos sanar tal dúvida, a fim de que, no futuro próximo, você tenha uma
base para consulta, caso haja dúvidas em seu processo de adaptação ao mundo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

do ensino. Vale lembrar que, pelo fato do conceito de mobilidade ser muito utili-
zado por outras ciências, existe uma gama de tipologias associadas ao mesmo, o
que, muitas vezes, acaba trazendo certa dualidade, ou seja, mesmo tipo de movi-
mento com dois ou até três nomenclaturas possíveis.
Assim, nesta unidade, buscamos apresentar, através de um dos expoentes
dessa linha de pesquisa (Marcio Mendes Rocha, 1998), as várias vertentes da
mobilidade que possivelmente serão trabalhadas em sala de aula. Desta forma,
buscamos uma abertura maior no “leque” de maneiras de se trabalhar com a
ciência que estuda as populações e seus movimentos. Para isso, separamos a uni-
dade de forma que seja possível compreendermos as subdivisões que existem a
respeito dos tipos de movimentos que os seres humanos realizaram ao longo de
sua história como civilização.
Portanto, observe esta unidade como uma parte do livro na qual você con-
seguirá entender as várias formas de mobilidade, tanto as chamadas mobilidades
horizontais (tais como a imigração) como as mobilidades verticais (como, por
exemplo, a estratificação social), para que, assim, você compreenda que esse con-
ceito é algo mais amplo do que parece. Vamos perceber que, ao dominarmos
o assunto, a compreensão e a nossa capacidade de fazer com que nosso aluno
compreenda, de fato, fica muito mais fácil. E você, como futuro(a) professor(a),
deve saber disso. Vamos lá?!

Introdução
94 UNIDADE III

©shutterstock

A MOBILIDADE HUMANA

O conceito de Mobilidade Humana proposto nesta unidade refere-se basicamente


a três escalas de ordem interpretativa da mobilidade, criadas em diversos ramos
da Geografia e das Ciências Humanas. Esse conceito foi muito bem trabalhado

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
por Rocha (1998) no intuito de conseguir compreender as mudanças ocorridas
na sociedade do norte do Paraná desde seu surgimento.
Segundo o autor, a ideia de Mobilidade Humana “passa pela investigação do
conceito de mobilidade nas ciências geográficas, econômicas, sociais e demo-
grafia.” (ROCHA, 1998, p. 13). Para o autor, a mobilidade humana nada mais
é que uma soma das diversas formas de mobilidade que o homem fez durante
sua história na sociedade moderna capitalista. Claro que, para isso, levamos em
conta muito do que Karl Marx refletia sobre a questão capitalista, e como esse
modelo econômico interferia diretamente no cotidiano da população mundial.
Assim, para Rocha (1998):
[...] a mobilidade humana é uma noção que procura estabelecer a sín-
tese das construções teóricas sobre os vários conceitos de mobilida-
de, desenvolvidos nos ramos das ciências humanas que trataram desta
questão. (ROCHA, 1998, p. 13).

Para isso, Rocha (1998) buscou subdividir a mobilidade humana em três ordens.
Segundo o autor, dentro da mobilidade humana podemos encontrar três tipos
de mobilidade centrados na lógica capitalista, sendo elas:
■■ Mobilidade Física: para o autor, a Mobilidade Física é a forma pela qual o
homem se desloca no espaço, tendo como base o processo histórico pelo
qual determinada população passou. Assim, para o autor, a Mobilidade
Física se subdivide em Macromobilidade, que seria os grandes deslocamen-
tos permanentes que determinado grupo realiza em escala internacional
e nacional; e Micromobilidade, que seria os pequenos deslocamentos rea-
lizados pelo homem cotidianamente, ou seja, de escala temporal curta,

O CONCEITO DE MOBILIDADE HUMANA


95

como, por exemplo, os deslocamentos diários para centros de compras.


■■ Mobilidade Centrada no Trabalho: neste tipo de mobilidade, o homem,
a partir de um processo histórico geográfico, se desloca em busca de
melhores oportunidades, no intuito de adequar-se à logica capitalista do
consumo e sobrevivência. Para isso, o indivíduo necessita deslocar-se
para regiões onde existem melhores oportunidades de emprego e salá-
rio, muito devido à dificuldade de acesso à renda que o mesmo possui.
■■ Mobilidade Social: neste tipo de mobilidade, podemos classificar o indi-
víduo de acordo com seus ganhos. Ou seja, tem muito mais a ver com
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

uma escalada vertical do que, propriamente, uma escalada horizontal, na


qual o indivíduo busca mudar sua posição social a partir da submissão
à lógica capitalista. Aqui podemos citar Karl Marx como um dos prin-
cipais norteadores desse tema, a partir da sua crítica a estratificação da
sociedade gerada pelo capitalismo.

Assim, Rocha (1998) busca descrever as mais diversas formas


de mobilidade humana no mundo, apesar do próprio autor
acreditar que não podemos nos restringir apenas a esse con-
texto, uma vez que a época em que vivemos nos faz perceber
que mudanças ocorrerão daqui a alguns anos devido à era
informacional e, principalmente, devido à melhoria na
condição de vida do trabalhador nas mais remotas regi-
ões no mundo, onde ainda não existia grande acesso
a bens e serviços. Porém, essa mudança ainda deve
©shutterstock
ser mais bem analisada e estudada, a fim de compre-
ender qual a verdadeira transição na sociedade.
Segundo Damiani (2008), existe uma estreita relação entre mobilidade e
migração, pois as migrações são uma característica especial da raça humana, e
dessa forma podem estar contidas na mobilidade espacial. Por esse fator, a mobi-
lidade deve ser considerada tanto geográfica como de qualquer outra disciplina
que trabalhe com o tema. Nas palavras de Guizzo e Rocha (2008), ao pensar na
migração como um mecanismo de deslocamento de pessoas, podemos conside-
rá-la como um tipo de mobilidade, chamada Mobilidade Espacial da População.
Veja que muitos autores trabalham com o tema, havendo uma série de

A Mobilidade Humana
96 UNIDADE III

possibilidades para a mobilidade. Fato é que, o importante quando trabalhamos


com o tema, é a questão da transdisciplinaridade, evitando o que Pinto (2013, p.
88) chamou de “reflexão reducionista das espacialidades”. Por isso, buscou-se,
nessa unidade, explicitar a sistematização do conceito de mobilidade, realizado
pelo Professor Doutor Marcio Mendes Rocha em sua tese de doutorado, na qual
o mesmo busca, através do conceito de Mobilidade Humana, facilitar e sinteti-
zar o conhecimento acerca do assunto. Assim, para Rocha (1998), a Mobilidade
Humana é a “interação de três ordens de mobilidade, quais sejam: a mobilidade
física, subdividida em macromobilidade e micromobilidade; mobilidade centrada

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
no trabalho e mobilidade social” (ROCHA, 1998, p. 6), como mostra o Quadro 1:

Quadro 1 - Modelo de pensamento e características da Mobilidade Humana

TIPO DE
ORDEM PENSAMENTO CARACTERÍSTICAS
DESLOCAMENTO
Mobilidade Histórico-Geo- Horizontal Macromobilidade e
Física gráfico Micromobilidade.
Mobilidade Econômico Horizontal Força de trabalho é
Centrada no Marxista mercadoria, o que faz
trabalho o homem se deslocar
para áreas onde existe
maior mercado.
Mobilidade Sociológico Horizontal e Vertical Horizontal quando
Social Marxista um indivíduo aumen-
ta sou status em um
grupo; Vertical quan-
do o individuo sobre
de classe social.
Fonte: Rocha (1998, p. 11).

O CONCEITO DE MOBILIDADE HUMANA


97

Além dessas ordens, podemos citar outras criadas ao longo do conhecimento


geográfico, tal como a Mobilidade do Consumo, que pode ser considerada tam-
bém uma Mobilidade Física, ou seja, as definições das ordens partem de autor
para autor. Buscou-se, nessa unidade, trabalhar com o conceito de Mobilidade
Humana, elaborado pelo professor Rocha (1998).
Portanto, iremos aqui esclarecer melhor as denominações que damos à
Mobilidade Humana e como ela interferiu na história da sociedade humana. A
seguir, estudaremos cada uma das mobilidades citadas acima.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Antes de nos aprofundarmos mais sobre os principais deslocamentos traba-


lhados na Geografia, vamos dar uma pausa para mais uma dica extra!
O site Cidades@ do IBGE, totalmente interativo, é
uma ferramenta que traz dados dos mais de cinco
mil municípios do Brasil. No site você encontrará in-
formações bem bacanas, como infográficos, mapas
históricos, mapas, gráficos, informações relevantes
da economia, educação, e também os principais
DESLOCAMENTOS, de todas as cidades do Brasil. Isso
de uma maneira fácil e rápida, já que o site é total-
mente preparado de forma dinâmica e interativa. E
o melhor: todos os dados são atualizados do último
Censo de 2010 do IBGE.








A Mobilidade Humana
98 UNIDADE III

MOBILIDADE FÍSICA

É importante mais uma vez ressaltar que a


Geografia não é a única ciência que estuda a
questão da mobilidade. Por esse fato, o con-
ceito de mobilidade vai sofrer mudanças
de interpretação entre os autores, princi-
palmente devido à questão do pensamento
ideológico atrelado a cada teoria elaborada

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nos diversos ramos da ciência.
Observa-se na Geografia uma grande
associação dos conceitos de mobilidade e
migração, enquanto, para outros autores, a ©shutterstock

migração é apenas uma das ordens de estudo


do processo de mobilidade. Em suma, através da migração, as pessoas se des-
locam fisicamente, o que, em muitos casos, nos faz entender que migração e
mobilidade são sinônimos, quando na verdade a mobilidade abrange além do
simples deslocamento físico.
Para Rocha (1998), existe um defeito e uma virtude na Geografia quando o
tema é mobilidade. O defeito está exatamente no que foi dito: a inconsistência e
as confusões causadas pelos termos, ou seja, “mesmo nome para coisas diferen-
tes e nomes diferentes para coisas iguais” (ROCHA, 1998, p. 24). A virtude está
na capacidade da Geografia de se misturar com outras ciências, a fim de com-
preender melhor o conceito.
Conforme afirma Rocha (1998), muitas das ordens criadas para a Mobilidade
são, no geral, muito parecidas entre si, devido ao tipo de deslocamento realizado.
Como exemplo, Cicile (1995) busca explicar o conceito de Mobilidade Pessoal
na Europa, ou seja, trata da mobilidade criada através dos deslocamentos dos
veículos (carro, bicicletas, ônibus etc.). Outros autores como Villette (1992)
buscam explicar a mobilidade por meio da subcontratação de mão de obra por
empresas na Europa, levando grandes contingentes de famílias a se deslocarem
para novas regiões.

O CONCEITO DE MOBILIDADE HUMANA


99

O deslocamento exercido pelas empresas


Importantes empresas que ofertam oportunidades de trabalho são as gran-
des responsáveis por boa parte do deslocamento humano, principalmen-
te na Europa e Ásia. Isso se deve pela sua capacidade de se locomover de
uma parte para outra, no intuito de buscar cada vez mais uma mão de obra
qualificada e que possa ser mais barata. Assim, junto com essas empresas,
existem milhares de pessoas que seguem seus rastros em busca de opor-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tunidades de emprego, criando grandes movimentos de deslocamento de


pessoas em direção às mais diferentes localidades do mundo.
Fonte: o autor.

Segundo Rocha (1998), esses tipos de mobilidades podem ser consideradas


Mobilidade Física, por exemplo, realizada pelo homem no intuito de migrar e
ocupar novas regiões na busca por condições melhores de vida.
Assim, para o autor, podemos dividir a Mobilidade Física do homem em
dois tipos: a Macromobilidade e a Micromobilidade.
A Macromobilidade é o grande deslocamento humano em determinados
períodos históricos. Esse conceito nos remete a momentos históricos que, devido
a algum fator natural ou social, fizeram com que grandes contingentes humanos
se locomovessem em direção a outras localidades, sempre no intuito de melho-
rar suas condições de vida.
Esse tipo de processo ocorre de forma lenta, muitas vezes sendo percebido
apenas em momentos de crises. Isso se deve principalmente às condições nas quais
a população que se desloca vivia antes. Um bom exemplo atual é o deslocamento
de muitos sírios para regiões na zona do euro. Isso se deve principalmente ao
momento histórico vivido na Síria, afundada em uma guerra civil entre governo
e grupo separatistas. Parte da população síria acabou se vendo em condições
precárias de sobrevivência, criando um surto de deslocamento de pessoas para
regiões da Europa as quais queiram aceitá-las. Outros exemplos são claros, como
o caso da Eritréia e a eterna guerra pela “independência” da Etiópia; a Nigéria e
sua luta com o grupo extremista Boko Haram; a Somália e a briga com o grupo

Mobilidade Física
100 UNIDADE III

Al-Shabaab; entre outros países, como Afeganistão e Líbia, que também passam
por um processo de Guerra Civil, criando assim uma onda de migração de boa
parte de suas populações para regiões da Europa e América do Sul.
No Brasil, vemos, em um passado não tão distante, boa parte da popula-
ção nordestina se deslocando para os grandes centros industriais do Centro-Sul.
Esse deslocamento se deu principalmente devido à seca no sertão nordestino.
Hoje, vemos que, com as políticas atuais, a condição na Região Nordeste vem
melhorando muito, fazendo com que presenciemos o grande deslocamento de
nordestinos novamente para a Região Nordeste, devido à melhoria da condi-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ção de vida nessas regiões, além da grande precarização de serviços e o inchaço
urbano que ocorreu principalmente na Região Sudeste.

Figura 1 - Trabalhadores enfrentam grandes filas em busca de emprego

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A Micromobilidade Física tem maior relação com a questão da hierarquia urbana.


Já estudada na Geografia Urbana, a rede urbana nos mostra qual a função de cada
cidade nos deslocamentos locais, regionais e nacionais. Uma cidade que exerce
maior influência sobre outra pode ser considerada uma cidade polo. Uma cidade
polo exerce funções diferentes que, por exemplo, uma cidade considerada dor-
mitório. Por exemplo: uma cidade fictícia que vamos denominar como Cidade
A e outra que vamos denominar como Cidade B. É importante lembrar que a

O CONCEITO DE MOBILIDADE HUMANA


101

Cidade A possui mais tipos de serviços a serem prestados à população e é mais


bem estrutura. Vamos ao exemplo: se eu moro na Cidade B e preciso ir ao clínico
geral fazer um exame, posso encontrá-lo na minha própria cidade. Porém, após o
exame feito, se eu precisar de um cirurgião plástico, por exemplo, eu devo recor-
rer à Cidade A, pois a cidade em que moro não possui esse tipo de serviço. Desta
forma, acabo fazendo um deslocamento curto, retornando tempos depois. Ou
seja, a Cidade A, na hierarquia urbana, está em um grau maior que a Cidade B,
pois existem mais bens e serviços a oferecer que outras cidades em seu entorno
não tem, sendo mais importante para a dinâmica regional que outras cidades.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Nesse sentido, vemos que esses deslocamentos diários, onde geralmente existe
retorno breve ao seu local de partida, podem ser considerados Micromobilidade
Física, pois o fato de se deslocar é uma das características da mesma. Contudo,
esse tipo de deslocamento é de menor escala, no qual o indivíduo faz seu retorno
ao local de origem.

O conceito de Rede Urbana vem para explicar o conjunto de cidades que in-
teragem entre si no espaço. Basicamente, existem fluxos de serviços presta-
dos entre as cidades, assim quando uma cidade oferece mais serviços, con-
sequentemente receberá mais fluxo de pessoas de cidades próximas, pois
oferece mais “variedade de serviços”. Deste modo, estrutura-se uma rede e,
consequentemente, uma hierarquia de importância entre as cidades, tanto
em escala municipal, regional, nacional ou mesmo internacional.
Fonte: o autor, baseado em Pena (MUNDO EDUCAÇÃO, on-line)1.

Assim, podemos inferir que a Macromobilidade é um deslocamento contínuo e


que altera historicamente a paisagem dos locais, enquanto a Micromobilidade é
um deslocamento simples e rápido entre cidades de maior e menor importância
devido à falta de oferta de bens e serviços que algumas possuem.
No próximo tópico entenderemos melhor qual a relação entre a lógica capi-
talista e a transformação da força de trabalho em mercadoria. Vamos em frente!

Mobilidade Física
102 UNIDADE III

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MOBILIDADE CENTRADA NO TRABALHO

Como já foi abordado na primeira parte desta unidade, a Mobilidade Centrada


no Trabalho tem a ver diretamente com as relações trabalhistas capitalistas que

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regem a atual conjuntura da economia mundial. Para tanto, é necessário saber
que o modelo econômico capitalista necessita diretamente da força de trabalho
para manter a máquina da economia em movimento. Vale ressaltar que esse tipo
de mobilidade é considerado horizontal, uma vez que os movimentos criados
são de acordo com o acesso às mais diversas formas de renda.
Para isso, é necessário que existam polos de atração de pessoas, que ofer-
tem empregos e condições mínimas de salubridade, para que assim possam ser
atraídos os mais diversos tipos de mão de obra, seja braçal ou intelectual. Apesar
de nem sempre esses polos ofertarem condições mínimas de salubridade, o que
vemos é que, no geral, o que atrai a população para determinadas regiões em
busca de emprego são as condições nas quais essas pessoas viviam antes de migra-
rem a essas localidades.
Assim, temos dois pontos importantes na Mobilidade Centrada no Trabalho:
as condições que são ofertadas a essas pessoas que participarão dessa mobili-
dade e as condições nas quais vive essa população que migrará. Dessa forma,
podemos dizer que a concentração populacional de determinado local se dá
necessariamente pela oferta de emprego e salário, condições básicas proposta
pelo capitalismo.
É necessário nesse momento fazermos um resgate da evolução histórica do
trabalho, a fim de se compreender em qual momento a Mobilidade Centrada no
Trabalho se torna justificável.
Em um período mais remoto, a sociedade vivia basicamente do que era pro-
duzido pela natureza, ou seja, o indivíduo apenas produzia para si próprio ou
mesmo produzia em forma comunal, onde tal corpo social era um só.

O CONCEITO DE MOBILIDADE HUMANA


103

Em um próximo período e com o desenvolvimento de novas formas de


produção, principalmente a artesanal, vimos uma ruptura entre comunidade e
indivíduo, no fato de que agora nem tudo que é produzido é dividido entre as
pessoas da comunidade. Nesse sentido, vimos que o trabalho acaba tornando-
-se algo onde o indivíduo pode atingir a ascensão dependendo da qualidade e
da produtividade de seu trabalho. É nesse momento que teremos a formação de
associações onde os artesãos juntos produzem e dividem os ganhos, contudo
são apenas ganhos divididos para quem contribuiu com o aumento da produti-
vidade. Logo, nem todos terão acesso a esse tipo de renda.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Nesse período, “o mercado de trabalho urbano se caracteriza pela mobiliza-


ção das forças produtivas artesanais provenientes da estrutura rural circundante”
(ROCHA, 1998, p. 42). Ou seja, para o autor, nesse momento, a divisão social do
trabalho ainda é pouco aprofundada em razão da pouca população urbana que
existia, sendo escassos os tipos de serviços urbanos existentes, o que não estra-
tifica e muito menos aprofunda as diferenças sociais.
O acúmulo de dinheiro dos artesãos e burgueses por volta dos sécúlos XIV e
XV transforma o próprio dinheiro em capital. Ou seja, o que antes era apenas para
sobrevivência e para bancar os custos da vida de uma classe em ascensão, passa
a ser algo visto como investimento. O dinheiro acumulado nesse período torna
essa nova classe social uma potente investidora nos mercados externos, devido
principalmente à expansão marítima. Isso possibilitou “oportunidades concre-
tas de progresso comercial e de acumulação de riquezas” (ROCHA, 1998, p. 43).
Nesse período, o acúmulo de capital por parte da burguesia e dos comercian-
tes permitiu o investimento no mercado externo, através das Grandes Navegações,
o que ampliou consideravelmente as formas de trabalho necessárias, estratifi-
cando ainda mais a divisão social do trabalho. Assim, na busca por melhorias na
condição de vida e maior acesso à renda, parte da população se lança em busca
desses novos “empregos”, nem que para isso fosse necessária a mudança física de
espaço, seja através do êxodo rural, seja através da mudança de Estado.
Rocha (1998) nos lembra de que:
O monopólio mercantil vai gradativamente sobrepujando o monopólio
artesanal e adquirindo predomínio político e comercial a partir de fato-
res econômicos que lhe conferem autonomia e poder nos negócios [...]

Mobilidade Centrada no Trabalho


104 UNIDADE III

observa-se uma ampliação da circulação de mercadorias, a conquista


dos mercados (interno e externo), a influência na politica de preços
(notadamente na área cambial) e, por tudo isso, a efetiva possibilida-
de de realização favorável de excedentes [...] nestes termos, o Sistema
Mercantil foi um sistema de exploração regulamentada pelo Estado e
executada através do comércio, que desempenhou um papel importan-
tíssimo na adolescência da indústria capitalista. (ROCHA, 1998, p. 43).

Assim, o capital acumulado por essa classe nesse período cria uma “monetização”
da relação de produção, tornando assim o trabalho assalariado, estratificando
ainda mais a sociedade entre pobres e ricos. Ou seja, os que ganham mais e os

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que ganham menos devido à qualidade de sua mão de obra.

Quem são e para onde vão os Migrantes no Brasil? Essa é a pergunta que
dá título ao artigo publicado na ANPEC em 2008, que fala um pouco sobre
quem são os migrantes do Brasil. Texto muito bom para se ter uma base
das principais ondas migratórias do Brasil. A partir dos micros dados dos
Censos Demográficos de 1980, 1991 e 2000, o Dr. Wellington Ribeiro Justo
e o Dr. Raul da Mota Silveira Neto nos apresentam quem são os migrantes
internos do Brasil, apresentado um relação ao destino (região) de cada imi-
grante nesses períodos. Os resultados nos mostram grande diferença entre
os migrantes e os não migrantes. Uma excelente leitura.
Para leitura na íntegra, acesse: <http://www.anpec.org.br/encontro2008/ar-
tigos/200807211431490-.pdf>.
Fonte: o autor.

Desta forma, um dos primeiros processos de Mobilidade Centrada no Trabalho


irá advir da transferência da população rural para a população urbana, ou seja,
a partir do momento em que a terra não mais é objeto de trabalho, e sim passa
a ser vista como mercadoria, pois o aumento da produtividade necessariamente
passa pela expansão territorial da produção.
Para Rocha (1998), são três os pressupostos sociais:

O CONCEITO DE MOBILIDADE HUMANA


105

a) rompimento das condições de trabalho no campo, quando da apro-


priação da terra em escala comercial; b) fragmentação das relações de
trabalho artesanais nas cidades, a partir da incapacidade de generali-
zação de suas condições de produção; c) o estabelecimento gradual de
formas de assalariamento nas atividades agrícolas e não-agrícolas, sob
condições emergentes de aumento na acumulação de riquezas. (RO-
CHA, 1998, p. 44-45).

Assim, o momento crucial para a Mobilidade Centrada no Trabalho é a separação


entre a cidade e o campo. Nesse momento histórico é que vamos ter a popula-
ção mundial buscando o trabalho assalariado, e consequentemente existe uma
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

busca cada vez maior pelas regiões que oferecem as melhores condições de tra-
balho e capital. Portanto, a Mobilidade Centrada no Trabalho tem uma relação
direta com o desenvolvimento do capitalismo e das formas patronais de tra-
balho, nas quais o detentor do capital estimula a vinda de trabalhadores para
determinadas regiões a partir da oferta de empregos, condições de trabalho e
principalmente salários.
O trabalho assalariado somado à transformação do espaço rural acaba aju-
dando na formação direta do chamado Mercado de Trabalho. Isso significa
que, no capitalismo, o trabalho se torna uma mercadoria como qualquer outra,
onde empregado vende ao empregador suas habilidades e sua força de trabalho.
Contudo, Rocha (1998) lembra que a História é quem vai determinar os deten-
tores do capital e da força de trabalho, e a reprodução dessa força de trabalho e
sua própria mobilidade no espaço é, essencialmente, o momento histórico no
qual o trabalhador irá submeter-se às exigências do capital.

Se o direito à mobilidade espacial deve ser resguardado, o mesmo deve ser


considerado para o direito à mobilidade social. Ou, em outras palavras, a
liberdade de movimento deve estar articulada, na perspectiva da justiça, ao
direito de melhoria nas condições de vida. (Fausto Brito).

Mobilidade Centrada no Trabalho


106 UNIDADE III

Vale ressaltar que a mobilidade do trabalho não quer dizer apenas o movimento
exercido pela força de trabalho em busca de novas condições. Esse conceito
também vale para sua funcionalidade, ou seja, para Rocha (2008), a Mobilidade
Centrada no Trabalho se desloca geograficamente e funcionalmente.
Geograficamente no sentido físico, no sentido do movimento migrató-
rio exercido pela força de trabalho em busca de emprego e novas condições de
vida, isso em múltiplas escalas. Funcionalmente no sentido de uma mudança na
atividade profissional e dentro de uma mesma atividade profissional, seja por
meio da capacitação, seja por meio da incorporação de mais funções a deter-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
minados serviços.
Portanto, o que pretendemos demostrar a você é que a Mobilidade Centrada
no Trabalho nasce juntamente com a mercantilização do mundo e, por que não,
com a mercantilização da força de trabalho, transformando-a em mercadoria.
Nesse momento, o capital fará uso dessa força de trabalho para a ampliação de
seus lucros. Cabe aqui, como Rocha (2008) o fez, lembrar o Capitulo I do “Capital”
de Karl Marx, onde o mesmo apresenta as três principais características da mer-
cadoria: o valor de uso, o valor de troca e a presença no mercado. Assim, como
já exposto anteriormente, no momento em que a força de trabalho se torna uma
mercadoria para o capital, essas três características tornam-se algo intrínseco à
Mobilidade Centrada no Trabalho.
Pensando dessa forma, é possível nesse
momento mensurar que a Mobilidade
Centrada no Trabalho é algo que tem muito
a ver com a questão da formação capitalista
e as formas pelas quais o homem consegue
atingir um nível estável de vida. Assim, é
possível observar que a busca por condições
melhores de vida é que vai fazer com que o
homem se desloque tanto geograficamente
como funcionalmente, sempre no principal
intuito, que é o de conseguir melhores con-
dições de trabalho e salário, para que, assim,
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não tenha dificuldades de acesso aos mais

O CONCEITO DE MOBILIDADE HUMANA


107

variados bens e serviços que a sociedade atual possui.


A seguir compreenderemos melhor a relação existente entre a Mobilidade
Centrada no Trabalho (mobilidade horizontal) e a Mobilidade Social (mobili-
dade vertical), ou seja, uma mobilidade gerada a partir da força de trabalho e
das relações históricas existentes.
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MOBILIDADE SOCIAL

Em primeiro lugar, gostaria de ressaltar que a Mobilidade Social é um conceito


muito generalizado, do qual podemos criar noções distorcidas. É importante que
você saiba que tudo que será apresentado é com base em autores da Sociologia
e Geografia, que durante anos observaram as mudanças da sociedade e como a
estrutura urbana na qual vivemos hoje permitiu que houvesse uma simbologia
acerca da ascensão financeira. Portanto, por mais que algumas opiniões divir-
jam, o que valerá neste momento será sua capacidade de síntese sobre o assunto,
lembrando que quando falamos de teorias podemos encontrar pontos positivos e
negativos, pois, como eu gosto de falar aos meus alunos, “se todas as teorias fos-
sem verdades absolutas, não chamaríamos de teoria, e sim de verdade absoluta”.
Após essa pequena introdução, gostaria de fazer um resgate histórico a res-
peito da questão da Mobilidade Social. Sabe-se que esse conceito basicamente
vem sendo foco dos estudos relacionados à Sociologia. Durante anos, essa ciên-
cia se dedicou a entender como o homem se hierarquiza na sociedade.
Sabemos que as classes sociais são fruto de uma política econômica, na qual
quem detém mais “poder” é quem possui “capital”. Isso não é exclusivo da socie-
dade moderna, pois desde a Roma Antiga, passando pela Idade Feudal, essa
hierarquização já existia (onde o mais “rico” é o mais “poderoso”). Por mais que
fosse “menos estratificada”, ainda assim poderíamos saber quem possuía mais
poder por meio da quantidade de bens que determinado indivíduo possuía.
Apesar de o sistema capitalista ser um modelo econômico que surgiu

Mobilidade Social
108 UNIDADE III

recentemente, é a partir da mundialização desse sistema que a pirâmide social


irá se subdividir em inúmeras partes, devido à universalização do acesso a bens
de consumo. É nesse contexto, como já foi dito no primeiro parágrafo, que algu-
mas opiniões se divergem a respeito da Mobilidade Social, afinal ela é fruto da
disseminação do Capitalismo, o que vai separar claramente duas escolas socio-
lógicas que trataram do tema: a escola norte-americana que buscou uma maior
legitimação do capitalismo; e a escola francesa de cunho marxista buscando
debater a questão das classes sociais.
Na verdade, tal embate entre essas escolas ajudou em muito a Geografia e

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a Sociologia a avançarem mais ainda no tema, devido às mais diversas concep-

As diferenças básicas entre socialismo e capitalismo


As diferenças básicas entre socialismo e capitalismo estão simploriamen-
te em três categorias: a forma de ver a propriedade; a forma de dividir a
sociedade; e a forma de gerir os recursos da economia. Na forma de ver a
propriedade podemos dizer que, no capitalismo, a propriedade pode ser
privada, enquanto no socialismo, no geral, ela é estatal. Na forma de divi-
dir a sociedade, vemos que no capitalismo existe uma grande estratificação
social, enquanto no socialismo a busca é para que não haja classes sociais e
todos pertençam à mesma. Sobre a forma de gerir os recursos da economia,
o capitalismo luta por uma economia de livre concorrência, enquanto no
socialismo o estado detém todo o controle. São divergências simples, mas
que fazem muita diferença.
Fonte: o autor.

ções sobre o assunto que foram surgindo a partir da publicação desses estudos.
Nos Estados Unidos, Pitirin Sorokin (1927) foi um dos emblemáticos autores
da sociologia que se preocupou em explicar como as diferenças sociais se con-
figuravam na sociedade. Em seus estudos, Sorokin (1927) tenta explicar como
o individuo pode se mover horizontalmente e verticalmente na sociedade, por

O CONCEITO DE MOBILIDADE HUMANA


109

meio de uma estratificação social feita a partir de dados quantitativos. É o pri-


meiro momento no qual teremos um esforço maior em conceituar a questão da
Mobilidade Social. O problema, segundo Rocha (1998), é que Sorokin (1927)
não trabalha a questão do contexto histórico que levou determinado indivíduo
a partir de uma determinada posição social. Ou seja, para Rocha (1998) esse
tipo de estudo tem um cunho mais funcionalista, pois aplica apenas a questão
dos dados numéricos atuais e não históricos. Ainda segundo Rocha (1998, p.
56), “na obra de Sorokin, a mobilidade social é uma lei necessária que nenhuma
mudança natural ou revolução poderá suprimir”.
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Assim, como na Geografia nós fazemos uso do Espaço Natural e Espaço


Geográfico, na Sociologia temos o uso do Espaço Social. Enquanto na Geografia
o Espaço Geográfico é a relação entre o homem e o Espaço Natural, causando
mudanças na paisagem, o Espaço Social trabalhado pela Sociologia é a relação
existente entre homem e homem, criando o que foi chamado de “coordenadas
sociais”. No Espaço Social, essas “coordenadas sociais” é que vão nos nortear
no entendimento de como algumas pessoas mais privilegiadas são tratadas de
forma não igualitária. Dessa forma, podemos entender que Sorokin (1927), ape-
sar de já trabalhar o Espaço Social, não procurou compreender de fato como o
processo histórico vai ajudar ou não na ascensão social, pois não foi levado em
conta esse tipo de questão.
Nas palavras de Rocha (1998):
A mobilidade social é resultado da distribuição de indivíduos nos di-
ferentes estratos sociais por um certo número de agentes, onde os mais
importantes são a escola e a família[...] quando o autor trata da circu-
lação social e de estruturas sociais, ele argumenta que a livre circula-
ção dos indivíduos se dá menos pelo estabelecimento de igualdade de
chances dadas a cada um para conseguir se estabelecer e mais segundo
critérios de eficácia funcional, onde os mais ‘competentes’ sobrevivem.
(ROCHA, 1998, p. 57).

Para Sorokin (1927), a questão da hereditariedade não é algo a ser discutido,


pois em seus estudos o crescimento da chamada classe “média” iria com o tempo
aumentar, diminuindo assim as classes “proletarizadas”, dando grande contribui-
ção para a queda do número de nascidos em condições precárias.

Mobilidade Social
110 UNIDADE III

Por que o processo histórico é importante no entendimento das classes


sociais
É notório que nem todos na sociedade possuem o mesmo status social. Isso
se deve principalmente à diferença de ganhos entre os vários indivíduos
que compõem a sociedade. Mas e quando já existe uma estratificação social,
antes mesmo de o indivíduo nascer? Por exemplo, com um “filho de juiz”

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
(como é falado no dito popular, sem generalização) essa estratificação social
vai ter como fator principal a diferença de ganhos? Essa é uma questão já
levantada há anos, ou seja, famílias que ao longo da história se valeram de
vantagem intelectual e política para se perpetuarem na alta escala da socie-
dade. Casos de famílias que se aproveitaram do trabalho forçado em cam-
pos de concentração na Alemanha Nazista aproveitaram da ingenuidade de
produtores rurais, utilizaram grilagem e a atuação de posseiros, entre outros
fatores, tudo para que fosse possível o aumento de suas posses. Poucos pro-
curam saber o processo histórico pelo qual passou determinado grupo para
que chegassem ao poder, e isso é de suma importância para a compreensão
da estratificação social.
Fonte: o autor.

Para Sorokin (1927), a Mobilidade Social atua horizontalmente ou verticalmente.


No sentido horizontal da Mobilidade Social, o indivíduo acaba se movimentando
horizontalmente dentro de uma mesma camada social, como, por exemplo, o
síndico do prédio, que mantém sua condição financeira, contudo começa a exer-
cer maior importância dentro de seu condomínio devido ao status simbólico em
torno do papel de síndico. O sentido vertical seria basicamente a capacidade do
individuo de se movimentar entre as classes sociais, por exemplo, passando de
Classe “D” para classe “B”. Além disso, para Sorokin (1927), nesta Mobilidade
Social Vertical ainda teremos o fato de ela ser ascendente ou descente, ou seja,
tanto o indivíduo pode subir na estratificação social como pode cair.
Assim, podemos realizar estudos entre as famílias que possibilitam uma
análise referente à questão da mobilidade social. Ou seja, em qual momento
determinada família passou da Classe “B” para Classe “C”, por exemplo. A isso

O CONCEITO DE MOBILIDADE HUMANA


111

damos o nome de abordagem intrageracional. Além de termos também a aborda-


gem intergeracional, que é quando analisamos em qual momento determinadas
gerações de famílias passaram a fazer parte de determinado Estrato Social.
O grande problema da Sociologia Americana foi a busca pela estratifica-
ção ou tipificação da sociedade. Segundo a Sociologia Francesa, não podemos
tipificar uma sociedade. De acordo com Touraine (1991), não podemos simples-
mente hierarquizar uma sociedade e tratar determinado grupo de uma forma
homogênea, pois assim estaríamos negando a realidade social, que nada mais é
do que relações sociais que cada indivíduo tem com cada grupo. Em suma, para
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Touraine (1991) cada grupo tem uma visão diferente da sociedade, o que não era
considerado pela Sociologia Americana apoiada pelo Positivismo de Durkeim.
Conforme afirma Rocha (1998), esse tipo de análise teve grande influência
nas futuras pesquisas realizadas na França, onde, segundo o autor:
[...] o período de 1950 a 1970, sob a coordenação do INSEE (Institut
national d’Économie et Statistique), várias enquetes sobre emprego fo-
ram desenvolvidas, que serviram como base de dados para um certo
número de pesquisas sobre a problemática social [...] no final dos anos
60, observa-se uma forte atenção para a reflexão sobre a classe operária
na França, período que marca o amadurecimento de uma reflexão aca-
dêmica marxista. (ROCHA, 1998 p. 65).

Para os sociólogos franceses marxistas não podemos falar em classes sociais


existentes, e sim em luta de classes existentes. Segundo a sociologia francesa
baseada em Marx, existem três dimensões a serem analisadas quando falamos de
classes sociais: dimensão política, dimensão econômica e dimensão ideológica.
Para Poulantzas (1974), a dimensão econômica é determinante para entender-
mos a questão das classes sociais. Para Rocha (2008) essa é uma visão correta,
contudo a maior menção na sociologia francesa é da dimensão política-ideoló-
gica, na qual o Estado exerce um papel de manter a reprodução social por meio
da legitimação da ação dos proprietários dos meios de produção, isso falando
em um Estado Capitalista.
Portanto, para Rocha (1998), “as classes sociais não existem em si, elas pres-
supõem uma relação, e estas são contraditórias, ou seja, só existem no contexto
da luta de classes.” (ROCHA, 1998, p. 71). Ainda segundo o autor, a determina-
ção de classes é feita por meio do posicionamento do indivíduo a partir de uma

Mobilidade Social
112 UNIDADE III

avaliação da divisão social do trabalho. Assim, as classes sociais nada mais são
que o reflexo da divisão social do trabalho, ou seja, do posicionamento de cada
um dos agentes no mercado de trabalho.

Se, em termos demográficos, a duração – o temporário – é essencial para o


estudo das migrações temporárias, em termos sociológicos o essencial é a

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
concepção de ausência. É temporário, na verdade, aquele migrante que se
considera a si mesmo “fora de casa”. (José de Souza Martins).

A isso, soma-se a questão histórica singular de cada indivíduo, que acabou deter-
minando sua posição nessa conjuntura.
Dessa forma, entende-se a Mobilidade Social como algo dinâmico no qual
está presente a luta por interesses sociais das mais diversas categorias, tendo que
ser entendida como uma luta de classes, na qual o indivíduo nem sempre tem
a possibilidade de subir nessa estratificação, muito devido à ação dos agentes
capitalistas que dependem das classes menos favorecidas para que se mantenha
a reprodução social capitalista.
Por fim, podemos entender a Mobilidade Social como a capacidade de cada
indivíduo de se elevar economicamente e funcionalmente na sociedade, a partir
das relações sociais capitalistas existentes.

O CONCEITO DE MOBILIDADE HUMANA


113

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos concluir que a questão da mobilidade vai muito além de uma mera
questão de migração. A mobilidade nas ciências humanas é definida como a
capacidade do indivíduo de se locomover, seja verticalmente ou horizontal-
mente na sociedade.
Assim, seja por meio das migrações ou dos deslocamentos para camadas
mais altas da sociedade, o homem é passível de mobilidade, principalmente com
o advento do capitalismo, devido às novas formas de interação entre os povos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Por isso, podemos entender que a Mobilidade Humana é algo intrínseco ao ser
humano, pois, na busca incessante pela melhoria na condição normal de vida e
no intuito de ascensão social, o homem é capaz tanto de mover-se fisicamente,
seja por meio das macromobilidades ou micromobilidades, mover-se pela força
do trabalho e mover-se socialmente (vertical), na busca pela inversão da lógica
capitalista que interfere na vida cotidiana da maior parte da população mundial
que não detém o capital e nem os meios de produção necessários para manter
condições razoáveis de vida. Por isso, é necessário, ao se trabalhar com o presente
assunto em sala de aula, certa dose de sensibilidade, pois será um momento no
qual dúvidas, pontos de vista divergentes e até mesmo opiniões irão aparecer,
pois necessariamente trata-se de um tema muito complexo e de íntima ligação
com o modo de produção vigente na maioria dos mercados mundiais.
Por isso, é importante que abordemos, na Geografia da População, a capa-
cidade que a sociedade possui de mudar e apresentar uma maior ou menor
dinâmica. Por meio desse conhecimento, que nada mais é que o resgate histórico
que originou determinado processo de movimentação humana, é que podere-
mos ter uma maior compreensão e um maior domínio sobre o conteúdo, o que
vai nos garantir confiança e a certeza de dever cumprido como professor(a).

Considerações Finais
114

1. A respeito da Mobilidade Humana abordada nesta unidade III, cite os três tipos
de ordens de mobilidade que estão implícitos na Mobilidade Humana, expli-
cando pelo menos uma característica principal de cada uma das ordens.

2. Sabendo que a Mobilidade Física é a ordem da Mobilidade Humana mais abran-


gente e que ela ainda se subdivide em outras duas ordens, explique a principal
diferença entre a Macromobilidade Física e a Micromobilidade Física, trabalha-
das nesta unidade.

3. Vimos nesta unidade III que a Mobilidade Centrada no Trabalho é algo intrínseco
ao modo de produção capitalista. Relacione a Mobilidade Centrada no Trabalho
com a Lógica Capitalista trabalhada nesta unidade.

4. Segundo os autores da Sociologia Francesa, não podemos falar de Classes Sociais


sem falar de:
a) Estratificação social.
b) Luta de Classes.
c) Classe A, B, C e D.
d) Mobilidade Horizontal.
e) Mobilidade Vertical.

5. Sobre a Mobilidade Física expressa em nossos estudos, é um dos vários conceitos


que formam a ideia de Mobilidade Humana trabalhada na Geografia. De acordo com
o que vimos, ela ainda é subdividida em mais dois tipos, isso de acordo com o es-
paço-tempo de determinado deslocamento. Sabendo disso, assinale a alternativa
que apresenta as duas variações da Mobilidade Física proposta na Geografia.
a) Mobilidade Social e Mobilidade Centrada no Trabalho.
b) Mobilidade Eventual e Mobilidade Fixa.
c) Macromobilidade e Micromobilidade.
d) Mobilidade Social e Micromobilidade
e) Macromobilidade e Mobilidade Centrada no Trabalho.
115

CONTEXTUALIZAÇÃO DOS ESTUDOS DE MOBILIDADE DA POPULAÇÃO


NAS CIÊNCIAS HUMANAS

Entendemos ser a mobilidade um instrumento de análise do desenvolvimento das so-


ciedades. Estes estudos revelam uma complexidade de fatores de ordem econômica,
social, política e cultural, que acontecem numa dimensão espaço-temporal variável.
Esta complexidade se revela no seio das organizações sociais que se apresentam em
constantes mutações. Na evolução da vida social, esta complexidade tem se acentuado,
principalmente as relacionadas à Divisão Social do Trabalho. Corrêa (1997) considera
o fenômeno da Mobilidade enquanto um dos elementos que integram as “interações
espaciais”. Segundo este autor, estas se referem ao fluxo e ao refluxo de indivíduos traba-
lhadores, consumidores e turistas, além de produtos e informações que se dinamizam e
reproduzem o espaço. No que concerne à questão da mobilidade da população, Corrêa
releva a complexidade do fenômeno, o qual participa do processo de transformação
social do mundo contemporâneo. Diante da falta de precisão da definição e uso do con-
ceito de mobilidade pelas Ciências Humanas, procuraremos abordar alguns aspectos
dos diferentes usos deste termo que se desenvolveram historicamente, pois...
a mobilidade desempenhou funções diferentes em diferentes modos de produção. Nas
sociedades primitivas, a mobilidade representava uma forma de sobrevivência para as
populações itinerantes que precisavam se deslocar para encontrar alimentos e terras
férteis para suas culturas comunitárias. Na sociedade capitalista, a mobilidade represen-
ta um meio para a reprodução do capital, uma vez que uma força de trabalho “livre” e
“móvel” torna-se essencial para o processo de acumulação. Nesse sentido, uma massa de
trabalhadores “latentes” ou “estagnados”, seguindo os movimentos do capital, represen-
ta um indicador de desenvolvimento capitalista.

Percebemos que, ao longo da história, o fenômeno da mobilidade sempre foi desem-


penhado como processo que garantiu a condição vital dos indivíduos. Se, no período
primitivo, significava para o homem o único recurso de obtenção de alimentos para a
sobrevivência de seu grupo, veremos que, no sistema capitalista, para uma grande mas-
sa de indivíduos trabalhadores, a mobilidade também significa o único recurso gerador
de subsídios de sobrevivência para si e sua família.
Fonte: Ghizzo e Rocha (2008, p. 101-102).
116

TÍTULO: A Espacialidade das Mobilidades Humanas – Um olhar para o Norte Central


Paranaense
AUTOR: Marcio Mendes Rocha
INSTITUIÇÃO: Tese de Doutorado apresentada ao Departamento de Geografia da Facul-
dade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
SINOPSE: Os estudos de mobilidade nas Ciências Sociais são tratados em diversos ra-
mos, como a Geografia, Economia, Sociologia, entre outros. São ordens explicativas que
analisam ângulos de um fenômeno complexo e de grande importância, à medida que a
evolução das sociedades humanas apresenta um dinamismo complexo de seus proces-
sos de transformação. A compreensão desta dinâmica, em suas várias instâncias, é tarefa
que concerne às Ciências Humanas.
Esta pesquisa visa buscar um conceito que amplie as possibilidades de compreensão da
mobilidade. Para tanto foi criado o conceito de Mobilidade Humana, que é a interação
de três ordens de mobilidade: Mobilidade Física; Mobilidade Centrada no Trabalho e
Mobilidade Social, nascendo daí um conceito com maior totalidade.
A perspectiva transdisciplinar acompanha o percurso teórico-metodológico empreen-
dido.
A partir deste instrumental teórico, a tese proposta neste trabalho é de que, mesmo
numa região de dinamismo econômico, observa-se um processo de polarização de clas-
ses sociais. Para confirmar esta tese, foi investigada a região norte central paranaense,
mais especificamente os quatro principais municípios desta região, quais sejam: Londri-
na, Maringá, Apucarana e Cambé.
Neste estudo, será possível rever as bases teóricas que fundamentam o conceito de Mo-
bilidade Humana, e o como o autor chegou a essa teoria da mobilidade que concerne
o ramo da Geografia da População. É uma das leituras básicas para compreensão dessa
disciplina
MATERIAL COMPLEMENTAR

Mobilidade Humana e Diversidade


Sociocultural
Debora Mazza e Olga Von Simson
Editora: Paco Editorial, 2011
Sinopse: Esta coletânea visa focalizar processos de
mobilidade humana (emigração e migração) na contemporaneidade e no passado e mostrar como
a tendência de buscar oportunidades de vida em espaços diversos e desconhecidos é própria da
natureza humana. O livro pretende contemplar tanto a memória, que foi reconstruída via metodologia
da História Oral, assim como as vivências captadas por meio de estratégias como a análise de obras
cinematográficas e de literatura que versam sobre o tema.

Estrutura de Classe e Mobilidade Social no


Brasil
Carlos Antônio Costa Ribeiro
Editora: ANPOCS, EDUSC, 2007
Sinopse: “Estrutura de classe e mobilidade social
no Brasil” é uma obra indispensável à compreensão
de algumas das maiores contradições da estrutura
social brasileira, acentuadas, principalmente, a
partir da segunda metade do século 20, quando
o desenvolvimento econômico possibilitou uma
grande mobilidade social, sem que a desigualdade
se encaminhasse para um declínio razoável,
como objetivam as sociedades democráticas contemporâneas. Uma excelente obra para que
possamos compreender a qual passo estamos nas questões relacionadas à mobilidade social na
contemporaneidade. A partir dessa leitura é possível compreender como existe uma questão histórica
latente ligada à estrutura de classes que temos hoje no Brasil, caracterizada pela grande desigualdade
social.

Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR

Quem quer ser um milionário?


Este filme conta a história de Jamal Malik, um jovem
indiano que vive em uma sociedade dividida em castas
(estratificação social). O curioso é que, na Índia, a questão
da estratificação social é algo realmente levado a sério.
É um dos poucos países em que a Mobilidade Social é
praticamente impossível (para dizer que não existe),
mesmo você tendo ganhado milhões de dólares. Uma vez
que você é de uma casta, sempre fará parte dela. Assim,
Jamal, sendo de uma casta inferior, consegue a participação em um programa de perguntas e
respostas, no qual ele encontra em fatos de sua vida as respostas das perguntas feitas. Um filme
interessante que retrata muito bem a questão da estratificação social e da forma diferenciada de
como as classes são tratadas.
119
REFERÊNCIAS

BRITO, F. Brasil, final do século: a transição para um novo padrão migratório. In:
ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 2000, Belo Horizonte-MG.
Anais... Belo Horizonte-MG: UFMG, 2000. p. 1-25.
CICILE, J. La mobilité des personnes dans les grandes villes européennes – de
la congestion automobile à la régulation de la demande. 1995. Thèse de Doctorat.
Universite de Provence Aix-Marselle I, Marseille, 1995.
DAMIANI, A. L. População e Geografia. São Paulo: Contexto, 2008.
DURKHEIM, E. Le socialisme - sa définition, ses débuts. La doutrine Saint-Simonien-
ne. Paris: Retz - C.E.P.L., 1978.
GHIZZO, M. R.; ROCHA, M. M. Contextualização dos estudos de mobilidade da popu-
lação nas ciências humanas. Espaço Plural, Marechal Cândido Rondon-PR, ano IX,
n. 18, p. 101-110, jan./jun. 2008.
MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos. Lisboa: Edições 70, 1993.
______. Sociologia. 4 ed. São Paulo: Ática, 1984.
______. O Capital – crítica da economia política. vol. I. Rio de Janeiro: Bertrand, 1989.
MAZZA, D.; SIMSON, O. V. Mobilidade Humana e Diversidade Sociocultural. Jun-
diaí-SP: Paco Editorial, 2011.
PINTO, A. F. M. A noção de mobilidade humana e a macromobilidade física para o
consumo do espaço e de mercadorias/produtos e sua espacialização na malha ur-
bana de Foz do Iguaçu-PR. Revista Percurso – NEMO, Maringá-PR, v. 5, n. 1, p. 87-
109, 2013.
POULANTZAS, N. Repères - hier et aujourd’hui - textes sur l’État - L’État du capital.
Paris: Maspero, 1974.
ROCHA, M. M. A Espacialidade das Mobilidades Humanas – Um Olhar para o Nor-
te Central Paranaense. 1998. 186 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Departamento
de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade
Estadual de São Paulo (USP), São Paulo, 1998.
RIBEIRO, C. A. C. Estrutura de Classe e Mobilidade Social no Brasil. Santa Catarina:
ANPOCS, EDUSC, 2007.
SOROKIN. P. A. Social Mobility. Nova York: Harper and Brothers, 1927.
______. Social and Cultural Mobility. Glencoe, Illinóis: The free press, 1959.
TOURAINE, A. Face à l’exclusion. In: Citoyenneté et urbanité. Paris: Esprit, 1991
VILLETTE, S. M. Mobilité et clandestinité dans l’espace communautaire. Annales de
Géographie, Paris, n. 564, p. 174-187, mar./abr. 1992.
REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS ON-LINE

1 Em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/rede-urbana.htm>. Aces-


so em: 21 de jun. de 2016.
121
REFERÊNCIAS
GABARITO

1 – As três ordens são: Mobilidade Física, Mobilidade Centrada no Trabalho e Mo-


bilidade Social. A Mobilidade Física tem como característica ser dividida em Ma-
cromobilidade e Micromobilidade, ou seja, dependendo da distância e do tempo
da mobilidade, ela será classificada como Macro ou Micro. A Mobilidade Centrada
no Trabalho tem como principal característica a mão de obra como mercadoria, ou
seja, ela advém da lógica capitalista e da busca por melhores condições de empre-
go. A Mobilidade Social tem como característica a verticalidade, ou seja, não é um
deslocamento horizontal e sim vertical, no sentido do topo da pirâmide social.

2 – A Macromobilidade são os grandes deslocamentos históricos, que geralmente


ocorrem em grande número de contingente e durante um período longo. Geral-
mente está ligada a crises econômicas, guerras e mazelas. A Micromobilidade se-
riam os deslocamentos diários feitos, de curta distância e de curta duração, geral-
mente havendo retorno após determinado período.

3 – Neste tipo de mobilidade a mão de obra se torna uma mercadoria, ou seja, ela é
vendida como qualquer outro produto a quem estiver interessado em pagar mais e
der melhores condições de trabalho. Desta forma podemos entender que os movi-
mentos relacionados à busca de novas oportunidades não seriam possíveis se não
fosse pelo modelo de produção que criamos. É por meio dessa mobilidade que se-
rão geradas áreas de atração e desenvolvimento econômico e áreas de repulsão
com déficit econômico.

4 – B.

5 – C.
Professor Me. Hugo Santana Casteletto

IV
A MIGRAÇÃO PARA

UNIDADE
A GEOGRAFIA DA
POPULAÇÃO

Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender os fatores pelos quais os povos humanos migram.
■■ Identificar os principais tipos de migração que existem na ciência
geográfica.
■■ Identificar as principais migrações históricas que ocorreram no
mundo.
■■ Identificar o papel da Europa nas migrações e formações dos mais
diversos continentes do mundo.
■■ Identificar as principais migrações contemporâneas, a fim de
compreender o papel dos países mais ricos, como os EUA, na
migração mundial.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Tipos de Migração
■■ Os Principais Tipos de Migração Trabalhados no Ensino Básico
■■ As Grandes Migrações Mundiais
125

INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) aluno(a)! Nesta unidade discutiremos com maior precisão sobre o
conceito de Migração para a ciência geográfica, abordando os tipos de fluxos
mais utilizados e principalmente o elucidar a respeito da importância da análise
sobre o Padrão Migratório em si.
A Migração, sucintamente, é o deslocamento de pessoas de determina-
dos espaço (ou mesmo dentro de um espaço), em um determinado período ou
tempo, podendo ocorrer em etapas, se for o caso. Esses deslocamentos de pes-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

soas, há anos, é objeto de estudo da ciência geográfica, sejam eles fenômenos


culturais, religiosos, naturais, sociais, ou políticos. O deslocamento das popula-
ções mundiais é alvo dos geógrafos desde antes mesmo da criação dos Censos
Demográficos, tamanha a importância dada a esse fenômeno, devido às mudanças
estruturais causadas por ele. É importante ressaltar nesse momento que os tipos
de migração apresentados a seguir são apenas uma apresentação das principais
tipologias criadas no âmbito geográfico desde que a migração e os movimentos
humanos se tornaram de interesse da respectiva ciência. Sendo assim, vale lem-
brar que o que for apresentado nesta unidade não é uma regra geral a ser seguida,
uma vez que esse tipo de tema é muito dinâmico, estando em constante trans-
formação. Isso servirá como norte para você, aluno(a), que lecionará dentro de
alguns anos, servindo também como fonte de pesquisa, caso surja uma dúvida.
Fato é que, em sua grande maioria, os fluxos migratórios estão diretamente
(ou indiretamente) ligados a fatores de ordem econômica, talvez por isso tenha
se intensificado a partir do século XX devido, principalmente, à Revolução
Industrial. Outro ponto é que, além de fatores econômicos, também teremos na
história mundial grande deslocamento de pessoas por outros motivos, tais como
fatores elencados no parágrafo acima, vide caso mais recente ocorrido em terri-
tórios de países do oriente médio, como Síria e Iraque.
Isso claramente acaba acarretando em um movimento migratório que, senão
por uma ordem econômica, podemos dizer que, em geral, significa para essas
pessoas uma mudança social e de acesso a bens e serviços mais dignos. Claro
que nem sempre a migração vai representar diretamente uma melhoria na con-
dição de vida dos migrantes, mas é notório como essas pessoas criam grandes

Introdução
126 UNIDADE IV

expectativas sociais nesses padrões migratórios que são observados pelo mundo.
Assim, nesta unidade iremos mostrar a diferença entre tipos de migração e
padrões migratórios, caracterizados pela formação de áreas de repulsão e áreas
de atração, e que, mais que um simples deslocamento, significa a mudança estru-
tural urbana e social dessas sociedades que repelem e atraem imigrantes. Essas
mudanças refletem no número de habitantes, mudança no padrão de linguagem,
diversidade religiosa e gastronômica e, por que não, diversidade arquitetônica,
além de muitas outras características. Observando dessa forma, olhamos pelo lado
da “luz” da imigração, não podendo esquecer que existem partes ruins nesse tipo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de movimento tais como o aumento por conflitos devido à diversidade, aumento
da xenofobia, além da popularização de partidos separatistas e nacionalistas.
Contudo, vamos nos permear nesta unidade apenas em falar sobre o con-
ceito de migração, seus principais tipos, e nos atentar a orientá-lo(a) a entender
a imigração como uma análise sobre o Padrão Migratório, do qual devemos
conhecer seu tempo, espaço e etapas, por meio dos contextos históricos pelos
quais determinados grupos ou territórios passam.
Para isso, começaremos falando um pouco sobre os tipos de imigração que
existem e os principais fluxos, a fim de que, assim, você possa ir se familiari-
zando com os termos científicos. Vamos lá!

A MIGRAÇÃO PARA A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


127

OS TIPOS DE MIGRAÇÃO

Para compreendermos a importância de se estudar os tipos de fluxos migratórios


da Geografia, primeiramente gostaria de ressaltar algumas das palavras do autor
Fausto Brito (2000) acerca da dificuldade dos geógrafos de hoje em separar, ou
mesmo priorizar, conteúdos que diferem a ideia de Tipos de Fluxos Migratórios
e Padrão Migratório.

Figura 1 - Crianças brincando no acampamento de refugiados


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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Segundo Brito (2000), há uma infinidade de tipologias criadas por autores da


Geografia sobre os fluxos migratórios existentes. Para o autor, a amplitude con-
ceitual que circunda o conceito de Migração é uma das razões para tal fenômeno.
Dessa forma, os geógrafos procuram, por meio de uma ênfase maior de deter-
minada dimensão do fluxo (tempo, espaço ou etapa) criar uma série de tipos de
fluxos no intuito de “tornar mais preciso e operacional o conceito de migração,
dentro da sua extensa latitude.” (BRITO, 2000, p. 1). Assim, para Brito (2000), “a
vontade dos autores de uma maior elaboração metodológica leva à construção
de tipologias, combinando tipo de fluxos com os diferentes contextos históri-
cos.” (BRITO, 2000, p. 1).
Podemos aqui inferir que a preocupação com a sistematização dos tipos de

Os Tipos de Migração
128 UNIDADE IV

migração no processo histórico de construção geográfica tornou a ciência demo-


gráfica e seus estudos sobre migração um mero amontoado de dados. Ou seja,
existe na história da Geografia uma preocupação muito grande em se tipificar as
formas de movimentos, porém existe uma falta de preocupação com as análises
mais aprofundadas, caracterizadas pela observância integral das três dimensões
da migração: o tempo, o espaço e as etapas pelas quais passaram os migrantes.
Assim, quando olhamos o amontado de tipos de migração criados e, ao mesmo
tempo, olhamos o contexto em que foram realizados tais deslocamentos, veremos
que os mesmos variam de acordo com o tempo e espaço, e consequentemente

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
variam de acordo com as necessidades históricas de determinado grupo de indi-
víduos. Olhando dessa forma, veremos que os tipos de fluxos migratórios mudam
com o tempo, pois dependem muito da evolução desses povos como sociedade.

Em minha opinião, existem dois tipos de viajantes: os que viajam para fugir
e os que viajam para buscar.
(Érico Verissimo).

Não estamos aqui tentando dizer que é errado tipificar os fluxos migratórios.
O que estamos tentando esclarecer é que os fluxos migratórios no período da
Revolução Industrial não são os mesmos que no período Técnico-Científico-
Informacional, e provavelmente não serão iguais em uma próxima época. Assim,
tipificar fluxos migratórios em determinado período não significa que esse modelo
poderá ser usado para sempre. E é aí que fica a essência dos fluxos migratórios:
a tipificação tem que andar juntamente com o contexto histórico, e assim deve-
-se apresentar um Padrão Migratório, que é quando o tipo de fluxo se alinha ao
processo histórico pelo qual os migrantes passaram.

A MIGRAÇÃO PARA A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


129

Não confunda Migração, Imigração e Emigração. Migração é o movimento


de entrada e saída de um ou mais indivíduos em países diferentes ou den-
tro do próprio país. Imigração é a entrada de um indivíduo estrangeiro em
determinado país. Emigração é a saída de um indivíduo para residência em
outro país.
Fonte: o autor.
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Apontados os primeiros pressupostos, gostaria aqui de fazer um levantamento


acerca dos tipos de fluxos migratórios já trabalhados pela Geografia. Faremos
isso por meio do trabalho elaborado pelo professor Brito (2000).

Primeiramente gostaríamos de lembrar o estudo realizado pela Organização


Mundial do Trabalho (OMT, Brasília, 1984, on-line)1 destinado às nações subde-
senvolvidas, a fim de orientar os estudos relacionados à migração desses países.
Nesse estudo, chega-se à conclusão de que existem tipos de migração que, num
contexto geral, sempre existiriam, tais como: migração permanente e pendular,
migração primária, secundária e terciária, migração de retorno, migrações de
cidade-campo, campo-cidade, cidade-cidade. Contudo, para termos uma ideia
de como existem grandes mudanças nos padrões migratórios de acordo com os
contextos históricos pelos quais determinados povos passaram, Brito (2000) faz
um levantamento acerca dos principais autores que realizaram esses tipos de estu-
dos, e observou que vários motivos foram apontados como causa da imigração.

Os Tipos de Migração
130 UNIDADE IV

Figura 2 - Concentração de trabalhadores em volta das fábricas no período da Revolução Industrial

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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De acordo com Brito (2000), o autor Braudel (1995) realiza uma análise deta-
lhada acerca das migrações ocorridas nos séculos XV e XVIII e chega à conclusão
que existe uma infinidade de riqueza e detalhes sobre a migração nesse período.
Segundo Brito, “Braudel chama a atenção para a variedade de tipos de deslocamen-
tos populacionais que ocorriam em contextos sociais e culturais diferenciados”
(BRITO, 2000, p. 2). Todavia, para o autor, uma das melhores análises tipifica-
das dos fluxos migratórios, que denotam um padrão analisado, é a de Livi Bacci
(1999), onde o mesmo ressalta as principais transformações ocorridas na socie-
dade europeia no período ante Revolução Industrial e pós Revolução Industrial.
Nesse estudo, Bacci (1999) consegue observar grande migração rural-urbana,
além de identificar migrações permanentes e temporárias, sejam elas internas
ou externas ao território (migrações internas e internacionais).
Brito (2000) ainda nos lembra de Hobsbawm (1977), que faz uma grande
análise sobre o período caracterizado pela Revolução Industrial na Europa,
ressaltando a importância da imigração para a formação de cidades e, conse-
quentemente, de novas nações na Europa, o que juntamente poderia causar
conflitos étnicos e sociais.
Porém, para Brito (2000), a grande análise realizada sobre o padrão migra-
tório ocorrido principalmente no período de industrialização mundial é a que
foi realizada por Karl Marx (1989):

A MIGRAÇÃO PARA A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


131

[...] clássico capítulo XXIV, do Livro I do Capital, onde Marx analisa,


com absoluta acuidade, o que ele chama de pré-história do capitalismo,
o período entre o século XV até o início do século XIX, quando se deu a
expropriação dos camponeses ingleses e a sua migração para as cidades
que se formavam em conjunto com a emergência da manufatura, num
primeiro momento e, posteriormente, com a grande indústria. (BRI-
TO, 2000, p. 3).

É importante ressaltar que boa parte das análises clássicas citadas acima eram
meramente análises feitas a partir das transformações sociais e urbanas que
ocorriam na Europa em determinado período. Na verdade, Ravenstein (1980) é
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

considerado o primeiro teórico acerca do tema migração, pois, dentre todos os


autores, ele foi o inaugural em utilizar dados do Censo Demográfico do Reino
Unido, no período que segue de 1871 a 1881. A partir desse estudo, o autor con-
seguiu observar uma série de regularidades na migração europeia, como, por
exemplo, a migração curta e longa, rural-urbana, corrente e contracorrente,
retorno etc.

O primeiro Censo Demográfico Brasileiro, realizado pelo IBGE, foi em 1872.


Porém ele apenas tomou um padrão de 10 em 10 anos a partir de 1890,
sendo seguido pelo Censo de 1900.
Fonte: o autor.

Observamos, portanto, que apesar de termos uma série de tipos de fluxos migrató-
rios, estes estão, em sua maioria, relacionados principalmente ao desenvolvimento
do capitalismo como modelo econômico. Zelinsk (1971) cita que alguns padrões
são característicos de determinados modelos históricos, tal como: a migração
rural-rural é característica da sociedade antes da Revolução Industrial, a migra-
ção rural-urbana é característica da população em industrialização, a migração
urbana-urbana é característica das sociedades industriais e os modelos de migra-
ção cidade-periferia da sociedade pós-industrial.

Os Tipos de Migração
132 UNIDADE IV

Figura 3 - Trabalhadores refugiados fazendo fila na busca por emprego

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Fato é que não podemos tipificar um deslocamento populacional sem ao menos


olharmos para o contexto histórico pelo qual determinado grupo vem passando.
Ou seja, é necessário o entendimento da migração por meio do que chamamos
Padrão Migratório, onde são inseridas informações sobre tempo, espaço e eta-
pas. Quando não fazemos isso, estamos apenas tipificando, o que não passa de
ser um estudo quantitativo e não qualitativo.
A seguir, demonstraremos alguns dos tipos de migração mais comuns encon-
trados nos livros didáticos.

A MIGRAÇÃO PARA A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


133

OS PRINCIPAIS TIPOS DE MIGRAÇÃO


TRABALHADOS NO ENSINO BÁSICO

O que será apresentado a seguir são apenas alguns conceitos básicos que são ine-
rentes aos seus conhecimentos acerca do assunto.
É importante ressaltar que tais conceitos serão apresentados de forma sucinta
e em tópicos, para que, assim, facilite na hora em que precisar recorrer a este
livro. Assim, para ajudá-lo(a), este tópico vem para sistematizar algumas das
principais dúvidas de nossos alunos no Ensino Básico.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

São os conceitos:
■■ Migração: É o principal conceito dentre todos os que serão estudados. A
partir dele, podemos definir seu tipo. Migração nada mais é que o des-
locamento dos indivíduos dentro de um determinado espaço geográfico
ou natural. Ela pode ter uma série de motivos, sejam eles econômicos,
políticos, religiosos, culturais, naturais, etc., apesar de a questão econô-
mica ser a mais visível dentre todas. Ela pode acontecer de duas formas:
■■ Migração Permanente: Quando o indivíduo se deslocada no espaço com
intuito de se instalar definitivamente em outro território. Neste caso, difi-
cilmente haverá volta do migrante, fazendo da migração um movimento
permanente, ou seja, o indivíduo fixa um território e passa a fazer parte desse
outro corpo no qual foi instalado.
■■ Migração Temporária: Quando o indivíduo se deslocada no espaço e existe
uma corrente de retorno após determinado período. É muito caracterizado
pelos trabalhadores que se locomovem para outras cidades a trabalho e em
seguida retornam. Neste tipo de deslocamento não existe uma fixação de
território, ou seja, o indivíduo ainda reside em seu território natal, porém
se desloca por um determinado período para outros lugares, retornando ao
final de sua tarefa.

Os Principais Tipos de Migração Trabalhados no Ensino Básico


134 UNIDADE IV

Figura 4 - Comboio de refugiados em busca de abrigo em outros países

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Hoje, 92,7% das pessoas que frequentam escolas ou creches estudam nas ci-
dades onde residem. Sudeste é a região com maior número de deslocamen-
tos para estudo, chegando a quase 9% dos estudantes. Isso se deve muito à
condição econômica, que propicia tal deslocamento.
Fonte: Migração e Deslocamento (IBGE, on-line)2.

Assim, dentro dessas três primeiras categorias apresentadas, é possível encon-


trar uma série de outros tipos de migração que ocorrem no espaço geográfico e
natural. Assim sendo, vamos a esses tipos:
■■ Migração Internacional: Esse é o principal tipo de Migração quando fala-
mos de Geografia Geral e/ou Mundial. Ela é caracterizada pela mudança
de territórios nacionais. Ocorre essencialmente de um país para o outro,
podendo caracterizar-se de duas formas:
■■ Imigração: Seu grande personagem é o chamado Imigrante (aquele que
migra), ou seja, é o indivíduo ou grupo de indivíduos que sai de determinado
território com o objetivo de se instalar em outro. É importante ressaltar que
o imigrante só pode ser assim considerado do ponto de vista de quem aco-

A MIGRAÇÃO PARA A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


135

lhe tal indivíduo, ou seja, um estrangeiro que vem morar no Brasil pode ser
considerado imigrante, porém não possui a mesma denominação para o ter-
ritório que antes o abrigava.
■■ Emigração: Ao contrário do que foi exposto acima, o Emigrante é aquele que
emigra, ou seja, é o indivíduo capaz de sair de determinado território para
sua instalação em outro. Neste caso, o emigrante só pode ser assim conside-
rado do ponto de vista do território do qual saiu. Ou seja, uma pessoa que
sai do Brasil, por exemplo, em busca de novas oportunidades em outros paí-
ses pode ser considerado pelo Brasil como um emigrante. Veja que, como foi
dito, ele pode ser visto como emigrante pelo ponto de vista brasileiro, não
pelo ponto de vista de quem o recebe. O país que receber tal indivíduo, con-
sequentemente, estará considerando-o um imigrante.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

■■ Migrações Internas: São aquelas que ocorrem dentro de um mesmo


território, ou seja, são caracterizadas pelo deslocamento de pessoas den-
tro do território de um mesmo país, diferentemente do que ocorre nas
Migrações Internacionais. Dentro das Migrações Internas temos uma
série de outros tipos, sendo eles:
■■ Migração Campo-Cidade: Também chamada de Êxodo Rural, esse tipo de
migração é caracterizada pela saída do homem do campo para sua fixação
no espaço urbano. Ela é considerada uma migração permanente e foi muito
característica do período de industrialização e modernização do campo, a
partir do momento em que a falta de capacitação dos proprietários rurais tor-
naram difícil a manutenção dos empregados no espaço rural. Dessa forma, o
homem do campo acaba saindo o espaço rural e se fixando permanentemente
no espaço urbano, caracterizando assim o inchado deste espaço.
■■ Migração Cidade-Campo: É considerado o deslocamento dos indivíduos
das cidades para o campo, muito característico após o período de inchaço
urbano. Nesse tipo de deslocamento, o indivíduo, devido principalmente aos
problemas urbanos gerados pela falta de infraestrutura necessária, procura
uma melhor condição de vida longe dos grandes centros urbanos já satura-
dos. Muito característica de classes mais abastadas, que se deslocam para áreas
periféricas a fim de uma maior “tranquilidade”.

Os Principais Tipos de Migração Trabalhados no Ensino Básico


136 UNIDADE IV

A Migração Cidade-Campo não é um tipo de deslocamento contemporâ-


neo. Ela já havia ocorrido no período medieval com as invasões dos povos
germânicos, que saqueavam cidades. Isso fez com que muitas pessoas fos-
sem procurar segurança nos campos. Hoje, esse tipo de migração também
possui o mesmo sentido. Na busca por “mais segurança”, pessoas estão dei-
xando as cidades e se mudando para zonas rurais, onde é possível viver nos
chamados condomínios horizontais fechados.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: o autor, baseado em Tombini e Saquet (2013).

■■ Migração Cidade-Cidade: Muito característica do período mais recente


no qual vivemos. Neste tipo de migração, o indivíduo busca se deslocar de
uma cidade para a outra de forma permanente, geralmente no intuito de
buscar novas oportunidades, mas principalmente com a ideia de buscar
mais tranquilidade em cidades menos movimentadas. É muito caracterís-
tico no Brasil o deslocamento de grandes cidades para cidades do interior.
O contrário também é plausível: o deslocamento de cidades do interior
em direção a cidades grandes, neste caso objetivando buscar novas opor-
tunidades financeiras.
■■ Migração Pendular: Esse tipo de migração é típico de cidades grandes.
Aqui o indivíduo se desloca diariamente para outra cidade no intuito,
principalmente, de trabalhar. Assim, todos os dias o migrante se deslo-
cada para seu trabalho, retornando à sua cidade de origem ao final do
dia. É esse tipo de migração que ajuda na criação das chamadas Cidades
Dormitórios, onde o indivíduo apenas retorna à cidade para “dormir”,
passando seu dia inteiro em outra.
■■ Migração Inter-regional: Esse tipo de migração é muito característico
aqui do Brasil. É a migração entre as mais diversas regiões que possuímos
em determinado território. Um dos exemplos mais clássicos é a migra-
ção no período industrial de migrantes da Região Nordeste para a Região
Sudeste do Brasil, no intuito de trabalhar nas grandes indústrias que se
instalavam nesta região durante tal período. Assim sendo, essa migra-
ção é caracterizada pela mudança de região em determinado território.

A MIGRAÇÃO PARA A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


137

Olhe Intel e Google, Yahoo e Bay. Todas essas grandes companhias estaduni-
denses que criaram inúmeros empregos e nos ajudaram a liderar o mundo
nas indústrias de alta tecnologia foram fundadas por um imigrante.
(Barack Obama).

■■ Migração Intrarregional: É caracterizada pela migração de indivíduos


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

dentro de uma mesma região, seja qual for o grau motivacional. Vimos
muito esse tipo de migração nos chamados “Ciclos Econômicos Brasileiros”.
A saída da região de São Vicente para o interior de Minas Gerais e a saída
do interior de Minas Gerais para as lavouras de café do Rio de Janeiro e
São Paulo são exemplos desse movimento. Observe que o exemplo dado é
caracterizado pelo deslocamento desses indivíduos dentro de uma mesma
região, no caso a Sudeste.
■■ Migração Sazonal: Ligada principalmente às estações do ano, caracteri-
za-se pela saída do indivíduo de seu território para outro em determinado
período do ano, em geral por causa de fatores naturais e econômicos. Um
exemplo desse fator natural é a saída do nordestino que mora no sertão e
parte do agreste em determinados períodos de seca em busca de melhores
condições climáticas. Nesse caso, existe um retorno do indivíduo após esse
período. Outro exemplo, são o dos chamados “boias-frias”, que trabalham
em períodos de colheita da soja e da cana-de-açúcar em outras regiões.

Podemos ainda caracterizar cada um desses tipos de migração da seguinte forma:


■■ Migração Espontânea: Quando o indivíduo, sozinho ou mesmo com
sua família, decide migrar por conta própria, seja ela nacional, interna-
cional, regional, etc. Neste caso, em nenhum momento o migrante será
forçado a sair de onde ele mora, o que o leva a migrar por seus próprios
motivos pessoais.
■■ Migração Forçada: Esse tipo de migração apresenta causas políticas,
religiosas ou mesmo naturais. Aqui, o indivíduo é forçado a sair de seu
lugar de residência devido a algum fator motivacional. Perseguições polí-
ticas e religiosas, por exemplo, podem ser formas de forçar a migração

Os Principais Tipos de Migração Trabalhados no Ensino Básico


138 UNIDADE IV

de determinado indivíduo. Desastres naturais, como o ocorrido em


Fukushima, no Japão, também são bons exemplos de formas forçadas de
migração. Os próprios negros que vieram da África para trabalhar como
escravos configuram um importante exemplo de migração forçada. Veja
que todos os exemplos nos mostram formas coercivas de fazer determi-
nado indivíduo a se deslocar no espaço.

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Na nova Era Técnico-Cientifico-Informacional teremos o que chamamos de


“Novas Migrações”, em geral caracterizadas pela ânsia de determinados indiví-
duos em melhorar suas condições de vida. São essas novas formas:
■■ Migrações Clandestinas: Caracterizadas pelo deslocamento de indiví-
duos entre territórios de países sem que haja um devido controle sobre
tal, ou seja, a “não residência legal” dos indivíduos que se locomovem
entre os espaços de dois ou mais Estados. É um dos conceitos mais con-
temporâneos, afinal, vivemos em uma época conhecida pelos grandes
deslocamentos populacionais. Para termos uma ideia, segundo estimativa
do Serviço Pastoral dos Migrantes (WORDPRESS, on-line)3, em 2008, no
Brasil, já eram 600 mil os imigrantes ilegais. De acordo com documento
divulgado pelo Centro de Pesquisa Pew (G1 MUNDO, 2013, on-line)4,
em meados de 2012 os imigrantes ilegais nos EUA eram de 11,7 milhões.
Vide os últimos eventos entre 2014 e 2015 dos refugiados políticos e reli-
giosos no oriente médio em direção à Europa. Informações do relatório
divulgado pela Frontex (RELATÓRIO GERAL, 2014, p. 39, on-line)5
apontam para um recorde de imigrantes ilegais em 2014 nos países que

A MIGRAÇÃO PARA A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


139

compõem a União Europeia. Segundo estimativas da agência, em 2014


teriam sido 140 mil imigrantes ilegais.
■■ Migrações Circulares: São caracterizadas pela sazonalidade de migra-
ção entre países diferentes, geralmente depois de se ter trabalhado ou
estudado em território diferente daquele no qual se vivia. São muito carac-
terísticas dessa nova globalização, onde o mundo passa a ser visto como
uma rede, onde existe maior troca de conhecimento e experiência entre
os povos mais modernos.

Vimos, portanto, os principais tipos de fluxos migratórios que são trabalhados


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com nossos alunos no Ensino Básico. Agora você é capaz de compreender os


principais tipos de movimentos migratórios e, principalmente, de exemplificar
e contextualizar por que determinado fenômeno ocorre.
Sabendo disso, iremos falar um pouco mais sobre os principais eventos migra-
tórios mundiais, e como mudaram a forma com que muitas cidades interagem
com o espaço, principalmente a partir do período de Revolução Industrial, pas-
sando pela Revolução Técnico-Científica.

Os conceitos elencados acima serão extremamen-


te importantes no exercício da sua profissão como
professor(a). Por isso, esse tópico foi pensado exata-
mente para tirar suas dúvidas.
Dessa forma, pensando em ajudá-lo(a) em sua didá-
tica e na forma de usar os recursos em sala de aula,
sugerimos o site do Banco Internacional de Objetos
Educacionais. Esse Banco possui um vasto repertó-
rio de objetos educacionais, como animações, simu-
lações, áudios, experimentos práticos, hipertextos, imagens, mapas, softwa-
res educacionais e vídeos, para todos os níveis de ensino e para todas as
disciplinas básicas praticadas, inclusive a Geografia. É um acervo vasto de
conteúdos que poderão ser explorados por você em sala de aula quando
vier a lecionar. Aproveite mais essa dica!

Os Principais Tipos de Migração Trabalhados no Ensino Básico


140 UNIDADE IV

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AS GRANDES MIGRAÇÕES MUNDIAIS

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Muitos são os textos que trabalham com a questão dos movimentos migratórios
mundiais. Fato é que você, aluno(a), quando vier a exercer sua profissão de pro-
fessor(a), deverá ter um mínimo conhecimento acerca do assunto, uma vez que
tais movimentos ajudaram a criar a sociedade na qual vivemos hoje.
Desde os tempos pré-históricos o homem tende a migrar entre regiões.
Mesmo nesse período, já havia grande predomínio de povos nômades, que são
aqueles povos que não fixavam território, ou seja, tinham uma constância de
mudança de seu habitat. Em sua maioria, esses movimentos estavam relacio-
nados à busca por alimentos, uma vez que ainda não tínhamos desenvolvido as
técnicas de agricultura disponíveis atualmente. Até hoje podemos encontrar esse
tipo de população, sendo mais característica em regiões da Ásia Central, Norte
da África e nas Regiões Glaciais.
Com a evolução da agricultura, a maior parte da população mundial pas-
sou de uma característica mais nômade, ligada à migração constante, para uma
população um tanto quanto sedentária. Esse tipo de mudança foi crucial no
desenvolvimento das cidades como as conhecemos hoje. É a partir desse perí-
odo que a migração deixa de ser forçada diretamente, uma vez que antes todos
eram obrigados a migrarem devido à escassez de comida.
Devemos relembrar nesse momento que vários são os motivos que levam
determinados grupos a se deslocarem, tais como política, economia, cultura,
religião, etc. Isso porque desde muito tempo as disputas políticas, culturais, étni-
cas e religiosas fizeram parte das chamadas “diásporas”, que nada mais são que
a dispersão de população pelo mundo, tendo como “pano de fundo” conflitos
entre nações e povos.

A MIGRAÇÃO PARA A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


141

No próprio século I d.C. a região na qual estão instalados o Estado de Israel e


a Palestina era habitada por diversos povos, sendo passada por diversos gover-
nos. Território que há séculos era habitado por judeus, foi subjugado ao Império
Romano em 63 a.C. como “território tributado”, ocasionando, no período de 70
d.C., a expulsão dos judeus de suas terras pelos romanos após um insurreição
contra o domínio de Roma. A partir de 1500, os judeus, que estavam espalha-
dos pelo mundo devido à primeira diáspora, viram-se em situação econômica
favorável por motivo da queda do sistema feudal e ascensão das categorias de
profissionais livres (como os vendedores). Nesse momento ainda havia muita
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discriminação na Europa para com os judeus, e muitos foram buscar refúgio


no seu antigo território, que agora era dominado pelo Império Turco-otomano.
Claro que os judeus eram grande minoria naquele momento, pois o território
já era dominado por muitos mulçumanos, e até cristãos. Em 1850 Jerusalém já
tinha quase metade de sua população de judeus, pois, alavancados pelo novo
sistema econômico mercantilista, saíram comprando terras e casas nessa região.
No final da Primeira Guerra, o Império Otomano entra em crise e acaba repar-
tido, sendo o então território da Palestina controlado pelos ingleses. A partir
desse momento, surge um grande embate entre grupos judáicos e mulçumanos
para a formalização dos territórios exclusivos desses povos. Contudo, apenas os
judeus conseguiram a formação de um território israelita nessa região, gerando
grande revolta entre os muçulmanos. Observe a importância do deslocamento
de judeus para a região da Palestina durante todos esses anos, pois sem ele não
seria possível a formação de um Estado próprio.

As Grandes Migrações Mundiais


142 UNIDADE IV

Há quanto tempo você vê nos telejornais, revistas, jornais, sites de notícias,


rádio, entre outros meios de comunicação, a “briga” entre judeus e pales-
tinos? Desde atentados até mortes, toda semana vê-se uma notícia sobre
esse assunto. Porém, você já parou para pensar se realmente entende o que
está acontecendo? Segundo a Bíblia, os judeus chegaram primeiro, porém,
com a diáspora de centena de anos, o território acabou sendo lentamente
ocupado por outras tribos.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: o autor, baseado em Sarmatz (SUPER INTERESSANTE, 2002, on-line)6.

Veja que, mesmo nos primeiro séculos do período depois de Cristo, já era pos-
sível identificar grandes movimentos populacionais pelo mundo, e por mais
que ainda não tivéssemos embasamento científico para compreendê-los, sabe-
mos que isso acarretou uma onda de distribuição do povo judeu pelo mundo.
O território veio a ser reconquistado pelos judeus assim que a Inglaterra expul-
sou o Império Turco, abrindo as portas para que os antigos habitantes voltassem.
O problema é que esta região havia sido dominada pelos mulçumanos durante
milhares de anos, o que gerou um conflito que dura até os dias de hoje nos ter-
ritórios de Israel e Palestina, formando uma rede de imigração de pessoas que
fogem dessas regiões.
Figura 5 - Monumento aos Descobrimentos em Lisboa, Portugal.
©shutterstock

A MIGRAÇÃO PARA A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


143

Não podemos nos esquecer do papel das Grandes Navegações e do desenvol-


vimento dos transportes nos séculos XV e XVI, que acarretaram uma onda
de imigração europeia para regiões recém-descobertas, como a América e a
Oceania. Tais migrações espontâneas surgidas na Europa em direção às novas
regiões mundiais foram prontamente acompanhadas da maior imigração forçada
já conhecida na história humana: a venda de escravos africanos para o trabalho
forçado em países da Europa, América e Oceania. Esse elemento histórico nos
mostra o quanto as Grandes Navegações foram importantes para a distribuição
da população mundial e, por que não, dos grandes deslocamentos populacio-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

nais pelo mundo.

Figura 6 – Escravos trazidos da África

©shutterstock

Esse movimento migratório mostrado acima é tão intenso que se perdurará por
mais dois séculos, passando pelo séc. XVIII e XIX, principalmente para con-
tinentes como América e Oceania. O próprio Japão, num período de recessão
econômica, acabou se transformando em um país cuja emigração era maior que
a imigração. O Brasil mesmo foi um dos países que mais receberam imigran-
tes japoneses. Porém, com a recuperação da economia japonesa, o país voltou a

As Grandes Migrações Mundiais


144 UNIDADE IV

figurar entre os que mais recebem imigrantes.


Não tão distante, podemos citar as duas grandes Guerras Mundiais que ocor-
reram no planeta. Essas foram também de suma importância para que houvesse
grande movimento de povoamento pelo mundo. Somente o fato de saírem da
zona de conflito, que se focalizava na Europa, tornava o indivíduo um imigrante.
Estima-se que em 1945, no final do período de Segunda Guerra Mundial, a Europa
estava tão assolada na crise gerada pela guerra que 40 milhões de europeus não
estavam vivendo em seus países de origem. Ou seja, esses eventos caracterizam
uma das maiores causas de imigração que já ocorreram na história. Os próprios

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alemães, derrotados na Segunda Guerra Mundial, foram expulsos de vários ter-
ritórios após o final do conflito, tais como os países do Leste Europeu que já se
alinhavam com os pensamentos políticos da antiga URSS.

Os imigrantes europeus deixaram seus países pelos mesmos motivos que os


refugiados de hoje. (DCM – o essencial)7.

Um exemplo notório das grandes migrações causadas pelo homem está no des-
membramento do Paquistão junto à Índia. Em 1947, o território da Índia era
tomado em parte por muçulmanos, que eram contrários ao hinduísmo, que é
uma religião predominante no local. Com o desmembramento do território do
Paquistão e a consequente formação de um Estado novo, muitos muçulmanos
saíram do território indiano em direção ao novo Estado muçulmano e, ao con-
trário, muitos hindus saíram do novo território criado em direção à Índia, de
maioria hindu.
Muito parecido com o que ocorreu com o território da Palestina, atual
território de Israel. Com a volta dos judeus após a conquista dos ingleses no
território palestino, começaram intensos conflitos entre judeus e muçulmanos
na região que hoje é de Israel. Calcula-se que só na década de 50 foram expul-
sos quase um milhão de palestinos de suas terras pelos judeus, o que criou uma

A MIGRAÇÃO PARA A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


145

onda de migração muçulmana para territórios da Cisjordânia, Palestina e para


Faixa de Gaza.

Você já procurou saber sobre o conflito entre judeus e palestinos? Já ouviu


falar do termo Faixa de Gaza? Sabe o que é isso? Onde se localiza? A Faixa de
Gaza é um pequeno território dominado pelos palestinos, literalmente “en-
cravado” em território judeu. Nesse ambiente frequentemente hostil, temos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ataques sendo realizados tanto pelos palestinos como pelos judeus.


Fonte: o autor, baseado em G1 Mundo (2014, on-line)8.

A própria Globalização é um fator relevante no aumento das migrações mundiais.


Na medida em que o mundo se conecta mais, a tendência é a maior facilidade
das pessoas em conseguirem realizar migrações de vários tipos, o que faz aumen-
tar ainda mais as tipificações existentes. Além disso, cada vez mais o Padrão
Migratório fica mais complexo, devido ao aumento da difusão de informações
acerca da política, da economia, e da soberania dos países.
Vimos, portanto, as principais ondas migratórias mundiais que ocorreram
na história do homem. Observe que existe sempre um motivo que circunda tal
movimentação, sendo em sua maioria motivos religiosos, culturais e econômi-
cos. Vale ressaltar que tais movimentos ainda podem ocorrer ou estão ocorrendo,
devido a uma série de conflitos inerentes à forma de pensamento desses povos.
Sem tais migrações, provavelmente os países não teriam tanta diversidade como
vemos hoje, principalmente os países que foram descobertos no período das
Grandes Navegações, que acabaram tendo sua população formada através de
uma miscigenação de culturas, como é o caso do Brasil.
No próximo tópico iremos falar um pouco mais dos movimentos migrató-
rios advindos da Europa, um dos principais locais fornecedores e receptores de
migração.

As Grandes Migrações Mundiais


146 UNIDADE IV

AS MIGRAÇÕES EUROPEIAS

É importante dar destaque para a Europa no contexto das migrações, pelo fato
desse continente ser o grande “fornecedor de imigrantes” durante boa parte da
história humana. É desse continente que parte boa parcela da população que
imigra e emigra, ajudando na formação de grande parcela do sistema no qual
vivemos hoje.
Muito disso se dá entre o século XIV e
XVIII, num período caracterizado pela desco-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
berta de novos continentes. América e Oceania
foram os grandes exemplos, pois foram total-
mente formados, na concepção de como
conhecemos hoje, por meio da migração de
indivíduos europeus. Claro que boa parte da
cultura formada nesses países encontrará san-
gue africano e asiático, contudo, foi o ímpeto
europeu e seu dom de deslocamento que aju-
dou na formação e na configuração do território que temos hoje. Destaque para
Portugal e Espanha, que prontamente ocuparam terras na África e América, aju-
dando na formação da Nova Espanha (futuro México), América Central, Andina
e Platina, além, é claro, do Brasil.

O Brasil moderno foi construído pelo sofrimento e labor dos povos imigran-
tes. Pouco devemos aos brasileiros.
(Walmir Celso Koope).

Tal deslocamento foi capaz de, praticamente, ocupar as principais regiões desse
continente no qual vivemos.
Já os ingleses ocuparam menos terras, contudo sua organização ajudou na
criação de países que com o tempo se tornaram economias desenvolvidas. Seu

A MIGRAÇÃO PARA A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


147

modelo de colonização gerou sociedades extremamente orgulhosas de suas ban-


deiras, e consequentemente emergiram sociedades menos desiguais. Os ingleses
ocuparam a América do Norte, onde fundaram as chamadas Treze Colônias,
que vieram depois dar origem aos Estados Unidos da América. Mais tarde, a
migração inglesa ajudou a colonizar também, no séc. XVIII, a Austrália e a Nova
Zelândia, que também acabaram por absorver o modelo inglês, tornando-se paí-
ses desenvolvidos.
Para termos uma noção da importância das grandes migrações europeias
durante a história, lembremos o Congresso de Berlim realizado em 1878, onde,
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devido a uma série de disputas, sete grandes nações europeias literalmente repar-
tiram territórios na Ásia, e principalmente na África, moldando o espaço do
continente. Se compararmos as fronteiras atuais da África com o mapa etno-
lógico criado por Murdock (1953), veremos que existe uma infinidade muito
maior de povos (ou mesmo nações) do que Estados. Devido à repartição reali-
zada na África, muitas etnias acabaram sendo subjugadas a um mesmo Estado,
mesmo sendo povos totalmente contrários a uma série de opiniões. Essa repar-
tição, e consequentemente a migração dos europeus para o continente africano,
causou sérios problemas históricos naquele lugar, tais como os conflitos étni-
cos que lá temos hoje, reflexo desse deslocamento europeu rumo às novas terras
“descobertas”.

As Grandes Migrações Mundiais


148 UNIDADE IV

Figura 7 - Mapa político da África e Mapa étnico de Murdock (1953).

Mapa Político da África após a repartição entre os países realizada no Congresso


de Berlim em 1878.

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A MIGRAÇÃO PARA A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


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Mapa anexo do livro “Africa: its peoples and their culture history” de Murdock,
1953. (divisão por etnia).
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Fonte: o autor, baseado em Murdock (1953).

As Grandes Migrações Mundiais


150 UNIDADE IV

Além, é claro, dos grandes deslocamentos europeus nos períodos de Primeira


e Segunda Guerra Mundial. Contudo, passado esses períodos, a Europa passou
a diminuir a intensidade de seus fluxos migratórios rumo aos demais países do
mundo, passando de um continente de emigrantes para um continente de imi-
grantes. Ou seja, passou a receber grande gama de migrantes do mundo todo,
que passaram a ver o continente como uma oportunidade de melhoria de vida.
Para termos uma ideia do tamanho dos deslocamentos rumo aos principais paí-
ses da Europa, mesmo os países que compõe o grupo da União Europeia (Bloco
econômico europeu formado pelas principais economias do continente) ainda

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possuem restrições quanto à circulação de mão de obra e pessoas, devido à dife-
rença socioeconômica que os países que integram o grupo possuem.

Sobre as migrações atuais na Europa e a onda xenofóbica que assola sua


sociedade, vemos que há um crescimento de grupos chamados de ultra-
nacionalista. Esses grupos costumam ser hostis com imigrantes vindos de
regiões mais pobres do planeta, buscando como justificativa o fato de es-
tarem protegendo o país da disseminação de mazelas. A esses casos damos
o nome de xenofobia, que tem se tornado pauta nas agências nacionais no
intuito de coibir a disseminação desse tipo de pensamento.
Fonte: o autor, baseado em de Paula (REVISTA GEOGRAFIA, on-line)9.

Para entendermos melhor, vamos a um pequeno resgate histórico e conceitual. A


União Europeia é considerada o bloco econômico mais avançado do mundo, pois
seu patamar de desenvolvimento já chega aos níveis de uma “União Monetária”.
Para chegarmos a esse nível, é necessária uma série de qualificações, dentre elas a
livre circulação de pessoas, bens e serviços entre os países que integram o bloco.
O problema é que, dos vinte e oito países que integram o bloco, apenas quinze
possuem real destaque na economia mundial. Os demais são, em sua maioria,
países ex-socialistas, que estão ainda procurando se adequar ao sistema capita-
lista. Por essa razão, muitos trabalhadores desses países ex-socialistas sonham

A MIGRAÇÃO PARA A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


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em migrar para os de ponta da União Europeia. Porém, o medo de começar uma


onda de migração de mão de obra em direção aos países mais bem destacados
acabou gerando uma restrição no bloco.
A regra sobre o deslocamento de pessoas entre esses países não vale para
os novos membros, conhecidos por serem países que ainda estão se adaptando
ao sistema capitalista. Ou seja, apenas pode haver circulação de pessoas entre a
chamada “Europa dos quinze”.

O princípio da Livre Circulação de Mão de Obra na União Europeia tem


como base a livre circulação de pessoas como trabalhadores entre os países
que compõem a União Europeia. Contudo, devemos destacar que, apesar
de haver livre circulação de mão de obra entre os países membros, apenas
15 deles de fato usufruem dessa medida. Os outros 13 que compõem o blo-
co, por serem menos desenvolvidos economicamente, sofrem restrições
quanto a essa medida. Há um medo do aumento do desemprego em países
mais desenvolvidos do bloco caso seja aberto esse tipo de procedimento.
Fonte: o autor, baseado em Guimarães (ÂMBITO JURÍDICO, on-line)10.

As Grandes Migrações Mundiais


152 UNIDADE IV

Figura 8 - Mapa da Região de Ceuta no Marrocos

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Observe os casos recentes de migração de países da África e Oriente Médio em


direção à Europa. Isso não é de hoje, pois em 1998 a União Europeia já havia
reclamado à Espanha para que construísse um muro protetivo em Ceuta, uma de
suas possessões na África. A proximidade de Ceuta com o Estreito de Gibraltar
é grande, tendo trecho de apenas 13 km de distância entre a África e a Europa.
Vide os últimos casos referentes ao povo sírio, que vem sendo assolado por
uma guerra civil de, no mínimo, quatro anos. Há muito tempo esse povo vem
migrando para várias partes do mundo, mas principalmente a Europa. O pró-
prio Brasil vem recebendo muitos refugiados, tanto da Síria como do Haiti, que
também vem sofrendo com mazelas.
Veja que as grandes migrações mundiais, de uma forma ou outra, sempre
tendem a envolver o continente europeu, um dos mais importantes da histó-
ria mundial e que com certeza ajudou na formação de muitas nações e Estados.
Vamos agora falar um pouco mais sobre as migrações, ocorridas principalmente
no norte do continente americano, mais especificamente nos Estados Unidos.

A MIGRAÇÃO PARA A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


153

Ao se iniciar o ano de 2012, os noticiários brasileiros alertaram para uma su-


posta “invasão” de haitianos atravessando a fronteira norte do país. O Brasil
passou a se caracterizar mais nitidamente como destino desses migrantes a
partir do terremoto que acometeu o Haiti no início de 2010, e do qual o país
ainda não apresenta sinais claros de recuperação. O discurso da política ex-
terna brasileira insiste em frisar o papel protagonista e solidário que o país
vem desempenhando no Haiti ao liderar a MINUSTAH. No entanto, frente ao
incremento migratório verificado no início do ano de 2012, o governo op-
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tou por uma restrição na concessão de vistos, além de tomar medidas pelo
reforço da segurança na fronteira norte. A presente pesquisa busca formular
uma análise qualitativa desse fluxo migratório, frisando sua difícil definição
legal e fornecendo um exame da postura adotada pelo governo brasileiro
diante desse deslocamento rumo a suas fronteiras.
Fonte: Thomaz (2013, p. 131).

AS MIGRAÇÕES ESTADUNIDENSES

Várias foram as formas pelas quais os povos migrantes tentaram entrar nos
Estados Unidos. Na verdade, há muitos anos os EUA enfrentam esse “problema”
com relação à imigração, principalmente a imigração ilegal.
Desde o período colonial, os EUA são vistos como o “Eldorado” para todos.
De 1930 a 1940 o fluxo foi imenso, principalmente de europeus que vinham com
a promessa de vida melhor e novas oportunidades.
Um curto período de calmaria na imigração rumo aos Estados Unidos ocorreu
no período pós Segunda Guerra Mundial, pois, incentivados pelo Plano Marshall
dos EUA, que tinha como objetivo conter o avanço do socialismo, a Europa con-
seguiu se reerguer, voltando a ser um local onde seus habitantes viviam bem, o
que consequentemente fez diminuir o fluxo de europeus para os EUA.

As Grandes Migrações Mundiais


154 UNIDADE IV

Figura 9 - Protesto de descendentes de mexicanos por direitos iguais em solo estadunidense

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Todavia, os EUA sempre foram um país caracterizado por receber muitos imi-
grantes latinos, principalmente de países colonizados pela Espanha, como, por
exemplo, o México. A onda de mexicanos tentando atravessar ilegalmente a fron-
teira entre esses dois países era tão grande que o governo dos EUA montou um
verdadeiro aparato de guerra contra tais imigrantes. Desde então, esse tem sido
um tema recorrente nas agendas políticas dos governantes dos Estados Unidos,
pois o fluxo migratório pode ser algo que muda o espaço, trazendo pontos posi-
tivos e negativos. Positivos no sentido dos mexicanos fazerem boa parte do
serviço que muitos americanos se recusam a fazer, e negativo, pois muitos des-
ses imigrantes acabam sendo explorados, principalmente por fazendeiros que os
ameaçam, de forma que ou o clandestino aceita sua condições ou será deportado.
A imigração é tema tão importante nos Estados Unidos que a partir dos
atentados de 11 de setembro de 2001, quando dois aviões se chocaram contra
os prédios do World Trade Center em Nova York, as regras de migração no país
mudaram completamente. Desde então existe uma grande dificuldade de se con-
seguir um visto para entrada em território norte-americano, principalmente para
pessoas que possuem ascendência muçulmana. Os próprios habitantes mulçu-
manos que viviam nos Estados Unidos nesse período passaram a viver em um
ambiente de terror, sendo vistos pela sociedade norte-americana como inimigos.

A MIGRAÇÃO PARA A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


155

Figura 10 – Momento da colisão das aeronaves comerciais no World Trend Center em Nova Iorque, em
setembro de 2001
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

©shutterstock

Agora, o caso de Cuba é o mais curioso. Na década de 80, período pelo qual
Cuba era financiada pela antiga URSS, os Estados Unidos tinham como principal
adversário político na América o então presidente de Cuba, Fidel Castro. Nesse
período, os Estados Unidos faziam de tudo para tentar manter uma campanha
negativa em relação à ilha, tanto que recebia refugiados no Estado da Flórida
como se fossem “troféus”, tratando-os como exilados políticos.

A imigração ilegal estadunidense chegou à marca de 11,7 milhões de imi-


grantes em 2012. Isso é uma leve alta se comparado ao último estudo que
aponta 11,3 milhões em 2009. Apesar da recessão econômica entre o pe-
ríodo de 2007 e 2009 e a aparente redução nesse período, os números de
imigrantes ilegais mais uma vez volta a aumentar, e a preferência de estados
a serem habitados continua a ser pelos do sudeste, localizados próximo à
fronteira com o México e América Central.
Fonte: o autor, baseado em Revista Exame (2013, on-line)11.

As Grandes Migrações Mundiais


156 UNIDADE IV

©shutterstock

Apesar de Fidel Castro dizer que não havia presos políticos no país, os Estados
Unidos fizeram uma convocação para os cubanos que tivessem sendo perseguidos

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pelo Regime de Fidel para que fossem para a Flórida que seriam bem recebidos.
Uma clara tentativa de propaganda negativa. Assim posto, Fidel ordenou que
fossem enviados todos os presos do país para os Estados Unidos, independen-
temente do crime cometido.
Ao ver o erro cometido, os Estados Unidos não puderam voltar atrás, pois
seria uma propaganda negativa, e assim receberam por volta da década de 80
muitos imigrantes cubanos condenados por crimes em seu país. Desde então,
a regra para imigrantes cubanos é a seguinte: alimentá-los, medicá-los e man-
dá-los de volta.
Fato é que, desde o fim da URSS, Cuba vem passando por uma grave crise
financeira, a qual acaba afetando vários setores da economia da ilha. Desde então,
muitos cubanos tentam atravessar de balsa, barcos, botes, etc., para chegarem
aos Estados Unidos, principalmente nos últimos anos correntes, devido à rea-
proximação econômica entre Estados Unidos e Cuba.

Os últimos anos foram históricos para a política e o alinhamento dos inte-


resses mundiais. Os EUA, sobre o comando de Barack Obama, e Cuba, sobre
o comando de Raul Castro, finalmente reestabeleceram parte de suas rela-
ções, e consequentemente em um futuro próximo poderemos ver o fim do
embargo econômico sobre a maior ilha do Caribe. A notícia do reestabele-
cimento das relações fez com que a imigração cubana em direção aos EUA
disparasse, número 78% maior que no ano anterior.
Fonte: o autor, baseado em G1 Mundo (2015, on-line)12.

A MIGRAÇÃO PARA A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


157

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos a importância da migração para os estudos relacionados à Geografia da


População, principalmente quando vamos abordar o tema dos deslocamentos
humanos. Vimos também que o entendimento do padrão migratório deve levar
em conta o tempo, o espaço e as etapas de cada migração estudada, observando
qual a principal motivação dos indivíduos migrantes. Outro fator é que, além
do Padrão Migratório, podemos elaborar estudos que nos mostrem os Tipos de
Fluxos existentes e quais suas direções, dando neste sentido menor importância
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ao processo histórico e motivacional.


Fato é que as migrações vêm aumentando cada vez mais a partir do século
XX, principalmente com o advento da Globalização, que facilitou e barateou o
transporte, além, é claro, de possibilitar maior acesso à informática, diminuindo
distâncias culturais. Não podemos esquecer que os principais destinos ainda
são os países mais ricos do mundo, devido à principal motivação que encontra-
mos nos migrantes: a necessidade de melhoria econômica. Dessa forma, nada
mais justo que os principais destinos serem os Estados Unidos e, em segundo
lugar, a Europa.
Importante ressaltar nesse momento as redes de ajuda às diásporas, que são
grupos que fornecem abrigo, comida e trabalho para os migrantes que dese-
jam chegar a seus países, como, por exemplo, os argelinos que são recebidos em
grande número na França e os gregos que conseguem espaço principalmente
na Alemanha. Para termos uma ideia da importância da imigração na forma-
ção dos espaços geográficos mundiais, as remessas financeiras feitas por esses
imigrantes para seus países de origem superam números econômicos de várias
nacionalidades. No México, por exemplo, especula-se que essas remessas só não
sejam mais “fortes” em fonte de receita que o petróleo do país.
Lembre-se que as migrações são constantes no mundo, e não são estáticas, ou
seja, possuem sua própria dinâmica e estão a todo o momento interagindo com
o espaço. Cabe a nós, geógrafos, ficarmos atentos e observarmos seus padrões.

Considerações Finais
158

1. A respeito da diferença entre um estudo de tipos de fluxos migratórios e um estu-


do sobre os padrões migratórios, explique qual o motivo de se exigir um estudo
mais amplo abarcando todo o padrão migratório.

2. Sobre os tipos de Migração existentes, diferencie Migração Permanente e Mi-


gração Temporária, exemplificando cada um com exemplos.

3. Explique qual a relação existente entre as migrações ilegais contemporâneas para


os EUA e sua política de controle de imigrantes.

4. Segundo os tipos de migração trabalhados nesta unidade, marque a alternativa


que corresponde à Migração Sazonal e à Migração Pendular, respectivamente:
a) Migração com intuito político; Migração com intuito de fugir de períodos secos.
b) Migração de um país para o outro; Migração interna ao território.
c) Migração durante um período de estiagem; Migração rotineira, com saída e retor-
no ao final do dia.
d) Migração do campo para a cidade; Migração da cidade para o campo.
e) Migração cidade para cidade; Migração para outro país.

5. Nesta unidade nos aproximamos mais do conceito de imigração. Assim, foi possí-
vel ver uma série de tipos de imigração que surgiram a partir do momento em que
as ciências passaram a trabalhar com o tema. Para tanto, é necessário conhecer o
básico disso tudo. Sabendo disso, explique a diferença entre imigração e emigra-
ção, e em seguida descreva quais são os dois tipos básicos de migração.
159

MIGRAÇÃO HAITIANA PARA O BRASIL PÓS-TERREMOTO: INDEFINIÇÃO


NORMATIVA E IMPLICAÇÕES POLÍTICAS

As palavras “miséria”, “diáspora” e “instabilidade” costumam se repetir nas narrativas vei-


culadas sobre a história e a realidade do Haiti. Tendo sido uma nação pioneira na obten-
ção da independência e na abolição da escravidão, o país e a população são, no entanto,
lembrados atualmente na agenda internacional como incapazes de se recuperar e de-
senvolver, passadas décadas de crises políticas e pobreza, acompanhadas de interven-
ções externas e ajuda internacional. O terremoto de alta magnitude que acometeu o
país em janeiro de 2010 reforçou, em grande medida, essa imagem infortuna do país ao
provocar mais de 200.000 mortes e levar cerca de 1.6 milhão de pessoas a se deslocarem
e perderem suas habitações. A resposta internacional que se seguiu imediatamente ao
desastre foi marcada pela tônica da solidariedade, o que se exemplifica nas promessas
de ajuda somando cerca de 10 bilhões de dólares em uma conferência de doadores
organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU). O espetáculo do sofrimento
haitiano desencadeou uma demonstração internacional de socorro e, empregando a
formulação proposta por Fassin, esse panorama moral pode ser considerado como o
próprio conceito do humanitarismo (Fassin, 2012). Entretanto, apesar dos discursos pú-
blicos e das ações que buscavam aliviar o sofrimento da população haitiana e contribuir
para a reconstrução do país devastado, uma postura menos generosa foi geralmente
adotada para com os haitianos que atravessaram fronteiras internacionais em busca de
segurança e sobrevivência. Dois exemplos que se destacam, nesse sentido, correspon-
dem às atitudes assumidas pelos Estados Unidos e pela França. No caso do primeiro,
apesar de se constituir no principal provedor de ajuda ao Haiti após o terremoto, ele
não aceitou os migrantes forçados que se seguiram ao desastre em seu território com
base no argumento de que eles não correspondiam à definição de refugiado presente
na lei estadunidense. No caso do segundo, também um doador de destaque, a postura
foi bastante próxima, chegando a providenciar o fechamento das fronteiras da Guiana
Francesa – um de seus departamentos ultramarinos na América Latina – de modo a ini-
bir o que é considerada uma rota ilegal em direção a suas fronteiras europeias.
Fonte: Thomaz (2013, p. 131-132).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Fronteiras e Diversidades Culturais


Tânia Barros Maciel; Maria Inácia DÁvilla Neto; Regina Gloria
Andrade
Editora: FAPERJ, 2012.
Sinopse: Neste livro, os autores realizam uma coletânea de artigos que tratam das dinâmicas
populacionais e das fronteiras no século XXI. A partir de textos escritos por diversos autores, você será
capaz de compreender como existe uma grande mudança no espaço geográfico dos territórios que
recebem os povos migrantes desse século. Uma leitura muito importante para compreendermos o
tema na atualidade.

A Migração Digital
Lorenzo Vilches
Editora: Edições Loyola, 2003
Sinopse: Como o próprio nome já diz, este livro trabalhará com
a questão da imigração e emigração na nova era digital, ou como
comumente dizemos, na era da Globalização. Por meio de análises, o autor busca evidenciar como
as formas de migração mudaram com o advento da informática. Um livro muito interessante e
contemporâneo que trabalha com o tema.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Imigração na União Europeia


Suzana de Souza Lima Velasco
Editora: EDUEPB, 2014.
Sinopse: A Série Prêmio ABRI publica os trabalhos laureados
no Concurso Nacional ABRI de Dissertações e Teses em Relações Internacionais. Esses trabalhos
são produzidos em Programas de Pós-Graduação em Relações Internacionais em funcionamento
no Brasil, que indicam os seus concorrentes. A Série é uma expressão do grande dinamismo que
caracteriza a área no país com o crescimento do número de centros de pesquisa e de formação de
excelência, e a ampliação da reflexão de alto nível sobre os temas da realidade internacional, em
diferentes perspectivas epistemológicas.

Um dia sem Mexicanos


A Califórnia está em estado de choque: da noite para o dia, um
terço de sua população simplesmente sumiu. Todos os 14 milhões
de desaparecidos têm em comum as raízes hispânicas: são
policiais, médicos, operários e babás que garantiam o bem-estar
da população branca. Enquanto autoridades procuram explicações
para o caso - abdução alienígena, terrorismo biológico, causas
sobrenaturais - os californianos começam a perceber a importância dos antes desvalorizados
chicanos.

Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR

Scarface
Um criminoso cubano exilado (Al Pacino) vai para Miami
e em pouco tempo está trabalhando para um chefão
das drogas. Sua ascensão na quadrilha é meteórica, mas
quando ele começa a sentir interesse na amante do chefe
(Michelle Pfeiffer) este manda matá-lo. No entanto ele
escapa do atentado, mata o mandante do crime, fica com
a amante dele - mas simultaneamente sente desejos incestuosos por sua irmã (Mary Elizabeth
Mastrantonio) - e assume o controle da quadrilha. Em pouco tempo ele ganha mais dinheiro do
que jamais sonhou. No entanto ele está na mira dos agentes federais, que o pegam quando está
“trocando” dinheiro. Mas seu problema pode ser resolvido se ele fizer um “serviço” em Nova York
para um grande traficante e pessoas influentes, que podem manipular o poder para ajudá-lo.
Porém, a missão toma um rumo inesperado quando, para concretizá-la, ele precisa matar crianças.
Um filme que retrata a migração cubana para os EUA em tempos de Guerra Fria. Um clássico do
cinema mundial.
163
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS

BACCI, L. M. Historia de la Poblacion Europea. Barcelona: Crítica, 1999.


BRAUDEL, F. Civilização Material, Economia e Capitalismo, Séculos XV ao XVIII.
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VELASCO, S. de S. L. A Imigração na União Europeia: uma leitura crítica a partir
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7 Em: <http://www.diariodocentrodomundo.com.br/os-imigrantes-europeus-dei-
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8 Em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/07/g1-explica-o-que-e-faixa-de-
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9 Em: <http://geografia.uol.com.br/geografia/mapas-demografia/42/xenofobia-na-
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10 Em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitu-
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11 Em: <http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/numero-de-imigrantes-ilegais-
-nos-eua-chega-a-11-7-milhoes>. Acesso em: 21 de jun. de 2016.
12 Em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/10/imigracao-cubana-dispara-
-nos-eua-apos-restabelecimento-de-relacoes.html>. Acesso em: 21 de jun. de 2016.
165
GABARITO

1 – O estudo apenas quantitativo da migração, na realidade, apenas está descre-


vendo e não relatando e analisando o fato migratório. Quando se exige um estudo
do Padrão Migratório, estamos falando num estudo que irá abordar o processo de
migração, a quantificação, o espaço e o tempo, por meio de um resgate histórico do
“problema”. Dessa forma, é possível entender melhor os reais motivos que levaram
determinada população a migrar.
2 - Quando o indivíduo se deslocada no espaço com intuito de se instalar definiti-
vamente em outro território. Neste caso, dificilmente haverá volta do migrante, fa-
zendo da migração um movimento permanente. Quando o indivíduo se deslocada
no espaço e existe uma corrente de retorno após determinado período. É muito ca-
racterizado pelos trabalhadores que se locomovem para outras cidades a trabalho,
e em seguida retornam. A Migração Permanente pode ser relacionada, por exemplo,
à migração dos nordestinos para a Região Sudeste na década de 90. A Migração
Temporária pode ser relacionada, por exemplo, com a migração dos boias frias em
período de safra.
3 – Os EUA sempre foram um país caracterizado por receber muitos imigrantes lati-
nos, principalmente de países colonizados pela Espanha, como, por exemplo, o Mé-
xico. A onda de mexicanos tentando atravessar ilegalmente a fronteira entre esses
dois países era tão grande que o governo dos EUA montou um verdadeiro aparato
de guerra contra esses imigrantes. Desde então esse tem sido um tema recorrente
nas agendas políticas dos governantes dos Estados Unidos, pois o fluxo migrató-
rio pode ser algo que muda o espaço. Dessa forma, o governo procura controlar
esse fluxo por meio de barreiras, muros, soldados, drones, entre outros aparatos que
mais parecem parte de uma zona de conflito. Suas fronteiras passaram a ser vigiadas
como uma zona de guerra.
4 – D.
5 – Imigração é basicamente a chegada de estrangeiros em território que é con-
siderado estrangeiro. Já a emigração é basicamente o contrário, ou seja, é à saída
da população nativa rumo a outros países. Portanto, esse conceito depende muito
de quem o analisa, pois uma pessoa que sai do Brasil é considerada emigrante, en-
quanto, no país que a recebe, essa pessoa será considerada imigrante. A respeito
das duas formas básicas de imigração, podemos dizer que existem: a Migração Per-
manente, na qual o individuo se desloca definitivamente para outros territórios, e
a migração temporária, na qual o individuo migra, com expectativa de uma volta a
seu ponto de origem depois de determinado período.
Professor Me. Hugo Santana Casteletto

A CARACTERIZAÇÃO DA

V
UNIDADE
POPULAÇÃO BRASILEIRA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Identificar as principais características populacionais do Brasil nos
últimos anos.
■■ Compreender como as migrações de povos estrangeiros ajudaram na
formação da população e da cultura do Brasil.
■■ Apresentar a atual estrutura populacional do Brasil, atentando para
as principais mudanças na Pirâmide Etária Brasileira.
■■ Apresentar em que passo o Brasil está em relação à Teoria da
Transição Demográfica.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A Formação da População Brasileira
■■ Principais Povos que Migraram para o Brasil
■■ A Estrutura da População Brasileira
■■ O Processo de Transição Demográfica Brasileira.
169

INTRODUÇÃO

Neste momento já possuímos conhecimento suficiente para compreendermos


todos os conceitos e processos que ajudaram na formação da população mun-
dial. Assim, é possível mensurar que muitas mudanças ocorreram na forma como
as civilizações cresceram e se constituíram, principalmente com o advento da 1ª
Revolução Industrial e com a ampliação do sistema urbano.
De modo geral, países da Europa tiveram um processo de formação indus-
trial muito mais antigo do que países subdesenvolvidos. Pode parecer que não
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

há relação entre indústria e formação da população, porém é fato que, com o


advento da indústria, o contexto urbano até então vigente se modifica comple-
tamente à medida que as indústrias necessitam de empregados para trabalhar
nas fábricas. Como consequência, teremos um aumento da população mundial
e um aumento da distribuição irregular dessas pessoas.
Partindo desse pressuposto, veremos que, enquanto países da Europa já apre-
sentavam elevadas taxas de urbanização e um elevado acesso das populações
a bens e serviços de qualidade, países subdesenvolvidos, como o Brasil, ainda
estavam caracterizados pela formação de uma estrutura social agrária, pouco
industrial e pouco urbanizada. Como consequência, tivemos uma grande dife-
rença entre a urbanização e a constituição da população na Europa e no Brasil.
Desta forma, as políticas públicas que foram primordiais para a constituição da
sociedade europeia, no caso brasileiro, não acompanharam essa mudança do
rural para o urbano, o que acarretou graves problemas sociais e urbanos, prin-
cipalmente pela disputa de espaço.
Assim, é necessário mostrar como a população brasileira se constituiu, na
medida em que o processo de formação desse povo foi muito diferente do ocor-
rido mundialmente. Além disso, é fato que, quando professor(a), você, caro(a)
aluno(a), irá trabalhar a Geografia da População principalmente por meio do
contexto brasileiro.
Sendo assim, vamos nos aprofundar nesse momento da formação da popu-
lação brasileira durante seus anos de história, e por fim caracterizar essa mesma
população no contexto atual. Vamos nessa!

Introdução
170 UNIDADE V

A FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO DO BRASIL

Até os anos de 1500 d.C. a região onde hoje se constitui o Brasil não havia rece-
bido qualquer tipo de imigração. Nesse período, o Brasil possuía apenas povos
nativos, caracterizados pelos chamados Índios. Estima-se que vivam cerca de 5
milhões de indígenas apenas em território brasileiro, em sua maioria formados
pelos povos Jês, Tupi e Guaranis. Apesar da imprecisão e da falta de confiabili-
dade nos dados, Darcy Ribeiro (1995) tenta justificar as divergências a respeito
do número de índios que aqui viviam antes dos colonizadores chegarem:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Havia, tanto do lado português como do espanhol, uma tendência evi-
dente dos estudiosos para minimizar a população indígena original.
Seja por crer que houvesse exagero nas fontes primárias dos cronis-
tas, que efetivamente viram os índios com seus próprios olhos, o que
era um absurdo. Seja pela tendência prevalecente por muito tempo – e
ainda hoje perceptível – de dignificar o papel dos conquistadores e co-
lonizadores, ocultando o peso do seu impacto genocida [...] (RIBEIRO,
1995, p. 141-142).

Os Tupis e os Guaranis eram os maiores povos que viviam em terras brasilei-


ras antes da chegada dos portugueses. Eles ocupavam boa parte do interior
do Brasil, e apesar de haver diferenças linguísticas entre as diversas tribos
que viviam aqui, calcula-se que mais da metade dos habitantes brasileiros,
até então, possuíam descendência de pelo menos uma dessas duas tribos.
Isso se deve principalmente pela raiz linguística que esses povos carrega-
vam. Estudos indicam que tais povos surgem no período de 500 anos a.C.,
no chamado baixo amazonas, e logo teriam se espalhado pelo Rio Tocantins,
até chegarem nas regiões de cerrado.
Fonte: o autor, baseado em Historia est vitae (2014, on-line)1.

Calcula-se que, nos dias atuais, cerca de 200 mil índios vivem no Brasil, ou seja,
apenas 4% da população original indígena sobreviveu ao holocausto realizado
pelos europeus em terras brasileiras. Isso é decorrente do forte genocídio pregado

A CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA


171

pelos colonizadores contra os povos que aqui viviam antes de sua chegada. Hoje,
a maior parte dos índios se restringe à Região Norte e Centro-Oeste brasileira,
onde ainda correm risco devido à disputa por territórios entre eles, madeireiros
e pecuaristas. (GUIMARÃES, 2015, on-line)2.

Figura 1 - Índios brasileiros


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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Existe uma tendência de esse número ficar ainda mais baixo, não devido às dis-
putas territoriais e armadas entre o “homem branco” e o índio, mas pelo fato
dessas populações terem se adaptado à cultura difundida pelos índios, gerando
uma miscigenação ainda maior entre índios, brancos, negros e asiáticos. Vide
casos dos chamados Mamelucos e Cafuzos, que são em parte indígenas, contudo
são classificados, de acordo com os órgãos de pesquisa, como mulatos ou par-
dos. Como conclusão, podemos dizer que existe uma tendência desse número
de indígenas cair ainda mais, na medida em que o índio se adapta e se torna per-
meável a uma nova cultura produzida.
Isso fica bem claro na passagem de Josuel Ribeiro (2012) em seu artigo que
trabalha sobre a formação do povo brasileiro. Ao tentar justificar a miscigenação
Ribeiro (2012) acaba nos trazendo os mais diversos tipos de misturas advindas
da relação entre as várias raças que compuseram o Brasil:
[...] foram criadas três categoriais para definir o ‘fruto’ das relações en-
tre brancos, negros e índios, sendo o mameluco a descendência do ín-
dio(a) com o branco(a), em que nos primeiros tempos, geralmente, era
a índia com o branco por meio de relações sexuais forçadas; o cafuzo
que é relativo a descendência do negro(a) com o índio(a) e por fim o
mulato que é relativo a descendência do negro(a) com o branco(a) sen-

A Formação da População do Brasil


172 UNIDADE V

do que no início de nossa colonização a ‘regra’ era que os mulatos eram


filhos bastardos de senhores escravistas brancos. (RIBEIRO, 2012, p. 5).

Podemos dizer também que “brasileiros nativos” são apenas os índios. O res-
tante da população do Brasil basicamente é formado pelas várias imigrações que
ocorreram na história do país (migração forçada ou não). Por isso, há íntima
relação entre História e Geografia na formação de professores, pois não existe
explicação sem contexto, e o contexto, neste caso, é histórico. Dentre os que vie-
ram para o Brasil, estão, em sua maioria, europeus, depois africanos e em seguida
os asiáticos. Soma-se a esses as tribos de índios que já viviam no Brasil, e como

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
resultado teremos a peculiar população brasileira (veja como é uma formação
completamente diferente da ocorrida na Europa).
Fato é que a imigração europeia ao Brasil ocorre em meados de 1530, com o
então expedicionário Martin Afonso de Sousa. Nesse período, pouca foi à ocu-
pação do território brasileiro. A ideia de fixação no chamado “novo mundo” não
fazia parte dos planos portugueses. Existia apenas o interesse em explorar as ter-
ras em busca de recursos naturais.
Com a criação das chamadas Capitanias Hereditárias, dá-se início à fixa-
ção do povo português em território brasileiro. Juntamente com os portugueses,
veio a mão de obra escrava para trabalhar nas lavouras de cana-de-açúcar que
se instalavam no então território do Brasil. Nesse período, temos como carac-
terísticas principais a formação de lavouras no litoral dos atuais estados de São
Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia.
Esse período é caracterizado pela intensa disputa armada entre os países
europeus pelas então colônias recém-descobertas. Assim, tivemos ainda nessa
fase invasões de holandeses, franceses, britânicos, espanhóis, entre outras nacio-
nalidades. Porém, não caracterizamos esses povos como parte da formação da
população, pois, depois de determinado período, eles acabaram sendo expulsos.
Contudo, não podemos deixar de falar da importância dos mesmos na formação
cultural de várias cidades. Apesar de não terem contribuído consideravelmente
para o aumento populacional, contribuíram, e muito, culturalmente.

A CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA


173

As Capitanias Hereditárias eram faixas de terras que a coroa portuguesa


doou a nobres portugueses, que tinham relação com a coroa. A ideia aqui
era fazer com que tais nobres usassem seus próprios recursos para colonizar,
ocupar e proteger as terras até então portuguesas. Chamam-se Capitanias
Hereditárias porque passavam de pai para filho. Esses nobres que possuíam
a concessão dessas capitanias eram chamados de Donatários, e sua prin-
cipal missão era colonizar e proteger as terras até então portuguesas. De
todas as capitanias que foram doadas, apenas a de Pernambuco e São Vi-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

cente prosperaram. Isso se deve à dificuldade de ocupação no Brasil, falta


de recursos econômicos para exploração, grandes faixas territoriais para se
controlar, além dos constantes ataques indígenas. Tudo fez com que, em
1759, fossem extintas as capitanias pelo Marques de Pombal.
Fonte: o autor, baseado em Multirio (O SISTEMA..., on-line)3.

Nesse período assinalado, basicamente nossa população foi formada por portu-
gueses (únicos que podiam adquirir terras no Brasil), indígenas (povos nativos que
moravam nas Américas) e africanos (que em sua maioria vieram forçadamente).
Seguindo nossa linha histórica a respeito da formação da população bra-
sileira, em 1808, com a vinda da Coroa Portuguesa, houve abertura dos portos
brasileiros, e consequentemente uma abertura maior para que imigrantes pudes-
sem vir e se instalar na terra recentemente descoberta.
Porém, como nesse período o Brasil ainda tinha uma mão de obra basica-
mente escrava, poucos imigrantes se aventuraram nessa vinda, pois praticamente
não havia empregos para os mesmos. Isso muda completamente em 1850 com
a Lei Eusébio de Queirós, que proibia o tráfico de negros. Com essa lei, muitas
mudanças vão ocorrer na sociedade brasileira. Com o futuro fim dos escravos
(pois não podiam mais ser comercializados) existia uma necessidade de substi-
tuição dessa mão de obra por uma capaz de realizar os mesmo serviços que os
negros realizavam. Aliado a isso, a partir de 1850 os cafezais brasileiros tornam-
-se de grande importância no comércio mundial, o que demanda uma produção
ainda maior do produto. Isso é comprovado por meio dos dados de Darcy Ribeiro
(1995), onde o mesmo faz um levantamento a respeito da chegada de imigrantes

A Formação da População do Brasil


174 UNIDADE V

a partir de 1850, como demonstra o quadro abaixo.

Quadro 1 – Distribuição dos contingentes imigratórios por períodos de entrada, em milhares

ANO PORTUGUESES ITALIANOS ESPANHÓIS JAPONESES ALEMÃES TOTAIS


1851-1885 237 128 17 0 59 441
1886-1900 278 911 187 0 23 1.398
1901-1915 462 323 258 14 39 1.096
1916-1930 470 147 128 173 106 1.024
Totais 1.447 1.509 590 187 227 3.960

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: Darcy Ribeiro (1995, p. 242).

Esses fatores, associados a muitos outros como o desenvolvimento da sociedade


brasileira, maior acesso à renda, etc., fizeram do Brasil um dos maiores polos de
atração de mão de obra mundial, fazendo do seu território um “grande porto”
de desembarque de estrangeiros, principalmente europeus.
Veja que entre 1808 a 1850 a ocupação brasileira se deu principalmente na
Região Nordeste e devido à cultura da cana-de-açúcar, e nos atuais territórios
de Minas Gerais e Goiás na busca por pedras preciosas. A partir de 1850, até a
década de 1930, houve uma maior ocupação na Região centro-sul, devido ao
desenvolvimento da cultura cafeeira. Nesse período, houve grande chegada de
imigrantes no Brasil, principalmente pela crescente economia agrária e conse-
quente oferta de empregos.
Com a Crise da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929, houve uma
mudança drástica na sociedade brasileira, bem como uma mudança significa-
tiva na estratificação social e étnica. Um dos setores que mais sofreu com a Crise
de 1929 foi o cafeeiro. Houve uma quebra geral da economia, fazendeiros per-
deram dinheiro e imigrantes perderam seus empregos.
Os grandes empresários que conseguiram acumular capital no período ante-
rior à Crise de 1929 se viam em uma situação de não poder investir no ramo
agrário, então, prontamente, usaram tal capital para investir na formação das pri-
meiras indústrias do Brasil. Claro que quando falamos dessa maneira estamos
resumindo em muito a formação industrial brasileira, conforme a própria passa-
gem de Cano (2012).

A CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA


175

Para a saída da crise e início da industrialização, há que se entender a


existência de dois momentos cruciais. O primeiro, imediato, que de-
corre da atitude do Estado, em instaurar uma politica anticíclica que
recuperou boa parte da renda e do emprego [...] o segundo momento, e
à medida que essa capacidade fosse ‘enxugada’ e a economia superasse
a crise, a industrialização estimularia o investimento autônomo [...] e
para isso exigiria novos rumos na concepção e prática da política eco-
nômica. (CANO, 2012, p. 913)

Tais empresários, em sua maioria, foram os que até então vinham ganhando
muito dinheiro com a produção do café. Logo, podemos entender que a Região
Sudeste foi a precursora na indústria no Brasil. Consequentemente, o processo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de urbanização de concentração populacional brasileira ocorreu quase que exclu-


sivamente nessa região nesse dado período histórico.

Na verdade, a crise da bolsa de Nova Iorque apenas foi o estopim para a crise
do café em si. Há alguns anos, por volta de 1920, o Brasil já vinha produzindo
café em excesso, chegando à incrível marca de 21 milhões de sacas, quando
o que se tinha era apenas um consumo mundial que girava em torno de 22
milhões. Para termos uma ideia, a safra de 1927 ainda estava sendo vendida
em outubro de 1929; e a safra de 1928 sequer tinha saído dos armazéns
que estocavam o produto. Tal superprodução fez com que o café brasileiro
despencasse seu valor. Aliado a isso, ainda havia outros países que vinham
competindo conosco, com cafezais tão bons e até melhores que os nosso.
Isso fez com que todo o investimento realizado pelos empresários brasileiro,
fosse comprometido, à medida que caia o preço do produto e nosso mer-
cado ficava cada vez mais reduzido. Aliado a tudo isso, veio a crise da bolsa
de valores de Nova Iorque em 1929, fazendo com que os EUA deixassem de
comprar boa parte da safra brasileira, que naquele período já estava sem
mercado. Consequência foi a falência da maioria das fazendas de café que
existiam em São Paulo e Rio de Janeiro.
Fonte: o autor, baseado em Opinião e Notícia (2015, on-line)4.

Esse gigantesco deslocamento de pessoas, principalmente da Região Nordeste


(segunda região mais desenvolvida economicamente nesse período) para a

A Formação da População do Brasil


176 UNIDADE V

Região Sudeste, era decorrente dos altos níveis de desemprego que assolavam o
país devido à crise de 1929. Nesse período, apenas as indústrias brasileiras conse-
guiam empregar grandes contingentes populacionais, e em sua maioria estavam
concentradas no Sudeste. A fim de se evitar o aumento do desemprego no Brasil,
o então presidente Getúlio Vargas estabelece em 1934 a chamada Lei de Cotas
de Imigração, na qual se buscava um maior controle da entrada de imigrantes
no país, devido à falta de ofertas de vagas, o que poderia acarretar um desem-
prego ainda maior. Nessa Lei ficava estrelecido que só poderiam entrar 2% do
total de imigrantes que vieram para o país nos últimos 50 anos. Por exemplo, se

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
durante os 50 anos de imigração europeia tivessem entrado no Brasil 1 milhão
de espanhóis, a partir do ano de 1934 só poderiam entrar 2% desse total, ou seja,
apenas 20 mil espanhóis. Curioso é que essa lei valia para todas as nacionali-
dades, menos para a portuguesa, que continuava chegando sem ser “barrada”.

Figura 2: Densidade Demográfica Brasileira – 2010

Densidade demográfica em
2010
2.01 a 4.69
4.98 a 12.4
17.65 a 39.79
52.4 a 66.7
76.25 a 444.07

Fonte: IBGE (CENSO, 2010, on-line)5.

Nesse período, devido principalmente às crises mundiais e às disputas políticas

A CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA


177

mundiais, não ocorreram grande deslocamento de imigrantes para o Brasil.


Ademais, ainda tínhamos uma disputa ideológica nisso tudo: só eram aceitos
imigrantes que não tivessem vínculos com sindicatos na Europa, sendo sua maio-
ria esmagadora levada para trabalhar nas lavouras de café. Os serviços urbanos
ficaram a cargo dos imigrantes nordestinos, que, menos estudados que os euro-
peus, aceitavam qualquer tipo de regime trabalhista, o que não ocorria com os
europeus, mais estudados e cientes de seus direitos.
Contudo, é a partir de 1950 que teremos um grande aumento dos desloca-
mentos no Brasil, principalmente com o governo de Juscelino Kubitschek, que
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

prontamente trouxe grandes fábricas de empresas multinacionais para o Brasil,


aumentando em muito o número de ofertas de emprego e, consequentemente, o
número de indústrias e, por que não, um aumento considerável na urbanização.

Figura 3 - Ex-presidente Juscelino Kubitschek

©shutterstock

Hoje, o Brasil é um país mais de emigração do que propriamente de imigra-


ção. No geral temos mais pessoas saindo do país do que entrando. Isso se deve,
principalmente, às melhorias de condição de vida na Europa após as duas gran-
des guerras mundiais, e consequentemente ao enfraquecimento econômico do
Brasil perante os países desenvolvidos, gerando uma onda de pessoas que bus-
cam “melhores” condições de vida.

A Formação da População do Brasil


178 UNIDADE V

©shutterstock

PRINCIPAIS POVOS QUE MIGRARAM PARA O BRASIL

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Não é possível estimar com precisão quantos imigrantes chegaram ao Brasil
desde sua descoberta. O que sabemos é que determinados grupos se destacam
nesse deslocamento, dentre eles temos dois principais: africanos e portugueses.
Os portugueses compõem o principal povo que migrou para o Brasil. Em
contagens oficiais (e não precisas), eles foram o grupo que mais contribuiu para
a formação da população brasileira. A imigração portuguesa começa em 1530
e praticamente ocorreu até o fim da década de 80, quando a União Europeia
começa a ganhar força real nas relações econômicas. A partir desse momento,
começa uma fase na qual Portugal teria melhorias significativas no campo social
e econômico, tendendo a população brasileira ao fluxo contrário, no qual os bra-
sileiros iam rumo a Portugal. Tal inversão foi tão grande que os países membros
da União Europeia tiveram que pressionar Portugal para que não aceitasse mais
a ida de brasileiros.
Os negros africanos foram o segundo maior povo a chegar ao Brasil. Segundo
algumas estimativas de órgãos ligados aos direitos raciais, eles chegam a somar
cinco milhões de habitantes, sendo principalmente trazidos das colônias por-
tuguesas na África. Foram tirados forçadamente de seus territórios, onde hoje
estão localizados os países de Moçambique, Costa do Marfim, São Tomé, Angola,
etc. Essa migração foi um dos principais crimes cometidos pela humanidade,
mais precisamente falando do homem branco. Tal atrocidade é até hoje (mesmo
depois de mais de 500 anos) “motivo” para subjugar esse povo que, literalmente,
construiu o Brasil com seu sangue.

A CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA


179

DA ONDE VÊM OS NEGROS NO BRASIL?


“Angola, Congo, Benguela
Monjolo, Cabinda, Mina,
Quiloa, Rebolo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Aqui onde estão os homens


Há um grande leilão
Dizem que nele há uma princesa a venda
Que veio junto com seus súditos
Acorrentados em carros de boi.” (Jorge Ben Jor).

Outro povo que contribuiu em muito para a formação do território e da popu-


lação brasileira foram os italianos, que a partir de 1850 formava o grupo de
principais trabalhadores nas culturas de café do Brasil. Boa parte da população
da região Centro-sul possui descendência e características relacionadas a esse
povo. Alemães também foram de grande importância, sendo o quarto grupo
mais volumoso. Tudo isso só foi possível devido à propaganda realizada em solo
europeu pelo governo brasileiro. Tal propaganda prometia dinheiro, transporte,
hospedagem e serviço aos imigrantes que passavam por dificuldades na Europa.
Porém, poucos sabiam que era uma propaganda enganosa, na qual o governo
acabava não arcando com os custos, ficando a cargo dos próprios imigrantes, que
ao final acabavam trabalhando num modelo de escravidão por dívida. Tanto que
a própria Alemanha chegou a proibir a vinda de alemães para o Brasil.

Principais Povos Que Migraram Para o Brasil


180 UNIDADE V

América- América
Da Itália nós partimos,
Partimos com a nossa honra
Trinta e seis dias de carro e navio

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
E na América chegamos
América, América, América,
É um lindo ramalhete de flores.
Que coisa será esta América?
É um lindo ramalhete de flores. (Folclore Italiano Merica-Merica).

Contudo, a Região Sul, até então menos explorada no Brasil, ganhou grande força
com a vinda dos alemães e italianos. Cidades importantíssimas nos dias de hoje
foram fundadas com base na colonização das terras da Região Sul, que não era
vista com tal poderio econômico. Isso ajudou o Brasil a manter suas fronteiras
delimitadas, pois havia o risco de uma invasão espanhola nas terras do Sul do
Brasil. Cidades como Porto Alegre e Florianópolis foram fundadas pelos portu-
gueses, Joinville e Blumenau fundadas por alemães, Garibaldi e Bento Gonçalves
fundadas por italianos.
Vale lembrar, nesse momento da imigração espanhola, que apesar de ter sido
numerosa, não ajudou a criar núcleos de povoamento que viessem a se tornar
cidades. No geral, esse grupo se espalhou pelo Brasil como um todo, trazendo
principalmente características físicas e culturais para nosso povo.
Outro grupo menos volumoso, porém não menos importante, é o de japo-
neses, que vieram para o Brasil à medida que o mercado japonês foi aberto para
a economia global. Como os outros imigrantes, os japoneses também sofreram
com a dificuldade de adaptação na cultura (“escravidão por dívida”), diferen-
ças religiosas e linguísticas, entre outros fatores. Isso fez deles uma grande força

A CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA


181

na formação de novos núcleos, pois, ao se aglomerarem, podiam transpor um


pouco do Japão em solo brasileiro. No geral, os núcleos criados pelos japoneses
tinham pouca integração com a sociedade. Hoje, a sociedade japonesa é conside-
rada uma das mais importantes para a formação no território e da constituição
do povo brasileiro, incorporando novas características físicas, psicológicas e cul-
turais a um povo que já tem por característica principal a miscigenação.
Além desses principais povos, ainda tivemos correntes migratórias de chine-
ses e coreanos (São Paulo), ucranianos e poloneses (Curitiba), turcos e libaneses
(no geral se instalaram em São Paulo), além, é claro, de muitos outros grupos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

que ajudaram a formar essa população brasileira tão miscigenada.








Principais Povos Que Migraram Para o Brasil


182 UNIDADE V

A ESTRUTURA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA

Como visto na unidade I, o crescimento vegetativo de uma população depende


da diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade. No caso bra-
sileiro, especificamente falando de crescimento vegetativo, é possível observar
uma queda acentuada a partir da década de 70, quando o país passa a figurar
entre os mais urbanizados.
Historicamente, a taxa de mortalidade começa a cair a partir do fim da
Segunda Guerra Mundial, quando o homem atinge grandes avanços na medicina.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nesse período, houve uma melhora significativa do acesso à medicina, porém
as taxas de natalidade ainda se mantinham em patamares elevados. Como con-
sequência, tivemos um aumento expressivo no crescimento vegetativo, dado a
diferença entre a taxa de natalidade e mortalidade.

Sobre a revolta da vacina


Em 1904 o médico sanitarista Oswaldo Cruz comandou uma campanha na-
cional de vacinação obrigatória contra a varíola. Como boa parte dos popu-
lares do Rio de Janeiro (então capital do Brasil) era formada por pessoas sem
instrução e sem acesso à informação, houve muita resistência em tomar um
produto até então desconhecido, obrigatoriamente. Aliado a isso, o Rio de
Janeiro ainda vivia um momento de reforma urbana, no qual muitas pes-
soas foram tiradas de áreas de risco como medida protetiva para o avanço
da doença. Muitos ficaram sem ter lugar para morar. Logo estourou uma
revolta que ficou conhecida como Revolta da Vacina, que ocorreu no Rio de
Janeiro contra as políticas obrigatórias que o então governo federal estava
praticando (dentre elas a obrigatoriedade de se tomar vacina). Ao menos 30
pessoas morreram nos conflitos, muitos foram presos e deportados para o
recém-estado do Acre e a cidade do Rio de Janeiro ficou em Estado de Sitio.
Em suma, a falta de informação sobre doenças e suas curas ainda afetava a
população em meados de 1900.
Fonte: o autor, baseado em História do Brasil (REVOLTA..., on-line)6.

A CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA


183

Os avanços na medicina não só fizeram com que a taxa de natalidade caísse, mas
também mostrou que houve um aumento na expectativa de vida de seus habi-
tantes. Isso vai refletir diretamente na pirâmide etária do Brasil, que passou a ter
sua base menor em detrimento das faixas etárias mais elevadas, como mostra a
sequência abaixo da evolução da população brasileira segundo o IBGE (2016).

Figura 4 - Evolução da Pirâmide Etária do Brasil de 1980 a 2050

80+ 80+
75-79 75-79
70-74 70-74
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

65-69 65-69
60-64 60-64
55-59 55-59
50-54 50-54
Idade

45-49 45-49
40-44 40-44
35-39 35-39
30-34 30-34
25-29 25-29
20-24 20-24
15-19 15-19
10-14 10-14
5-9 5-9
0-4 0-4
Homens Mulheres Homens Mulheres

ano 1980 ano 1990

80+ 80+
75-79 75-79
70-74 70-74
65-69 65-69
60-64 60-64
55-59 55-59
50-54 50-54
Idade

45-49 45-49
40-44 40-44
35-39 35-39
30-34 30-34
25-29 25-29
20-24 20-24
15-19 15-19
10-14 10-14
5-9 5-9
0-4 0-4
Homens Mulheres Homens Mulheres

ano 2000 ano 2010

A Estrutura da População Brasileira


184 UNIDADE V

80+ 80+
75-79 75-79
70-74 70-74
65-69 65-69
60-64 60-64
55-59 55-59
50-54 50-54
Idade

45-49 45-49
40-44 40-44
35-39 35-39
30-34 30-34
25-29 25-29
20-24 20-24
15-19 15-19
10-14 10-14
5-9 5-9
0-4 0-4
Homens Mulheres Homens Mulheres

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ano 2020 ano 2030
80+ 80+
75-79 75-79
70-74 70-74
65-69 65-69
60-64 60-64
55-59 55-59
50-54 50-54
Idade

45-49 45-49
40-44 40-44
35-39 35-39
30-34 30-34
25-29 25-29
20-24 20-24
15-19 15-19
10-14 10-14
5-9 5-9
0-4 0-4
Homens Mulheres Homens Mulheres

ano 2040 ano 2050


Fonte: Projeção da População (IBGE, 2016, on-line)7.

Observe a figura acima. Devido ao aumento na expectativa de vida, diminuição da


taxa de natalidade e diminuição na taxa de mortalidade, tivemos, segundo o IBGE
(2016), uma mudança drástica na estrutura populacional do Brasil, diminuindo
a base da pirâmide e aumentando as classes superiores. Vale ressaltar que a dimi-
nuição na natalidade é decorrente do desenvolvimento do espaço urbano, o que
encarece a criação de mais de dois filhos, aliado à maior participação no mercado
de trabalho por parte das mulheres. Em contrapartida, esse maior desenvolvi-
mento do espaço urbano terá dois outros resultados: o aumento na expectativa
de vida e a diminuição da mortalidade, decorrentes do maior acesso à medicina
e alimentação adequada, o que prolonga a vida de nossa população. Lembre-se
da Teoria da Transição Demográfica e você poderá observar que essa mudança
reflete exatamente o que foi proposto pelos pensadores da Geografia da População.

A CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA


185

Interessante observar, que em relação ao sexo, dados do IBGE (2016) nos


mostram que em média nascem mais homens do que mulheres (106 homens
para cada 100 mulheres). Contudo, o próprio IBGE (2016) aponta para uma
população de maioria feminina. Isso é decorrente da maior longevidade que as
mulheres possuem, principalmente devido aos cuidados médicos que as mesmas
obtêm com seu corpo desde muito cedo, o que, no caso dos homens, não ocorre.
Sobre a População Economicamente Ativa (PEA) do Brasil, podemos des-
tacar que com o aumento da urbanização e, consequentemente, das formas de
trabalho, houve uma mudança drástica nas estruturas que a formavam. É fácil
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

perceber que, em poucos anos, passamos de uma população majoritariamente


agrária para uma população que ocupa muito mais o segundo e o terceiro setor.
Para termos uma ideia, Alves (2013) levanta alguns dados sobre essa mudança.
Segundo o autor, em 1950 o Brasil possuía uma população urbana de 19 milhões
de habitantes, passando para 161 milhões em 2010. Ou seja, em 60 anos aumen-
tamos pelo menos oito vezes o número de nossa população. Em sua grande
maioria, essa população ocupou os grandes centros urbanos, onde passamos da
taxa de urbanização de 36% para 84%.
Além disso, é possível observar nos dados do Censo de 2010 o envelhe-
cimento da população, principalmente quando olhamos o aumento do PEA.
Segundo Alves (2013):
O Brasil apresentou um grande crescimento da População Economica-
mente Ativa (PEA) nas últimas 6 décadas [...] a PEA total passou de 17,1
milhões de pessoas, em 1950, para quase 93,5 milhões de pessoas, em 2010
(aumento de 5,5 vezes) [...] A PEA masculina passou de 14,6 milhões para
52,8 milhões (incremento de 3,6 vezes), enquanto a PEA feminina teve
uma elevação extraordinária, passando de 2,5 milhões, em 1950, para 40,7
milhões, em 2010 (crescimento de 16,3 vezes). (ALVES, 2013, p. 1).

O que foi apontado por Alves (2013) é reflexo direto das mudanças ocorridas
na Pirâmide Etária Brasileira, onde há um aumento da população mais velha
em detrimento da população mais jovem. Isso é reflexo da chamada “Transição
Demográfica”, onde há tendência de diminuição da população geral, devido aos
baixos índices de natalidade.
Ainda segundo Alves (2013), houve uma diminuição da participação dos
homens na PEA e um aumento considerável da participação da mulher no

A Estrutura da População Brasileira


186 UNIDADE V

mercado de trabalho. A figura abaixo mostra exatamente essa mudança:


Figura 5 - Evolução da Participação de Homens e Mulheres no PEA

Evolução da Participação de Homens


e Mulheres no PEA
90
80
70
Porcentagem (%)

60
50
40

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
30
20
10
0
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Homens 80,8 77,2 71,8 72,4 71,5 69,6 67,1
Mulheres 13,6 16,5 18,5 26,6 32,9 32,9 48,9

Fonte: o autor, baseado em IBGE (2016, on-line)8.

Observe que os homens tiveram uma ligeira diminuição de sua participação, pas-
sando de 80,8% em meados de 1950 para 67,1% em meados de 2010. A grande
mudança está na participação feminina, que passou de apenas 13,6% em 1950
para 48,9% em 2010. Isso reflete diretamente na Pirâmide Etária Brasileira, uma
vez que a inserção da mulher no mercado de trabalho se contrapõe ao papel de
mãe, acarretando diminuição na reprodução da sociedade como um todo.

A CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA


187

O QUE É PEA?
PEA é a sigla de População Economicamente Ativa, ou seja, todo individuo
que está trabalhando ou está procurando algum tipo de emprego/serviço
remunerado. Não existe precisão na definição das classes que se enquadra-
riam na PEA do mundo. O que se sabe é que no Brasil podem-se incluir pes-
soas de 10 a 60 anos na PEA. Em países desenvolvidos, por exemplo, a idade
mínima passa a ser de 15 anos. Ao contrário da População Economicamente
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Ativa, temos também a População Economicamente Inativa. Essa parcela da


população inclui crianças abaixo de 10 anos, aposentados, estudantes que
não trabalham e donas de casas que exercem apenas funções domésticas.
Fonte: o autor, baseado em Séries Históricas e Estatísticas (IBGE, 2015, on-
-line)9.

É evidente que o aumento da participação feminina na PEA não elimina a dife-


rença salarial entre os gêneros. Ainda existem no Brasil divergências salariais entre
homens e mulheres. Apesar de dados apontarem para a diminuição dessa desigual-
dade, ainda sim há distinção na remuneração entre os sexos. Segundo a secretária
executiva da CEPAL (ONU, on-line)10, Alícia Bárcena, essa diferença entre os gêne-
ros se dá historicamente pelo papel da mulher na sociedade, que tinha por função
o cuidado com a família. Apesar de terem se inserido no mercado de trabalho, no
geral, as mulheres ainda exercem o papel predominante em suas famílias. Segundo
Alícia Bárcena, enquanto o chamado “serviço não remunerado” não for dividido,
a tendência é que se mantenha a diferença salarial entre os gêneros.

Afirma um deputado federal, em entrevista ao Jornal Zero Hora: “Eu sou libe-
ral. Defendo a propriedade privada. Se você tem um comércio que emprega
30 pessoas, eu não posso obrigá-lo a empregar 15 mulheres”.
Você concorda?

A Estrutura da População Brasileira


188 UNIDADE V

Ainda, sobre a estrutura populacional brasileira, podemos destacar o papel do


setor terciário na ocupação da PEA. Segundo o IBGE 2015 (on-line)8, cerca de
60% dos empregados no Brasil trabalham no setor de serviços (terceiro setor).
Isso corresponde a mais da metade da população brasileira. Em média, temos
20% trabalhando no segundo setor e cerca de 10% trabalhando no setor primá-
rio. Isso revela muito sobre nosso país, uma vez que em meados da década de
40 ainda tínhamos o primeiro setor como principal empregador. Essa mudança
foi decorrente da evolução e desenvolvimento econômico do Brasil, que passou
(de certa forma) de um país apenas exportador de produtos agrários para um

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
país que também possui produção industrial que pode oferecer uma gama de
bens e serviços à sua população.
Se compararmos com o Haiti, por exemplo, veremos que 60% da população
trabalha no primeiro setor, o que nos mostra que tal país ainda vive um modelo
agrário e muito subdesenvolvido. Veja que a distribuição da PEA pelos setores
de produção nos mostra muito sobre como é a economia e como esse país se
coloca à frente do mercado mundial.

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A CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA


189

©shutterstock

O PROCESSO DE TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA


BRASILEIRA
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Segundo estudos, o Brasil vem passando por drásticas transformações em sua


estrutura etária. Indicadores apontam para uma sociedade brasileira que passa
pela chamada terceira fase da transição demográfica, a qual é caracterizada pela
diminuição das taxas de crescimento vegetativo, devido principalmente à dimi-
nuição do número de filhos por casal e à consequente diminuição ainda maior
da mortalidade. Além disso, é facilmente observado um elevado aumento na
expectativa de vida da população brasileira, principalmente pelo aumento no
acesso à medicina e educação.
No geral, vemos que a partir da segunda metade do século XX a população
brasileira vem se transformando. Dados do IBGE 2010 (on-line)8 indicam que
entre as décadas de 50 e 60 houve grande declínio nas taxas de mortalidade e
mortalidade infantil, e consequentemente um aumento da expectativa de vida
como um todo. Importante ressaltar nesse momento que, apesar de o Brasil estar
apresentando mudanças na estrutura etária, é notável a diferença existente entre
as regiões brasileiras. Ou seja, é possível observar que as Regiões Sul, Sudeste
e Centro-Oeste ainda estão níveis “acima” de Regiões como Nordeste e Norte,
onde principalmente a mortalidade e expectativa de vida se mantêm em pata-
mares abaixo em relação às outras regiões.
No período que compreende as décadas de 1950 e 1960 houve um elevado
aumento da natalidade e uma queda drástica na taxa de mortalidade, o que garan-
tiu para o Brasil um dos maiores crescimentos vegetativos já vistos em nosso
território (3,1% ao ano). A partir da década de 1970, é possível observar uma
leve queda na natalidade, passando para uma média de 5,8 filhos por mulher.
Ainda que esse dado demonstre pouca diferença para com a década de 60 (6

O Processo de Transição Demográfica Brasileira


190 UNIDADE V

filhos por mulher), já é possível ver que nesse período o desenvolvimento social
brasileiro atingia patamares diferentes dos que tínhamos há anos atrás. Apesar
de a natalidade não ter indicado tanta diferença, ainda na década de 1970 é pos-
sível observar uma elevada queda nos níveis de mortalidade, acarretando uma
maior sobrevida da população, indicando, portanto, um começo do envelheci-
mento da mesma.
Fato é que a experiência com a chamada Transição Demográfica começa
a partir da década de 1970 onde é possível observar nos indicadores do IBGE
uma verdadeira revolução demográfica. Isso é bem observado a partir da década

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de 80, quando todos os dados importantes para a mudança da estrutura etária
se reduzem a níveis muito baixos (taxa de natalidade e taxa de mortalidade). O
número de filhos por mulher passa para 4,4, a esperança de vida ultrapassa a casa
dos 60 anos e, além disso, houve uma redução drástica na mortalidade infantil.

Responda às seguintes questões: Quantos irmãos seus bisavós tiveram?


Quantos irmãos seus avós tiveram? Quantos irmãos seus pais tiverem?
Quantos irmãos você tem? Quantos filhos você pretende ter? Observe que o
número, provavelmente, sempre tende a diminuir.

Veja que a partir de 1980 a população passa a crescer rapidamente. Em cerca de


30 anos, a mesma quase triplicou de tamanho, passando para 120 milhões de
habitantes. Contudo, foi possível observar uma queda no crescimento a partir
desse ano (2,5% ao ano).
A estrutura etária da população foi impactada por essas mudanças nas
taxas de natalidade, fecundidade e mortalidade: a idade mediana se
elevou a 20 anos, a razão de dependência reduziu-se para 79,5%, sen-
do que o peso do componente juvenil caiu para 68,6%, e a proporção
de idosos aumentou para 6,1%. (VASCONSELOS e GOMES, 2012, p.
542).

A CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA


191

Segundo as mesmas autoras, em 1990 as taxas foram ainda mais reduzidas. A


principal delas foi o número de filhos por mulher, que passou a ser de 2,9 crian-
ças por cada. Só para termos noção, a idade média da população que era de 17-18
anos em 1960 passou a ser de 22-23 anos em 1991. Outro dado importante foi
o ritmo de crescimento populacional, que passou de 2,5% para 1,9% ao ano.
No período entre os anos de 1991 e 2010 foi possível observar de fato as
mudanças que vinham ocorrendo desde 1950. Vimos que nossa população se
multiplicou de tal forma que nos tornamos o 5º país mais populoso. Vimos
que, diante dos indicadores, estávamos prestes a adentrar a segunda metade da
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

terceira fase da transição demográfica, que é o momento em que temos baixa


natalidade e baixa mortalidade, demonstrando baixo crescimento vegetativo.
Em contra partida tivemos um grande aumento na expectativa de vida. Isso vai
caracterizar uma mudança enorme na Pirâmide Etária Brasileira, tornando-a
mais achatada em sua base, aumentando os níveis de população adulta e idosa
e demonstrando claramente o envelhecimento da população.
Vasconcelos e Morais (2012) nos apresentam alguns dados a respeito dessa
evolução. Segundo as autoras, a mortalidade infantil, que em 1960 era de 83
óbitos para cada 1.000 nascidos, passou a ser de 16,2 óbitos. A expectativa de
vida, que era um pouco mais de 60 anos, passou a ser de mais de 70 (73,5 anos
em 2010). A taxa de fecundidade fica em 1,9 filhos por mulher e a de natalidade
passa a ser de 16 nascidos para cada 1000 habitantes. Para Vasconcelos e Gomes
(2012) a consequência foi a diminuição no ritmo de crescimento da população.
Enquanto se demorava de 20 a 30 anos para duplicarmos a população, esse perí-
odo passou a ser de 40 anos. Para termos uma ideia, o crescimento demográfico
passou de 2,5% em 1970-1980 para 1,2% de 2000-2010. Nas palavras das autoras:
Todas essas mudanças foram refletidas na estrutura etária da popula-
ção, que envelheceu ainda mais. Em 2010, a idade mediana aumentou
para 27 anos, apenas 1 em cada 4 habitantes tinham idade inferior a
15 anos e 10,8% tinha 60 anos ou mais de idade. O índice de envelhe-
cimento aumento 44,8%: para cada 100 jovens, havia 45 idosos. (VAS-
CONSELOS e GOMES, 2012, p. 543).

O Processo de Transição Demográfica Brasileira


192 UNIDADE V

Existe uma tendência já confirmada no Brasil de, num futuro próximo, es-
tarmos presenciando a diminuição ou o crescimento muito baixo de nossa
população. O IBGE divulgou em 2014 que as mulheres estão diminuindo o
número de filhos. Na década passada, a média era de 2,14 filhos e em 2014 a
média passou a ser de 1,74. Isso foi observado em todas as regiões brasilei-
ras, tanto no Norte, que passou de 2,84 para 2,16 filhos por mulher, como no

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Sul, que tem a menor taxa de fecundidade: 1,60 filhos por mulher.
Fonte: o autor, baseado em Revista Exame (MULHERES..., 2015, on-line)11.

Nas Pirâmides Etárias propostas anteriormente demonstra-se a evolução das mes-


mas, disponibilizadas pelo próprio site do IBGE, e você, aluno(a), pode conferir
em seu livro didático os tópicos predecessores. Na atual conjuntura, podemos
dizer que o Brasil passa pelo meio da terceira fase da transição demográfica, evi-
denciando o envelhecimento da população e a diminuição das classes mais jovens.
Isso demonstra uma melhoria na qualidade de vida social de nossos habitantes.
Vale lembrar que, apesar de hoje todas as regiões terem atingido tal pata-
mar, nas décadas de 50, 60 e começo de 70 eram evidentes as diferenças regionais
quanto ao processo de transição demográfica, no qual o Norte e o Nordeste se
mostravam ainda com altos índices de mortalidade infantil e natalidade. Porém,
devido ao desenvolvimento de políticas que proporcionaram a melhoria na vida
de boa parcela da população que vive nessa região, o Norte e o Nordeste hoje se
encontram em plena transição demográfica, principalmente devido ao aumento
na qualidade de vida de seus habitantes.

A CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA


193

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), nesta unidade foi possível nos aproximarmos mais da real situ-
ação populacional atual de nosso país. Vimos que, devido à evolução no acesso
a uma série de bens e serviços, o Brasil passou a figurar entre os países que têm
uma população em fase de envelhecimento. Dessa forma, é necessário que você
como professor(a) se atente às mudanças que ocorrerão nos próximos anos, pois
a estrutura populacional brasileira e mundial é muito dinâmica, ou seja, existe
uma constante mutação na forma como a população se configura.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

No Brasil, vimos que existe nos últimos anos um envelhecimento popula-


cional, que nos remete à terceira fase da Teoria da Transição Demográfica, já
trabalhada neste livro. Assim, apesar de ainda sofrermos economicamente como
um país subdesenvolvido, estamos caminhando no sentido de nos igualarmos
a países desenvolvidos quando o assunto é a estrutura da população. Caminho
esse pelo qual já passou boa parte dos países europeus como Alemanha e mais
recentemente a França, vide as pirâmides etárias do IBGE 2016 (on-line)8 apre-
sentadas nesta unidade.
Além disso, foi possível entendermos que existe uma distribuição irregu-
lar da população brasileira em nosso território, devido a fatores naturais, como
a seca no Nordeste e a alta densidade de vegetação na Região Norte, e devido a
aspectos econômicos, sociais e históricos, como, por exemplo, a região de atra-
ção populacional formada entre o Sudeste e o Sul, devido principalmente ao
acesso à renda e a bens e serviços mais sofisticados.
Podemos então concluir que, agora, você, aluno(a), já é capaz de interpretar
as mudanças populacionais ocorridas na história do Brasil, bem como a atual
conjuntura dessa estrutura, a partir do conhecimento explanado durante todo
nosso livro didático. Quando necessário, faça uso desse material em sala de aula,
pois aqui você encontrará diversos conceitos e diversas nuanças que ajudaram
a formar o povo brasileiro.

Considerações Finais
194 UNIDADE V

Como já foi dito na conclusão do nosso livro di-


dático, a Geografia da População é uma disciplina
muito dinâmica, na qual é necessário sempre estar-
mos nos atualizando. Dessa forma, sugerimos o site
da principal revista sobre o tema população, que
circula no âmbito acadêmico no Brasil. É a famosa
“Revista Brasileira de Estudos Populacionais”. No
site você terá acesso às principais e mais recentes
pesquisas acerca da população brasileira e mundial.
Bom estudo!

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.















A CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA


195

1. A respeito da chamada Lei de Cotas de Imigrantes promulgada pelo então presi-


dente Getúlio Vargas em 1934, explique qual o real motivo de se impedir que imi-
grantes viessem ao Brasil nesse período.

2. Ainda sobre a imigração brasileira, sabemos que nas décadas passadas tal vinda
dos imigrantes foi muito importante para a formação da nossa sociedade. Então,
por que hoje o Brasil é considerado um país de emigrantes e não mais de imigran-
tes?

3. Descreva por que as políticas de proibição do tráfico negreiro (e depois com a


proibição da escravatura), ajudaram na vinda de imigrantes europeus para o Brasil.

4. Vimos que a Estrutura Populacional Brasileira nos últimos anos vem mudando.
Isso é decorrente das várias mudanças que ocorreram na forma de pensar e agir
da sociedade como um todo. Vimos que a própria PEA do brasileiro vem mudando
rapidamente. Sobre as mudanças na população Economicamente Ativa do Brasil,
assinale a alternativa que demonstra as principais mudanças ocorridas nela nos úl-
timos anos:
a) Houve uma diminuição drástica de pessoas integrantes da PEA, devido principal-
mente ao envelhecimento da população.
b) Houve um aumento da PEA, devido ao aumento consequente do trabalho infantil
no Brasil.
c) Houve um aumento das mulheres e diminuição da participação do homem, devi-
do ao fato de as mulheres irem para o mercado de trabalho.
d) Houve uma maior participação do setor primário na PEA, devido ao fato de Brasil
ser considerado um país agrário.
e) Houve uma diminuição da participação das indústrias e serviços na PEA devido à
volta do modelo de colonização do Brasil.

5. Vimos que o Brasil foi um país que passou por diversas modificações na sua estru-
tura populacional. Isso foi decorrente de uma série de fatores, muito bem explicados
por meio da Teoria da Transição Demográfica. Sabendo disso, explique o que é essa
teoria, como o Brasil se encaixa nessa tese e quais fatores levaram o Brasil a modifi-
car sua estrutura populacional.
196

TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA E DESIGUALDADES SOCIAIS NO BRASIL

A transição demográfica é um dos fenômenos estruturais mais importantes que tem


marcado a economia e a sociedade brasileiras desde a segunda metade do século pas-
sado. Trata-se de um fenômeno caracterizado pela sua universalidade, mas fortemen-
te condicionado pelas condições históricas em que se realiza nos diferentes países.
Sua diferença em relação aos países desenvolvidos e sua semelhança com os outros
em desenvolvimento não esgotam a sua originalidade. A originalidade da transição
demográfica no Brasil está definida pelas particularidades históricas onde ela se inse-
re, permeadas pelos fortes desequilíbrios regionais e sociais. Nessa perspectiva ela é
única, enquanto um processo global que atinge toda a sociedade brasileira, mas, ao
mesmo tempo, múltipla, pois se manifesta diferentemente segundo as diversidades re-
gionais e, principalmente, sociais. Inserida e intensamente articulada a esse contexto de
desenvolvimento desequilibrado, a transição demográfica não é autônoma. Ela é um
processo social que não se resume aos efeitos combinados das variáveis estritamente
demográficas. Pelo contrário, imersa nas profundas mudanças sociais e econômicas pe-
las quais tem passado o Brasil, é, simultaneamente, uma de suas causas e um de seus
efeitos. Como tal está longe de ser considerada neutra: pode tanto criar possibilidades
demográficas que potencializem o crescimento da economia, aumentando o bem-estar
social, quanto potencializar as adversidades econômicas e sociais, ampliando as graves
desigualdades sociais que marcam a sociedade brasileira. Se não há neutralidade, não
se pode fugir de uma abordagem normativa da transição demográfica. Em outras pala-
vras, como ela pode favorecer caminhos sociais diferenciados, sua análise não deve se
abster dessa questão decisiva. Seria um grande equívoco reduzir as preocupações ana-
líticas e políticas com a transição demográfica às suas lógicas consequências atuariais,
muitas vezes resumidas às meras implicações sobre as relações custos benefícios. Desse
modo, a análise, bem como suas inevitáveis consequências políticas, ficaria restringida
às sugestões sobre a “racionalidade dos meios”, desconsiderando os objetivos sociais
a serem alcançados. Esses, inevitavelmente, obedecem a uma moldura normativa da
transição que ilumina o projeto social preferido pelo analista. Isso é fundamental, pois,
se a transição não é neutra e pode favorecer consequências sociais diversas, ela depen-
de de políticas que podem colocá-la nos trilhos que a levará a um destino ou outro.
Trata-se de uma opção; não se está diante de uma fatalidade histórica, em que a lógica
197

do mercado da economia contemporânea globalizada amarraria o destino da socieda-


de brasileira à sua rigorosa seletividade, traçando os limites para as políticas públicas.
Pelo contrário, as possibilidades abertas pela transição demográfica devem significar o
desafio de ultrapassar esses limites, ampliando os caminhos que podem levar à redução
das desigualdades sociais. A transição demográfica leva décadas. A princípio, isso coloca
problemas diante da perspectiva temporal dos formuladores de políticas públicas, que
normalmente planejam considerando um período muito inferior. Para os demógrafos,
normalmente, meio século corresponde a médio prazo, mas, do ponto de vista da for-
mulação de políticas, meio século é uma eternidade. É necessário mudar as atitudes dos
formuladores de políticas, assim como dos demógrafos, na direção de serem compreen-
didas, articuladamente, as visões de curto, médio e longo prazos.

Fonte: Brito (2008, p. 6).


MATERIAL COMPLEMENTAR

O Povo Brasileiro
Darcy Ribeiro
Editora: Companhia das Letras, 1995
Sinopse: Na obra, Ribeiro quis responder à pergunta
“por que o Brasil não deu certo?” e debruçou-se sobre a
formação do povo brasileiro. No estudo, ele defendeu a miscigenação como fator preponderante
da diversidade que caracteriza o Brasil. Essa fusão biológica e cultural teria se iniciado logo que os
primeiros portugueses desembarcaram na América, e a gestação étnica do brasileiro se prolongou
por todo o período colonial (1530-1815). Uma obra importantíssima para alunos que estão prestando
ou pretender prestar vestibular. Nela o autor esmiúça cada um dos fatores de miscigenação brasileira.
Leitura obrigatória.

O Futuro da População Brasileira: Projeções,


Previsões e Técnicas
Laura Rodriguez (et al)
Editora: Associação Brasileira de Estudos Populacionais,
1987
Sinopse: Com base nesta leitura, você será capaz de
compreender todo o assunto tratado nesta unidade, desde a formação da população até a fase da
Transição Demográfica na qual o Brasil passou e vem passando. Por meio dessa leitura podemos
aprender técnicas de projeção populacional, além é claro de observar quais as previsões e visões
que os autores populacionais tinham sobre o crescimento da população brasileira. Uma leitura
interessantíssima para quem compreendeu bem a unidade V desse livro.
MATERIAL COMPLEMENTAR

A Transição Demográfica e as Políticas


Públicas no Brasil: Crescimento Demográfico,
Transição da Estrutura Etária e Migrações
Internacionais
Fausto Brito; José Alberto Magno de Carvalho; Rosana
Baeninger; Cássio Maldonado Turra
Editora: Belo Horizonte, 2007
Sinopse: Este relatório está baseado no anterior, já encaminhado ao CGEE, “A transição da população
no Brasil: oportunidades e desafios para as políticas públicas”, com seu longo capítulo final sobre
as migrações internacionais. Conforme foi mencionado, ele conteria os dados para fundamentar as
sugestões de políticas públicas relacionadas ao crescimento demográfico, à transição da estrutura
etária e às migrações internacionais. Esse Relatório será muito útil para compreensão do papel da
Geografia na fomentação de políticas públicas capazes de sanar problemas sociais de nosso país.
Grande leitura para quem quer seguir carreira na área.

O Povo Brasileiro
O antropólogo Darcy Ribeiro (1913-1997) foi um dos
maiores intelectuais brasileiros do século XX. Este digistack
com 02 DVDs traz os 10 episódios da elogiada série baseada
na obra-prima de Darcy: O Povo Brasileiro, em que o autor
responde à questão “quem são os brasileiros?”, investigando
a formação de nosso povo.
Coproduzida pela TV Cultura, pela GNT e pela FUNDAR,
a série conta com as participações especiais de Chico
Buarque, Tom Zé, Antônio Cândido, Aziz Ab’Saber, Paulo
Vanzolini, Gilberto Gil, Hermano Vianna, Luiz Melodia, entre
outras personalidades e intelectuais de renome.
Com imagens captadas em todo o Brasil, material de arquivo raro e depoimentos, O Povo
Brasileiro é uma obra fundamental para educadores, estudantes e todos aqueles interessados em
conhecer um pouco mais sobre o nosso país.

Material Complementar
201
REFERÊNCIAS

ALVES, J. E. D. O crescimento do PEA e a redução do hiato de gênero nas taxas de


atividade no mercado de trabalho. Revista Aparte: Inclusão Social em Debate, Rio
de Janeiro, p. 1-5, ago. 2013.
BRITO, F. et al. A transição demográfica e as políticas públicas no Brasil: cresci-
mento demográfico, transição da estrutura etária e migrações internacionais. Belo
Horizonte: 2007.
BRITO, F. Transição demográfica e desigualdades sociais no Brasil. Revista Brasileira
de Estudos Populacionais, São Paulo, v. 25, n.1, p. 5-26, jan./jun. 2008.
CANO, W. Da década de 1920 à de 1930: transição rumo à crise e à industrialização
no Brasil. Revista EconomiA, Brasília-DF, v. 13, n. 3b, p. 897-916, set./dez. 2012.
RIBEIRO, D. O Povo Brasileiro: A formação e o sentido de Brasil. 2 ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
RIBEIRO, J. S. da P. A formação do povo brasileiro e suas consequências no âmbito
antropológico. Revista Multidisciplinar da UNIESP, São Paulo, n. 14, p. 4-15, dez.
2012.
RODRIGUEZ, L. et al. Futuro da População Brasileira: Projeções, Previsões e Técni-
cas. Embu-SP: Associação Brasileira de Estudos Populacionais, 1987.
VASCONSELOS, A. M N.; GOMES, M. M. F. Transição demográfica: a experiência bra-
sileira. Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília-DF, v. 4, n. 21, p. 539-548, out./
dez. 2012.
REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS ON-LINE

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mo/>. Acesso em: 21 de jun. de 2016.
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jun. de 2016.
3 Em: <http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo01/cap_hereditarias.html>.
Acesso em: 21 de jun. de 2016.
4 Em: <http://opiniaoenoticia.com.br/nesta-data/quebra-da-bolsa-de-valores-de-
-nova-york-inicia-a-grande-depressao-nos-eua/>. Acesso em: 21 de jun. de 2016.
5 Em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=10&uf=00>.
Acesso em: 21 de jun. de 2016.
6 Em: <http://www.historiadobrasil.net/resumos/revolta_da_vacina.htm>. Acesso
em: 21 de jun. de 2016.
7 Em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/projecao_da_popula-
cao/2008/piramide/piramide.shtm>. Acesso em: 05 de mar. de 2016.
8 Em: <http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em: 05 de mar. de 2016.
9 Em: <http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/lista_tema.aspx?de=19&no=7&op=0>.
Acesso em: 21 de jun. de 2016.
10 Em: <http://www.cepal.org/pt-br>. Acesso em: 05 de mar. de 2016.
11 Em: <http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/mulheres-brasileiras-tem-menos-
-de-dois-filhos-em-media>. Acesso em: 21 de jun. de 2016.
203
GABARITO

1 – O motivo estaria relacionado principalmente à Crise do Café de 1929. Com o fim


das lavouras de café na Região Sudeste, houve um aumento considerável de de-
sempregados, pois boa parte dos trabalhadores rurais desse período era oriunda da
Europa. Com o fechamento dos postos de trabalhos nas lavouras de café, a chegada
de novos imigrantes poderia aumentar ainda mais o número absoluto de desem-
pregados. Dessa forma, Getúlio Vargas procurou controlar a entrada de imigrantes
no Brasil, no intuito de estabilizar a crise social que se instaurava nesse período.

2 – O Brasil recebeu muitos imigrantes europeus e asiáticos, em períodos conside-


rados de conturbação social nessas localidades. Guerras, ditaduras, perseguições,
falta de planejamento, ou seja, uma série de fatores fazia desses países lugares, te-
oricamente, piores para se morar do que o Brasil, daí a grande onda de imigrantes
vindos para o Brasil. Contudo, com o reaquecimento da economia mundial e com
o cessar fogo entre as nações pela disputa por recursos naturais, esses países en-
grenaram novamente nos trilhos da economia e voltaram a ser excelentes países
para se morar. Dessa forma, muitos brasileiros com descendência asiática e euro-
peia viram na facilidade de tirar dupla cidadania uma oportunidade para buscarem
novas formas de trabalho fora do Brasil. Em suma, boa parte dos países europeus e
uma parte dos países asiáticos passaram a ser melhores de se morar do que o Brasil,
criando assim uma onde de emigração.

3 – Na verdade, esse foi o “pontapé” para a substituição da mão de obra escrava para
uma mão de obra assalariada. Como mesmo após a abolição (e até os dias de hoje)
há preconceito contra o negro, houve uma dificuldade muito grande de se achar
mão de obra assalariada que não fosse negra nesse período. Isso porque boa par-
te do “empresariado” brasileiro se recusava a contratar negros. Como solução para
esse “problema”, o Brasil passou a fazer propagandas na Europa e Ásia no intuito de
chamar imigrantes à ocuparem os postos de trabalho deixados pelos negros. Dessa
forma, houve uma grande onda de imigrantes vindos para o Brasil.

4 – C.

5 – A Teoria da Transição Demográfica foi uma teoria criada para demonstrar como os
países, de acordo com seu nível de desenvolvimento econômico e social, mudam seu
padrão na população. Dessa forma, vemos que o Brasil vem passando pela chamada
Terceira Fase da Teoria da Transição Demográfica, na qual o aumento do acesso à
saúde, bens e serviços, renda, saneamento básico, fazem com que a estrutura popu-
lacional brasileira mude de tal forma que passamos a ter uma população mais velha
do que jovem, decorrentes do aumento da expectativa de vida e da diminuição do
número de filhos por mulher devido ao alto custo de vida nos centros urbanos.
CONCLUSÃO

Podemos inferir nesse momento que a formação populacional e cultural brasileira


possui bases na valorosa miscigenação do povo brasileiro, que chega a ser única nas
Américas. Nossas bases étnicas têm como referência uma série de povos, oriundos
desde a Ásia, passando pela África e com ampla maioria vinda da Europa.
Vale lembrar que a chegada desses imigrantes que formaram o povo brasileiro ain-
da possui um ingrediente a mais: os povos nativos que viviam nas Américas, que
ficaram conhecidos como os índios. Toda essa mistura de raças ajudou a formar a
cultura e nossa sociedade.
Assim, foi possível se aproximar mais da atual conjuntura da população brasileira,
que nas últimas duas décadas vem passando por transformações radicais na qua-
lidade de vida e no acesso a bens e serviços. Isso configura uma nova mudança na
Pirâmide Etária Brasileira, onde há uma diminuição da população jovem em detri-
mento de uma população mais adulta e idosa.
É possível também mensurar que existe um aumento considerável da participação
da mulher na valoração econômica brasileira, decorrente do aumento da urbani-
zação e, consequentemente, do custo de vida, culminando assim na participação
maior da mulher no mercado de trabalho brasileiro. Agora, aluno(a), você é capaz
de interpretar todas as noções referentes à Geografia da População, desde sua his-
tória de formação como ciência, seus principais autores, suas principais teorias, seus
principais conceitos e, por fim, toda a caracterização atual da população brasileira.
Todas, mas todas essas noções, sem exceção, serão utilizadas por você quando vier
a lecionar. Portanto, é necessário que quando for trabalhar tal conteúdo em sala de
aula você esteja sempre atualizado(a), afinal a Geografia da População é uma das
ciências mais dinâmicas, pois a cada década as formatações das populações mun-
diais se modificam, seja por conta de aspectos sociais/históricos, seja por aspectos
naturais.

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