Manual de Clínica Médica - Cardiologia PDF
Manual de Clínica Médica - Cardiologia PDF
Manual de Clínica Médica - Cardiologia PDF
CLÍNICA MÉDICA
EDITORES ASSOCIADOS:
Débora Gonçalves da Silva
Felipe Marques da Costa
Gabrielly Borges Machado
Iara Baldim Rabelo
Lívia de Almeida Costa
Milena Tenório Cerezoli
Nícollas Nunes Rabelo
Robson Eugênio da Silva
Tárcia Nogueira Ferreira Gomes
Valéria Garcia Caputo
Victor Ferreira Schuwartz Tannus
Yanne Franca Montino
1. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES
2. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
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Vários fatores determinam um melhor ou pior prognóstico como: duração da oclusão, área de
miocárdio em risco e presença de circulação colateral, sendo esses os mais importantes.
3. QUADRO CLÍNICO
Há também os casos nos quais a apresentação da síndrome coronária aguda não se dá pela
presença de dor e sim pela presença de outro sintoma, como consequência de isquemia miocár-
dica. É o chamado equivalente anginoso como a dispneia ou confusão mental.
Após a avaliação clínica fazem-se necessários os exames complementares para o diagnóstico
diferencial de uma síndrome coronária aguda em Infarto Agudo do Miocárdio com supradesni-
velamento do segmento ST, Infarto Agudo do Miocárdio sem supradesnivelamento do segmento
ST, angina instável e angina estável.
Neste capítulo será abordado o Infarto Agudo do Miocárdio com supradesnivelamento do
segmento ST.
4. DIAGNÓSTICO
A avaliação inicial e o exame físico são primordiais para a identificação da ocorrência do in-
farto. O paciente pode apresentar grande ansiedade e expressão de medo e angústia, de acordo
com a apresentação clássica de Levine, na qual temos um paciente com fácies de dor e a mão em
região precordial. Se houver hipotensão ou choque, o paciente pode encontrar-se apático, sudo-
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reico e confuso. Deve-se investigar o momento de início dos sintomas, qualidade da dor, relação
com esforço e se há uma doença coronariana já conhecida.
A frequência cardíaca pode estar aumentada devido à dor, ansiedade, presença de disfunção
ventricular e taquiarritmias ou diminuída devido a bradiarritmias. Os pacientes podem apresentar
hiperatividade adrenérgica, evoluindo com taquicardia e hipertensão ou bradicardia e/ou hipo-
tensão, devido à hiperatividade parassimpática.
Outro dado importante é obtido com a aferição da pressão arterial em ambos os braços, pro-
curando diferença de pressão, e palpação de pulso nas quatro extremidades, observando se há
diferenças em amplitude, como pesquisa do diagnóstico diferencial de síndrome aórtica aguda,
mais provavelmente uma dissecção aguda de aorta.
Uma quarta bulha (B4) pode ser identificada, devido à disfunção diastólica e uma terceira
bulha (B3) sugere disfunção sistólica do ventrículo esquerdo.
Estertores pulmonares, sibilos, expectoração rosada ou edema pulmonar agudo estarão pre-
sentes se o paciente apresentar congestão pulmonar.
Dentre os exames complementares, é de extrema importância e urgência o eletrocardiogra-
ma (ECG), valioso método para a identificação e localização do IAM, e deve ser feito e interpretado
em no máximo 10 minutos.
No ECG deve-se buscar alterações do segmento ST, compatíveis com IAM com supradesnive-
lamento do segmento ST ou alterações dinâmicas ou fixas de ST, que não diagnostica um supra-
desnivelamento do segmento ST, mas coloca o paciente como alto risco.
• Elevação do segmento ST: Maior ou igual a 1 mm (acima do ponto j) em duas ou mais deriva-
ções contíguas, ou que determine uma parede.
• Bloqueio de ramo esquerdo novo ou presumivelmente novo.
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A CKMB massa é utilizada para detecção de necrose do Miocárdio, entretanto, tem menor es-
pecificidade que a troponina. Se eleva juntamente com a troponina, porém, normaliza em apro-
ximadamente 72 horas após o infarto, com pico entre 20 a 24 horas. É útil na avaliação de casos
suspeitos de reinfarto. Deve-se lembrar também que seu uso deve estar associado à dosagem da
CK total, para aumentar a especificidade do teste.
500
B1
Multiples of the cut-off limit
A Myoglobin
B1 Troponin (large infarction, e.g. STEMI)
200 B2 Troponin (small infarction, e.g. NSTEMI)
C CK-MB
100
C
A
B2
1
URL (99th Percentile)
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
5. PROGNÓSTICO
A aplicação de escores de risco como o TIMI possibilita avaliar o risco de morte e de compli-
cações pós-infarto em condições clínicas habituais. Além disso, permite identificar diferenças no
manejo dos pacientes conforme o prognóstico determinado pelo escore.
Estratificação de risco: escore de TIMI para IAM com Supra.
Histório Pontos
65-74 anos 2
DM ou HAS ou Angina 1
Exame Clínico
Killnip (L)V 2
Peso < 67 Kg 1
Apresentação clínica
62
0 0,7
1 0,3
2 1,9
3 3,9
4 6,5
5 11,6
6 14,7
7 21,5
8 24,4
>8 31,7
6. TRATAMENTO
Terapia Antiplaquetária deve ser inicialmente dupla, com um inibidor na via do tromboxano
(ácido acetil salicílico) e um inibidor na via do ADP (clopidogrel, prasugrel ou ticagrelor):
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• Ácido Acetilsalicílico (AAS), o antiplaquetário de excelência, devendo ser prescrito para todo
paciente, exceto se úlcera péptica ativa, discrasia sanguínea ou hepatopatia grave. A alergia
ao AAS não configura impedimento ao seu uso. É possível realizar a dessensibilização com
sucesso em mais de 90% dos casos. Dose: 162 a 325 mg em dose de ataque, com dose de ma-
nutenção de 82 a 100 mg/dia em todos os pacientes, salvo contraindicações, independente
da estratégia de tratamento, continuando por tempo indeterminado.
• Clopidogrel: é um tienopiridínico, antagonista da ativação plaquetária mediada pelo difos-
fato de adenosina (ADP), que age bloqueando o receptor P2Y12 plaquetário. Também reduz
o nível de fibrinogênio circulante e bloqueia parcialmente os receptores de glicoproteína
IIb/IIIa, dificultando sua ligação ao fibrinogênio e ao fator de Von Willebrand. Está indicado
para as síndromes coronárias agudas de moderado e alto risco, juntamente com o AAS. A
administração consiste em uma dose de ataque de 600 mg2 e manutenção com 75 mg ao
dia durante 12 meses. Existe uma discussão recente em prolongar a dupla antiagregação
plaquetária para paciente com escores isquêmicos altos, por exemplo o GRACE score e um
risco de sangrar baixo calculado pelo DAPT score.
• Prasugrel: tienopiridínico desenvolvido para buscar obter bloqueios mais rápidos de agrega-
ção plaquetária, atingindo o pico plasmático em 30 minutos. Outra característica importante
é a menor interação com medicações metabolizadas pelo citocromo P-450. Dose de ataque
de 60 mg e manutenção de 10 mg/dia por 12 meses. Deve-se evitar o uso em pacientes com
histórico de AVE/AIT, maiores de 75 anos ou peso inferior a 60 quilos. Ensaios randomiza-
dos observaram uma vantagem do prasugrel em relação ao clopidogrel, com diminuição de
eventos isquêmicos, porém com o aumento do eventos hemorrágicos. O Prasugrel só deve
ser iniciado após o estudo hemodinâmico (cateterismo cardíaco).3
• Derivados da ciclopentil triazolopirimidina: ticagrelor e cangrelor. O ticagrelor promove um
bloqueio reversível dos receptores P2Y12, tendo uma meia-vida de 12 horas e não depende
do metabolismo hepático. Com isso, exerce um efeito antiagregante plaquetário mais inten-
so e rápido em relação as outras classes. Deve ser administrado na dose de ataque de 180 mg
VO e manutenção de 90 mg VO, duas vezes ao dia. O ticagrelor ainda não pode ser usado em
pacientes com Infarto Agudo do Miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST que
receberam fibrinolíticos. O estudo TREAT, em fase de recrutamento de pacientes tem como
objetivo responder se o ticagrelor é não inferior ao Clopidogrel nesses pacientes (https://
clinicaltrials.gov/ct2/show/record/NCT02298088). O cangrelor possui a mesma ação do tica-
grelor, porém, é administrado por via endovenosa. Possui grande vantagem pois apresenta
início de ação muito rápida, por volta de 3 a 5 minutos e término de ação também mais
rápido cerca de 60 minutos o que o torna atraente no cenário de síndrome coronária aguda,
pois se o paciente apresentar indicação cirúrgica tanto de revascularização miocárdica de
urgência, decisão cada vez menos frequente, como uma possível dissecção aórtica que faz
diagnóstico diferencial, consegue-se fazer com um risco de sangramento muito menor.
• Antagonistas dos receptores glicoproteicos IIb/IIIa: abciximab e tirofiban. Exercem bloqueio
da via final comum da agregação plaquetária. Esses dois medicamentos são os disponíveis
no Brasil. O abciximab bloqueia de forma irreversível e não competitiva os receptores de
GP IIb/IIIa. O tirofiban age no receptor IIb/IIIa impedindo sua ligação ao fibrinogênio. Estão
preconizados em casos de angioplastia primária em que se evidencia alta carga trombótica.
A decisão de usá-los é tomada geralmente na sala de hemodinâmica. São contraindicados
quando a estratégia de reperfusão é a trombólise.
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Nitrato e Betabloqueadores: evitar nitratos em pacientes com risco de choque, infarto de ven-
trículo direito e em pacientes que fizeram uso de medicamentos para disfunção erétil nas últimas
horas (por ex. Sidenafil). O uso sublingual de nitroglicerina (0,4 mg/comp.), dinitrato de isossor-
bida (5 mg/comp.) ou mononitrato de isossorbida (5 mg/comp.) não deve ultrapassar três com-
primidos, separadas as administrações por intervalos de cinco minutos. A nitroglicerina pode ser
administrada por via EV, sendo esta mais indicada, na dose de 5 a 10 mcg/min em BIC, podendo
aumentar em 10 mcg/min até atingir o efeito desejado.
Os betabloqueadores são essenciais nas síndromes coronárias agudas, tendo comprovado
valor na redução da mortalidade, reduzindo a pressão arterial, o cronotropismo e o inotropismo,
agindo no sentido de diminuir o consumo de oxigênio pelo miocárdio. As ações antiarrítmicas são
importantes na fase aguda do Infarto do Miocárdio. Devem ser administrados com cautela devido
às contraindicações formais como choque cardiogênico e BAV de segundo e terceiro graus. A
administração por via oral foi considerada preferível independentemente da administração con-
comitante de fibrinolíticos ou da realização de intervenção percutânea primária, respeitando-se
suas contraindicações. Deve-se optar por beta bloqueadores que podem ser usados tanto com
função sistólica preservada como na disfunção sistólica ventricular. Uma opção é o succinato de
metoprolol. Após conhecimento da função ventricular, podemos usar qualquer betabloqueador
se a função ventricular for normal. Se houver disfunção sistólica devemos usar metoprolol, biso-
prolol ou carvedilol.
6.2 Anticoagulação
• Dose enoxaparina: 1 mg/kg de 12/12 horas com administração subcutânea. Ajustar a dose
em idosos (diminuir 25% da dose) e se insuficiência renal estágio 4, isto é clearance de crea-
tinina menor que 30 (diminuir 50% – 1 mg/kg, uma vez ao dia).
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mica ou para pacientes que chegaram a instituição de saúde com o Infarto Agudo do Miocárdio
com supradesnivelamento do segmento ST já estabelecido.
• Dose: 2,5 mg/dia SC por 8 dias ou até alta hospitalar, caso esta ocorra antes. Em caso de
cirurgia de revascularização do miocárdio, cessar 24 horas antes e reiniciar 24 horas após o
procedimento.
Estudos sugerem que são úteis para pacientes de alto ou baixo risco após episódio de Infarto
Agudo do Miocárdio com disfunção ventricular esquerda, com ou sem sintomas, sendo manda-
tória a sua prescrição nesses casos. Recomenda-se que seu uso seja iniciado com baixas doses
e dentro das primeiras 24 horas após a reperfusão coronariana, após a estabilização da pressão
arterial. As contraindicações absolutas desta prescrição são referentes à estenose arterial renal
bilateral, angioedema após uso prévio e gestação.
• Dose:
• Captopril 6,25 – 50 mg VO 8/8 h.
• Enalapril 2,5 – 20 mg VO 12/12 h.
• Ramipril 2,5 – 5 mg VO 12/12 h.
• Lisinopril 5 – 10 mg VO 1x/dia.
As estatinas inicialmente foram testadas e usadas para o controle dos níveis de colesterol,
mas durante os estudos perceberam efeitos pleotróficos (ação não esperada da medicação), en-
tre elas podemos citar ação antiinflamatória e estabilizadora da placa. Seu uso está preconizado
em todos os pacientes com síndrome coronária aguda já nas primeiras horas de terapêutica. O
estudo SECURE-PCI, um estudo brasileiro, randomizado, duplo-cego multicentrico testou dose de
ataque de atorvastatina versus placebo, no cenário de síndrome coronariana aguda com e sem
supradesnivelamento de segmento ST em pacientes sobre os quais havia a intenção de tratar
com angioplastia coronária percutânea. Recrutou 4191 pacientes e não se observou redução es-
tatisticamente significativa nos desfechos previstos da dose de ataque em relação ao placebo na
população geral. Na análise de subgrupos, observou-se uma redução significativa nos desfechos
entre aqueles pacientes que receberam a dose de ataque que efetivamente foram submetidos à
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• Doses:
• Sinvastatina 80 mg VO 1 vez ao dia.
• Atorvastatina 80 mg VO 1 vez ao dia.
• Pravastatina 40 mg VO 1 vez ao dia.
• Rosuvastatina: 20 mg VO 1 vez ao dia.
Dados recentes de estudos com anticorpos monoclonais que inibem pró-proteína subtilisin/
kexin convertase do tipo 9 (Inibidores PCSK9), principalmente o evolocumab (estudo com 27.564
pacientes), associado as estatinas, reduziram em média o LDL colesterol para 30 mg/dL e cerca de
25% dos pacientes tiveram LDL igual ou menor que 20. Os resultados mostraram diminuição dos
eventos cardiovasculares (morte cardiovascular, infarto, acidente vascular encefálico, hospitali-
zação por angina instável ou necessidade de revascularização coronária) sem aumentar eventos
adversos.5
É uma modalidade terapêutica embasada no fato de que tais células-tronco possam favore-
cer a miogênese e a angiogênese, tendo efeito no remodelamento cardíaco. Ainda emite muitas
discussões e estudos sobre esta prescrição no tratamento do Infarto Agudo do Miocárdio com
supradesnivelamento do segmento ST.
• Doses:
• Estreptoquinase (SK): 1,5 milhões UI EV infusão lenta em 30 – 60 minutos.
• Alteplase (tPA): 15 mg EV dose de ataque + 0,75 mg/kg durante 30 minutos (máximo de
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• Dose única:
• < 60 kg = 30 mg.
• 60 – 69,9 kg = 35 mg.
• 70 – 79,9 kg = 40 mg.
• 80 -89,9 kg = 45 mg.
• ≥ 90 = 50 mg.
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MODELO DE PRESCRIÇÃO
MOVE
1 – Monitorização contínua (pressão arterial, GLICEMIA, Sat O2) e repouso.
2 – Oxigênio 3L/min com cateter nasal.
3 – Acesso venoso.
4 – ECG.
5 – Reperfusão imediatamente, de preferência angioplastia primária.
MONABCHR
1 – Morfina 1 a 5 mg IV em bolus (repetir, se necessário, de cinco a 30 minutos).
2 – Oxigênio 3L/min com cateter nasal.
3 – Dinitrato de isossorbida 5 mg sublingual (repetir até três vezes em intervalos de cinco minutos, se
necessário).
4 – AAS 300 mg VO dose de ataque + 100 mg VO 1x/dia.
5 – Succinato de metoprolol 50 mg VO de 1x ao dia (checar contraindicações).
6 – Clopidogrel 600 mg VO dose de ataque + 75 mg VO 1x/dia.
7 – Heparina não fracionada administração aos cuidados da equipe de Hemodinâmica.
8 – Ramipril 2,5 mg 1x/dia.
9 – Atorvastatina 40 mg VO 1x/dia.
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Autores:
Frederico Toledo Campo Dall’Orto
Ricardo Reinaldo Bergo
Frederico Menezes da Costa Lopes
1. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES
2. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
3. QUADRO CLÍNICO
• Dor torácica definitivamente anginosa (tipo A): há características de angina do peito típi-
cas e evidentes. A localização é retroesternal ou precordial, precipitada por estresse físi-
co ou emocional, com irradiações possíveis para região cervical, mandíbula, ombro, face
ulnar dos braços, região epigástrica e/ou região interescapular, com duração de alguns
minutos, e aliviada pelo repouso ou uso de nitrato em menos de 10 minutos.
• Dor torácica provavelmente anginosa (tipo B): esse tipo de dor não possui todas as carac-
terísticas de uma angina clássica, mas a doença arterial coronariana continua sendo sua
principal hipótese diagnóstica.
• Dor provavelmente não anginosa (tipo C): é uma dor atípica, isto é, a doença coronária
não é a principal hipótese diagnóstica, mas não é possível excluir totalmente sem a reali-
zação de exames complementares.
• Dor torácica não anginosa (tipo D): é um tipo de dor que você pode excluir a hipótese de
doença coronária como causa da dor. Apresenta características como pontada (o pacien-
te atribui a uma polpa digital) da região média do abdome ou inferior, incluindo mem-
bros inferiores, que se altera com a movimentação, com a palpação ou com movimentos
respiratórios, dor com duração de segundos.
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Há também os casos nos quais a apresentação da síndrome coronária aguda não se dá pela
presença de dor e sim pela presença de outro sintoma, como consequência de isquemia miocár-
dica. É o chamado equivalente anginoso: dispneia ou confusão mental.
Após a avaliação clínica fazem-se necessários os exames complementares para o diagnóstico
diferencial de uma síndrome coronária aguda em Infarto Agudo do Miocárdio com supradesni-
velamento do segmento ST, Infarto Agudo do Miocárdio sem supradesnivelamento do segmento
ST, angina instável e angina estável.
As anginas instáveis podem se subdividir levando em conta as características de apresentação
ou da gravidade do quadro. A seguir seguem estas subdivisões em relação a característica de
apresentação:
Deve-se sempre investigar a presença de fatores de risco para doença arterial coronária, pois
aumentam o risco do paciente ter aterosclerose. Os mais comuns seguem no quadro a seguir.
4. DIAGNÓSTICO
O diagnóstico de uma síndrome coronária aguda é suspeitado numa avaliação clínica inicial,
história clínica e exame físico direcionados, seguido de um eletrocardiograma, que deve ser reali-
zado e interpretado em 10 minutos e dosagem de marcadores de necrose miocárdica. Se houver
uma elevação do segmento ST maior que 1 mm em duas derivações contíguas ou bloqueio de
ramo esquerdo novo ou presumivelmente novo, o quadro é compatível com Infarto Agudo do
Miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST. Caso não haja elevação característica do
segmento ST, o quadro é compatível com síndrome coronária aguda sem supra de ST, devendo
a elevação de troponinas diferenciar Infarto Agudo do Miocárdio sem supradesnivelamento do
segmento ST da angina instável, nesta última sem elevação de marcadores de necrose miocárdica.
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5. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO
Existem vários escores para auxiliar na estratificação de risco, sendo o mais indicado no mo-
mento o GRACE6 escore. Há aplicativos gratuitos para diversos dispositivos como celulares ou
tablets.
GRACE SCORE: baixo risco: < 109, moderado risco: 109-140, alto risco: > 140.
Fonte: www.gracescore.org.
73
TIMI SCORE7 – Baixo risco: até 2; moderado risco: 3 e 4 e alto risco maior ou igual a 5.
Fonte: www.timi.org
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6. TRATAMENTO
A analgesia é preconizada para todos os pacientes com SCA, devido ao fato que a dor angino-
sa causa aumento da atividade adrenérgica, e esta aumenta a necessidade de oxigênio pelo mio-
cárdio. O analgésico estabelecido é o sulfato de morfina, na dose de 2 a 4 mg EV, diluído, repetido
em intervalos de 5 a 15 minutos, se necessário.
O uso de benzodiazepínicos podem ser úteis em pacientes muito ansiosos.
Deve ser inicialmente dupla, com um inibidor na via do trombone (ácido acetil salicílico) e um
inibidor na via do ADP (Clopidogrel, Prasugrel ou ticagrelor):
• Ácido acetilsalicílico (AAS): antiplaquetário de excelência, devendo ser prescrito para todo
paciente, exceto se úlcera péptica ativa, discrasia sanguínea ou hepatopatía grave. A aler-
gia ao AAS não configura impedimento ao seu uso. A terapia de dessensibilização é bem
75
sucedida em mais de 90% dos casos. Dose: 162 a 325 mg em dose de ataque, com dose de
manutenção de 81 a 162 mg/dia em todos os pacientes, salvo contraindicações, indepen-
dentemente da estratégia de tratamento, continuando por tempo indeterminado.
• Clopidogrel: é um tienopiridínico, antagonista da ativação plaquetária mediada pelo difosfato
de adenosina (ADP), que age bloqueando o receptor P2Y12 plaquetário. Também reduz o nível
de fibrinogênio circulante e bloqueia parcialmente os receptores de glicoproteína IIb/IIIa, dificul-
tando sua ligação ao fibrinogênio e ao fator de von Willebrand. Está indicado para as síndromes
coronárias agudas de risco moderado e alto, para novos eventos isquêmicos. A administração
consiste em uma dose de ataque de 300 mg e manutenção com 75 mg ao dia durante 12 meses.
Contraindicado em AVE e AIT, hemorragia patológica ativa e disfunção hepática grave (Child C).
• Prasugrel: tienopiridínico desenvolvido para obter bloqueios mais rápidos de agregação pla-
quetária, atingindo o pico plasmático em 30 minutos. Outra característica importante é a me-
nor interação com medicações metabolizadas pelo citocromo P-450. Dose de ataque de 60
mg e manutenção de 10 mg/dia. Em maiores de 75 anos, a manutenção é de 5 mg/dia. Está
contraindicado em pacientes com histórico de AVE/AIT devido a riscos de sangramentos, e
deve ter sua dose diminuída pela metade em pacientes acima de 75 anos ou peso inferior a 60
quilos. O Prasugrel só deve ser iniciado após o estudo hemodinâmico (cateterismo cardíaco).3
• Derivados da ciclopentil triazolopirimidina: ticagrelor e cangrelor. O ticagrelor promove um
bloqueio reversível dos receptores P2Y, tendo uma meia-vida de 12 horas e não depende do
metabolismo hepático. Com isso, exerce um efeito antiagregante plaquetário mais intenso e
rápido em relação as outras classes. Sua dose de ataque é 180 mg VO e manutenção de 90 mg
de 12 em 12 horas. O cangrelor possui a mesma ação do ticagrelor, porém, é administrado
por via endovenosa. Possui grande vantagem, pois apresenta início de ação muito rápida, por
volta de 3 a 5 minutos e término de ação também mais rápido, cerca de 60 minutos. Isso o
torna atraente por permitir rápida reversão da antiagregação planetária no cenário de síndro-
me coronária aguda, quando há a indicação cirúrgica tanto de revascularização miocárdica de
urgência, como uma possível dissecção aórtica.
• Antagonistas dos receptores glicoproteicos IIb/IIIa: abciximab e tirofiban. Exercem bloqueio
da via final comum da agregação plaquetária. Estes dois medicamentos são os disponíveis
no Brasil. O abciximab bloqueia de forma irreversível e não competitiva os receptores de GP
IIb/IIIa. O tirofiban age no receptor IIb/IIIa impedindo sua ligação ao fibrinogênio. Estão pre-
conizados em casos de angioplastia primária em que se evidencia alta carga de trombos. A
decisão de usá-los é tomada geralmente na sala de hemodinâmica. Se a decisão é por inter-
venção no momento do cateterismo usa-se preferencialmente o abciximab, se a preferência
é por inicialmente manter tratamento clínico, para depois intervir, opta-se pelo Tirofiban.
6.3 Anticoagulação
Estudos sugerem que são úteis para pacientes de alto ou baixo risco após episódio de IAM
com disfunção ventricular esquerda, com ou sem sintomas, sendo mandatória a sua prescrição
nesses casos. Recomenda-se que seu uso seja iniciado com baixas doses e dentro das primeiras 24
horas após a reperfusão coronariana, após a estabilização da pressão arterial. As contraindicações
absolutas desta prescrição são a estenose arterial renal bilateral, angioedema após uso prévio e
gestação.
• Dose:
• Captopril 6,25 – 50 mg VO 8/8 h.
• Enalapril 2,5 – 20 mg VO 12/12 h.
• Ramipril 2,5 – 5 mg VO 12/12 h.
• Lisinopril 5 – 10 mg VO 1x/dia.
As estatinas inicialmente foram testadas e usadas para o controle dos níveis de colesterol,
mas durante os estudos perceberam efeitos pleotróficos (ação não esperada da medicação, entre
elas podemos citar ação antiinflamatória e estabilizadora da placa). Seu uso está preconizado
em todos os pacientes com síndrome coronária aguda já nas primeiras horas de terapêutica. O
estudo SECURE-PCI, um estudo brasileiro, randomizado, duplo-cego multicentrico testou dose de
ataque de atorvastatina versus placebo, no cenário de síndrome coronariana aguda com e sem
supradesnivelamento de segmento ST em pacientes sobre os quais havia a intenção de tratar
com angioplastia coronária percutânea. Recrutou 4191 pacientes e não se observou redução es-
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• Doses:
• Sinvastatina 80 mg VO 1 vez ao dia.
• Atorvastatina 80 mg VO 1 vez ao dia.
• Pravastatina 40 mg VO 1 vez ao dia.
• Rosuvastatina: 20 mg VO 1 vez ao dia.
Existem dados recentes com anticorpos monoclonais que inibem pró-proteína subtilisin/
kexin convertase do tipo 9 (inibidores PCSK9), principalmente o evolocumab (estudo com 27.564
pacientes), associado às estatinas, reduziram em média o LDL colesterol médio para 30 mg/dL e
cerca de 25% dos pacientes tiveram LDL igual ou menor que 20, diminuíram os eventos cardio-
vasculares (morte cardiovascular, infarto, acidente vascular encefálico, hospitalização por angina
instável ou necessidade de revascularização coronária) sem aumentar eventos adversos.5
MODELO DE PRESCRIÇÃO
MOVE
1 – Monitorização contínua (Pressão arterial, GLICEMIA, SatO2) e repouso.
2 – Oxigênio 3L/min com cateter nasal.
3 – Acesso venoso.
4 – ECG seriado.
MONABCH
1 – Morfina 1 a 5 mg IV em bolus (repetir, se necessário, de cinco a 30 minutos).
2 – Oxigênio 3L/min com cateter nasal.
3 – Dinitrato de isossorbida 5 mg sublingual (repetir até três vezes em intervalos de cinco minutos, se
necessário).
4 – AAS 300 mg VO dose de ataque + 100 mg VO 1x/dia por tempo indeterminado.
5 – Succinato de metoprolol 50 mg VO 1x/dia (checar contraindicações).
6 – Clopidogrel 300 mg VO dose de ataque + 75 mg VO 1x/dia.
7 – Fondaparinux 2,5 mg SC 1x/dia.
8 – Ramipril 2,5 mg VO 1x/dia.
9 – Atorvastatina 40 mg VO 1x/dia.
78
7. FLUXOGRAMAS
Alteração em ST e/ou T
ECG não-diagnóstico Dor persistente
Biomarcadores Biomarcadores cardíacos
cardíacos normais positivos
Instabilidade hermodinâmica
Teste provocativo
de isquemia
Considerar avaliação da
função do VE
Negativo
Admissão hospitalar
Diagnósticos potenciais:
Algoritmo de SCA sem
desconforto não isquêmico,
supra de ST
SCA de baixo risco
Encaminhar seguimento
ambulatorial
Fonte: Modificado de Algorithm for evaluation and management of patients suspected of having ACS (2007).
79
Síndrome
Sintomas coronariana
sugestivos de
aguda
SCA
Avaliação no serviço
Sintomas de emergência
sugestivos de SCA
Avaliação na sala de emergência (<10min)
Fonte: Modificado de Effect of a multifaceted intervention on use of evidence-based therapies in patients with acute coronary
syndromes in Brazil: the BRIDGE-ACS randomized trial (2012).
80
REFERÊNCIAS
1. Wessler JD, Stant J, Duru S et al. Updates to the ACCF/AHA and ESC STEMI and NSTEMI guidelines: put-
ting guidelines into clinical practice. Am J Cardiol 2015;115:23A-28A.
2. Beckerath VN, Taubert D, Pogatsa-Murray G et al. Absorption, metabolization, and antiplatelet effects
of 300-, 600-, and 900-mg loading doses of clopidogrel: results of the ISAR-CHOICE (Intracoronary
Stenting and Antithrombotic Regimen: Choose Between 3 High Oral Doses for Immediate Clopidogrel
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cardiovascular events in acute coronary syndrome: the secure-pci randomized clinical trial. JAMA.
2018;319(13):1331-1340.
81
Autores:
Pedro Rodrigo Magalhães
Negreiros de Almeida
Luilson Geraldo Coelho Júnior
Estevão Tavares de Figueiredo
EDEMA AGUDO DE PULMÃO
CARDIOLOGIA
1. INTRODUÇÃO
De maneira genérica, o edema agudo de pulmão (EAP) ocorre por acúmulo de líquidos no
espaço intersticial pulmonar e alvéolos, superando a capacidade de drenagem linfática pul-
monar. Apresenta-se conceitualmente dividido em cardiogênico e não cardiogênico. Como
objetivo deste capítulo iremos tratar da forma cardiogênica.1,2
2. FISIOPATOLOGIA
Em sua forma cardiogênica, tendo como conhecimento prévio necessário a força de Star-
ling, o EAP ocorre basicamente devido ao aumento das pressões de enchimento nas câmaras
esquerdas, levando à sua transmissão ao leito capilar pulmonar. Esse, sem tempo de se adap-
tar, não suporta a pressão hidrostática e o transudato (em geral, com hipertensão pulmonar
acima de 18 mmHg). Outra causa de sua ocorrência é o aumento abrupto da pós-carga, como
ocorre no EAP hipertensivo (Tabela 1).3,4
3. DIAGNÓSTICO
Dispneia intensa é a queixa principal, podendo se instalar de maneira rápida ou ser prece-
dida por tosse seca, sibilos e ortopneia. Em geral, o paciente encontra-se com taquicardia, su-
dorese, utilização de musculatura acessória e esquiva do decúbito dorsal. Mas pode, também,
em vias de insuficiência respiratória, apresentar-se com cianose, hipoventilação e bradicardia.
83
À ausculta pulmonar, o achado clássico são os estertores difusos, estando frequentemente asso-
ciados a sibilos (asma cardíaca). 2-6
A grande questão que o médico enfrenta diante dessa emergência é a diferenciação entre
EAP cardiogênico e não cardiogênico e, principalmente, a separação entre dispneia de origem
cardíaca e dispneia de origem pulmonar. 3
3.1.1 Eletrocardiograma
O ECG pode contribuir sobremaneira nas causas do EAP, em especial nas causas isquêmicas.
No geral, nota-se a presença de taquicardia (por ativação do SNA simpático devido à ansiedade e
aumento da pressão capilar pulmonar). Deve-se procurar ativamente arritmias, sinais de isquemia
e sobrecargas atriais e ventriculares.2-7
3.1.2 Ecocardiograma
Exame de baixo custo, podendo ser feito à beira do leito, que pode ser definidor no diag-
nóstico se realizado por mãos treinadas. Deve ser exame imprescindível naqueles pacientes já
portadores de cardiopatia. 4,6,8
Fazem parte da rotina básica no EAP cardiogênico, tendo em vista que sua principal causa é
isquêmica. Devem ser solicitados conforme o protocolo de síndromes coronárias agudas (vide
capítulo específico).2-8
3.1.5 BNP
O BNP (brain natriuretic peptide) é um hormônio que tem sua produção aumentada em si-
tuações de aumento das pressões de enchimento do miocárdio. Portanto, é exame fundamental,
além da história clínica e exame físico adequados, para a diferenciação entre dispneia de origem
cardiogênica ou não. Valores acima de 400 pg/mL sugerem, fortemente, dispneia de origem car-
diogênica. Já valores inferiores a 100 pg/mL praticamente excluem essa possibilidade. 9
4. TRATAMENTO
Um erro frequentemente cometido pela equipe que assiste ao paciente é insistir que este
permaneça deitado no leito. Isso acarreta aumento do retorno venoso e pode piorar o quadro
84
abruptamente, com consequências catastróficas. Portanto, o paciente deve ficar sentado (prefe-
rencialmente, com as pernas para fora do leito), reduzindo, assim, a pré-carga. 10
85
4.1.2 Diuréticos
A classe indicada é dos diuréticos de alça (furosemida), em especial por via endovenosa, po-
dendo ou não serem associados à tiazídicos e à espironolactona em caso de resistência glomeru-
lar. Existem evidências científicas concretas de que o uso endovenoso da furosemida supera seu
uso oral por dois motivos: em primeiro lugar pelo seu efeito venodilatador discreto, quando uti-
lizado por esta via; e, em segundo, devido aos pacientes congestos que apresentam, também,
congestão esplâncnica, o que dificulta muito a absorção da medicação (sendo que tal fato deve
ser lembrado para as demais medicações).
A dose indicada varia de 20 a 40 mg, endovenoso, em casos leves e moderados de retenção
hídrica. Já para retenção grave de fluidos, sugerimos o uso de 5 a 40 mg/h, em bomba de infusão
contínua (BIC).3,7,9,10
4.1.3 Vasodilatadores11
• Nitroglicerina: apresenta discreta potência de vasodilatação arterial. Contudo, seu grande
benefício está na capacidade venodilatadora e coronário-dilatadora. Essa deve ser a opção
em pacientes com uso endovenoso de vasodilatadores por motivos já explicados. Uma de
suas limitações é o desenvolvimento de taquifilaxia (doses maiores são necessárias para se
obter o mesmo efeito) e cefaleia em um quinto dos pacientes. A dose inicial recomendada é
de 5 a 20 μg/min em BIC, podendo atingir valores de 200 μg/min.
• Nitroprussiato: vasodilatador arterial e venoso. Pela possibilidade do fenômeno de roubo
de fluxo coronariano (hoje questionado por muitos autores), tem uso limitado em casos de
síndromes coronarianas agudas, levando ao EAP. Outro cuidado que deva haver é com a pos-
sibilidade de intoxicação pelo cianeto (em geral, após quatro dias de uso contínuo). A dose
recomendada é de 0,5 a 10 μg/kg/min em BIC.
• Morfina: diminui a pré-carga e a pós-carga aliviando, de certa maneira, a pequena circulação.
Também tem efeito cronotrópico negativo discreto. Tudo contribui para a diminuição do
consumo de oxigênio, diminuição da pressão capilar pulmonar e melhora da sensação de
86
dispneia. Alguns cuidados devem ser tomados com sua administração. Se feita de maneira
rápida e, sobretudo, em doses altas, poderá levar à depressão respiratória, bradicardia e hi-
potensão. A dose recomendada é de 2 a 5 mg, EV, a cada 5 ou 10 minutos.
4.1.4 Inotrópicos
• Dobutamina: agonista beta-adrenérgico, aumentando cronotropismo e inotropismo car-
díacos. Por ser a frequência cardíaca o principal determinante do consumo miocárdico de
oxigênio, uma de suas consequências é o aumento do consumo de O2 (muitos estudos mos-
tram aumento da mortalidade com o seu uso), podendo ainda ter sua ação reduzida caso o
paciente esteja em uso prévio de betabloqueadores. A dose recomendada é de 5 a 20 μg/
kg/min em BIC. Essa droga deve ser reservada quando há sinais de má perfusão periférica e/
ou choque cardiogênico associado. Pelos efeitos já descritos deve ser utilizada de maneira
cautelosa.11
5. CASO CLÍNICO
Paciente do sexo feminino, 64 anos, dá entrada ao PS com desconforto respiratório impor-
tante, mal-estar e fadiga. A dispneia iniciou de forma súbita. Não suporta decúbito dorsal, tanto
quanto ortostatismo. Permanece no leito com elevação de cabeceira (45o). Ansiosa, inquieta, uso
de musculatura acessória, palidez cutânea, pele fria e pegajosa. Histórico de HAS e DM II. Sinais
vitais: PA = 180/110 mmHg; SpO2 = 91% (a.a.); T (axilar) = 37,1oC; FC = 145 bpm; FR = 36 ipm. AP:
crepitações difusas, bilateralmente. ACV: BHF com B3. Solicitado gasometria arterial, R-x de tórax,
troponina T, I, CK e CK-MB, ECG, hemograma, ureia, creatinina, sódio, potássio, dosagem do BNP.
Modelo de prescrição hospitalar sugerido:
• Dieta zero.
• Acesso venoso periférico salinizado.
• Dinitrato de isossorbida 5 mL SL a cada 5 min, se PAS > 90 mmHg.
• Furosemida 20-80 mg EV.
• Morfina 1-3 mg EV a cada 5 min.
• Dipirona 2 mL + AD 10 mL (EV), se dor ou febre.
• Plasil 1 amp + AD 10 mL (EV) 8/8 h, se necessário.
• Ranitidina 1amp + AD 10 mL (EV) 8/8 h, se necessário.
• VNI a critério médico.
• Oxigênio 5-10 L/min em máscara facial.
• Monitorização cardíaca contínua.
• Oximetria de pulso.
• PA não invasiva.
• Cuidados gerais 4/4 h.
• Comunicar anormalidades.
Obs: Se não houver resolução do quadro e/ou instabilidade persistir após duas horas da tera-
pêutica acima (ações de 1a linha), iniciar ações de 2a linha, que são:
87
• VNI – CPAP com suplementação de O2, se SpO2 < 94% com máscara de O2 e fadiga muscular
respiratória.
• IOT e VM com PEEP > 12,5 cmH2O, se Glasgow < ou = 8.
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88
DESCOMPENSADA 1.5
Autores:
Jade Rodrigues Lino de Oliveira
Álvaro Tavares de Figueiredo
Pâmela Maccarini
Estevão Tavares de Figueiredo INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DESCOMPENSADA
CARDIOLOGIA
1. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES
A insuficiência cardíaca é a via final de grande parte dos acometimentos do sistema car-
diovascular, o que propicia grande número de internações e elevado risco de mortalidade da
insuficiência cardíaca descompensada (ICD). Seu diagnóstico em tempo hábil, estratificação e
tratamento correto se relacionam com melhores prognósticos e maiores taxas de sobrevida.1, 2
A ICD é uma doença de rápida instalação, na qual os sinais e sintomas demonstram altera-
ções da função cardíaca e demandam tratamento urgente. As causas da descompensação são
por situações agudas ou pelo desequilíbrio de um quadro crônico de insuficiência cardíaca.
Dessa forma, seis apresentações principais de ICD podem ser definidas: aguda, hipertensiva,
por edema agudo de pulmão, por choque cardiogênico, de alto débito e direita.3, 4
Atinge cerca de 1 a 2% da população em países desenvolvidos, chegando até 10% da
população com mais de 70 anos de idade. No Brasil, internações por ICD são a terceira causa
geral mais comum e a principal entre as causas cardiovasculares.2
2. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Fatores cardiovasculares
Isquemia miocárdica.
Hipertensão arterial sistêmica.
Fibrilação atrial aguda ou outras taquiarritmias.
Bradiarritmias.
Tromboembolismo pulmonar.
Miocardite aguda.
Valvopatias agudas.
89
Fatores cardiovasculares
Fatores relacionados ao paciente
Ingesta excessiva de sal e água.
Má aderência ao tratamento.
Esforço físico excessivo.
Uso de drogas (álcool, cocaína, ecstasy, crack, entre outros).
Fatores sistêmicos
Febre, infecções.
Anemias, carências nutricionais, disfunção tireoidiana, diabetes descompensado.
Insuficiência renal.
Gravidez.
Depressão.
Fatores relacionados ao sistema de saúde
Prescrição inadequada ou em doses insuficientes.
Falta de treinamento em manuseio de pacientes com IC.
Falta de orientação adequada ao paciente em relação à dieta e atividade física.
Sobrecarga de volume não detectada (falta de controle do peso diário).
Sobrecarga de líquidos EV durante a internação.
Fatores relacionados aos fármacos
Intoxicação digitálica.
Drogas que retêm água ou inibem as prostaglandinas: AINEs, esteroides, estrógenos, andrógenos,
clorpropamida, minoxidil.
Drogas ionotrópicas negativas: antiarrítmicos do grupo I, antagonistas de cálcio (exceto amLodipina),
antidepressivos tricíclicos.
Drogas miocárdio-tóxicas: citostáticos como a adriamicina > 400 mg/m².
Automedicação, terapias alternativas.
Fonte: adaptado de I Diretriz Latino Americana Para Avaliação e Conduta na Insuficiência Cardíaca Descompensada.
90
3. QUADRO CLÍNICO
Os pacientes que apresentam ICD podem ser divididos em quatro perfis clínico-hemodinâ-
micos caracterizados por sua perfusão periférica e pelo grau de congestão pulmonar que esses
apresentam, conforme é mostrado na figura abaixo:1, 4, 7
A B
Quente e seco Quente e úmido
L C
Frio e seco Frio e úmido
Fonte: I Diretriz de ressuscitação cardiopulmonar e cuidados cardiovasculares de emergência da
sociedade brasileira de cardiologia. p 131.7
4. DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da ICD é feito por meio da análise dos sinais e sintomas de descompensação
hemodinâmica, podendo ser confirmado por métodos complementares. Os principais achados
clínicos que indicam hipoperfusão na ICD são a redução da pressão de pulso, sonolência e ob-
nubilação, extremidades frias e oligúria. Quanto aos sinais de congestão, os principais para esse
diagnóstico são a ortopneia e a dispneia paroxística noturna, a distensão jugular, hepatomegalia
e a presença de edema e estertores.8, 9, 10
O eletrocardiograma é útil para o diagnóstico de eventos isquêmicos, arritmias e bloqueios
avançados que podem não ter sido diagnosticados pela monitorização. O raio-x de tórax permite
avaliar congestão pulmonar, acúmulo de líquido pleural e cardiomegalia. E o ecocardiograma
91
diuréticos/inotrópicos
> 89 mmHg
vasodilatadores
furosemida 1mg/Kg
D diuréticos
(in bollus)
diuréticos/inotrópicos
92
< 89 mmHg
vasoconstritor
diagnóstico de SCA
E eletrocardiograma Não
arritimias/bloqueios
cardíacas, também sendo útil para avaliação prognóstica. 8, 11, 12
inotrópicos
frequência controle: bradi/taquicaria > 89 mmHg
reposição
H heparina Não
volêmica
Para a avaliação prognóstica também podem ser analisados biomarcadores (BNP e NT-ProBNP).8
24/05/19 07:58
CARDIOLOGIA
5. TRATAMENTO
5.1 Diuréticos
Os diuréticos têm papel fundamental na ICD, sendo a primeira linha de tratamento, tendo em
vista que muitos pacientes apresentam-se congestos. A classe indicada é dos diuréticos de alça
(furosemida), em especial por via endovenosa, podendo ou não serem associados à tiazídicos e
espironolactona em caso de resistência glomerular. Existem evidências científicas concretas de
que o uso endovenoso da furosemida supera seu uso oral por dois motivos: em primeiro lugar
pelo seu efeito venodilatador discreto quando utilizado por esta via; e, em segundo, porque pa-
cientes congestos apresentam também congestão esplâncnica, o que dificulta, em muito, a ab-
sorção da medicação (sendo que tal fato deve ser lembrado para as demais medicações).8, 9, 10, 11
A dose indicada varia de 20 a 40 mg, endovenoso, em casos leves e moderados de retenção
hídrica. Já para retenção grave de fluidos, sugerimos o uso de 5 a 40 mg/h, em bomba de infusão
contínua (BIC).8, 9
5.2 Vasodilatadores
5.2.1 Nitroglicerina
Apresenta discreta potência de vasodilatação arterial. Contudo, seu grande benefício está na
capacidade venodilatadora e coronário-dilatadora. Essa deve ser opção nos pacientes em que
93
opta-se pelo uso endovenoso de vasodilatadores por motivos já explicados. Algumas de suas
limitações é o desenvolvimento de taquifilaxia (doses maiores são necessárias para se obter o
mesmo efeito) e cefaleia em um quinto dos pacientes. A dose inicial recomendada é de 5 a 20 μg/
min em BIC, podendo atingir valores de 200 μg/min.8, 9, 11, 13
5.2.5 Nitroprussiato
5.2.3 Morfina
5.3 Inotrópicos
5.3.1 Dobutamina
5.3.2 Levosimendana
É uma droga sensibilizadora de cálcio que promove os efeitos ionotrópicos, sem aumentar o
consumo miocárdico de O2 ou a concentração intracelular de cálcio, e efeitos vasodilatadores nas
artérias sistêmicas. Sua administração precoce é indicada para aqueles pacientes que apresentem
sintomas refratários à terapêutica inicial, apresentando bons resultados naqueles que já possuíam
ICC ou faziam uso prolongado de beta bloqueadores (aumento do efeito hemodinâmico da levosi-
mendana). Inicialmente, não deve ser usado em pacientes hipotensos ou com quadros isquêmicos
ativos. O tratamento recomendado é de uma dose inicial de ataque de 3 a 6 μg/kg em bolus por
10 minutos, seguida da manutenção com 0,05 a 0,2 μg/kg/min em BIC por 24 horas. A resposta
94
5.3.3 Milrinona
É um inibidor da fosfodiesterase III que promove os efeitos lusitrópico e ionotrópico positivos
no miocárdio, causando aumento do débito cardíaco, porém, aumentando o gasto de O2. Tam-
bém possui efeito vasodilatador periférico, o que justifica sua indicação em casos de má perfusão
periférica, podendo, no entanto, causar hipotensão. A dose de ataque a ser feita é de 25 μg/kg
em bolus por 10 a 20 minutos, substituída pela infusão contínua de 0,375 a 0,75 μg/kg/min. 8, 9, 11, 13
Figura 3. Algoritmo Perfil B (Quente e úmido).
A B C D E F G H
alternativa
infusão contínua
(10 a 40 mg/h)
dobutamina
levosimendana
levosimendana
milrinona
milrinona
alternativa alternativa
nitroglicerina/ nitroprussiato
95
A B C D E F G H
se refratário:
avaliar
96
A B C D E F G H
alternativa
nitroglicerina/
nesiritida
Fonte: I Diretriz de ressuscitação cardiopulmonar e cuidados cardiovasculares de emergência
da sociedade brasileira de cardiologia. p 131.7
97
Paciente do sexo masculino, 75 anos, portador de IC com fração de ejeção reduzida, de etio-
logia chagásica, já em acompanhamento do ambulatório de cardiologia do Hospital Universitá-
rio, em uso regular de carvedilol 12,5 mg 12/12 h, losartana 25 mg 12/12 h, furosemida 40 mg
pela manhã, espironolactona 25 mg/dia. Relata que nos últimos três dias tivera feito copiosas
refeições, com alto teor de sódio (em virtude da comemoração de seu aniversário) e ainda se es-
quecera do uso de algumas medicações. Procurou então o pronto atendimento. Ao exame físico
apresentava estertores crepitantes em bases pulmonares, FC de 80 bpm, PA 160 x 100 mmHg, Sat.
O2 a 93% em ar ambiente, sopro sistólico em foco mitral 2+/6+, B3, estase jugular 45 graus, boa
perfusão capilar e edema de MMII 2+4+.
6.1 Prescrição
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2016;134(13):6-23.
14. Tavares M, Andrade AC, Mebazaa A. Uso de levosimendan em diversos quadros de insuficiência cardía-
ca aguda. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 2008;90(3):1-5.
99
Autores:
1.6
Lucas Alves Teixeira Oliveira
Leonardo Kado Takeda
Andressa Mayumi Matucuma
Carolina Limongi de Oliveira
Estevão Tavares de Figueiredo
1. INTRODUÇÃO TAQUIARRITMIAS
CARDIOLOGIA
2. CLASSIFICAÇÃO
Fonte: autores.
101
Taquicardia atrial unifocal é comum no adulto jovem sem comorbidades (forma paroxística),
no qual o estímulo não advém do nó sinusal. A morfologia da onda P difere discretamente, sendo
muitas vezes não distinguível daquela originada no nó sinusal. Aqui, também, toda onda P gera
um QRS. A etiologia pode estar relacionada à libação alcoólica, à hipoxemia, à intoxicação digitá-
lica, entre outros.1,2,3 Na figura dois, observamos o eixo de P desviado para a direita, eixo do QRS
normal, ritmo não sinusal, regular, FC aproximada de 150 bpm.
Fonte: autores.
Fonte: autores.
Outro grupo que integra as taquiarritmias é o formado pelas taquicardias paroxísticas supra-
ventriculares (TPSV), que são divididas em basicamente três subtipos. Um dos mais comuns é a
TPSV por Reentrada Nodal, correspondendo a 70% dos casos, sendo mais prevalente em mu-
lheres jovens hígidas. O nó atrioventricular é o elemento chave, devido à função essencial da
reentrada nodal pela via rápida, no sentido ascendente, e mais lentamente pela via descendente.
A via retrógrada deve ocorrer em no máximo 80 ms, a partir do início do QRS. Em alguns casos, a
onda de impulso atrial pode estar dentro do QRS do tipo regular. Espera-se um QRS estreito com
morfologia rSr’, pseudo S em DII, DIII e aVF e pseudo R em V1. É necessário estar atento aos sinais
102
Fonte: autores.
TPSV por reentrada atrioventricular ortodrômica é encontrado em pacientes com via acessó-
ria (feixe de Kent) em que o impulso elétrico normal segue o sentido anterógrado e a via acessória
segue o sentido retrógrado. Observa-se QRS < 120 ms e a onda P retrógrada, próxima ou sob o
segmento ST, e não possui morfologia definida. A diferença sutil, porém fundamental, no ECG é o
QRS aberrante com pré-excitação ventricular (onda delta). Essa onda é comumente visualizada na
Síndrome de Wolff-Parkinson-White. O diagnóstico diferencial é minucioso e depende da experti-
se do examinador. O intervalo PR curto sem onda delta fala a favor da Síndrome de Lown-Ganon-
g-Levine e PRi normal com onda delta de Síndrome de Mahaim variante. É necessário estar atento
aos sinais de instabilidade devido à necessidade de cardioversão elétrica.1,3-5 Na figura cinco po-
demos observar, no primeiro ECG, FC aproximada de 158 bpm, RR regular, ausência de onda P e
variabilidade da amplitude do QRS, o que sugere uma TPSV por reentrada AV. Após cardioversão
elétrica, observa-se no segundo ECG presença de ritmo sinusal, com PRi diminuído e presença de
onda delta, o que caracteriza o paciente com síndrome de Wolff-Parkinson-White, confirmando a
taquicardia paroxística por vias anômalas.
Fonte: autores.
Outra subdivisão da TPSV é a Reentrada Atrioventricular antidrômica. Nesses casos, a via nor-
mal segue o sentido retrógrado e a via acessória segue a via anterógrada. Pode também ser en-
contrada nos pacientes portadores do feixe de Kent ou outras vias anômalas, e tem apresentação
ao ECG com um QRS aberrante.3,4
103
Fonte: autores.
Flutter Atrial (FTA) é uma arritmia que apresenta manifestações clínicas e causas-base seme-
lhantes à FA. Os impulsos elétricos são originados de uma única macro-reentrada, gerando um
ritmo regular, ou seja, o intervalo RR é preservado. Os impulsos variam entre 240 a 340 ciclos
por minuto, geralmente 300 bpm, sendo mais comum o sentido anti-horário de condução. No
ECG observa-se ondas rítmicas regulares do tipo “dente de serra”, chamadas ondas F de Flutter,
sem onda P. Podem ocorrer bloqueios ventriculares, geralmente 2:1, o que facilita a visualização
da onda F nas derivações inferiores (DII, DIII e aVF). Quando a visualização das ondas F se torna
imprecisa, manobras vagais ou mesmo o uso de adenosina pode facilitar a identificação dessas
ondas na linha de base. É uma arritmia com baixa resposta a antiarrítmicos orais, necessitando de
cardioversão elétrica, sendo o tratamento definitivo a ablação por radiofrequência.1,3,6 Na figura
sete observamos a presença de ondas F de flutter.
Fonte: autores.
104
Taquicardia Ventricular Não Sustentada (TVNS), apesar de ser uma arritmia sintomática, não
causa instabilidade hemodinâmica. Evidencia-se três ou mais batimentos consecutivos advindos
abaixo do nó AV com frequência > 120 bpm, com duração máxima de 30 segundos, não precedi-
dos de onda P e com QRS alargado. Investigar nestes pacientes doença arterial coronariana (DAC),
cardiomiopatias, valvulopatias ou causas não estruturais. TVNS é conhecidamente um fator de
risco para TV sustentada com evolução para morte súbita, principalmente naqueles com disfun-
ção ventricular esquerda e miocardiopatia hipertrófica. Aqueles com insuficiência cardíaca tem
mau prognóstico.1,5,7 Na figura 36 podemos observar o ECG com complexo QRS alargado e ritmo
regular.
Fonte: autores.
Taquicardia Ventricular Monomórfica Sustentada (dita sustentada devido duração > 30 s e/ou
que causa instabilidade hemodinâmica) está associada à DAC, à doença arritmogênica do ventrí-
culo direito (DAVD) e à intoxicação por uso de cocaína (de importância devido à contraindicação
ao uso de betabloqueadores, dando-se preferência ao bicarbonato de sódio). Ao ECG observa-se
ritmo ventricular, QRS > 120 ms, ao menos três batimentos sucessivos e, necessariamente, com
uma morfologia padrão, uniforme, não precedido de onda P. Estar atento aos sinais de instabi-
lidade devido à necessidade de cardioversão elétrica ou mesmo desfibrilação. Para tratamento
crônico, se síncope, instabilidade ou fração de ejeção (FE) menor que 35%, deve-se considerar o
uso de cardioversor desfibrilador implantável (CDI).1,3,7,8
Taquicardia Ventricular Polimórfica apresenta-se com ritmo ventricular, QRS > 120 ms, não
precedido de onda P e morfologia totalmente variável, podendo ser sustentada ou não susten-
tada, a depender da duração maior ou menor que 30 segundos. Essa arritmia pode ser TVP pura
– Síndrome de Romano-Ward, ou TVP do tipo Torsades de Pointes. Nesse último, a onda P não é
perceptível, o QRS mantém-se alargado, variável, com característica crescente, seguido de decres-
cente, com uma torção da linha de base. O QTc no ECG basal ou logo após o restabelecimento
do ritmo normal deve ser longo para caracterizar o tipo Torsades de Pointes. O QTc longo pode
ser congênito ou adquirido, podendo ser induzido por drogas (haloperidol, tricíclicos, cocaína)
ou distúrbios hidroeletrolíticos. Caso o paciente apresente surdez, considerar Síndrome de Jer-
vell-Lange-Nielsen. Estar atento aos sinais de instabilidade devido à necessidade de desfibrila-
ção.1,3,7-9 Na figura oito observamos o ECG com amplitude e morfologia de QRS polimórfico e
ritmo irregular.
105
Fonte: autores.
3. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
4. QUADRO CLÍNICO
Palpitação Dispneia
Diaforese Síncope
Dor precordial Choque
Palidez Alteração do nível de consciência
Fonte: adaptado de Gonzalez. Arq Bras Cardiol, 2013.
5. DIAGNÓSTICO
107
Não
Duração do QRS
1. TPSV por RN
Não Sim
Legenda:
- AV: atrioventricular
- BAV: bloqueio atrioventricular
- iRP: intervalo entre início da onda R e início da onda P retrógrada
- iPR: intervalo entre início da onda P e início da onda R retrógrada
Como visto acima existem vários passos para que se chegue a determinados diagnósticos dife-
renciais. Um ponto importante é a separação das taquicardias supraventriculares com aberrância
da taquicardia ventricular, em que se observa dissociação AV. Os algoritmos de Brugada e de Ve-
reckei auxiliam na diferenciação entre TV e TSV. O algoritmo de Brugada (tabela dois e fluxograma
dois), se todos os critérios forem negativos, fala a favor de TSV com aberrância de condução (S:96%,
E:98%). O algoritmo de Vereckei (tabela três e fluxograma dois) estabeleceu novos critérios no in-
tuito de simplificar a avaliação realizada por Brugada. Da mesma forma se todos os critérios forem
negativos fala a favor de TSV com aberrância. Atualmente, devido à dificuldade de aplicação desses
algoritmos, uma forma mais prática foi criada baseada nos estudos de Pava et al. Observa-se o com-
108
plexo QRS em DII, avaliando o tempo entre o início do QRS até o pico de R, sendo que se ≥ 50 ms su-
gere TV. Porém, se do início do QRS até o momento de alternância da polaridade dentro desse QRS
for < 50 ms, sugere TSV. Nessa última, o sistema de condução é normal, ou seja, o impulso elétrico
segue em grande velocidade (2,5 m/s). Nas taquicardias ventriculares os impulsos surgem da por-
ção central do miocárdio, em que o tecido muscular conduz o impulso mais lentamente (< 1 m/s)
reproduzindo um QRS inicial mais lento. Esses critérios simples apresentam sensibilidade de 93,2%
e especificidade de 99,3%. Independentemente dos critérios objetivos, diante de um quadro onde
se interroga taquicardia ventricular e taquicardia supraventricular com aberrância, se o paciente for
portador de insuficiência cardíaca, coronariopatia ou cardiopatia chagásica, muito provavelmente
se trata de uma TV, portanto deve-se conduzir o quadro para essa arritmia específica.1,3,9,12
Critérios Validade
Ausência de RS em precordiais? S: 21% E: 100%
RS > 100 ms em precordiais? S: 66% E: 98%
Dissociação atrioventricular? S: 82% E: 98%
Critérios morfológicos de TV em V1, V2 e V6? S: 99% E: 97%
Fonte: adaptado de Brugada. Circulation: 1991.
Critérios Acurácia
Onda R inicial? 98,6%
Onda Q ou R iniciais > 40 ms? 87,8%
Entalhe na porção descendente da ativação inicial negativa em QRS predo- 86,5%
minantemente negativo?
Vi/Vf ≤ 1? 89,3%
Fonte: adaptado de Vereckei. Heart Rhythm: 2008
Fluxograma 2. Algoritmos de Brugada e Vereckei para diferenciação entre TV (taquicardia ventricular) e TSV
(taquicardia supraventricular) com aberrância.
ALGORITMO DE BRUGADA ALGORITMO DE Vereckei
Sim Sim
Ausência de RS? TV Onda R inicial? TV
Não Não
Sim Sim
RS > 100ms em precordiais? TV Onda Q ou R iniciais > 40ms? TV
Não Não
Sim Entalhe na porção descendente da ativação inicial Sim
Dissociação atrioventricular? TV negativa em QRS predominantemente negativo?
TV
Não Não
Sim Sim
Critérios morfológicos de TV em V1, V2 e V6? TV Vi/Vf < 1 TV
Não Não
109
Outro ponto a ser destacado é a separação das taquiarritmias com QRS estreito, ritmo regular
e presença de onda P. Não havendo diferenças na frequência de P e QRS, analisar o intervalo RP
(iRP). Intervalo RP é dito curto quando a medida entre o início da onda R e a onda P retrógrada
é menor que o intervalo entre o início da onda P retrógrada e a onda R subsequente (RP < PR =
RP curto). Sabe-se que 50% das arritmias com RP curto, menor que 80 ms, correspondem à Ta-
quicardia por Reentrada Nodal. A apresentação de RP curto, porém com 100 ms ou mais, sugere
taquicardia por reentrada AV, devido à via acessória retrógrada. Se o iRP for maior que o iPR, ou
seja, RP longo, considerar TRN atípica, TA ectópica e taquicardia de Coumel. A TA ectópica é a mais
prevalente, na qual onda P é não sinusal, podendo ser positiva em derivações de parede inferior,
com ritmo regular a depender de bloqueio AV. Na TRN atípica, o estímulo alcança os ventrículos
rapidamente e sobe despolarizando os átrios lentamente. Na taquicardia de Coumel existe uma
via acessória lenta, com RP longo persistente, não respondendo bem aos tratamentos farmacoló-
gicos convencionais.1,3,5,8,9
É importante estar atento a diagnósticos secundários que podem estar desencadeando uma
taquiarritmia, como: hipertireoidismo, hipoxemia, hipovolemia, embolia pulmonar, sepse, insufi-
ciência cardíaca, hipocalemia, valvopatias, isquemia miocárdica.1,3,5,8,9
6. TRATAMENTO
Analgesia
Medicação Dose
Morfina 1-2 mg EV
Fentanil 1-2 mcg/kg EV
Sedação
Medicação Dose
Etomidato* 0,3 mg/kg EV
Midazolam 0,1-0,3 mg/kg EV
Propofol 2 mg/kg EV
*Preferido em alguns serviços por causar menos instabilidade hemodinâmica.
Fonte: adaptado de Brasil. MS: 2016; Gonzalez. Arq Bras Cardiol: 2013.
110
Para pacientes com estabilidade hemodinâmica o tratamento das arritmias é feito com a utili-
zação de drogas antiarrítmicas. Vaughn-Williams dividiram os antiarrítmicos em quatro classes de
acordo com seu mecanismo de ação, sendo:3,6,7,10,12,13
• Classe I – bloqueadores do canal de sódio: grupo subdividido em Ia, Ib e Ic. O primeiro tem
como representante a procainamida, droga com ação atrial e ventricular indicada principal-
mente em taquicardia supraventricular estável, na reversão de FA e flutter e controle de fre-
quência cardíaca em pacientes com Wolff-Parkinson-White (WPW) devido à capacidade de
estabilizar o feixe de Kent. O subgrupo Ib tem como representante a lidocaína, droga anesté-
sica que apresenta efeito depressor ventricular, por isso é indicada apenas nesse subgrupo,
em especial, a taquicardia ventricular monomórfica sustentada. O subgrupo Ic tem poucos
efeitos na repolarização, atuando na fase de despolarização rápida. Faz parte desse grupo a
propafenona, utilizada na reversão da fibrilação atrial e do flutter e na presença concomitan-
te de FA e WPW.
• Classe II – betabloqueadores: drogas com potencial de diminuir o cronotropismo e o ino-
tropismo cardíacos, além da condução dos impulsos elétricos no miocárdio. Alguns de seus
efeitos colaterais são a bradicardia, hipotensão, desencadeamento ou potencialização de
broncoespasmos, fadiga, pesadelos, dentre outros. São subdivididos em beta-1 seletivos,
como atenolol e metoprolol, não seletivos, como propranolol e nadolol, e não seletivos com
efeito de bloqueio alfa-adrenérgicos, como o carvedilol. Indicados principalmente em ta-
quicardias supraventriculares com função ventricular preservada e controle da frequência
cardíaca na FA.
• Classe III – bloqueadores do canal de potássio: possuem a capacidade de diminuir a ativida-
de de filtro realizada pelo nó atrioventricular, além de atuar diretamente nas células atriais e
ventriculares. Tem como principal representante a amiodarona, medicamento que pode ser
utilizado na abordagem das taquicardias supraventriculares, fibrilação atrial e flutter e tam-
bém na ressuscitação cardiopulmonar chocável. Seus efeitos adversos incluem hipotensão,
bradicardia e diminuição do metabolismo da digoxina e varfarina (ficar atento para risco de
sangramento). Outra droga pertencente a esse grupo é o sotalol, que também é um beta-
bloqueador não seletivo. Indicado na taquicardia supraventricular estável, controle da fre-
quência cardíaca e reversão da FA na presença de Wolff-Parkinson-White. Possui os mesmos
efeitos colaterais dos betabloqueadores não seletivos.
• Classe IV – bloqueadores do canal de cálcio: fazem parte desse grupo os não diidropiridínicos
por maior ação nas células cardíacas. Representado pelo verapamil e diltiazem, são indicados
na fibrilação atrial e taquicardia supraventricular estável com função ventricular preservada.
Um de seus efeitos colaterais é a bradicardia devido efeito cronotrópico negativo.
• Adenosina – uma purina usada na tentativa de reversão da taquicardia supraventricular es-
tável. Não faz parte de nenhuma das classes de Vaughn-Williams. Tem como efeitos adversos
dispneia, broncoespasmos e rubor facial.
Indicações de tratamento das taquiarritmias podem ser vistas no fluxograma e tabelas a seguir:
111
Taquicardia
Instável Estável
QRS alargado
(> 120ms)
112
Pacientes com fibrilação atrial ou flutter, que apresentam instabilidade hemodinâmica, as-
sim como as demais taquiarritmias têm indicação de cardioversão elétrica. Para os pacientes que
possuem quadro estável, o tratamento depende do tempo de início da arritmia. Sendo assim,
separa-se as condutas naquelas com duração menor que 48 horas e nas com mais de 48 horas.
Paciente com FA/flutter a menos de 48 horas tem pouca probabilidade de possuir trombo in-
tracavitário, em especial na aurícula esquerda. Por isso, podem ser cardiovertidos eletricamente
ou quimicamente, se for quadro de FA. Previamente à cardioversão preconiza-se dose inicial de
heparina 80 UI/kg em bolus seguida de 18 UI/kg/h por 6-12 horas. A cardioversão elétrica para
quadros de flutter inicia-se com energia de 50J e escalonamento caso necessário. A fibrilação
atrial possui múltiplos focos de micro-reentradas, tornando necessário que se utilize carga máxima
do cardioversor, diferente do flutter e de taquicardias paroxísticas supraventriculares. Nessas, existe
apenas uma macroreentrada, o que torna possível que qualquer medida que altere a velocidade de
condução ou o período refratário das vias interrompa a arritmia. Importante destacar que deve
ser realizado analgesia e sedação previamente. Após a cardioversão, é importante manter a an-
ticoagulação por no mínimo 4 semanas. Atualmente existem várias drogas disponíveis, como a
varfarina (iniciar com 2,5 mg, realizando RNI a cada três dias até que se consiga mantê-lo entre
dois e três) e inibidores do fator Xa, como dabigatrana (110 mg 12/12 h), rivaroxabana (20 mg 1x/
dia) e apixabana (5 mg 12/12 h). Essa anticoagulação deve ou não permanecer por tempo inde-
terminado baseado no escore CHA2DS2-VASc (Tabela 7), sendo que para pacientes com escore de
um ponto indica-se apenas antiagregação plaquetária com AAS 100 mg/dia, e para dois pontos
ou mais anticoagulação plena com uma das medicações citadas anteriormente.1-3,10-12
113
Episódios de início a mais de 48 horas têm maior probabilidade da existência de trombos in-
tracardíacos, o que com a cardioversão poderia propiciar eventos tromboembólicos. Por isso, in-
dica-se a realização de um ecocardiograma transesofágico (ETE), o qual possibilita a visualização
adequada no apêndice atrial esquerdo, o que não é possível com o ecocardiograma transtorácico.
Se constatado que não existem trombos nas cavidades cardíacas, pode-se realizar a cardioversão
normalmente, com heparinização prévia e anticoagulação por no mínimo quatro semanas. Caso
constatado a presença de um trombo, ou no serviço não esteja disponível o ETE, é indicado que
se realize anticoagulação por três semanas e apenas após esse período seja realizado a cardiover-
são seguida por anticoagulação por no mínimo mais quatro semanas, mantida ou não por mais
tempo de acordo com o escore CHA2DS2-VASc.1,2,6,10,12,13
Alguns pacientes, por possuírem doença cardíaca estrutural, principalmente aqueles com
mais de 65 anos de idade, por vezes não se mantém em ritmo sinusal, sendo assim o controle da
frequência cardíaca ao invés do ritmo é uma conduta válida. Para tal é indicado uso de drogas
que atuem inibindo o nó atrioventricular, como betabloqueadores, bloqueadores do canal de
cálcio não diidropiridínicos, digitálicos e antiarrítmicos da classe III. Uma alternativa é a ablação
da junção atrioventricular com colocação de marca-passo. Outras técnicas atualmente dispo-
níveis são a ablação com isolamento elétrico das veias pulmonares ou mesmo o tratamento
cirúrgico, indicado para pacientes com FA que por outro motivo se submeterão à cirurgia car-
díaca, sendo o padrão-ouro a cirurgia de Cox-Maze III (cirurgia do labirinto). Caso seja optado
o controle da frequência é importante que o paciente seja mantido anticoagulado baseado no
escore CHA2DS2-VASc.1,2,6,10,12,13
114
Cardioversão
Controle do ritmo cardíaco Controle da FC
7. CASO CLÍNICO
115
Nota-se presença de ritmo cardíaco irregular, com oscilações em linha de base e ausência de
onda P. Paciente é encaminhado para sala de emergência onde é realizado cardioversão elétrica
com 200J bifásico, após preparação prévia conforme prescrição abaixo.
Paciente é revertido para ritmo sinusal e tem alta após 48 horas de observação, sendo enca-
minhado para acompanhamento ambulatorial. Em consulta posterior, o paciente relata algumas
recidivas do quadro, porém, com resolução espontânea. É então optado por tratamento com es-
tratégia “pill in the pocket” com propafenona 300 mg, dois comprimidos em crises. Em consulta
após três meses, o paciente relata que necessitou da estratégia prescrita cinco vezes. Devido à
dificuldade em manter o ritmo sinusal foi preferido abordagem com controle da frequência car-
díaca. Realizado escore CHA2DS2-VASc que tem resultado de dois pontos (HAS + Diabetes). Defi-
nido o uso do carvedilol 3,125 mg 1x/dia e rivaroxabana 20 mg 1x/dia, associado a medicações
prévias. O paciente segue estável, sem sintomas, com acompanhamento anual da fibrilação atrial
e demais doenças de base.
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– Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. 2 ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.
117
Autores:
1.7
Lucas Alves Teixeira Oliveira
Leonardo Kado Takeda BRADIARRITMIAS
1. INTRODUÇÃO
Intrínseca Extrínseca
Degeneração idiopática Autonômico (neuro-cardíaco, vasovagal, hipersensi-
Doença de Lenègre bilidade do seio carotídeo).
Infarto/isquemia Drogas (betabloqueadores, bloqueadores do canal
de cálcio, clonidina, digoxina, antiarrítmicos).
Infecciosa (endocardite/chagas) Hiper/hipocalemia.
Infiltrativa (amiloidoses, sarcoidose) Hipotireoidismo.
Autoimune (artrite reumatoide, esclerodermia) Hipotermia.
Iatrogênico (transplante cardíaco) Neurológico (aumento da pressão intracraniana –
HIC, SHAOS).
Fisiológico (adultos jovens magros)
Fonte: adaptado de Mangrum e DiMarco, 2000.
2. DIAGNÓSTICO
119
Bradicardia sinusal
Não é necessariamente uma condição patológica, pois pode ser resultado de condiciona-
mento físico, como visto em atletas, porém também pode aparecer em condições maléficas ao
organismo, não obrigatoriamente em doenças, como as resultantes do uso excessivo de drogas
bradicardizantes, como os bloqueadores do canal de cálcio, betabloqueadores, digitálicos e
amiodarona, ou aquelas consequentes à doenças, como degeneração do sistema de condução,
coronariopatias, vagotomias (HIC, IAM de parede inferior, micção, dor) entre outras causas, intrín-
secas e extrínsecas, como citado na tabela 1. Ao ECG observa-se uma onda P sinusal, portanto
positiva nas derivações DI e aVF, sendo a única alteração o aumento do intervalo RR resultante da
bradicardia.
(Observa-se diminuição progressiva do intervalo PP, com pausa sinusal, não múltipla da FC, e retorno dos batimentos
persistindo a variabilidade entre os intervalos PP).
Fonte: autores.
120
(ECG com ondas de intervalos regulares, sem variabilidade, e presença de pausa de duração múltipla da FC, sem escape
juncional ou ventricular).
Fonte: autores.
Bloqueios atrioventriculares
121
(ECG de ritmo sinusal regular e aumento progressivo do PRi até que ocorra um bloqueio obrigatório).
Fonte: autores.
(ECG de ritmo sinusal regular com PRi fixo e presença de BAV de 2º grau Mobitz II de proporção 2:1).
Fonte: autores.
Vale ressaltar que como o ECG é feito por um curto período de tempo, algumas bradiarritmias
podem não ser percebidas. Portanto, na suspeita de uma bradiarritmia, deve-se continuar a inves-
tigação com mais exames, como Holter, estudos eletrofisiológicos, dentre outros.
O médico deve estar atento aos sinais e sintomas de bradiarritmias, como: confusão mental,
tontura, sensação de cabeça vazia, lentificação da fala, palidez, má perfusão periférica, astenia,
prostração, angina, ortopneia, dispneia paroxística noturna, crepitação pulmonar bilateral, com-
prometimento da pressão venosa jugular e outros.
3. TRATAMENTO
acima de 94%, solicitar acesso venoso periférico calibroso, monitoramento não invasivo da pressão
arterial e solicitar ECG com 12 derivações para estabelecer em que ritmo o paciente se encontra.
A terapia medicamentosa tem como droga de escolha a atropina, uma droga de antagonismo
muscarínico, que diminui a atividade da acetilcolina e, portanto, melhora a frequência cardíaca e
o quadro clínico do paciente. O uso da atropina EV é uma medida temporária usada até o implan-
te de um marca-passo transcutâneo. A dose recomendada é de 0,5 mg EV a cada 3-5 minutos, não
ultrapassando a dose de 3 mg. Deve-se estar atento ao uso cauteloso em bradicardias pós-infarto
agudo do miocárdio, evitando aumento da área de lesão.
Outras drogas que podem ser utilizadas são a dopamina e a adrenalina, em associação ou
isoladamente. A dopamina é usada em bomba de infusão contínua (BIC) na dose de 2-10 mcg/
kg/min, otimizando a dosagem de acordo com a sintomatologia. A adrenalina também é feita em
BIC na dose de 2-10 mcg/min. No uso dessas drogas, atentar-se para a necessidade de otimização
do volume intravascular.
Para pacientes estáveis realiza-se análise do tipo de bradiarritmia que este possui. Se infra-his-
siano o paciente necessitará de um marca-passo. Para pacientes instáveis (dor ou desconforto,
dispneia, diminuição da pressão arterial, alteração do nível de consciência) realiza-se teste com
atropina 0,5 mg. Caso a FC se eleve, estamos diante de um provável bloqueio supra-hissiano,
portanto benigno. Caso a FC não se altere o bloqueio é provavelmente infra-hissiano. Devemos
compreender que o teste da atropina apenas oferece pistas para as prováveis causas, não sendo
definidor de conduta na maioria dos casos.
Para os casos que não respondem ao uso da atropina e das demais drogas, mantendo-se o
paciente com sintomas graves, a colocação de um marca-passo transcutâneo é uma intervenção
que deve ser realizada. Não é invasivo e pode ser doloroso (necessitando de sedação prévia).
São colocados duas pás no tórax, uma anteriormente e outra posteriormente, controlando-se no
estimulador externo as variáveis de FC, amplitude (mV) e sensibilidade do marca-passo. Em casos
em que o marca-passo transcutâneo não é eficaz deve-se colocar um transvenoso, considerando
nesses casos o auxílio de profissional previamente capacitado.
Todos os pacientes devem ser acompanhados e avaliados para a necessidade de colocação de
um marca-passo definitivo.
4. PROTOCOLO
Figura 8. Fluxograma de abordagem das bradiarritmias.
FC < 50bpm
Bloqueio
supra-hissiano Acompanhamento ambulatorial
SIM Sintomático? NÃO
Válido teste
Bloqueio Consulta com especialista
da atropina infra-hissiano
123
5. CASO CLÍNICO
JDS, 62 anos, portador de miocardiopatia chagásica, deu entrada no hospital após síncope.
ECG de admissão abaixo.
Fonte: autores.
REFERÊNCIAS
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124
E RCP 1.8
Autores:
Leonardo Kado Takeda
Lucas Alves Teixeira Oliveira
Estevão Tavares de Figueiredo
PARADA CARDIORESPIRATÓRIA E RCP
CARDIOLOGIA
1. INTRODUÇÃO
O Brasil com população estimada em 207,7 milhões de habitantes em 2016 apresenta cer-
ca de 30 casos de morte súbita a cada 10.000 habitantes. A etiologia é bastante estudada, sen-
do o acometimento cardiovascular responsável por 50% dos casos. Os distúrbios de condução
elétrica e o infarto agudo do miocárdio (IAM) estão entre os principais fatores para esse desfe-
cho. A parada cardiorrespiratória (PCR) é a mais grave consequência, pois inúmeras manifesta-
ções clínicas podem gerar danos irreversíveis ao tecido cerebral. A cessação da circulação por
falha da bomba cardíaca e consequente baixa perfusão tecidual exigem um raciocínio clínico
rápido e medidas de reanimação eficientes, independentemente de serem realizadas ou não
por profissional da saúde.1,2
2. DIAGNÓSTICO
Fonte: autores.
125
Fonte: autores.
Fonte: autores.
Figura 4. Assistolia.
Fonte: autores.
3. TRATAMENTO
Diante de um paciente não responsivo nem mesmo a estímulos dolorosos, com respiração
ausente ou gasping e pulso central ausente, a conduta imediata é iniciar a Ressuscitação Car-
diopulmonar (RCP), devendo-se posicionar o paciente em decúbito dorsal sobre superfície plana
e rígida, chamar por ajuda e iniciar a RCP. Iniciar o mais rápido possível as compressões torácicas,
priorizando a qualidade, respeitando a frequência de 100 a 120 compressões por minuto, compri-
mir o tórax entre 5 e 6 cm e, impreterivelmente, retornar completamente ao ponto inicial. Realizar
ciclos de 30 compressões para cada duas respirações com dispositivo bolsa-valva-máscara com
reservatório e oxigênio adicional.1-7
É importante checar o ritmo de parada, pois pode ser necessário dar prioridade ao uso do
desfibrilador elétrico assim que disponível no local. Os ritmos chocáveis são a fibrilação ventri-
cular (FV) e a taquicardia ventricular sem pulso (TVSP). Os choques devem ser administrados na
potência máxima do desfibrilador, sendo 360J para monofásico e 200J para bifásico. Importante
126
solicitar que todos se afastem do contato com o paciente e logo após a desfibrilação reiniciar
imediatamente a RCP e apenas após novo ciclo de dois minutos checar pulso e ritmo.1-7
Os ritmos não chocáveis são a assistolia e a atividade elétrica sem pulso (AESP). Nesses casos
a desfibrilação é contraindicada, devendo-se manter a RCP com repetidas verificações do pulso
e ritmo de parada. Para casos de assistolia é importante a realização do protocolo da linha reta
e descartar a presença de uma fibrilação ventricular fina. Portanto, deve-se verificar a adequa-
da conexão dos cabos e eletrodos, aumentar o ganho de sinal no monitor cardíaco (amplitude/
potência de sinal) e checar o ritmo em outra derivação. Se assistolia confirmada, manter-se nos
ciclos de RCP sem uso do desfibrilador.1-7
Deve-se, simultaneamente, obter acesso venoso periférico ou intraósseo (IO) para possibili-
tar administração das medicações. As drogas utilizadas diferem entre os ritmos chocáveis e não
chocáveis. Em ambas é indicado o uso da epinefrina EV ou IO na dose de 1 mg/dose em cada três
a cinco minutos, seguida por bolus de 20 mL de solução fisiológica e subsequente elevação do
membro. Para os ritmos chocáveis, por se tratarem de arritmias, o uso de antiarrítmicos está fir-
mado. Podem ser feitas duas doses de amiodarona com intervalo de três a cinco minutos, sendo a
primeira dose EV ou IO de 300 mg e a segunda de 150 mg, sempre seguidas pelo bolus de 20 mL
de solução fisiológica e elevação do membro. Outra opção é a lidocaína, também EV ou IO, nas
dosagens de 1 a 1,5 mg/kg para a primeira aplicação e 0,5 a 0,75 mg/kg na segunda (após cinco
minutos), também seguidas pelo bolus de solução fisiológica e elevação do membro. Em casos de
PCR secundária à hipomagnesemia ou taquicardia ventricular polimórfica (Torsades de Pointes)
deve-se administrar sulfato de magnésio 1 a 2 g EV ou IO diluído em 10 a 20 mL de glicose a 5%.1-7
Para todos os pacientes em PCR deve-se realizar, concomitantemente, os procedimentos para
garantir uma via aérea avançada, preferencialmente a intubação orotraqueal (IOT), mas conside-
rar o uso de máscara laríngea no caso de intubação difícil, para não retardar a realização das com-
pressões de boa qualidade. Após assegurada uma via aérea avançada, manter as compressões no
mesmo ritmo (100 a 120/min), sem pausas para insuflações, e oferecer 10 insuflações por minuto
(uma a cada seis segundos, não sincronizadas com as compressões torácicas).1-7
É considerável a necessidade de se tentar realizar um diagnóstico diferencial, procurando tra-
tar as causas reversíveis identificáveis. Para facilitar a memorização foram separadas em 5H’s e
5Ts, sendo:1-7
5H’s 5T’s
Hidrogênio (acidose) Trombose coronariana (IAM)
Hipotermia Tromboembolismo pulmonar
Hipo/hipercalemia Tóxicos
Hipovolemia Tamponamento cardíaco
Hipóxia Tensão no tórax (pneumotórax hipertensivo)
Fonte: adaptado de Arq Bras Cadiol, 2013.
Não há critérios para a interrupção dos esforços da ressuscitação cardíaca, todavia, em pa-
cientes em assistolia não revertida, considerar a interrupção em condições locais (ambiente) in-
salubres e/ou inseguras, exaustão da equipe e/ou após ter afastado as causas reversíveis de PCR.
127
4. PROTOCOLO
Figura 5. Fluxograma de abordagem das paradas cardiorrespiratórias.
Paciente em PCR
(parada cardiorespiratória)
Checar ritmo
360J monofásico,
Choque RCP por 2 min
200J bifásico
Reiniciar RCP
Não Tem pulso? Sim
por 2 min
Tem pulso?
Não (checar pulso carotídeo Sim Cuidado pós-PCR
por 5-10s)
Sim Não
5. CASO CLÍNICO
Paciente, 52 anos, dá entrada no hospital, trazido por familiares, após ficar inconsciente por
alguns minutos. Detectado que o paciente não apresentava pulso ou mesmo respiração espon-
tânea, iniciam-se manobras de ressuscitação cardiorrespiratória, bem como checado ritmo de
parada, visto no ECG a seguir:
128
Constatado tratar-se de fibrilação ventricular fina, foi realizado desfibrilação com 200J (bifási-
co) e uso de dose inicial de amiodarona EV. Após novo ciclo de reanimação constata-se a presença
de pulso carotídeo, bem como ritmo organizado ao eletrocardiograma. Paciente é então subme-
tido à cuidados pós-RCP.
REFERÊNCIAS
1. Gonzalez MM; Timerman S; Gianotto-Oliveira R; Polastri TF; Canesin MF; Schimidt A et al. Sociedade
Brasileira de Cardiologia: I Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de
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te survival after cardiopulmonary resuscitation. Rev Latino-Am Enfermagem 2014 ago;22(4):562-568.
129
Autores:
1.9
Matheus Tozatto Bapstista Coelho Leal
Rafael Figueiredo dos Santos
Maria do Carmo Pereira Nunes FEBRE REUMÁTICA
CARDIOLOGIA
1. INTRODUÇÃO
A artrite é a manifestação mais precoce e mais comum, presente em 60 a 80% dos casos,
com caráter migratório, acometendo grandes e médias articulações com um curso autolimita-
do e recuperação completa em cerca de quatro semanas.1,2,7 A coreia de Sydenham é uma ma-
nifestação mais tardia, meses após a infecção estreptocócica, com surto durando entre dois e
três meses e um ano e, isoladamente, faz o diagnóstico de FR. Ocorre predominantemente em
crianças e adolescentes do sexo feminino, manifestando-se por movimentos rápidos, involun-
tários e incoordenados dos membros e na face. As manifestações cutâneas são mais raras e de
difícil diagnóstico.7,8
131
A cardite reumática é a manifestação mais grave da FR, ocorrendo em mais de 50% dos casos
de FR aguda. É caracterizada por pancardite, envolvendo o pericárdio, o miocárdio e endocárdio,
causando valvulite da valva mitral (regurgitação mitral) e, menos frequentemente, da valva aórti-
ca (regurgitação aórtica).1,2 As lesões valvares representam as complicações mais graves, respon-
sáveis pelo quadro clínico e pelo prognóstico. Apesar de ser possível que apenas um quadro agu-
do de FR já seja capaz de evoluir para doença valvar grave, a cardiopatia reumática normalmente
é decorrente de dano cumulativo secundário às repetidas infecções estreptocócicas. Esse dano
resulta em lesão das valvas cardíacas com alterações morfológicas e funcionais, resultando no
desenvolvimento de insuficiência cardíaca. O intervalo entre o episódio inicial de FR e evidência
clínica da cardiopatia reumática varia entre poucos anos e até mais de 20 anos.2
O diagnóstico de FR é baseado nos critérios clínicos, denominados critérios de Jones, após ex-
clusão de outros diagnósticos diferenciais. Os critérios de Jones foram estabelecidos pela primei-
ra vez em 19449 e, desde então, foram submetidos a várias modificações, revisões e atualizações,
mais recentemente em 2015.10 Os critérios são divididos em manifestações maiores e menores
(Tabela 1). O diagnóstico de FR agudo é feito quando o paciente apresenta dois critérios maiores,
ou um critério maior e pelo menos dois menores. Além disso, para o diagnóstico, é necessário
ter evidências de infecção bacteriana da orofaringe recente, o que geralmente é feito através da
sorologia estreptocócica. As exceções a esses critérios são os pacientes que apresentam coreia
ou cardite indolente, pois essas manifestações podem tornar-se apenas aparentes meses após a
infecção estreptocócica causal e, portanto, manifestações adicionais podem não estar presentes
e o teste de sorologia estreptocócica pode ser normal.10
A última atualização dos critérios de Jones em 201510 trouxe algumas alterações importantes
no intuito de estabelecer um diagnóstico de FR mais acurado. A primeira dessas alterações foi
dividir os pacientes em grupos de baixo e alto risco, em razão da prevalência de FR na popula-
ção em questão. No grupo de alto risco, considera-se monoartrite e poliartralgia como critérios
maiores e monoartralgia como critério menor. Entretanto, na população de baixo risco apenas
poliartrite é considerado critério maior e poliartralgia como critério menor de comprometimen-
to articular da FR. A segunda alteração relevante foi adicionar a cardite subclínica como critério
maior, sendo necessários dados ecocardiográficos para seu diagnóstico. O objetivo de incluir a
cardite identificada através ecocardiograma por meio de alterações valvares compatíveis com
valvulite aguda é identificar populações de alto risco de progressão para a CR crônica com dano
valvar irreversível. A terceira alteração importante foi a definição de recorrência da FR. Diante da
suspeita clínica de um novo surto de FR, com infecção estreptocócica documentada, em pacien-
tes com história prévia de FR aguda ou com CR crônica, dois critérios maiores, um critério maior e
dois menores ou ainda três critérios menores podem ser suficientes para o diagnóstico.
Tabela 1: Critérios para o diagnóstico de febre reumática aguda (revisão dos critérios de Jones utilizando o
Doppler ecocardiograma) para os indivíduos com evidências de infecção estreptocócica prévia.10
132
População de baixo risco foi considerada aquela com incidência de febre reumática aguda ≤ 2
por 100.000 crianças em idade escolar (5-14 anos) ou prevalência de cardiopatia reumática em
todas as idades ≤ 1 por 1000 indivíduos por ano. Cardite subclínica refere-se aos casos nos quais
não se ausculta sopro de disfunção valvar, mas há sinais de valvulite ao Doppler ecocardiograma.
O diagnóstico da CR crônica depende de sua apresentação clínica. Nos pacientes com curso
avançado da CR, os sintomas estão relacionados à lesão valvar predominante e o diagnóstico
é, frequentemente, realizado pelo exame clínico, com propedêutica complementar apenas para
quantificar a gravidade da disfunção valvar e definir a estratégia terapêutica. Por outro lado, nos
pacientes assintomáticos, o diagnóstico da CR crônica, a princípio, baseava-se na história prévia
de FR aguda e no exame físico, dando ênfase aos achados da ausculta cardíaca. Entretanto, a
ausculta cardíaca apresenta baixa sensibilidade para diagnosticar precocemente a CR. No estudo
pioneiro, Marijon et al. compararam os achados da ausculta cardíaca com os do ecocardiograma
em mais de 5.000 crianças em idade escolar na África11 e demonstraram que a CR foi 10 vezes
mais detectada através do ecocardiograma em relação à ausculta. Posteriormente, outros estu-
dos destacaram consistentemente a superioridade da ecocardiografia para a detecção de CR, e
a ausculta cardíaca isolada já não é mais recomendada para o diagnóstico de CR. Dessa forma,
o termo CR subclínica ou latente emergiu e atualmente a prevalência é maior que os casos com
manifestações clínicas.12,13
Para padronizar os critérios ecocardiográficos, em 2012 a World Heart Federation (WHF) ela-
borou recomendações detalhadas, com níveis de evidências, dos critérios ecocardiográficos para
diagnóstico de CR em indivíduos sem história de FR aguda ou portador de CR crônica (Tabela 2).14
Dessa forma, estabeleceram-se dois pilares para o diagnóstico da CR, que consistem na avaliação
ecocardiográfica e na probabilidade pré-teste do paciente, o qual, por sua vez, considera aspec-
tos geográficos, étnicos e habitacionais.
Tabela 2: Características morfológicas do acometimento reumático valvar e critérios para regurgitação valvar
patológica, conforme as recomendações da WHF14.
Alterações morfológicas
Valva mitral Valva aórtica
Espessamento do folheto anterior ≥ 3 mm. Espessamento focal ou irregular.
Espessamento do aparato subvalvar. Defeito de coaptação.
Restrição de mobilidade dos folhetos. Mobilidade restrita dos folhetos.
Movimentação excessiva do folheto anterior. Prolapso.
Regurgitação patológica Regurgitação patológica
Jato regurgitante visto em duas incidências. Jato regurgitante visto em duas incidências.
Jato regurgitante ≥ 2 cm em pelo menos uma Jato regurgitante ≥ 1 cm em pelo menos uma
incidência. incidência.
133
Alterações morfológicas
Valva mitral Valva aórtica
Velocidade ≥ 3 m/s em pelo menos um registro do Velocidade ≥ 3 m/s em pelo menos um registro
Doppler. do Doppler.
Jato holossistólico em pelo menos um registro do Jato holodiástólico em pelo menos um registro
Doppler. do Doppler.
Tabela 3: Critérios ecocardiográficos para diagnóstico CR em crianças e adolescentes com idade ≤ 20 anos na
ausência de história prévia de FR aguda ou CR crônica, segundo os critérios estabelecidos pela WHF.14
134
3. TRATAMENTO
135
4. PREVENÇÃO
136
maior período; 3) FR com cardite prévia e lesão valvar residual moderada a grave, a profilaxia
será mantida até a quarta década de vida ou por toda a vida em casos especiais. A sulfadiazina é
utilizada nos pacientes alérgicos, em dose de 500 mg/dia até 30 kg e 1000 mg/dia acima desse
peso. Nos casos de alergia à penicilina e à sulfadiazina, utiliza-se eritromicina em dose de 250
mg de 12/12 horas.8
Uma boa relação médico-paciente e esclarecimento sobre a necessidade do acompanhamen-
to podem ajudar na aderência ao tratamento.
Febre reumática aguda: doença aguda causada por uma resposta autoimune à infecção pelo estrep-
tococo beta-hemolítico do grupo A, levando a uma série de sintomas e sinais decorrentes do envolvi-
mento do coração, articulações, cérebro, pele e tecidos subcutâneos. A febre reumática aguda é diag-
nosticada de acordo com os Critérios Revisados de Jones e tem tendência a se repetir com novo surto
infeccioso.
Cardite reumática: inflamação ativa dos tecidos cardíacos, principalmente das valvas mitral e/ou aór-
tica, causadas pela febre reumática aguda. A cardite reumática pode levar à lesão valvar crônica, que
permanece após o episódio inflamatório agudo ter se resolvido.
Cardiopatia reumática crônica: lesão valvar persistente resultando em insuficiência das valvas mitral
e/ou aórtica, ou em estenose valvar em uma fase mais tardia, que permanece como resultado de febre
reumática aguda com cardite reumática. As complicações da cardiopatia reumática incluem insuficiên-
cia cardíaca, acidente vascular cerebral isquêmico, endocardite infecciosa e fibrilação atrial.
5. CASO CLÍNICO
LFS, 25 anos, sexo feminino, casada, procura atendimento médico com queixa de dispneia aos
esforços, início nos últimos três meses com caráter progressivo. Paciente relata estar previamen-
te assintomática quando notou cansaço para andar mais rápido e subir uma rua mais íngreme,
com queda gradual da tolerância aos esforços. Mais recentemente, ela precisa parar quando está
caminhando no plano e não consegue acompanhar seu marido que tem a mesma idade dela.
Paciente relata ser sedentária e estar ganhando peso, por isso acha que a dispneia apresentada
pode ser decorrente dos hábitos de vida. Relata amigdalites de repetição em sua infância, tendo
sido internada uma vez com poliartrite. Quando interrogada, referiu-se a episódios de batedeira
no peito, sem relação com esforço físico. Na história pregressa, relatou que nasceu no interior de
Minas Gerais, em uma casa pequena morando com os pais e mais seis irmãos.
137
Ao exame físico, a pressão arterial foi aferida em 120/80 mmHg e a FC de 92 bpm após 30
minutos de repouso. O precórdio estava normal e o impulso cardíaco apical não estava palpável.
B1 facilmente palpável. Durante ausculta, a primeira bulha cardíaca encontrava-se hiperfonética
(B1) com um sopro que iniciava logo após B2, precedido por um estalido de abertura mitral com
configuração crescente-decrescente, tornando-se mais intenso antes de B1, caracterizando um
ruflar diastólico com reforço pré-sistólico.
Exames laboratoriais trazidos pela paciente não mostraram anormalidades. Eletrocardiogra-
ma evidenciou ritmo sinusal com FC de 86 bpm, e sinais de sobrecarga do átrio esquerdo.
Conduta
Beta-bloqueadores para melhorar a tolerância ao exercício físico.
Diuréticos de alça para melhorar a congestão pulmonar.
Solicitar exames laboratoriais para avaliar outros fatores que possam contribuir para a intolerância ao
exercício físico.
Solicitar ecocardiograma para quantificar a gravidade da lesão, estimar a pressão sistólica na artéria pul-
monar, avaliar a morfologia valvar mitral e definir a melhor estratégia terapêutica
Profilaxia secundária com Penicilina G Benzatina 1.200.000 UI por via IM de 21/21 dias até a paciente
completar 40 anos.
Orientação em relação à anticoncepção para evitar os riscos decorrentes da gravidez.
Considerar anticoagulação com warfarina pelo provável quadro de fibrilação atrial paroxística.
Procurar atendimento de urgência diante de qualquer agravamento da dispneia ou aparecimento de ou-
tros sintomas.
Orientações gerais em relação à dieta e atividades físicas, que podem ser mantidas conforme a tolerância
do paciente.
138
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