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Entrevista Clínica de Teresa Mcintyre

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JORNAL DE PSICOLOGIA, 196 1213-7 AENTREVISTA DE AVALIACAO CLINICA: SUA RELEVANCIA PARA O PROCESSO TERAPEUTICO E NA FORMAGCAO PSICOTERAPEUTICA TERESA MENDONCA MCINTYRE(*) UNIVERSIDADEDOMINHO Esteartigo defendeaimportinciafundamentalda entrevista deaval como ‘método de avaliagio e como fase inicial do processo terapéutico, e aponta para a necessidade de treino especializado dos estudantes de Psicologia Clinica e psicoterapia nas competéncias ae avaliagio clinica, A-antora define o que éa entrevista de avaliagio clinica e quais os seus ‘objectivos fundamentais, descreve alguns erros comuns neste tipo deentrevista, eadverteem rrelago as suas imitagoes como método de avaliagio clinica. A entrevista de avaliagaoclinica €definida como um método privilegiado de obter informacio ideogratica acerca docdientee € salientado o seu cardcter relacionale bilateral, E considerado que a pessoa do terapeuta, como 0 “outro” da diade terapeuta-cliente, é um componente essencial da avalingao clinica, O artigo apela a importancia de se fazer uma formulacio interpretativa da problemética do cliente e de se desenvolverem diagndsticos de trabalho acerca desta para um planzamento cuidado do tratamento e sucesso dos resultados obtidos. S40 também abordadas algumas questoes de ética relacionadas com aentrevista de avaliagaoclinica ea necessidade de treino especializado nestas competéncias, INTRODUCAO Na Ansia de se formarem clinicos facilitadores de mudanga, peritos em psicoterapia, seja qual f6r a orientago adopiada, © treino do estudante de psicologia clinica em competéncias de entrevista de avaliagSoclinica € muitas vezes, descurado. Este artigo propoe-se definir em que consiste a entrevista deavaliacio linicae seusobjectivos fundamentais.. apresentar alguns erros tipicos do psicélogo ao realizar a ‘entrevista, eadvertirem relacio aos limites da entrevistacomo ¥ métododeavaligioclinica. Nesteartigoaentrevistade avaliagiio clfnicaétratad especificamentecomoa fase inicial doprocesso terapeutico, geralmente em respostaaum pedido de psicotera- pia, endo como um processo isolado,como acontece emcasos de pedido de avatiagao que no tém em vista psicoterapia subsequente, No entanto. alguns dos temas abordados podem ser generalizados a este tipo de avaliagio. AO © QUE E A ENTREVISTA DE AVALIAGAO CLINICA Enguanio os investigadores do comportamento hu- manoestiointeressados numa abordagem geral ou nomotética (#) Professora Ausiliar do Departamento de Psicologia da Universi dade do Minho ¢ Directora do Serviga de Consulta Psicolbgica ¢ {_,, Desenvolvimento Humano. A comespondéncia para a este artigo deve ser envinds para Teresa ‘Mendonga Mcintyre, Departamento de Psicologia, Instituto de Ed ‘cago da Universidade do Minho.Campus de Guslisr, 4700 Braga. do individuo, os clinicos esto preocupados com uma abior- ‘dagem ideografica do comportamento humano. uma com preensio individealizada da problemética apresentada pelo cliente € do seu contexto hist6rico e situacional particular. A entrevista de avaliagbo clinica € um meio privilegiado 60 clinico obtr esta compreensto ideogritica do cliente © “Umabjectivo undameitada einevistade avalisga0 a colheita de dadas acerca do cliente por parte do ps clinico com vista a uma formulacdo vida da prob clientecaoplancamentode inervengdesterapéuicas apropii- aidas (Comer, 1992; Graham & Lilly, 1984), A observacio do ‘comportamento verbal ¢ nao-verbal dorcliente; assim como a recolhade informagto, sio instrumentoschave doterapeuta na entrevista inicial (Sue, Sue & Sue, 1990). No entanto. € contexto interpessoal terapeuta-cliente que informa ed signi- ficado a0 uso destes métodos e determina a validade dos dados oblidos, A entrevistade avaliagiocifnicatemassim um caricter relacional bilateral Tanto a observagio como os métodos de recolha de informagao (mais ou menos estruturados) so grandemente afectados pela orientagao terapéutica do psic6logo. Contudo, existe um instrumento de avaliago que é tomum a todas as orientagdes, a pessoa do psicélogo, 0 seu eu. Sullivan (1970) fala no conceito de “participant observer” para explicar 0 envolvimentoine vitavel da pessoa do terapeuta noprocesso de avaliago. Assim, a consciéncia do psicélogo acerca de como a sua pessoa afecia a entrevista ¢ os dados nels obiidos constituem um componente essencial da avaliag0 clinica. hestecontexto relacional terapeuta-clientee nos processosque este contexto desencadeia que oterapeuta pode fazer sentido da pessoa do cliente ¢ da sua problematica, Assim, um componente essencist da entrevista de avaliagio clinica € saber quem é 0 cliente. O senso comum diz, queo methor meio de se conhecer uma pessoa é através de um encontro facea face. Eatravés da observagio do outroe do que se passa cn 0 individuo e 0 outro, que se pode formar uma imagem de quem € 0 outro. Na entrevista de avaliagao clinica Oo cliente € 0 outro do terapeuta eo erapeuta o outro do cliente © € no contexio deste vaivém relacional que se gera uma ‘ayatiagdo inicial bitareal. Como qualquer primeiro encontro Ae estranos. este face a face implica necessériamente a exis- ‘Gncia deansiedade daparte do psicélogoedocliente, processo ie, embora sendo normal, pode obsirvir a interacgio tera- peula-cliente afectar a avaliagdo. sendo por isso importante para o terapeuta monitorizar este elemeito da inieraccto, ‘Apesar desta dualidade exisiem diferencas claras de papéiseresponsabilidades de cada participante nesteencontro face.a foce. Ao terapeuta cabe crias as condicdesfisicas e psi- colspicas fciiadoras de motivagt ca parte do clenten amgclienteéco que “Ae Caretbe tomo ata poblemAica (Graham & Lily, 985), £ da responssbilidade do terapeutao inci da entevista, & exploracdo de picosfundamentais para a avaliagdo ci o finalizardacntrevista. Aocliemtecabecolaborarnaav exercendo um papel activo na clarificagio da sua problematica na escotha da terapéutca a seguir, comunicando a8 suas auesties, expoctativase necessidades ‘Avavés desta gbordagem ideogrdfica oterapeuta vai formar uma imagem dapessoadoclicnle, quaisaceaperiéncias passadas que conta er. aualsospndroes decompontamenta,rognigsocafectvidadequeemersemdes- salisirlade vida, qalasuaeapesiéocia actual qualaproble- matica aprescnlada-e-e-sewenquedramento-histéricoc achual, e quas a expetativas do cliente acerea do processoteraptu, fico Comer, 1992; Sullivan, 1970) sto tad se numa/ormu lagio ierpretativa da problem iicdapiesentalapels elite ‘Um aspect final da enlevista de avaliagao clinica 6a Jormulagdadeundidgndsico que pode serenquadrado dent de. um dos sistemas de clasificagao conbesides, como 0 DSMIL-R-ou-o-ICD10, O terapeuta usa o conhecimento Qh cientico adquiido 6 a0 preseme sobre os patsdce defo, {ions decomportamentoouapsicopatcogiaparadelerminar \ "se a problemlica do cliente € mesma que a obscrvada investigada emoutosindividuos comessapatologia, podendo assimapli fazerputigoesacctrada etiopatogenia, curso teatamenta desseclinte (Comer, 1992), ‘A fazer isto enico integra assim uma abordagem ideo. sréfica com uma abordasem naratdica,sendo eit ie, sragio que deverd ditar-.escolha terapéutica, Uma ver que ainda temos muito investigar acerca do ‘comportamento humnanoe suas disfangoes, que sistemas de lassificagao existentes ¢ a propria técnica de entrevista tém ainda varios problemas de validade e: fidelidade (Comer, 1992; Gratam & Lily, 1984) os diagnésticos do psiblogo clinica sloimperativamentehipdteses ou aproximagoes razodveis 0 nivel tipo de dsfongdo apreseniada pelo cliente. Apesar de serem apenas "working diagnose” estes diagndsticos de ra. batho do dtece30 ao process lerapeutico permitndo esco- has informadas pelo conhecimento cientifico até entdio exis- tente & também importante notar que esse diagndstco de {trabalho pode ser mais ou menos provisério, como €indicado or categoras como “proelado” ou “provisrio” no DSMII. R (American Psychiatric Association, 1987), no podendo o JORNAL DE PSICOLOGIA, 1994, 12, 4 clinica esquecer-se de yue uma das possibitidades de di- agndstico é “Nenhum” ov auséncia de patologia. Um objectivo geral do terapeuta na entrevista de avaliagio clinica € 0 estabelecimento de “rapport * com 0 cliente. A colaboragao ¢ motivacso da cliente neste prncesso cial de avalin¢dadepende-om grande parle dacapacidadedo ‘crapeuta eslabeleces.esse.“rappast” com o cliente, isto 6, 0 {erapeuta através da sua postura verbal eno verbal ser.capaz de crar um ambiente isicorelacional em que se desenvolva utimento multuo.de_respeite.¢_confianca psicdlaec om eine a line (Comes, 1992: Graham & Lily 1984). Esta post parte do psicclogo envolve uma capacidade de “estar como Cliente de mado a qe est esinta reebnnecido como pessoa Singular com uma problemdtica particular, erie uma expec. lativa de que derivard beneficio da relactio terapéutica (Egan, 1982; Sullivan. 1970) informagso do elenie quanto 0 process teraptunic,conidenitidadeeseuslinies-aestu. turaepropésodaentevistaincal et sjudaacrarum elma a lomspnahensea mio gill te detiames ote omen abelecimentode“rapport’com Cer eet on assim como da sua interprelaga0 cdo seu diagnéstio depen: dem grandemente da suacapocidade deatendimentodoctiene rena ‘Aenitevista Je avaligdo clinica também permite a0 clieme avaliar 2 tecapeuia. o seu mado de interacgio com 0 client ea sa eapacdadederesposta a0 Seu pedide. Como 0 process de avalgan €necessramente bilavera.6 lene também vai formar uma impressBodequem éaieransnta-quais om potuooee Sea eee ae oe oe ne ofereoe.faerumadecistoscrcadoajestdeste sua peston € problemalica. Oterapeta tem a fongio de faciliar exe processo de avaiagao eescolha por parte do cliente fome. endothe informagées clas @ noma nguagem acesivl sobreaServigoe seu funcionamento aestruuragaodarelagso teapbaica rag desexses,equénei. pagements,con- fidencialidade et) eo plano de intervengio terapeuiea 0s servigsforem ajustados a0 pedo do elise ERROS—COMUNS-NA—ENTREVISFA—DE- AVALIACAO CLINICA, ‘Na minha experiéncia de supervisanda e supervisora, tenho observado vériose1r0s no infcio do proceso terapeutico que ilustram annegligéncia pela fase inicial, que constitu aen- ‘revista de avaliagao clinica, Estes erras relacionam-se direc tamente com ocaréctere objectivos daavaliagtiocifnica acima apresentados e agrupam-se em erros de psicoterapia precipita- 4a, eros de avaliacio protelada ede avaliago unilateral Opera eineo de “psicoterapia. initada” em ‘que o clinico oferece na entrevista ictal 0 que Egan (1982) chama de“Advanced Empathy”,ou que eu chamo de interpre- tagoouinsightterapéutico. Istoé,oterapeutadesafia ocliente com umanovacompreensto daexperiéncia docliente,indoum coumais passos alm do que foi afirmado ouexpresso por este, Esta interpretago na fase inicial de avaliagio clinica € ne- cessdriamente prematura porque € oferecida sem suficiente exploragdo ou clarficagao da experiéncia pelo cliente, e fora do contexto de win “rapport” previamente estabelecido com este. Teno observato que estetipo de ntervengao por pare do

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