Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Resumo PPGEDUC Fabrício Fonseca

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 6

A FRENTE SOCIAL-LIBERAL NA EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI: UMA

ANÁLISE DO MOVIMENTO BRASIL COMPETITIVO

Fabrício Fonseca da Silva1


RESUMO
O objetivo desta comunicação é investigar a atuação política-ideológica do empresariado
brasileiro na educação básica nas primeiras décadas do século XXI e as suas estratégias
para a obtenção da hegemonia. Nesse período, o processo de reorganização da estratégia
da ação política do empresariado teve como sustentáculo a estruturação de uma malha de
aparelhos privados de hegemonia (APHs), formuladores e difusores do projeto e da
ideologia social-liberal na educação. Sob o discurso de que os professores e a escola
pública fracassaram na tarefa de ensinar, esses APHs passaram a influir decisivamente na
educação básica, elaborando projetos para melhorar a qualidade, a eficiência e a
produtividade das redes públicas de ensino. Para compreender esse fenômeno do
empresariamento das políticas públicas, especialmente, da educação, realizamos a análise
do Movimento Brasil Competitivo (MBC), criado em 2001, sob a liderança do empresário
Jorge Gerdau, com objetivo de mobilizar e organizar os interesses do empresariado na
materialidade do Estado, fazendo com que o tema da competitividade e da gestão seja
incorporado nas políticas públicas. Na educação, o MBC foi responsável pela difusão e
implantação do novo modelo de gestão para educação pública, em secretarias de educação
de vários estados, em especial, Pernambuco, Rio de Janeiro e Goiás, com base em três
pilares: profissionalização do diretor das escolas públicas; avaliação externa; e sistema de
pagamento de bônus aos professores. Os efeitos dessa política têm sido nefastos para a
escola pública: intensificação da precarização do trabalho docente; padronização do
currículo escolar e da avaliação; e privatização da gestão escolar. Com base no referencial
teórico e metodológico gramsciano, sustentamos que o MBC tem atuado como uma frente
móvel de ação, ou seja, agentes coletivos especializados no planejamento estratégico e na
implementação da ação política da classe dominante. Desse modo, o MBC, entendido
como uma frente do social-liberalismo cumpre o papel de formação da força de trabalho
para reprodução do novo padrão do capitalismo dependente e da conformação da
sociabilidade burguesa.

1
Doutorando em Educação pelo PPGEDUC/UFRRJ e membro do Grupo de Pesquisa Laboratório de
Investigação em Estado, Poder e Educação (LIEPE). Email: fabricio_historia@hotmail.com.
Palavras-chave: Capitalismo dependente; Educação Básica; Hegemonia política;
Burguesia brasileira; Aparelhos Privados de Hegemonia

GT 4 - TRABALHO E EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO

Este artigo tem como objetivo analisar a atuação política-ideológica do


empresariado brasileiro na educação básica nas primeiras décadas do século XXI. Para
compreender esse processo de empresariamento da educação, realizamos uma análise do
Movimento Brasil Competitivo (MBC), identificado, nesta pesquisa, como uma frente do
social-liberalismo. O MBC foi criado em 2001, nessa conjuntura o empresário brasileiro
expressava uma enorme insatisfação em relação a sua pequena participação nos debates
políticos e manifestava também preocupação com a instabilidade econômica. Entre as
suas principais reclamações estava a baixa participação das empresas brasileiras no
comércio mundial. Essa ação empresarial foi liderada pelos empresários Jorge Gerdau
Johannpeter (Grupo Gerdau), Élcio Aníbal de Luca (Serasa Experian), Edson Musa
(Caloi), Antônio Maciel Neto (Grupo Itamaraty, Ford e Suzano Papel e Celulose) dentre
outros e teve com objetivo promover ações estruturantes no Estado, mobilizando agentes
sociais e econômicos para a melhoria da competividade do setor privado e da qualidade
e produtividade na administração pública.

Esse período é marcado por um conjunto de transformações econômicas, políticas


e ideológicas que vem ocorrendo nos países capitalistas, sobretudo, a partir da década de
1970. Trata-se da crise orgânica do modo de produção capitalista que foi determinante
para a transição do bloco histórico fordista-keynesiano ao neoliberal. O neoliberalismo
emergiu como projeto hegemônico para recompor o poder da classe burguesa, deixando
de ser apenas uma teoria para virar uma base material nas políticas de governos
conservadores na Inglaterra e nos Estados Unidos.
A primeira fase do neoliberalismo, nos países centrais do capitalismo, pode ser
caraterizada por medidas que visavam o controle do gasto público; o rebaixamento do
valor da força de trabalho; aberturas comercial e financeira e o desmonte do Estado do
bem-estar social. Além das privatizações e o combate aos sindicatos dos trabalhadores.
No entanto, essas medidas que foram implementadas não apresentaram os resultados
esperados, pois as contas públicas permaneceram com déficits, as atividades econômicas
não foram retomadas, a inflação não foi controlada e os índices de pobreza e desigualdade
aumentaram.
Diante desse quadro, os principais aparelhos de hegemonia neoliberais, dentre
eles, Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Organização Mundial do
Comércio apresentaram propostas para corrigir as reformas estruturais. Com isso, os
projetos de reforma do Estado ganharam uma nova configuração: o Estado teria uma
função reguladora das atividades econômicas e realizaria, em parceria com o setor
privado, as políticas sociais, focalizadas e assistencialistas.
A partir da metade da década de 1990, o neoliberalismo entrou na sua segunda
fase, denominada de social-liberalismo (CASTELO, 2011), caracterizada por uma
atuação mais ativa do Estado na questão social, no entanto mesmo com essa inflexão dos
intelectuais orgânicos neoliberais, o Estado conservou sua natureza classista. O que
ocorreu foi uma modificação nas funções do Estado, ou seja, uma redefinição dos seus
mecanismos de legitimação do modo de produção capitalista, seja por via do consenso,
seja pela via da coerção (CASTELO, 2008).

O empresário desde a década 1930 tem uma forte presença na educação profissional por
meio da Confederação Nacional da Industria (CNI).
Da década de 1990, houve maior presença do empresariado na educação básica, pois,
nesse período, ocorreu a Conferência Mundial de Educação na Tailândia, que apresentou
dados sobre a educação do Brasil, principalmente, relacionados a alfabetização e
aprendizagem dos alunos.
No século seguinte, a influência do empresariado na educação pública aumentou e com
isso ele passou a constitui entidades para aglutinar outras organizações da sociedade civil
que já existiam para organizar os seus interesses de classe no aparelho do Estado. Nesse
contexto, se destacam o Todos Pela Educação e o Movimento Brasil Competitivo.

No entanto, a origem do MBC se encontra no movimento pela qualidade total na


década de 1980, que se desdobrou na criação do Programa Brasileiro de Qualidade e
Produtividade (PBQP) e na Fundação Nacional do Prêmio da Qualidade (FNPQ).

Os seres humanos são vistos como capital


Os gastos diretos com educação e com saúde. Os rendimentos obtidos por estudantes que
vão à escola e por trabalhadores treinados no local de trabalho, ou seja, tudo esse
investimento caracteriza o capital humano que é o principal responsável pelo crescimento
dos rendimentos dos trabalhadores (SCHULTZ, 1973).
Para Schultz, os trabalhadores tornam-se capitalista pela aquisição de conhecimentos e
de capacidades e não pela difusão da propriedade das ações da empresa. Com isso, para
ele, o investimento em capital humano é responsável pelo desenvolvimento produtivo dos
países capitalistas avançados (SCHULTZ, 1973).
O crescimento econômico seria proveniente do investimento do capital humano

Quem faz o planejamento das escolas públicas?

Qual interesse da burguesia brasileira em elaborar a gestão e o planejamento do Estado e das


escolas públicas?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASIMIRO, Flávio Henrique Calheiros. A Nova Direita no Brasil: aparelhos de ação
político-ideológica e atualização das estratégias de dominação burguesa (1980 -
2014). Tese (Doutorado em História Social) - Universidade Federal Fluminense, Instituto
de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, 2016.
CASTELO, Rodrigo, O social-liberalismo: uma ideologia neoliberal para a “questão
social” no século XXI – Rio de Janeiro: UFRJ/ESS, 2011.
DREIFUSS. René. A internacional Capitalista: estratégia e tática do empresariado
transnacional. Ed. RJ: Espaço e Tempo, 1986.
FERNANDES, F. A Revolução Burguesa no Brasil. 5. ed. São Paulo: Globo, 2006.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere, vol. 3, edição de Carlos Nelson Coutinho,
com a colaboração de Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 2001.
LEHER, Roberto. Classes sociais e educação no Brasil contemporâneo. In: Universidade
e heteronomia cultural no capitalismo dependente: um estudo a partir de Florestan
Fernandes. - Rio de Janeiro: Consequência, 2018.
MARINI, Ruy Mauro. Dialética da Dependência. In: Ruy Mauro Marini: vida e obra.
Roberta Traspadini, João Pedro Stedile (org.). 2. Ed. Expressão Popular. São Paulo, 2005.
MARTINS, André. Formulações da classe empresarial para a formação humana: da
educação política à educação escolar. In: Revista Contemporânea de Educação, vol.10, n.
20, julho/dezembro de 2015
FONTES, Virgínia. Hegemonismos e política – que democracia? In: MATTOS, Marcelo
Badaró – Estado e formas de dominação no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro,
Ed. Consequência, 2017, pp. 207-36
MENDONÇA, Sonia R. de. O Estado Ampliado como Ferramenta Metodológica. Marx
e o Marxismo v.2, n.2, jan/jul 2014
RODRIGUES, José. A educação e os empresários in: FRIGOTTO e CIAVATTA (orgs.).
A experiência do trabalho e a educação básica. Rio de Janeiro: Lamparina, 2010

Você também pode gostar