Canto Orfeônico PDF
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5. Eero Tarasti, Heitor Villa-Lobos: The Life and Works, 1887-1959 (Jefferson, N.C.:
McFarland, 1995), 158.
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deu apoio entusiástico a estas manifestações públicas, pelo seu forte apelo ao patriotismo
e solidariedade nacional6.
Appleby enumera 99 peças corais escritas por Villa-Lobos entre 1930 e 1945,
entre peças isoladas e coleções.7 Cinco itens representam coleções: Canto Orfeônico I
(1937), Guia Prático (1932), Solfejos I (1940), Solfejos II(1946) e Canto Orfeônico II
(1951). Juntas, as cinco coleções totalizam mais de 400 peças corais (muitas delas em
uníssono). O Orfeão dos Professores estreou cerca de 28 destes trabalhos corais.8
O Guia Prático foi a primeira coleção de peças escrita por Villa-Lobos com
propósito pedagógico. O compositor completou apenas o primeiro volume dos seis
concebidos. Béhague afirma que nesta coleção o compositor usou “repertório comum,
com foco em canções infantis, e não o material regional, exótico, que as referências às
viagens de Villa-Lobos parecem implicar.”9 As 137 melodias são apresentadas em
diversas formações musicais: para piano solo, voz em uníssono com piano, coro a duas
ou três partes a cappella ou acompanhados.
Os dois volumes de Solfejos são antologias de exercícios para a voz solo e
algumas peças corais, com alguns arranjos de fugas usando temas de Bach e Handel. 10 O
Guia Prático e os dois volumes de Solfejos parecem prover necessidades musicais na sala
de aula.
7. Ibid., 66-103.
8. Ibid., 66.
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Canto Orfeônico, Volumes I e II
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aumento do número de peças inspiradas por motivos folclóricos, presentes em 10% das
composições no Volume I e 33% no Volume II. O exemplo I mostra esses dados em
tabela.
Ex. 1: Número de peças do Canto Orfeônico em cada categoria de texto.
Categorias de texto Volume I Volume II
Valores Cívicos - 16 7
Nacionalismo
Valores Cívicos – 1 3
Militarismo
Valores Cívicos –virtudes 16 7
morais e canções de trabalho
Canções infantis 4 6
Canções de cordialidade - 5
Canções folclóricas 3 14
Outras 1 3
Total 41 45
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parece refletir-se na presença de maior número de peças com texto militar no segundo
volume da coleção.
Canções de exaltação ao trabalho e aos valores morais aparecem como eixo
temático de 18 canções. Nove canções do Canto Orfeônico tem textos infantis. Oito são
para vozes iguais. “O Trenzinho” (II-31) é a mais desafiante, quase um trabalho virtuoso,
para 3 vozes iguais a cappella. Villa-Lobos cria uma imitação dos sons de trens, usando
sílabas onomatopaicas, como “ta, ca, tch xa, ca xa ca ta,” e outras.
No segundo volume do Canto Orfeônico, Villa-Lobos criou uma série de cinco
canções de cordialidade, para encontros sociais, tais como aniversários, Natal, Festa de
Ano Novo e canções de hospitalidade. O objetivo destas canções era ocupar o espaço das
canções européias tradicionais em tais eventos. Todas tem texto de Manuel Bandeira.
Canções inspiradas em melodias folclóricas ou usando linguagem folclórica
somam 17 nos dois volumes do Canto Orfeônico. Algumas destas canções são as mais
difíceis da coleção por causa dos esquemas rítmicos complexos. Em algumas o dialeto
original negro ou indígeno foi preservado, como em “Nozaniná” (I-32), “Canide Ioune-
Sabath” (II-22), “Cantos de Çairé”, ou são misturados com o português como em “Estrela
é lua nova”. A repetição de um esquema rítmico pelo coro com uma voz solista cantando
a melodia é uma solução de Villa-Lobos para “Jaquibau” (II -39), “Remeiro de São
Francisco” (II-44), e “Estrela é lua nova” (II-37).
As peças que constituem o corpo do Canto Orfeônico foram cantadas pelo Orfeão
dos professores, os coros escolares e pelas grandes massas de cantores nas concentrações
cívicas. A importância histórica do Canto Orfeônico não impediu que a coleção fosse
esquecida. Quando o governo Vargas caiu do poder, e tão logo a sociedade brasileira
sentiu-se unida como nação, as canções com texto de conteúdo político não
permaneceram mais no repertório dos grupos corais. A baixa porcentagem de peças para
coro misto, que é o mais comum no Brasil hoje, é outro fator que isola as peças de Canto
Orfeônico de performance- somente seis peças na coleção são para SATB. Uma terceira
razão para a ausência destas músicas corais no repertório comum dos coros brasileiros é a
dificuldade de se encontrar as partituras. A última edição de Canto Orfeônico foi feita em
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1970, e os dois volumes estão esgotados hoje.12 Eles não podem ser xerocados por
direitos de copyright, e só resta a sorte de encontrá-los em sebos. Uma nova edição da
coleção, talvez uma edição crítica, selecionando somente as peças mais interessantes
musicalmente, poderiam ser o primeiro passo para o retorno deste repertório à sala de
concerto.
Por outro lado, o grupo de peças baseado nos motivos folclóricos são
representativos do estilo modernista de composição da primeira metade do século XX;
permaneceram no repertório coral até a década de 80, quando o principal interesse dos
grupos corais brasileiros mudaram para a música popular, mas possuem vitalidade de
performance ainda hoje.
12. Eu consegui uma cópia feita pela editora Vitale a partir da prova mestre que eles têm
lá. O gerente me afirmou que eles não pretendem imprimir uma nova edição da coleção
nos próximos anos.
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Bibliografia
Béhague, Gerard. 1994. Heitor Villa-Lobos: The Search for Brazil’s Musical Soul.
University of Texas at Austin, Institute of Latin American Studies.
Tarasti, Eero. 1995. Heitor Villa-Lobos: The Life and Works, 1887-1959. Jefferson,
N.C, McFarland.
Vassberg, David E. 1975. Villa-Lobos as Pedagogue: Music in the Service of the State.
Journal of Research in Music Education, XXIII/3: 163-70.
Villa-Lobos, Heitor. 1971. Educação musical. Presença de Villa-Lobos, Vol. VI: 95-129.
Rio de Janeiro, MEC-Museu Villa-Lobos.
Wisnick, José Miguel. 1977. O Coro dos contrários: a música em torno da Semana de 22.
São Paulo, Duas Cidades.
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___________. 1987. Villa-Lobos and His Position in Brazilian Music after 1930.
University College of Wales, Cardiff, Ph.D. dissertation.
Partituras