Historia
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Localização
A insurreição de 1693 levou os portugueses a refugiarem se em Tete, Sena e Quelimane, mais
tarde o sistema de prazos foi alargado para norte de Zambeze nomeadamente para os territórios
do Estado de Cheua dos Undi.
O Prazo moçambicano apenas praticado nas jurisdições de Quelimane, Sofala, Sena e Tete,
resulta da combinação das sesmarias do reino com as mercês nupciais por três vidas feitas
na Índia. [História de Moçambique, p. 10]
Prazos
Eram unidades políticas onde a classe dominante era formada por mercadores portugueses
estabelecidos como proprietários de Terras, terras essas que tinham sido doadas, compradas
e até mesmo conquistadas aos chefes locais. Ou por outra, eram territórios concedidos por
um período de três gerações aos mercadores portugueses e indianos. A administração era
transmitida aos descendentes, mas deveria ser seguida a linha de sucessão matrilinear. Isto é,
seria a mulher a garantir a sucesso.
Portugal ao criar os prazos pretendia criar bases para uma ocupação efectiva de Moçambique
garantindo a montagem da administração colonial. Porém, os prazos que muitos historiadores
pretendiam ver como a primeira forma de colonização portuguesa em Moçambique e
particularmente no vale do Zambeze, acabaram sendo essencialmente bolsas de escoamento
de mercadorias (ouro, marfim numa primeira fase e de escravos numa segunda fase) que
aproveitaram o rio Zambeze como via natural.
O nome prazo veio do conteúdo dos contratos que a Coroa fazia com os seus mercadores. O
termo prazo aparece no século XVII, quando os Portugueses começaram a receber do vice-
rei da Índia (em nome do rei de Portugal), por um prazo de tempo (1, 2 ou mais vidas ou
gerações). Aos recebedores de um prazo chama-se prazeiros.
Os prazos da Coroa surgem como propriedades estatais, sujeitas a uma renda anual em ouro
e constituíam uma verdadeira estrutura militar do capital mercantil. Estas unidades políticas
caracterizavam-se cultural e politicamente por assentarem na base de raízes da tradição
cultural africana, adaptadas aos interesses administrativos comerciais da época.
Formação
Os prazos remontam ao século XVI e terminaram definitivamente só na década de 30 do
século XX.
Ao surgirem os prazos (que não foram uma criação regia portuguesa, mas o simples
reflexo no sertão da faina de mercadores particulares), a coroa pretendeu nacionaliza-los
outorgando-lhes um estatuto legal e atribuindo aos prazeiros a obrigação de pagarem
foros. Quer dizer Portugal pretendeu dar aos prazos do vale de Zambeze o estatuto dos
feudos portugueses e a natureza da estrutura feudal que dominava a sociedade.
A tentativa teve sempre pouco êxito, primeiro que a forca administrativo-militar era fraca e
segundo, porque quem mandava e impunha a lei no vale do Zambeze eram os prazeiros.
A origem
A origem dos Prazos pode remontar a penetração portuguesa no vale do Zambeze, entre
Quelimane e Zumbo (uma zona da actual província de Tete), que se verificou desde meados
do século XVI quando, de forma espontânea, homens do reino se aventuraram legal ou
ilegalmente no comércio. No entanto, só depois de 1618, com a regulamentação da lei
sobre concessão de terras, é que a Coroa portuguesa iniciou o processo de reconhecimento
dos privilégios e direitos destes primeiros ocupantes portugueses, passando a designá-los de
“Prazos da Coroa”. A Coroa portuguesa reconhecia por um prazo determinado a posse da
terra ocupada a quem a legalizasse, qualquer que tivesse sido a forma da sua obtenção.
No entanto atualmente existem outras opiniões diferentes sobre a origem desta instituição,
apontando-a como sendo:
a) De origem árabe (tese defendida por Oliveira Martins e pero Alvares)
b) De origem portuguesa, com ou sem influencia da Índia (tese defendida por lobato e
Papagno)
c) Um processo de substituição, através da conquista da conquista aos africanos- tese
do trespasse (tese defendida por Ernesto de Vilhena e Fitz Hoppe).
As autoridades portuguesas de Lisboa, ao instituírem o sistema de prazos, pretendiam
implantar a dominação colonial em Moçambique com o incremento do povoamento branco,
numa tentativa de ocupar efectivamente os territórios coloniais.
A organização político-administrativa
A organização político-administrativa
Afixavam os impostos (mussoco, atributo em géneros) a serem pagos pela população
camponesa residente dentro dos prazos e seus arredores;
condenavam a morte por enforcamento e aplicavam chicotadas e palmatoadas a todos os
que se recusavam a acatar as suas leis;
tinham a sua própria força militar, formada sobretudo por escravos e depois mercenários.
Estrutura social
Esquematicamente, os Estados Militares apresentavam a seguinte estrutura social:
Prazeiro
A-chucunda
Mambos e fumos (Aristocracia dominante)
Comunidade aldeã (camponeses)
Para assegurar a sua reprodução como classe dominante, os senhores dos Estados Militares
promoviam uma cuidadosa politica de alianças matrimoniais com os principais reis locais e
utilizavam todo o aparato ideológico necessário.
Base Económica
O comercio do ouro e do marfim configurou a base económica dos prazos ate os finais do
seculo XVIII e ligou-os a cadeia de acumulação primitiva de capital. Isto é, os prazos
serviam, de bolsas de escoamento de mercadorias (ouro e marfim, numa primeira fase, e
escravos, depois) aproveitando as condições naturais do rio Zambeze para escoar os produtos
ate a costa litoral do indico.
A cobrança de impostos também fazia parte da componente económica dos prazos. 1/10 do
resultado da cobrança de impostos era pago à Coroa. O mussoco era o imposto mais
conhecido e consistia num pagamento em cereais.
A pilhagem era também uma actividade económica. O resultado das pilhagens feitas em
incursões militares era propriedade do prazeiro.
Comercio régio
Os portugueses usam no seculo XVII por exemplo o sistema de arrendar terras a capitães,
que tomavam a seu cargo o monopólio de compra e venda de produtos e pagavam a fazenda
real uma determinada percentagem dos lucros. Esses arrendamentos eram interpelados pela
tentativa de nacionalização, da actividade comercial a qual ficava a cargo da fazenda ou das
juntas do comercio. Tudo se tornava ineficaz na prática do ponto de vista da coroa e a maior
parte da riqueza acumulada ou era simplesmente drenada para a Índia ou ia para lisboa nos
baús dos nobres para ser sistematicamente investido em bens de raiz.
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Os prazos mais não foram do que a síntese do cruzamento de dois sistemas sociais
do produção: um, preexistente na sociedade Karanga-Chona, com dois níveis, o dos
camponeses das mussas, vivendo num regime do relativa autarcia, e o da aristocracia
dominante, formada pelos mambos e pelos fumos; o outro sistema, quo se sobrepõe
ao primeiro — forma especifica de sobreposição do capital mercantil a economia
natural, era formada pelos prazeiros (mercadores, ex-soldados desertados, fugitivos
que cumpriam penas de degredo), elite dominante, e por exércitos de cativos
guerreiros, os chamados A-Chicunda. [História de Moçambique, vol. I, pp. 84-85]
Aparato ideológico
Do ponto de vista ideológico, os senhores dos prazos usavam quase na totalidade as formas
nativas de invocação dos cultos. A utilização do muávi (uma beberagem toxica que se
acreditava poder mostrar a culpabilidade de alguém num determinado delito ou numa
acusação de feitiçaria), o culto aos espíritos, as cerimónias de invocação das chuvas e
outras manifestações constituíam os mecanismos que garantiam a reprodução das relações
produtivas então existentes. Os prazeiros africanizaram-se.
Tal como sucedia quando morria um mambo, também a morte de um prazeiro provocava
um período de desordem generalizado – os choriro (quem rema no fundo)
Decadência
Por volta de 1830, a maior parte dos Estados Militares estava em decadência ou tinha sido
abandonada, os prazos começam a entrar em decadência provocada por várias razões: