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Área Científica de Estudos Africanos

Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos de Angola


no Desenvolvimento Sócio-Económico do País.
Desafios e Expectativas (1975 – 2005).

Luís Fernando da Costa Walter

Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de

Mestre em Estudos Africanos – Desenvolvimento Social e Económico em


África: Análise e Gestão

Orientador:

Prof. Doutor Afzal Ahmad

Universidade Lusófona

Novembro de 2007
Área Científica de Estudos Africanos

Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos de Angola


no Desenvolvimento Sócio-Económico do País.
Desafios e Expectativas (1975 – 2005).

Luís Fernando da Costa Walter

Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de

Mestre em Estudos Africanos – Desenvolvimento Social e Económico em


África: Análise e Gestão

Orientador:

Prof. Doutor Afzal Ahmad

Universidade Lusófona

(Novembro de 2007)
Dedico este trabalho à minha mãe e à memória do meu pai, que me ensinaram o
rigor de pensar, estudar e valorizar o ensino.
Agradecimentos

O esforço académico dedicado neste trabalho de dissertação teria sido inglório e


de dificuldade excepcionalmente acrescida, se não fosse a colaboração de uma conjunto
de instituições e pessoas.

O meu primeiro agradecimento vai, por conseguinte ao meu orientador de


dissertação, Professor Doutor Amad Afzal. Estou-lhe particularmente grato pela
disponibilidade, aconselhamento metodológico, sugestões, incentivo e acompanhamento
feitos durante a investigação e o processo de escrita a que me dediquei ao longo deste
trabalho. De seguida, quero agradecer também, o centro de documentação e informação
da Sociedade Nacional de Combustível de Angola (SONANGOL), o Ministério dos
Petróleos, em especial o departamento de formação dirigido pelo Sr. José Cortez,
departamento de planeamento e compensação dirigido pelo Dr. Jacinto Cortez, e ao
centro de documentação do mesmo Ministério, pela disponibilidade prestada e
dispensada na obtenção de documentos, livros e textos, que tornaram possível a
elaboração deste trabalho, proporcionando-me e dando-me experiências e pistas únicas
para uma adequada investigação e reflexão sobre esta área.

Finalmente não poderia deixar de estender o meu profundo e carinhoso


agradecimento à minha família, em especial à minha mãe pela paciência que teve
comigo ao longo deste meu trabalho e pedir desculpa pela ausência em momentos
importantes.
O presente trabalho diz respeito ao papel e importância que a indústria
petrolífera angolana (refiro-me ao Ministério dos Petróleos de Angola – MINPET, à
Sociedade Nacional de Combustível de Angola – SONANGOL, e as empresas
petrolíferas multinacionais presentes em Angola) exerce na reconstrução e no
desenvolvimento sócio-económico de Angola, um país profundamente devastada pela
guerra.

Trata-se de um estudo que, visa, em primeiro lugar, frisar, que a sociedade


angolana sofreu bastante com o longo período de guerra, tendo as suas áreas sócias
vitais como, a saúde, habitação, emprego, educação sidas profundamente afectadas.
Posteriormente, pretende-se esclarecer que, durante décadas a indústria petrolífera
serviu de suporte à guerra, e que uma vez alcançada a paz, ela tem aplicado os recursos
na reconstrução e no desenvolvimento sócio-económico do país, apostando cada vez
mais em políticas públicas.

Assim, uma vez analisado o contributo do sector petrolífero, não restam dúvidas
quanto à amplitude e importância que possui na sociedade angolana, e aos esforços do
Governo em ver estabilizada a vida sócio-económica no país. Desde o desfecho da
guerra, muita coisa foi feita, apesar de ainda insuficiente mas, acreditamos que é
possível fazer mais e melhor.

Com tudo, espero que os esforços para a estabilização do país continuem no


sentido de melhorar as condições de vida dos angolanos e na construção de uma Angola
cada vez melhor e moderna.

Palavras-chaves: Indústria petrolífera, políticas públicas, desenvolvimento, sócio-


económico.
The present work is aimed to focus on, the role of Angolan Petrochemical
Ministry and the SONANGOL – Oil industry in the reconstruction and development of
highly devastated socio-economic structure of Angola, after its independence.

The entire process have been set to study, firstly the area that had suffered most,
the society and the parts which had been highly affected, the sector of health,
employment, and housing among various others. Secondly, the history of the
development of the petrochemical agencies and their derivatives which during the last
few decades had served to finance the civil-wars and now, for the last couple of years
the same resources have been, under various governmental planning, are used in
improving the highly required health, housing, schooling among various other facilities
which would eventually help in providing a new socio-economic order in Angola.

Apart from what have been mentioned earlier, the government of Angola,
making good use of the income from the oil industries, has also been undergoing
through various processes of creating jobs, at various levels, for those who have been
awaiting for a better life. This is giving a boost in the formation of Angolan socio-
economic visual which consequently had considerable impacts on its society. A lot have
been projected and achieved but we are still very far from when we could say that the
people of Angola have now what they deserved for long. I expect and would like to
sincerely believe that this promising policy of the government would continue for a long
time until it attains to what is really needed for a new and a modern prosperous society
of Angola, respecting each others basic needs and rights.

In order to complete this work, as initially planned, I had to consult numerous


libraries and departmental records in various forms; books, journals and official
documents.

Key words: oil industry, government policy, development and socio-economic.


ÍNDICE

Lista de Siglas e Abreviaturas….…………..………… ………………………….7


1. Introdução………………………………….…………………………………...9
2. Origens, evolução e estruturação do sector petrolífero angolano……………..13
2.1. A estruturação na 1ª República…………………………………………...15
2.2. A estruturação na 2ª República …………………………………………..16
2.3. Influencia e impacto do petróleo na economia …………………………..20
3. Um olhar sobre o estado da economia angolana……………………………...22
4. Diagnóstico sócio-económico pós-independência……………………………26
5. O papel e contributo do sector no desenvolvimento sócio-económico….........32
5.1. Políticas e programas do Governo para o país…………………………...32
5.2. O programa da indústria petrolífera……………………………………...35
5.2.1. Objectivos………………………………………………………...35
5.2.2. Políticas e Medidas de Política…………………………………...36
5.3. Criação, papel e contributo do Ministério dos Petróleos………………...37
5.3.1. Angolanização…………………………………………………….40
5.3.2. Política de formação………………………………………………44
5.3.3. Política de emprego……………………………………………….46
5.3.4. Política ambiental………………………………………………....49
5.3.5. Política de saúde ……………………………………………….....51
5.3.6. Conteúdo local ou local content…………………………………..52
5.3.7. Fundo de Compensação de Combustível (FCC)………………….53
5.4. A SONANGOL E.P. Promotora do desenvolvimento em Angola……....53
5.4.1. Objecto social, actividades, associação e atribuições múltiplas….54
5.4.2. Órgãos de gestão da SONANGOL…………………………….....56
5.4.3. Responsabilidades/engajamento sociais da empresa…………......56
5.4.3.1. O fundo de pensões da SONANGOL……………………57
5.4.3.2. Engajamento com as comunidades e seus funcionários....57
5.5. Responsabilidade social das empresas petrolíferas multinacionais no……..
sector petrolífero angolano……………………………………………...59
6. Perspectivando o futuro do sector……………………………………………66
7. Desafios e expectativas…………………………………………………….....69
8. Conclusão………………………………………………………………….....74
9. Bibliografia…………………………………………………………………..78
Anexos…………………………………………………………………….....81
Anexo 1. Mapa da República de Angola…………………………………….82
Anexo 2. Síntese de informação estatística……………………………….....83
Anexo 3. Comportamento da economia no primeiro trimestre de 2006.……84
Anexo 4. Comportamento da indústria petrolífera………………………......86
Anexo 5. Orçamento global e financeiro. 2006 – 2007……………………..88
Anexo 6. Organograma da SANONGOL………………………………...…90
Anexo 7. Organograma do MINPET………………………………………..91
Anexo 8. Companhias petrolíferas presentes em Angola…………………...92
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Lista de Siglas e Abreviaturas

AAA – Angola, Agora e Amanhã


AERS – Actividades Empresariais de Responsabilidade Social
BM – Banco Mundial
BNA – Banco Nacional de Angola
b/p – barris por dia
CABGOC – Cabinda Gulf Oil Company
COPA – Companhia de Petróleo de Angola
CPP – Contratos de Partilha de Produção
DNA – Direcção Nacional das Alfândegas
EIU – Economist Intelligence Unit
EITI – Exctrative Extractive Industry Transparency Initiative
EUA – Estados Unidos da América
FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations (Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura)
FCC – Fundo de Compensação de Combustíveis
FMI – Fundo Monetário Internacional
GPL – Gás de Petróleo Liquefeito
GURN – Governo de Unidade e de Reconciliação Nacional
HRW – Human Rights Watch
IDE – Investimento Directos Estrangeiros
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
INE – Instituto Nacional de Estatística
INEFOP – Instituto Nacional de Formação Profissional
INP – Instituto Nacional de Petróleos
Kz – Kwanza
JV – Joint Venture
LNG (GNL) – Gás Natural Liquefeito
MAPESS – Ministério da Administração Pública, Emprego e Segurança Social

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Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

MINARS – Ministério da Assistência e Reinserção Social


MINFIN – Ministério das Finanças
MINPET – Ministério dos Petróleos
MINPLAN – Ministério do Planeamento
MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola
OGE – Orçamento Geral do Estado
ONG – Organização Não Governamental
ONU – Organização das Nações Unidas
OPEP – Organização dos Países Produtores de Petróleo
PALOP – Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
PDG – Plano Director do Gás
PIB – Produto Interno Bruto
PNB – Produto Nacional Bruto
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PSA – Production Sharing Agreements
PWC – Price Waterhouse Coopers
SADC – Southern African Development Community (Comunidade de
Desenvolvimento da África Austral
SMP – Staff Monitored Programme
SONANGOL E.P – Sociedade Nacional de Combustível de Angola, Empresa Pública
UAN – Universidade Agostinho Neto
UCAN – Universidade Católica de Angola
UEA – União dos Escritores Angolanos
UNCTAD (CNUCD) - Conferência das Nações Unidas para o Comércio e
Desenvolvimento
UNICEF – United Nations Children’s Fund (Fundo das Nações Unidas para a Infância)
UEA – União dos Escritores Angolanos
U.E.A – União dos Escritores Angolanos
UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola
USD – United States Dollar
UTEC – Universidade de Tecnologia e Ciências
VIH/SIDA – Vírus de imunodeficiência humana/ Síndroma de imunodeficiência
adquirida

8
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

1. INTRODUÇÃO

Matéria-prima estratégica, o petróleo, que está na génese de muitos conflitos,


condiciona de forma significativa a vida quotidiana e o desenvolvimento e crescimento
económico da comunidade internacional.

O período escolhido para abordagem e análise do trabalho situa-se entre 1975 e


2005, durante o qual ocorreram acontecimentos significantes, tais como a
independência, a guerra civil entre outros.

Esse trabalho pretende desenvolver um estudo sobre o papel e contributo do


sector petrolífero angolano, mais precisamente, Ministério dos Petróleos de Angola
(MINPET), a Sociedade Nacional de Combustível de Angola, Empresa Pública
(SONANGOL E.P) e companhias ou empresas multinacionais estrangeiras que operam
em Angola, no desenvolvimento sócio-económico 1 do país.

Assim, fará sentido saber como é que a indústria petrolífera angolana pode
promover o desenvolvimento sócio-económico em Angola. Pretende-se assim
demonstrar que tal promoção passa por alimentar políticas públicas que sustentem
políticas de desenvolvimento.

Ao longo do trabalho procurarei identificar e analisar, por um lado, a forma de


sustento às políticas públicas que promovem ou possam promover políticas de
desenvolvimento sócio-económico no país e, por outro, na resposta aos desafios e
expectativas que se impõem a médio e longo prazo.

Em Angola, ainda existe alguma carência de estudos sobre o contributo e


impacto do petróleo no desenvolvimento sócio-económico do país, razão que me levou
a elaborar este trabalho. A investigação e me desse trabalho baseou-se em recolha de
informação em fontes originais (MINPET, SONANGOL e algumas empresas
multinacionais), revistas, periódicos e conversas com agentes do sector directamente
ligadas ao tema em questão.

1
Wojcikiewicz Sandro da Silveira, Abordagem Sistémica para Diagnóstico da Vocação Competitiva e
Desenvolvimento Micro regional - O Caso de Blumenau, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianóplis, 1999, p. 8.

9
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

O período escolhido para o presente estudo é desde a independência até aos


nossos dias (1975-2005), tendo em conta a crescente importância do petróleo que
assumiu um papel altamente significante na economia politica de Angola, afectando não
só o aspecto económico mas também o desenrolar e o desfecho da guerra. Ao ano de
2005 acrescentarei o de 2006 e 2007, isso porque o trabalho começou por ser
investigado e desenvolvido em 2005, tendo a sua evolução em 2006 e seu final em
2007.

Voltando ao assunto anteriormente frisado de realçar os elementos fundamentais


que projectaram o país numa nova era: o alcance da paz em 2002, facto fundamental e
necessário para o desenvolvimento e crescimento económico do país; o aumento
significativo da produção nacional do crude, acompanhado dos preços altos do petróleo
no mercado internacional que traduziu em crescimento económico muito significativo
do país.

O trabalho divide-se em 8 capítulos. Depois da breve introdução, segue-se o


capítulo 2 que aborda a origem, evolução e estruturação do sector petrolífero angolano
desde o período colonial até aos nossos dias, seu impacto e influencia na economia do
país, ponto de grande relevância na medida em que a indústria necessitava de uma
estrutura sólida, capaz de dirigir o sector. Nesse capítulo, serão abordadas as diferentes
fazes por onde passou o sector. O capítulo 3 fala do estado da economia angolana.

O diagnóstico sócio-económico do país pós-independência é desenvolvido no


capítulo 4. O capítulo 5 é especialmente dedicado à problemática do papel e contributo
da indústria petrolífera angolana no e desenvolvimento sócio-económico do país,
iniciando-se com uma apresentação e identificação das políticas e programas do
Governo para o país com particularidade no programa do sector petrolífero, onde se
destaca o papel do MINPET, da SONANGOL e das empresas petrolíferas
multinacionais que operam em Angola no quadro das responsabilidade social das
mesmas. É nesse capítulo que foco o papel dos protagonistas do sector nas áreas sociais
em que estão engajados.

O presente trabalho aborda ainda uma análise prospectiva do sector e dos desafios
e expectativa, os mesmos encontram-se desenvolvidos nos capítulos 6 e 7

10
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

respectivamente, seguindo-se de uma conclusão geral no capítulo 8, regido pela lógica


de análise das questões teóricas anteriormente descritos.

Para a pesquisa e/ou investigação mais abrangente desta tese, frequentei


instituições nacionais ligadas ao sector e não só, capazes de fornecer elementos e pistas
importantes, e necessárias, que servissem de contributo para a elaboração do presente
trabalho.

O Centro de Documentação e Informação da SONANGOL:

ƒ Revista Batuque - Revista da Total E&P Angola, Março, Luanda, 2006-2007;

ƒ Revista da Total E&P Angola, Total E&P Angola. Pesquisa e Produção, Luanda.
Fevereiro, 2007; e

ƒ Revista SONANGOL, todos os números de 2005-2006, Editoras Execução


Gráfica, Luanda e Editando, Lisboa.

O Centro de Documentação e Gabinete de Recursos Humanos do Ministério dos


Petróleos de Angola:

ƒ Relatório de Actividades do Sector Petrolífero, referente ao ano de 2005,


Gabinete de Estudos e Planeamento, MINPET, Luanda;

ƒ Relatório de Actividade do Sector 2000, Ministério dos Petróleos, Luanda, 2001;

ƒ Revista Energia N.º70,“ Dólar, Petróleo e Económica, Color Estúdio, Luanda,


2005.

ƒ Revista Energia N.º71, “SADC – Oportunidade de Investimento na Energia”,


Color Estúdio, Luanda, 2005;

ƒ Revista Energia, “O Petróleo. Campo Dália Reforça Produção Petrolífera de


Angola”, Editora Eurobrape, Luanda, 2007;

ƒ Revista Energia Nº 65-66, Color Estúdio, Outubro-Dezembro Luanda, 2003;

ƒ Revista Petróleo. “O Petróleo” MINPET, Lisboa, 1992; e

ƒ Revista Petróleo Nº1, “Desenvolvimento de Actividade Petrolífera Nacional”,


Editora Imagem, VIP, Soyo, 2003.

11
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Instituto Nacional de Estatística:

ƒ Pacheco, Fernando, A Questão da Terra para Fins Agrícolas em Angola, FAO,


Luanda, 2002;

ƒ Perfil Estatístico Económico e Social, 1992-1996, INE, Luanda, sem data;

ƒ Perfil da Pobreza em Angola. Luanda, INE, Instituto Nacional de Estatística,


Luanda, 1996; e

ƒ Políticas de Redução da Pobreza: Procurando a Equidade e a Eficiência,


Programa das Nações Unida para o Desenvolvimento, Luanda, 1999.

12
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

2. ORIGENS, EVOLUÇÃO E A ESTRUTURAÇÃO DO SECTOR


PETROLÍFERO ANGOLANO

O conhecimento da existência de petróleo em Angola é de longa data. Os


portugueses deram conta da existência de petróleo em Angola, através de relatos das
populações indígenas de diversas zonas do território de algumas regiões do litoral de
Angola, que utilizavam o petróleo viscoso e o betume como combustível. Estas
ocorrências de petróleo despertaram o interesse das autoridades portuguesas nos
primórdios do século XVIII 2 .

Porém, a actividade de pesquisa de petróleo em Angola só considera-se ter início


em 1910, com a atribuição da primeira licença para pesquisa de hidrocarbonetos que foi
confinada à firma Canha e Formigal numa área de aproximadamente 114.000 Km2,
correspondente às áreas terrestres das bacias do Congo e do Kwanza. É com a
concessão daquela licença para pesquisa que começa a história da exploração de
petróleo em Angola. Paralelamente, a PENA (Companhia de Pesquisa de Minérios da
Angola) e a SINCALIR dos EUA, também encontravam-se envolvidas em similares
actividades. Este período, que irá se prolongar até 1936 é considerado o primeiro
período 3 .

Porém todas aquelas actividades não conseguiram encontrar acumulações de


reservas que lhes permitissem avançar para uma produção comercial 4 . Desse modo, a
actividade foi suspensa em 1933 para ser retomada em 1952 pela Companhia de
Combustível do Lobito (Purfina), que obteve uma concessão que viria marcar uma nova
era na indústria petrolífera do país.

É a partir de 1952, que a indústria irá dar sinal de maior desenvolvimento, pois é
nesse período que a primeira descoberta comercial será concretizada. Assim, o início da
produção comercial acontece em 1955 5 , após 45 anos do início da actividade de

2
Jorge Rebelo, “Contribuição Para a História da Indústria Petrolífera em Angola”, Trabalho Apresentado
na Reunião da SPE-Secção de Angola, Lisboa, 1988, p.1.
3
Ibidem.
4
Ibidem.
5
Tony Hodges, Angola – Do Afro-Estalinismo ao Capitalismo Selvagem, Principia, Cascais, 2002, p.190.

13
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

pesquisa pertencente à Missão de Pesquisa de Petróleo, Petrofina, responsável por


descobrir em 1955 um pequeno jazigo a que deu o nome de Benfica.

Em 1961 foi criada a Companhia de Petróleo de Angola, COPA, que 3 anos


mais tarde irá associar-se à, já mencionada americana, Sincalir Consolidated Oil
Corporation, que assumiu a direcção dos trabalhos de perfuração de diversos poços. No
entanto, a ascensão de Angola ao lugar de relevo que hoje ocupa como produtor, não só
a nível do continente africano mas também a nível mundial, começou mais
precisamente em 1966, quando após vários anos de insucesso no onshore de Cabinda a
Cabinda Gulf Oil Company, efectuou nos finais de 1966 a descoberta dos importantes
jazigos de Limba e Malongo no offshore da mesma área. Entre 1966 e 1975 houve uma
revisão da política para a pesquisa de petróleo e decisão para uma maior participação da
parte portuguesa na actividade de pesquisa, a par da atribuição de novas concessões
onshore e offshore e formação de joint-ventures 6 com a Total e a Texaco como
operadoras. Situação que irá manter-se até à independência 7

Na altura da independência a actividade petrolífera do país tinha uma expressão


muito reduzida comparada com a que tem actualmente. Em 1975 operavam em Angola
três Companhias: a Gulf Oil; a Texaco; e a Petrofina 8 que detinham o monopólio do
sector dos petróleos. A Petrofina era a única refinadora do país. Com o advento da
independência em 1975, definiram-se novas orientações para a actividade de pesquisa e
produção.

Em 1976 o governo angolano decidiu imprimir uma nova dinâmica no sector,


criando a SONANGOL E.P., publicando uma legislação mais adequada ao exercício da
actividade de petróleo no país. Mais tarde, a 26 de Agosto de 1978, é publicado o
Decreto 13/78, que cria o Ministério dos Petróleos e vem assegurar, dirigir e controlar a
reestruturação da indústria petrolífera com a Lei das Actividades Petrolíferas 9 . Foi o
momento que marcou o início da reactivação da actividade de exploração em Angola
pós-independência.

6
Tony Hodges, Angola - Do Afro-Estalinismo ao Capitalismo Selvagem, pp.195-196.
7
Raimundo Vilares, O Petróleo, in Revista Petróleo, Lisboa, 1992, pp 3-7
8
Tony Hodges, Angola – Do Afro-Estalinismo ao Capitalismo Selvagem, p.195.
9
Morais Guerra, “Angola – Origens da Estruturação do Sector Petrolífero”, in Revista Energia, n.º 65,
Color Estúdio, Luanda, 2003, p.12.

14
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

O Decreto, na altura considerado a Lei Reguladora do Petróleo, orientava a


prospecção, a pesquisa e exploração do petróleo e gás em Angola. Também determinava
que os direitos das actividades anteriormente citados, incluindo desenvolvimento e
produção de hidrocarbonetos líquidos e gasosos, são de exclusiva responsabilidade da
SONANGOL. O Decreto ainda autorizava esta a associar-se a companhias estrangeiras
para as actividades atrás referidas.

Com a independência, a indústria petrolífera angolana ganha nova dinâmica em


todas as suas formas, e como resultado um grande número de empresas estrangeiras
manifestaram interesse em desenvolver a sua actividade em Angola. A industria
petrolífera angolana evolui então com determinação e segurança, fazendo com que
Angola ocupe hoje um lugar de destaque como produtor a nível regional e mundial.

A evolução histórica do sector petrolífero em Angola, pode ser demarcada,


segundo um critério jurídico-político 10 , o qual nos dá, dentro da lógica da evolução
política e económica do país, dois períodos distintos: o da 1ª República e o da 2ª
República.

Assim, o estudo e avaliação do passado terão como alvo os dois períodos, da 1ª e


2ª República, com análise mais concentrada na segunda, uma vez que é aí que se dão os
acontecimentos mais relevantes para a sociedade angolana.

2.1. A estruturação na 1ª República

A 1ª República situa-se entre os anos de 1975 e 1992, tendo como marcos


jurídicos, de início e final, a Lei Constitucional de 11 de Novembro de 1975 e a Lei
Constitucional de 16 de Setembro de 1992.

Foi um período onde se vivia sob orientação de um Estado socialista de partido


único e de uma economia de direcção central. Foi a época da materialização dos
princípios do socialismo e das nacionalizações.

10
Morais Guerra, “Angola – Origens da Estrutura do Sector Petrolífero”, in Revista Energia, Petróleo,
Nº 65, Color Estúdio, Luanda, p. 11.

15
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

O sector dos petróleos não fugia ás regras, pelo que apontava-se no sector para a
nacionalização dos meios de produção existentes, tanto por via da constituição como
através da criação de novas empresa estatais.

A estruturação da organização económica petrolífera estatal foi protagonizada,


por uma Comissão Nacional de Reestruturação do Sector de Petróleos, que teve a tarefa
de elaborar estudos e analisar medidas e soluções a propor ao Governo pela vertente
empresarial e pela vertente da administração pública tutelar 11 .

Assim, resultou uma Administração pública que, organizada originariamente por


simples Comissões, actuava segundo as regras administrativas dominantes. A já
referenciada Comissão Nacional de Reestruturação, bem como a Comissão de
Coordenação e Controle de Petróleos, de composição mista, integrando representantes
das finanças, banca e petróleos. Após estas seguiu-se a Direcção Nacional dos
Petróleos 12 , em 1977, com o Fundo de Compensação de Combustível13 , já de si herdado
da época colonial e sob tutela inicial do Ministério da Indústria e Energia, hoje
transformado em Ministério dos Petróleos.

A constituição da SONANGOL em 1976 foi o marco pioneiro e do princípio da


Angolanização (processo que visa não só substituir alguns profissionais estrangeiros por
nacionais nas empresas privadas, como também melhorar as condições sociais dos
mesmos) da actividade petrolífera nacional 14 . O princípio da Angolanização da
actividade petrolífera tem, porém, âmbitos objectivos e subjectivos de desenvolvimento
diversificados, aos quais voltaremos mais adiante.

2.2. A estruturação na 2ª república

A 2ª República decorre desde 1992, com o ponto marcante na chamada Lei


Constitucional de 26 de Setembro de 1992 15 , que é o período ainda em curso no país. O

11
Morais Guerra, “Angola – Origens da Estruturação do Sector Petrolífero”, 2003, p. 11.
12
Fazendo hoje parte do Ministério dos Petróleos.
13
,Morais Guerra “ Angola – Origem da Estrutura do Sector Petrolífero”, p.12
14
1º Encontro Metodológico Sobre a Problemática: Colocação de Mão-de-Obra Nacional na Indústria
Petrolífera Angolana, Gabinete de Recursos Humanos, MINPET, Luanda, 2004, p.16
15
Hodges Tony, Angola do Afro – Estalinismo ao Capitalismo Selvagem, p. 30.

16
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

termo final antevê-se, possivelmente, com a realização das futuras eleições gerais no
país e entrada em vigor de uma nova Constituição.

Neste período destacam-se alguns pontos relevantes inerentes às linhas


fundamentais da organização geral do Estado, com particular atenção para a ordem
jurídica da economia cujo processo geral de flexibilização culminou nos nossos dias
numa progressiva liberalização económica 16 . Assim, são eles:

ƒ Consagração do estado de direito e da democracia.

ƒ Consagração da economia de mercado e seus inerentes princípios da


propriedade privada e da livre iniciativa privada.

ƒ Manutenção do princípio da intervenção do Estado na economia, sob as


suas mais diversas modalidades directas e indirectas, o que equivale a
dizer que o Estado assume um papel dirigente da economia, do qual se
esperam acções não só de direcção e regulação da economia de mercado
como do fomento da mesma.

ƒ Consagração e aplicação dos diversos instrumentos pressupostamente


tidos para servir a implementação da economia de mercado, tais como as
privatizações e actividades económicas que deixam de estar reservados
às empresas públicas.

Concluindo, no quadro daquilo que foi abordado nesse capítulo, ou seja, as


origens da estruturação do sector petrolífero angolano, podemos dizer que a 1ª
República constituiu o início dum processo evolutivo que, passando pela 2ª República
ainda em curso, culminará naquela que virá a ser a 3ª República.

Ao longo de várias décadas, a exploração de petróleo em Angola teve períodos


de evolução e desenvolvimento diferentes, bem caracterizados pelos meios técnicos e

16
Hodges Tony, Angola do Afro-Estalinismo ao Capitalismo Selvagem, pp. 29-30.

17
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

financeiros utilizados, pela orientação política e por sucessos e insucesso que


determinam a actividade desenvolvida.

O sector petrolífero tem sido a indústria mais activa em Angola, operando com
sucesso e atraindo o investimento estrangeiro durante décadas. As receitas do petróleo
continuam a representar uma parte significativa do PIB e das receitas do Estado. O
sector procura ainda, continuar a uniformizar acordos futuros, fortalecer e clarificar o
papel dos diversos intervenientes da indústria. Razão pela qual o Governo procurar
garantir que o regime jurídico confira estabilidade suficiente aos contratos existentes
para continuar a atrair investimento estrangeiro no sector e no país em geral.

A indústria petrolífera teve a sua evolução fora das estratégias da economia de


Angola independente, nas estratégias do passado colonial. Afirmando-se como um
sector de continuidade, desenvolveu-se de uma forma geral incorporado na economia
internacional e de fora da lógica da economia nacional 17 .

A indústria petrolífera do país é predominantemente offshore e gera ainda


poucos empregos, ou melhor, insuficientes de acordo com o pretendido pelo princípio
da Angolanização. Seja como for, o Estado angolano está fortemente dependente dessa
indústria, pois cerca de 80 a 90 % da sua receita fiscal e mais de 90% das suas
exportações tem origem nesse sector 18 .

Contudo o sector depara-se com problemas como: a ausência de infra-estruturas


básicas e capacidade económica; a maioria dos equipamentos e serviços são importados;
por não existir pessoal suficiente com capacidade e formadas nas áreas necessárias à
indústria a solicitarem emprego, o sector aposta e gasta muito com formação no exterior
e interior do país.

17
Cornélio Caley, “Evolução do Sector Petrolífero em Angola”, in Revista Sonangol, apostar na
Responsabilidade Social. Bloco 10 em Fase de Exploração, II Série – n.º 11, Editando, Lisboa, 2005, pp.
32-33.
18
“30 Anos da Independência de Angola”, in Semanário Expresso, Nº 1723, (Secção de Economia),
Lisboa, 2005.

18
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Desde a independência de Angola aos nossos dias, tem vindo a verificar-se um


aumento significativo e constante da produção petrolífera. Em Março de 2007 Angola
produzia cerca de 1. 400.000 b/d 19 .

Portanto, para termos uma ideia da dimensão da produção, em 2000 as reservas


oficialmente comprovadas do país eram já de 5640 milhões de barris por dia, o
suficiente para continuar a extrair petróleo, ao ritmo actual de produção, durante quase
17 anos. Por outro lado, as reservas estimadas do país ascendem a 12 300 milhões de
barris, ou seja, o equivalente a 38 anos de produção ao mesmo nível 20 .

No primeiro semestre de 2002, a produção em Angola ultrapassava já os 900 000


barris por dia (b/d) (MINPET, 2007), o que colocava o país, no segundo maior produtor
de petróleo da África Subsariana, a seguir à Nigéria 21 .

O aumento da produção petrolífera do país tem a ver com o elevado número de


jazidas descobertas, que se encontram à espera de investimentos para posterior
desenvolvimento. Calcula-se que a produção duplique antes do final da década,
alcançando dois milhões b/d 22 .

A esse ritmo, Angola aproximar-se-ia do nível de produção da Nigéria e a longo


prazo não seria surpresa se Angola ultrapasse a Nigéria e se tornar no maior produtor
da África Subsariana, o que teria enormes vantagens para o país e para o rendimento
per capita.

Todo este aumento de actividade, de investimento e de descobertas de reservas


petrolíferas ocorreu numa altura em que o país atravessava um longo e sangrento
período de guerra. Com o fim do conflito antevê-se agora uma época de crescimento e
desenvolvimento socio-económico para o país e para a população em particular.

19
MINPET, Luanda, 2007.
20
Tony Hodges, Angola – Do Afro-Estalinismo ao Capitalismo Selvagem, pp. 191-192.
21
A Nigéria produzia cerca de dois milhões de barris diários em 2000.
22
MINPET, Luanda, 2007.

19
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

2.3. Influência e impacto do petróleo na economia do país

No período pós-independência, o petróleo assumiu um significado excepcional


na economia política de Angola. A indústria petrolífera é o único sector dinâmico da
economia e tem um impacto enorme e significativo no crescimento e desenvolvimento
económico do país.

Mas infelizmente o sector petrolífero em Angola gera ainda relativamente


poucos empregos para os angolanos.

A contribuição líquida do sector para a balança de pagamentos tem


correspondido a cerca de metade do valor global das exportações de petróleo 23 , isto,
devido à subida dos preços internacionais do petróleo. No entanto, mesmo em termos
puramente económicos, o petróleo apresenta alguns inconvenientes ou riscos.

Um dos problemas que se apresenta é a excessiva dependência de Angola deste


recurso, ficando perigosamente exposta às fortes flutuações de preços que afectam o
mercado petrolífero 24 . Nas duas últimas décadas, o sector petrolífero tornou-se sem
dúvida no único sector dinâmico da economia angolana, ao mesmo tempo que a
estagnação ou a decadência do resto da economia foram ampliando a dependência do
país em relação ao petróleo. Esse tem sido o seu impacto negativo no desenvolvimento
de outros sectores da economia. Os outros sectores quase que não de fazem sentir. Pelo
que se defende uma maior intervenção do Estado consubstanciando-se na atribuição de
mais verbas provenientes do sector petrolífero, a serem canalizadas em outros sectores
da economia.

O petróleo constitui para o povo angolano um recurso transmissor de confiança,


segurança ou tranquilidade, de que o futuro lhes reserva uma melhor vida e que o país
poderá sair da situação em que se encontra num futuro breve e alcançará o tão desejado
crescimento e desenvolvimento económico. Os angolanos sentem-se orgulhos por

23
Boletim Estatístico, n.º 8, BNA, Luanda, 1998/1999.
24
De Menezes Bruzaca Aires, O Petróleo no Contexto Macro-económico, (extracto da tese sobre
implicações sócio-económicas da exploração do petróleo em São Tomé e Príncipe), Instituto Superior de
Economia e Gestão, Lisboa, sem data.

20
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

estarem entre os países mais ricos em termos de recursos naturais, muitos ainda por
explorar.

Em todos os aspectos, o Estado habituou-se fortemente a viver das receitas do


petróleo, que é, em última análise, um recurso não renovável, embora as reservas do
país prometam muitos mais anos de produção. No entanto, o país não pode correr o
risco de esgotar esse recurso, sem extrair deles benefício a longo prazo.

21
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

3. UM OLHAR SOBRE O ESTADO DA ECONOMIA ANGOLANA

A economia angolana tem vindo a crescer de forma satisfatória, facto que leva a
crer que Angola está no bom caminho rumo ao progresso, crescimento económico. Esse
crescimento surge numa altura, em que país precisa de resolver a situação sócio-
económica, de forma a minimizar o sofrimento da maioria da população, através da
melhoria das condições de vida.

De acordo com o FMI, estimava-se que no ano de 2006 ocorreria um


crescimento económico na ordem dos 15% do Produto Interno Bruto e entre 2007-2010
uma taxa de crescimento de 13%, em razão do aumento da produção do petróleo na
ordem de 1,4 milhões de barris diários para 2 milhões 25 .

Paralelamente a toda a actividade de pesquisa e produção, o Estado angolano


através das receitas do petróleo e das empresas petrolíferas tem levado a cabo acções
para a melhoria das condições sócio-económicas das populações. Essas acções estão
patentes nos seus Programas Bienais do Governo, que identifica as bases gerais da
programação económica.

As perspectivas económicas para os próximos anos são fortemente alimentadas


com a prevista subida da produção de petróleo para dois milhões de barris diários, já em
finais de 2007.

Com o advento da paz, a economia angolana, cada ano que passa, vai ganhando
mais velocidade. Entre 2005 e 2007 registaram-se as maiores taxas de crescimento da
economia angolana 26 .

A alta do petróleo, a par da paz, está a permitir o desenvolvimento de outros


sectores da actividade económica que se encontravam outrora estagnados. Por exemplo
uma das áreas em progresso em Angola é o sector bancário onde o dinamismo se
expressa quer pela emergência de novos bancos, quer pelo papel acrescido em termos de

25
“ 30 Anos de Independência de Angola”, in Semanário Expresso, nº. 1723 (Secção de Economia).
26
Ibidem.

22
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

intermediação financeira, consubstanciado no facto do crédito ao sector privado


corresponder já cerca de 50%dos recursos captados sob a forma de depósitos 27 .

Um dos factores inerentes ao bom ritmo da economia de Angola tem sido o


Investimento Directo Estrangeiro. Em 2005 Angola estava colocada no quarto lugar do
ranking mundial da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e
Desenvolvimento (UNCTAD) para captação de IDE 28 , não falando dos muitos
projectos financiados pelo Banco Mundial e outras instituições internacionais.

A linha de crédito avaliada em cerca de 2 mil milhões de dólares que a


República Popular da China abriu (valor que poderá ser superior, tendo em conta a
forma rápida com que a China tenciona se estabelecer no mercado angolano), vai
permitir a implementação de projectos de recuperação sobretudo de infra-estruturas na
área de transportes 29 .

Ao longo dos últimos anos, Angola aparece destacada nos lugares cimeiros entre
os países africanos receptores do investimento direito estrangeiro, com grande destaque
para o sector petrolífero e àqueles ligados a ele.

Uma vez que o petróleo é uma fonte esgotável o país não deve só contar com
este precioso recurso para alcançar os objectivos desejados. O problema que se coloca
aqui, incide na forma como o petróleo pode dinamizar os restantes sectores da
economia. De facto, é uma questão com enorme relevância que merece uma profunda
reflexão e discussão entre os agentes nacionais intervenientes na economia angolana,
tais como agentes do poder político e económico, agentes da indústria petrolífera do
país e ainda a Sociedade Civil Angolana.

Actualmente, a economia angolana é ainda baseada nos recursos naturais com


particularidade nos diamantes e sobretudo no petróleo. Por conseguinte, pensamos que

27
Banco de Portugal, Lisboa, 2005.
28
“ 30 Anos da Independência de Angola”, in Semanário Expresso, nº 1723, (Secção de Economia),
Lisboa, 2005.
29
Ibidem

23
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

se deve fazer funcionar outros sectores da economia por via de uma alteração
especializada e que a indústria petrolífera seja o suporte desse processo.

Em Angola defende-se cada vez mais a tese que defende uma presença mais
significativa dos angolanos na indústria transformadora e nos serviços, factor
fundamental na criação de pilares sólidos de consolidação dos grupos empresariais
nacionais. O desenvolvimento económico e empresarial de Angola terá de ser realizado
em primeiro plano a partir dos próprios empresários angolanos. Calcula-se ser este um
dos grandes desafios da actualidade para a economia angolana.

O plano de relançamento da produção agrícola e industrial, para substituir as


volumosas importações e gerar emprego, começa lentamente a dar os seus resultados e a
economia não petrolífera começa a ganhar espaço. 30 .

Como oportunidades gerais para o crescimento económico em 2007-2008


destacam-se 31 :

• a paz e o processo de reconciliação nacional em curso;


• a consolidação do processo de estabilização macroeconómica;
• as excelentes desempenhos em 2005 e a atracção do investimento
privado pelo País;
• o programa de re-infraestruturação do País em execução;
• o relativo reequilíbrio populacional no território nacional;
• a melhoria significativa da situação das Finanças Publicas
• a disponibilidade de linhas de crédito;
• a criação do Banco de Desenvolvimento de Angola; e
• Início de funcionamento do mercado de capitais e bolsa de valores.

Prevalecem, no entanto, algumas ameaças ao processo de reconstrução, tais


como a volatilidade dos preços do petróleo; a criação da Zona de Livre Comércio na
SADC (que pode, também, ser vista como uma oportunidade, em particular, para os
sectores de actividade mais dinâmicos e competitivos; a taxa de pobreza da população;

30
Programa Geral do Governo – Extensão Para o Biénio 2007-2008, GURN, Luanda, 2006. pp. 4-11.
31
Programa Geral do Governo – Extensão Para o Biénio 2007-2008, p. 8.

24
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

apesar da provável redução ocorrida em 2005, ainda apresenta valores bastante aquém
das metas do milénio; e a falta de um sistema integrado de transportes internos.

Segundo um Relatório da Comissão Económica das Nações Unidas para África,


sobre a evolução económica de África no ano de 2006, a economia de Angola encontra-
se entre as dez melhores do continente africano 32 .

A estabilidade da economia angolana não se deve apenas ao aumento das


receitas do petróleo bruto, mas também ao aumento do investimento estrangeiro directo,
política monetária sustentada e uma gestão macroeconómica adaptada à conjuntura, de
acordo com o relatório. Os efeitos do bom desempenho económico do país, ainda
segundo o documento, já se fazem sentir na prática, embora se reconheça ainda de
forma tímida, devido aos factores estruturais perfeitamente compreensíveis como é o
caso da guerra.

Seja como for, a tendência da economia é crescer e o futuro dela está sobretudo
nas mãos dos próprios angolanos, de quem muito dependerá a forma como os seus
recursos serão geridos.

32
Jornal de Angola/Angola Press, 6 de Junho de 2007.

25
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

4. DIAGNÓSTICO SÓCIO-ECONÓMICO PÓS-INDEPENDÊNCIA

O conflito armado em Angola teve consequências graves em todos os domínios


da vida da sociedade angolana. Grande parte da população rural foi deslocada, facto que
originou uma altíssima taxa urbanização. A moral das populações entrou em declínio.
Grande parte das infra-estruturas ficaram, se assim posso dizer, completamente
arrasadas, danificadas ou deixadas ao abandono. As minas estão espalhadas quase por
todo lado das zonas rurais, o que um constitui obstáculo ao desenvolvimento da
actividade agrícola

Uma excepção formidável e notável nesse quadro negro tem sido a indústria
petrolífera, que beneficiou, na sua qualidade de principal meio de financiamento do
Estado e da guerra, de políticas governamentais pragmáticas, visando captar
investimento estrangeiro, suportar o fardo pesado de inúmeros problemas nacionais, etc.
A par da indústria petrolífera juntou-se a diamantífera, embora com menor grau de
protagonismo continuou também a ser uma fonte importante de riqueza.

Porém, nos últimos anos, Angola tem apresentado quase como que um quadro
paradoxo, entre a coexistência de uma imensa riqueza em recursos naturais e o colapso
económico e a dissolução social. 33

Nas duas décadas e meia que se seguiram à independência, Angola sofreu


profundas mudanças sociais, assistindo-se a estrondosas movimentações para às zonas
urbanas. Este processo foi acentuado por grandes vagas de populações deslocadas das
zonas rurais em consequência da guerra.

Assim, podemos dizer que, as imensas convulsões populacionais relacionadas


com a guerra e transição de tipo de economia transformaram a sociedade angolana.

Não será possível apresentar alguns dos números em termos estatísticos, uma
vez que a produção de informação estatística no país ainda é incipiente, devido à

33
Tony Hodges, Angola – Do Afro-Estalinismo ao Capitalismo Selvagem, pp. 17-22.

26
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

escassez de recursos financeiros, materiais e humanos, segundo o próprio director-geral


do Instituto Nacional de Estatística (INE), Flávio Couto 34 .

O quadro social que a sociedade angolana apresentava nos anos que se seguiram
à independência, e mesmo à luz dos dias de hoje é negativo, sobretudo marcado pelo
empobrecimento de uma grande parte da população. Embora o petróleo dê ao país um
rendimento satisfatório, a maior parte da população ainda vive em situação de extrema
pobreza. É insuficiente o que das receitas do petróleo chega à maioria da população.

Nas zonas rurais, anos de guerra reduziram os camponeses a um nível de mera


subsistência, vivendo muitos deles com os apoios humanitários. Nas zonas urbanas,
onde a população aumentou com o êxodo rural e a elevada taxa de crescimento
populacional, a economia tem sofrido uma estagnação profunda quase sem interrupção
desde o período de transição para a independência, em 1975. O desemprego, que
aparece muitas vezes disfarçado de sub-emprego, é generalizado 35 .

Com o declínio do sector formal da economia e dos baixos salários na


Administração Pública, a maior parte da população urbana depende, para sobreviver, de
empregos e rendimentos no sector informal 36 . Este sector, que começou por se
desenvolver, em meados da década de 1980 sob a forma de uma economia clandestina
no tempo do planeamento centralizado, proliferou nos anos 90 e tornou-se na principal
fonte de emprego para a força de trabalho urbana em rápida expansão.

O sector é constituído principalmente por actividades de muito pequena


dimensão e de tipo comercial, ao invés de produtivo. Apesar da sua imagem de grande
dinamismo, o sector informal ainda está pouco desenvolvido, quer em termos de ramos
de actividade, em tamanho das micro-empresas e em níveis de capital investido. A
grande maioria dos participantes no sector trabalha por conta própria. Com efeito, o
emprego no sector informal tornou-se na principal fonte de rendimento,

34
Jornal de Angola, Luanda, 4 de Outubro, 2006.
35
Angola – Objectivos do Desenvolvimento do Milénio 2005, Governo de Angola e PNUD, Luanda,
2005, pp. 9-12.
36
, Mário Adauta, “Contribuição para o Conhecimento do Sector Informal em Luanda, Angola”, estudo
não publicado, Luanda, 1997, pp. 12-14.

27
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

complementando os baixos salários do sector público numa estratégia de sobrevivência


baseada na diversificação de rendimentos.

Não há virtualmente nenhum apoio social formal para os carenciados, a não ser
a ajuda humanitária fornecida por doadores internacionais, através das ONG e algumas
organizações ou associações nacionais. Em consequência das pressões que sofrem as
famílias pobres no meio urbano sobre a sua capacidade para enfrentar as dificuldades
da vida quotidiana, começaram a surgir problemas sociais novos, aparentemente
desconhecidos em Angola até princípios da década de 1990. Um deles é o fenómeno
crescente das crianças que saem de casa para viver nas ruas.

A pobreza não pode ser definida apenas em termos de rendimento familiar. A


pobreza implica também a negação de direitos sociais e económicos básicos que,
noutras circunstâncias, seriam garantidos por serviços públicos, se não fossem
acessíveis através do mercado 37 . Uma dimensão crucial da pobreza em Angola, é o
estado de degradação dos serviços públicos em sectores como a educação e a saúde.
Estes serviços começaram a deteriorar-se desde o início da década de 1980, em termos
quer de cobertura, quer de qualidade, devido à falta de orçamentos adequados, ao
decréscimo da capacidade institucional, aos efeitos devastadores da guerra na prestação
de serviços nas zonas rurais e a uma cada vez maior pressão populacional, sobretudo
nas cidades, agravada ainda pela falta de habitações, que faz com que as populações
agissem pela única via alternativa que resta a construção anárquica, e desta forma
transformar a capital do país, numa grande aldeia 38 .

Em consequência dos problemas acima citados, os indicadores sociais de


Angola situam-se entre os piores do mundo. Em 2004, Angola figurava em 166º lugar
na edição do Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento, um índice construído com base em indicadores de longevidade (ou
esperança de vida), escolaridade e nível de vida 39 .

37
Perfil da pobreza em Angola, INE, Instituto Nacional de Estatística, Luanda, 1996, pp.3-6.
38
Estratégia de Combate à Pobreza, Direcção de Estudos e Planeamento, MINPLAN, Ministério do
Planeamento, Luanda, 2004, pp.-9-14.
39
Relatório de desenvolvimento Humano 2004, PNUD, Nova Yorque, 2004, (edição portuguesa de
Mensagem, Serviço de Recursos Humanos), Lisboa. P. 143.

28
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Esta situação reflecte às más condições de vida de uma grande parte da


população em termos de acesso a recursos e serviços, sobretudo nas áreas com maior
densidade populacional.

O colapso dos serviços de saúde, a insuficiente e má alimentação, as fontes de


água não potável e a rápida urbanização sem acompanhamento, num contexto de falta
de planeamento urbano e de investimentos adequados em infra-estruturas urbanas,
contam-se entre os principais factores que fizeram e fazem aumentar o risco de doença.

As principais causas de mortalidade foram e continuam a ser a malária, as


infecções diarreicas e respiratórias agudas, as doenças evitáveis por vacinação (como o
sarampo) e a subnutrição.

Ameaçando sobrepor-se àqueles problemas sanitários tradicionais, surgiu o


espectro do VIH/SIDA, que pode vir a ser, nos próximos anos, a mais séria das ameaças
à saúde e ao bem-estar dos Angolanos, como acontece já na maior parte da África
Austral. A prevalência do VIH não é ainda tão grande como, por exemplo, na África do
Sul, no Botsuana, em Moçambique, e na Zâmbia, talvez por Angola ter estado menos
integrada na região, sobretudo no que respeita a transportes e migrações. Mesmo assim,
o vírus já está fortemente implantado e alastra rapidamente. O problema é sério e, caso
não se faça um sério combate prevê-se que a situação venha a ter sérios efeitos na
economia e que se torne num obstáculo à recuperação pós-guerra e ao desenvolvimento
a longo prazo, ou seja ao causar a morte de muitos dos relativamente poucos
profissionais qualificados do país, o VIH/SIDA poderá vir a aumentar ainda mais a
enorme falta de pessoal qualificado em Angola, que é um dos principais factores de
entrave ao desenvolvimento económico e social.

No que concerne à educação, no sentido de inverter o quadro negativo, o


Governo pós-independência deu grande prioridade ao alargamento do acesso à
educação e disso resultou um impressionante aumento do número de matrículas nas
escolas na segunda metade da década de 1970. Contudo, esse aumento não foi
acompanhado por investimentos adequados nomeadamente infra-estruturas
educacionais e a melhoria da formação dos professores. O resultado foi uma grave

29
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

quebra de qualidade. A juntar-se ao problema estava o alastramento e intensificação da


guerra. Desse modo, as taxas de escolarização são significativamente baixas 40 .

Não existem dados fidedignos sobre o analfabetismo dos adultos em Angola. O


analfabetismo não só priva grande parte da população dos seus direitos sociais e
culturais básicos, mas também, ao limitar e diminuir o capital humano, é um dos
principais obstáculos ao crescimento e ao desenvolvimento.

A principal razão pela qual o Governo no seu OGE (Orçamento Geral do Esta-
do) penalizava os sectores sociais, como é evidente, deveu-se e justificou-se sempre ao
factor guerra. As despesas com a defesa e segurança merecem ser sublinhadas como
razões fundamentais do declínio destes serviços públicos.

É difícil fazer uma análise rigorosa das despesas públicas devido à falta de
dados abrangentes sobre a execução orçamental. Mas, o gráfico a baixo desenhado
revela que a fatia dos sectores sociais como, a educação, saúde, segurança social,
assistência social e habitação reduziu significativamente no período de reacendimento
da guerra em 1998, altura na qual se registou um grande aumento nas despesas com a
defesa. Em 1999, a defesa e a ordem pública contaram com cerca de 60% das despesas
registadas e classificadas, seis vezes mais do que a parte das despesas destinadas ao
sector social, 9%. No entanto, em 2002, ano de relativa estabilização da guerra e de um
forte aumento das receitas petrolíferas, revelou-se um maior equilíbrio na distribuição
dos recursos, em benefício do sector social.

40
Tony Hodges, Angola – Do Afro-Estalinismo ao Capitalismo Selvagem, pp. 61-64.

30
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Despesas governamentais com a


defesa/ordem pública e com o sector social
(1997 - 2000)
70
60 59,6
50
40 40,8
30 31
25,5
25
20 29,5
13,8
10 9,1 Defesa e ordem pública

0 Sector social

1996 1997 1998 1999 2000 2001

Fonte: FMI, 2002.

Resumindo, o desenvolvimento social em Angola é caracterizado claramente por


um empobrecimento sério da maioria dos angolanos. Os angolanos estão numa situação
em que a esperança é fundamental.

31
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

5. O PAPEL E CONTRIBUTO DO SECTOR NO


DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÓMICO

Após uma breve síntese da história do desenvolvimento dos agentes económicos


tais como ministério do Petróleo e SONANGOL, e da situação da sociedade Angolana,
pós-independência, vamos abordar o tema mais complexo, contudo, muito importante,
alias aquilo que é parte fundamental desta tese, o papel e contributo da indústria
petrolífera angolana em melhoramento da vida sócio-económica deste país. Essa
responsabilidade é ainda hoje em Angola, uma matéria de domínio e responsabilidade
do Governo, ou seja, é o Estado quem controla e dirige a indústria petrolífera.

5.1. Políticas e programas do Governo para o país

As políticas e estratégias para o desenvolvimento do país estão expostas e


delineadas num documento oficial intitulado “Programa Geral do Governo” 41 que,
enumera um conjunto de objectivos gerais, onde se destacam a consolidação da paz, da
reconciliação nacional e a edificação das bases para a constituição duma economia
nacional integrada e autosustentada. A recuperação da produção nacional é o núcleo
central de articulação do Programa.

O Programa, define ainda como prioridade a melhoria das condições sociais da


população. Os resultados positivos que se alcançarem com a recuperação da economia
irão, assim, aumentar os efeitos dos investimentos públicos feitos nas áreas de infra-
estruturas e serviços sociais de natureza diversa.

Portanto, o Programa Geral do Governo, é um programa intercalar, podendo


assim dizer, que procura atender às carências mais importantes das populações, a
reabilitação das infra-estruturas económicas para recuperação da produção interna e o
lançamento das bases para a sua implementação.

Os objectivos fundamentais que o governo se propõe combater com rigor e


determinação e ver alcançado, uma vez garantida a paz e estabilizado o ambiente

41
Programa Geral do Governo – Para o Biénio 2005 – 2006, GURN, Luanda, 2004, pp. 4-5.

32
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

político-democrático, são a consolidação do processo de reconstrução da economia, o


combate à fome e à pobreza e a promoção da estabilidade social (elementos
fundamentais para a promoção do desenvolvimento). Serão estas as vias para se
traduzir em condições concretas os dividendos da paz e a reconciliação nacional 42 .

Sendo objectivos de médio/longo prazo, o seu alcance será o resultado de um


processo dinâmico, que, para além de incluir várias etapas, inclui também diferentes
domínios de intervenção económica e social do Estado, desde a estabilização macro-
económica, passando pelo relançamento da actividade económica e produtiva,
abarcando, ainda, o reforço da autoridade do Estado e pelo desenvolvimento do sector
privado. É de notar no entanto, que o cenário mais evidente da recuperação económica
que necessariamente a situação de paz deve propiciar o do aumento da produção do
sector não petrolífero. É este aumento da produção que estimulará e promoverá o
emprego e gerará rendimentos para as famílias mais pobres e outros aspectos sócias.

Assim, é necessário que se criem condições fundamentais que tornem


sustentável e irreversível o crescimento da indústria petrolífera angolana e assim um
aumento do PIB de forma a melhorar os indicadores sócio-económicos. Os resultados
positivos que se alcançarem com a recuperação da economia irão ampliar os efeitos
dos investimentos públicos feitos nas infra-estruturas e serviços sociais de natureza
diversa.

Como foi anteriormente frisado, o Programa Geral do Governo é um Programa


Intercalar, que tem procurado atender às carências mais importantes das populações,
reabilitar as infra-estruturas económicas, recuperação da produção interna e lançar as
bases para a implementação do plano de médio prazo a ser elaborado com base na
estratégia de desenvolvimento de longo prazo (onde consta as políticas e estratégias de
todos os sectores da economia angolana), e o mesmo é fortemente sustentado pelo
sector petrolífero, uma vez que o orçamento do país é quase na totalidade constituído
das receitas provenientes daquele sector.

42
Programa Geral do Governo – Extensão Para o Biénio 2007-2008, GURN, Luanda, 2006, p. 5.

33
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

As condições sociais, por exemplo, da população determinada pela capitação do


PIB, ainda não revelaram as alterações profundas que são de esperar numa situação de
paz e de estabilidade política. Por isso, o Governo elegeu o domínio social como um dos
mais importantes dos orçamentos dos últimos anos 43 .

A política social do Governo é justamente, orientada no sentido da valorização


dos recursos humanos, através da melhoria da prestação dos serviços de educação,
saúde e assistência social e pela vertente da política de rendimentos e preços.

Contudo, não será tarefa fácil alcançar os resultados pretendidos. Serão


necessários enormes esforços e sacrifícios. Como sempre frisei, a grande
responsabilidade na resolução de inúmeros problemas caberá à indústria petrolífera por
razões também já adiantadas.

A seguir, apresenta-se o programa do sector dos petróleos 44 , no âmbito do


Programa Geral do Governo para o Biénio 2005-2006 e 2007-2008 45 , cujo aspecto
central a destacar no Programa Geral do Governo – Extensão para o Biénio 2007-2008
tem a ver com o seu cariz de continuidade, relativamente ao de 2005-2006 ou seja, o
processo de reconstrução económica e a melhoria dos indicadores sociais das condições
de vida da população é demorado e complexo, daí que pretende-se que sejam
consolidados, por intermédio de um conjunto de acções e de projectos que concorram
para a criação de outros fundamentos económicos, para lá da economia mineira. As
prioridades continuam a ser as mesmas ou seja, reconstrução, combate à pobreza, à
fome e a promoção da estabilidade social

43
Programa Geral do Governo – Extensão Para o Biénio 2007-2008, p. 5.
44
Programa Geral do Governo para o Biénio 2005-2006, p. 10
45
Programa Geral do Governo – Extensão Para o Biénio 2007-2008, p. 4.

34
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

5.2. O programa da indústria petrolífera

5.2.1. Objectivos
O programa da indústria petrolífera para o biénio 2005/2006, tendo em
vista uma maior e melhor racionalidade económica do sector, definiu os
seguintes objectivos a atingir 46 :

1) introdução de melhorias significativas aos níveis da pesquisa,


desenvolvimento e produção do petróleo bruto e do gás e da sua
comercialização, quer no mercado interno quer no externo;

2) preparação e actualização da regulamentação do exercício da


actividade petrolífera;

3) qualificação dos recursos humanos do sector;

4) implementação de uma política de promoção da participação dos


empresários angolanos no sector com o objectivo de alargar a
base industrial do país, designadamente em áreas menos exigentes
em recursos tecnológicos e financeiros;

5) aprofundamento técnico-económico das potencialidades de


extensão da cadeia de valor da indústria petrolífera;

6) alargamento da comercialização a todo território nacional de


combustível; e

7) redução dos desperdícios, com relevo para os derrames.

46
Programa Geral do Governo Para o Biénio 2005-2006, pp.13-15.

35
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

5.2.2. Políticas e Medidas de Política

Com vista a prosseguir os objectivos anteriormente definidos foram


adoptadas as seguintes linhas de acção 47 :

a) alargamento das pesquisas às bacias interiores e cessação das


prorrogações dos períodos de pesquisa, de forma a permitir que a
SONANGOL P&P (Pesquisa e Produção) exerça o papel de operadora
como instrumento de diversificação das companhias a operar no país;

b) optimização dos custos de investimento em pesquisa e desenvolvimento,


através do uso de novas e comprovadas tecnologias;

c) reabilitação ou desenvolvimento de parques de stockagem de


combustível, a expansão da rede de revenda de lubrificantes, gás butano e
propano e a potenciação de sinergias entre vários Ministérios e Governos
Provinciais;

d) actualização do Plano Director do Gás (PDG) durante 2005 e


implementação dos projectos para o aproveitamento do gás associado;

e) reforço das instituições do sector, bem como a elaboração de um plano


estratégico de formação e gestão de recursos humanos;

f) elaboração e implementação de um plano nacional de contingência contra


os derrames;

g) início de construção da nova refinaria e o desenvolvimento do projecto


Angola LNG (Gás Natural Liquefeito); e

47
Programa Geral do Governo para o Biénio 2005-2006, p. 14

36
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

h) alargamento da comercialização a todo o território nacional de petróleo


iluminante, particularmente para satisfazer as necessidades da pesca e da
agricultura.

Dada a sua natureza intercalar, o Programa Geral do Governo – Extensão 2007-


2008 apresenta algumas características específicas, donde se destacam 48 :

• o pragmatismo, e a simplicidade;
• a operacionalidade;
• a articulação com o programa em curso, sendo dele uma extensão; e
• criação das bases metodológicas e operacionais de articulação com o
Plano de Médio Prazo 2009-2013.

5.3 Criação, papel e contributo do Ministério dos Petróleos

O Ministério dos Petróleos foi criado em 1978 com a Lei das Actividades
Petrolíferas, ou seja, a Lei no 13/78. O Ministério dos Petróleos de Angola, também
designado abreviadamente MINPET, é o Órgão da Administração Central do Estado
que tutela o sector petrolífero, sendo assim, o responsável da política nacional inerente à
actividade do sector dos petróleos. O Ministério dos Petróleos constitui o órgão
responsável pela directiva da actividade petrolífera em Angola 49 .

O MINPET internamente tem como parceiros directos no sector petrolífero a


SONANGOL e as demais companhias petrolíferas estrangeiras do sector que operaram
em Angola.

O bom cumprimento dessas políticas, tendo em conta o objecto social e os


objectivos para a qual o Ministério foi criado passa necessariamente pela existência de
um órgão controlador dinâmico e tecnicamente constituído, para que desse modo os
instrumentos reguladores das políticas já referidas possam ser cumpridos pelos órgãos
tutelados pelo Ministério dos Petróleos.

48
Programa Geral do Governo – Extensão 2007-2008, p.5
49
“Estatuto Orgânico do Ministério dos Petróleos”, Diário da República, Jornal Oficial da República de
Angola, Série – Nº44, de 18 de Outubro de 1996, Luanda, p. 582.

37
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

O papel importante e crescente que a indústria petrolífera angolana vem


assumindo nos últimos tempos na economia do país, constituindo desta forma o motor e
factor primordial de promoção do crescimento e desenvolvimento económico, facto que
levou o Governo a atribuir e a dotar o órgão de tutela de uma estrutura sólida, dinâmica
e eficiente, capaz de corresponder às exigências técnicas sempre crescentes da
actividade petrolífera nos domínios de concepção, orientação e de controlo.

Assim, o Governo/Conselho de Ministro no sentido de permitir a funcionalidade


do sector e de forma a reforçar o seu papel de dinamizador e de factor de recuperação da
economia do país, aprovou, nos termos ao abrigo das disposições conjugadas, do nº 3 do
artigo 106.º da alínea h) do artigo 110.º e do artigo 113.º, todos da Lei Constitucional, o
Estatuto Orgânico do Ministério dos Petróleos 50 .

Assim, de forma resumida faço aqui uma breve incursão sobre o órgão do
Estado que tutela a actividade petrolífera em Angola.
Conforme o Estatuto Orgânico, cabe ao Ministério dos Petróleos 51 :

a) formular as bases gerais da política petrolífera nacional, elaborar e propor o


plano de desenvolvimento petrolífero de acordo com o plano nacional e
assegurar o controlo e fiscalização da sua execução;

b) promover a realização de estudos de inventariação das potencialidades


petrolíferas do país;

c) estudar e propor legislação reguladora do sector dos petróleos;

d) propor e velar pela execução das acções que se enquadram na política do


Governo relativamente às industrias respectivas orientando a estratégia e a
actividade do sector e estimulando as iniciativas empresariais;

50
Diário da República, Órgão Oficial da República de Angola, de 18 de Outubro de 1996, Série – N.º 44,
Decreto-Lei n.º 10/96 de 18 de Outubro.
51
Ibidem

38
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

e) estudar e propor medidas necessárias à realização dos objectivos nacionais


relacionados com o conhecimento, valorização, utilização racional e renovação
das reservas petrolíferas do país;

f) promover a estruturação do sector dos petróleos;

g) coordenar, supervisionar, fiscalizar e controlar as actividades no sector dos


petróleos; propor e promover as bases de cooperação com outros países e
organizações estrangeiras ou internacionais de interesse para o sector dos
Petróleos, assegurando o cumprimento das obrigações resultantes dos acordos
formados; e
h) orientar a política de gestão e a formação de quadros de todos os níveis, para o
eficiente funcionamento do sector, controlando o seu comportamento e
resultados.

O MINPET é superiormente dirigido por um Ministro que coordena toda a sua


actividade e funcionamento. No exercício das suas funções pode ser coadjuvado por um
ou mais Vice-Ministros.Tem a seguinte estrutura orgânica (ver anexo organograma
MINPET):

a) Serviços de Apoio Instrumental;

¾ Gabinete do Ministro.

¾ Gabinete do Vice-Ministro.

¾ Gabinete de Intercâmbio Internacional.

¾ Centro de Documentação e Informação.

b) Serviços de Apoio Técnico;

¾ Gabinete Jurídico.

¾ Gabinete de Inspecção.

¾ Gabinete de Estudos, Planeamento e Estatística.

39
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

¾ Secretaria Geral.

¾ Gabinete de Recursos Humanos.

c) Serviços Executivos Centrais; e

¾ Direcção Nacional dos Petróleos.

¾ Direcção Nacional de Comercialização.

d) Serviços de Apoio Consultivo.

¾ Conselho Consultivo.

¾ Conselho de Direcção.

¾ Conselho Técnico.

5.3.1. Angolanização

Nos últimos anos fala-se cada vez mais da Angolanização na indústria


petrolífera, sua importância estratégica e da sua evolução, fenómeno que já ganhou um
lugar de grande relevância entre os agentes, públicos e privados, encarregues de
conduzir o país rumo ao desenvolvimento socio-económicos.

A concretização do princípio da Angolanização da actividade petrolífera


nacional, que sempre foi considerado um das políticas prioritárias do sector, e que
orientou a primeira geração da indústria, começou por fazer-se por via da estratificação
empresarial de acordo com a Constituição Económica Socialista que então vigorava,
sendo a SONANGOL a sua expressão única 52 .

Tomando em consideração as especificidades da indústria petrolífera, o Governo


criou um instrumento legal que estabelece a obrigatoriedade de recrutamento,
integração, formação e desenvolvimento dos trabalhadores angolanos na indústria

52
Morais Guerra, , “Angola – Origens da Estruturação do Sector Petrolífero”, p. 13.

40
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

petrolífera, processo que passou a denominar-se por “Angolanização” do sector


petrolífero 53 .

A Angolanização surge pela necessidade de se garantir a protecção e defesa do


mercado de trabalho nacional, a par da sua evolução técnica especializada em função do
elevado grau científico e tecnológico da indústria, propenso à penetração de mão-de-
obra estrangeira em detrimento da nacional.

No entanto é criado o Decreto 20/82 54 , decreto que estabelece a obrigatoriedade


de todos as empresas a operar em Angola, recrutar e dar maior integração de mão-de-
obra nacional, formar, desenvolver os quadros angolanos ao serviço da indústria.

Os problemas maiores do Decreto prendem-se fundamentalmente com a sua


implementação.

Em primeiro lugar, podemos constatar que as metas preconizadas consideram-


se inadequadas e não tornaram possível a resolução de problema de fundo 55 .

Sendo a realidade de cada empresa petrolífera diferente, e porque muitas delas


iniciaram as suas actividades já depois do Decreto 20/82 vigorar, o cumprimento
estrito das metas deixou de ter o impacto significativo no processo de Angolanização.

Apesar disso, o Decreto, cumpriu e cumpre parcialmente com o seu objectivo,


mais concretamente em matéria concernente à obrigatoriedade das empresas formarem
pessoal angolano de modo que progressivamente, a regra do emprego prioritário dos
trabalhadores nacionais se possa aplicar a quase todos os níveis de hierarquia.

Também, constitui responsabilidade das companhias, contribuir anualmente


com uma certa quantia em dinheiro para a formação, extensiva à Universidade

53
1.º Encontro Metodológico Sobre a Problemática: Colocação de Mão-de-Obra Nacional na Indústria
Petrolífera Angolana, p. 15.
54
1.º Encontro Metodológico Sobre a Problemática: Colocação de Mão-de-Obra Nacional na Indústria
Petrolífera Angolana, p. 16.
55
1.º Encontro Metodológico Sobre a Problemática: Colocação de Mão-de-Obra Nacional na Indústria
Petrolífera Angolana, pp. 15-20.

41
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Agostinho Neto, UAN, Universidade Católica de Angola (UCAN) e o Instituto


Nacional de Formação Profissional (INEFOP) 56 .

Entre muitos dos pontos fracos da Angolanização, destacam-se os seguintes 57 :

a) o deficiente mecanismo de controlo da execução dos planos de formação e de


desenvolvimento;

b) diferença salarial entre o trabalhador expatriado e o nacional;

c) inexistência de referência expressa à ocupação de cargos de Chefia e Direcção


pelos angolanos com competência adequada; e

d) fraca oferta de trabalho por parte do mercado angolano (essencialmente por


motivos de carência de quadros qualificados e formados).

Uma vez que a indústria petrolífera nacional necessita de pessoal devidamente


qualificado, é importante realçar que o Ministério dos Petróleos e a SONANGOL
devem ter um controlo rigoroso e efectivo deste domínio, pois só assim, o processo de
Angolanização nas empresas petrolíferas, poderá alcançar o seu êxito.

Assim, esse êxito passa pela reformulação do pessoal adstrito à área dos
Recursos Humanos ligada a formação de pessoal, pois só o pessoal conhecedor de
matérias especializadas está em condições de controlar e ajuizar se o tipo de formação
proposto pelas empresas do sector aos seus trabalhadores se adequa às funções que os
mesmos exercem.

A formação está patente não só no decreto, mas também noutros instrumentos


reguladores, nomeadamente os decretos de Concessão, e está de tal forma destacada que
permite entender a vontade do sector petrolífero no sentido de resolver grande parte dos
problemas profissionais e sociais dos trabalhadores. Desta forma, a Angolanização é um
processo que visa não só substituir alguns profissionais estrangeiros por nacionais, isto
nas empresas privadas, como também melhorar as condições sociais dos mesmos.

56
1.º Encontro Metodológico Sobre a Problemática: Colocação de Mão-de-Obra Nacional na Indústria
Petrolífera Angolana, p. 16-17
57
1.º Encontro Metodológico Sobre a Problemática: Colocação de Mão-de-Obra Nacional na Indústria
Petrolífera Angolana, pp.15-16.

42
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Nesse caso, o processo de Angolanização deve ser reforçado para tal, pelo
Decreto nº 20/82 que deverá ser rigorosamente cumprido e controlado, de forma a
garantir o seu sucesso. Por conseguinte, os quadros nacionais formados devem ser
devidamente enquadrados nos lugares correspondentes à sua formação académica e
experiência profissional. O número de trabalhadores no sector petrolífero neste
momento está muito acima dos números quando a indústria ganhou a sua expressão
independente.

Em Março de 2007, a antiga Ministra dos Petróleos e actual Assessora do


Presidente da República para os assuntos Regionais, Eng.ª Albina Assis, numa
entrevista concedida à Rádio Ecclésia de Angola, frisou que o processo da
Angolanização passa pela presença de técnicos e empresas nacionais vibrantes. Apesar
de também reconhecer que a exploração petrolífera exige enormes recursos financeiros
e conhecimentos que, infelizmente os angolanos ainda não possuem, a Engenheira
defende uma presença forte do empresariado nacional no sector petrolífero e nesse
contexto o predomínio dos angolanos, factor decisivo para a Angolanização do sector.

A Angolanização do sector petrolífero estabelece, por exemplo, que, até


determinada altura todas as responsabilidades inerentes ao sector sejam transferidas para
o controlo dos quadros nacionais. A realidade deste fenómeno tem sido uma realidade
categórica. A estabilidade e o desenvolvimento do país ilustra bem quão necessário é
apostar cada vez mais nos recursos humanos da terra tendo em conta o seu visível
potencial, capacidade e força de vontade para fazer e melhorar cada vez mais as suas
qualidades em prol do desenvolvimento do sector e em geral do país.

A SONANGOL tem sido um dos muitos exemplos de afirmação nos que


respeita a valorização dos recursos humanos nacionais, apesar de ainda ser insuficiente
para as suas ambições, a empresa já emprega cerca de 7. 500 trabalhadores
(SONANGOL, 2007). Fruto do vínculo existente com outras companhias do sector,
pode indirectamente contribuir para a criação de muitos postos de trabalho, e assim
reduzir a exportação de trabalhadores expatriados, o que consideramos ser elemento
crucial para a Angolanização.

43
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

5.3.2. Política de Formação

A educação e todas as formas de formação constituem elementos chave do


desenvolvimento humano, aumentando as oportunidades do indivíduo na sociedade. A
educação é ainda uma ferramenta indispensável para o crescimento e desenvolvimento,
porque aumenta a quantidade e qualidade do capital humano disponível no processo
produtivo.

Dentre os principais objectivos na área da educação, está primeiro o alcance ou


conclusão da educação básica universal e a erradicação do analfabetismo, de modo a
assegurar que toda a população, tenha oportunidade de desenvolver as capacidades
mínimas para combater a pobreza.

O cumprimento escrupuloso do decreto nº 20/82, permitiu que passados muitos


anos o sector começasse a ver alguns dos seus quadros angolanos tecnicamente
formados, colocados quer nas empresas privadas, quer na empresa nacional. Esta foi,
por sinal, a mais estruturante a julgar por técnicos que se encontram em posições chave
nestas mesmas empresas.

O decreto referido visa fundamentalmente formar quadros nacionais, uma vez


que os mesmos são o factor catalizador do desenvolvimento dos sectores chave da
Angola.

Atendendo a que a indústria petrolífera necessita de pessoal devidamente


qualificado, é importante realçar que o Ministério dos Petróleos, deve e tem um controlo
efectivo deste domínio, pois só assim o processo de Angolanização nas empresas
petrolíferas privadas será um êxito.

A formação está patente não só no decreto acima citado, mas também noutros
instrumentos reguladores, nomeadamente os decretos de Concessão e está de tal forma
evidente, que permite-nos entender a vontade e empenho do Governo de Angola no
sentido da resolução de grande parte dos problemas profissionais e sociais dos
trabalhadores.

44
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

O sector ainda conta com o contributo do Instituto Nacional de Petróleos, que


anualmente tem introduzido quadros no mercado de trabalho. Daí, a clara pretensão do
sector em converter o Instituto Nacional em “centro de excelência”, capaz de atrair
alunos e professores não só de Angola, mas também de outros países e transformá-lo
progressivamente em instituição de ensino superior 58 .

De entre as diversas políticas públicas directamente suportadas pelo MINPET


encontra-se sobretudo a educação/formação e saúde dos seus funcionários e não só, com
vista a melhorar as condições de vida dos mesmos.

Cabe ao Gabinete de Recursos Humanos, concretamente o Departamento de


Formação e de Planeamento e Compensação, de acordo com as competências que lhe
são atribuídas, velar pela política de formação, de emprego e saúde. 59 .

A tarefa principal do Departamento de Formação é a concessão de Bolsas de


Estudos. Numa primeira fase não havia praticamente critérios para a concessão das
mesmas, razão pelo qual levou o MINPET a criar instrumentos no sentido de disciplinar
a política de concessão de Bolsas de Estudo através da aprovação de um “Regulamento
de Bolsa de Estudo” 60 , incluindo no documento bolsas externas e internas, destinadas
aos funcionários e não funcionários. Embora após o término do curso a entrada no
mercado de trabalho não seja responsabilidade do MINPET, existe o Departamento de
Planeamento e Compensação que pode, junto das Companhias Petrolíferas, solicitar
vagas com o fim destas serem enquadrados nas mesmas.

A política de concessão de Bolsas de Estudo aos trabalhadores do MINPET tem


como principal objectivo a formação profissional no interior e exterior do país.

Entre as demais tarefas do Departamento de Formação destacam-se ainda a


analise e aprovação do Plano de Formação dos trabalhadores nacionais nas empresas
petrolíferas que operam em Angola, sejam elas operadoras ou prestadoras de serviço
(MINPET, 2006).
58
Departamento de Formação do MINPET, Luanda, 2006.
59
Estatuto Orgânico do Ministério dos Petróleos, “Diário da República”, Jornal Oficial da República de
Angola, Série – Nº 44, de 18 d Outubro de 1996, p. 585.
60
Despacho N.º 06/GAB. MINPET/2000 e Despacho N.º 10 GAB. MINPET/2000, Gabinete do Ministro
dos Petróleos, Luanda, 23 de Março, 07 DE Abril de 2000 respectivamente.

45
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Quanto ao financiamento das Bolsas de Estudo e outro tipo de formação, aplica-


se o Decreto 20/82.

O MINPET também exerce um papel importante no que concerne ao patrocínio


do ensino em Angola, facto que tem se revelado benéfico e grande contributo para o
desenvolvimento do país. Essas políticas de educação suportadas ou patrocinadas pelo
MINPET, estão direccionadas mais concretamente para às Universidades Agostinho
Neto, Universidade Católica, Instituto Nacional de Formação Profissional (INEFOP) e
Instituto Nacional de Petróleos (INP) 61 .

Criado pelo Decreto Executivo Conjunto N.º 2/79, de 30 de Novembro,


publicado no Diário da República, N.º 30, Iª série, 6 de Fevereiro de 1980, o Instituto
Nacional de Petróleos é um estabelecimento público de formação em que o Ministério
dos Petróleos, através dos mecanismos legais instituídos, procede à orientação
metodológica e de tutela competente. Cabe ao Gabinete de Recursos Humanos
assegurar a coordenação do controlo da Instituição 62 . O objectivo principal do INP é a
formação de técnicos médios nas áreas da mecânica, electricidade, biologia, perfuração
de metal, informática, inglês e frio. Basicamente todas elas ligadas às actividades do
sector. O Instituto Nacional de Petróleos, que joga um importante papel no que toca a
Angolanização do sector petrolífero, está localizado no Sumbe, província do Kuanza
Sul.

5.3.3. Política de emprego

O emprego também joga um papel fundamental na diminuição dos índices de


pobreza, uma vez que contribuem directamente para o exercício de actividades
geradoras de rendimento, que contribuem para o sustento do indivíduo e da sua família,
e promovem a valorização do capital humano nacional que é a base de um crescimento
económico sustentável.

61
1.º Encontro Metodológico Sobre: Colocação de Mão-de-Obra Nacional na Indústria Petrolífera
Angolana, p. 16
62
Estatuto Orgânico do Ministério dos Petróleos, “Diário da República”, Jornal Oficial da República de
Angola, Série – N.º 44, de 18 de Outubro de 1996, p.585.

46
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

O objectivo principal em matéria de emprego e formação profissional é o de


valorizar a mão-de-obra nacional e assim promover o acesso ao emprego e fomentar a
criação do auto-emprego, criando assim as condições para o desenvolvimento
económico e social sustentado e a redução da pobreza.

A Lei do emprego em Angola, concebe o direito ao emprego, garantido pela Lei


Constitucional e tem por princípios básicos a capacidade e aptidões profissionais do
cidadão e a igualdade de oportunidades na escolha da profissão ou género de trabalho e
por limites, os decorrentes da Lei Constitucional e das obrigações internacionais
assumidas pelo Estado Angolano. A mesma lei incumbe ao Estado, através da aplicação
de Planos e Programas de Política Económica e Social, assegurar a execução de acções
dirigidas a realizar uma política de pleno emprego e a satisfação de condições de
assistência material aos que involuntariamente se encontrem na situação de
desemprego 63 .

Como frisei anteriormente e de acordo com o estatuto orgânico do MINPET 64 , o


Departamento de Planeamento e Compensação é parte integrante do Gabinete de
Recursos Humanos. Cabe fundamentalmente velar pela política de recrutamento,
integração de quadros angolanos na indústria petrolífera nos seus variados segmentos,
tanto nas actividades de exploração, de produção, como nas actividades de prestação de
serviço. Por outro lado, cabe também à este Departamento velar pelas questões técnicas
e toda força de trabalho existente na indústria petrolífera, criando caminhos que
permitam eficaz funcionamento do processo de “Angolanização”, entendida como o
processo que visa a substituição gradual do pessoal expatriado pelo pessoal nacional
desde que prove competência para tal. É uma substituição feita à base de competências.

A esse Departamento cabe também velar pelos procedimentos administrativos


que levam a autorização das entradas e saídas do pessoal expatriado. Genericamente é
essa a função do Departamento que, tem como questão central a “Angolanização”, e
gerir os conflitos que eventualmente possam surgir na indústria, decorrente da própria

63
1.º Encontro Metodológico Sobre a Problemática: Colocação de Mão-de-Obra Nacional na Indústria
Petrolífera Angolana, pp.15-16.
64
Estatuto Orgânico do Ministério dos Petróleos, “Diário da República”, Jornal Oficial da República de
Angola, Série – N.º 44, de 18 de Outubro de 1996, p. 585.

47
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

actividade em si. O Departamento muitas vezes é chamado para servir de interface nas
relações com os sindicatos.

O Departamento também tem uma tarefa especifica ligada à saúde, segurança e


higiene no trabalho, no sentido de se fazer a gestão dos mesmos na indústria por forma a
que todos os instrumentos legais que existem sobre essa matéria sejam devidamente
cumpridos.

O processo de recrutamento no quadro de técnicos angolanos para a indústria


petrolífera é feita em conformidade com o que a legislação sobre emprego estabelece.
Em que as pessoas apresentam as suas candidaturas livremente às empresas, e, as
mesmas, tendo em conta os seus critérios de recrutamento, desencadeiem processos
selectivos de recrutamento. São absolvidos aqueles cujas competências se mostram mais
adequadas às funções com as quais se propõem.

Os quadros formados ao abrigo do decreto já abordado anteriormente o pensam


que, ao regressarem ao país, têm de imediato a colocação garantida no sector. Mas não é
o que acontece na realidade. A política de emprego no país é tutelada pelo Ministério da
Administração Pública, Emprego e Segurança Social (MAPESS) que, tem mecanismos
próprios. Existem centros de emprego próprios para promover a integração dos
trabalhadores nacionais nos mais variados ramos de actividade.

O MINPET não é uma entidade empregadora. O MINPET, dado ao facto de ser


um dos organismos do Estado que patrocina bolsas de estudo, e tendo em conta a
sensibilidade em relação à importância da indústria petrolífera, serve de veículo apenas
para integração dos quadros que se formam no sector.

O papel desempenhado pelo MINPET é, no sentido de ajudar, tendo em conta a


especificidade e actividade que tem em comum com as empresas petrolíferas, e o bom
relacionamento que tem com as mesmas.
Estes factores levaram o Estado a adoptar uma estratégia para viabilizar e
orientar ou dirigir a formação, integração e desenvolvimento dos nacionais pelas
companhias estrangeiras, na substituição gradual dos expatriados, em função da
complexidade das tarefas por estes desempenhadas. Trata-se de uma transição feita de

48
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

forma eficaz e com espírito pragmático, dando as premissas da obrigatoriedade das


empresas formarem pessoal angolano de modo que progressivamente os trabalhadores
nacionais afectem quase todos os níveis de hierarquia.

5.3.4. Política ambiental

O ambiente ocupa um lugar de destaque no sector, sendo por isso sido elaborado
pelos quadros nacionais um “Plano Nacional de Contingência” devendo todas as
empresas petrolíferas apresentar um Plano de Impacto Ambiental de modo a proteger de
uma maneira eficaz o meio ambiente.

A Lei n.º 5/98, de 19 de Junho, é a Lei Geral do Ambiente, estabelece a


necessidade de se realizarem estudos de impacto ambiental e fixa a obrigatoriedade da
concessão de licenças para o exercício de quaisquer actividades ou projectos que, pela
sua natureza, localização geográfica ou dimensão, tenham importantes impactos sociais
ou ambientais, o que abrange, na prática, a maior parte das actividades do sector do
petróleo. O Ministério dos Petróleos é responsável pela avaliação dos impactos
ambientais no sector.

Os dois principais temas ambientais do sector da produção petrolífera em


Angola são as descargas dos petroleiros e a queima dos gases associados.

De forma a enfrentar os desafios futuros, o sector petrolífero tem desenvolvido


processos de reformas nos domínios institucional, operacional e jurídico onde se insere
a segurança, saúde no trabalho e ambiente. No que respeita a protecção do ambiente no
sector petrolífero, criou-se o Decreto 39/00, de 10 de Outubro. O Decreto, indica que a
conservação ambiental constitui um objectivo prioritário para o Governo angolano e o
sector, e estabelece a obrigatoriedade, para as companhias petrolíferas a operar em
Angola, de desenvolverem mecanismos de minimização dos impactos ambientais
provocados pelas suas operações, de prevenção de derrames de petróleo e de produção
de resíduos. Assim, o Decreto estabelece 65 :

a) avaliação de impacto ambiental;

65
Decreto N.º 39/00 de 19 de Outubro, “Diário da República”, Jornal Oficial da República de Angola,
Série – N.º 42 – de 10 de Outubro de 2000, pp. 875-881.

49
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

b) gestão de descargas operacionais;


c) gestão de resíduos; e
d) procedimentos de Notificação em caso de derrames de petróleo e de outros
produtos.

Também, está em vigor o Plano Nacional de Contingência contra derrames de


petróleo, cujos projectos são os seguintes 66 :

a) estudo para elaboração da política nacional sobre uso de dispersantes;


b) mapa de sensibilidade ambiental da costa;
c) criação de centro de notificação e resposta;e
d) programas de formação a diferentes níveis.

Embora pequenas quantidades de Gás de Petróleo Liquefeito (GPL) sejam


exportadas e algum gás seja reinjectado nos campos petrolíferos para aumentar a
produção a maior parte do gás associado é queimada. Esse último constitui o segundo
desafio ambiental que a indústria enfrenta. Assim, surgiu a preocupação no sentido de
se encontrar formas adequadas para resolução da questão da queima do gás associado.
Em alguns casos, a arquitectura das reservas petrolíferas não permite a reinjecção do
gás. A Lei n.º 13/78 (Lei de Base das Actividades Petrolíferas), tal como a nova, proíbe
a queima de gás sem a aprovação do MINPET. Mas tendo em conta o grande e rápido
crescimento da produção de petróleo, o volume da queima de gás tem vindo a aumentar.
Não tem sido fácil encontrar alternativas viáveis à queima de gás, o que pode constituir
um entrave na aquisição de receitas adicionais para o país e causadora de danos ao meio
ambiente 67 .

Deste modo, o Governo e o sector petrolífero angolano procuram avançar para a


implementação de uma política de erradicação da queima de gases, incluindo, através de
um reforço da aplicação da legislação existente, medidas de protecção ambiental mais
amplas e o desenvolvimento de um projecto de Gás Natural Liquefeito (GNL)
consubstanciando-se na construção de uma fábrica de gás natural petrolífera (liderado
pela SONANGOL e a Chevron) na cidade do Soyo, província do Zaire, cujo início de
funcionamento está previsto para 2010, que irá permitir o aproveitamento do produto na

66
Prevenção de Derrames, Decreto N.º 39/00 de 19 de Outubro, “Diário da República”, p. 877.
67
Tony Hodges, Angola – Do Afro-Estalinismo ao Capitalismo Selvagem, p. 201.

50
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

sua totalidade, acabando coma a queima do gás na actividade petrolífera. A fábrica


LNG, vai, além de eliminar os riscos ecológicos da queima de gás permitir o surgimento
da indústria petroquímica, gerando postos de trabalho directos e indirectos para o país.
Será, sem dúvida um factor de desenvolvimento para o país a julgar pelo seu impacto
económico, social e ambiental 68 .

Assim, pensamos que o projecto LNG poderá vir a contribuir para o


crescimento, desenvolvimento e segurança ambiental da comunidade local através de:

ƒ Criação de empregos.
ƒ Provimento de formação.
ƒ Construção/Desenvolvimento de infra-estruturas.
ƒ Abastecimento de gás para utilização industrial a nível nacional.
ƒ Redução das emissões de CO2 na região.

É necessário que se invista cada vez mais nas questões ambientais inerentes ao
sector petrolífero através de rigor e reforço da normas de controlo das actividades
petrolíferas, por forma a evitar a degradação do meio ambiente sobretudo, junto das
comunidades que habitam próximo das áreas onde ocorrem as actividades petrolíferas.

5.3.5. A política de saúde

A saúde da população é um elemento importante do desenvolvimento humano e


constitui uma condição necessária, para o crescimento económico. Como é óbvio, para
fazer parte do processo produtivo, e beneficiar das oportunidades que advenham do
crescimento económico o indivíduo precisa gozar de boa saúde. Assim, o principal
objectivo da área da saúde é garantir a prestação dos serviços básicos de saúde, com a
qualidade necessária a toda a população.

É necessário que se prossiga com mais rigor e esforços na prevenção e no


combate às grandes endemias, com maior preocupação, como a tuberculose, malária,
cólera e outras, incluindo o VIH/SIDA, vitais para garantir que o futuro próspero do
ponto de vista económico e social.

68
Zaire prepara o novo pólio nacional de Gás Natural, in “Jornal de Angola”, de 11 de Janeiro de 2007.

51
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

O Ministério dos Petróleos, através dos seus parceiros no sector, nomeadamente


a SONANGOL e empresas multinacionais que operam no país, garantem aos seus
trabalhadores e familiares directos tratamento médico nas clínicas pertencentes às
mesmas, ou outras com características similares 69 . É desta forma que o MINPET, apoia
os seus funcionários em termos de assistência médica. O mesmo acontece com os
trabalhadores das empresas multinacionais e da SONANGOL.

No entanto, o sector em si, quer através da SONANGOL quer das empresas


multinacionais, tem participado (embora seja ainda insuficiente) em muitos projectos a
nível nacional ligados à saúde sobretudo junto das populações mais necessitadas.

5.3.6. Conteúdo local ou Local content

A política de gestão integrada adoptada pelo MINPET e SONANGOL


relativamente ao envolvimento no sector do empresariado nacional é importante, pois
permite a redução de importação de serviços e ao mesmo tempo maximiza os benefícios
para o país em termos de emprego, rendimento financeiro, superação de conhecimentos.

Para o êxito deste envolvimento, pensa-se ser necessário a elaboração de


instrumentos legais que tenham como objectivo convencer os operadores a considerar
os serviços e produtos nacionais nas suas políticas de aquisição.

É necessário e importante que se criem meios e condições financeiras à


disposição do empresariado nacional, por forma a facilitar o surgimento de empresas
nacionais de prestação de serviço no sector petrolífero e assim colmatar os grandes
desníveis existentes entre o empresariado nacional e o empresariado estrangeiro. Assim,
é importante, que se criem condições para a sua eficiência, como, a capacidade
negociadora e o estabelecimento de parcerias assente na formação e adaptação do
próprio empresariado nacional.

69
Acordos/entendimentos existentes entre o MINPET e as multinacionais, só possíveis, devido a
especificidade da actividade que os une.

52
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

5.3.7. Fundo de Compensação de Combustíveis (FCC)

O historial do Fundo de Compensação de Combustíveis vem do período da


Administração Colonial. Ele visava fundamentalmente a prestação da assistência
financeira às actividades económicas consumidoras de combustíveis, assim como a
contribuição para o abastecimento normal dos produtos (o Fundo tinha como função,
compensar). Isso iria criar padrões para o desenvolvimento do sector perspectivando
acções de mais valia para a economia. Foi um fundo que depois da independência, já
com a existência do MINPET, serviu como instrumento de gestão financeira, com fins
de reforçar a capacidade financeira autónoma do mesmo, uma mais eficaz e eficiente
intervenção e consequente dignificação da sua autoridade pública 70 .

No entanto, o fundo manteve-se suspenso durante muitos anos, pelo que


recomendou-se uma reimplantação do mesmo, pois ele representa uma mais valia para o
desenvolvimento económico e social do país.

É assim, que foi celebrado um contrato entre a o MINPET e a consultora Price


Waterhouse Coopers (PWC), ficando a última com a responsabilidade de proceder um
estudo sobre o estabelecimento e implementação do fundo de compensação de
combustíveis de Angola, a ser financiado pela SONANGOL de modo que a indústria
possa contar com esse valioso instrumento (MINPET, 2007).

5.4. A SONANGOL E.P – Promotora do desenvolvimento em Angola

Criada em 1976, a SONANGOL, assume-se, de facto, como única


concessionária nacional, sob a forma de Empresa Pública. Em termos formais o
mandato da SONANGOL tem como objectivo fundamental garantir ao Estado o
máximo de benefícios provenientes das actividades petrolíferas. Na qualidade de única
concessionária, ela estabelece parcerias com outras empresas multinacionais
petrolíferas, através tanto de contratos de partilha de produção, como, de contrato de
associação em participação (joint ventures) 71 .

70
Morais Guerra, “Angola – Perspectivando o Futuro do Sector Petrolífero”, pp. 12-14.
71
Tony Hodges, Angola – Do Afro-Estalinismo ao Capitalismo Selvagem, p. 195.

53
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

5.4.1. Objecto Social, actividades, associações e atribuições múltiplas

A SONANGOL tem como objecto principal a prospecção, pesquisa,


desenvolvimento, produção, transporte, comercialização, refinação e transformação de
hidrocarbonetos líquidos e gasosos e os seus derivados, incluindo actividades de
petroquímica.

O novo documento da, SONANGOL “Perspectivas para 2010”, prevê


transformar e tornar a empresa plenamente integrada, que venha a assumir um papel
activo a nível internacional, ideia reforçada depois de Angola ter aderido como membro
de pleno direito à OPEP, em Dezembro de 2006. Segundo a própria empresa, o seu
papel ao nível do sector da produção petrolífera, é, no essencial 72 :

• Realizar a gestão técnica dos contratos de produção e de parceria, de modo a


maximizar os interesses do Estado e SONANGOL a na qualidade de
concessionária e de investidor;

• Recolher, validar e registar os dados relativos a toda a actividade petrolífera em


Angola como parte importante do património do país;

• Maximizar os interesses económicos do Estado e da SONANGOL como


concessionária e investidora; e
• Promover e organizar a coordenação económica e jurídica do processo de
negociação dos contratos de produção, contratos de associação, e outros.

A SONANGOL Distribuidora está vocacionada para armazenagem distribuição,


comercialização de combustíveis e fabricação de lubrificantes. É uma empresa moderna,
dinâmica e dinamizadora, que preparar-se para encarar os desafios do novo milénio, de
entre os quais avulta o da abertura do mercado à concorrência internacional. Por isso,

72
Política do Sector Petrolífero, Reunião do Conselho de Gestão da Sonangol, MINPET, de 21 a 23 de
2003, Huambo, 2003.

54
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

prossegue a preparação e formação contínua dos quadros como resposta eficiente a uma
actividade pertinente para o desenvolvimento de Angola 73 .

A SONANGOL Pesquisa e Produção, também conhecida pela sigla P&P é uma


subsidiária da SONANGOL E.P, e, tem como principal objectivo social o exercício das
actividades de prospecção, pesquisa, desenvolvimento e produção de hidrocarbonetos.

Para além das suas atribuições de natureza comercial, o seu papel, enquanto
entidade reguladora, inclui a supervisão dos detalhes das operações petrolíferas das
empresas estrangeiras, a gestão dos serviços de apoio às operações petrolíferas e a
exportação de petróleo bruto. A empresa também recomenda as zonas que devem ser
abertas à prospecção e é responsável pela condução de concursos públicos e a
negociação dos contratos de concessão. Lida com uma parte significativa das receitas
petrolíferas do Estado. Por exemplo, como concessionária exclusiva a SONANGOL é
responsável pela comercialização e recolha da participação do Estado nos lucros globais
do petróleo. Acresce que, nos termos dos contratos de partilha de produção, (CPP), os
contraentes têm ainda de pagar bónus e outras contribuições à SONANGOL 74 .

A SONANGOL possui uma série de empresas subsidiárias, que operam em


sectores tão diversos como a indústria, transportes, telecomunicações e a banca.
Também possui joint ventures ou participação nos sectores imobiliário, dos seguros e
construção civil, entre muitos outros 75 . Ela refere e justifica que, no passado, a falta de
empresas nacionais de infra-estruturas e de serviços obrigou a empresa a realizar esta
diversificação horizontal para sustentar o desenvolvimento do seu negócio central, o
petróleo. Esta motivação parece razoável, face aos efeitos nefastos que a guerra
produziu sobre a economia do país, mas não é evidente que esta justificação ainda se
mantenha.

73
Jorge Van Deste, “A Actividade Petrolífera em Angola: Situação - Actual e Perspectivas”, in Revista
Energia, Petróleo, n.º 58. Color Estúdio, Luanda, 2000, pp. 16-18.
74
Ibidem.
75
Tony Hodges, Angola – Do Afro-Estalinismo ao Capitalismo Selvagem, pp. 195-197

55
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

5.4.2. Órgãos de gestão da SONANGOL

De acordo o estabelecido por Lei para as Empresas Públicas, a SONANGOL


tem os seguintes órgãos de gestão (ver anexo organograma SONANGOL).

1. Conselho de Administração

2. Conselho Fiscal

3. Conselho de Direcção

O Conselho de Administração é órgão máximo, a quem, compete com os mais


amplos poderes dentro dos limites da Lei e dos Estatuto, a gestão da empresa,
respondendo perante o Governo pela mesma. O Conselho é composto por cinco
membros: o um Presidente e quatro Administradores, nomeados pelo Conselho de
Ministros. Em anexo figura a estrutura orgânica completa da Empresa.

5.4.3. Responsabilidades/engajamento sócias da empresa para o desenvolvimento


sócio-económico e sustentado de Angola

O compromisso da SONANGOL com a sociedade angolana no desenvolvimento


sustentado e estabilização de Angola é, premissa e expressa na sua filosofia e
concretizada, inclusive, no seu orçamento que prevê anualmente verbas para
investimentos na área social.

A empresa trabalha no sentido de proporcionar melhores condições à população,


apoiando projectos nas áreas de emprego, educação, saúde, habitação, cultura, desporto,
ciência e ambiente. Note-se que a SONANGOL proporciona melhores condições, não
só aos seus trabalhadores, mas também ao povo em geral.

Sem qualquer desprimor para as demais empresas do país, a SONANGOL ocupa


um espaço privilegiado na implementação e gestão de políticas efectivas de incentivo à
participação e responsabilidade social, contribuindo assim de forma decisiva e criativa
para o progresso profissional e social do país. Embora não com a velocidade por muitos
desejada, são visíveis e expressivos os exemplos na prática do empenho e contributo da
empresa, multiplicando ano após ano os seus esforços e acções, no âmbito participativo,
científico, cultural, desportivo, entre outras, com influência directa na formação de

56
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

comportamentos e atitudes dos seus empregados, da mesma forma que estes


influenciam na formação da cultura destas empresas e na solução de parte dos muitos
problemas que ainda afligem o meio social 76 .

5.4.3.1. O Fundo de pensões da SONANGOL

Aprovado pelo Conselho de Administração, precisamente em Maio de 2006. O


Fundo de pensões da SONANGOL, constitui um fundo fechado, apenas destinado aos
seus funcionários, que financia o Plano de Pensões da Empresa. A gestão do Fundo foi
confiada à AAA (Angola, Agora e Amanhã) Pensões SA, através da celebração de um
contrato assinando entre a AAA e a SONANGOL Dezembro de 2001 77 .

O Fundo de Pensões da SONANGOL funciona como um sistema de previdência


privada, que tem por objectivo a defesa do trabalhador no desemprego, na doença, e na
invalidez e a garantia de uma pensão de aposentação ou reforma e enquadra-se no nível
da Protecção Social Complementar. Este Plano não é contributivo, e por isso, os seus
participantes não pagam dinheiro para o seu fundamento nem para a constituição das
suas pensões, sendo a SONANGOL a única financiadora do mesmo 78 .

5.4.3.2. Engajamento com as comunidades e seus funcionários

Quanto ao seu engajamento com as comunidades, a empresa consciente das suas


responsabilidades para com a sociedade angolana, tem implementado vastos projectos
de beneficência social enquadrados num programa denominado “Juntos com a
comunidade”. O projecto é extensivo a todo o território nacional.
Um exemplo prático concernente ao projecto aconteceu no norte do país em
Cabinda. Desde 2003, que têm sido canalizados milhões de dólares direccionadas em
diversas áreas como, a da saúde, educação, cultura, desporto e agricultura.

76
João Santos Rosa, , “Responsabilidade Sócial nas Empresas”, in Revista Sonangol, Apostar na
Responsabilidade Social. Bloco 10 em Fase de Exploração, II Série - n.º 11, Editando, Lisboa, 2005, pp.
14-15.
77
Raimundo Vilares, “Fundo de Pensões da Sonangol”, in Revista Sonangol, Novas Concessões
Aumentam Produção. APPA reúne-se em Luanda, II Série – n.º 14, Editando, Lisboa, 2006, pp. 25-30.
78
Sonangol, 2002.

57
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

De entre as preocupações da empresa relativamente ainda às políticas sócias,


destaca-se a melhoria das condições de vida, principalmente de habitabilidade dos seus
trabalhadores.

Para o efeito e efectiva execução da mesma foi criada uma Comissão de


Projectos Sociais, cuja função é o acompanhamento e regularização da situação
contratual dos complexos/condomínios, patrocinados pela empresa. Ainda no que
respeita ao impacto social ligados à questão de habitabilidade é exemplo a criação em
2000, da “Cooperativa Cajueiro”, Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Limitada
que também inclui funcionários do Ministério dos Petróleos.

Em Maio de 2007 a SONANGOL anunciou para breve a criação da


Universidade de Tecnologia e Ciências (UTEC), obra no âmbito do processo de
implementação da visão e valores da empresa no exercício da sua responsabilidade
social.

Com a criação da UTEC a SONANGOL visa dotá-la de todos os meios


necessários no sentido de se alcançar alta qualidade de ensino e na pesquisa, com
grande destaque no que se refere a qualidade do corpo docente, programa curricular dos
cursos de forma a proporcionar a formação de quadros de excelência. O arranque da
UTEC está previsto ainda para o corrente ano, e terá os seguintes cursos: Economia;
Gestão; Engenharia Civil; Engenharia Mecânica; Engenharia Eléctrica; Engenharia de
Produção; Engenharia Química e Engenharia Informática. A criação da UTEC irá
também, de um modo geral reduzir a dependência da formação no exterior
(SONANGOL, 2007).

A política de concessão de Bolsas de Estudo é outra aposta da empresa e, é


extensiva para além dos seus funcionários, aos cidadãos angolanos não pertencentes à
SONANGOL, destacando-se a formação interna, externa e a formação profissional dos
trabalhadores no interior e exterior do país. Essa política tem-se revelado benéfica e
produtiva para o desenvolvimento do sector e do país. É dessas diferentes formas, que a
SONANGOL tem consolidado o seu papel de líder e reforçado a afirmação de
promotora do desenvolvimento de Angola.

58
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Portanto, não restam dúvida acerca do papel e contributo da empresa no


desenvolvimento sócio-económico de Angola. O seu contributo é primordial, essencial
e indispensável para o crescimento e desenvolvimento económico do país.

5.5. Responsabilidade social das empresas petrolíferas multinacionais no sector


petrolífero angolano

A responsabilidade social das empresas é o compromisso das empresas em


contribuírem para o desenvolvimento económico sustentável, envolvendo não só os
funcionários nacionais, mas também as suas famílias, comunidade local e a sociedade
em geral no sentido de proporcionarem melhor qualidade de vida, de forma a alcançar
simultaneamente resultados positivos para o negócio da empresa e para o
desenvolvimento sócio-económico no país 79 .

Por exemplo, o Decreto 20/82 estabelece a obrigatoriedade das empresas


petrolíferas estrangeiras ou multinacionais, formarem 80 os trabalhadores nacionais de
modo a que se passem as responsabilidades da empresa aos angolanos e a regra do
emprego prioritário dos trabalhadores nacionais se possa aplicar a quase todos os níveis
de hierarquia.

Outra responsabilidade social das companhias multinacionais centra-se na


contribuição anual das mesmas, com uma quantia em moeda convertível para a
formação, nas Universidade Agostinho Neto (UAN), Universidade Católica de Angola,
UCAN e no Instituto Nacional de Formação Profissional (INEFOP) 81 .

As empresas são livres de decidir o destino e como aplicar as suas contribuições


em prol do desenvolvimento sócio-económico no país. Cada uma das empresas tem o
seu modo de actuar, áreas de intervenção, grau de dedicação e montante a envolver no
processo.

79
Jorge Araújo, e Amanda Blakeley, Responsabilidade Social das Empresas (CSR) no Sector Petrolífero
em Angola, Estudo de Assistência Técnica, Banco Mundial, Luanda, 2003.
80
Formação no interior ou exterior do país. Essa formação (oficialmente o documento relativo à
formação, nas empresas é chamado, “ Plano de formação”) tem como suporte as bolsa de estudo ou outro
instrumento alternativo à escolha da própria empresa, mas sempre analisado e aprovado pelo
departamento de formação do MINPET.
81
1.º Encontro Metodológico Sobre a Problemática: Colocação de Mão-de-Obra Nacional na Indústria
Petrolífera Angolana, p. 16.

59
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Quase todas as empresas, preferem as áreas em que o Governo define no seu


documento bienal, “Programa Geral do Governo”, como áreas prioritárias e outras da
sua preferência, actuando de forma a preencher o vazio deixado pelo Governo como
consequência da incapacidade deste resolver esta questão unilateralmente. Essa
estratégia constitui uma forma de as empresas conquistar a simpatia do Estado e obter
maiores e melhores privilégios.

Não esqueçamos que, no quadro das responsabilidades das empresas, existe


ainda uma diferença entre o tratamento aos trabalhadores e as responsabilidades perante
à comunidade, ou seja, à sociedade em geral. Sendo os primeiros tratados, no âmbito do
princípio de Angolanização.

No entanto, o Grupo do Banco Mundial, em Outubro de 2002 envidou esforços


no sentido de estabelecer uma parceria com o Governo angolano, com o sector privado
e com a sociedade civil com o objectivo de prestar assistência técnica para reforçar a
problemática da responsabilidade social das empresas no sector petrolífero em Angola.
É, assim, que elementos do Banco Mundial efectuam uma missão que os levava a
Angola para pesquisa na recolha de dados, análise da experiência existente com a
responsabilidade social das empresas no sector do petróleo, e consulta com os principais
intervenientes 82 .

Os objectivos eram os seguintes 83 :

a) determinar a receptividade do governo e das companhias petrolíferas para


cooperarem entre si no sentido de se encontrarem soluções para as necessidades
de desenvolvimento do país e de se optimizar o investimento social através de
actividades de responsabilidade social das empresas;

82
Jorge Araújo, e Amanda Blakeley, , Responsabilidade social das empresas no sector petrolífero em
Angola: Estudo de Assistência Técnica do Banco Mundial, B M, Luanda, 2003, p.2.
83
Ibidem.

60
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

b) identificar as prioridades estratégicas comuns do governo e das companhias


petrolíferas no que respeita às actividades de responsabilidade social das
empresas;
c) identificar as contribuições de cada sector para a resolução das áreas prioritárias;
e

d) preparar um projecto de proposta de assistência técnica de responsabilidade


social das empresas no sector petrolífero em Angola para o governo relacionado
com o sector petrolífero angolano.

As discussões centraram-se basicamente em torno de quatro questões relevantes


para o sector do petróleo:

i. “Capacidade de Angola” – projectos de colaboração destinados a desenvolver as


qualificações e formação locais bem como um mercado de oferta local em áreas
de importância para o sector do petróleo;

ii. Transparência e boa governação;

iii. Soluções encontradas cooperativamente destinadas a fornecerem energia


económica à população de Angola com acesso restrito à energia (a população
pobre); e

iiii. Desenvolvimento social e comunitário.

O estudo submetido ao Ministério do Petróleo e ao Ministério do Plano,


pretendia e recomendava que se avançasse com uma combinação dos pontos que
achavam pertinentes como, a “Capacidade de Angola, à transparência, e à exploração de
interesse no desenvolvimento social e comunitário.

Segundo o Banco Mundial, foram também enviadas cópias à SONANGOL


Ministério da Indústria e ao Ministério da Educação, e distribuídas entre os outros
homólogos principais com quem a instituição internacional encontrou-se durante a
missão.

61
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Com base nas respostas recebidas, a equipa passaria então às fases seguintes da
assistência técnica já planificadas na altura. No entanto, apesar de o Estado angolano
concordar com alguma questões relevantes acima citadas, a verdade é que nunca houve
um pronunciamento oficial, isto porque cabe ao Governo aceitar ou não o estudo do
B.M, e porque o Estado segue as suas políticas e programas inerentes ao sector. Deste
modo, o documento nunca foi posto em prática apesar, de as empresas petrolíferas dele
tirarem alguns pontos e aplicarem nas suas acções no âmbito da responsabilidade social
das empresas.

Prosseguindo o estudo sobre a responsabilidade social das empresas, a função


principal destas envolve o negócio central da empresa em relação aos seus
intervenientes internos, entre eles os gestores, accionistas, funcionários, clientes e
fornecedores. Isso significa garantir a boa organização e ordem da empresa no que
concerne a administração empresarial, responsabilidade pelo produto, condições de
emprego, direitos dos trabalhadores, formação profissional e educação 84 .

A segunda função tem a ver com o cumprimento da legislação relevante do país


em que opera, e a responsabilidade da empresa como contribuinte fiscal, assegurando
assim o bom funcionamento do Estado. Também engloba ainda (isso dentro das funções
da empresa), a garantia de assegurar uma perspectiva empresarial que possa contribuir
para uma política oficial consubstanciada na concepção de práticas pedagógicas, tendo
como núcleo as qualificações e atitudes que serão necessárias para que o país se torne
competitivo. Esta função, enquadra-se bem em acordos de parceria: voluntários, multi-
sectoriais, consensuais, baseados em objectivos comuns e a noção de competências
essenciais complementares, em que cada uma das partes fornece recursos derivados das
suas actividades fundamentais os quais complementam os prestados pelos outros
actores, resultando em melhorias conjuntas para os resultados e objectivos fixados.

As relações da empresa com os funcionários e com as comunidades onde


funciona e para onde exporta, é o terceiro papel ou função de uma empresa, enquanto
membro de uma sociedade, chamado carácter multifacetado da empresa. A este nível, a

84
Jorge Araújo, e Amanda Blakeley, , Responsabilidade social das empresas no sector petrolífero em
Angola: Estudo de Assistência Técnica do Banco Mundial, p.3.

62
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

responsabilidade social das empresas é entendida como uma transferência de recursos


financeiros de um negócio para uma actividade recomendável (responsabilidade social).

No entanto, o Ministério dos Petróleos e a empresa nacional, SONANGOL,


juntamente com as empresas que actuam no sector petrolífero angolano, têm vindo
progressivamente a cumprir e a executar os seus compromissos sociais com os seus
funcionários e com as comunidades. Apesar de insuficiente, não deixa de se ser
considerado um valioso contributo das mesmas para o desenvolvimento sócio-
económico no país. Até à data, a maior parte da actividade de responsabilidade social
das companhias petrolíferas em Angola tem-se concentrado mais em respostas
humanitárias sob um ponto de vista quase filantrópico.

Reconhecendo que se trata de uma oportunidade única para causar um impacto


no objectivo comum de paz e desenvolvimento em Angola, as companhias petrolíferas
parecem estar potencialmente prontas a elevarem a participação na responsabilidade
social das empresas no sector petrolífero angolano a um nível mais estratégico, desde
que vejam um comprometimento real do Governo na busca de uma parceria mais
eficiente e transparente.

A experiência de outros países indica que uma parceria estratégica e estruturada


que vise uma acção efectiva e eficiente das empresas em conjunto com as do Governo e
da sociedade civil pode produzir melhores resultados tanto para as comunidades como
para as empresas e, no contexto de Angola, pode fornecer um impulso significativo aos
esforços destinados a consolidar a actual estratégia de desenvolvimento sócio-
económico 85 .

As competências essenciais podem incluir o financiamento do sector privado,


gestão de projectos e financeira, e conhecimentos especializados de engenharia; a
coordenação ou capacidade estratégica para encontrar fontes de financiamento para o
sector público e respectiva supervisão; a capacidade das ONGs identificarem questões

85
Jorge Araújo e Amanda Blakeley, Responsabilidade social das empresas no sector petrolífero em
Angola: Estudo de Assistência Técnica do Banco Mundial, p.3-4.

63
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

relevantes na área social e ambiental e mobilizarem a participação da comunidade local


para ajudar a resolvê-las.

Devido à tradicional natureza destrutiva do antigo envolvimento externo em


Angola, os estrangeiros estão mal colocados para influenciar no bom sentido as práticas
de gestão de recursos. Em geral gozam de pouca credibilidade no país. A maior parte
dos angolanos assume que o envolvimento estrangeiro é inteiramente motivado pelo
desejo de aproveitar os recursos naturais do país.

Ainda no âmbito da responsabilidade social empresarial, grande parte das


empresas petrolíferas internacionais em Angola estão envolvidas em muitos projectos
sociais, dirigidos a programas de saúde, educação e desenvolvimento, e que incluem:

ƒ Fornecimento de medicamentos e alimentos.


ƒ Construção e reabilitação de escolas.
ƒ Desminagem.
ƒ Construção de casas.
ƒ Projectos de agricultura.
ƒ Reparação de pontes e infra-estruturas.
ƒ Projectos de energia solar.
ƒ Sensibilização sobre o VIH e programas de prevenção da doença.
ƒ Programa alimentar e de saúde infantil.

Muitas empresas nos seus contratos com o Governo, são obrigados a afectar
uma percentagem dos seus lucros ao financiamento de actividades empresariais de
responsabilidade social – AERS. A nova Lei do Petróleo contém diversas referências
à utilização de prestadores de serviços locais: apoiar a formação profissional de
cidadãos angolanos. As empresas que operam em Angola são obrigadas a incluir
cidadãos angolanos em todas as categorias e funções, salvo se estes não tiverem a
qualificação e experiência exigidas, tendo estes o direito de gozar de iguais direitos
remuneratórios e das mesmas condições de trabalho e sociais, facto que ainda está
longe de ser cumprido na sua plenitude 86 .

86
1º Encontro Metodológico Sobre a Problemática: Colocação de Mão-de-Obra Nacional na Indústria
Petrolífera Angolana, p.16.

64
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Apesar de contribuírem de forma positiva para o PIB e para as exportações do


país, os projectos petrolíferos nos países em vias de desenvolvimento têm normalmente
índices de importação muito elevados e poucas ligações com as empresas locais, pelo
que sugere-se uma maior expressão dos funcionários nacionais na actividade das
operadoras internacionais, e mais ampla e activa participação do empresariado nacional,
de forma a se criar um equilíbrio nessa actividade.

Embora tenham aumentado o número de ligações e integração entre empresas


nacionais e estrangeiras mantém-se circunscrita a actividades pouco técnicas. Face à
ausência de mão-de-obra nacional qualificada, as operadoras têm tido dificuldade em
cumprir os requisitos de recrutamento local para os seus quadros superiores.

65
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

6. PERSPECTIVANDO O FUTURO DO SECTOR

Uma vez terminada a guerra e implantada a paz no país, abre-se uma nova era e
ciclo para a reconstrução e o desenvolvimento económico e social de Angola, que lança
um grande desafio à sociedade angolana, em particular todas as instituições públicas e
privadas de intervenção económica e social, bem como a todos os cidadãos enquanto
titulares dos direitos e liberdades económicas e sociais fundamentais.

O desenvolvimento económico e social ainda que impulsionado pelo Estado e,


em primeira linha, pelas empresas estatais, com a SONANGOL à cabeça, muito deve e
terá que ser progressivamente protagonizado pela cidadania económica angolana.

A aplicação pelo Estado do princípio da igualdade entre dois grupos de


empresários, estrangeiro e nacionais, com vista ao fomento e fortalecimento do
empresariado privado nacional, o que significa a aplicação aos angolanos do princípio
do tratamento mais favorável ou prioritário – princípio da Angolanização. O que quer
dizer que o empresário angolano não é igual ao empresário estrangeiro, merecendo um
tratamento diferente, mais favorável que diminua ou mesmo elimine a diferença de
condições concorrenciais que o distancia das do estrangeiro, com intuito de criar um
certo equilíbrio nas desigualdades existentes.

É responsabilidade do Estado, e em particular da SONANGOL e do MINPET,


criar e oferecer aos cidadãos, às empresas participadas por angolanos e outras
instituições nacionais, um princípio de tratamento mais favorável, prioritário ou
preferencial, às condições jurídicas e materiais que contribuam para diminuir a
desigualdade concorrencial, ao mesmo tempo que também possam contribuir para o
fomento da cooperação entre investidores nacionais e estrangeiros.

Entre o conjunto das condições que o Estado, MINPET e SONANGOL devem


criar e oferecer, destacam-se as seguintes:

66
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

ƒ A necessidade de promulgação de medidas legislativas gerais, regulamentadoras


e executivas do vasto e multifacetado princípio da privatização de empresas, de
actividades ou parte de actividades do sector de petróleos.

ƒ Promover e estimular formas empresariais, associativas de parcerias ou outras


entre a e suas SONANGOL filiadas e participadas e os cidadãos ou empresas
angolanas idóneas que pretendam exercer actividade no sector dos petróleos e
seus serviços.

ƒ Criação de regras estritas de selecção dos beneficiários das medidas de fomento,


por via da exigência de qualidades, de idoneidade técnica, profissional e de
gestão adequadas ao sector de actividade visada.

ƒ Nomeação (indicação) de figuras que possam exercer funções de representantes


do Governo nas empresas participadas.

ƒ A promoção de desenvolvimento da formação de quadros petrolíferos angolanos


é uma vertente que deve prosseguir e progredir, em quantidade e qualidade,
certos de que são eles que representam o núcleo central de uma efectiva e plena
Angolanização do sector.

No que diz respeito à política do gás e ambiente, o sector deve continuar a


empreender esforços para reduzir a queima de gases. Até agora, uma grande parte do
gás associado ao petróleo tem sido queimado ou libertado para atmosfera. No entanto, o
sector deve ser encorajado a reforçar a sua política relativamente ao ambiente para
reduzir a queima de gases associados, e de impor uma observância mais rigorosa da
legislação existente, de forma a salvaguardar os seus interesses inerentes à protecção do
meio ambiente.

Outro desafio a considerar, será sempre o investimento no capital humano e


infra-estruturas, como parte da estratégia para um efectivo desenvolvimento do sector,
factor importante para o desenvolvimento.

67
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Assim, o sector petrolífero deve apostar nas despesas de investimento em capital


humano e infra-estruturas básicas como por exemplo, saúde, educação, água potável,
saneamento básico, estrada etc. de modo a melhorar o nível de vida das comunidades.
Os investimentos em capital humano servirão também para ajudar o país a resolver o
problema da grave carência de mão-de-obra qualificada na indústria petrolífera e no país
em geral.

O sucesso da produção de petróleo em Angola impõe mais e melhores


investimentos nas novas tecnologias. O progresso tecnológico torna-se essencial para
garantir uma exploração bem sucedida de forma a responder os novos desafios a
enfrentar do futuro pela indústria petrolífera angolana que, se assume como garante do
desenvolvimento do país.

O sector deve de igual modo dar prioridade ao investimento em transportes, e


infra-estruturas de armazenamento de produtos petrolíferos em todo país, por forma, a
poder aprovisionar o país com aqueles produtos e assim satisfazer as necessidades da
população.

A indústria angolana de petróleo deve cada vez mais expandir-se, tanto a nível
regional como internacional, apostar na melhoria da gestão dos recursos naturais e
humanos, apostando cada vez mais na formação dos seus funcionários e não só, no
sentido de fortalecer o quadro do pessoal ao serviço da industria e assim, levar
progressivamente a indústria angolana no jogo competitivo internacional.

A inovação, formação, boa gestão dos recursos, know-how, etc. constituem


ferramentas chaves para o crescimento e desenvolvimento num mundo cada vez mais
globalizado.

68
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

7. DESAFIOS E EXPECTATIVAS

Os grandes desafios do país serão sem dúvida a educação, cultura, economia,


saúde, tecnologia, preservação do ambiente e ainda em, termos políticos, a democracia e
direitos humanos. No passado fica a guerra, mas no presente ainda é preciso combater a
pobreza, fome, analfabetismo, miséria e a desilusão.

Angola tem vivido uma relativa paz desde a assinatura do cessar-fogo de 4 de


Abril de 2002, pondo dessa forma termo a mais de 25 anos de guerra civil. O país
enfrenta agora a árdua tarefa de canalização dos seus abundantes recursos naturais e
humanos para a reconstrução do país rumo ao desenvolvimento económico e social do
país, que sobretudo se traduz na melhoria das condições de vida das populações, das
infra-estruturas, etc. Os diamantes e, em particular, o petróleo do mar de Angola,
dominam a economia nacional, sendo responsáveis pela quase totalidade de receitas
líquidas e receitas fiscais do país. Contudo, estes sectores interagem muito pouco com o
resto da economia. A agricultura e a indústria manufactureira do país ainda estão a
sofrer com o legado da guerra civil – infra-estruturas destruídas, falta de capitais físicos
e financeiros, má administração, a presença inibidora de minas em algumas regiões, sem
contar com a necessidade de reinstalar os desalojados/deslocados pelo conflito.

Tal como noutros ambientes de pós-guerra, Angola enfrenta enormes desafios


futuros, que exigem um compromisso firme da parte do Governo para poder beneficiar
do apoio da comunidade internacional, utilizando como trunfo os seus abundantes
recursos naturais em especial o petróleo.

Os esforços para reduzir a inflação, embora sejam necessários, têm custos


sociais consideráveis tendo em conta a falta de redes de segurança no Estado e a
desintegração do tecido social.

Terminada a guerra, o país pode e deve aplicar o princípio que passou a ser
convencionado por “Dividendo da Paz”, significa, aplicar os recursos de toda natureza
(sobretudo o petróleo) que ontem eram direccionados para os esforços da guerra, ao

69
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

benefício da paz, canalizando os mesmos no esforço de reconstrução, crescimento e


desenvolvimento económico e social do país.

Porém as autoridades têm-se deparado com desafios consideráveis e o progresso


sócio-económico tem sido inconstante.

O sector petrolífero aqui assume-se como o sector principal na reconstrução e


desenvolvimento do país. A construção das infra-estruturas é uma prioridade a ter em
conta e importante para garantir as condições básicas de habitabilidade a toda a
população e para criar as condições de base ao processo de crescimento económico. A
melhoria da rede de estradas permite um melhor acesso aos mercados e reduz os custos,
facilitando a mobilidade e comunicação, em particular para as comunidades que
habitam em áreas rurais que dependem da agricultura. O abastecimento de água,
saneamento e energia são essenciais para o desenvolvimento do capital humano e para o
aumento da produção nacional. A construção de habitação social permite alojar e
realojar as famílias que vivem em condições precárias, dando-lhes as condições
necessárias para terem uma vida melhor e condigna.

É frequente questionar-se sobre o envolvimento participativo dos cidadãos e da


sociedade civil, no que respeita às políticas públicas em concreto políticas sociais que
promovem o desenvolvimento socio-económico, do nível comunitário ao nível local 87 .
Participação essa, que considero relevante para a resolução dos inúmeros problemas
que afligem as populações.

O desenvolvimento económico e sustentável com a participação dos grupos


citados no anterior parágrafo, enquanto garante da estabilidade e da paz, é não só
importante como prioritário e urgente.

No que diz respeito ao investimento estrangeiro na indústria petrolífera, tem sem


dúvida grande importância, quer como impulsionador do crescimento e
desenvolvimento económico e social, quer quanto à criação de empregos locais, em
particular, de nível técnico e de direcção. O investimento privado nacional e estrangeiro

87
Por exemplo, a Sociedade Civil pode servir de ponte entre o Governo, o sector petrolífero e as
comunidades/populações.

70
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

deve privilegiar a criação de empregos qualificados e tecnicamente diversificados


proporcionando assim aos cidadãos angolanos a dignidade e melhores condições de
vida.
É preciso que se invista mais e melhor no desenvolvimento humano, chave
fundamental para o crescimento e desenvolvimento. Políticas económicas pouco
adequadas e escolhas aleatórias dos investimentos têm promovido mais crescimento
económico do que o desenvolvimento humano. Estabelecer a relação entre os dois
conceitos é importante, mas é igualmente importante não descurar o conceito de
igualdade na redistribuição do rendimento nacional 88 .

Por seu lado uma ausência de uma política adequada de enquadramento e de


aproveitamento racional dos recursos humanos, tem contribuído para a não priorização
do factor mão-de-obra, para um crescimento económico mais fraco e ainda para a
criação de um fosso de frustração colectiva, que em nada contribui para o
desenvolvimento humano e, para a tão necessária mudança de atitudes 89 .

Os serviços prestados pelos agentes ligados aos serviços sociais públicos, e não
só, são considerados pela maioria dos receptores, como ineficientes ou insuficientes.
Essa ineficiência e insuficiência tem sido atribuída à escassez de recursos, embora
muitos argumentam ter a ver com os modelos correntes de regular os serviços sócias.

Uma das grandes questões nos nossos dias tem sido sem dúvida o uso dos
rendimentos do petróleo. Há quem defende que os mesmos devem ser maioritariamente
canalizados para às questões sócias ou seja para política social.

A importância do tema reside nas características particulares da economia


angolana, dotada de uma indústria petrolífera com capital intensivo, e o resto da
economia, com muito fraca produtividade, incapaz de gerar riqueza suficientes para
cobrir as necessidades de investimento e de reposição, resultantes do crescimento
populacional e do desgaste físico das infra-estruturas e equipamentos produtivos, assim
como de cobrir as necessidades fundamentais/básicas de toda a população.

88
Angola e PNUD, Relatório de Desenvolvimento Humano: Construindo uma Paz Social, Luanda, 2004,
p.72.
89
Ibidem

71
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

No caso de Angola, é errada a percepção que o problema essencial é a falta de


recursos financeiros. Pelo contrário, à medida em que a economia petrolífera cresce, à
semelhança do que acontece com outros países onde o petróleo impera, injecta-se mais
dinheiro do que existe em termos de capacidade para o utilizar em acções de
desenvolvimento.

O que se constata em Angola é que as empresas petrolíferas dão pouco emprego


aos angolanos, preferindo contratar especialistas e técnicos no exterior e portanto,
praticamente, não criam efeitos multiplicadores na economia. No entanto, para o
fortalecimento da economia nacional e desenvolvimento socio-económico, é necessário
que Governo aposte fortemente as receitas do petróleo, sobretudo na formação de
Recursos Humanos, investimento público, na criação de emprego e apoiar fortemente o
empresariado nacional e, assim, garantir um desenvolvimento do capital humano
sustentável.

Deverá evitar-se a delapidação se assim se pode dizer, desse precioso recurso.


Para isso, seria necessário um rigor e eficaz controlo na gestão dos recursos. Seria
urgente garantir condições para que as receitas provenientes do petróleo favorecessem a
política económica e social de forma a beneficiar às gerações actuais e futuras de
Angola.

Desse modo, Angola deve fazer esforços para que o petróleo sirva,
principalmente, para garantir as necessidades de acumulação e, em particular, a
formação do angolano nas condições mais racionais possíveis, como sejam a garantia da
educação com qualidade no país e saúde, para que a taxa de mortalidade baixe e
melhore a taxa esperança de vida dos angolanos 90 . Os recursos do petróleo devem
servir, primordialmente, para a educação (desde o ensino primário ao universitário)
acompanhada da formação profissional e acções de pesquisas e desenvolvimento de
progresso técnico, saúde, habitabilidade, investimentos públicos visando a criação de
empregos.

90
O que mais preocupa, é taxa alta de mortalidade sobretudo nas crianças. O problema do SIDA, é hoje
um problema que ameaça a segurança nacional de certos países africanos da nossa região. Essa epidemia
é uma ameaça ao desenvolvimento, sobretudo quando afecta quadros elites políticas e da economia, gente
capaz, de proporcionar o mesmo desenvolvimento e bem-estar da nação. Portanto, é necessário investir
fortemente na saúde.

72
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

A educação e formação profissional deve igualmente ser estimulada e criar-se


para o efeito de centros para a formação. A indústria petrolífera deve, enquanto pode,
continuar a politica de concessão de bolsas de estudo (externas e internas) para o ensino
superior e não só, garantindo qualidade e exigência no acesso e frequência das
universidades. Sendo urgente canalizar apoios às universidades nacionais de forma a
apostar na formação no interior do país, com as consequentes vantagens de se pouparem
recursos no exterior com a formação. Por outro lado, seria necessário atender aos
professores, garantindo a sua boa formação e valorizar as profissões de todos os níveis e
não apenas o nível superior. Uma vez formados, os quadros poderão ser colocados ao
serviço da indústria petrolífera ou outros sectores da economia nacional e, assim,
contribuir para o desenvolvimento do país em geral.

O desenvolvimento económico de Angola irá depender, em larga medida, da


forma como são ou serão geridas e utilizadas as receitas provenientes dos recursos,
sobretudo do petróleo. O aumento da transparência destes fluxos é essencial para essa
gestão (gestão rigorosa e com maior sentido de responsabilidade).

Numa época em que a economia do país está a crescer a um bom ritmo a custo
do aumento da produção do petróleo, a indústria petrolífera como sector pivot da
economia nacional pode e deve ter alguma responsabilidade no que respeita a
promoção de políticas e projectos sociais no país. A indústria, no quadro das
responsabilidades sócias que tem com o país, tem dado uma resposta adequada, apesar
de ainda aquém das desejadas e necessárias para a melhoria da situação económica e
social no país.

73
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

8. CONCLUSÃO

Angola representa um exemplo claro de como os países em vias de


desenvolvimento ricos em recursos naturais, se encontram entre aqueles com tendência
para desempenhos fracos em termos de desenvolvimento económico e social. Esta
hipótese, sustentada por exemplos, uma característica da maior parte dos países em vias
de desenvolvimento de muitas partes do mundo, que os países com instituições frágeis
têm pouca capacidade para aguentar as forças tendenciais e destruidoras da corrupção e
do conflito que são por vezes desencadeadas pelas tentativas de controlo e apropriação
das receitas do estado dependentes das exportações do petróleo e outras actividades
mineiras.

Se os recursos do país fossem devidamente aproveitados, Angola seria um dos


países mais prósperos de África. Em vez disso, a guerra e muitos outros factores
provocaram uma má gestão dos recursos petrolíferos, ao mesmo tempo que limitaram
gravemente o uso efectivo da maior parte de outros sectores, em especial da agricultura.

Graças aos acordos de paz de Abril de 2002 que trouxe a paz para o país, Angola
tem, neste momento, uma oportunidade sem precedentes para ultrapassar o legado da
guerra.

Em segundo lugar, o rápido aumento da produção petrolífera e consequentemente


das receitas do Estado previstas para os próximos anos, criará condições
excepcionalmente favoráveis para a reconstrução e desenvolvimento sócio-económico

Os benefícios directos para os angolanos da actividade petrolífera são, no entanto


ainda, muito limitados. A importância económica do petróleo, portanto, reside quase
inteiramente na sua função enquanto gerador de receitas fiscais para o estado.

A qualidade da gestão de recursos será um dos factores decisivo para determinar


se Angola consegue uma paz sustentável de longo prazo ou voltar mais uma vez a novas
formas de conflito, gerado por factores como a incapacidade para desenvolver os
sectores não mineiros da economia e assim criar emprego e fontes de rendimento para
as populações.

74
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Portanto, é preciso e necessário clarificar as prioridades de despesa do Governo e


por conseguinte garantir uma maior transparência na gestão das finanças públicas,
maioritariamente provenientes do petróleo. Não restam dúvida acerca da importância da
indústria petrolífera na sociedade angolana enquanto sector chave e único grande
impulsionador da economia angolana.

Há o sentimento entre os angolanos que, tendo em conta o aumento ou


crescimento constante das suas receitas petrolíferas, o governo poderia fazer mais pela
sua própria população e que, no mínimo, deveria ser capaz de explicar devidamente a
utilização dos seus recursos.

Ao longo dos anos, as grandes despesas com a defesa e a segurança desviaram os


dinheiros públicos dos sectores sociais, em especial da educação e da saúde, e das infra-
estruturas básicas, como as estradas e o abastecimento de água. Todos eles sectores
cruciais para o crescimento económico, criação de emprego, redução da pobreza e o
crescimento do bem-estar dos humano. Porém, conquistada a paz91 , é visível uma
melhoria substancial no ambiente económico e social.

O papel da indústria petrolífera tem vindo a assumir cada vez mais


responsabilidades nos sectores sociais, quer através da Angolanização, quer por vias de
assistência directa às populações mais carenciadas com financiamento de projectos
sociais no âmbito da responsabilidade das empresas no sector petrolífero angolano.

É também importante notar que, o sector aposta fortemente na concessão de


bolsas de estudo tanto internas como externas, o que constitui um claro sinal de que o
sector é sensível à esta questão (formação dos angolanos), contribuindo assim de certa
forma nessa área social para o desenvolvimento sócio-económico.

Como foi dito anteriormente, quanto ao papel dos actores externos, devido à
tradicional natureza destrutiva do antigo envolvimento externo em Angola, os
estrangeiros estão mal colocados para influenciar no bom sentido as práticas de gestão
de recursos. Em geral gozam de pouca credibilidade no país. A maior parte dos

91
É preciso, que os recursos naturais (em especial o petróleo) outrora canalizados ou desviados para os
esforços de guerra, sejam hoje canalizados para os planos sociais, com o objectivo de contribuir para o
desenvolvimento sócio-económico no país.

75
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

angolanos é da opinião que o envolvimento estrangeiro é inteiramente motivado pelo


desejo de aproveitar o petróleo, os diamantes e os outros recursos do país.

No entanto, grandes empresas internacionais têm sido pressionadas pelo mundo


desenvolvido para agir no quadro de normas de responsabilidade social empresarial
(RSE). A maior parte das grandes empresas internacionais a operar em Angola tentaram
cultivar uma imagem de RSE, envolvendo-se em acções filantrópicas de pequena
escala. A maior parte das companhias petrolíferas canalizam a sua assistência
filantrópica através de um “fundo social” gerido pela SONANGOL (um denominado
“bónus social” tem de ser pago a este fundo, a par dos bónus de assinatura pagos ao
Estado por cada novo bloco petrolífero), enquanto que outras financiam projectos
patrocinados por ONG’s e agências da ONU, para actividades que vão desde a
desminagem a projectos de desenvolvimento comunitário localizados. Embora muitas
destas actividades sejam valiosas, em termos financeiros representam uma fracção
minúscula dos lucros que estas companhias retiram ou tentam retirar dos seus
investimentos em Angola, e também não se dirigem directamente às questões de gestão
de recursos que em última análise são mais importantes para o bem-estar do povo
angolano 92 .

Uma vez analisada a questão do papel e contributo do sector, não restam dúvidas
acerca da amplitude e importância do mesmo na sociedade angolana. Estou convicto de
que esse papel e contributo, apesar de ainda ser insuficiente, continuará por muitos mais
anos, à medida que, a produção do crude no país aumentar com o preço de petróleo em
alta e, se ainda o petróleo continuar a ter a importância e influencia que tem nos dias de
hoje.

Assim sendo, é necessário que se criem condições fundamentais que tornem


sustentável e irreversível o crescimento da indústria petrolífera angolana e assim um
aumento do PIB de forma a melhorar os indicadores sócio-económicos. Os resultados
positivos que se alcançarem com a recuperação da economia irão ampliar os efeitos
dos investimentos públicos feitos nas infra-estruturas e serviços sociais de índole
diversa.

92
Araújo, Jorge, e Blakeley, Amanda, Responsabilidade Social das Empresas (CSR) no Sector
Petrolífero em Angola, Estudo de Assistência Técnica, Banco Mundial, Luanda, 2003, pp.5-6.

76
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Um aspecto a ter em conta é a qualidade da governação das instituições do


Estado. É muito importante para garantir a provisão de serviços públicos para os mais
carenciados e para orientar o processo de desenvolvimento económico e social,
garantindo a observância das normas e princípios fundamentais.

Este sector energético é de capital importância para o crescimento e


desenvolvimento económico dos países.

O balanço e avaliação que faço não deixa de ser satisfatório positivo, atendendo
as circunstâncias em que o país passou e continua a passar desde a independência aos
nossos dias. Mas também quero aqui reforçar a ideia de que é possível fazer mais e
melhor. Os recursos naturais que o país possui, por si só, não resolvem tudo. É preciso
que haja boa vontade, boa governação, estabilidade política e sobretudo, boa gestão dos
recursos disponíveis.

O país vive ainda dias e momentos de euforia. A produção petrolífera está em


grande crescimento e a atenção dos investidores estrangeiros está concentrada nas
potencialidades e riquezas angolanas, como mostram os grandes fluxos de investimento
directo estrangeiro que acorrem ao país. Por isso, esta é a altura certa para olhar com
atenção para o futuro do país.

77
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

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80
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

ANEXOS
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Anexo 1
MAPA DA REPÚBLICA DE ANGOLA

82
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Anexo 2
SÍNTESE DE INFORMAÇÃO ESTATÍSTICA

População

População Residente (Est. 2004) (milhões) 16,5


Densidade Demográfica, habitante por km2 (Est.2004) 13,2
Índice de Juventude da População (2004) (% da população com 20
ou mais de 20 anos de idade. 60
Nível Geral de Desenvolvimento
PIB per capita (2004), (USD) 1264,6
Índice de Desenvolvimento Humano (2005 0, 445
População Abaixo da Linha de pobreza (2001), (%) 68
População em Extrema Pobreza (2001), (%) 26
Indicadores Económicos
PIB (2004), (mil milhões USD) 12,2
Taxa Média de Inflação (2004), (USD) 26,25
Dívida Externa (2004), (mil milhões USD) 7,9
Saldo Fiscal (2004), (mil milhões USD) 0,6
Indicadores Sociais
Esperança de Vida à Nascença (2204), (Nº de Anos) 42,4
Taxa Bruta de Escolarização no Ensino Primário (2003), (%) 91,1
Taxa de Crescimento Médio de Alunos Inscritos no Ensino
Primário (2000-2003) 24,3
Taxa de Mortalidade de Crianças com Menos de 5 Anos (2003)
(morte de criança com menos de 5 anos por 1000 nados vivos) 260
Taxa de Mortalidade Materna (2003), (morte materna por 100 mil
nados-vivos) 1400 a 1700
População com Acesso a uma Fonte de Água Apropriada (2003)
(%) 68,5
População com Acesso a Condições Melhoradas de Saneamento
(2003) (%) 78
Fonte: Relatório, “Angola Objectivos do Desenvolvimento do Milénio, 2005”.

83
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Anexo 3

COMPORTAMENTO DA ECONOMIA NO PRIMEIRO TRIMESTRE DE


2006(1)

PIB Petróleo Diamantes Agricultura I.Transfor Construção Energia Serv.merca.

Programado
15,5 35,3 3,3 18,1 16,5 18,5 15,0 11,4
Anual
Realizado 1º
6,09 5,92 11,43 1,4 10,2 14,65 3,47 9,23
trimestre
(1) - Taxas reais de crescimento em percentagem
Fonte: Ministério do Planeamento, Direcção de Estudos e Programação Económica, Luanda, 2006.

ELEMENTOS MACROECONÓMICOS E REAIS DO COMPORTAMENTO DA


ECONOMIA NO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2006


JANEIRO FEVEREIRO MARÇO
TRIMESTRE
Taxa de inflação (%) 0,83 0,71 0,79 2,35
Produção petróleo(Mb) 43973,7 39499,7 44612,5 128085,9
Produção diamantes (q) 996864,6 626268,4 684047,9 2307180,9
Investimento público - - - 248,0
Investimento Privado - - - -
Preço petróleo 58,6 56,4 58,5 57,8
Preço diamantes
119,8 122,5 128,0 122,98
(USD/QUI)
Venda líquida divisas 442,8 365,0 441,2 1249,0
Reservas internas líquidas 3373,2 4426,1 4471,0 4471,0
Crédito à economia 1819,6 2028,4 2123,5 2123,5
Crédito sector privado 1729,9 1935,8 2043,1 2043,1
Dep. prazo (em moeda
185,6 233,6 230,5 230,5
nacional)
(1) – (valores em milhões de dólares, salvo indicação em contrário)
Fonte: Ministério do Planeamento, Direcção de Estudos e Programação Económica, Luanda, 2006.

84
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

PROJECÇÃO DO PIB PARA 2006 (1)

ESTRUTURA SECTORIAL· VALORES EM


SECTORES ECONÓMICOS
(%) MILHARES USD

Agricultura, silvicultura, pescas 8,59 34 437 758,7


Petróleo e refinados 57,0 22 851 597,4
Diamantes e outros 2,3 922 082,0
Indústria transformadora 4,6 1 844 164,0
Energia eléctrica e água 0,4 160 362,1
Obras públicas e construção 5,1 2 044 616,1
Comércio, Bancos, Seguros, Servi 13,6 5 452 311,0
Outros 8,4 3 367 603,8
Produto Interno Bruto 100,0 40 086 512,6
Produto Interno Bruto não petrolífero 43 17 238 924,3
População - 15 740 064,0
PIB por habitante (dólares) - 2 547,0
(1)– Na Óptica da Oferta.
Fonte: Ministério do Planeamento, Direcção de Estudos e Programação Económica, Luanda, 2006.

Assim, após um crescimento do PIB de 15.3% em 2005, o FMI estima um


crescimento de 35.3 % em 2007. Em todo o caso, a base deste crescimento é ainda
extremamente baixa do valor nominal do PIB angolano em 2006 foi de cerca de USD
43.8 mil milhões (ou cerca de EUR 32.2 milhões).

85
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Anexo 4

COMPORTAMENTO DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO

A extracção petrolífera tem sido a base das receitas fiscais petrolíferas do País e
a sua actividade tem-se apresentado com bons níveis de execução. A produção
aumentou, em 2005, 26% e no primeiro trimestre de 2006 cerca de 6%, esperando-se
que durante o corrente ano possa incrementar-se em 21,2%.

VARIÁVEIS DE REFERÊNCIA

Investimento
Tx crescimento Investimento público Emprego
privado
(%) (milhões USD) (Milhares)
(milhões USD)

Resultados em 2005 26,0 4 504 384,3. 12,3


Resultados I tri.
5,92 n.d 183 n.d.
2006

Fonte: Ministério do Planeamento, Direcção de Estudos e Programação Económica, Luanda, 2006.

O quadro seguinte mostra, de uma forma sintética, o diagnóstico estratégico


deste sector de actividade.

ENQUADRAMENTO ESTRATÉGICO PARA 2007-2008

PONTOS FORTES PONTOS FRACOS OPORTUNIDADES AMEAÇAS

ƒ re-infraestruturação em curso
ƒ recuperação da economia
ƒ conjuntura política e
ƒ integração na SADC
ƒ excelentes condições económica internacional
ƒ melhoria das condições de vida
naturais ƒ Impactos ƒ volatilidade dos preços e
ƒ conjuntura política e económica
ƒ abundantes recursos ambientais potencial queda a longo
internacional
em petróleo e gás negativos prazo
ƒ construção do cluster “petróleo e gás
natural ƒ não diversificação da
natural”
economia
ƒ Início de funcionamento do mercado
de capitais e da bolsa de valores

Fonte: Ministério do Planeamento, Direcção de Estudos e Programação Económica, Luanda, 2006.

86
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

EVOLUCÃO DA PRODUÇÃO DO PETRÓLEO EM ANGOLA 2001 - 2002

87
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Anexo 5
ORÇAMENTO GLOBAL E FINANCIAMENTO (2007-2008)

O Programa Geral do Governo para o biénio 2007-2008, tem o investimento


público como instrumento essencial da implementação das diferentes Políticas. Assim,
o PIP está orçado em cerca de 1.073 mil milhões de Kz.

Durante o biénio 2007-2008 estarão em curso projectos, inscritos no PIP, com um


custo total previsto de 822.056,93 milhões de Kz, equivalente a 9.482,84 milhões de
USD. Em 2007-2008 prevê-se executar 76,6% do custo total, sendo que 9,87% foi
realizado em anos anteriores e 13,52% deverá ser executado em anos seguintes.

Em 2007 serão executados investimentos públicos no montante de 563.606,19


milhões de Kz, correspondendo a 6.517,94 milhões de USD.

(Milhões de Kz)
Custo Previsto Total 2007-2008
MINISTÉRIOS
2007 2008 Em Valor Em %
Sectores Produtivos e Infra-Estruturas 330.527,68 188.879,00 519.406,68 63,18%
Agricultura e Desenvolvimento Rural 14.109,53 7.486,08 21.595,61 2,63%
Pescas 36.320,20 0,00 36.320,20 4,42%
Petróleos 0,00 0,00%
Geologia e Minas 251,74 251,74 503,48 0,06%
Indústria 1.915,24 428,89 2.344,13 0,29%
Energia e Águas 61.859,88 23.962,06 85.821,94 10,44%
Obras Públicas 175.801,12 92.808,68 268.609,80 32,68%
Transportes 32.904,47 61.190,22 94.094,69 11,45%
Correios e Telecomunicações 7.365,50 2.751,33 10.116,83 1,23%
Sectores Sociais 85.633,65 24.135,10 109.768,75 13,35%
Educação 32.453,29 5.800,83 38.254,12 4,65%
Saúde 17.135,74 1.760,10 18.895,84 2,30%
Assistência e Reinserção Social 14.567,18 1.520,37 16.087,55 1,96%
Antigos Combatentes 81,44 15,00 96,44 0,01%
Família e Promoção da Mulher 35,00 0,00 35,00 0,00%
Juventude e Desportos 5.993,97 15.038,80 21.032,77 2,56%
Comunicação Social 15.367,03 0,00 15.367,03 1,87%
Restantes Sectores 81.661,59 8.507,06 90.168,65 10,97%
Programa de Melhoria e Aumento da
Oferta dos Serviços Sociais Básicos às 65.783,27 36.929,58 102.712,85 12,49%
Populações
TOTAL 563.606,19 258.450,74 822.056,93 100,00%

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Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Fonte: Ministério do Planeamento, Direcção de Estudos e Programação Económica, Luanda, 2006.

Os Sectores Produtivos e de Infra-estruturas terão, no biénio, investimentos no


montante de 519.406,68 milhões de Kz, correspondendo a 63,18% do total. Estes
investimentos estão particularmente orientados para criar as condições económicas e
infraestruturais, visando a aceleração e sustentabilidade do crescimento económico, a
diversificação da estrutura económica, a criação de emprego, a melhoria da
produtividade e o combate à pobreza.

Os Sectores Sociais, mais directamente ligados à elevação das condições de vida


da população e ao desenvolvimento dos recursos humanos do País, mobilizarão, no
biénio, investimentos com um custo total previsto de 109.768,75 milhões de Kz,
representando 13,35% do total.

Os Restantes Sectores, onde se incluem, nomeadamente, as Reformas e a


Capacitação Institucional, terão um investimento em 2007-2008 de 90.168,65 milhões
de Kz, correspondendo a 10,97% do total.

Refira-se que, complementarmente, os Programas Provinciais de Melhoria e


Aumento da Oferta de Serviços Sociais Básicos às Populações atingirão um montante
total de 102.712,85 milhões de Kz, o que representará um acréscimo de 12,49% em
relação ao biénio 2005-2006.

O Financiamento do Programa Geral do Governo Extensão para Biénio 2007-2008,


será assegurado por uma combinação de fontes internas

89
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Anexo 6
ORGANIGRAMA DA SONANGOL

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Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Anexo 7 Organigrama do MINISTÉRIO DOS PETRÓLEOS


CONSELHO
CONSULTIVO
MINISTRO CONSELHO DE
DIRECÇÃO
CONSELHO
TÉCNICO

DIRECTOR GABINETE DO MINISTRO VICE-MINISTRO

DIRECTOR ADJ. GABINETE MINISTRO DIRECTORA GABINETE VICE-MINISTRO

CHEFE DEPTº ORG.INTERNACIONAIS


DIRECTOR GABINETE JURÍDICO
DIRECTOR GABINETE DE INTERCÂMBIO CHEFE DEPARTAMENTO DE
INTERNACIONAL INSPECÇÃO DAS OPERAÇÕES
CHEFE DEPTº COOP. BILATERAL PETROLÍFERAS
DIRECTOR GABINETE DE
INSPECÇÃO
CHEFE DEPTº INVEST. E PROJECTOS
CHEFE DEPARTAMENTO DE
DIRECTOR GABINETE DE ESTUDOS, INSPECÇÃO DE ASSUNTOS
PLANEAMENTO E ESTATÍSTICAS CHEFE CENTRO DE ADMINISTRATIVOS E FINANCEIROS
CHEFE DEPARº PLANIF.E ESTATÍSTICA DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO

DIRECTOR NACIONAL DIRECTORA NACIONAL DIRECTOR GABINETE DE SECRETARIO


DOS PETRÓLEOS DE COMERCIALIZAÇÃO RECURSOS HUMANOS GERAL

CHEFE DEPARTAMENTO DE
LICENCIAMENTO E PESQUISA CHEFE DEPARTAMENTO DE CHEFE DEPARTAMENTO GESTÃO
COMERCIALIZAÇÃO EXTERNA CHEFE DEPARTAMENTO DE FINANCEIRA E PATRIMONIAL
PLANEAMENTO E COMPENSAÇÃO
CHEFE DEPARTAMENTO PRODUÇÃO E
DESENVOLVIMENTO
CHEFE DEPARTAMENTO DE
ORGANIZAÇÃO E INFORMÁTICA
CHEFE DEPARTAMENTO DE CHEFE DEPARTAMENTO GESTÃO
CHEFE DEPARTAMENTO DE PROTECÇÃO COMERCIALIZAÇÃO INTERNA ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL
DO AMBIENTE
CHEFE DEPARTAMENTO DE
EXPEDIENTE E RELAÇÕES
91 CHEFE DEPARTAMENTO DE PÚBLICAS
CHEFE DEPARTAMENTO DE REFINAÇÃO FORMAÇÃO
E PETROQUÍMICA
Angola: O Papel e Contributo do Sector dos Petróleos no Desenvolvimento sócio-económico

Anexo 8

COMPANHIAS PRESENTES EM ANGOLA

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