Texto - Unidade - 5 - Introdução À Química Do Carbono PDF
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Maria Teresa
Unidade 5 – Introdução à química do carbono
A Química Orgânica hoje é definida como a química que se dedica ao estudo dos
compostos de carbono, independentemente de serem sintetizados em laboratório ou de serem
encontrados nos materiais de origem animal ou vegetal como originalmente se supunha ser.
A maioria das substâncias com que lidamos diariamente são compostos orgânicos: os
plásticos, os remédios, o álcool combustível, o gás de cozinha, a acetona, o vinagre, os
corantes, a madeira, o tecido, o isopor, a gasolina, e milhares de outras substâncias, todas
contendo o carbono como constituinte principal do esqueleto da molécula.
Esses compostos apresentam propriedades e características diferentes dos compostos
inorgânicos. Os compostos orgânicos são combustíveis, apresentam pontos de ebulição e de
fusão inferiores aos dos inorgânicos, somente alguns são solúveis em água, para uma mesma
fórmula química, podemos encontrar várias fórmulas estruturais, as reações são mais lentas e
apresentam pesos moleculares freqüentemente superiores a 1000 Dalton, sendo normalmente
fonte de alimento para microorganismos.
Por apresentarem um número elevado de diferentes substâncias, desenvolveu-se um
sistema de estudo baseado em um conjunto de regras que veremos aqui.
O carbono é tetravalente, ou seja, sempre pode e faz quatro ligações covalentes com
quatro outros átomos ou ainda ligações simples, duplas e triplas com átomos de carbono. O
carbono que possui as quatro ligações simples apresenta forma tetraédrica com qualquer uma
das ligações formando um ângulo de 109,5º. Observe as maneiras que podemos representar o
carbono ligado a quatro átomos de hidrogênio por quatro ligações simples.
Os compostos orgânicos mais simples e que constituem a base de todos os outros são
os hidrocarbonetos, constituídos por apenas dois elementos – carbono e hidrogênio.
Estruturalmente, os hidrocarbonetos podem ser divididos em dois grandes grupos:
hidrocarbonetos alifáticos e hidrocarbonetos aromáticos. O grupo dos alifáticos pode ser
dividido em hidrocarbonetos saturados, que apenas apresentam ligações simples entre os
carbonos da cadeia, e hidrocarbonetos insaturados que podem apresentar uma ou mais
ligações múltiplas (ligações duplas ou ligações triplas).
Família Hidrocarbonetos - Compostos com apenas átomos de carbono e hidrogênio
Alcanos (saturados)
Hidrocarbonetos Cicloalcanos
Hidrocarboneto aromático
Alcanos
Os alcanos ou parafinas são hidrocarbonetos alifáticos e saturados. São constituídos
somente por dois elementos, o carbono e o hidrogênio. São saturados porque apresentam
somente simples ligações, não sendo mais possível adicionar hidrogênios na molécula. Podem
formar cadeia aberta (alifáticos) ou podem formar ciclos ou anéis (alicíclicos). A fórmula geral
dos alcanos é CnH2n+2. O mais simples é o metano com um átomo de carbono. Seguindo o
metano em tamanho vem o etano. As regras de nomenclatura nos ajudam a reconhecer os
componentes desta família.
A nomenclatura adotada hoje é baseada nas recomendações da International Union of
Pure and Applied Chemistry (IUPAC). Observem a Tabela abaixo onde são apresentados os
prefixos numéricos relacionados com o número de carbonos do composto.
Metil CH3 –
Etil CH3CH2 –
Propil CH3CH2CH2 –
Isopropil CH3CH2(CH3)CH2 –
Butil CH3CH2CH2CH2 –
Isobutil CH3CH2(CH3)CH2 –
Terc-butil CH3CH2(CH3 -)CH3
CH3–CH(CH3)–CH3
Exemplo 2.
CH3-CH(CH3)-CH2-CH2-CH(CH2-CH3)-CH2-CH3
Neste caso, a cadeia mais longa apresenta 7 átomos de carbono, tratando-se, portanto,
de um heptano. Observe que é possível escolher várias direções para obter a cadeia principal
com 7 átomos de carbono. Neste caso é indiferente, pois o resultado será o mesmo. Como
grupos substituintes temos o grupo metil (CH3) e o grupo etil (C2H5).
De acordo com as regras de nomenclatura, começa-se a contar a partir da extremidade
mais próxima do átomo de carbono que apresenta um hidrogênio substituído, ou seja, neste
exemplo concreto, da esquerda para a direita. Assim, o nome deste composto é 5–etil–2–
metil–heptano. Note ainda que os radicais alquil (substituintes) aparecem por ordem
alfabética.
Exemplo 3:
CH3-CH(CH3)-CH(CH3)-CH2-CH3
Exemplo 4:
CH3-CH2-C(CH3)2-CH2-CH3
A cadeia principal é constituída por 5 átomos de carbono. Trata-se de um pentano, com
dois grupos metilo no mesmo átomo de carbono. O nome deste composto é 3,3–dimetil–
pentano.
Repare que se começar a contagem da direita para a esquerda o nome do composto é o
mesmo.
Exemplo 5:
CH3-CH(CH3)-CH(CH2CH3)-CH(CH2CH3)-CH(CH2CH3)-CH2-CH3
CH3-CH2-CH2-CH3 e CH3-CH(CH3)-CH3
Alcenos
Os alcenos são hidrocarbonetos alifáticos que apresentam pelo menos uma dupla
ligação carbono-carbono. São compostos chamados insaturados, ou seja, há possibilidade de
se adicionar pelo menos mais um hidrogênio na molécula. Seguindo as regras de nomenclatura
da IUPAC, o sufixo desta classe é ENO. O mais simples deles é o eteno com dois átomos de
carbono. Em seguida temos o propeno.
eteno propeno
CH3 – CH = CH – CH3
2 – buteno
cis-2-buteno trans-2-buteno
Alcinos
Os alcinos são hidrocarbonetos alifáticos insaturados análogos aos alcenos com a
diferença de conterem ligações triplas ao invés de duplas. As regras de nomenclatura dos
alcenos são aplicáveis aos alcinos sendo que a terminação passa a ser INO.
A fórmula geral dos alcinos é CnH2n-2. Observe os dois pentinos (C5H8), devemos
distinguir entre:
CH≡C–CH2–CH2–CH3 CH3–C≡C–CH2–CH3
1– pentino 2– pentino
Hidrocarbonetos aromáticos
Os hidrocarbonetos aromáticos, que pelo aroma agradável foram tradicionalmente
chamados de aromáticos, possuem o Benzeno C6H6, como composto fundamental da série.
Benzeno
Apesar de ser insaturado, o benzeno não apresenta a reatividade típica dos alcenos.
Cada dupla ligação dos alcenos pode se quebrar e se adicionar novos átomos ou grupos de
átomos, mas o anel benzênico não.
Além disso, experimentalmente, verifica-se que todos os comprimentos da ligação C-C
no benzeno são iguais e que os ângulos da ligação C-C-C são de 120º. Para se conseguir
estes valores, Kekulé (1829-1896) sugeriu que a estrutura do benzeno seria um híbrido das
duas estruturas de ressonância, pois nenhuma estrutura por si só poderia explicar as
características do benzeno.
Benzeno
Tolueno
Sempre que o anel benzênico tiver dois substituintes, empregam-se os prefixos orto-
(o), meta- (m) e para- (p) para distingui-los. Observe os compostos: orto, meta e para xileno.
o-xileno m-xileno p-xileno
Quando o benzeno é um radical, ou seja, lhe falta um próton (C6H5-), recebe o nome de
"fenil".
Quando há mais de dois substituintes num anel benzênico, ao substituinte principal
designa-se a posição 1 e prossegue-se a numeração em volta do anel na direção que origine
os números menores possíveis para os substituintes restantes.
São conhecidos vários hidrocarbonetos que contém dois ou mais anéis benzênicos
condensados. São compostos polianelares como o naftaleno e o antraceno, que possuem 2 e 3
anéis benzênicos condensados de forma linear, respectivamente,
Naftaleno Antraceno
O naftaleno é um sólido insolúvel na água, muito volátil, que se utiliza como inseticida.
O antraceno cristaliza em lâminas incolores que apresentam fluorescência azul. Os seus
derivados utilizam-se para fabricar corantes. Condensando mais anéis benzênicos obtêm-se o
naftaceno (4 anéis), o pentaceno (5 anéis), etc. Os anéis benzênicos podem condensar-se em
forma não linear, por exemplo, no fenantreno e no pireno:
Fenantreno Pireno
água Amônia
Álcoois
A função característica dos álcoois é o grupo hidroxila (-OH), ligado por uma ligação
covalente a um átomo de carbono saturado.
As propriedades e características dos álcoois variam com a classe do álcool a que
pertença, ou seja, com as características do carbono ligado à hidroxila. Desta forma, podemos
ter álcoois primários, quando a hidroxila está ligada a um carbono primário, álcool secundário
quando a hidroxila está ligada a um carbono secundário e analogamente os álcoois terciários.
Podemos ter uma ou mais hidroxilas na molécula, são os álcoois monohidroxilados, ou
álcoois simples. Os álcoois di-hidroxilados são os chamados de glicóis e os tri-hidroxilados,
chamados de gliceróis.
Se o grupo -OH estiver ligado a um composto aromático ele passa a pertencer à classe
dos fenóis.
Fenol ou
Benzol
A nomenclatura dos álcoois se faz acrescentado o sufixo "ol" ao nome da cadeia
carbônica ao qual a hidroxila está ligada. O símbolo R é utilizado de forma geral para
demonstrar que naquele lugar existe uma cadeia carbônica, geralmente um hidrocarboneto.
Como acabamos de observar a molécula de álcool pode ser considerada similar à
molécula de água e, portanto são polares. Isso pode ser comprovado se compararmos os
pontos de ebulição das moléculas de etano CH3CH3 e metanol CH3OH. As forças de atração
entre as moléculas desse álcool são obviamente muito maiores que as entre moléculas do
alcano, apesar de serem duas moléculas de massas molares muito próximas. As pontes de
hidrogênio contribuem para isso, apesar de não acontecerem nas três direções como na água,
e por isso as moléculas de etanol não são tão fortemente ligadas como as moléculas de água,
que inclusive é mais leve e apresenta ponto de ebulição maior que o do metanol.
Nome comum Fórmula Fórmula estrutural Sub-classe Ponto de
e Nome IUPAC ebulição
Álcool primário
1-propanol ou
álcool propílico CH3CH2CH2OH 97
Álcool secundário
Iso-butanol ou
álcool isobutílico 82
CH3CH(OH2)CH3
Álcool primário
1 butanol
CH3CH2CH2CH2OH 117
Álcool secundário
2 butanol 100
CH3CH2CH(OH)CH3
Álcool secundário
108
Iso-butanol CH(CH3)2CH2OH
Álcool terciário
83
Terc-butanol (CH3)3COH
Glicol
Ou di-álcool
Etano diol CH2OHCH2OH 197
Glicol
Ou di-álcool
189
1,2 – propano CH3CHCHOH
diol
Glicerol
Ou tri-álcool
290
Propano triol CH2OHCHOHCH2OH
Fenol
182
Benzol C6H5OH
1-pentanol
Éteres
As moléculas dos éteres simples apresentam dois grupos alquil ligados ao átomo de
oxigênio, R-O-R. Dessa forma, os éteres são derivados dialquil da água. Estes grupos alquil
podem ser iguais ou diferentes.
O nome dos éteres é formado com a palavra éter, e o nome dos grupos alquil. Se os
dois grupos alquil forem idênticos o prefixo di pode preceder a palavra éter. Observe os
seguintes éteres:
Metil-etil-éter ou etil-metil-éter
As moléculas dos éteres são pouco solúveis em água, pois são pouco polares. A
presença do oxigênio com suas duplas de elétrons livres permite que a molécula receba
hidrogênios de moléculas que contenham hidroxila (-OH), ou que contenham o grupo amino (-
NH2), fornecendo uma certa polaridade à molécula. Por isso, éteres de pequena massa
molecular são solúveis em água, mas não muito, pois não podem doar prótons e participar de
pontes de hidrogênio. Isto também explica porque os éteres apresentam ponto de ebulição
inferiores aos álcoois de mesma massa molecular.
Aminas
O termo amina está associado à semelhança das moléculas com a molécula da amônia.
As aminas são compostos alquil derivados de amônia. Um, dois ou os três hidrogênios da
molécula podem ser substituídos por um grupo alquil. Portanto, o grupo alquil na amina está
ligado ao nitrogênio e é denominado, segundo a IUPAC, da seguinte forma:
As moléculas das aminas são moderadamente polares, por esta razão, as moléculas de
baixo peso molecular são prontamente solúveis em água. As aminas que possuem uma ligação
N-H podem participar de pontes de hidrogênio.
Como as aminas são derivadas da amônia elas também são básicas. O par de elétrons
desemparelhados presente na molécula a torna um bom receptor de prótons.
O grupo carbonila
O grupo carbonila é o grupo formado por um oxigênio ligado por uma dupla ligação ao
carbono.
grupo carbonila
Aldeídos
Os aldeídos são compostos que possuem o grupo carbonila no final da cadeia carbônica.
Praticamente todas as reações que envolvem os aldeídos ocorrem no grupo carbonila.
A nomenclatura dos aldeídos segundo a IUPAC é feita adicionando-se o sufixo "al" ao
nome da cadeia. Desta forma temos:
Alguns nomes não convencionais foram consagrados pelo uso para vários compostos
orgânicos. Assim, os compostos com um carbono muitas vezes recebem o prefixo "form",
compostos com 2 carbonos recebem o prefixo "acet", os com 3 "propion" e com 4 "butir".
Os aldeídos que apresentam estes nomes são o formaldeído que é o metanal o acetaldeído,
que é o etanal, o propionaldeído que é o propanal, e o butiraldeído que é o butanal.
Os aldeídos não são doadores de prótons como os álcoois, por isso possuem baixo
ponto de ebulição quando comparados aos álcoois de mesmo peso molecular. Como não
podem doar prótons eles não participam de pontes de hidrogênio e não são facilmente solúveis
em água, mas eles podem receber hidrogênio, por isso, os aldeídos de baixo peso molecular
são solúveis em água.
Os aldeídos de forma geral apresentam aroma desagradável.
Uma propriedade importante dos aldeídos, para nossos propósitos, é que eles formam
ácidos carboxílicos. À temperatura ambiente, moléculas de oxigênio do ar reagem com os
aldeídos convertendo-os em uma outra classe de compostos, os ácidos carboxílicos. A
estocagem destes compostos por longo tempo é, portanto, muito difícil.
Como o grupo aldeído é facilmente oxidado ele é facilmente detectado. Alguns
grupamentos típicos contendo o segmento carbonila, como os apresentados a seguir, e que se
encontram presentes em alguns compostos químicos, fornecem teste positivo com reagentes
oxidantes como o licor de Fehling, e são chamados grupos redutores.
Alguns açúcares possuem estes grupamentos e isso é que permite sua determinação
como açúcares redutores.
Cetonas
As cetonas possuem como grupo característico a carbonila em carbono secundário.
CH3C(O)CH2CH3 Metiletilcetona 80
O grupo carboxila
O grupo carboxila caracteriza-se pela estrutura contendo os grupos carbonila e
hidroxila, ligados a um mesmo carbono, ou os derivados dele.
Ácidos carboxílicos
Os ácidos orgânicos são ácidos fracos e são tipicamente os ácidos carboxílicos. São
compostos orgânicos que possuem o grupo carboxílico (grupo carbonila e hidroxila no mesmo
átomo de carbono). Ambos os grupos são polares e podem receber hidrogênios para formar
pontes de hidrogênio. A hidroxila pode doar um hidrogênio e este fato explica os relativamente
altos pontos de ebulição dos ácidos orgânicos em comparação com os membros das outras
famílias e a solubilidade em água.
Observe os dados de ponto de ebulição, apresentados abaixo.
Ésteres
Os ésteres são os compostos orgânicos mais aromáticos. Muitos deles são responsáveis
pelos aromas específicos das frutas e alguns são usados para fazer perfumes, especialmente
os de alto peso molecular. Os de cadeia longa são graxas, usados para polimento de carros,
por exemplo. A função Ester é a seguinte
Apesar de moderadamente polar, a função éster não é muito solúvel em água como os
álcoois ou ácidos carboxílicos, pois não pode doar hidrogênio para ponte de hidrogênio,
somente receber. Ésteres de cinco ou menos carbonos são solúveis em água.
Amidas
A função amida é reconhecida pelo grupamento de átomos carbonila – nitrogênio
Em amidas simples não temos grupo alquil ligados ao nitrogênio. Quando existe grupo
alquil no nitrogênio o nome será precedido do nome do grupo alquil ligado ao nitrogênio.
Exemplos:
As moléculas de amidas são polares e a maioria delas são sólidas à temperatura
ambiente. São solúveis em água se a cadeia de hidrocarbonetos não for muito longa.
O grupo amino é responsável pela capacidade de solubilização das amidas, os
hidrogênios ligados ao nitrogênio podem participar de pontes de hidrogênio. Quanto ao aroma,
pode-se dizer que a maioria das aminas não possuem cheiro.