Os Abolicionismos Na Cidade de Goiás
Os Abolicionismos Na Cidade de Goiás
Os Abolicionismos Na Cidade de Goiás
Thiago F. Sant’Anna
da Universidade Federal de Goiás - Cidade de Goiás – Goiás – Brasil
thiagof.santanna@yahoo.com.br
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Integrada à sua política e fazendo uso dos mesmos recursos e táticas para a
conquista e permanência no poder, isto é, política dos pactos, as elites e a sociedade goiana
não estava cerrada às novidades vindas de fora e da Corte, principalmente no campo das
idéias. Com efeito, tal como nas províncias litorâneas, particularmente o Rio de Janeiro,
1 O presente trabalho é resultado de pesquisa oriundo da dissertação de mestrado “Mulheres Goianas em Ação:
práticas abolicionistas, práticas políticas (1870-1888)”, defendida em 2005, sob a orientação da Profa. Dra. Diva
do Couto Gontijo Muniz/UnB/PPGHIS, financiado pela CAPES.
2 FRAGOSO, Economia brasileira no século XIX: mais do que uma plantation escravista-exportadora. In:
LINHARES, Maria Yeda (org.). História Geral do Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1990, p. 163.
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idéias circulantes acerca do liberalismo, do republicanismo e do abolicionismo estiveram
presentes nas concepções políticas das elites goianas. Foram divulgadas na Província pelos
viajantes, pelos estudantes, nos livros e na imprensa, e pelos debates nas Câmaras e na
Assembléia Provincial. Jornais, como “A Tribuna Livre”, “O Publicador Goyano” e “Goyaz”,
disseminaram estas idéias políticas e sociais. Teriam tais instrumentos de difusão de
informações, notícias e idéias, papel preponderante no processo abolicionista? Que grupos
sociais estiveram envolvidos com a “causa” abolicionista?
3
NABUCO, Joaquim. O Abolicionismo. s.n. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; São Paulo: Publifolha, 2000, p. 18.
4MENDONÇA, Joseli Nunes. Cenas da abolição. Escravos e senhores no Parlamento e na Justiça. 1 ed. São Paulo:
Editora Fundação Perseu Abramo, 2001, p. 106-107.
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GOIÂNIA. UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS. INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS
HISTÓRICOS – BRASIL CENTRAL. Periódico “A Tribuna Livre: órgão do Club Liberal de Goyaz”. Goiás:
Typographia Provincial de Goyaz. Caderno único, p. 1-4. 16 de junho de 1881.
6 COSTA, Emília Viotti. Da senzala à Colônia. 4 ed. São Paulo: Editora da Unesp, 1998, p. 464.
7 Em São Paulo, o “Correio Paulistano”, “A Província de São Paulo”, periódicos que representavam interesses
tradicionais, possibilitavam cada vez mais espaço para as idéias da campanha abolicionista. Outros periódicos
abolicionistas foram: “Jornal do Comércio”, “A Onda”, “A Abolição”, “A Liberdade” etc. No Rio de Janeiro, surgiu
na década de 1880, “O Abolicionista” e a “Gazeta da Tarde”, dirigidos por José do Patrocínio, além de outros.
8 Neste, Félix de Bulhões era o redator e tinha como editor José do Patrocínio Marques Tocantins, liberal e
abolicionista, amigo de Rui Barbosa e do abolicionista carioca José do Patrocínio. Teve também como redatores,
no seu segundo ano, o coronel Bernardo Antônio de Faria Albernaz, responsável pela Sociedade Dramática de
Goiás, que organizava festas teatrais abolicionistas no Teatro São Joaquim, bem como o irmão de Félix de
Bulhões, José Leopoldo de Bulhões Jardim, em 1881. Dentre seus objetivos visavam “esclarecer a opinião com
independencia, condemnar ou apontar os erros das “autoridades que transgridem” os seus deveres”. Defendia a
“liberdade”, a “instrução pública” e a “civilização”, temas caros do projeto de construção de um Estado Moderno.
No número 253 de 1884, o jornal “A Tribuna Livre” finalizou suas atividades.
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“servir de órgão a todas as pessoas que tiverem necessidade de recorrer à imprensa, contanto
que se exprimam em linguagem decente”. 9
Em relação à campanha abolicionista, estes jornais adotaram procedimento similar
aos dos grandes centros, ao procurar convencer a sociedade quanto à justeza da luta
abolicionista e envolvê-la na mesma. Assim é que o “O Publicador Goyano”, de 18 de
dezembro de 1886, noticiou sobre a libertação dos escravos no Ceará. Tal assunto foi tema
do artigo “Libertação em Goyaz”, de autoria de Floriano Florambel, que respaldava a
iniciativa cearense para nomear a luta abolicionista de “grande cruzada”. 10 Também foi
veiculado nesse mesmo jornal o aviso sobre o espetáculo e a quermesse do Teatro São
Joaquim, programados para a noite de 24 de maio de 1887, sob organização de mulheres.
Nesse aviso, reiterava-se o convite aos leitores para que concorressem para a “liberdade
d’esses irmãos que ainda gemem nos ferros dos captiveiro”. O convite era construção que
incluía imagem cara aos goianos e goianas, a de Jesus Cristo: “Eia, senhoras e senhores, á
kermesse, um óbolo para a redempção do escravo, em nome de Christo!”. 11 Na interpelação à
sociedade, a imprensa usava e abusava de imagens e representações cristalizadas no
imaginário social, nesse seu apelo para a ação dos indivíduos e dos grupos, em prol da luta
social abolicionista.
9 PINA, Braz de. Goiás: história da imprensa. s.n. Goiânia: Instituto Goiano do Livro, 1971, p. 61.
10 FLORAMBEL, Floriano. Libertação em Goyaz. GOIÂNIA. UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS.
INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS HISTÓRICOS – BRASIL CENTRAL. “O Publicador Goyano:
órgao de interesses do povo”. Goiás: Typographia. Perseverança. Caderno único, p. 1-4. 18 de dezembro de 1886
11 GOIÂNIA. UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS. INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS
HISTÓRICOS – BRASIL CENTRAL. Periódico “O Publicador Goyano: órgao de interesses do povo”. Goiás:
Typographia Perseverança. Caderno único, p. 1-4. 21 de maio de 1887.
12 CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Teatro das sombras: a política
Com efeito, como assinala Lilia Moritz Schwarcz, o fundo de emancipação “teve
escassos efeitos, já que as províncias retardavam sempre o andamento dos processos”. 14
Situação igualmente identificada na Província de Goiás por Luís Palacín e Maria Augusta de
Sant’Anna Moraes, para os quais, aquela unidade do Império “recebia anualmente quotas em
dinheiro para serem aplicadas no resgate de escravos, porém sua contribuição não foi muito
grande”. 15 Mesmo com resultados aquém do esperado, não há como negar os esforços da
parte dos interessados em fazer valer as disposições da lei do fundo de emancipação, ao
enviar requerimentos e solicitar providências e agilização nos processos de alforria pelo
referido fundo.
13 Lei n 2040, de 28 de Setembro de 1871 (Lei do Ventre Livre). Ver: SENADO FEDERAL. A ABOLIÇÃO NO
PARLAMENTO: 65 ANOS DE LUTAS, 1823-1888. 2 vols. Brasília: Subsecretaria de Arquivo, 1988, p. 486.
14 SCHWARCZ, Lilia Moritz. Retrato em Branco e Negro. Jornais, escravos e cidadãos em São Paulo no final
1.º Qual o preço mínimo, medio e maximo das alforrias em cada um dos
municipios d’essa província depois da Lei de 28 de setembro de 1871,
discriminando: o das alforrias pelo fundo de emancipação; o das alforrias por
actos particulares; o das alforrias de escravos da lavoura; o das alforrias de
escrvos empregados em serviços urbanos.
2.º Qual a importancia total dos peculios com que, em cada municipio, têm
contribuido os escravos para a sua alforria.
3.º Qual a importancia dos dos peculios existentes até o dia 30 de junho
ultimo em cada um dos Municipios com discriminação do pertencente a
escravos da população urbana e do pertencente da população rural, do
deixado em mão dos senhores, do depositado em caixas economicas ou
outros estabelecimentos, e do recolhido as repartições fiscaes.
4.º Que quantias tem consignado o orçamento provincial e o municipal para
a emancipação dos escravos, e que applicação tem sido dada a essas verbas
declarando, si constar, o numero dos escravos libertados por conta da
provincia e dos municipios.
5.º Que sociedades de emancipação existiam nessa província, antes da
promulgação da Lei de 28 de setembro de 1871, quais se organisaram
posteriormente, que numero de escravos tem libertado depois d’aquella data
17 CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Teatro das sombras: a política
imperial. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003, p. 322.
18 CHALHOUB, Sidney. Visões da Liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte. 1 ed.
Fechava-se o ciclo, no sentido de que a escravidão estava cercada pela vida e pela
morte. Apesar das medidas conciliadoras, como a criação do fundo de emancipação e o
direcionamento lento e gradual da abolição, adotado pelo governo imperial no esforço de
manter o apoio da classe proprietária de terra e de escravos, a Coroa foi “esgotando seu
crédito de legitimidade perante os fazendeiros ao ferir seus interesses e o imperador ficou
sozinho em 1889, em vivo contraste com sua prematura coroação em 1840”. 22
AS SOCIEDADES EMANCIPADORAS
Com efeito, a confiança depositada no governo imperial foi sendo desconstruída por
várias iniciativas inscritas sob amparo legal como a da criação de sociedades abolicionistas.
Estas agremiações, independente das estratégias de luta adotadas, de suas práticas políticas,
tinham como objetivo comum suprimir a escravidão no país. Assim, conforme assinala Emília
Viotti da Costa, as sociedades abolicionistas, criadas a partir de 1870, “empenhavam-se,
23COSTA, Emília Viotti. Da senzala à Colônia. 4 ed. São Paulo: Editora da Unesp, 1998, p. 462.
24 Decreto n. 5.135, de 13 de novembro de de 1872. Ver: SENADO FEDERAL. A ABOLIÇÃO NO
PARLAMENTO: 65 ANOS DE LUTAS, 1823-1888. 2 vols. Brasília: Subsecretaria de Arquivo, 1988, p. 538-
539.
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Não era, por certo, a posição de alguns deputados que, no propósito de impulsionar o
processo de abolição e conferir legitimidade à associação quando deram sua contribuição
financeira à Emancipadora. Foi o caso de Aseredo, Constancio da Maya, Francisco Antonio
de Asevedo, Fleury de Amorim e André Rios que, em 7 de junho de 1879, fizeram doações à
sociedade e ainda “propuseram na Assembléa Provincial, que dos subsidios dos deputados
actuaes se fisesse uma deducção de 5 por % em favor da caixa da Sociedade Emancipadora”. 26
Tais contribuições apontam para o reconhecimento social da associação, justamente em razão
do seu alinhamento à política abolicionista do Império. Afinal, o objetivo dessas associações
consistia, sobretudo, em angariar recursos financeiros para o Fundo de Emancipação, de
modo a poder indenizar os proprietários para que a extinção do trabalho escravo se efetivasse
dentro da ordem, mesmo que desrespeitando o direito legal de propriedade.
HISTÓRICOS – BRASIL CENTRAL. Periódico “A Tribuna Livre: órgão do Club Liberal de Goyaz”. Goiás:
Typographia Provincial de Goyaz. Caderno único, p. 1-4. 7 de junho de 1879.
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desejando “concorrer” para a “generoza crusada da emancipação dos escravos”, consignou 3%
mensais dos seus vencimentos “para serem pagos directamente pela Thesouraria Provincial á
Commissão executiva do Centro Abolicionista Goyano” 27. Observa-se o recurso do apelo a
imagens caras ao imaginário da época, como a “crusada da emancipação” que remete à
“cruzada cristã”, reiterando o sentido humanitário da campanha abolicionista. Tal
construção, ao recorrer à solidariedade cristã, ampliava a oportunidade de adesões, como um
movimento amplo, geral e irrestrito, sem coloração partidária. Aumentava, enfim, suas
possibilidades quanto às doações particulares. Com efeito, a atuação abolicionista das
sociedades foi vitoriosa para o que se propôs, pois, ao associar a luta social às imagens caras à
tradição cristã, ampliou adesões à causa.
27
GOIÂNIA. ARQUIVO HISTÓRICO ESTADUAL DE GOIÁS. Sala de Documentação Avulsa. Caixa-
Arquivo 0371. Ano de 1887. Pacote de Requerimentos Diversos.
28 SILVA, Martiniano José. Quilombos do Brasil Central: Violência e Resistência Escrava. 1ª. edição. Goiânia:
alforriou a “sua única escrava de nome Rita”, sem ônus algum. 30 Seu ato dá visibilidade à
atuação de um membro do clero em defesa do abolicionismo, haja vista o apelo aos
sentimentos cristãos presentes nos discursos da campanha. Invariavelmente, o tema da
liberdade era ressaltado e associado à religião e à história, como direito que deveriam
“cultivar a frondosa arvore da liberdade que foi regada com o sangue de tantos martyres,
como afirma o (sic) história de todos os povos”, sendo, assim, “companheira da religião” já
que “ambas nasceram do alto da Cruz”. 31 Em outros artigos publicados no mesmo jornal, um
“catholico abolicionista” assinalava que a Igreja atuava na condução do processo pelo fim da
escravidão, “sem todavia derramar sangue, sem commeter injustiças sem mentir e sem fazer
bonito á custa alheia”, ou seja, “não pela revolução, mas pela prudência e pela caridade”. 32
Não há como negar que a consonância entre a atuação da igreja e a política abolicionista
imperial reforçava a legitimação social da luta abolicionista, que resultava na ampliação do
envolvimento da sociedade.
HISTÓRICOS – BRASIL CENTRAL. Periódico “O Publicador Goyano: órgao de interesses do povo”. Goiás:
Typographia Perseverança. Caderno único, p. 1-4. 16 de julho de 1887.
32 GOIÂNIA. UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS. INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS
HISTÓRICOS – BRASIL CENTRAL. Periódico “O Publicador Goyano: órgao de interesses do povo”. Goiás:
Typographia Perseverança. Caderno único, p. 1-4. 21 de maio de 1887.
33 GOIÂNIA. UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS. INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS
HISTÓRICOS – BRASIL CENTRAL. Periódico “O Publicador Goyano: órgao de interesses do povo”. Goiás:
Typographia Perseverança. Caderno único, p. 1-4. 12 de março de 1887.
34 COSTA, Emília Viotti. Da Monarquia à República. 7 ed. São Paulo: Editora da Unesp, 1999, p. 419.
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virtude do descontentamento crescente dos militares em relação ao tratamento que lhes
dispensava o governo”, que teria sido acirrado após a Guerra do Paraguai. 35 Entende-se,
assim, também o seu apoio à causa abolicionista e a recusa do Exército em perseguir escravos
que fugiam. Assim, a fundação de uma sociedade abolicionista militar “pelos officiaes da
guarnição da capital” 36, em Goiás, em homenagem ao término da Guerra do Paraguai, era
uma forma de explicitar seu engajamento na Campanha.
HISTÓRICOS – BRASIL CENTRAL. Periódico “Goyaz: orgam democrático”. Goiás: Typographia Provincial de
Goyaz. Caderno único, p. 1-4. 14 de outubro de 1887.
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Publicador Goyano”. Tal ato inaugural teve seus efeitos. Um deles foi a demissão de João
Bonifácio Gomes da Siqueira do cargo de Inspetor Geral da Instrução Pública. Segundo
Nancy Ribeiro de Araújo e Silva, este “viu-se forçado a demitir-se, em razão de ter permitido
que a Sociedade Abolicionista Preparatoriana realizasse uma sessão magna numa das salas
do Liceu”. 39 Seu gesto foi acusado de “subversivo”, o que o colocava como indigno da
confiança do Presidente da Província, posição desconfortável que o levou a demitir-se, antes
de ser demitido. De acordo com a autora, Bonifácio afirmou não ser abolicionista, mas
compreendia não poder “impedir os alunos de promoverem manifestações a favor do
abolicionismo, desde que se pautassem dentro de justos limites”. 40
39 SILVA, Nancy Ribeiro de Araújo. Tradição e Renovação Educacional em Goiás. s.n. Goiânia: Oriente, 1975,
p. 70.
40 Ibidem, ibidem, p. 70.
41 MORAES, Maria Augusta Sant’Anna. História de uma oligarquia: os Bulhões. Goiânia, Oriente, 1974, p. 85.
42 Joaquim Carvalho Ferreira em uma reunião de narrativas sobre os presidentes de Goiás, do período imperial
ao fim do Estado Novo, afirmou que “jamais um presidente sofreu tantas e tamanhas hostilidades, como as que
experimentou o presidente Luiz Silveira Alves Lima” (13/08/1886 – 20/10/1887) devido ao fato de os
partidos, liberal e conservador, estarem envolvidos em lutas partidárias e envolvendo as autoridades. Ver:
FERREIRA, Joaquim Carvalho. Presidentes e Governadores de Goiás. edição póstuma. Goiânia: Editora da UFG,
1980. (Coleção Documentos Goianos), p. 59.
Élisée, Rev. Geo. UEG – Anápolis, v.2, n.2, p.92-107, jul./dez. 2013 Artigo| 105
Câmaras”. 43 A partir deste período, sobretudo na década de 1880, o movimento abolicionista
alargou-se e passou a incorporar em suas fileiras, outros grupos sociais, outras categorias
raciais e de gênero, envolvendo homens e mulheres, livres, proprietários ou não, bem como
escravos e libertos.
Não resta dúvida de que a imprensa, bem como outras experiências como as das
associações abolicionistas, politizavam a questão do trabalho escravo, ao articular com as
questões sociais do seu tempo. Com tal propósito, difundia as idéias antiescravistas no intuito
de convencer a sociedade quanto à pertinência das mesmas e, assim, imprimir os rumos do
processo segundo o sistema de idéias, de valores, imagens, normas e significações que
deveria presidir a formação da nação brasileira.
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Abstract: This article aims to give visibility to the specific and pluradidades of
abolitionism in the city of Goiás in the nineteenth century through their
experiences. Politicians, republicans, liberals, conservatives, freemasons, poets,
women and slaves helped to build experience in abolitionist Goiás. Far from being a
practice restricted to the parliamentary debates, the abolitionism were involved in
social experiences. It is worth noting the presence of emancipatory Goiana Society,
43 CARVALHO, José Murilo de. Com o coração nos lábios. In: PATROCÍNIO, José do. Campanha
Abolicionista: coletânea de artigos. Edição comemorativa do tricentenário de Zumbi dos Palmares. Rio de
Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Departamento Nacional do Livro, 1996, p. 11.
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the newspaper “A Tribuna Livre” and “O Publicador Goyano”, of women and slaves,
which marked the abolitionism activities in the City of Goiás.
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REFERÊNCIAS
CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Teatro das
sombras: a política imperial. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003.
CARVALHO, José Murilo de. Com o coração nos lábios. In: PATROCÍNIO, José do.
Campanha Abolicionista: coletânea de artigos. Edição comemorativa do tricentenário de
Zumbi dos Palmares. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Departamento Nacional
do Livro, 1996.
CHALHOUB, Sidney. Visões da Liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão
na corte. 1 ed. São Paulo, Companhia das Letras, 1990.
COSTA, Emília Viotti. Da Monarquia à República. 7 ed. São Paulo: Editora da Unesp, 1999.
COSTA, Emília Viotti. Da senzala à Colônia. 4 ed. São Paulo: Editora da Unesp, 1998.
FRAGOSO, Economia brasileira no século XIX: mais do que uma plantation escravista-
exportadora. In: LINHARES, Maria Yeda (org.). História Geral do Brasil. Rio de Janeiro:
Campus, 1990.
NABUCO, Joaquim. O Abolicionismo. s.n. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; São Paulo:
Publifolha, 2000.
PALACIN, Luís & MORAES, Maria Augusta de Sant’Anna. História de Goiás. 6 ed.
Goiânia: Editora da UCG, 2001.
PINA, Braz de. Goiás: história da imprensa. s.n. Goiânia: Instituto Goiano do Livro, 1971.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Retrato em Branco e Negro. Jornais, escravos e cidadãos em São
Paulo no final do século XIX. s.n. São Paulo, Companhia das Letras, 2001.
SILVA, Martiniano José. Quilombos do Brasil Central: Violência e Resistência Escrava. 1ª.
edição. Goiânia: Kelps, 2003.
SILVA, Nancy Ribeiro de Araújo. Tradição e Renovação Educacional em Goiás. s.n. Goiânia:
Oriente, 1975.
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SOBRE O AUTOR