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Neoliberalismo, Gerencialismo e Educação o Projeto Do

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V.

21, nº 44, 2023 (janeiro-abril) ISSN: 1808-799 X

NEOLIBERALISMO, GERENCIALISMO E EDUCAÇÃO: O PROJETO DO


EMPRESARIADO PARA A AMÉRICA LATINA1

Maria Raquel Caetano2

Resumo
Neste artigo, problematizaremos as transformações do neoliberalismo em sua versão no século XXI, o
papel do Estado e o gerencialismo a partir da incorporação de novas matrizes teóricas. As ações
empresariais, no campo da educação, desenvolvem práticas que promovem a síntese entre interesse
individual e interesse geral. Metodologicamente, usamos a análise de documentos produzidos pela
Reduca e suas instituições membros. Nas considerações, o que se destaca, é o interesse dos
empresários que financiam e atuam na educação, por intermédio de redes, alinhando-se à doutrina do
mercado na América Latina.
Palavras-chave: Neoliberalismo; Gerencialismo; Educação.

NEOLIBERALISMO, GERENCIALISMO Y EDUCACIÓN: EL PROYECTO EMPRESARIAL PARA


AMÉRICA LATINA

Resumen
En este artículo problematizaremos las transformaciones del neoliberalismo en su versión en el siglo
XXI, el papel del Estado y el gerencialismo a partir de la incorporación de nuevas matrices teóricas. Las
acciones empresariales, en el campo de la educación, desarrollan prácticas que promuevan la síntesis
entre el interés individual y el interés general. Metodológicamente, se utilizó el análisis de documentos
producidos por Reduca y sus instituciones miembros. En las consideraciones, se destaca el interés de
los empresarios que financian y actúan en la educación, a través de redes, alineándose con la doctrina
del mercado en América Latina.
Palabras clave: Neoliberalismo; Gerencialismo; Educación.

NEOLIBERALISM, MANAGERIALISM AND EDUCATION: THE BUSINESS PROJECT FOR LATIN


AMERICA

Abstract
In this article, we will problematize the transformations of neoliberalism in its version in the 21st century,
the role of the State and managerialism from the incorporation of new theoretical matrices. Business
actions, in the field of education, develop practices that promote the synthesis between individual
interest and general interest. Methodologically, we used the analysis of documents produced by Reduca
and its member institutions. In the considerations, what stands out is the interest of entrepreneurs who
finance and act in education, through networks, aligning themselves with the doctrine of the market in
Latin America.
Keywords: Neoliberalism; Managerialism; Education.

1
Artigo recebido em 10/02/2023. Primeira avaliação em 16/03/2023. Segunda avaliação em
19/03/2023. Aprovado em 30/03/2023. Publicado em 13/04/2023
DOI: https://doi.org/10.22409/tn.v21i44.57593.
2
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) , Rio Grande do Sul
- Brasil. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Riograndense -IFSul -
Campus Sapucaia do Sul e do Mestrado ProfEPT - Campus Charqueadas, Rio Grande do Sul - Brasil.
E-mail: caetanoraquel2013@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8670505772168037.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6973-908X.

1
Introdução

Este artigo parte do pressuposto de que a política educacional não é


determinada pelas mudanças que ocorrem na redefinição do papel do Estado, mas é
parte constitutiva dessas mudanças (PERONI, 2007) e de que a crise que vivenciamos
não é uma crise cíclica, mas uma crise estrutural do capital. Trata-se, portanto, de um
sistema sociometabólico, conforme Mészáros (2007), que organiza estruturas
produtivas para encontrar recursos e saídas para sua expansão e acumulação, a partir
de estruturas totalizantes de organização e controle social.
Partimos do princípio de que a suposta neutralidade das estratégias assumidas
para superar a crise do capital e as discussões educacionais vinculadas a elas não
são desinteressadas, portanto, a neutralidade nesse contexto exposto é impossível.
As ações empresariais, no campo da educação, desenvolvem práticas que promovem
a síntese entre interesse individual e interesse geral. Elas não interferem nos
interesses econômicos, nem se opõe ao Estado, ao contrário, ela atua através e com
o Estado, o que modifica a cultura organizacional e faz com que o Estado aprenda,
com as “qualidades” do setor privado, a flexibilidade, a inovação, a eficiência e a
eficácia, ou seja, aprenda sua visão hegemônica de mundo. Essa hegemonia é
abordada a partir de Gramsci (1991) com o significado de organização do consenso,
ou seja, uma classe ou fração de classe no poder torna-se efetivamente hegemônica
a partir do momento em que consegue obter,

[…] tanto por parte das classes aliadas quanto por parte das classes
subalternas, uma identificação destas com o seu projeto ideológico de
dominação; quando sua visão de mundo particular universaliza-se,
sendo compartilhada como própria pelas demais classes. (GRAMSCI,
1991, p. 185).

Neste artigo, problematizaremos as transformações do neoliberalismo em sua


versão no século XXI, o papel do Estado e a constituição do homem empreendedor,
a partir da incorporação de novas matrizes teóricas. Tal redirecionamento faz parte
das transformações do novo papel do Estado como empreendedor e facilitador de
negócios na redefinição da administração pública (ABDALA; SOCARRÁZ, 2019) , que
enfatiza o gerencialismo e a criação de espaços públicos não estatais, o que causa a
regressão de políticas sociais e o avanço de medidas ligadas ao mercado, em especial
na educação. Apresentaremos, como exemplo da ação gerencial que integra as

2
reformas globais na educação, a Rede Latino Americana de Educação, a Reduca,
cujo enfoque é a atuação de fundações, associações, e da atuação direta ou indireta
de empresários, visando compreender a atuação hegemônica e, por consenso, no
campo educacional.
Do ponto de vista metodológico, este trabalho se caracteriza como qualitativo,
de natureza bibliográfica e documental. Na primeira parte, utilizamos como fontes de
análise, pesquisas já desenvolvidas por Puello-Socorrás (2008;2010); Abdala e
Puello-Socarrás (2019); Peroni (2017; 2021); Lamosa (2017) entre outros. Na
segunda parte, analisamos os documentos elaborados pela Rede Latino-Americana
de Organizações da Sociedade Civil pela Educação – Reduca, entre os anos de 2011
e 2013, os membros ativos da rede em cada país e as informações disponibilizadas
em sites. Buscamos, com este texto, apresentar alguns estudos de autores que tem
centrado suas pesquisas sobre as reformas educativas como estratégia para manter
a ordem atual do capital na América Latina. Buscamos, a partir das relações entre as
temáticas apresentadas, elaborar e produzir subsídios teóricos para a fundamentação
e análises de políticas educacionais.

Neoliberalismo e o ‘novo’ papel do Estado

As mudanças que vêm ocorrendo na educação estão imbricadas em um


movimento maior, cuja totalidade e historicidade precisam ser entendidas a partir das
sucessivas crises do capital neste período histórico, político e social cujas
especificidades são diferentes de dez ou vinte anos atrás. Na fase atual do
neoliberalismo, as novas formas de atuação do Estado vêm se modificando sem
perder sua essência: ser um projeto político de classe que objetiva manter e ampliar
a expansão e criação de mercados (ABDALA, 2022). As novas formas de atuação do
Estado pretendem construir uma sociedade de mercado do século XXI. Para isso, o
capital necessita se adaptar para a sua reconstituição e a sua consolidação como
projeto hegemônico, pois, ao gerar uma série de crises econômicas, precisa se
reformular, então, o ponto de referência são as leis do mercado.
Nesse panorama, o neoliberalismo se apresenta como uma estratégia de
superação das sucessivas crises do sistema do capital, como uma dinâmica
atualizada do desenvolvimento capitalista com diferentes facetas, incorporando novas

3
referências sem modificar seu conteúdo central, reinventando-se sempre. Puello-
Socarrás (2008a, p. 23) alerta que o neoliberalismo não é apenas um programa de
políticas e não se “[...] esgota nem se pode equiparar exclusivamente com o Consenso
de Washington”, nem com sua versão original, nem com o que sucedeu. Seu conteúdo
representa apenas uma das diversas tradições históricas do projeto neoliberal,
considerado como uma etapa do capitalismo na qual se pode observar “[...] a mais
pronunciada exacerbação das lógicas e contradições inerentes à reprodução e
acumulação incessante do capital” (PUELLO-SOCARRÁS, 2008a, p. 14). O autor
continua, ao dizer que limitar o neoliberalismo, portanto, a um programa de políticas
“[...] oculta e minimiza seu significado sociopolítico”.
No contexto atual, o neoliberalismo se caracteriza como reformas de segunda
geração e busca sintetizar modos de organização social considerados opostos e
irreconciliáveis (Estado e Mercado), em uma narrativa compatível e convergente, da
qual podem derivar políticas de ajuste estrutural favoráveis ao mercado (PUELLO-
SOCARRÁS, 2008b). Esses traços característicos do Estado neoliberal
contemporâneo pretendem dar continuidade à construção estratégica de uma
sociedade de mercado que busca desvincular o público do Estado. No Brasil, as
reformas na administração pública mais profundas tiveram início nos anos noventa,
no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), com o Plano Diretor da
Reforma do Estado, que tinha como objetivo desburocratizar o Estado. Nesse período,
já se indicava o público não estatal. A estratégia para descentralizar serviços públicos
foi a criação de novos tipos de organizações, que receberam nomes variados,
dependendo da finalidade a que se destinam: agência autônoma, organização social,
agência executiva, fundação de serviços públicos, agência pública. Para Bresser
Pereira (1997, p. 67), o público não estatal está além da propriedade privada e da
propriedade estatal existentes no capitalismo.
[...] se definirmos como público aquilo que está voltado para o
interesse geral, e como privado aquilo que é voltado para o interesse
de indivíduos e suas famílias, está claro que o público não pode ser
limitado ao estatal, e que fundações e associações sem fins lucrativos
e não voltadas para a defesa de interesses corporativos, mas para o
interesse geral, não podem ser consideradas privadas. [...] Na verdade
são entidades públicas não estatais, ou seja, são entidades sem fins
lucrativos, são organizações não governamentais, organizações
voluntárias (BRESSER PEREIRA, 1997, p. 67).

4
O molde comum a todas essas designações é a de organização não estatal,
nem privada, sem fins lucrativos, cuja finalidade é a de executar serviços de interesse
público, de natureza concorrencial, com financiamento público e métodos de
funcionamento do setor privado (MORALES, 1998). Dessa forma, ao longo dos anos,
foi se recriando um espaço público não estatal, que é um espaço e ambiente para a
proliferação do empreendedorismo e de seus desdobramentos. Essa forma de
conceber o público não estatal traz implicações nas mais diversas esferas da vida em
sociedade, passando da esfera dos direitos do cidadão para a prestação de serviços
sociais (PUELLO-SOCARRÁS, 2008a, p. 17). No caso da educação, ela é oferecida
à população, mas não necessariamente quem a executa é o Estado, o que permite
que outras instituições, como as do terceiro setor: OSs, institutos, fundações e
associações, ofereçam esse serviço através da terceirização, de parcerias, de
contratos, de vouchers ou de outras variações. Além disso, o Estado terceiriza a
política, a execução da política e o conteúdo da proposta educacional ao adquirir todo
tipo de produto vinculado a essas instituições.
O enfoque de Estado Empresarial se constitui como uma reordenação às
transformações do neoliberalismo a partir

do novo papel do Estado como facilitador de negócios na criação de


espaços públicos não estatais, com a regressão de políticas sociais e
o avanço de medidas que se direcionam a uma suposta liberdade
econômica (ABDALA; SOCORRAZ, 2019, p. 24).

A Administração Pública, fruto das reformas gerenciais e do gerencialismo


(NEWMAN; CLARK, 2012), é compreendida como “[...] simples gestora da rede de
contratos promovidos pelos governos em função da iniciativa privada e dos mercados
nos quais busca garantir eficiência e eficácia, quer dizer, situações de lucro em
particular e de acumulação de capital em geral” (ABDALA; SOCORRAZ, 2019, p. 24).
Osborne e Gaebler (1994, p. 25), no livro clássico, Reinventando o Governo3: como o

3
Foi um clássico nos anos 1990 e inspirou o governo Bill Clinton nos EUA. Os autores utilizam o termo
governo empreendedor para descrever o modelo emergente de gestão pública. O conceito básico
utilizado é o cunhado pelo economista francês J. B. Say, por volta do ano 1800. O empreendedor,
segundo esse conceito, é aquele que transfere recursos de áreas em declínio e os investe em áreas
de alta produtividade e de grande retorno. Ainda acrescentam os autores - é aquele que, conforme
demonstrou, mais tarde, Peter Drucker, mais do que ser capaz de vislumbrar oportunidades. Quando
se fala em empreendedores públicos, dizem os autores, está se falando precisamente de pessoas e
instituições que habitualmente agem desta maneira: utilizam constantemente seus recursos de maneira
inovadora a fim de elevar sua eficiência e efetividade.

5
espírito empreendedor está transformando o setor público, já traziam o ideário de
transformar burocracias públicas em governos empreendedores, produtivos e
eficientes, visto que isso tem uma relação estreita com a dúvida do cidadão sobre a
capacidade do Estado em administrar a sociedade e satisfazer suas crescentes
necessidades sociais. Conforme Machado (2001), Osborne destacou alguns
princípios básicos a serem seguidos por um governo empreendedor:

ser um governo catalisador; ser um governo competitivo; ser um


governo inspirado em missões; ser um governo orientado para
resultados; ser um governo voltado para os clientes; ser um governo
empreendedor, isto é, que ganha dinheiro com a venda de serviços
públicos eficientes, em vez de só gastá-los; ser um governo orientado
para o mercado, que usa mecanismos do mercado para oferecer
serviços públicos (MACHADO, 2001, p. 9).

O autor destaca que a essência do novo modelo de governo empreendedor é,


justamente, conseguir implementar mudanças com eficiência, eficácia e efetividade.
Em outras palavras, podemos dizer que elementos são trazidos da gestão privada
para a gestão pública. Para Osborne e Gaebler (1994), o perfil requerido das
organizações, inclusive dos governos, na era da informação, são organizações
enxutas, flexíveis, que trabalhem basicamente em parcerias voltadas às necessidades
do cliente, inovadoras e em permanente evolução, o que cria o argumento de
desburocratização e de qualidade para o setor público, na medida que se aproximam
com o setor privado.
A continuidade e o aprofundamento das reformas trazem transformações para
o indivíduo, que deixa de ser visto como cidadão e passa a ser compreendido como
cliente e, mais recentemente, como um usuário, que deve ser satisfeito em suas
necessidades não pelo Estado, mas por meio de mecanismos de mercado, embora,
muitas vezes, a empresa prestadora de serviços atue em função pública, como as
escolas e as instituições de ensino superior. Tal função do Estado facilita os negócios,
atuando para corrigir as falhas do mercado. Em outras palavras, o Estado atua por
meio de seu aparato de gestão para ajudar as empresas a operar e prosperar, criando
um ambiente propício ao lucro.

6
O gerencialismo e o projeto neoliberal

O gerencialismo é “[...] a matriz teórico-ideológica que oferece o suporte


operacional para o avanço do projeto neoliberal” (ABDALA; SOCARRAZ, 2019, p. 33),
ao adaptar a gestão pública para a nova era neoliberal. Essa adaptação ocorre através
da utilização de ferramentas gerenciais provenientes da administração privada e tem
como objetivo construir uma gestão empreendedora, para tornar o mercado como a
referência para todas as instâncias da vida social, política e econômica. Para os
autores,

La Administración pública bajo esta versión debería ser comprendida


progresivamente como una estructura gestora de redes de contratos
no gubernamentales respaldados funcionalmente por gobiernos
estatales, con el propósito de garantizar la eficiencia y eficacia, de los
mismos. Una de las expresiones elocuentes de los nuevos principios
operativos del Estado contractual empresarial (en síntesis:
“emprendedor”) se resume en el tránsito desde la privatización del
siglo XX hacia la desprivatización del siglo XXI, la cual se concreta en
diferentes instrumentos, entre los más conocidos: las alianzas público-
privadas. (ABDALA; SOCARRAZ, 2019, p. 33).

A parceria público-privada é um dos instrumentos operativos do gerencialismo


e do Estado empreendedor e passa a ser uma demanda lucrativa para o setor
empresarial ligado ao capital. O motivo é fundamentalmente político-ideológico, pois,
“[…] ao retirar e esvaziar a dimensão de direito universal do cidadão quanto a políticas
sociais de qualidade, cria uma cultura de autoculpa pelas mazelas que afetam a
população e de autoajuda e ajuda mútua para seu enfrentamento” (MONTAÑO, 2010,
p. 23).
Clarke e Newman (1997) abordam que o gerencialismo deve ser entendido
como um conjunto de elementos culturais e ideológicos que vão se tornando
hegemônicos a partir da crise dos anos 1970 e tem como resultado um profundo
reordenamento na esfera político-jurídica de regulação social. Um novo vocabulário é
adotado no setor público, como: transparência, responsabilização, eficiência, eficácia,
flexibilidade, qualidade e qualificação, e eles se tornam predominantes nos discursos
oficiais, nos meios de comunicação, nas instituições públicas e na sociedade como
um todo. Sob o gerencialismo, mesmo quando os serviços públicos não são
totalmente privatizados, exige-se que tenham um desempenho como se estivessem

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em um mercado competitivo e se tornassem semelhantes a um negócio. O resultado
é a introdução e a difusão de uma nova lógica que privilegia a economia e a eficiência
acima dos direitos democraticamente constituídos.
O neoliberalismo contemporâneo é construído em torno do princípio de
despolitização. Para os neoliberais, problemas da sociedade, dinâmicas públicas e as
tensões e conflitos sociais devem ser considerados sob uma perspectiva individualista
no mercado, descartando as questões sociais e o interesse coletivo.
Entre o deslocamento da concepção de homem econômico em direção ao
conceito de homem empresário/empreendedor, está o empreendedorismo, que passa
a ser a chave de interpretação das questões econômicas atuais, situação explicada
em grande parte pelas novas condições das economias e sociedades mundiais. Para
Puello Socarraz (2010 p. 16) “[…] o empresário/empreendedor passa a ser uma
demanda epistemológica, ideológica e política que gera uma compreensão muito mais
funcional e ajustada da fase de capitalismo avançado” e, sobretudo, sintetiza as
categorias necessárias ao neoliberalismo, pois permite absorver e enfrentar a
complexidade entre as realidades econômicas, políticas e sociais contemporâneas,
que não existiam no passado.
O homem passa a ser entendido como um empresário, um empresário de si
mesmo (DARDOT; LAVAL, 2016). Seu próprio capital, seu próprio produtor, a sua
própria renda, responsável pelo seu sucesso ou fracasso. Então, ele continua
reforçando o individualismo, que é central no neoliberalismo (PUELLO-SOCARRÁZ,
2010). No papel de empresários de si, eles inovam e propiciam novas combinações
entre Estado, Trabalho e Capital e se posicionam como um terceiro fator para a
dinâmica do sistema.
Temos abordado essas características como um novo ethos (COSTA;
CAETANO, 2021) que vem sendo introduzido na sociedade como um todo e contribui
com suas estratégias para a mudança do conteúdo social e educacional, isto é, uma
nova lógica neoliberal, em que a sociedade passa a ser concebida como um mercado,
no qual cada sujeito é uma empresa que está em contínua concorrência. Portanto, ela
passa a ser a mediadora de todas as relações sociais: “[...] o homem neoliberal é o
homem competitivo” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 322). A competição se introjeta até
na esfera da subjetividade dos indivíduos. A vida passa a ser vista como um capital a

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ser continuamente valorizado, na qual o indivíduo é empreendedor de si mesmo
(DARDOT; LAVAL, 2016, p. 322).

Gerencialismo educacional e propostas para América Latina

No campo das políticas públicas de educação, o projeto neoliberal vem


atacando o sentido histórico da educação e da escola pública, visando a revisão de
sua função social a partir de uma gestão empreendedora voltada às parcerias público-
privadas e/ou com a gestão empresarial, caracterizada, entre outros, pela gestão para
resultados em que os fins são priorizados em relação aos meios.
A constituição da escola neoliberal é um dos fatores decisivos no processo de
construção da sociedade empresarial, porque a educação se coloca a serviço da
competitividade econômica como investimento no capital humano. Essa escola “[…] é
apresentada idealmente, como o lugar de todas as inovações, da mudança
permanente, da adaptação contínua às variações da demanda do mercado, da busca
de excelência, da falha zero” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 330) – o que discordamos,
porque essa não é a função social da escola. Concordamos com Saviani (1980) que
a função social da escola passa pela garantia do acesso ao conhecimento
historicamente produzido e acumulado pelos homens, munindo a classe trabalhadora
de conhecimentos aprofundados, “que lhes permitam tomar a educação como
fundamento e compreender a realidade humana, a fim de poder intervir na realidade,
transformando-a” (SAVIANI, 1980, p. 52).
Frigotto (1984), ao fazer a crítica da Teoria do Capital Humano, diz que a escola
passa a ter certa produtividade para o capital ao ser improdutiva. Para a classe
trabalhadora, ela gera formas de reprodução do capital e mão de obra barata
justificada pela escolarização deficitária para os parâmetros exigidos pelo capital. Em
termos educacionais, é o resultado de uma “[...] multiplicidade de processos
heterogêneos” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 33-34), em que ela passa a servir na
formação desse novo sujeito, não mais cidadãos, mas consumidores, de modo a
naturalizar as regras do jogo e a se adaptar à nova realidade do
Estado/empresarial/empreendedor, na qual previdência, saúde, educação e lazer são
produtos que os consumidores têm a liberdade de escolher e adquirir, além de

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conviver com o desemprego permanente e com a precarização das relações de
produção e das relações sociais de produção.
A naturalização do risco, a responsabilização individual pelas consequências
de suas escolhas e a transformação dos indivíduos em sujeitos empreendedores de
si, que estão em contínua competição e concorrência com os demais sujeitos, são
facetas dessa nova sociedade. Em contrapartida, essa mesma sociedade exige que
o sujeito se supere continuamente, seja flexível para acompanhar as mudanças
impostas pelo mercado, adapte-se às contínuas variações da demanda e assuma
sempre os riscos. A naturalização da lógica da eliminação dos mais fracos e inaptos
e a uberização das relações de trabalho, com a flexibilização, são exemplos dessa
nova sociedade.
Em relação à educação, as diferentes formas de privatização a partir do público
não estatal modifica o sentido do saber, das instituições transmissoras dos valores e
dos conhecimentos e as próprias relações sociais. O objetivo, agora, é formar um novo
sujeito, tendo por objetivo sua formação de empreendedor pautada na concorrência.
A outra face do gerencialismo educacional é a minimização dos seus custos
consentidos pelos orçamentos públicos, bem como a transferência de vários de seus
encargos para instituições não governamentais, como fundações, associações e
institutos de todo tipo. Todas essas modificações devem ser rentáveis, pois a escola,
agora, destina-se à satisfação das empresas que se utilizam do capital humano. Para
tal intento, as reformas educacionais globais — e em particular no Brasil — contam
com a reorganização de currículos padronizados, com os sistemas internacionais de
avaliação, além dos programas altamente estruturados que resultam dessas
modificações, como planos de aulas, formação de professores e programas para o
ensino, incluindo livros didáticos, softwares e material pedagógico. São fundações e
institutos que disputam a gestão e o conteúdo educacional como Fundação Lemann,
Instituto Ayrton Senna, Fundação Itaú Social, Instituto Unibanco, Instituto Positivo,
entre outros.
As reformas baseadas nas alterações curriculares negam o que está no
princípio da educação pública, ou seja, negam a apropriação universal dos
conhecimentos necessários aos estudantes, pois retiram disciplinas fundamentais
para a compreensão do complexo mundo em que vivemos e criam outras, como o
empreendedorismo, educação financeira, cultura maker, projeto de vida e

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competências socioemocionais, em busca da melhoria da produtividade econômica e
não da qualidade do ensino, inclusive sem consulta aos docentes e estudantes. Em
consequência, tem-se a padronização dos objetivos e dos controles, a
descentralização, o gerenciamento educativo, a formação dos docentes, que conta
com a direção e execução de instituições privadas em parcerias com o setor público
nessa nova dinâmica, ou seja, um gerencialismo pedagógico.

Atuação da REDUCA- Rede Latino-Americana de Organizações da Sociedade


Civil pela Educação na América Latina

Ao mesmo tempo em que diversos setores sociais propõem a busca pela


ampliação do direito à educação na América Latina, fundamentalmente defendido por
grupos progressistas que argumentam em prol de uma educação pública de qualidade
e inclusiva, os organismos internacionais também defendem objetivos diversos.
Portanto, a educação pública é um espaço altamente disputado por diferentes grupos
com diferentes pontos de vista e com diferentes interesses. Essas agências
internacionais concentram seu interesse em promover a emergência de uma agenda
política, social e econômica neoliberal enquadrada nos interesses do capital global.
Fruto dessa influência, diferentes países estão reformando seus sistemas
educacionais, alinhando-os aos interesses do mercado por meio de associações,
terceirizações e outros mecanismos de cooptação do público.
As “parcerias” público-privadas com corporações nacionais e transnacionais
partem do pressuposto de que o Estado não pode solucionar os problemas e desafios
atuais da educação. Isso assenta-se na suposição de que os países não conseguem
resolver os problemas atuais. Com a adoção da Agenda 2030 e seus Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável, os governos atribuíram um papel de liderança ao setor
privado, para alcançar os novos objetivos e, principalmente, para preencher a lacuna
de financiamento para alcançá-los.
Fruto das ofensivas do capital e da nova ofensiva neoliberal, em que o Estado
não desaparece, mas torna-se empreendedor para o mercado em detrimento das
políticas sociais, concordamos com a análise de Chesnais (2005, p. 18) em que é dito
que

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Somente na vulgata neoliberal o Estado é exterior ao mercado. Sem a
ajuda ativa dos Estados, as empresas transnacionais e os investidores
financeiros institucionais não teriam alcançado as posições
dominantes que hoje possuem [...] a grande liberdade de ação da qual
elas gozam no plano doméstico e a mobilidade internacional [...]
necessitaram numerosas medidas legislativas e regulamentares.

Nesse caso, entram na disputa pela educação pública instituições privadas,


com ou sem fins lucrativos — Organizações Não Governamentais (ONG) e
Organizações da Sociedade Civil (OSC) — através de associações, fundações e
institutos, atuando por dentro do próprio setor público de educação.
As parcerias com o setor privado e/ou ONGs são consideradas pragmáticas,
voltadas para soluções flexíveis, eficientes e não burocráticas, atributos ausentes em
projetos e processos puramente intergovernamentais (SEITZ; MARTENS, 2017).
Nesse sentido, o Estado e as organizações internacionais redefinem as suas formas
de atuação em relação ao público, entendendo como necessária a aproximação com
as instituições privadas para atingir os seus objetivos e metas, com isso, afasta-se
cada vez mais da prestação de serviços ao público.
No contexto das propostas globais para a educação, Ball e Youdell (2008)
abordam outras formas de participação do setor privado nos processos decisórios da
política educacional, que chamam de privatização da política, que vem ocorrendo ao
longo das últimas décadas com a formação de redes globais e a participação especial
do setor privado (BALL, 2014). É nesse contexto que as políticas educativas se tornam
cada vez mais globais, em vez de locais ou nacionais, e constituem parte daquilo que
Dale (2004) chama de Globally Structured Agenda for Education (GERM),
caracterizadas também como reformais gerenciais na educação, em que o sistema
educativo está a serviço da competividade econômica, estruturado como mercado e
deve ser gerido ao modo de empresas (LAVAL, 2014).
Devido à importância da análise das relações público-privadas e da análise das
redes educacionais na América Latina, destacamos a influência das redes na
educação pública (PERONI, 2015; CAETANO, 2016). Peroni (2015, p. 26) adverte que
“[…] as redes não são abstrações”. Elas “[…] são formadas e operadas por sujeitos
individuais e coletivos em um projeto de classe e são parte de uma ofensiva histórica
do capital neste período particular do capitalismo” (PERONI, 2015, p. 26).

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Nesse novo cenário em que surgem novas ideias de liderança da chamada
sociedade civil, a participação de empresários e de novos filantropos tem se ampliado,
pois as redes ligadas ao setor privado e às ONGs têm crescido além-fronteiras. A
Rede Latino-Americana de Organizações da Sociedade Civil pela Educação é uma
rede formada por diversos países latino-americanos cujos protagonistas são
empresários e filantropos. Ela surgiu em 2011 com apoio do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) e da Comissão de Educação da União Europeia (em 2013),
em Brasília, no dia 16 de setembro de 2011, quando os países participantes assinaram
a Declaração de Brasília, que estabeleceu a rede e seus objetivos. O site da rede
informa que seu objetivo é a troca de experiências para o desenvolvimento de projetos
em conjunto e para a construção de uma voz de mobilização regional e de incidência
em políticas públicas, buscando propor soluções para os principais desafios
educacionais de cada país. Fazem parte da Reduca organizações da Argentina,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México,
Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru e República Dominicana.

Quadro 1 – Apresentação dos países membros e caracterização da REDUCA


Pais Nome institucional Como se apresentam
BRASIL Todos pela Educação Organização da sociedade civil sem
lucrativos financiado por recursos privados
ARGENTINA Projeto Educar 2050 Organização da sociedade civil sem
lucrativos
CHILE Educação 2020 Organização da sociedade civil
PERU Associação Empresários Associação civil sem fins lucrativos,
pela Educação formada por empresários, empresas e
formadores de opinião.
URUGUAI Reaching-U Organização sem fins lucrativos. Fundada
em 2001 nos Estados Unidos,
REPUBLICA Educa-Ação Empresarial Organização privada sem fins lucrativos
DOMINICANA pela Educação criada por empresários.
EL SALVADOR Fundação Empresarial para Organização privada sem fins lucrativos.
o desenvolvimento
Educacional
GUATEMALA Empresários pela Educação Organização não governamental criada e
dirigida por empresários.
HONDURAS Fundação para Educação Fundação sem fins lucrativos
Ernesto Maduro Andreu
MÉXICO Mexicanos Primeiro Organização cidadã e plural que recebe
doações de empresários.
NICARAGUA Fórum de Educação da Organização privada sem fins lucrativos,
Nicarágua – Eduquemos criada por um grupo de empresários e
educadores.
PANAMÁ Unidos pela Educação Organização privada sem fins lucrativos,
criada e dirigida por empreendedores.

13
PARAGUAI Juntos pela Educação organização sem fins lucrativos
organizada por empresários
COLOMBIA Fundação Empresários pela Organização não governamental criada e
Educação dirigida por empresários.
EQUADOR Grupo Faro Centro independente de pesquisa e ação
que gera evidências e implementa
iniciativas para influenciar políticas
públicas
COSTA RICA Fundação Omar Dengo Entidade privada sem fins lucrativos
Fonte: Organizado pela autora, 2023.

Rodrigo Lamosa, em publicação (2017, p. 7), apresenta que a “Reduca difunde


entre seus associados o formato forjado pelo movimento Todos pela Educação no
Brasil, compreendido enquanto exemplo exitoso de atuação empresarial na
educação”. Na mesma publicação, Lamosa constata que os membros da Reduca
possuem algumas características em comum:

1) uma organização administrativa muito similar (assembleia geral que


reúne os sócios, uma junta diretiva, um conselho superior, um
conselho assessor, além de comitês para assuntos específicos); 2)
Produção de agendas de longo prazo (No Brasil, por exemplo, a data
de 2022 foi eleita como marco histórico, no Chile este marco foi
definido para 2020 e na Argentina para 2050); 3) Apoio às Parcerias
Público-Privadas; 4) Valorização de programas de inserção do
trabalho voluntário em políticas de garantia do direito à educação; 5)
Demarcam sua separação com o governo e com o mercado, definindo-
se como parte de um “Terceiro setor” ou de uma “Sociedade Civil” que
é a expressão da cidadania, enunciam uma origem “apartidária”; 6)
Trabalho estreito com a imprensa, incluindo entre seus associados
grandes empresas de comunicação (como por exemplo no Brasil em
relação as empresas do grupo Roberto Marinho e no México, onde a
Televisa é um dos associados do movimento “Mexicanos Primeiro”);
7) Assumem estatuto de especialistas (“Think Thanks”),
apresentando-se como especialistas nas reformas educacionais em
seus países. (LAMOSA, 2017, p. 7).

O modus operandi da atuação dos membros da Reduca é muito semelhante e


passa pela atuação em influenciar as políticas públicas, os programas e as ações que
oferecem aos governos e instituições nos países em que atuam. Pronunciam-se
através de posicionamentos públicos como no Encontro Mundial de Educação para
Todos (GEM) promovido pela UNESCO, realizado em Omán, em 2014, ou na Cúpula
das Américas em 2015 (REDUCA, 2017; 2015).

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No Brasil, o Todos pela Educação lançou, em 2022, o ‘Educação Já’4: uma
agenda para o Brasil por ocasião das eleições de 2022. Sua intenção é pautar a “[…]
agenda educacional brasileira nos próximos 10 anos”, tendo em vista que o PNE
vigente expira em 2024 (BRASIL, 2014–2024), conforme Akkari e Evangelista (2022,
s.p). Para os autores, o documento aborda quase todos os aspectos referentes à
Educação Básica, sintetizados em dez medidas “estruturais e articuladas”.
Outro indicador comum é o financiamento privado da maioria dos membros,
normalmente feito por grandes conglomerados e corporações e suas respectivas
empresas que se configuram entre associados, doadores, apoiadores, financiadores.
No entanto, o que se destaca, no interesse dos empresários e filantropos que
financiam essas redes, é o comprometimento com metas e resultados materiais que,
além de inserir propostas gerenciais que modificam a cultura da educação pública,
alinham-se à doutrina do mercado (CAETANO, RUIZ, SANTOS, 2020).
As reformas gerenciais ocorridas ao longo da história criaram espaços públicos
não estatais. Assim, o que foi elencado no Quadro 1 mostra que a maioria dos
membros da rede é constituída de associações, fundações, OSC com protagonismo
ou apoio de empresários latino-americanos, o que construiu consensos em relação à
direção da política e ao seu conteúdo. Além disso, fundações como a Lemann,
institutos como Ayrton Senna e Unibanco entre outros, trabalham com projetos
padronizados e incorporam o discurso hegemônico com elementos como
produtividade, eficiência, descentralização, competitividade e desempenho,
performatividade e accountability — como forma de responsabilização, avaliação e
prestação de contas à população.
A questão central é que, ao delegar e/ou dividir responsabilidades com
empresários e filantropos, os países latino-americanos abrem mão da sua autonomia
para construir políticas públicas verdadeiramente democráticas, com gestão
democrática e voltadas para o processo educacional de formação de cidadãos
autônomos, conforme as suas demandas e realidades.

4
Intitula-se uma produção técnico-política construída a várias mãos. O documento apresenta
contribuições para a elaboração de um plano sistêmico para a Educação Básica brasileira nas próximas
gestões federal e estaduais.

15
Considerações

No contexto da crise do capital, evidenciam-se novas formas de lidar com as


contradições entre Estado e capital com as demandas do novo processo produtivo
para controlar o conhecimento por quem domina politicamente e economicamente a
sociedade. Em relação ao papel do Estado e da gestão pública, o neoliberalismo
redefine e indica um novo papel para o Estado, recriando um espaço público não
estatal para a proliferação do empreendedorismo e de seus desdobramentos em
todas as esferas. O Estado passa a ser empreendedor para o mercado, em detrimento
das políticas sociais que atendem a maioria da população, pois o mercado é
compreendido como mais eficiente que o Estado no que diz respeito ao que é público,
incluindo a educação. Como apresentamos nesse artigo, o empresariado tem
assumido um protagonismo em relação às políticas educacionais na América Latina.
Utilizam-se da atuação em rede, de processos padronizados, responsabilização,
avaliação como forma de prestação de contas à população. Utilizam-se ainda da
construção de consensos em torno do projeto hegemônico do capital.
Para o capital, é estratégico o esvaziamento do Estado como esfera promotora
de acesso aos direitos políticos e sociais, porque isso promove o mercado como
solução para os problemas sociais. Mas o capital não quer um Estado fraco, ele quer,
na verdade, um Estado empreendedor, para que possa maximizar seus lucros através
dele.
A educação passa a ser um dos projetos mais ambiciosos a ser disputado pelos
representantes do capital. As políticas educacionais decorrentes das atuais reformas
são exemplos da dinâmica da agenda do capital, que visa criar situações de
concorrência e desenvolver medidas de desempenho, cujo efeito é modificar a
conduta dos indivíduos, mudar sua relação com as instituições e, mais precisamente,
transformá-los em consumidores e empreendedores. Portanto, concordamos com
Mészáros (2005, p. 47) que diz “[...] romper com a lógica do capital na área da
educação equivale, portanto, a substituir as formas onipresentes e profundamente
enraizadas de internalização mistificadora por uma alternativa concreta abrangente”.

16
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