Mulheres IntelectuaIsna Idade MédIa PDF
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RESUMO: É corrente se afirmar que antes da Modernidade não há registro de mulheres na construção
do pensamento erudito. Que, se tomarmos, por exemplo, a Filosofia e a Teologia, que foram as duas
áreas do conhecimento que mais produziram intelectuais, durante a Idade Média, não encontraremos
aí a presença de mulheres. Entretanto, apesar de todas as evidências, se vasculharmos a construção
do Pensamento Ocidental, veremos que é possível identificar a presença de algumas mulheres já nos
tempos remotos, na Antiguidade Clássica e na Patrística (ou Alta Idade Média). Mas é na Escolástica
(Baixa Idade Média) que encontramos as primeiras Pensadoras, responsáveis por um sistema
autônomo, distinguindo-se como fecundas escritoras, donas de obras tão profundas e importantes
quanto as produzidas pelos homens de seu tempo, com os quais muitas vezes dialogaram em pé de
igualdade. Dentro desse maravilhoso universo feminino de intelectuais, destacamos, na Escolástica, a
figura de Hildegarda de Bingen (1098-1165), da qual trataremos um pouco neste artigo.
PALAVRAS-CHAVE: Medicina. Filosofia. Mística. Idade Média. Mulheres Intelectuais.
1 Vida e obras
Segundo Joseph-Ignasi Saranyana, Hildegarda de Bingen (em alemão
Hidelgard von Bingen), última filha do casal de nobres Hildebert e Mechtild,
nasceu em 1098, em Bermersheim – sede dos barões de Sponheim – próximo
de Alzey, na Francônia-Renânia, região do Rio Reno (Cf. SARANYANA,
1999, p. 153, nota 41). Com oito anos de idade, Hildegarda foi confiada à
abadessa e ex-condessa Jutta (Judite), filha do Conde Stephen de Sponheim,
no mosteiro das beneditinas de Disibodenberg, que foi sua tutora, preceptora
ou mestra (magistra).
1
Professor/coordenador da Graduação em Filosofia da UFPE. Professor do Programa de Pós-Graduação
(Mestrado e Doutorado) em Filosofia da UFPE/UFPB/UFRN. E-mail: marcosnunescosta@hotmail.
com
2
Digo a primeira grande experiência mística, porque desde criança Hildegarda tivera várias pequenas
visões, mas foi esta que a levou a escrever e pregar. Segundo relato da própria Hildegarda, contido no
segundo volume de sua Vita, iniciada por seu primeiro biógrafo, o monge Gottfried, “[...] ela teve sua
primeira experiência visionária ainda antes dos 5 anos de idade. Segundo tal relato, enquanto caminhava
com sua ama, a pequena Hildegarda exclamou: ‘Veja que bezerrinho bonitinho dentro desta vaca. Ele é
branco com manchas no peito, nas patas e nas costas’. Quando o bezerro nasceu, algum tempo depois,
constatou-se que era exatamente conforme a descrição de Hildegarda” (POLL, 2010. p. 56).
No final, uma voz lhe ordenou, por três vezes consecutivas: “Oh,
mulher frágil, cinza de cinza e corrupção de corrupção, proclama e escreve o
que vês e ouves” (HILDEGARDA DE BINGEN, Scivias, 5).
A partir de então, isto é, tendo recebido o aval da Igreja, Hildegarda
assumiu sua missão como uma verdadeira “profetisa”. Assim, já em 1151,
semelhante a Moisés no Êxodo, que foi o modelo de profetismo escolhido para
seguir desse momento em diante, deixa Disibodenberg e parte na companhia
de algumas monjas para Rupertsberg, próximo a Bingen, com a finalidade
de revitalizar o antigo mosteiro de Monte Rupert, construído no passado
sobre a tumba de São Rupert3. Ali, com um carisma e espírito literário, age
semelhante aos profetas do Antigo Testamento, em que aparecem os três
elementos típicos do profetismo: 1. declaração de sua própria incapacidade;
2. iluminação do alto e 3. graça divina, que a fez superar sua incapacidade, a
exemplo de Jeremias, Isaías etc. Daí afirmar Chiara Zamboni que, em diversos
momentos de seus escritos, Hildegarda se declara ou se apresenta como uma
“pequena mulher” ou “pobre mulherzinha”, ou uma mulher humilde que
não tem estudos4. Ou seja, com a consciência que de “[...] o conhecimento
3
Nesse mosteiro, Hildegarda viveria até o final da vida, conforme veremos mais adiante.
4
Um dos pontos controversos da vida de Hidelgarda é quanto a sua capacidade intelectual, uma
vez que ela mesma se apresenta como uma mulher humilde ou um “[...] frágil ser humano, ingênua
e ignorante” (Scivias, 5), e os principais biógrafos dela dizem que ela não frequentou uma escola
regular, senão que sua formação não passou de pequenos conhecimentos adquiridos no mosteiro, sob
a instrução de Jutta, por isso, para alguns comentadores, trata-se de uma experiência sobrenatural, na
qual ela é apenas um veículo, conforme enfatizam Cirlot e Gari (1999, p. 55): “A palavra de Hildegarda
e sua escritura foram possíveis graças a que ela não era nada, senão só receptáculo e transmissão da
vontade de Deus. Sua autoridade procedia de que não era ela que falava, senão a voz que ouvia na
visão”. E é o que vemos em suas próprias palavras, escritas no prólogo de sua primeira obra, Scivias,
quando escreve: “E eis que foi no ano de quarenta e três do curso de minha vida temporal, quando em
meio a um grande temor, tendo uma celeste visão, vi uma grande claridade em se ouve uma voz que
vinha do céu que dizia: ‘Frágil ser humano [...] escreve o que vez e ouves. Mas como tens medo de falar,
como eis ingênua e ignorante para escrever, fala e escreve não fundamentada na linguagem dos homens,
não na inteligência e na invenção humana, senão fundamentada no fato de que vez e ouves o que vem
de cima, no céu, nas maravilhas de Deus’. E de novo ouvi uma voz que me dizia: ‘Proclama estas
maravilhas, escreve o que tens aprendido’” (Scivias, 5). Mas, apesar de apresentar-se como tal, alguns
“[...] estudiosos de história medieval reconhecem que nos seus escritos há um vasto conhecimento
dos textos mais lidos nas Escolas de Teologia e nas Universidades de seu tempo” (ZAMBONI, 1997,
p. 26), sinal de que ela não era uma mulher sem estudos, como dizia. É o que reforça Santucci,
2012: “Em suas obras, contrariamente à sua pretensão de ser ignorante, Ildegarda provou ter um bom
profético não tem a sua origem nela: Hildegarda se percebe como a portadora
de um conhecimento. Ela é mensageira de uma verdade. Mas não é ela que
produz esta verdade” (ZAMBONI, 1997, p. 26).
É o que vemos nas palavras da própria Profetisa:
As palavras que digo não provêm de mim, mas eu as vejo em uma suprema
visão [...]. Conservo um lugar na memória para as coisas que apreendo na
visão [...].
Vejo, escuto e reconheço no mesmo instante e no mesmo instante
apreendo. Mas não entendo aquilo que vejo, porque não estudei [...].
Assim não acrescento outras palavras minhas aquilo que escutei na visão e
me exprimo num latim não refinado [...].
As palavras que escuto são como uma chama ardente, assemelhando-
se a nuvens que se movem no ar. E no mesmo céu vejo o brilho, mas
não freqüentemente, de uma outra luz, que chamo luz vivente, que não
sou capaz de explicar, nem como e nem quando (HILDEGARDA DE
BINGEN, Scivias, 5-35).
e o homem são espelhos mútuos e integrados”. Essa informação é confirmada por Almeida (2012):
“A Regra da Ordem dos monges beneditinos – uma das primeiras do ocidente – além de regular o
cotidiano dos monges preocupava-se com a sua saúde e a ocorrência de doenças. O resultado dessa
preocupação foi a organização de um sistema de cuidados médicos nos mosteiros, com enfermarias
para os monges (infirmarium), para os ricos e nobres (domus hospitum) e para os pobres e peregrinos
(hospitale pauperum), com a reprodução da ordem social existente também fora dos mosteiros. Estes
dispunham também de celas para os médicos, os doentes graves, banhos, farmácia e jardim com
ervas medicinais [...] É neste contexto que devemos apreciar a medicina na Idade Média, de modo a
compreender as múltiplas funções dos mosteiros e o seu papel na formação de Hildegard von Bingen”.
7
Ainda segundo o supracitado comentador, como médica, especialmente das mulheres, Hildegarda
usava termos populares em seus escritos sobre medicina, nomeadamente para falar das partes íntimas
do corpo humano, o que foi motivo de críticas por partes de muitos, que a acusaram de obscenidade (cf.
Ibid. p. 74). Outros sugerem que essa língua tenha servido como um código secreto para comunicação
das monjas, quando em presença de estranhos.
8
Além dessas obras, na Epístola XXIII, dirigida aos prelados de Mainz, escrita por ocasião do
interdito a que foi submetido seu mosteiro, Hildegarda desenvolve sua concepção de música. Uma
verdadeira teologia musical, a qual está assentada numa visão pitagórica, presente na obra de Regino
de Prum, que alude a uma música celestial (o cântico dos anjos no céu), e na classificação boeciana
da música (mundana, humana e instrumental). Nesta carta, Hildegarda chega a sustentar que uma
das consequências do pecado de Adão foi a “perda da voz”, que significa a perda da semelhança com
Deus e, portanto, da capacidade de conhecimento. Por isso, apresenta a música como instrumento
catequético-pedagógico de recuperação da condição original do homem. A música é colocada no plano
revelacional (cf. CIRLOT; GARI, 1999, p. 63).
9
Os manuscritos das obras de Hildegarda foram reunidos em um arquivo chamado Riesenkodex
(livro gigante), “[...] produzido em Rupertsberg logo após a morte de Hildegarda, sob a supervisão
do monge Gilbert de Gembloux, que se tornou secretário e amigo da religiosa no final da vida
desta. O Riesenkodex preservou todos os textos de caráter proféticos de Hildegarda, incluindo suas
correspondências, com exceção de seus textos médico-cientíticos” (POLL, 2010, p. 15). O Riesenkodex
encontra-se hoje conservado na Biblioteca Estatal de Hesse, na Alemanha.
Virtude tem pelo menos uma seção solo onde descreve suas características.
No final a Alma redimida é levada para o céu, enquanto que as Virtudes,
lideradas pela Humildade, acorrentam o Demônio. (Kienzle apud
HILDEGARDA DE BINGEN, 2012).
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Muitos outros comentadores apresentam Hildegarda como uma mulher para além do seu tempo, como,
por exemplo, Cirlot e Gari (1999, p. 49), que enfatizam: “Em pleno século XII Hildegarda de Bingen
transpassou as fronteiras do silêncio a que estava submetido seu sexo, para falar e predicar, para escrever
acerca de Deus e de sua criação, do homem e do universo”. Cf. igualmente CIRLOT (2012, p. 43).
Somente alguns meses antes de sua morte é que seus direitos foram
restaurados.
2 Seu pensamento
Como médica, herdeira da tradição médica de Galeno, Hildegarda de
Bingen fazia uma estreita correspondência entre o ser humano e o cosmo. Para
tanto, dizia que,
[...] assim como o ano é dividido em quatro estações. Como o dia é dividido
em quatro partes. Quatro são os temperamentos dos seres humanos: aquele
melancólico, aquele colérico, aquele sanguinário e o paciente. Quatro são,
também, os elementos do corpo humano: a bile negra, a biles, o sangue e
a flegma. Um certo caráter está ligado a uma determinada parte do dia e
estação do ano, como está determinado por um certo elemento do corpo.
(ZAMBONI, 1997, p. 23).
11
Poll (2010, p. 90) acrescenta a informação de que o “[...] interdito, a excomunhão coletiva, postulava
que, enquanto durasse, as freiras não poderiam nem receber a Comunhão e nem cantar o Ofício
Divino, podendo apenas recitá-lo”.
12
A esse respeito, escreve Duran (apud HILDEGARDA DE BINGEN, 2012): “O dado mais original
em seu pensamento foi sua forte tendência a analisar tudo numa perspectiva holística, e disso deriva
o seu grande apelo para os movimentos ecológicos, pacifistas e naturistas modernos. Ao interligar
operum (Livro das obras divinas), quando, tomando as dores dos elementos da
naturais, os faz clamarem por justiça divina contra a insensatez humana:
Todos os elementos e todas as criaturas choram em alta voz diante da profanação
da natureza e da devoção maligna da humanidade ao seu modo de vida de
rebelião contra Deus, enquanto que a natureza irracional cumpre submissa as
leis divinas. Eis o motivo pelo qual a natureza protesta tão amargamente contra
a humanidade. (HILDEGARDA DE BINGEN, 2012).
várias correntes distintas de pensamento em um corpo conceitual bastante integrado, seu trabalho
tem afinidade com o de pensadores contemporâneos que não podem ser encaixados facilmente em
uma única escola, como Alan Watts e Fritjof Capra. Para Hildegarda, não fazia sentido analisar
um fenômeno específico isoladamente, mas era essencial ter uma visão do todo e dos múltiplos
relacionamentos estabelecidos entre suas partes”.
esta não veio diretamente da terra, como o homem, mas de uma substância
superior à terra, o homem. Daí que, comparando o caráter ou temperamento
do homem e da mulher, enfatiza que o homem é mais cruel e violento do que
a mulher, dada a sua origem ontológica13.
Da mesma maneira, quando fala da concepção de uma criança, apresenta
uma visão totalmente revolucionária em relação à concepção aceita na época,
especialmente àquela aristotélica, que afirmava ser o homem o responsável pela
definição dos caracteres de uma criança, sendo a mulher apenas um elemento
passivo, “[...] um depósito ou receptáculo onde o homem colocava o esperma”,
como sustentava Aristóteles. Para Hildegarda de Bingen, é o calor do útero
materno que define ou dá a forma a uma criança, a partir do seu sangue.
Assim, mantendo-se no seu esquema de diferença e complementaridade
entre ambos, afirma que o versículo bíblico de que “[...] o homem foi feito
à imagem e semelhança de Deus” deve ser entendido em sentido genérico,
como o “ser humano”, no qual está incluído a mulher, o que significa dizer
que também a mulher é imagem de Deus, ou melhor, que nem o homem nem
a mulher, separadamente, é imagem de Deus.
Mais do que isso, diferentemente de alguns Padres da Igreja que
asseguraram a semelhança do homem com Deus apenas pela alma, Hildegarda
de Bingen inclui aí também o corpo e, é evidente, o corpo feminino, conforme
acentua J.-I. Saranyana:
Convém assinalar que para Hildegarda de Bingen, a mulher não é só
imagem de Deus enquanto alma, senão também enquanto corpo, quer
dizer, pela carne [...] tanto do varão como da mulher. (SARANYANA,
1999, p. 155).
13
Não é por acaso que a maioria das personagens simbólicas das visões de Hildegarda aparece com
formas femininas, como, por exemplo, quando descreve e pinta a Caridade ou Amor Divino, tema
central de sua obra Líber divinorum operorum (Livro das obras divinas), como uma bela e forte mulher, o
que levou muitos comentadores a fazer dela uma “teóloga feminista”, conforme veremos mais adiante.
Hildegarda tivesse tal pretensão, muito menos que buscasse uma emancipação
da mulher, haja vista que, em nenhum momento, questiona o papel ou a
situação social da mulher na Igreja e na sociedade. Em função disso, ressalta
Maria Carmen Poll que, “[...] embora Hildegarda tenha sido, de fato, em
muitos aspectos uma mulher à frente do seu tempo, ela nunca reivindicou
para si ou para o papel das mulheres de sua época qualquer mudança” (POLL,
2010, p. 28-29): pelo contrário, a esse respeito, em muitos pontos defende
posições conservadoras ou tradicionais.
Um dos pontos em que Hildegarda é declaradamente conservadora
refere-se à não ordenação sacerdotal de mulheres, na Igreja, entendendo que,
na grande interação holística do cosmo, na qual o micro deve estar em sintonia
com o macro, “[...] as mulheres estavam designadas a ter filhos e criá-los”
(Scivias, II, 6), de forma que o sacerdócio era uma atividade incompatível
com a função biológica. Por isso, Hildegarda dava capital importância ao
casamento, o que a tornava fiel e querida pela ortodoxia católica, segundo
comenta Maria Carmen Poll:
A pronta aceitação de Hildegarda no meio eclesiástico não se deve a um
único fator, mas um motivo se destaca: a clara ortodoxia de Hildegarda.
Não há dúvida que os prelados se sentiram em grande parte atraídos por
essa ortodoxia: no Scivias, Hildegarda enfatiza doutrinas como a origem
divina do casamento, a santidade da eucaristia e a dignidade do sacerdócio,
que os Cátaros negavam veementemente. (POLL, 2010, p. 66).
[...] em dias de festa, Hildegarda elaborava um ritual em que suas irmãs iam
para a igreja rezando os Salmos e tiaras de ouro com um emblema do cordeiro
de Deus, anéis de ouro nos seus dedos, e véus de seda branca que chegavam ao
chão, sob os quais os cabelos estavam soltos. (POLL, 2010, p. 75).
O uso da tiara de ouro, do véu branco e dos cabelos soltos, por parte das
monjas de Hildegarda, foi motivo de severas críticas por setores da Igreja, como
por parte do monge Guibert de Gembloux, que questionou o uso da tiara de
ouro, o que levou Hildegarda, em carta, a remeter a uma de suas visões:
Vi que todos os níveis da Igreja têm emblemas brilhantes de acordo com
o brilho celestial; mas a virgindade não tem emblema brilhante – nada
além de um véu negro e uma imagem na cruz. Então eu vi que esse seria
o emblema da virgindade: que a cabeça da virgem seria coberta com um
véu branco, por causa da vestimenta branca radiante que os seres humanos
tinham no paraíso, e perderam. Na cabeça dela [da virgem], havia uma tiara
de três cores que se congregariam em uma cor. Porque essa tiara simboliza a
Trindade sagrada. (HILDEGARDA, Carta 130 apud POLL, 2010, p. 760).
Já para o uso dos cabelos soltos, Hildegarda justificava que estes eram
símbolo da virgindade, daí as monjas deveriam mostrá-los quando iam como
noivas ao encontro do seu Esposo – Cristo.
Mais do que isso, Hildegarda se posicionou politicamente a favor dos
movimentos hierocratas que, baseados no princípcio agostinianao de que o
espiritual é superior ao temporal, defendiam a subordinação do poder temporal
ao espiritual, que na prática resultava na defesa da pletinude do poder papal.
Nisso, ela foi considerada uma mulher conservadora.
E, mesmo quando de suas admoestações às autoridades eclesiásticas e
civis da época, nunca questionou o poder em si, apenas chamava a atenção para
que cumprissem suas obrigações, como, por exemplo, sua carta ao Impedador
Frederico Barba Roxa:
Sê vigilante, porque no momento todos os reinos da região estão domidados
por reis falciosos que destroem a justiça [...]. Saiba, pois, que o Rei supremo
te olha: e não sejais acusado diante d’Ele de não ter exercido corretamente
teu ofício e não venhas assim a envergonhar-te [...]. Tome cuidado para
que o Supremo Rei não te lance por terra por culpa da cegueira dos teus
olhos. Sejai tal, que a graça de Deus não te falte. (HILDEGARDA DE
BINGEN apud SOCIEDADE..., 2012).
14
A Vita Sanctae Hildegardis (Vida de Santa Hildegarda) foi iniciada pelo monge copista Gottfried,
que, em fins de 1174 ou no início de 1175, substituíu o antigo copista e confessor Volmar, que havia
falecido em 1173. Mas este faleceu em 1176 sem terminá-la. Gottfried foi subsituído por Guibert
de Gembloux, que se empenhou em terminar a referida biografia, mas também não completou o
trabalho, abordando apenas seus anos iniciais. Somente uma década após a morte de Hildegarda, o
monge Theoderic de Echternach retomou o trabalho, acrescentado mais dois volumes e um prefácio
(cf. CIRLOT; GARI, 1999, p. 70).
15
Informação confirmada por Cirlot e Gari, 1999, p. 75.
Costa, Marcos Roberto Nunes. Women intellectuals in the Middle Ages: Hildegard of
Bingen - between medicine, philosophy and mysticism. Trans/Form/Ação, Marília, v. 35, p.
187-208, 2012. Edição Especial.
ABSTRACT: It is common to say that before modernity there is no record of women in the
construction of classical thought. What if we take, for example, to philosophy and theology, which
were the two areas of knowledge that produced more intellectuals during the Middle Ages, we find
there the presence of women. However, despite all the evidence, if we search the construction of
Western Thought, we see that it is possible to identify the presence of some women already in ancient
times, in Classical Antiquity and Patristics (or Middle Ages). But it is in Scholastic (Middle Ages) we
find the first thinkers, responsible for an autonomous system, especially as fertile writers, owners of
works so profound and important as those produced by men of his time, who often conversed on an
equal footing. In this wonderful universe of female intellectuals, highlight, in Scholastic, the figure of
Idelgarda of Bingen (1098-1165), which is discussed a bit in this article.
KEYWORDS: Medicine. Philosophy. Mystique. Middle Ages. Women Intellectuals.
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