Relatorio MedicamentosTopicos OtiteExterna CP31 2016
Relatorio MedicamentosTopicos OtiteExterna CP31 2016
Relatorio MedicamentosTopicos OtiteExterna CP31 2016
Externa Aguda
Outubro/2016
1
2016 Ministério da Saúde.
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que
não seja para venda ou qualquer fim comercial.
Informações:
MINISTÉRIO DA SAÚDE
E-mail: conitec@saude.gov.br
http://conitec.gov.br
CONTEXTO
Em 28 de abril de 2011, foi publicada a Lei n° 12.401 que dispõe sobre a assistência
terapêutica e a incorporação de tecnologias em saúde no âmbito do SUS. Esta lei é um marco para o
SUS, pois define os critérios e prazos para a incorporação de tecnologias no sistema público de
saúde. Define, ainda, que o Ministério da Saúde, assessorado pela Comissão Nacional de
Incorporação de Tecnologias – CONITEC, tem como atribuições a incorporação, exclusão ou alteração
de novos medicamentos, produtos e procedimentos, bem como a constituição ou alteração de
protocolo clínico ou de diretriz terapêutica.
1
como a emissão deste relatório final sobre a tecnologia, que leva em consideração as evidências
científicas, a avaliação econômica e o impacto da incorporação da tecnologia no SUS.
Todas as recomendações emitidas pelo Plenário são submetidas à consulta pública (CP) pelo
prazo de 20 dias, exceto em casos de urgência da matéria, quando a CP terá prazo de 10 dias. As
contribuições e sugestões da consulta pública são organizadas e inseridas ao relatório final da
CONITEC, que, posteriormente, é encaminhado para o Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos
Estratégicos para a tomada de decisão. O Secretário da SCTIE pode, ainda, solicitar a realização de
audiência pública antes da sua decisão.
2
SUMÁRIO
1
1. RESUMO EXECUTIVO
Tecnologias: Soluções otológicas
Contexto: Otite externa aguda é uma inflamação que ocorre na orelha externa – pavilhão e
canal auditivos. Essa condição clínica é caracterizada pelo acometimento da pele e do tecido
subcutâneo, sendo a infecção bacteriana a principal causa. O paciente com essa doença tem
inflamação no local, acompanhada de intensa dor e secreção. Além disso, experimenta
dificuldades de audição, que deixam de existir com a cura da condição clínica. São alternativas
terapêuticas para pacientes com otite externa aguda a assepsia (remoção de cerume e limpeza
local), aplicação tópica de antibióticos, anti-inflamatórios esteroides e anestésicos, além da
administração por via oral de analgésicos e antibióticos. Há no Brasil diversas apresentações
farmacêuticas registradas para o tratamento da otite externa aguda. Contudo, nenhuma delas
integra a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – RENAME.
Pergunta: Qual alternativa terapêutica é mais eficaz/efetiva e segura para o tratamento de
pacientes com otite externa aguda?
Evidências científicas: Evidências clínicas: foi realizada revisão sistemática para sintetizar as
evidências disponíveis sobre eficácia/efetividade e segurança de alternativas terapêuticas para
o tratamento de pacientes com otite externa aguda. Foram incluídos dois estudos que avaliam
alternativas terapêuticas disponíveis no Brasil. Um dos estudos aponta que a utilização de
ciprofloxacino 2 mg/mL se mostrou mais eficaz em curar a doença em menos tempo que a
associação entre polimixina B 10.000 UI, neomicina 3,5 mg/mL, hidrocortisona 10 mg/mL. O
outro estudo concluiu que tanto ciprofloxacino 2 mg/mL associado a hidrocortisona 10 mg/mL
quanto polimixina B 10.000 UI, neomicina 3,5 mg/mL, hidrocortisona 10 mg/mL são
semelhantes em resolver o quadro de dor entre seis e sete dias. Para ampliar a análise, nova
seleção de estudos foi feita incluindo a avaliação de medicamentos com equivalentes classes
farmacêuticas no Brasil. Foram incluídos doze estudos. Foi notada maior eficácia da utilização
de quinolona em relação à associação entre não quinolonas e anti-inflamatório esteroide em
relação à cura em sete a dez dias de acompanhamento. Avaliação de custo-efetividade: foi
realizada avaliação de custo-efetividade em virtude da diferença na eficácia entre quinolona e
2
a associação entre não quinolonas e anti-inflamatório esteroide. Os preços considerados para
as alternativas foram os Preços Fabrica definidos pela Câmara de Regulação do Mercado de
Medicamentos – CMED. Foi construída árvore de decisão para avaliar o desfecho de cura
clínica em sete a dez dias. O custo foi representado pelo valor monetário do medicamento e a
efetividade pela cura clínica em sete a dez dias. A razão de custo-efetividade incremental de
quinolona em relação à associação entre não quinolonas e anti-inflamatório esteroide foi de
R$ 136,25. Esse é o valor necessário para que o tratamento com quinolona proporcione uma
cura clínica a mais em relação à associação entre não quinolonas e anti-inflamatório esteroide.
Avaliação de Impacto Orçamentário: Compreendendo o período entre os anos de 2017 e 2021,
foram consideradas as projeções populacionais calculadas pelo IBGE, as taxas de atendimentos
de pacientes com otite externa aguda e a cobertura da atenção básica pelo SUS no Brasil.
Considerando a perspectiva de financiamento pelo Componente Básico da Assistência
Farmacêutica, além do impacto orçamentário total, foram calculados o impacto orçamentário
médio por município e por habitante. O impacto orçamentário total em cinco anos para a
potencial incorporação de quinolona foi de R$ 87.362.082,52 e para a da associação entre não
quinolonas e anti-inflamatório esteroide foi de R$ 16.373.657,88. Os respectivos valores
médios por município foram de R$ 15.684,40 e R$ 2.939,62. O impacto orçamentário médio
por habitante foi de R$ 0,4148 para quinolona e R$ 0,0778 para a associação entre não
quinolonas e anti-inflamatório esteroide.
Considerações finais: São escassos os estudos sobre alternativas terapêuticas disponíveis no
Brasil. A avaliação por classes farmacêuticas deve se dar com cautela, haja vista a pequena
quantidade de estudos disponíveis e a heterogeneidade entre eles. Por meio da evidência
disponível, pouco se sabe sobre os efeitos atribuídos a cada princípio ativo. Para a seleção de
medicamentos antimicrobianos, pode ser importante avaliar, em vez de uma infecção isolada,
um conjunto de infecções para verificar os potenciais benefícios e riscos de se optar por um
determinado medicamento.
Recomendação da CONITEC: Na 49ª reunião da CONITEC realizada nos dias 5 e 6 de
outubro/2016 o plenário fez uma recomendação preliminar desfavorável à incorporação de
medicamentos tópicos para o tratamento de otite externa aguda. A matéria será
disponibilizada em Consulta Pública.
3
4
2. A DOENÇA
2.1. Aspectos clínicos e epidemiológicos da doença
Epidemiologia
Fisiopatologia
O sistema auditivo é composto pela orelha, que compreende as partes interna, média
e externa. Na orelha interna encontram-se a cóclea e o aparelho vestibular. A cóclea é
responsável pela conversão da energia mecânica do som em sinal elétrico a ser transmitido ao
cérebro. O aparelho vestibular atua na manutenção do equilíbrio e percepção da força
gravitacional. A orelha média é localizada entre o tímpano e a cóclea. Nela, há um espaço oco
denominado caixa timpânica e três ossículos – martelo, bigorna e estribo – responsáveis pela
conversão mecânica das vibrações do tímpano em ondas de pressão a serem amplificadas na
orelha interna. Ainda, há a tuba auditiva, ou trompa de Eustáquio, responsável pelo equilíbrio
de pressão entre a faringe e a orelha em relação à atmosférica. A orelha externa é formada
pelo pavilhão auditivo e pelo canal auditivo – também chamado de meato acústico externo.
Sua função é captar o som e direcioná-lo ao tímpano [2].
Por se tratar de ambiente úmido, quente e escuro, a orelha pode ser acometida por
inflamações e infecções bacterianas ou fúngicas. A essas condições dá-se o nome de otite.
Denominam-se especialmente como otomicose as infecções fúngicas da orelha. Portanto, otite
externa é uma inflamação que ocorre na orelha externa – pavilhão e canal auditivos. Essa
condição clínica é caracterizada pelo acometimento da pele e do tecido subcutâneo, sendo a
infecção bacteriana a principal causa [3].
Manifestações clínicas
5
mucopurulentas – otorreia, sensação de ouvido cheio – plenitude auditiva, baixa na
capacidade auditiva e prurido. A otite externa pode ser causada por fatores localizados, tais
como obstrução, trauma, alteração do pH e pouca disponibilidade de cerume – por baixa
produção ou por retirada proposital [4].
6
3. AS TECNOLOGIAS
São diversas as tecnologias disponíveis para o tratamento de otite externa aguda.
Nessa análise, foram consideradas aquelas disponíveis no Brasil (Tabela 1).
Precauções: A afecção deve ser avaliada por um profissional médico e, de acordo com
a necessidade, deve ser realizada assepsia local antes de iniciar o tratamento e de realizar as
aplicações.
7
TABELA 1. MEDICAMENTOS DISPONÍVEIS NO BRASIL PARA O TRATAMENTO DE OTITE EXTERNA E RESPECTIVOS PREÇOS
8
Tabela 1. (Continuação)
PRINCÍPIO ATIVO LABORATÓRIO PRODUTO APRESENTAÇÃO PF 0% SIASG BPS
APSEN FARMACEUTICA SOL OTO CT 1 FR PLAS OPC X 8 ML + AMP
NEOMICINA;LIDOCAÍNA;HIALURONIDASE OTO-XILODASE 11,32 ** **
S/A LIOF 800 UTR
SULFATO DE POLIMIXINA B;SULFATO DE
FARMOQUÍMICA S/A OTOSPORIN SUSP OTO CT FR PLAS OPC GOT X 10 ML 7,22 9,0143 7,5934
NEOMICINA;HIDROCORTISONA
VALERATO DE
1MG/ML+ 10MG/ML + 5MG/ML SOL OTO
BETAMETASONA;CLORIDRATO DE FARMOQUÍMICA S/A OTO BETNOVATE 14,94 * *
CT FR PLAS GOT X 10 ML
TETRACAÍNA;CLORFENESINA
SULFATO DE POLIMIXINA B;SULFATO DE
NEOMICINA;CLORIDRATO DE ZAMBON LABORATÓRIOS 10.000 UI/ML + 10 MG/ML + 1 MG/ML + 40
PANOTIL 8,46 7,5631 6,5000
LIDOCAÍNA;ACETATO DE FARMACÊUTICOS LTDA. MG/ML SOL OTO CT FR VD AMB CGT X 8 ML
FLUDROCORTISONA
SULFATO DE POLIMIXINA B;SULFATO DE 0,250MG/ML + 10.000 UI/ML + 3,5 MG/ML
GEOLAB INDÚSTRIA
NEOMICINA;FLUOCINOLONA OTOSYLASE + 20 MG/ML SOL OTO CT FR PLAS OPC GOT 4,72 5,8915 3,1226
FARMACÊUTICA S/A
ACETONIDA;CLORIDRATO DE LIDOCAÍNA X 5 ML
SULFATO DE POLIMIXINA B;SULFATO DE 0,250MG/ML + 10.000 UI/ML + 3,5 MG/ML
GEOLAB INDÚSTRIA
NEOMICINA;FLUOCINOLONA OTOSYLASE + 20 MG/ML SOL OTO CX 100 FR PLAS OPC 472,66 5,8915 3,1226
FARMACÊUTICA S/A
ACETONIDA;CLORIDRATO DE LIDOCAÍNA GOT X 5 ML (EMB HOSP)
SULFATO DE POLIMIXINA B;SULFATO DE 0,250MG/ML + 10.000 UI/ML + 3,5 MG/ML
GEOLAB INDÚSTRIA
NEOMICINA;FLUOCINOLONA OTOSYLASE + 20 MG/ML SOL OTO CX 50 FR PLAS OPC 236,32 5,8915 3,1226
FARMACÊUTICA S/A
ACETONIDA;CLORIDRATO DE LIDOCAÍNA GOT X 5 ML (EMB HOSP)
FLUOCINOLONA ACETONIDA +
SULFATO DE POLIMIXINA B;SULFATO DE 0,250 MG/ML + 10.000 UI/ML + 3,5 MG/ML
GEOLAB INDÚSTRIA SULFATO DE POLIMIXINA B + SULFATO
NEOMICINA;FLUOCINOLONA + 20 MG/ML SOL OTO CT FR PLAS OPC GOT 3,04 5,8915 3,1226
FARMACÊUTICA S/A DE NEOMICINA + CLORIDRATO DE
ACETONIDA;CLORIDRATO DE LIDOCAÍNA X 5 ML
LIDOCAINA
FLUOCINOLONA ACETONIDA +
SULFATO DE POLIMIXINA B;SULFATO DE 0,250 MG/ML + 10.000 UI/ML + 3,5 MG/ML
GEOLAB INDÚSTRIA SULFATO DE POLIMIXINA B + SULFATO
NEOMICINA;FLUOCINOLONA + 20 MG/ML SOL OTO CX 100 FR PLAS OPC 304,73 5,8915 3,1226
FARMACÊUTICA S/A DE NEOMICINA + CLORIDRATO DE
ACETONIDA;CLORIDRATO DE LIDOCAÍNA GOT X 5 ML (EMB HOSP)
LIDOCAINA
FLUOCINOLONA ACETONIDA +
SULFATO DE POLIMIXINA B;SULFATO DE 0,250 MG/ML + 10.000 UI/ML + 3,5 MG/ML
GEOLAB INDÚSTRIA SULFATO DE POLIMIXINA B + SULFATO
NEOMICINA;FLUOCINOLONA + 20 MG/ML SOL OTO CX 50 FR PLAS OPC 152,14 5,8915 3,1226
FARMACÊUTICA S/A DE NEOMICINA + CLORIDRATO DE
ACETONIDA;CLORIDRATO DE LIDOCAÍNA GOT X 5 ML (EMB HOSP)
LIDOCAINA
/continua
9
Tabela 1. (Continuação)
10
Tabela 1. (Continuação)
11
4. ANÁLISE DA EVIDÊNCIA
Demandante: Secretaria de Ciência Tecnologia e Insumos Estratégicos – SCTIE/MS
Por se tratar de uma questão científica no campo da terapêutica, foi realizada uma
revisão sistemática para sintetizar os dados clínicos referentes ao tratamento de pessoas com
otite externa aguda. Dessa forma, os estudos primários requeridos foram dos tipos
observacionais (retrospectivo ou prospectivo) e experimentais (ensaios clínicos). Foi elaborada
uma estratégia de busca com poucas restrições, incluindo uma população ampla de indivíduos
acometidos pelo evento em tela, sem restrição de alternativas terapêuticas – desde que estas
sejam disponíveis no Brasil. Como desfecho, privilegiou-se a cura clínica por melhor traduzir o
que se espera do tratamento, desconsiderando desfechos intermediários. Além disso, foram
considerados os dados referentes às reações adversas aos medicamentos (Quadro 1).
12
Pergunta: Qual alternativa terapêutica é mais eficaz/efetiva e segura para o
tratamento de pacientes com otite externa aguda?
Base Estratégia
13
Com o uso das estratégias de buscas, até a data de 21/06/2016, foram identificadas
1496 referências. Ao final, dois estudos foram incluídos (Figura 1).
em busca manual
(n = 1496) (n = 0)
Medline (n = 1165); CRD (n = 9);
Cochrane Library (n = 204);
Lilacs (n = 118)
Referências duplicadas
(n = 61)
Elegibilidade
Estudos incluídos
(n = 2)
14
equivalência terapêutica entre antibióticos, anti-inflamatórios esteroides, antissépticos,
anestésicos ou anti-histamínicos. Foram considerados os estudos que relatassem dados
referentes à cura clínica, que consiste na resolução dos sintomas de dor, edema e secreção.
Dentre os estudos retornados pelas estratégias de busca, doze deles foram incluídos
na revisão sistemática publicada pela Cochrane Collaboration, de Kaushik et al (2010) [6].
Dessa forma, a análise desta revisão foi considerada como subsídio neste relatório, com o
acréscimo de dois estudos [7,8] identificados pela revisão sistemática realizada pela equipe do
DGITS/SCTIE/MS.
Após a avaliação do texto completo dos estudos selecionados como fonte das
evidências, foi realizado um processo de extração dos dados de eficácia e segurança que
atendessem aos elementos da pergunta estruturada deste relatório. Além disso, foi avaliado o
risco de viés nos estudos por meio do instrumento preconizado pela Colaboração Cochrane
[9].
Eficácia
15
10000UI, neomicina 0,35 mg/mL e hidrocortisona 0,1 mg/mL quatro gotas três vezes ao dia
(três gotas em pacientes com menos de treze anos de idade) [7].
16
FIGURA 2. COMPARAÇÃO DE CURA CLÍNICA ENTRE ANTIBIÓTICOS E ANTIBIÓTICOS ASSOCIADOS A
ANTI-INFLAMATÓRIOS ESTEROIDES
Segurança
17
Roland et al (2008) não observaram a ocorrência de eventos adversos graves. Os
autores relatam que, comparado à utilização tópica de ciprofloxacino associado a
hidrocortisona, ocorreram mais eventos gastrintestinais no grupo que utilizou amoxicilina por
via oral associada a aplicação tópica de polimixina B, neomicina e hidrocortisona. Dentre os
onze pacientes que deixaram o estudo devido a eventos adversos, seis pertenciam ao primeiro
grupo e cinco ao segundo.
18
QUADRO 4. ESTUDOS INCLUÍDOS NA REVISÃO DA LITERATURA – MEDICAMENTOS DISPONÍVEIS NO BRASIL
19
Quadro 4. (CONTINUAÇÃO)
20
QUADRO 5. ESTUDOS ADICIONADOS À REVISÃO DA LITERATURA – CLASSES FARMACOLÓGICAS DISPONÍVEIS NO BRASIL
21
Quadro 5. (CONTINUAÇÃO)
22
Quadro 5. (CONTINUAÇÃO)
/continua
23
Quadro 5. (CONTINUAÇÃO)
24
Quadro 5. (CONTINUAÇÃO)
25
Quadro 5. (CONTINUAÇÃO)
26
Quadro 5. (CONTINUAÇÃO)
27
Após a avaliação do risco de viés dos estudos (Figura 4), verificou-se que as evidências
atualmente disponíveis têm predominantemente baixo risco de viés na comparação entres os
grupos pacientes no início dos estudos e na perda de seguimento dos pacientes incluídos. A
maior parte dos estudos não relata o método utilizado para a alocação dos pacientes
(aleatorização). Sobre a manutenção do sigilo da alocação durante o estudo, metade dos
estudos não relata o método para sua garantia. Além disso, em metade dos estudos somente
os avaliadores desconheciam a alocação, o que oferece risco de viés pelo conhecimento da
alternativa terapêutica em uso.
Dada a diferença significativa na cura clínica em sete a dez dias de tratamento, foi
realizada análise de custo efetividade para comparação entre a utilização de quinolona e a de
associação entre não quinolonas e anti-inflamatório esteroide.
28
deste fármaco. Na concentração de 2 mg/mL, o cloridrato de ciprofloxacino está disponível
somente em associação a hidrocortisona 10 mg/mL. Ofloxacino, utilizado no estudo de
Schwartz (2006) [19], não está em nenhuma apresentação farmacêutica registrada no Brasil
para tratamento de pessoas com otite externa.
Assim, considerando que a otite externa é uma condição clínica aguda, por meio de
uma árvore de decisão construiu-se análise de custo-efetividade considerando como desfecho
a cura clínica em sete a dez dias (Figura 5). Conforme apresentado neste relatório, a
probabilidade desse desfecho ocorrer utilizando quinolona ou não quinolonas associadas a
anti-inflamatório esteroide é de, respectivamente, 0,7007 e 0,6040. Como não foram
encontrados registros de cloridrato de ciprofloxacino 3 mg/mL no SIASG e no BPS, utilizou-se o
Preço Fábrica estabelecido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos – CMED
para o frasco de 5 mL. Para manter a comparabilidade, este parâmetro também foi
considerado para o comparador, sendo escolhido o menor valor dentre os estabelecidos pela
CMED para o frasco de 5 mL. Com isso, os respectivos valores considerados foram de R$ 16,22
e R$ 3,04.
29
As razões de custo-efetividade, ou seja, o custo por cura para quinolona ou para o
comparador foi de, respectivamente, R$ 23,15 e R$ 5,03. A razão de custo-efetividade
incremental, que é o valor necessário para que o tratamento com quinolona ofereça uma cura
a mais em relação ao com o comparador, foi de R$ 136,25 (Tabela 2).
30
FIGURA 6. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE UNIVARIADA DO MODELO DE DECISÃO SOBRE TRATAMENTO
PARA OTITE EXTERNA
31
período de análise compreendido. Além disso, a população foi ajustada de acordo com a
proporção de cobertura pela atenção básica oferecida pelo SUS [22] (Tabela 4).
32
TABELA 4. ANÁLISE DE IMPACTO ORÇAMENTÁRIO DA POTENCIAL INCORPORAÇÃO DE MEDICAMENTOS PARA OTITE EXTERNA
População brasileira por idade 2016 2017 2018 2019 2020 2021
0-4 anos 14.545.488 14.360.778 14.182.966 14.011.332 13.845.258 13.684.541
5-9 anos 15.551.873 15.329.961 15.114.823 14.907.522 14.708.594 14.517.525
10-14 anos 16.672.044 16.447.927 16.220.015 15.990.363 15.761.172 15.534.788
15-19 anos 17.166.564 17.150.098 17.089.362 16.983.733 16.841.311 16.623.017
20-39 anos 68.022.995 68.254.915 68.416.676 68.499.419 68.492.929 68.437.831
40-64 anos 57.286.258 58.549.729 59.826.478 61.124.750 62.445.804 63.786.029
65 anos ou mais 16.836.210 17.567.521 18.336.482 19.141.894 19.982.307 20.856.727
Total 206.081.432 207.660.929 209.186.802 210.659.013 212.077.375 213.440.458
População suscetível a otite externa
0-4 anos 100.364 99.089 97.862 96.678 95.532 94.423
5-9 anos 289.265 285.137 281.136 277.280 273.580 270.026
10-14 anos 263.418 259.877 256.276 252.648 249.027 245.450
15-19 anos 151.066 150.921 150.386 149.457 148.204 146.283
20-39 anos 238.080 238.892 239.458 239.748 239.725 239.532
40-64 anos 366.632 374.718 382.889 391.198 399.653 408.231
65 anos ou mais 112.803 117.702 122.854 128.251 133.881 139.740
Total 1.521.628 1.526.338 1.530.863 1.535.260 1.539.602 1.543.685
População suscetível a otite externa coberta pela atenção básica no SUS
0-4 anos 70.425 69.531 68.670 67.839 67.035 66.257
5-9 anos 202.977 200.081 197.273 194.567 191.971 189.477
10-14 anos 184.841 182.356 179.829 177.283 174.742 172.232
15-19 anos 106.003 105.901 105.526 104.874 103.994 102.646
20-39 anos 167.061 167.631 168.028 168.231 168.215 168.080
40-64 anos 257.266 262.940 268.674 274.504 280.437 286.455
65 anos ou mais 79.154 82.592 86.207 89.994 93.945 98.056
Total 1.067.726 1.071.031 1.074.207 1.077.292 1.080.339 1.083.203
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (estimativa populacional).
População suscetível a otite externa: produto entre a estimativa populacional e as taxas de atendimento a pessoas com otite externa, por idade, conforme o Centers for Disease Control and Prevention – CDC dos
Estados Unidos da América; População suscetível a otite coberta pela atenção básica no SUS: produto entre a população suscetível a otite externa e a proporção de população coberta pela atenção básica no SUS.
33
TABELA 5. ANÁLISE DE IMPACTO ORÇAMENTÁRIO DA POTENCIAL INCORPORAÇÃO DE MEDICAMENTOS PARA OTITE EXTERNA
Total (R$) Médio por município (R$) Médio por habitante (R$)
Ano Não quinolonas Não quinolonas Não quinolonas
Quinolona Incremental Quinolona Incremental Quinolona Incremental
+ esteroide + esteroide + esteroide
2017 17.372.124,46 3.255.934,55 14.116.189,92 3.118,87 584,55 2.534,32 0,0837 0,0157 0,0680
2018 17.423.631,09 3.265.588,07 14.158.043,02 3.128,12 586,28 2.541,84 0,0833 0,0156 0,0677
2019 17.473.672,36 3.274.966,95 14.198.705,41 3.137,10 587,97 2.549,14 0,0829 0,0155 0,0674
2020 17.523.094,51 3.284.229,80 14.238.864,72 3.145,98 589,63 2.556,35 0,0826 0,0155 0,0671
2021 17.569.560,09 3.292.938,51 14.276.621,57 3.154,32 591,19 2.563,13 0,0823 0,0154 0,0669
Total 87.362.082,52 16.373.657,88 70.988.424,64 15.684,40 2.939,62 12.744,78 0,4148 0,0778 0,3371
Quinolona: cloridrato de ciprofloxacino 3 mg/mL solução otológica frasco de 5 mL; Não quinolonas + esteroide: sulfato de polimixina B 10.000 UI, sulfato de neomicina 3,5 mg/mL, fluocinolona acetonida 0,25
mg/mL, cloridrato de lidocaína 20 mg/mL solução otológica frasco de 5 mL.
34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A otite externa aguda tem duração entre uma a três semanas e provoca inflamação,
dor e secreção na orelha externa. Tais sinais e sintomas são incômodos e a terapêutica atua no
sentido de atenuá-los e abreviar a duração dessa doença. As opções terapêuticas incluem a
assepsia local, aplicação de medicamentos tópicos e utilização de medicamentos orais, tais
como analgésicos ou antibióticos.
35
Em se tratando de seleção de antimicrobianos, uma avaliação de um conjunto de
infecções poderia ser útil para possibilitar a escolha baseada em evidências não só de eficácia,
efetividade e segurança, mas também de perfil de resistência bacteriana na comunidade. A
seleção de medicamento antimicrobiano enfocando uma única infecção pode omitir questões
como disponibilidade de apresentações farmacêuticas, perfil de resistência em infecções
comunitárias e resistência cruzada.
Como o repasse desses recursos é definido por número de habitantes, foi realizada a
estimativa de impacto orçamentário por habitante. Estimou-se que ao final de cinco anos a
incorporação de quinolona impactaria cerca de R$ 0,41 por habitante e a de não quinolonas
associadas a anti-inflamatório esteroide cerca de R$ 0,08.
36
6. RECOMENDAÇÃO DA CONITEC
Os membros da CONITEC apreciaram a proposta na 49ª reunião, realizada nos dias 05
e 06 de outubro de 2016, e consideraram que ainda não há clareza das evidências clínicas
apresentadas. A matéria será disponibilizada em Consulta Pública com recomendação
preliminar desfavorável à incorporação no SUS.
37
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Estimated burden of acute otitis
externa--United States, 2003-2007. MMWR Morb Mortal Wkly Rep [Internet]. 2011
May 20 [cited 2016 Aug 18];60(19):605–9. Available from:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21597452
2. Thibodeau GA, Patton KT. Estrutura e funções do corpo humano [Internet]. 11th ed.
Guijarro JL, editor. Barueri: Manole; 2002. 528 p. Available from:
https://books.google.com.br/books?id=9A-KEG-
tLQUC&lpg=PP1&dq=isbn%3A8520412599&hl=pt-BR&pg=PR6#v=onepage&q&f=false
3. Kumar V, Abbas AK, Fausto N. Robbins & Cotran Patologia: Bases patológicas das
doenças. 7th ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2004. 1504 p.
4. Rosenfeld RM, Schwartz SR, Cannon CR, Roland PS, Simon GR, Kumar KA, et al. Clinical
practice guideline: acute otitis externa. Otolaryngol Head Neck Surg [Internet]. 2014
Feb [cited 2016 Aug 18];150(1 Suppl):S1–24. Available from:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24491310
5. Nogueira JCR, Melo Diniz M de FF, Lima EO, Lima ZN. Identification and antimicrobial
susceptibility of acute external otitis microorganisms. Braz J Otorhinolaryngol
[Internet]. 2008 [cited 2016 Aug 18];74(4):526–30. Available from:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18852977
6. Kaushik V, Malik T, Saeed SR. Interventions for acute otitis externa. Cochrane database
Syst Rev [Internet]. 2010 [cited 2016 Sep 19];(1):CD004740. Available from:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20091565
7. Drehobl M, Guerrero JL, Lacarte PR, Goldstein G, Mata FS, Luber S. Comparison of
efficacy and safety of ciprofloxacin otic solution 0.2% versus polymyxin B-neomycin-
hydrocortisone in the treatment of acute diffuse otitis externa*. Curr Med Res Opin
[Internet]. 2008 Dec [cited 2016 Sep 19];24(12):3531–42. Available from:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19032135
8. Roland PS, Belcher BP, Bettis R, Makabale RL, Conroy PJ, Wall GM, et al. A single topical
agent is clinically equivalent to the combination of topical and oral antibiotic treatment
for otitis externa. Am J Otolaryngol [Internet]. 2008 Jul [cited 2016 Sep 20];29(4):255–
61. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18598837
9. Higgins J, Green S. Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions Version
5.1.0 [updated March 2011] [Internet]. The Cochrane Collaboration. 2011 [cited 2016
Aug 31]. Available from: www.cochrane-handbook.org
10. Cannon SJ, Grunwaldt E. Treatment of otitis externa with a tropical steroid-antibiotic
combination. Eye Ear Nose Throat Mon [Internet]. 1967 Oct [cited 2016 Sep
20];46(10):1296–302. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/4865569
11. Sabater F, Maristany M, Mensa J, Villar E, Traserra J. [Prospective double-blind
randomized study of the efficacy and tolerance of topical ciprofloxacin vs topical
gentamicin in the treatment of simple chronic otitis media and diffuse external otitis].
Acta otorrinolaringológica española [Internet]. 1996 [cited 2016 Sep 20];47(3):217–20.
Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8924287
38
12. Roland PS, Pien FD, Schultz CC, Henry DC, Conroy PJ, Wall GM, et al. Efficacy and safety
of topical ciprofloxacin/dexamethasone versus neomycin/polymyxin B/hydrocortisone
for otitis externa. Curr Med Res Opin [Internet]. 2004 Aug [cited 2016 Sep
20];20(8):1175–83. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15324520
13. Emgård P, Hellström S, Ohlander B, Wennmo C. Effects of betamethasone dipropionate
plus an antihistamine in patients with external otitis. Curr Ther Res. Elsevier;
1999;60(7):364–70.
14. Lorente J, Sabater F, Rivas MP, Fuste J, Risco J, Gómez M. Ciprofloxacin plus
fluocinolone acetonide versus ciprofloxacin alone in the treatment of diffuse otitis
externa. J Laryngol Otol [Internet]. 2014 Jul 7;128(7):591–8. Available from:
http://www.journals.cambridge.org/abstract_S0022215114001157
15. Jones RN, Milazzo J, Seidlin M, Van Asperen IA de RCSJ et al, Heppt W LH, RJ B, et al.
Ofloxacin Otic Solution for Treatment of Otitis Externa in Children and Adults. Arch
Otolaryngol - Head Neck Surg [Internet]. American Medical Association; 1997 Nov 1
[cited 2016 Sep 22];123(11):1193–200. Available from:
http://archotol.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=624380
16. Mösges R, Domröse CM, Löffler J. Topical treatment of acute otitis externa: clinical
comparison of an antibiotics ointment alone or in combination with hydrocortisone
acetate. Eur Arch Oto-Rhino-Laryngology [Internet]. Springer-Verlag; 2007 Jul 24 [cited
2016 Sep 22];264(9):1087–94. Available from:
http://link.springer.com/10.1007/s00405-007-0314-0
17. Mösges R, Schröder T, Baues CM, Şahin K. Dexamethasone phosphate in antibiotic ear
drops for the treatment of acute bacterial otitis externa. Curr Med Res Opin [Internet].
Taylor & Francis; 2008 Aug 10 [cited 2016 Sep 22];24(8):2339–47. Available from:
http://www.tandfonline.com/doi/full/10.1185/03007990802285086
18. Roland PS, Younis R, Wall GM. A comparison of ciprofloxacin/dexamethasone with
neomycin/polymyxin/ hydrocortisone for otitis externa pain. Adv Ther. 2007
May;24(3):671–5.
19. Schwartz RH. Once-daily ofloxacin otic solution versus neomycin sulfate/polymyxin B
sulfate/hydrocortisone otic suspension four times a day: a multicenter, randomized,
evaluator-blinded trial to compare the efficacy, safety, and pain relief in pediatric
patients with. Curr Med Res Opin. 2006 Sep;22(9):1725–36.
20. Mösges R, Kaatz V, Schmalz P, Meiser P, Eschmann K. Glycerol lidocaine eardrops for
the treatment of acute abacterial otitis externa. Arzneimittelforschung. 2010
Dec;60(7):427–31.
21. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Projeção da População do Brasil
por sexo e idade: 2000-2060 [Internet]. 2013 [cited 2016 Sep 23]. Available from:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/projecao_da_populacao/2013/de
fault_tab.shtm
22. Ministério da Saúde. SAGE - Sala de Apoio à Gestão Estratégica [Internet]. 2016 [cited
2016 Sep 23]. Available from: http://sage.saude.gov.br/#
23. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS no 1.555, de 30 de julho de 2013. Dispõe sobre as
normas de financiamento e de execução do Componente Básico da Assistência
Farmacêutica no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) [Internet]. Brasília; 2013.
Available from:
39
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt1555_30_07_2013.html
40