Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Alterações Da Atividade Voluntária

Fazer download em doc, pdf ou txt
Fazer download em doc, pdf ou txt
Você está na página 1de 6

Pedro Phelipe Torres Rubim de Barros

Psicopatologia I
Prof.: Antônio Teixeira

Fichamento:
PAIM, Isaías. Curso de Psicopatologia. 243-259 1986, São Paulo

Alterações da atividade voluntária

Introdução psicológica

Uma série de processos psíquicos (percepção, representação, ideias, sentimentos)


estão envolvidos na determinação da direção e da intensidade da atividade voluntária.
Esta é dita voluntária quando praticada com previsão e consciência de finalidade.
Três fases do ato voluntário:
-deliberação: componente intelectual do ato volitivo
-resolução: instância inibitória (resolução de executar ou inibir)
-execução: etapa final, conseqüência lógica da resolução

A repetição transforma o ato volitivo em atos automáticos. A intensidade da ação está


subordinada à afetividade.

Patologia e valor semiológico

Hipertimia
Estado de ânimo morbidamente elevado. Distinguem-se
euforia e exaltação afetiva patológica. A primeira é observada na fase de mania da
psicose maníaco-depressiva, nos estados hipomaníacos, na embriaguez alcoólica,
demência senil, paralisia geral e na epilepsia. A segunda é acompanhada de
aceleração do curso de pensamento e pode chegar à fuga de ideias, desviabilidade da
atenção e certa facilidade para passar do pensamento à ação.

Hipotimia
Na hipotimia ou depressão patológica, verifica-se o aumento da reatividade para os
sentimentos desagradáveis, podendo variar desde o simples mal-estar até o estupor
melancólico. Caracteriza-se, essencialmente por uma tristeza profunda e imotivada,
que se acompanha de lentidão e inibição de todos os processos psíquicos. Em suas
formas leves, a de pressão se revela por um sentimento de mal-estar, de abatimento,
de tristeza, de inutilidade e de incapacidade para realizar qualquer atividade. Nas for
mas graves, os doentes apresentam um estado de profundo abatimento: fisionomia
triste, traços contraídos, atitude em semiflexão.

Apatia ou indiferença afetiva


Indiferença afetiva é uma completa ausência de "sensibilidade moral" são observadas
em certas personalidades anormais (os psicopatas), especialmente naqueles
indivíduos os quais Kurt Schneider chama "insensíveis". Diz Schneider: "São
indivíduos destituídos de compaixão, de vergonha, de sentimento de honra, de
remorso e de consciência".
Exemplo - "A minha condição espiritual, a situação dos meus sentimentos é
incompreensível, é um estado de impossibilidade de sentir emoções. Não posso,
mesmo que queira, experimentar amor ou ódio; não tenho nenhuma espécie de
emoções, não consigo sentir alegria, por exemplo, nem muito menos tristeza; não
tenho medo de nada, nem de ninguém, nem de nenhum perigo. Quando houve o
tremor de terra na semana passada, eu me enco trava no salão de bilhar e todos
saíram correndo no maior desespero. Eu permaneci completamente indiferente,
apesar de compreender o perigo a que estava exposto."Manifestações de indiferença
afetiva são também observadas nos neuróticos. Na melancolia, o desinteresse pelas
coisas do mundo exterior revela do pelos enfermos pode conduzir ao erro de
considerá-los como casos de apatia esquizofrênica.

Sentimento de falta de sentimento


Em pacientes esquizofrênicos observa-se o curioso fenômeno do sentimento de falta
de sentimento. Os enfermos se queixam de que não experimentam sentimentos de
espécie alguma, de que não sentem ânimo para participar de fes tas ou de qualquer
tipo de distração. Recusam ir às sessões de praxiterapia ou a diversões ou
passatempos promovidos no meio hospitalar. Um dos nossos enfermos nos disse
certa ocasião: "Eu não sinto emoções. Acabaram-se as minhas emoções. Desejo
sentir emoções. Ouvir música e sentir emoções. Passe um remédio que me faça sentir
emoções.".

Sentimento de insuficiência
Os enfermos deprimidos manifestam alterações dos sentimentos no sentido de uma
espécie de "sentimento de in suficiência", que os incapacita para a prática de qualquer
ação.
Diz Jaspers que a consciência de ser inútil para o mundo real, incapaz para qualquer
ação necessária, inapto para determinar-se, a indecisão, o sentimento de não ser
capaz, de não poder pensar, de ter perdido a memória, causam um profundo
sofrimento ao paciente. Nem sempre essas queixas correspondem a uma insuficiência
real, ou podem existir em grau moderado. Correspondem, provavelmente, à inibição
geral que acompanha os casos de depressão.

Sentimento sem objeto


Em determinados casos é possível observar o apareci mento de sentimentos sem
objetos, pelo menos na aparência, mas que ocasionam profundo sofrimento aos
pacientes. Nas depressões endógenas pode-se verificar uma espécie de angústia
indeterminada, que não se encontra ligada a nenhum fato real, à qual Bleuler
denominou "angústia flutuante"

Sentimentos inadequados
Em pacientes esquizofrênicos, algumas vezes, as reações são inteiramente
inadequadas aos estímulos. Acontecimentos que, normalmente, produzem reação
intensa em indivíduos sãos, podem ocasionar, nesses enfermos, uma reação
paradoxal; os fatos podem ser acompanhados da mais completa indiferença, ou, em
de terminadas circunstâncias, fatos banais provocam intensas reações afetivas. Um
enfermo hebefrênico assim se referiu à morte do pai: "Na ocasião eu me encontrava
em casa, acompanhei o funeral e fiquei muito satisfeito porque não era a mim que
estavam enterrando. Agora me encontro enterrado vivo."
Bleuler descreveu a inadequação dos sentimentos com a denominação de
"dissociação afetiva" como uma dissolução das lógicas dos sentimentos.
Qualidades novas do sentimento
Nos quadros de estado de defeito da esquizofrenia é muito comum verificar-se que o
enfermo revela sentimentos e esta dos de ânimo qualitativamente novos, na maioria
das vezes indefinidos e incompreensíveis. Os pacientes fazem referência a senti
mentos de pavor, desespero, de solidão, de desprezo social, ou a senti mentos de
beatitude e de iluminação divina.

Sentimentos de presença
O enfermo tem a certeza imediata de que alguém está ao seu lado, atrás dele, sente a
presença de alguém que nun ca é visto, porém está certo de que está próximo ou se
afasta. Santa Margarida Maria, modesta freira da Ordem da Visitação, a par tir de
certa época "renunciou a todos os seus desejos naturais de felicidade, de estima e de
repouso, pela doação constante de si mesma". Durante esta fase começou a perceber
algo estranho e indefinível, uma espécie de senti mento de presença, como se o
Senhor estivesse sempre ao seu lado. Não O via com os olhos, nem ouvia a Sua voz,
mas tinha a certeza de que Ele a acompanhava em todos os lugares. "Sentia-O como
se estivesse continua mente junto dela, e este sentimento causava-lhe a consternação
mais profunda, revelando-se até nas suas atitudes físicas, pois, quando só,
conservava -se prostrada no chão ou de joelhos."

Irritabilidade patológica
Bleuler considera a irritabilidade patológica como uma predisposição especial ao
desgosto, à ira e ao furor. Observa-se com freqüência em neurastênicos, nos quais o
sintoma bem característico é a chamada "debilidade irritável". Os enfermos manifes-
tam impaciência, irritabilidade, aumento da capacidade de reação para deter minados
estímulos e intolerância pelos ruídos. Nesses casos, como Bumke salientou, a
perturbação consiste, na realidade, no aumento da tonalidade afetiva própria das
percepções: tanto assim que se pode verificar certa contradição na conduta dos
doentes, os quais sofrem mais com a falta de consideração do ambiente do que
propriamente com os ruídos produzidos no meio exterior.

Nas personalidades anormais (psicopatas) explosivas, o sintoma principal é a irritabi-


lidade patológica. Nesses anômalos existe um grau elevado de reatividade emotiva,
unido a uma extraordinária tensão afetiva, que se descarrega sob a for ma de reações
de tipo "curto-circuito": paroxismos coléricos ou furiosos que põem em perigo a vida de
pessoas do ambiente. Esses indivíduos, por exemplo, ouvem uma palavra qualquer e,
antes que tenham compreendido o seu verdadeiro sentido, reagem de
maneira explosiva, respondendo com insultos ou com atos de violência. As reações
afetivas, de modo geral, são patologicamente intensas, os sentimentos duradouros e
difíceis de serem substituídos uns pelo outros. Isto acontece tanto com a irritabilidade
quanto com os demais sentimentos afeição, alegria, cólera. Os fatos sem importância
têm a mesma acentuação emocional que os importantes. O que se refere ao próprio
enfermo é acompanhado de grande interesse.

A tenacidade afetiva consiste na persistência anormal de certos estados afetivos,


como o ressentimento, o ódio e o rancor. Em virtude dessa fixação prolongada de
sentimentos desagradáveis, o enfermo está sempre de mau humor e encara todos os
aconteci mentos da vida através de um prisma pessimista.

Tenacidade afetiva
A tenacidade afetiva é própria dos epilépticos, conforme assinalou Kleist, a
perseveração viscosa dos epilépticos é um fenômeno geral, semelhante à sonolên cia
ou ao estupor, e abrange também os processos afetivos. Daí a persistência anormal
dos sentimentos observada nesses enfermos.
Instabilidade afetiva
A instabilidade afetiva é um estado especial em que se produz a mudança rápida e
imotivada do humor, sempre acompanhada de extraordinária intensidade da reação
afetiva, que se processa com duração muito limitada. Esta forma súbita de reagir
diante dos diferentes estímulos do meio exterior revela enfraquecimento da inibi ção,
que se mostra incapaz de controlar a intensidade das reações.
A labilidade afetiva é tam bém algo comum em casos avançados de transtorno mental
afetivo. Tam bém os deficientes mentais podem padecer do mesmo".

Incontinência emocional

A incontinência emocional é uma forma de alte ração da afetividade que se manifesta


pela faci lidade com que se produzem as reações afetivas, acompanhadas de certo
grau de incapacidade para inibi-Ias. Diz Bleuler, que a maioria dos pacientes com
incontinência emocional, apresenta uma falha de autocontrole. Tem de ceder diante
dos acontecimentos mais insignificantes, tanto no que se refere a sua expres são
como à ação que deles se deriva. Bleuler cita o exemplo de um deficiente mental que
não podia jogar cartas porque denunciava seu jogo com a fisiono mia. Segundo
Nágera, a insta bilidade afetiva nem sempre se apresenta unida à incontinência
emocional, pois existem pessoas que não podem conter suas emoções, embora
revelem tenacidade afetiva.

Sugestibilidade patológica
É uma alteração de ordem tanto afetiva quanto volitiva. Trata-se de uma predisposição
psíquica especial, que determina uma receptividade e uma submissão muito fáceis às
influências estranhas exercidas sobre o indivíduo. No terreno pura mente psíquico,
encontra-se a sugestibilidade nos histéricos, razão pela qual se tornam esses
enfermos muito favoráveis à produção de estados hipnóti cos, de sintomas somáticos
e até mesmo de sintomas psicóticos - as chamadas perturbações mentais induzidas
ou por contágio mental. Em alguns histéricos, a sugestibilidade é exercida tanto no
domínio da vida interior (auto-sugestibilidade) quanto em relação ao meio exterior
(hétero-sugestibi lidade). A sugestibilidade pode ser também observada nos estados
de excitação maníaca e nos alcoolistas. No delirium de abstinência alcoólica, por
exemplo, podem-se sugerir facilmente várias coisas ao enfermo, inclusive alucinações.
Na catatonia, a sugestibilidade é predominantemente motora.

Puerilismo
O termo puerilismo é empregado em psiquiatria para designar as alterações mentais
caracterizadas pela regressão da personalidade adulta ao nível do comportamento
infantil. Em conseqüência, o enfermo adota inconscientemente as atitudes, a
linguagem e o estado de ânimo de uma criança.

Na descrição de Dupré e Devaux, esse estado se manifesta ligado a pro fundos


transtornos da memória e a um verdadeiro estado demencial. O puerilismo é
observado, também, em neuróticos (histeria), em casos orgânicos (demência senil,
tumores cerebrais) e, transitoriamente, "como reação a deter minadas situações
existenciais críticas, em que esse transtorno adquire a significação de uma defesa
neurótica do eu contra a angústia. Em tais casos, não há dissolução definitiva da
personalidade adulta, mas apenas um eclipse acidental da mesma, que, não podendo
superar a situação presente intolerável, busca refúgio no passado". Trata-se de uma
verdadeira regressão da vida mental aos estágios da infância.
Dupré e Devaux fizeram uma descrição completa do puerilismo em um caso de tumor
fronto-temporal

Moria
Bruns e Jastrowitz deram o nome de moria a um estado de excitação alegre associado
a certo puerilismo mental. Nesses casos os enfermos fazem bufonarias, caretas, não
permanecem quietos um só instante; o humor é extremamente instável; tornam-se
cada vez mais exuberantes, loquazes, riem às gargalhadas.
A moria foi descrita primeiro em casos de lesões do lobo frontal (tumores,
principalmente) e posteriormente nas demências senis e pré-senis. A intranqüilidade
motora e a turvação da consciência são elementos que servem para a distinção entre
a moria e a euforia maníaca e a jovialidade e patetice dos hebefrênicos

Angústia
“Na angústia os processos do conhecimento que a precedem são, freqüentemente,
muito mais vagos e indiferenciados, características que correspondem a estratos
psíquicos mais primitivos."

O estado de angústia tende a perturbar as funções fisiológicas, expressando-se


através de uma série de alterações neuro-vegetativas: constrição respiratória,
dispnéia, opressão cardíaca, acompanhada de taquicardia e palpitações, lentidão ou
aceleração do pulso, palidez, relaxamento da musculatura facial, espasmos em órgãos
diversos, transpiração nas mãos e na face. Representa o sintoma dominante nos
quadros neuróticos de angústia

Angústia vital - López Ibor considera a angústia vital como o elemento básico da
personalidade humana, podendo surgir sem características patológicas, mas, em
condições mórbidas, está representada por seus "graus acentuados". A angústia se
acha somatizada.

De acordo com Binder, esta forma de angústia apodera-se do consciente quando


existem condições corporais íntimas ameaçadoras da vida.

Angústia real - O perigo ameaça a partir da circunstância. Ao contrário da angústia


vital, a angústia real tem origem em uma ameaça consciente mente percebida, porém
que provém do meio exterior e não da parte interna do corpo. Bash admite que
"circunstâncias da vida persistentemente humilhantes" podem ocasionar o
desenvolvimento de um estado de angústia crônica.

Angústia moral - O perigo se encontra localizado na própria psique e, especialmente,


"em determinadas tendências psíquicas primitivas, que são afastadas por outras
tendências, superiores e mais evoluídas, e que se orientam em outro sentido". Kielholz
propôs uma subdivisão da angústia moral, levando em consideração a possibilidade
de uma angústia consciente e outra inconsciente, "correspondendo esta última à
angústia neurótica, a qual se refere de modo especial a literatura psicanalítica"

Ambivalência afetiva
Honório Delgado define a ambivalência como a "anormalidade das ten dências em
geral, que se caracteriza na esfera intelectual pela coexistência de juízos
contraditórios sobre o mesmo objeto, simultânea afirmação e nega ção, coincidência
do oposto". No plano afetivo, a ambivalência "consiste em experimentar sentimentos
opostos, simultaneamente e em relação ao mes mo motivo".

Fobias
O termo fobia é definido como "um temor insensato, obsessivo e angustiante, que
certos doentes sentem em determinadas situações".

A característica essencial da fobia consiste no temor patológico, que es capa à razão e


resiste a qualquer espécie de objeção. Refere-se a certos obje tos, certos atos ou
certas situações. Podem apresentar-se sob os aspectos mais variados: temor
obsessivo aos espaços abertos (agorafobia) ou fecha dos (claustrofobia), aos contatos
humanos ou com animais (cães, ratos, baratas), te mor de atravessar ruas, de subir ou
descer elevadores, de lugares altos.

Você também pode gostar