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JOSE ANTONIO GONSALVES DE MELLO
AECONOMIA AQUCAREIRA
I
21! edi~ao
Copyright© ]. A. Gonsalves de Mello
Marcelo Maciel
Presidente
Altino Cadena
Diretor de Gestlio
Rui Loepert
Diretor Industrial
Samuel Mudo
Gerente da Gnifica e Editora
Equipe de Produ~ao:
Elizabete Correia, Emmanuel Larre, Geraldo Sant'Ana,
]oselma Firmino, josilene Correa, Ligia Regis, Lourdes Duarte,
Luiz Arrais, Norma Baracbo, Roberto Bandeira e Zenival.
F683 Fontes para a historia do Brasil holandes : a economia ~careira I [tex-
tos editados por] Jose Antonio Gonsalves de Mello ; organiza~ilo e
estudo introdutorio Leonardo Dantas Silva ; apresenta¢o Dorany
Sampaio. - 2. ed.- Recife : CEPE, 2004.
v, 1.- (S6rie 350 anos. Restaura~o pernambucana ; 8)
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Uma rela~ao
dos engenhos de Pernambuco,
Itamaraca e Parafba em 1623.
21
(povoamento daquelas terras. A respeito da economia a~ucareira ~ar. E quem tivesse possibilidade para se revezarem · seria do
'\
\ e dos engenhos refere: 3 proveito para os poupar, mas sao poucos os cabedais que
r "As justi~as da terra eram e sao recomendadas do Rei alcancem ao que se ha mister.
/ para que nao molestem aos moradores, nem os apertem pelos "De uma tarefa destas de cana, quando esta madura e o
\ paga1llentos, para com isso terem mais largueza para o muito engenho e born, se fara 70 arrobas de a¢car, que sao 2.000 libras e
q.ue se ha mister para os que houverem de fazer engenhos ou daqui para baixo, conforme as comodictides dos engenhos e terras.
\ canaviais de a~ucar. Depois de cozido nas caldeiras se leva em formas a casa de purgar;
"Com todos estes favores ditos e com se haver aumentado onde estao 3, 4 meses, e depois se seca ao sol, apartando o branco
de gra maneira dito Brasil, sao as terras tao largas e seu distrito do mascavado e do xarope, que, purgado, se fazem os panelas.
que, sem encarecimento, e pra~a bastante para se fazerem Reinos, "Por fazer este a~ucar leva o senhor de engenho 1/2 do '\
por onde se deixa ver o que com a liberdade do neg6cio geral rendimento dele e o xarope todo e o dono da cana outra metade;
podera com o tempo seguir. e quando a cana e de partido do mesmo engenho, leva 3/5 e o
~
' "Os engenhos de Capitania de Pernambuco ate o ano de lavrador 2/5 ou 1/3, conforme os acordos; o xarope para os
1623 sao 137, como pareceda memoria dos names deles:Para a senhores dos engenhos; 4 •
fabrica de cada urn se ha mister muito dinheiro, assim para "E tao grande o trabalho que se chama a urn engenho
casas, tanto do engenho como de purgar, aonde se recolher os destes inferno e somente gente, como sao estes negros, o podem
a~ucares que fazem, como para cobres, madeiras, ferragens, aturar, os quais tambem andam nus; pois se formos a cotnida
carpinteiros, pedreiros, formas, carros, servidores brancos, a quem que lhes dao para passarem e uma pequena de farinha de pau
se dao bons salarios e de comer cada ano, quantidade de lenhas bern seca e algumas vezes por regalo uma sardinha, que e menos
para arderem, caixoes, bois, vacas, mantimentos, como se podera . que urn arenque, e custa um-de-oito, urn bocado de bacalhau e
ver do rol que destes gastos se deu {nao foi encontrado}, alem a bebida nao e outra que agua. E naquelas poucas horas que
do custo de 70 escravos que deve ter cada engenho para o lhes ficam [aos negros] se querem mais buscam alguns cangrejos
servi~o do a~ucar e suas dependencias e faltas dos que adoecem. do tnato a legumes e nao bastante tudo isto os castigam
Isto se entende, tendo cana e tudo o mais necessaria para moer rigorosamente, para que acudam a seu trabalho e como andam
o tempo que se costuma, que sao oito meses, come~ando em nus os magoam demasiadamente e dizem e necessaria assirn,
julho e agosto. Estes negros sao cativos e os compram dos porque de outro modo nao seguiria a obra, nem eles teriam o
mercadores, que os mandam buscar a Angola por florins 200, temor do branco que se requer, pois em urn engenho destes quando
pouco mais ou menos, cada urn; e se morrem muitos, por mais haja 8, 10 brancos e o mais e, muitas vezes, em uma fazenda de
a~ucar que se fa~, nao podem levantar a cabe~. 0 servi~o destes canaviais, urn s6 branco e 30, 40 e 50 escravos que lhe obedecem
e causa incrivel, porque o engenho bota a moer as 4 horas da e se nao for este cruel servi~o feito por eles e nessa forma e de
tarde a tarefa da cana (que assim se chama a·quantidade que pouco gasto de mantimentos e nenhum vestido nem salarios e
deve moer naquele dia) e, sem parar toda a noite, vai cqntinuando houvesse de ser por brancos valeria uma libra de a~ucar tres
o servi~o ate o outro dia as 10 horas da manha e logo se vao vezes mais para se poder fazer. A cana que m6i cada engenho, \
limpando os vasos e, depois de descansarem quatro horas, tornam tendo born aviamento, serao 180 ate 200 tarefas cada ano. /
a continuar e assim .se vai seguindo toda a s~mana; e. como o "Os lavradores tambem hao mister partida de
trabalbo e1?ta repa,rtido, cada urn acode ao seu;, em acab,ando vao escravos; estes nao tern ocasiao de trabalhar de noite. Tern
cuidado de plantar a cana e tres vezes no ano limpa-la e
dormir, a qualquerhora queseja, o pouco tempo que podem aven-
ordinariamente visitar as faltas e enche-las de novas plan-
22 23 I
rl
"Nos engenhos de fazer a~ucares ha muito grande
tas, corti-las ao tempo de se moer, fazer mandioca, que e a
diferen~a dos bons aos maus, porque aqueles que gozam de
farinha, e outros serVi~os semelhantes que nunca lhes faltam.
tres cousas, quando seus senhores tern fabrica bastante, sao
"No tratamento e mantimentos deles e como os mais ditos. A
sumamente bons; as quais tres cousas consistem em ter muitas
cana depois de plantada se vern a cortar dali a 19 meses e terras e boas para a planta dos canaviais, agua bastante que nao
assim para urn lavrador haver de moer cada ano 50 tarefas e falte para a moenda e lenhas em grandes matas tambem em
mister que tenha pra~a para plantar 100, porque a que se corta quantidade... E quando os tais engenhos sao desta q_ualidade,
urn ano nao vern a servir senao para o outro, com que cada nao lhes faltando, como tenho dito, a fabrica necessaria,
engenho fica havendo mister 400 tarefas de pra~a para tirarem costumam a fazer em cada urn ano a seis, sete, oito e ainda a
~s 200. Com os negros se tern particular cuidado, ·como cousa dez mil.arrobas de a~ucar macho listo e, branco e mascavado},
que tanto lhes doa e tern tal natureza que se emperram e querem afora os meles, que sao retames e batidos, que sempre chegam
morrer o fazem, se depressa lhes nao acodem com fogo a abrir a tres mil arrobas; ... E os outros engenhos de menos porte
a boca." costumam a fazer a cinco e a quatro e ainda a tres mil arrobas
0 autor, Jose Israel da Costa, diz e repete que viveu algum v de a~ucar, e OS tais Sao de pOUCO proveito para.seu dono." 6
(tempo no Brasil, mencionando especificamente a Bahia: "na Classificando, nos termos dos Dialogos, os engenhos de\
Bahia aonde estive" e "diversas vezes vendi fazendas e Pernambuco e Itamaraca (total de 117 enumerados e nao 119 1
/ mantimentos naquelas partes". Talvez tenha obtido entao a como indicado na rela~ao) em "sumamente bons" (produ~ao
I rela~ao dos engenhos de Pernambuco, Itamaraca e Paraiba do igual ou ·superior a 6.000 arrobas de a~ucar macho), em "de
anode 1623, valioso documento que eo mais antigo do genero menos porte" (de 3.000 a menos de 6.000 arrobas, idem) e em
que existe sobre o Nordeste a~ucareiro. uma terceira categoria, nao mencionada nos Dialogos (de menos /
A rela~ao permite urn estudo da produ~ao dos engenhos, de 3.000 arrobas, idem), teremos: · ·
levando em conta a observa~ao dos Dialogos das Grandezas
do Brasil, cuja autoria e atribuida a Ambrosio Fernandes "sumamente bons" 19 15%
Brandao, aWis citado na rela~ao como senhor de tres engenhos "de menos porte" 55 47%
na Paraiba. E certo que o ano de 1623 ja revela os efeitos da terceira categoria 42 38%
crise de 1619-22, estudada por Ruggiero Romano, e que se
reflete na queda do montante do contrato do dizimo do a~ucar Qual ou quais dessas categorias resistiriam ou nao, com
da safra 1623-24. 5 Mesmo admitindo uma produ~ao maior ou menor sacrifkio, aos periodos de queda de prer;o do
planejadamente reduzida, vale a pena considerar o fato pois ar;ucar (tema que tern sido estudado por Frederic Mauro)? E
quando se trata da economia a~ucareira fica esquecida essa assunto a investigar.
variedade de condi~oes de engenho para engenho; que, ao Com base em parte nesta relar;ao, Evaldo Cabral de Mello\
lado de.casas grandes como a de Megaipe, por exemplo, quase chamou pela primeira vez a atenr;ao dos historiadores e ge- \
uma fortaleza de alvenaria, ou da do Engenho Noruega, urn nealogistas para urn aspecto importante da hist6ria social do )
"Escurial rustico", havia outras construidas de taipa, nao de Nordeste. Vale a pena transcrever suas observa~oes:
pilaQ, .mas de "sopa,po", como nos revela uma tela de Frans "Quando se com para esta lista {dos proprietarios de·,
:Post. Qps~rva~ao qt!e ja fiz ao comentar urn livro valioso e engenhos, recolhida nas Denuncia(:oes do Santo Oficio \
rarq d9 §e<;:ulo passado, a Estatistica de]aboatao (Recife, 1857). em Pernambuco, 1594-95} com a que se contem na relar;ao \
dos engenhos de Pernambuco preparada em 1623 por Jo- )
Le-se nos Dialogos:
I
25
24
r
r se Israel da Costa, ou com a do 'Breve Di~curso' {doc. V desta ver de ir o bern nascido e piedoso Conde de Nassau ... para com seu rnaduro
( coletanea} salta a vista a intensa transferencia da propriedade conselho as inquieta(:oes do Brasil poder aquietar e por as cousas em tal
ordem que nil.o haja rnais que desejar".
\_a«;ucareira em Pernambuco entre 1594 e 1630. A impressao que
se tern esta longe de confirmar a imagem tradicional de uma 2- Sobre o vocabulario dos Judeus ibericos nos Paises Baixos ver, de B.N. Teensrna,
sociedade estavel do ponto-de-vista da composil);ao da sua classe o "Philological Commentary" a publica(:ao do texto de David Franco Mendes,
"Mem6rias do estabelecimento e progresso dos judeus Portugueses e Espanh6is
privilegiada, recrutada entre pequenos fidalgos da provfncia e nesta famosa Cidade de Amsterdam", em Studia Rosentbaliana vol. IX n• 2
atuada por valores rotineiramente agrarios, isto e, o grupo restrito (Assen, 1975) pp. 185-204.
de colonizadores, vindos com Duarte Coelho ou ao tempo do
3 - 0 texto em hc;>landes - em tradu~o que acompanha o original portugues de
governo da sua viuva ou dos seus filhos, o qual teria mono- jose Israel da Costa, tambem conservada no Arquivo citado - foi publicado
polizado as oportunidades economicas e sociais proporcionadas parcialmente pelo Dr. Boogaart, livro cit em nota (1), pp. 250-51.
pelo al);licar. Nada disto: estao quase ausentes os nomes de
4- Veja-se a segunda edi~o integral dos Dtalogos (Recife, 1966) pp. 87-88.
famflias que se tern convencionalmente associado acolonizal);ao
da capitania, como a indicar que o grupo duartino nao chegou a 5 - 0 estudo de R. Romano pode ser lido em versao inglesa em Geoffrey Parker e
obter, ou se obteve nao pode deter, o controle da propriedade Lesley M. Smith, Tbe General Crisis of the Seventeenth Century(Londces, 1978)
pp. 165-225; Frederic Maliro, Portgual et l 'Atlantique au Xvii siecre (Paris, 1960)
· al);ucareira. Em 1594, em 61 nomes de senhores de engenho, pp. 251-52 e Evaldo Cabral de Mello, Olinda Restaurada (Sao Paulo, 1975) pp.
acham-se apenas 8 que sugiram esse primeiro 'Who is Who' da 53-55. Os dfzimos foram comratados pelos valores seguintes nas safras
abaixo: ·
hist6ria brasileira, que foram os pequenos fidalgos da colonizal);ao
1618-19 54.000 cruzados 1619-20 73.500 cruzados
da Nova Lusitania: urn Paes Barreto, urn Lins, urn Sa, urn Rolanda, 1620-21 73.500 " 1623-24 51.000
dois Bezerra, dois Albuquerques. Os restantes sao todos nomes
6- Dialogos, cit., pp. 86-87
obscuramente plebeus. Aos Albuquerques, menos de cern anos
ap6s a chegada a Pernambuco do fundador da famflia, Verdonck 7 - Evaldo Cabral de Mello, livro cit. em nota (5) PP- 57-58-
se refere depreciativamente como sendo. 'grandes fidalgos
segundo se julgam, mas na realidade gente pobre e indigente'
{ver doc. IV desta coletanea}. Surpreendentemente, e na relal);ao
de 1623 ou no 'Breve Discurso' que se vao encontrar nomes de
famflias da chamada 'nobreza da terra', o que sugere terem seus
membros se beneficiado do processo de transferencia da
propriedade a«;ucareira provocado pela crise da segunda e terceira
decadas de seiscentos". 7
A rela~ao de Jose Israel da Costa foi pela primeira vez
publicada na Revista do Museu do A~ucar vol. 1 (Recife, 1968) ·
pp. 32-36.
26 27
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1
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I
!
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20 - Pedro da Lauz
21- Luiz Dias Barroso
2 .
1.600
2.949
120
460
22 - Gregorio de Barros Pereir.i no
engenho de AntOnio de Buih6es 9.021 1.500
23-0 Licenciado Manuel Nunes 2.700 500
DOCUMENTO 2. TEXTO. 24- Antonio Rodrigues Moreno 4.700 1.000
25- Salvador Jorge 2.100 400
26 - Filipe Diniz de Paz 5.840 1.770
"Ap1cares que fizeram os engenhos de Pernambuco, 27- Salvador Soares 3.400 600
Ilha de Itamaraca e Parafba"- anode 1623. 28- Baltasar Gon~alves Moreno 6.060 1.000
29- Joao de Barros Rego 4.820 1.043
30- Francisco do Rego Barros 7.420 300
A¢car Macho (branco e Arrobas (A~ucar) Arrobas 31- Gabriel de Pilla 5.917 1.050
mascavado) Retame 32 - Manuel Rodrigues Nunes 7.117 1.500
1 -Manuel Sar;:tiba de Mendon~ 11.620 2.700 33- Manuel Rodrigues o mouco 1.100 260
2 - Francisco Monteiro 5.910 1.010 34- Diogo da Costa Maciel 2.870 500
3 - Gaspar de Mendon~a 2.180 200 35 -Antonio Nunes Ximenes 5.400 500
1.196 36- Diogo Soares da Cunha 6.423 800
4 - Antonio da Silva Barbosa 4.680
2.000 37 - Filipe Dias Vale em Grojau 4.330 344
5 - Pedro da Cunha de Andade 9.035 38- Gomes Martins· 3.545 420
6 - Lufsa Nunes 1 4.154 480
7 - Louren~o de Sousa de Moura Adiante 180.077 34.094
no Trapiche 500 90
8 - Henrique Afonso 3.970 614 A¢car macho o atras manta 180.077 Retame 34.094
9- Marcos Andre 1.106 39 - Joao Paes Barreto 8.180 1.580
10 -Francisco Brenger 2.190 500 40 - 0 dito no engenho da Guerra 5.465
11- Jeronimo Paes 9.520 2.590 41- Manoel Gomes de Meio 4.000 840
12- Dona Isabel Carvalho 5.600 1.150 42·- Crist6vao Paes 5.060 1.100
13 -Paulo Bezerra 6.550 1.960 43 - Andre do ·Couto 2.540 800
14 -Luis Ramires 4.019 780 44 - Pedro Lopes de Vera 3.640 850
15 -Maria Barbosa 4.331 830 45- Luis Marreiros 2.840 613
16 -Gaspar Fernandes Anjo 2.391 516 46- Dom Lufs 5.660 1.257
17 -Diogo de Araujo de Azevedo, 47 - Filipe Paes 4.720 420
48 - Miguel Paes 4.267
no engenho novo de Antonio . 3
49 - Gaspar de Mere 6.100 1.450
de Sa 5.476 1.308
50- Joao Rodrigues Caminha 800
18 -Manuel de Chaves no enge- 51..,. Diogo Fernandes Pantorro 6.995 860
nho de Francisco Moura 5.230 1.480 5.860 600
52 - Estevao Paes
19 _;.·Antonio de Sa Maia no en- 53 - Juliao Paes 2.750 660
. gehho de Santo Andre 4.723 677 54 - Antonio Ribeiro de Lacerda 8.829 2.245
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se de subir o mesmo rio cerca de cinco milhas e a mina da prata feijao, favas e outros cereais e muitas . outras frutas; pescam r:
fica a 4 ou 5 rnilhas para o interior. igualmente muito, e tudo trazem para vender aqui em I
/ § 22 - ALAGOAS - Perto do Rio Sao Francisco existe urn Pernambuco,
I
1 lugar chamado Alagoas, onde ha dais rios, urn situado ao norte ( Nas vizinhan~as ha 4 ou 5 engenhos que fazem algum)
I
e outro ao sul; no mesmo lugar ha. urn povoado de poucos Lap:icar; o povoado esta a 3 rnilhas da praia e pode subir-se ate I
habitantes e nas imedia~oes 5 ou 6 engenhos, mas fazem pouco ele em uma Chalupa; OS moradores tambem naosao numerosos, II:
de sorte que penso que do rio Sao Francisco ate aqui, no espa~o · fi
\ a~ucar e anos ha em que alguns nao moem; ainda nesse lugar
existe grande quantidade de bois e vacas, por causa do excelente de umas 20 rnilhas, podem morar cerca de 500 a 600 homens, II
.I
pasta, de sorte que por esse motivo os moradores possuem muito quase todos mamelucos e gente muito rna. . !i •..
gado, que e a sua principal riqueza e constitui a melhor 2 '"
y § 5 - SERINHAEM- Pr6xiino a Una encontra-se urn grande\ l.
mercadoria destas terras e com a qual mais se ganha devido a povoado chama do Serinhaem, pobre de . gado porque os '!
sua rapida multiplica~ao; o povoado esta situado sobre ambos moradores ali se ocupam de preferenda na cultura de canas, de .·
os rios e dista do mar umas cinco rnilhas. modo que na jurisdi~ao do mesmo povoado ha 12 ou 13 \
Os moradores plantam ali grande quantidade de mandioca engenhos, que ordinariamente fazem grande quantidade de !
e a maior parte da farinha que vern para Pernambuco e dessa ap:icar, a saber, 6 ou 7.000 arrobas cada engenho e quase que
o melhor as:ucar que se fabrica nesta terra; esta a 2 milhas da
e) r!
procedencia; outrossim planta-se nesse lugar muito fumo e ·I
prepara-se consideravel por~ao de peixe seco, que todo e trazido praia e as barcas sobem o rio para carregar a~ucar, de 100 a 110
caixas em cada barca; o mesmo rio e pouco profunda na foz, ~i
para a-qui e prontamente vendido; alem desses viveres produz a
terra muitos outros generos alimenticios, sem os quais dificilmente ond~ nao tern mais de 7 a 8 pes d'agua. !I
poderiam manter-se os seus habitantes, tanto os da cidade como ' .No mesmo povoado e nas proximidades moram muitos
il
I,
"u
os de fora; os moradores dessa regiao penso que sao mais Albtiquerques, e grandes fidalgos, segundo se julgam, (*) mas
afei~oados aos holandeses do que a gente da sua na~ao, porque na realidade gente pobre e indigente, e ao todo pode ali haver
quase todos sao criminosos e gente insubordinada. uns 500 habitantes, que plantam muita mandioca, fumo e toda a
§ 32 - PORTO CALVO- Proximo a Alagoas ha urn povoado casta de cereais e pegam muito peixe; ha tambem ali algum
denominado Porto Calvo que tambem conta poucos habitantes; pau-brasil e a mesma jurisdi~ao de Serinhaem e urn sitio muito
na mesma regiao existe igualmente muito gado, principal riqueza aprazivel para morar-se.
dos seus moradores, que o trazem de ordinaria para Pernambuco; § 62 - IPOJUCA- Perto de Serinhaem ha urn povoado
plantam ;:tli muito fumo, fazem bastante farinha e pescam muitos de nome Ipojuca onde pode haver uns 600 habit'antes
peixes, na maior parte tainhas, que trazidos para Pernambuco em toda a jurisdi~ao e muita gente rica, sendo urn
sao logo v_endidos; ainda· nessa regiao existem 7 ou 8 engenhos lugar muito agradavel para morar-se; nas cercanias ha)
( algun~ _do~ ,qu~is fazem urn pouco de a~ucar. 13 ou 14 engenhos que fazem grande quantidade de a~u-
··Esse povoado tani.bem dista umas cinco fuilhas·da praia e
e banhado por urn rio de 9 a 10 bra~as de furido, pelo qual se (•) Ver Padre Jacome Monteiro, "Rela¢.io cia Provincia do Brasil em 1610", em Padre
Serafun Leite, Hist6ria da Companbia de jesus no Brasi~ 10 vols. (Lisboa, Rio de
pode subir do mar para o povoado. Janeiro 1938-50) VIII p. 405. .
36 37
I
~':;;·
i car; farinha, furno e peixe vern pouco desse lugar porque disto a mesma regiao e urn lugar belo para morar-se, pois com
I nao fazem alimento; para chegar-se ao primeiro desses engenhos, facilidade criam-,se muitos carneiros, cabritos, bodes, porcos, perus
1 junto ao qual ha urn armazem para onde e levado o a~ucar de e galinhas e ha tambem ca~a de toda a especie, muitas frutas, de
{ quase todos os engenhos pr6xilnos, tem-se de subir o rio Ipoju<;a, sorte que nao ha falta de comestiveis.
/ situado logo adiante do Cabo Santo Agostinho por espa~o de 2 § 8Q - NOSSA SENHORA DA CANDELARIA -
milhas; junto a foz do rio ha 2 ou 3 canhoes a fun de impedir a CURCURANAS - Proximo ao Cabo Santo Agostinho ha na praia
entrada ao inimigo e na mesma foz nao ha mais de 7 ou 8 pes uma igrejinha chamada de Nossa Senhora da Candelaria, como_
de agua; ai vao as barcas carregar de 100 a 110 caixas de a~ucar acima foi referido; logo junto a essa igrejinha, para o norte,
\ para transporta-las ao Recife, como o fazern em todos os outros existe urn caminho na extensao de urn tiro de mosquete, pelo
\ lugares. qual se chega sem tardan~a. a urn grapde e belo lugar de nome
§ 7Q ~CABO SANTO AGOSTINHO- SANTO ANTONIO- Curcuranas, onde ha:bitualmente OS portugueses tinham, e e dificil
Nao longe de Ipojuca escl o Cabo Santo Agostinho, onde existe que ainda tenham, para mais de 1.300 a 1.400 cabe~as de gado
urn povoado chamado Santo Antonio do Cabo; nessa jurisdi~ao e algumas vezes ainda mais, que para ali vinham dos
deve haver cerca de 20 engenhos ou mais, porque e uma grande mencionados e doutros lugares para o consumo da cidade de
extensao de terra. Ha ali alguns engenhos excelentes, que Pernambuco e onde os .marchantes ia.m compra-lo quando tinham
fabricam rnuito e born a~ucar; quanto a cereais, farinha, fumo, necessidade, bern como ali conservavam gado por causa de urn
gado e peixe quase nada vern dali porquanto os habitantes apenas muito bela e grande pastagem, na qual ha espa~o para mais de
plantam, fabricam, criam e pescam o necessaria ao seu cdnsumo, 3.000 bois e agua em abundancia; nesse lugar e nos arredores
dedicando-se principalmente a cultura da cana; todavia ha ·ali devem morar 60 ou 70 homens.
alguns plantadores de mandioca que fazem farinha para vende- § 9Q - OS GUARARAPES - JABOATAO - MURIBARA -
la na mesma regiao aos rnoradores. CAMASSARIM - VARzEA DO CAPIBARIBE - Das Curcuranas a
Em todos esses lugares atrcis mencionados ha grande cidade de Pernambuco ha umas cinco milhas e contando para a
quantidade de toda a casta de peixe e abundancia de camaroes jurisdi~ao o territ6rio na extensao de cinco milhas tambem para
e caranguejos que, principalrnente no inverno, os mouros com o interior, notam-se air).da outros lugares, a saber: os Guararapes,
pouco trabalho sabem achar e pegar para o sustento dos seus Jaboatao, Muribara, Camassarim e Varzea do Capibaribe; deve
senhores, havendo tambem muita ca~a de toda a qualidade, haver em todos esses lugares bern 24 ou 26 engenhos, dos
que, com a mesma facilidade e sem trabalho, e diariamente quais 13 ou 14 numa bela planicie denominada Varzea do
apanhada e constitui urn alimento muito delicado; alem disto ha Capibaribe, a 2 ou 3 milhas da cidade, e onde esta a melhor e
muito boas frutas e verduras para comer-se, de que em todos os mais bela moradia, melhor do que em qualquer dos lugares
lugares os moradores tern grandes e belos pomares e hortas, nos atrcis mencionados e e o principal deles, de onde vern a maior
quais ha de tudo. e melhor parte do a~ucar; esta Varzea e muito habitada, tern
0 mesmo povoado de Santo Antonio do Cabo dista muitas e muito belas casas, residindo ali muita gente de
duas milhas do mar e nao havendo rio para subir-se ate qualidade e varias pessoas ricas, de sorte que das Curcuranas
os engenhos, quase todo o a~ucar tern de ser transportado ate Pernambuco, numa largura de 4 a 5 milhas, deve haver mais
por terra ate as barcas e algum e levado para outro lugar de 800 homens; ali fazem tambem muita farinha, que
e che.ga>a Jaz de urn rio chamado Jangada, junto a Nossa ordinariamente e a melhor da terra e quase toda consumida
Serthdta>da Candelaria, umas 3 mil has ao norte do. Cabo; pelos pr6prios habitantes, que possuem igualmente toda a casta
38 39
I
i de animais domesticos em abundancia, como bois, vacas, menos; ali tambem fazem muita farinha e colhem fumo, grande [1:
, quantidade de rni!ho, feijao, favas e toda a sorte de frutos. \
' cameiros cabritos, etc., que tanto ali como em todos os lugares
atras mertcionados sao serrtpre encontrados em quantidade, § 11 Q - SAO LOURENyO - Ha, ainda, urn povoado \
:!
porque todos os moradores os criam juntos as suas casas, de proximo a essa Mata do Brasil chamado Sao Lourenc;o, situado a \
modo que nao experimentam · dificuldade quando acontece cinco milhas de Pernambuco para o interior, onde existem 7 ou )'
aparecer num dia, inesperadamente, 10 ou 12 hospedes, 8 engenhos fazendo muito e born ac;ucar e tambem e muito bela
porquanto possuem a mao todo 0 necessaria, tanto animais como e aprazivel moradia; encontra-se ali de tudo, exceto peixe fresco,
muito peixe de rio, quantidade de camar6es e alguns de tamanho devido a distancia do mar, o mesmo que acontece na Mata do
que 5 ou 6 bern podem pesar uma libra, caranguejos, muita Brasil; porem, em varios sitios pegam com pouco trabalho toda
ca~a, toda a sorte de legumes de suas bortas e toda a sorte de
a casta de peixe de rio, alguns do tamanho de urn bra~o.
guloseimas de que este povo e muito amante; tern, outrossim, os Por todo este pais os portuguese$ empregam urn processo
seus pescadores, que saem ao mar ate 2 e 3 milhas da costa, de especial quando querem pegar grande por~ao de peixe sem
trabalho; dirigem-se para o rio que lhes parece oferecer melhor
modo que nunca lhes falta came fresca nem peixe fresco e tudo
oportunidade e tomam umas certas varas, que para isto vao
o mais acima referido, fora outras cousas que presentemente
buscar ao mato; depois de bern batidas lanc;arrt-nas ao rio, de
nao me vern a memoria.
sorte que o peixe com isto fica embriagado e vern boiar a flor
§ 10Q- MATA DO BRASIL- Alem dos que acabamos de
d'agua, podendo ser pegado a mao; o efeito de tais varas sabre
mencionar, ha ainda urn lugar muito grande e habitado chamado
os peixes faz-se sentir dentro de tres ou quatro horas; dias houve,
Mata do Brasil, o qual esta situado a cerca de 9 ou 10 milhas ao
em que vi fazer isto, serem apanhados de 6 a 7.000 peixes de
sul de Pernambuco para o interior: ali moram muitos camponeses
todas as qualidades e tao gordos e de delicado sabor quanta se
que fazem considecivel porc;ao de pau-brasil com os seus mouros
pode desejar. Essas pescarias sao ordinariamente feitas no verao,
e brasilienses, sendo ali livre o corte do pau-brasil e cada urn
quando OS rios nao tern muita agua; 0 pau COffi que embriagam
pode tira-lo aonde quiser; depois de limpo ~ trazido em carros
OS peixes e chamado timbo.
para urn lugar de nome Sao Lourenc;o, ao qual adiante teremos
E para notar que nesta terra nao se recebe dinheiro dos
que nos referir, onde e vendido aos contratantes do rei, que dao
viajantes pela sua hospedagem; venham de onde vierem, sejam
por cada 128libras ou 4 arrobas, ordinariamente, de urn cruzado
conhecidos ou desconhecidos, da-se-lhes imediatamente agasalho
a 450 ou 480 reis, e ainda assim o pagamento e quase sempre e sao muito bern tratados de tudo.
feito em mercadorias, por prec;os 100% acima do seu valor, sendo Nesse lugar de Sao Lourenc;o fazem tambem muito pau-
que o negocio so pode ser feito desse modo, porque ninguem brasil, alem do que para ali e levado para ser transportado em
pode compra-lo, sob grandes penas, senao unicamente eles. outros carros para o Passo do Fidalgo, distante de Pernambuco
0 pau-brasil que anualmente vern dessa Mata do Brasil e cerca de 2 milhas, e para onde se vai em barcas que sobem o
em grande quantidade e ali ha tambem em abundancia gado, rio; em Sao Lourenc;o e na sua jurisdic;ao pode haver de 250 a
cameiros, bodes, muitos porcos, perus, galinhas e tanta cac;a que 300 habitantes.
causa admirac;ao, afora roda casta de animais que ali se dao § 12Q ALDEIAS DE BRASILIENSES- Do rio Sao Francisco
muito bern, pelo que ha ali muitos viveres, porque e uma terra ate aqui, segundo a minha estimativa, deve haver 11 a 12 aldeias
muito produtiva e aonde os portugueses semeiam I
e plantam
.
num de brasilienses, todas distantes da praia 3 ou 4 milhas; essas
espac;o de 20 rriilhas de comprido sabre tantas de ,largo. Nessa Mata aldeias podem ter cerca de 200 habeis flecheiros, alem das
do Brasil·· podem tnorar ao todo 150 a 200 homens, pouco mais ou mulheres e crianc;as.
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carla que ia ate 4 a 5 milhas da costa e sempre voltava carregada;
§ 132
PERNAMBUCO - Ate aqui temos mencionado
-
todos os lugares que se acham sob a jurisdi~ao de Pernambuco, na minha opiniao devia haver na cidade de Pernambuco mais
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isto e, do rio Sao Francisco ate a cidade; agora vamos falar da de 800 homens e bern 4.000 ou mais mouros e ainda outras
mesma cidade, referindo como dentro dela se encontra urn muito tantas mulheres e crian~as.
belo, grande e forte convento de Jesuftas; logo junto, outro de § 142 - RECIFE - Na entrada do recife, onde esta o Po~o,
Franciscanos e adiante ainda outro chamado de Sao Bento, ha ordinariamente 19 pes d'agua e num banco que existe dentro,
tambem bonito, forte e grande; alem destes ha, ainda, urn convento e por cima do qual tern de passar os navios, ha 14 pes.
de freiras denominado Concei~ao e nestes 5 (*) conventos podia § 152 - ILHA DE ITAMARACA - GOIANA - ARARIPE - A
haver bern 130 pessoas religiosas, sem contar 50 ou 60 padres cinco milhas ao norte de Pernambuco esta situada uma ilha
que moram na cidade; afora esses ha, ainda, bern uns 100, que chamada ltamaraca, a qual tern urn born rio, em que podem
residem fora da cidade e quase que em cada engenho urn. entrar navios de 14 pes de calado: ha riessa ilha, em cima de urn
Alem dos citados existe urn convento de Franciscanos monte na entrada do rio, urn pequeno reduto com 5 ou 6 pe~as
no povoado de lpojuca, outro da mesma ordem no povoado que podem lan~ar balas de 6 a 7 libras e sao chamadas meios-
de Igarassu e, ainda, urn dos mesmos frades no outro lado do sacres.
Recife, de modo que· so na jurisdi~ao de Pernambuco sao Na jurisdi~ao dessa ilha, que se estende ate 14 ou 15)
mantidos cerca de 400 religiosos; tern a mesma cidade de milhas de Pernambuco, pode haver cerca de 20 engenhos, que
Pernambuco duas igrejas paroquiais chamadas do Salvador e uns pelos outros fazem muito a~ucar, e o melhor lugar que existe
de Sao Pedro, e ainda outra de nome Misericordia, onde tamb¢m proximo a esses engenhos e chamado Goiana, sitio muito
esta o hospital, assente sobre urn monte no centro da cidade; agradavel, grande, belo e fertil, tendo em abundancia toda a
logo ao descer o pendor proximo chega-se a urn templo sorte de peixe, came, frutas e outros. viveres; ali reside gente rica
chamado de Nossa Senhora do~ Amparo e adiante a outro de e muitos nobres, e os habitantes, tanto de ltamaraca quanto de
nome de Sao Joa:o e mais afastado ve-se a igrejinha de Nossa Goiana e de Araripe, devem ser mais de 300.
Senhora de Guadalupe; no cimo de urn elevado oiteiro ergue- A mesma ilha com toda a sua jurisdi~ao pertence ao Conde
se a igreja de Nossa Senhora do Monte e a dois tiros de mosquete de Monsanto, que mora em Lisboa, e os habitantes devem pagar-
da cidade ha a igrejinha de Santo Amaro. Ordinariamente vern lhe aimalmente a renda de 2.500 a. 3.000 ducados em dizimos
a Pernambuco todos os dias, por terra, de distancias de 1 a 6 de a~ucar e outros impastos. Ha ali urn capitao-mor sem soldados
milhas, 350 a 400 mouros, antes mais do que menos, todos e a justi~a e ali tambem. independente, conquanto o govemador
bern carregados com comestiveis, a fim de vende-los para os intervenha na sua distribui~ao quando necessaria; da mencionada
seus senhores, e isto alem das barcas que diariamente chegam Goiana vern grande quantidade de pau-brasil, que e feito de 5 a
ao Recife, de todos os lugares atras mencionados e ainda de 8 milhas para o interior e ali carregado em barcas para ser
outros, e que tambem trazem mantimentos; todos os dias vao transportado para o Recife.
mais de 200 negros a uma ou duas milhas da cidade s6 a pegar § 1{)!1- IGARASSU- A uma milha de ltamaraca ha aindaum
caranguejos, e voltando a tarde para casa, carregados, vendem- povoado de nome Igarassu, distante 5 milhasde Pernambuco, onde
nos todos; havia igualmente aqui cerca de 100 negros que os habitantes sao todos gente pobre, como tambem na ilha de
dia·riamente saiam a pescar no mar, alem de muito peixe Itamaraci, e vivem principalmente de seus oficios ou para melhor
apanhadona praia com redes e de uma grande barca de pes- dizer do trabalho dos seus escravos; nas imedia~oes desse povoado \
.::~~r.·) \'n ha tambem 5 ou 6 engenhos ou talvez mais, contando com 2)
c•):(;Jjffi '6 do Carmo, nao mencionado.
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j fou 3 que distam dali 2 ou 3 milhas, em urn lugar a margem dum
lrio que e preciso passar-se para chegar ate ele; esse rio, chamado
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. § 212-0 FORTE DO RIO GRANDE CHAMADO DOS
TRES REIS MAGOS- Da cidade do Rio Grande ao forte chamado
os Ttes Reis Magos ha apenas a distancia duma pequena meia
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milha, esse forte e 0 melhor que existe em toda a costa do
Brasil, pois e muito solido e belo e esta armado com 11 canhoes
de bronze, todos meios-canhoes, muitas colubrinas e ainda 12
ou 13 canhoes de ferro, estes porem imprestaveis; na entrada do
mesmo forte ha tambem 2 pe~as e dai chega-se ao paiol da
p6lvora; as muralhas podem ter de 9 a 10 palmos de espessura e
sao dobradas, tendo o intervalo cheio de barro; ordin~amente
ha poucos viveres no forte, porque entre esses portugueses nao
reina muita ordem; a guarni~ao consta habitualmente de 50 a 60
soldados pagos e com a mare cheia o forte fica todo cercado
d~agua, de modo que ninguem dele pode sair nem nele pode
entrar.
Junto ao mesmo forte, para o lado do norte, fica o rio
chamado Rio Grande, urri muito grandee belo lugar; por esse
motivo e porque os franceses e ingleses ali aportavam
freqiientemente com os seus navios, onde os reparavam e faziam
proyisao d~agua, frutas, cames e outros refrescos, m,an,dou o rei
construir aquele forte a fim de impedi-lo, porquantqi,tambem
iam ali traficar com brasilienses e adquiriam muito pau~brasil, do
qual agora ja nao ha tanto, e ainda outras mercadorias.
Quando ali ha falta de sal, o capitao-mor do dito forte do
Rio .Grande manda uma ou duas barcas, de 45 a 50 toneladas, a
urn lugar 60 milhas mais para o norte, onde ha grandes e extensas
salinas que a natureza criou por si; ali podem carregar, segundo
muitas vezes ouvi de barqueiros que dali vinham com
carregamentos de sal, mais de 1.000 navios com sal, que e mais
forte do que o espanhol e alvo como a neve. E urn lugar deserto,
em cujas imedia~oes ninguem mora, aparecendo apenas ali alguns
tigres com os quais e preciso ter cautela.
· Estas salinas estao rentes a praia completamente cheias
de sal; mas os navios que tiverem de ir ali, segundo penso,
devem conservar-se urn tanto ao largo, porquanto aquela costa
e muito periosa.
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