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SUBROGACAO

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1.

INTRODUÇÃO

SUB- ROGACAO
1.1. Conceito de sub-rogação

A sub-rogação prevista nos arts 589º e ss., consiste numa situação que se verifica quando, cumprida uma
obrigação por terceiro, o crédito respectivo não se extingue, mas antes se transmite por efeito desse cumprimento
para o terceiro que realiza a prestação ou forneceu os meios necessários para o cumprimento.

Tanto a sub-rogação como a cessão de créditos são formas de transmissão do crédito. Distinguem-se entre si,
porque, enquanto a cessão tem por base um negócio jurídico (578º), a sub-rogação resulta de um acto não
negocial, que é o cumprimento, sendo a medida deste que determina a medida da sub-rogação (593º/1). Ainda, a
sub-rogação é insusceptível de se verificar em relação a prestações futuras, ao contrário do que vimos suceder
com a cessão de créditos. Para além disso, enquanto na cessão de créditos o cedente tem que garantir a existência
e a exigibilidade do crédito (587º/1), semelhante garantia não se verifica na sub-rogação (594º), limitando-se a
ocorrer a transmissão para o sub-rogado dos direitos que cabiam ao sub-rogante, sejam eles quais forem.

.1.2. Modalidades de sub-rogação

A) A sub-rogação pelo credor

A sub-rogação pelo credor, prevista no artigo 589º, verifica-se através da declaração deste, de que pretende que o
terceiro que cumpre a obrigação venha, por virtude desse cumprimento, a adquirir o crédito.

A sub-rogação pelo credor pressupõe assim sempre dois requisitos:

a) o cumprimento da obrigação por terceiro;

b) a declaração expressa anterior do credor a determinar a sub-rogação;

Assim, se o terceiro se limita a cumprir a obrigação, sem que o credor nada declare, o que se verifica é apenas um
cumprimento por terceiro, sem que este venha a adquirir o crédito por via da sub-rogação. Igualmente se o credor
declarar a sub-rogação, esta não ocorrerá enquanto para terceiro não efectuar o cumprimento.

A declaração de sub-rogação pelo credor tem que ser expressa (217º), embora para ela não se exija forma especial
(219º). Essa declaração tem que ser, porém, emitida até ao momento do cumprimento para evitar que a obrigação
se extinga em lugar de se transmitir. Ultrapassado este prazo, a sub-rogação não é mais possível.
Havendo declaração expressa do credor a determinar a sub-rogação, esta também não se verifica enquanto o
terceiro não cumprir a obrigação. Efectivamente, a sub-rogação só ocorre com o cumprimento, não sendo a
declaração do credor do credor só por si eficaz para determinar a transmissão do crédito.

B) A sub-rogação pelo devedor

A sub-rogação pelo devedor, prevista no artigo 590º, verifica-se igualmente através da declaração deste de que
pretende que o terceiro que cumpre a obrigação adquira o respectivo crédito. Essa declaração tem igualmente que
ser expressa (590º/2) e deve também ser efectuada até ao momento do cumprimento, para evitar a extinção da
dívida em lugar da transmissão.

Também na sub-rogação pelo devedor se exige a declaração expressa dele até ao momento do cumprimento, para
evitar que o crédito se extinga, não se admitindo igualmente que o devedor pudesse retroactivamente qualificar
como sub-rogação o que tinha sido apenas um cumprimento por terceiro, prejudicando assim os seus outros
credores ou os terceiros que garantiram o cumprimento.

C) A sub-rogação como consequência de empréstimo efectuado ao devedor

Um caso particular de sub-rogação é a sub-rogação em consequência de empréstimo efectuado ao devedor (591º).


Nesse caso, não é o terceiro que cumpre a obrigação, mas antes o próprio devedor. Porém, como este vem a
efectuar o cumprimento com dinheiro ou outra coisa fungível emprestada por terceiro, é admitida a sub-rogação,
desde que haja declaração expressa, no documento do empréstimo, de que a coisa ao cumprimento da obrigação
e de que o mutuante fica sub-rogado nos direitos do credor.

Nesta situação, a sub-rogação não deriva de um pagamento por terceiro, mas antes de um acto do devedor,
conforme resulta do artigo 591º.

Em qualquer caso, a lei exige para se proceder a esta sub-rogação um requisito de forma especial que é o de que
conste do documento do empréstimo que a coisa se destina ao cumprimento da obrigação e que o mutuante fica
sub-rogado nos direitos do credor.
D) A sub-rogação legal

A sub-rogação pode resultar da lei, independentemente, portanto, de qualquer declaração do credor ou do


devedor. Nos termos do artigo 592.º/1, essa situação verifica-se sempre que o terceiro tiver garantido o
cumprimento ou estiver por qualquer outra causa directamente interessado na satisfação do crédito. O requisito
geral da sub-rogação legal é, assim, o de que o terceiro tenha interesse directo no cumprimento, o que sucederá
sempre que a não realização da prestação lhe possa acarretar prejuízos patrimoniais próprios, independentes das
consequências do incumprimento para o devedor ou o cumprimento se torne necessário para acautelar o seu
próprio direito.

O caso mais comum de interesse directo no cumprimento +e o de o terceiro ser garante da obrigação, uma vez que
nesse caso a não realização do cumprimento implica a execução dos seus bens pelo credor. Assim, se o terceiro for
fiador do devedor ou tiver constituído um penhor ou hipoteca sobre bens seus para garantia do cumprimento, a lei
determina a sub-rogação como efeito directo do cumprimento, independentemente de outros requisitos (para a
fiança 644º).

O interesse directo do terceiro no cumprimento tem que corresponder a um interesse próprio com conteúdo
económico prático, não bastando um interesse meramente jurídico. Não haverá assim, sub-rogação legal sempre
que o pagamento seja realizado exclusivamente no interesse do devedor (ex: o cumprimento efectuado por gestor
de negócios) ou quando o interesse de terceiro no cumprimento seja meramente moral ou afectivo (ex: o pai que
paga a dívida do filho, atendendo ao bom-nome da família).

. Efeitos da sub-rogação

A) Transmissão do crédito na medida da sua satisfação

Os efeitos da sub-rogação encontram-se previstos no artigo 593º. A sub-rogação pressupõe sempre um


cumprimento, sendo a medida desta que determina a medida da sub-rogação. Assim, se o terceiro, numa dívida de
1000 Euros, apenas paga ao credor 600, não fica sub-rogado na totalidade do crédito, mas apenas no montante
que foi por ele satisfeito.

Ocorre assim uma sub-rogação parcial sempre que o terceiro cumpre a obrigação, não o faz totalmente. Nesse
caso, como a aquisição do direito de crédito só se verifica na medida da satisfação dada ao direito do credor
(593º/1), o resultado é a divisão do crédito em dois, um do credor originário e outro do sub-rogado.

Nesse caso, a lei vem prever que a sub-rogação não prejudica os direitos do credor originário (ou do seu
cessionário), quando outra coisa não for estipulada (593º/2). A lei pretende dizer que o crédito do sub-rogado não
concorre com o crédito do credor originário (ou de um cessionário deste), uma vez que este crédito tem
preferência sobre aquele, pelo que em caso de insolvência do devedor, será satisfeito em primeiro lugar. O
fundamento desta regra baseia-se na presunção de que, ao aceitar um pagamento parcial do crédito por terceiro,
o credor não quererá conceder ao terceiro a faculdade de com ele concorrer na cobrança do remanescente, uma
vez que ninguém concede uma sub-rogação em seu próprio prejuízo. Daí o estabelecimento da preferência do
credor em relação ao terceiro na cobrança do remanescente do crédito.

Esta preferência, no entanto, só se verifica em relação ao credor originário, não em relação aos sub-rogados entre
si.

Assim, se houver vários sub-rogados por satisfações parciais do crédito, ainda que em momentos diferentes,
nenhum deles tem preferência sobre os demais (593º/3).

B) Transmissão das garantias e acessórios do crédito

O artigo 594º manda aplicar a esta transmissão as disposições dos artigos 582º a 584º, relativas à cessão de
créditos, pelo que a transmissão do crédito acarreta igualmente a transmissão de todas as suas garantias e
acessórios (582º). Transmitem-se assim para o sub-rogado as garantias não inseparáveis da pessoa do credor,
como a fiança, consignação de rendimentos, penhor, hipoteca e alguns privilégios creditórios. No caso de sub-
rogação parcial parece as garantias passarão a beneficiar ambos os créditos (o de credor originário e o do sub-
rogado ou dos sub-rogados), ainda que, por força da sua indivisibilidade, cada credor tenha que exercer o direito
real de garantia por inteiro, estabelecendo-se, no entanto, a preferência de acordo com as já referidas regras do
artigo 593º, n.º 2 e 3.

Também por força da mesma disposição os acessórios do crédito, como a obrigação de juros e a cláusula penal, se
transmitirão para o sub-rogado, com excepção daqueles que sejam inseparáveis da pessoa do credor.

C) A questão da transmissão das excepções

O artigo 594º não efectua, porém, qualquer remissão para o artigo 585º, onde se determina que as excepções que
o devedor tinha contra o cedente podem ser também invocáveis contra o cessionário, a não ser que provenham de
facto posterior à cessão.

Efectivamente, apenas nos casos em que a sub-rogação se realiza sem intervenção do devedor é que se justifica
defender que ela não o possa colocar em pior situação do que aquela em que ele se encontrava antes da
transmissão, aplicando-se o regime da cessão de créditos (585º), não por remissão, mas antes por analogia. Assim,
tanto na sub-rogação pelo credor como na sub-rogação legal, o devedor poderá continuar a invocar contra o
credor com ressalva daqueles que provenham de facto posterior ao conhecimento. No caso de a sub-rogação
provir do próprio devedor, já lhe será, porém, vedada a invocação de qualquer excepção que tinha contra o credor
originário, a menos que a tivesse comunicado ao terceiro antes de ele proceder ao pagamento.

D) Eficácia da sub-rogação em relação ao devedor e a terceiros

Por força da remissão do artigo 594º, aplicam-se à sub-rogação também as disposições dos arts 583º e 584º.
Assim, a sub-rogação deve ser notificada ao devedor, ou por este aceite, para que produza efeitos em relação a ele
(583º/1), sob pena de não lhe ser oponível, a não ser demonstrando o seu conhecimento da sub-rogação (583º/2).
Assim, caso o devedor, ignorando a sub-rogação, vier a pagar ao credor originário, esse pagamento será eficaz
perante o sub-rogado, restando a este apenas a possibilidade de instaurar uma acção de enriquecimento sem
causa contra o primitivo credor (neste caso, enriquecimento por intervenção).

Para além disso, em caso de vários pagamentos do mesmo crédito por terceiro, prevalece a sub-rogação que
primeiro for levada ao conhecimento do devedor ou que por este seja aceite (584º, aplicável por força do artigo
594º). Assim, se o credor, por necessitar de dinheiro, sub-rogar sucessivamente dois terceiros por pagamentos que
estes tenham feito em relação ao mesmo crédito, só aquele que notificar primeiro o devedor poderá prevalecer-se
da transmissão do crédito. Esta regra, no entanto, deve ser objecto de alguma restrição relativamente à sub-
rogação determinada pelo devedor, uma vez que, em relação a esta, faz pouco sentido a exigência de qualquer
notificação a ele pelo credor originário ou pelo sub-rogado, já que este pode sempre provar que o devedor
conhecia –já que determinou – a sub-rogação (583º/2, aplicável por força do artigo 594º).

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