Criterios de Beers
Criterios de Beers
Criterios de Beers
MEDICAMENTOS POTENCIALMENTE
INADEQUADOS PARA IDOSOS
O processo de envelhecimento morbidades tende a potencializar de acordo com informações do pa-
populacional no Brasil vem ocor- tais alterações, fazendo com que os ciente (ex.: perfil de saúde, presen-
rendo de forma acelerada. Como idosos representem um grupo-alvo ça de problemas de saúde ou pe-
consequência, indivíduos com 60 prioritário para implementação de culiaridades clínicas relevantes), e
anos ou mais, idade que marca a estratégias de prevenção de erros propõem uma análise farmacotera-
definição de idoso nos países em de medicação. pêutica mais aprofundada. Por isso,
desenvolvimento, configuram par- demandam mais tempo e depen-
cela crescente da população brasi- A escolha do medicamento apro- dem da experiência do profissional,
leira1 e tendem a apresentar múl- priado para idosos é um passo fun- mas proporcionam uma análise
tiplas doenças e, por isso, utilizar damental na prevenção de eventos individualizada compatível com a
muitos medicamentos2,3. adversos nessa faixa etária. Esse realidade dos serviços de saúde e
processo deve ser meticuloso, a variabilidade clínica da popula-
Garantir a segurança farmacote- pois o uso de alguns medicamen- ção geriátrica, podendo ser incor-
rapêutica dos idosos é uma tarefa tos pode originar mais riscos que porados com relativa facilidade no
mais complexa do que em outras benefícios5,6, razão pela qual são processo de decisão terapêutica,
faixas etárias. Isso se dá em função conhecidos como medicamentos discussão clínica multidisciplinar
de alterações fisiológicas e conse- potencialmente inadequados para e em processos de acompanha-
quentes mudanças no perfil farma- idosos. Assim, sua prescrição deve mento farmacoterapêutico. O mé-
cocinético e farmacodinâmico de ser avaliada segundo a adequação todo implícito mais consagrado é o
inúmeros fármacos (ex.: redução às condições clínicas do idoso e Medication Appropriateness Index
no fluxo sanguíneo e função he- constituir item indispensável para (MAI)5,6.
pática e renal; aumento da massa a promoção da segurança medica-
adiposa; redução da quantidade de mentosa na população geriátrica5. Os métodos explícitos são base-
água corporal e massa muscular; ados em critérios estabelecidos
redução da espessura da barreira A avaliação dessas prescrições de forma mais rígida, geralmente
hematoencefálica; menor resposta pode se dar por métodos implíci- desenvolvidos por meio de revi-
dos receptores ‘beta’ cardíacos e tos ou explícitos. Os primeiros se sões, opiniões de experts e téc-
respiratórios)4. A presença de co- sustentam no julgamento clínico, nicas de consensos. Focam-se
A elaboração deste Boletim foi coordenada pelo ISMP Brasil, com financiamento do Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Ciência,
Tecnologia e Insumos Estratégicos/Departamento de Assistência Farmacêutica e Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
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no medicamento e não levam em categorias de medicamentos po- American Geriatrics Society (AGS),
consideração a adequação clínica tencialmente inadequados5,6. que assumiu o compromisso de atu-
de cada paciente. Por serem base- alizá-los frequentemente, de acordo
ados em critérios menos flexíveis, O Critério de Beers foi criado em com a literatura internacional8-11.
são bons instrumentos para re- 1991 com o objetivo de listar os me- Atualmente, ele só não é aplicável
alizar revisões de prescrição ge- dicamentos potencialmente inade- a idosos sob cuidados paliativos, e
riátrica mais objetivas e simples. quados para idosos residentes em relaciona as prescrições potencial-
Uma importante referência de mé- instituições de longa permanência7. mente inadequadas e informações
todo explícito é o Critério de Beers, Seus critérios foram atualizados complementares para orientar o
que lista classes de medicamentos em 1997, 2003, 2012 e 2015, sendo uso seguro de medicamentos em
e medicamentos específicos em os dois últimos coordenados pela idosos, como a seguir11.
Existem evidências de que o uso de mais bem documentada e sua atua- sua aplicabilidade demanda cada vez
medicamentos potencialmente ina- lização frequente pela AGS, por meio mais detalhes clínicos sobre os pa-
dequados para idosos está associa- de metodologia robusta com base cientes para avaliação dos critérios
do à ocorrência de diversos eventos na literatura sobre segurança de propostos (ex.: uso de diurético de
adversos, como quedas, fraturas, medicamentos em geriatria, confere alça para edema de maléolo depen-
confusão pós-operatória, sangra- um alto grau de confiabilidade. dente sem sinais clínicos, evidência
mentos gastrointestinais, constipa- bioquímica ou radiológica de insufi-
ção, piora no quadro de insuficiência Outra ferramenta com bom desem- ciência cardíaca, disfunção hepática,
cardíaca congestiva, depressão, dé- penho para prever hospitalizações síndrome nefrótica ou insuficiência
ficit cognitivo e disfunção renal12-15. e outros desfechos negativos na renal). Por isso, hoje representa um
Também está associado ao aumento população geriátrica é o STOPP – intermediário entre método implícito
nas taxas de hospitalização e mor- Screening Tool of Older People’s e explícito, com boa aplicabilidade
talidade entre idosos16-19. O Critério Prescriptions20-22. Sua primeira ver- em processos mais abrangentes de
de Beers é o método com aplicação são data de 2008 e a última de 2015, e revisão de prescrição23,24.
2
Adaptações ou desenvolvimento de Muitos prescritores ainda desco- agentes bloqueadores alfa cen-
critérios explícitos para realidades nhecem os critérios para identi- trais, amiodarona, antihistamí-
nacionais ou cenários assisten- ficação de medicamentos poten- nicos, inibidores de bomba de
ciais específicos foram realizadas cialmente inadequados, sendo próton, sulfonilureias de longa
nos últimos anos em diferentes que a identificação de seu uso en- duração e antidepressivos tricí-
países como França, Alemanha, tre indivíduos idosos tem sido in- clicos32-37. Nos dois quadros que
Noruega, Canadá, Taiwan, Brasil ternacionalmente documentada compõem esse boletim, são apre-
e outros. Entre os critérios para em instituições de longa perma- sentadas algumas recomenda-
realidade nacional podemos citar: nência, em hospitais e na comu- ções para prevenção de eventos
Fit for the Aged - FORTA; PRISCUS; nidade30,31. Dentre os estudos bra- adversos envolvendo medicamen-
The European Union (EU) (7)-PIM sileiros que caracterizaram o uso tos potencialmente inadequa-
list; NORGEP; Consenso Brasileiro de medicamentos potencialmen- dos para idosos (Quadro 1), os
de Medicamentos Potencialmente te inadequados, de acordo com eventos adversos mais comuns
Inapropriados para Idosos6, 25-27. as duas últimas versões do Cri- relacionados ao uso desses me-
O STOPP e o NORGEP foram adapta- tério de Beers (2012 e 2015), os dicamentos e sugestões de alter-
dos para atender às especificida- medicamentos ou grupos farma- nativas terapêuticas (Quadro 2).
des de idosos em instituições de cológicos mais utilizados foram:
longa permanência28. Outra adap- benzodiazepínicos, nifedipino de
tação do STOPP foi realizada na liberação imediata, anti-inflama-
perspectiva do idoso frágil29. tórios não esteroides (AINES),
•D
efinir idosos como grupo-alvo prioritário para medidas de prevenção de eventos adversos
relacionados a medicamentos.
Continua...
3
QUADRO 1 – ALGUMAS RECOMENDAÇÕES PARA PREVENÇÃO
DE EVENTOS ADVERSOS ENVOLVENDO MEDICAMENTOS
POTENCIALMENTE INADEQUADOS PARA IDOSOS
•D
ivulgar os principais eventos adversos associados ao uso de medicamentos potencialmente
inadequados entre os profissionais e as especificidades de suas consequências de acordo
com o tipo de serviço oferecido (ex.: pneumonia aspirativa associada ao uso de óleo mineral
em unidades de cuidado crítico).
•O
rientar os pacientes, familiares e cuidadores sobre os riscos associados ao uso de
medicamentos potencialmente inadequados, incluindo aqueles isentos de prescrição
que estão associados à prática de automedicação (ex.: ibuprofeno, óleo mineral,
dexclorfeniramina).
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QUADRO 2 - MEDICAMENTOS POTENCIALMENTE INADEQUADOS
PARA IDOSOS MAIS UTILIZADOS NO BRASIL, EVENTOS ADVERSOS
ASSOCIADOS E ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS11, 23, 24, 38
MEDICAMENTO
EVENTOS ADVERSOS ASSOCIADOS /
OU CLASSE DE ALTERNATIVA TERAPÊUTICA
JUSTIFICATIVA DA INADEQUAÇÃO
MEDICAMENTO
Anti-histamínicos de
• Soro fisiológico nasal.
primeira geração Efeito anticolinérgico pronunciado.
• Anti-histamínico de segunda geração
(ex.: clorfeniramina; Possui eliminação reduzida entre idosos.
(ex.: loratadina).
dexclorfeniramina, Risco de confusão, boca seca, consti-
• Corticoesteroide intranasal (ex.: bude-
dimenidrato, hidro- pação e outros efeitos anticolinérgicos.
sonida).
xizina, prometazina)
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QUADRO 2 - MEDICAMENTOS POTENCIALMENTE INADEQUADOS
PARA IDOSOS MAIS UTILIZADOS NO BRASIL, EVENTOS ADVERSOS
ASSOCIADOS E ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS11, 23, 24, 38
MEDICAMENTO
EVENTOS ADVERSOS ASSOCIADOS /
OU CLASSE DE ALTERNATIVA TERAPÊUTICA
JUSTIFICATIVA DA INADEQUAÇÃO
MEDICAMENTO
Sulfunilureias de lon-
Risco pronunciado de hipoglicemia • Dieta, metformina, sulfunilureias de
ga duração (ex.: gli-
prolongada. curta duração (ex.: gliclazida).
benclamida)
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