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Como Montar Sua Unidade Didática?

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Fundamentos didatológicos e técnico‐didáticos de desenho de 
unidades didáticas para a área de Língua Portuguesa 
 

 
Resumo: 
   
Este artigo aborda o conceito de unidade didática numa perspetiva dicotómica (teórico‐
prática) de análise crítica.   
Num  primeiro  momento,  propomos,  no  marco  da  teoria  curricular,  uma  abordagem 
 
técnico‐evolutiva  dos  fundamentos  e  elementos  base  da  construção  de  unidades  didáticas, 
para,  posteriormente,  a  contextualizar  numa  dimensão 
  prática  de  desenvolvimento  integrado 
dos processos de ensino e aprendizagem. 
O  desenvolvimento  inter‐relacionado  dos    processos  de  ensino  e  aprendizagem  da 
leitura  e  da  iniciação  à  literatura,  da  escrita,  do  conhecimento  explícito  da  língua  e  do 
 
desenvolvimento  da  linguagem  oral,  entendido  na  perspetiva  do  desenvolvimento  das 
capacidades  de  reflexão  metalinguística,  constitui,  do  ponto  de  vista  técnico‐didático,  o 
 
elemento  de  transversalidade  e  abordagem  técnica  à  proposta  de  sequenciação  e  construção 
da matriz de unidade didática que propomos.    
 
 
Palavras‐chave: didatologia; unidade didática; integração didática; elemento integrador; Língua 
Portuguesa. 
António Pais/2011 
Instituto Politécnico de Castelo Branco 
Escola Superior de Educação 
antoniopais@ipcb.pt 
 

 
Unidade didática: um conceito complexo fundamentado na coerência metodológica 

Os  estudos  realizados  nos  últimos  dez  anos  revelam  a  importância  da 
integração didática como forma e opção metodológica de abordagem aos processos 
de  ensino  e  aprendizagem  para  áreas  tão  específicas  como  o  ensino  da  leitura  e  a 
formação  de  leitores.  Se  a  melhoria  do  desempenho  dos  alunos  portugueses  no 
domínio  das  competências  literácita  e  literária,  amplamente  confirmada  pela 
investigação de âmbito nacional e internacional, está diretamente relacionada com o 
facilitar  o  acesso  aos  livros  e  o  desenvolvimento  de  programas  específicos  de 
incentivo à leitura, a ela não é alheia, de igual modo, uma lenta mas efetiva mudança 
de cultura educativa ao nível das formas de ensinar e aprender a leitura e da relação 
que  se  estabelece  com  os  livros  em  ambiente  escolar  e  familiar.  Práticas  como  o 
ensino  sistematizado  e  contextualizado  do  vocabulário  e  a  gradual  perda  de 
importância da leitura de excertos em detrimento do avanço da leitura orientada de 
obras  completas  em  contexto  de  sala  de  aula  são  algumas  das  evidências  do  que 
acabámos de afirmar.  

Do ponto de vista relacional dos processos de desenvolvimento curricular e da 
didática  específica,  uma  análise  atenta,  por  exemplo,  às  formas  de  organização  dos 
manuais  escolares  e  à  tendência  como  nos  projetos  curriculares  de  turma  e  de 
agrupamento/escola se expressam os princípios da integração didática materializados 
no  desenho  específico  de  planos  a  longo,  médio  e  curto  prazo,  revelam  um 
imobilismo didatológico e didático confrangedor, com a incoerência técnico ‐ didática 
a emergir como característica fundamental. Neste contexto, urge redefinir as formas 
de  organização  do  processo  ensino  e  aprendizagem,  construindo  a  base  de  uma 
matriz de desenho programático com potencial de eficácia que permita a verdadeira 
integração,  substituindo  os  habituais  somatórios  de  conteúdos  e  atividades  por 
unidades de sequenciação estratégica, materializadas em unidades didáticas definidas 
a partir de um tema e um elemento integrador.      

A designação unidade didática ou unidade de programação remete, do ponto 
de vista da conceção do processo ensino/ aprendizagem, para uma realidade técnico‐
didática baseada num conjunto de opções metodológico‐estratégicas que apresentam 
como fundamentos técnicos de base: uma forma específica de relacionar a seleção do 
conteúdo programático (entendido como sequenciação didática) com o fator tempo 
(concebido como entidade biunívoca de relação entre tempo de ensino e tempo de 
aprendizagem);  a  aposta  na  coerência  metodológica  interna,  a  partir  da  seleção  de 
uma unidade temática e da definição de um elemento integrador; a consideração de 
que todos os elementos que intervêm no processo se articulam em percursos, como 
verdadeiros  projetos  de  trabalho  contextualizados.  Do  ponto  de  vista  diacrónico,  os 
trabalhos  de  Dearden  (1976)  ‐  com  as  estruturas  de  aprendizagem  ‐  de  Feurstein 
(1980)  –  com  a  aprendizagem  mediada  e  a  experiência  de  aprendizagem  ‐  e  de 
Escamilla  (2003)  ‐  com  as  unidades  básicas  de  programação,  permitem‐nos 
apresentar  a  realidade  atual  das  unidades  didáticas  como  um  construto  base  de 
programação  que  evoluiu,  nas  últimas  décadas,  no  sentido  da  conceção  da 
planificação como uma entidade global e globalizada na qual os diferentes elementos 
e  fatores  se  entrecruzam  para  formar  um  todo  metodologicamente  coerente 
designado por percurso de ensino e aprendizagem. 

Neste  sentido,  centrando‐nos  nos  trabalhos  referidos  e  na  sistematização  do 


conhecimento  produzido  neste  campo  pelas  escolas  europeia  e  norte‐americana  nas 
últimas  décadas,  consideramos,  no  âmbito  deste  trabalho,  por  oposição  à  via 
tradicional  proposta  desde  os  diferentes  paradigmas  técnico‐didáticos,  as  unidades 
didáticas como  unidades de programação e modo de organização da prática docente 
constituídas por um conjunto sequencial de tarefas de ensino e aprendizagem que se 
desenvolvem a partir de uma unidade temática central de conteúdo e um elemento 
integrador  num  determinado  espaço  de  tempo,  com  o  propósito  de  alcançar  os 
objetivos  didáticos  definidos  e  dar  resposta  às  principais  questões  do 
desenvolvimento  curricular  ‐  o  que  ensinar  (objetivos  e  conteúdos),  quando  ensinar 
(sequencia  ordenada  de  atividades  e  conteúdos),  como  ensinar  (tarefas  de  ensino  e 
aprendizagem,  organização  do  espaço  e  do  tempo,  materiais  e  recursos  didáticos)  e 
como avaliar (metalinguagem, critérios e instrumentos). 

 
Características técnico‐didáticas e elementos base de uma unidade didática 

Pensar  na  programação  didática  como  um  mero  somaório  de  unidades 
didáticas para aplicar ao longo de um trimestre, semestre, ano ou ciclo, para além de 
constituir  um  erro  primário  do  ponto  de  vista  didático,  revela  formas  estáticas  de 
conceção  do  processo  ensino  e  aprendizagem  que  em  nada  favorecem  o 
desenvolvimento  do  princípio  didático  fundamental  da  interação  plena  entre  as 
formas  de  aprender  e  ensinar  num  determinado  contexto,  com  uns  determinados 
alunos.   

As  unidades  didáticas  configuram‐se  como  espaços  de  organização  didática  e 


definição  de  modos  de  conceber  e  atuar  e  apresentam  como  caraterísticas 
fundamentais: 

 ser reais, práticas e úteis; 
 definir  com  clareza  objetivos  didáticos  a  alcançar  e  aprendizagens  a 
realizar; 
 formar metodologicamente um todo coerente, a partir da inter‐relação 
de todos os elementos que a constituem; 
 respeitar os princípios da progressão e da sequencialidade didática; 
 ser flexíveis, permitindo a revisão permanente; 
 ser  adequadas  a  um  contexto  sociocultural  e  pedagógico  específico:  o 
sistema relacional da turma ou do grupo de alunos; 
 ser  coerentes  com  os  princípios  educativos  e  as  características 
programáticas e de interação da áreas curriculares que a integram; 
 ser motivadoras, implicando ativamente os alunos no desenvolvimento;  
 ser  práticas,  dinâmicas,  e  adaptáveis  em  função  das  experiências  de 
ensino  e  aprendizagem  que  propõem  e  às  situações  concretas  de 
alunos, professores e famílias; 
 ser  adequada  em  relação  à  previsão  do  tempo  necessário  para  a  sua 
aplicação; 
 ser  avaliáveis,  permitindo  a  adequação  permanente  às  reais 
necessidades dos implicados. 
Do  ponto  de  vista  estrutural,  uma  Unidade  Didática  deve  incluir  na  sua 
estrutura longitudinal e de transversalidade os seguintes elementos técnico‐didáticos 
base, considerados de forma global e integrada:  
 
 
 Elementos didatológicos: 
 
o Fundamentação didatológica ‐ descrição breve da Unidade Didática 
e  justificação,  onde  se  especifica  também  o  nome  da  mesma,  os 
princípios  metodológico‐estratégicos  adotados,  os  conhecimentos 
prévios  exigidos  aos  alunos  (pré‐requisitos),  o  número  de  horas  de 
lecionação previsto, o ano e o ciclo. 
o Caracterização  do  contexto  de  ensino  e  aprendizagem  –  o 
conhecimento  do  contexto  didático  é  fundamental  para  o  desenho 
dos processos de ensino e aprendizagem, uma vez que implica uma 
consequente adaptação aos alunos concretos, ao espaço e materiais 
disponíveis, afetando‐lhe um determinado tempo. 
o Definição  dos  objetivos  didáticos  –  estes  são  definidos  de  acordo 
com  os  descritores  de  desempenho  e  as  metas  de  aprendizagem 
estabelecidos  no  Currículo  Nacional,  nos  Programa  Nacionais  e  nos 
Projetos Curriculares de Agrupamento/Escola e turma. 
 
 
 Seleção e sequenciação do conteúdo programático: 
 
o Definição  do  tema  e  do(s)  elemento(s)  integrador(es),  enquanto 
categorias das bases de coesão e integração didática; 
o Seleção  do  conteúdo  programático  –  a  seleção  das  áreas,  das 
competências  gerais  e  específicas  e  dos  conteúdos  enquanto 
elementos  fundamentais  que  estarão  na  base  do  desenho  dos 
percursos de ensino e aprendizagem. 
 
 Desenho dos percursos de ensino‐aprendizagem: 
 
o definição dos critérios de sequenciação e integração das tarefas de 
ensino  e  aprendizagem,  considerando  o  tema  e  elemento 
integradores e os princípios da progressão e da integração didática. 
o seleção das tarefas de ensino e aprendizagem, em função das áreas, 
do conteúdo programático, dos objetivos visados e da diversidade e 
completude das diferentes tipologias de atividade  
o elaboração dos guiões integrados de desenvolvimento 
 
 Avaliação  –  este  passo  é  fundamental  para  refletir  e  reajustar  a  prática 
educativa,  potenciando  a  eficácia  das  aprendizagens  dos  alunos  e  o 
desempenho do professor:  
o Avaliação das aprendizagens dos alunos  
o Meta‐avaliação ou reflexão sobre a própria prática avaliativa.  
 
Podemos  resumir  os  pontos  essenciais  de  uma  Unidade  Didática  com  a  ajuda  do 
esquema que se segue. 

Unidade Didática

Elementos Definição do (s)


elemento(s) Avaliação
didatológicos Seleção do integrador(es)
conteúdo
temático e
programático
 Fundamentação;
 Caracterização do Sequenciação
Contexto;
Desenho dos  Aprendizagens dos
didática percursos de ensino alunos;
 Definição dos
objetivos didáticos; e aprendizagem  Meta-avaliação
 
A problemática da coerência metodológica na construção de unidades didáticas para 
o desenvolvimento da competência leitora 

  A definição dos processos metodológicos para o desenvolvimento integrado de 
unidades  didáticas  assume  papel  de  centralidade  pela  multiplicidade  de  fatores  e 
variáveis  inerentes  à  prática  do  ensino  globalizado  que  caracteriza  uma  sequência 
didática criada com o propósito de trabalhar as capacidades, habilidades e destrezas 
envolvidas no desenvolvimento das competências literácita e literária.  

A  consideração  do  trinómio  didático  ‐  globalização  da  aprendizagem  / 


motivação  /  ensino  e  aprendizagem  significativos–,  imprescindível  às  formas  de 
abordagem técnica da leitura em contexto educativo, obriga à definição de esquemas 
metodológicos em que o ponto de partida assume papel de destaque. 

Este ponto de partida, que designamos por elemento integrador, configura‐se 
como elemento de transversalidade que assegura, nas dimensões global e específica, 
a  coesão  metodológica  dos  diferentes  percursos  de  ensino  e  aprendizagem  e  da 
própria unidade didática. Do ponto de vista técnico‐didático, caracteriza‐se por: 

 ser a base motivacional, preparando a atenção do aluno; 
 permitir  a  ativação  do  conhecimento  prévio  e  a  verificação  dos  pré‐
requisitos subjacentes a uma determinada aprendizagem; 
 estimular a comunicação multilateral; 
 desencadear a coerência temática e a coesão metodológica no interior 
dos percursos de ensino e aprendizagem e da própria unidade. 

A  definição  de  elementos  integradores  para  o  desenvolvimento  da 


competência  de  leitura  e  da  formação  de  leitores  encontra  o  seu  campo 
natural de seleção na literatura, mais especificamente nos textos literários de 
receção infantil, no material oral e escrito que integra o grupo dos textos não 
literários  e  paraliterários  e  na  multitude  de  elementos  paratextuais, 
resultantes  dos  processos  de  análise,  interpretação  e  síntese  textual  e  da 
própria intertextualidade. 
Do  ponto  de  vista  técnico‐didático,  a  seleção  e  definição  de  elementos 
integradores que assegurem uma base motivacional significativa, garantam o 
rigor  científico  na  abordagem  dos  conteúdos  programáticos  e  potenciem  a 
coerência  metodológica  interna  da  unidade  didática  devem  fundamentar‐se 
nos princípios da adequação didática e nos critérios e funções de relação entre 
o material literário e não literário e os elementos paratextuais. 

À semelhança do que acontece com as próprias unidades didáticas quando 
consideradas  na  sua  globalidade,  a  definição  de  elementos  integradores 
apresenta  um  forte  caráter  de  individualidade  técnica,  podendo  mesmo 
afirmar‐se que a existência de um determinado elemento integrador só ganha 
sentido  e  valor  didático  quando  integrado  numa  determinada  unidade 
didática construída para um determinado grupo de alunos, num determinado 
contexto. 

Enquanto  elemento  físico,  o  elemento  integrador  pode  assumir  uma 


infinidade  de  formas,  dependendo  da  criatividade  e  das  caraterísticas  de 
individualidade  do  professor,  das  caraterísticas  do  ambiente  de  ensino  e 
aprendizagem  a  criar,  dos  objetivos  definidos  para  o  processo  de  ensino  e 
aprendizagem,  das  caraterísticas  do  grupo  de  alunos  e  da  relação  que 
obrigatoriamente  tem  de  se  estabelecer  com  um  contínuo  de  tarefas  de 
ensino e aprendizagem que se pretende desenvolver. O recurso à imagética, à 
tecnologia informática e de comunicação, aos suportes digitais de leitura e de 
ensino  do  vocabulário,  entre  outros  representa  na  atualidade  a  fonte  de 
excelência para a definição e criação de elementos integradores.    

 Do  ponto  de  vista  da  funcionalidade  didática  específica,  as  caraterísticas 
funcionais  dos  elementos  integradores  variam  em  função  da  especificidade 
das áreas curriculares que a unidade didática integra e da própria natureza dos 
conteúdos  nela  envolvidos.  Na  perspetiva  das  Línguas,  mais  propriamente  do 
desenvolvimento da competência de leitura e da iniciação à literatura (objeto 
deste  trabalho),  as  caraterísticas  de  funcionalidade  dos  elementos 
integradores centram‐se no potencial que revelem para permitir o entrecruzar 
pleno  das  diferentes  variantes  tipológico‐didáticas  de  prática  da  leitura 
(leitura  silenciosa  e  leitura  oralizada  /  leitura  orientada  e  leitura  autónoma) 
com os diferentes momentos técnicos do seu desenvolvimento (antes de ler, 
durante a leitura e depois da leitura). Neste sentido, a funcionalidade didática 
específica  dos  elementos  integradores  para  o  desenvolvimento  da 
competência leitora deve centrar‐se no seu potencial para:  

 recriar,  em  contexto  de  sala  de  aula,  os  ambientes  físicos  e 
psicológicos  das  diferentes  leituras  propostas,  permitindo  aos 
alunos  nos  diferentes  momentos  da  leitura  (antes,  durante  e 
depois) adentrar‐se nos diferentes espaços e contextos do texto 
através da vivencia de experiências e situações nele propostas; 
 explicitar ao aluno o objetivo da leitura a realizar; 
 motivar para a leitura; 
 ativar  o  conhecimento  temático  imprescindível  à  compreensão 
do texto; 
 permitir,  no  momento  antes  da  leitura,  a  formulação  de 
hipóteses  sobre  o  conteúdo  do  texto,  sendo  a  confirmação  das 
mesmas  utilizada  nos  momentos  durante  e  depois  da  leitura 
como estratégia de análise e interpretação. 
 desencadear o ensino explícito do vocabulário; 
 ativar o uso explícito de estratégias de compreensão leitora; 
 promover a intertextualidade. 

 A especificidade dos critérios para o desenho e seleção de atividades e estratégias 
didáticas  

  Os processos de treino e aquisição das capacidades, habilidades e destrezas e, 
ainda, dos conhecimentos técnicos envolvidos no desenvolvimento da competência de 
leitura,  entendida  nas  dimensões  correlatas  da  decifração  e  da  compreensão,  só  se 
consegue através de propostas de ação didática em que o aluno participe ativamente 
no processo de desenvolvimento e não seja um mero recetor ou autómato. 
  O  caráter  integrador  e  multidisciplinar  inerente  ao  desenvolvimento  da 
competência  de  leitura  obriga  ao  desenho  de  unidades  didáticas  com  recurso  aos 
fundamentos  metodológicos  da  flexibilidade,  da  abertura  às  propostas  dos  alunos  e 
famílias, do realismo, do equilíbrio e da adequação técnica, temática e de conteúdo. 
Apesar  de  o  cérebro  e  a  memorização  desempenharem  um  papel  fundamental  na 
aprendizagem  da  leitura,  a  consideração  do  desenvolvimento  psicológico  e  do 
contexto  como  um  todo  é  imprescindível.  Por  esta  razão,  as  unidades  didáticas 
devem contemplar princípios e estratégias interventivas que desenvolvam nos alunos 
a  autoconfiança  e  a  autodisciplina,  proporcionando‐lhes  momentos  para  desfrutar 
com  a  leitura  e  guiando‐os  para  que  assumam  decisões  pessoais  no  campo  da 
autonomia e das formas de leitura com ela relacionada, nomeadamente a indagação e 
a prática da leitura autónoma. 

  Nesta  área,  os  alunos  possuem,  em  cada  ciclo  e  nível,  um  conjunto  de 
experiências  individuais  de  leitura  e  de  conhecimentos  prévios  que  devem  ser 
considerados  do  ponto  de  vista  didático,  mas  que  requerem,  em  muitos  casos,  a 
inclusão  de  formas  de  intervenção  especializada,  pois  essas  experiências  e 
conhecimentos  manifestam‐se  frequentemente  sob  a  forma  de  “erros”  e  “faltas  de 
rotinas”  que  em  nada  favorecem  a  aquisição  de  hábitos  de  leitura.  A  análise 
minuciosa  e  caraterização  destes  “erros”  devem  conduzir  à  inclusão  nas  unidades 
didáticas de estratégias que permitam combater estas tendências, contribuindo para 
a progressão harmoniosa entre as diferentes etapas que caracterizam a evolução na 
aprendizagem da leitura. Para que, através da aplicação de uma unidade didática, se 
consigam  níveis  aceitáveis  de  progressão  na  aprendizagem  da  leitura  é  preciso 
considerar a necessidade de inter‐relacinar estas experiências individuais de leitura e 
os  conhecimentos  prévios  de  cada  um  dos  alunos  e  do  grupo  com  os  objetivos 
didáticos, conteúdos e as aprendizagens a realizar. Como demonstram os trabalhos de 
Reyzábal (2004), na abordagem a esta aproximação é preciso considerar as realidades 
temáticas  próximas  do  aluno,  mas  também  aquelas  que  lhe  ficam  mais  distantes, 
como o fantástico ou o exótico, que, num número significativo de casos, revelam um 
maior potencial de motivação. 
  Por último, importa considerar que na definição de estratégias para unidades 
didáticas  em  que  a  Língua  assume  um  papel  relevante  devem  combinar‐se  sempre 
dois tipos de estratégias base: as expositivo‐dialógicas ou de relação comunicativa e 
as  de  indagação.  Mediante  as  primeiras  trabalham‐se  os  conhecimentos,  enquanto 
através  das  segundas  se  proporciona  a  aplicação  prática  desse  conhecimento,  a 
criatividade pessoal, a criação de estratégias de aprendizagem, através da pesquisa e 
a  reflexão  sobre  as  aprendizagens  realizadas.  Neste  sentido,  é  importante  que  a 
seleção de objetivos e conteúdos seja equilibrada e que a proposta de atividades seja 
ampla  e  diversificada.  As  atividades  são,  do  ponto  vista  técnico,  o  instrumento 
didático básico com que o aluno conta para aprender. 

      

A atividade como base de construção dos percursos de ensino e aprendizagem 

   

  De acordo com a taxonomia de Bloom, podemos falar de três tipologias base 
possíveis  de  caraterização  dos  grandes  campos  da  atividade  humana:  atividades  de 
tipo cognitivo, psicomotor e afetivo. Apesar dos avanços registados nos últimos anos 
no  âmbito  da  programação  didática,  do  ponto  de  vista  macro,  esta  classificação 
continua a ser a que revela maior potencial de transferência, pelo que de consideração 
obrigatória no desenho de unidades didáticas.  

  Dentro  da  programação  didática,  o  desenho  de  atividades  e  a  inserção  em 


percursos  de  ensino  e  aprendizagem  integrados  e  que  formem  um  todo  coerente 
ocupam um papel de singular relevância, para que a aquisição das aprendizagens seja 
efetiva. Definidos os objetivos didáticos que se desejam alcançar e os conteúdos que 
servem de enlace técnico para o conseguir, as atividades ou tarefas de aprendizagem 
constituem a via real através da qual os alunos chegarão da melhor forma possível ao 
domínio dos conteúdos e objetivos selecionados. A concretização de atividades para o 
desenvolvimento  da  competência  de  leitura,  seja  em  trabalho  individual  ou  coletivo, 
pressupõe  sempre  o  exercício  individual  e  autónomo  mediante  o  qual  os  alunos 
desenvolvem as suas estruturas mentais e ampliam, progressivamente, o vocabulário 
base do reconhecimento automático de palavras, tornando‐se leitores fluentes. 

  A  importância  que  o  desenho  das  atividades  assume  no  processo  de 


construção de uma unidade didática está diretamente relacionada com a necessária 
adequação à realidade da escola, do grupo de alunos e de cada aluno em particular. 
Evidentemente que o momento certo para realizar esta adequação é o momento em 
que  se  equaciona  que  para  alcançar  um  determinado  objetivo  didático  se 
equacionam as diferentes possibilidades, caminhos e ritmos para o conseguir, isto é, 
diversificar  o  conjunto  de  tarefas  propostas,  para,  respeitando  as  caraterísticas  de 
individualidade,  alcançar  as  aprendizagens  pretendidas.  Daqui  resulta  a  importância 
de diversificar os modelos e tipologias das atividades propostas, através da aplicação 
dos princípios técnicos da diversificação curricular e da funcionalidade dessas mesmas 
atividades. 

  Do  ponto  de  vista  técnico,  o  desenho  das  atividades  deve  obedecer  aos 
princípios  didáticos  da  progressão  e  da  sequenciação  e  relação  curricular,  devendo 
ter‐se em conta: 

 os objetivos que com elas se pretendem alcançar; 
 os  conteúdos  sobre  os  quais  se  vão  desenvolver,  para  a  adequar  às 
caraterísticas  epistemologias  dos  processos  de  ensino  e  aprendizagem  da 
leitura, no nosso caso; 
 o nível de desenvolvimento dos alunos que as vão realizar, para as adaptar 
às  suas  necessidades  e  possibilidades  e  fundamentá‐las  nos  quatro 
princípios  básicos  que  as  devem  caracterizar:  ser  atrativas;  respeitar  o 
princípio da progressão e da definição temporal; ser coerentes entre si; ser 
variadas, funcionais e desafiantes.  

   Nunca  é  de  mais  lembrar  que  a  explicitação  aos  alunos  dos  objetivos  a 
alcançar  com  as  atividades  e  a  forma  de  as  apresentar,  tanto  oralmente  como  por 
escrito,  que  deve  basear‐se  em  formulações  simples,  concisas  e  concretas,  são  de 
extrema importância.   
  Outro dos aspetos importantes a considerar é o conhecimento da forma como 
as diferentes tipologias de atividades se relacionam com o processo de construção de 
uma  unidade  didática.  A  grandes  rasgos,  e  reconhecendo  a  falta  de  exaustividade, 
podemos classificar a relação entre as duas realidades do seguinte modo: 

 Tipologias  de  atividades,  de  acordo  com  a  fase  de  desenvolvimento  da 
aprendizagem: 
o de motivação; 
o de aprendizagem propriamente dita; 
o de reforço ; 
o de ampliação; 
o de avaliação. 
 
 Tipologias de atividades, de acordo com a proposta metodológica apresentada: 
o globalizadas; 
o interdisciplinares; 
o disciplinares; 
o monográficas. 
 
 Tipologias de atividades, de acordo com a frequência de inclusão: 
o ocasionais; 
o periódicas; 
o cíclicas; 
o constantes. 
 Tipologias de atividades, de acordo com a finalidade: 
o de formulação de hipóteses; 
o de descoberta;  
o de investigação; 
o de confirmação; 
o de aplicação ou manipulação; 
o de generalização; 
o de construção ou elaboração. 
 
 Tipologias de atividades, segundo a forma de participação: 
o individuais; 
o de grupo; 
o coletivas. 
 
 Tipologias de atividades, segundo o código a utilizar: 
o verbais (orais e escritas); 
o não verbais (gestuais, icónicas, musicais, …). 
 
 Tipologias de atividades, segundo o momento de avaliação: 
o Iniciais ou de diagnóstico; 
o processuais; 
o finais. 
 
 Tipologias de atividades, segundo o agente avaliador: 
o autoavaliação; 
o coavaliação; 
o heteroavaliação. 

Obviamente,  na  integração  em  unidades  didáticas,  as  atividades  nunca 


cumprem só uma função, mas várias em simultâneo, pelo que a decisão de inclusão 
depende da intenção didática e das próprias caraterísticas dos percursos de ensino e 
aprendizagem.  

  

 
Na  prática: Proposta  de  uma matriz  para  a sequenciação e  construção  de  unidades 
didáticas 

Do ponto de vista didático, não podemos falar de unidades didáticas modelares 
válidas para todos os grupos de alunos, mas podemos e devemos identificar as bases 
matriciais  universais  de  organização  e  eficácia  nas  quais  se  devem  fundamentar  os 
processos de sequenciação e elaboração. 

Neste sentido, e relacionando os postulados teóricos que defendemos com as 
caraterísticas  técnico‐didáticas  do  processo  de  elaboração  que  descrevemos, 
apresentamos  uma  proposta  matricial  concreta  de  elaboração  de  unidades  didáticas 
para o desenvolvimento da competência leitora que deve ser entendida por cada leitor 
como um ponto de partida para se adentrar no mundo das unidades  didáticas como 
forma de planificar os processos de ensino e aprendizagem. 

Proposta de matriz para a elaboração de unidades didáticas  

1. Elementos didatológicos 

1.1.Elementos de caracterização 

1.1.1‐ Título    
   A  contextualização,  a  seleção  do  material 
literário  e  não  literário  e  a  definição  de 
1.1.2. Destinatários 
elementos  integradores  constituem  as  etapas 
base desta fase. 
1.1.3. Materiais literários e não literários   A  definição  dos  elementos  integradores  deve 
basear‐se  nas  componentes  paratextuais  do 
1.1.4.  Seleção  e  descrição  sumária  dos  material  literário  selecionado  e  apresentar 
elementos base da proposta de integração  potencial  de  articulação  das  diferentes  fases  da 
proposta metodológico‐estratégica.. 
1.2. Fundamentos didatológicos 

1.2.1.  Apresentação  e  justificação  da  proposta    A  proposta  medidológico‐estratégica  deve 


metodológico‐estratégica de integração.  basear‐se na construção de percursos de ensino e 
aprendizagem  em  que  as  atividades  se 
1.2.2.  Explicitação,  de  forma  sucinta,  dos  apresentam  agrupadas  em  três  categorias  base 
fundamentos  e  forma  de  organização  do  de desenvolvimento sequencial: 
percurso de ensino e aprendizagem  1. abordagem em contexto didático; 
2. sistematização  em  contexto  didático‐ 
1.2.3. Seleção de objetivos didáticos  avaliativo;  
3. ampliação/reforço em contexto didático.
 
2. Seleção e sequenciação do conteúdo programático 

 
BASE DIDÁTICA E FORMA INICIAL DE ABORDAGEM – Apresentação sucinta do tema / situação 
 
problema  e  motivação,  considerando  os  elementos  de  integração  selecionados  em  1.1.  e 
  fundamentados em 1.2. 

   

 
ELEMENTOS PROGRAMÁTICOS  ÁREA E COMPETÊNCIAS 
  (definição dos pré‐requisitos, seleção de  INTEGRADORAS 
 
competências, conteúdos e descritores de 
   
desempenho) 
 

 
Conhecimentos prévios (pré‐requisitos)
   
Descritores de desempenho 
   

  Conteúdos 

3. Desenho dos percursos de ensino e aprendizagem (roteiros didáticos) 

Etapa1 ‐ Abordagem didática (relação com o conteúdo programático) 

a. Tarefa(s) de ensino/aprendizagem  ‐ Conceitos 

b. Tarefa(s) de ensino/aprendizagem – Reflexão metalinguística 

…/… 

Etapa  2  ‐  Sistematização  em  contexto  didático‐avaliativo  (relação  com  o 


conteúdo programático e o processo de avaliação) 

c. Explicitação das situações de ensino/aprendizagem  
 

Etapa  3  ‐  Ampliação/reforço  em  contexto  didático  (relação  com  o  conteúdo 


programático e o processo de avaliação) 

d. Explicitação das situações de ensino/aprendizagem  

4. Avaliação 

   
Avaliação de caráter contínuo e essência 
1. Caráter e tipologias  tipológica  eminentemente  formativa,  a 
partir  da  correção  individual  e  coletiva 
2. Seleção de instrumentos 
das  tarefas  de  aprendizagem  propostas 
3. Breve descrição do processo de  nas  etapas  2  (sistematização)  e  3 
avaliação  (ampliação/reforço)  do  percurso  de 
ensino e aprendizagem. 
 

Referências bibliográficas 

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Feldman, D. (2001). Ajudar a ensinar: relações entre didática e ensino (trad. de Campos, V.). Porto Alegre: Artmed. 

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Española. 
 
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