Morfema Zero
Morfema Zero
Morfema Zero
Muitas vezes um morfema zero deixa de estar presente na palavra. Isso não quer
dizer que ele inexista, mas sim que está ausente. Esta ausência tem uma função ou
significação e, por isso, é chamada de ausência significativa.
Vejamos:
autor + Ø nu+Ø
autor + a nu+a
peru + Ø guri + Ø
peru + a guri + a
freguês + Ø André + Ø
fregues + a Andréi + a
o estudante ≠ a estudante
o artista ≠ o artista
o doente ≠ a doente
o dentista ≠ a dentista
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Veremos adiante que, embora o masculino e o feminino dessas palavras, sob o aspecto puramente
mórfico, sejam iguais, o zero do feminino difere do morfema zero caracterizador do masculino. Idêntico
raciocínio será aplicado para a marca zero do plural dos nomes anoxítonos terminados concretamente em
–s no singular. É viável também interpretar ambos esses casos por critérios exclusivamente sintáticos.
Assim, tanto o gênero quanto o número de certas palavras deixam de ser marcados por qualquer oposição
morfológica, mas são identificados pelos morfemas categóricos dos termos que a eles se referem. Esses
termos podem ser artigos (o colegial / a colegial), pronomes ou nomes que funcionem como adjetivos
(minha caneta / lápis pretos).
e) Em muitas formas verbais encontramos o morfema zero em oposição a outros
morfemas:
(tu) estud + a + va + s
(ele) estud + a + va + Ø
(ele) estud + a + Ø + Ø
f) Até mesmo a raiz de um vocábulo pode ser formalmente vazia. É o caso dos
artigos definidos em português:
√¯Ø + o = o
√¯Ø + o + s = os
√flor + Ø + ar
√flor + Ø + ir
Outros exemplos:
fim - √fin + Ø + ar
longo - a + √long + Ø + ar
braço - a + √braç + Ø + ar
largo - a + √larg + Ø + ar
capim - √capin + Ø + ar
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Essa a atitude quase geral das gramáticas publicadas no Brasil, contra as quais se denuncia o pouco
aproveitamento das pesquisas e estudos lingüísticos. O morfema zero foi empregado desde Pânini e só
recentemente se tornou conhecido entre nós.
O recurso deve, pois, ser entendido dentro do princípio da coerência descritiva.
Sabemos com Matthews (1976:96) que alguns lingüistas consideram inadequada a
utilização da noção de zero. Mas ainda cremos que, para a morfologia portuguesa, a
técnica traz inúmeras vantagens metodológicas.
MONTEIRO, José Lemos de. Morfologia Portuguesa. 3.ed. Campinas, SP: Pontes,
1991, pp. 17-19.