Educacao Inclusiva BR PT PDF
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1.1.1. Introdução
A Oficina “Educação Inclusiva no Brasil – Diagnóstico Atual e Desafios para o
Futuro”, promovida pelo Banco Mundial e pela Secretaria de Educação da Cidade do Rio de
Janeiro, em março de 2003, reuniu 120 pessoas convidadas como representantes dos sistemas
de ensino federal, estadual e municipal de todo o país, e de movimentos e organizações da
sociedade civil com atuação relevante na área. As discussões da Oficina e os relatórios do
encontro foram desenvolvidos tendo como referência seis temas específicos: currículo,
acessibilidade, família/comunidade, recursos humanos, material pedagógico/tecnologias
assistivas e políticas públicas.
No quarto capítulo são descritas Dinâmicas escolares de Educação Inclusiva. Num primeiro
momento, é relatado um levantamento realizado para este relatório junto a professores do
Estado do Rio de Janeiro, para obter suas percepções sobre como o processo de inclusão em
suas escolas. Em seguida, são sintetizadas as experiências inovadoras relatadas pelos Estados e
Municípios no questionário pré-Oficina. Finalmente, é apresentado um estudo de caso sobre o
processo de inclusão escolar ocorrido na rede pública de Santa Maria, RS. Este estudo foi
selecionado por descrever uma experiência em curso há vários anos e por mostrar como se
estabelecem e se redesenham na prática educacional as relações Educação Especial /
Educação Geral.
Encerra o relatório um tópico com as Conclusões do estudo, contendo alguns elementos
de síntese e indicadores dos desafios e perspectivas que foram sugeridos pelas diversas fontes
que alimentaram a análise.
Em síntese, como indicam esses dados, a expansão quantitativa não se fez acompanhar
do salto correspondente da qualidade do ensino (v. a respeito Geografia da Educação Brasileira,
MEC, 2002 e Educação Municipal no Brasil: Recursos, incentivos e resultados, Banco Mundial, 2003).
Nos últimos meses, têm se tornado freqüentes as manifestações, principalmente a
partir do MEC, da necessidade de ampliar a escolaridade obrigatória de oito para nove anos,
de aumentar a jornada escolar diária dos alunos e de criar pisos salariais nacionais ou regionais
para os professores. Persistem, assim, muitos dos desafios para a construção de uma escola
pública inclusiva, o que não retira dos sistemas públicos de ensino a responsabilidade,
intransferível, pelo oferecimento de um ensino de qualidade para todos.
Tabela 1 – Evolução das matrículas em Educação Especial no Brasil, 1998/2002, por dependência
administrativa
Nota-se pelos dados que, nos últimos cinco anos, as matrículas continuaram bastante
concentradas nas instituições especializadas privadas, com quase metade dos alunos. Cabe
registrar que os percentuais de matrículas em escolas privadas em Educação Infantil e Ensino
Fundamental, do total geral de alunos (não especiais e especiais) foram de 25 e 9%,
respectivamente, em 2002. Ainda são pouco expressivas as matrículas de alunos com
necessidades especiais em escolas privadas não especiais (pouco mais de 5.000 vagas em 2002).
Acentuou-se no período a transferência de vagas das redes estaduais para as
municipais, acompanhando a tendência geral da Educação Infantil e Ensino Fundamental. A
percentagem de vagas nas redes estaduais caiu de 34,5 para 26,8% enquanto a participação dos
municípios subiu de 18,7 para 26,3%; o crescimento percentual de matrículas no conjunto das
redes públicas e na rede privada no período foi o mesmo: 33%.
Com base na legislação e nos documentos referentes às políticas públicas, seria
esperada a concentração do atendimento aos alunos com necessidades especiais nas classes
comuns das escolas regulares. A questão é parcialmente esclarecida na Tabela 2.
Tabela 2 – Evolução das matrículas em Educação Especial, 1998/2002, por modalidade de atendimento
Registrou-se a ampliação das vagas junto às classes comuns, principalmente nas redes
municipais, que foram responsáveis por cerca de 60% das 110.536 vagas nas classes comuns,
com e sem apoio especial, em 2002. Manteve-se, contudo, expressiva concentração de
matrículas (3/4) nas escolas e classes especiais, modalidades de atendimento consideradas
segregadas. Quanto à natureza administrativa dos serviços, 81% das escolas especiais eram
privadas e 98% das classes especiais estavam em escolas públicas.
Outras informações disponíveis nos censos sobre o número de serviços com alunos
especiais matriculados mostram que os estados do Sul e do Sudeste tiveram em 2002 maior
concentração de escolas e classes especiais (75 e 63%), em comparação com salas comuns
com e sem apoio. Na mesma comparação, Nordeste, Centro-Oeste e Norte mostraram 50, 44
e 31%. Já quanto ao número de matrículas, o Centro-Oeste teve o maior percentual em classes
comuns com e sem apoio (39%) e o Nordeste o menor (20%). Se tomarmos apenas os dados
das matrículas nas classes comuns, a combinação classe comum + sala de recursos
predominou no Nordeste e Sul, enquanto a classe comum sem apoio prevaleceu no Norte,
Sudeste e Centro-Oeste.
Na Tabela 3, buscou-se mostrar como as matrículas de 2002 se distribuíram por nível
ou modalidade de ensino (da creche ao Ensino Médio) e pela natureza do atendimento (escola
especial, classe especial, classe comum com apoio, classe comum sem apoio).
Sessenta por cento dos alunos cursavam o Ensino Fundamental, concentrados nas
séries iniciais, sendo 1/3 deles nas classes comuns. As matrículas no Ensino Médio foram
raras (3.980 em um universo de 8,7 milhões de estudantes do Ensino Médio). Os demais
níveis / modalidades concentraram-se nas escolas especiais privadas (a figura não traz a
distinção entre instituições públicas e privadas). Este foi o caso das vagas em creches (22.375
nas 27.921 apontadas), pré-escolas (39.327 dentre as 48.927), classes de alfabetização (17.439
das 21.236), educação de jovens e adultos (EJA) e supletivo (12.244 em 14.519), educação
profissional (27.817 em 33.046). Em síntese, as escolas públicas têm concentrado sua
expansão nas séries iniciais do Ensino Fundamental, deixando as crianças de 0 a 6 e os jovens
e adultos ainda dependentes das instituições filantrópicas ou sem qualquer atendimento.
Foram bastante reduzidas as matrículas de alunos com altas habilidades, pelo menos
aqueles assim identificados nos registros. As matrículas de alunos com condutas típicas, com
deficiência auditiva, deficiência mental e deficiência múltipla estiveram concentradas nas
escolas e classes especiais. Se tal concentração poderia ser esperada na área de deficiência
múltipla, é significativo – e também preocupante – que este índice tenha atingido 86% na área
de deficiência mental e quase 70% na área da surdez. Chama também a atenção o registro de
um número bastante expressivo de matrículas de alunos classificados como “outros” (12% do
total), não integrantes das clássicas categorias de classificação da área.
Os dados e informações até aqui apresentados indicam perspectivas potencialmente
favorecedoras da ampliação do acesso de alunos com necessidades especiais à educação geral,
ao lado de importantes desafios. O cenário das possibilidades positivas inclui uma legislação e
algumas políticas que têm permitido e assegurado, de forma ainda precária, a presença desses
alunos nos programas educacionais e, tendencialmente, com menor grau de discriminação e
com um compromisso crescente da escola pública. É assim que a definição da Educação
Infantil como nível de ensino e as experiências inclusivas desenvolvidas nesse nível têm
revelado perspectivas inovadoras.
O cenário pós-LDB tem mostrado também maior atenção à diversidade do alunado
nas revisões curriculares e de diretrizes da escola básica, associada à flexibilização das formas
de organização curricular, acesso e avaliação. Nesse ponto, o desafio da qualidade é o que mais
se destaca, já que a ampliação do acesso ao Ensino Fundamental tem priorizado os aspectos
da otimização dos recursos orçamentários, humanos e físicos já disponíveis, construindo uma
escola mais aberta e nem assim mais inclusiva.
1
Vale ressaltar que o perfil regional aqui apresentado, embora não completo, é referente a uma parcela
significativa do país, pois engloba 15 estados; Distrito Federal e 12 capitais, seis das quais representando outros
estados.
número de escolas que ofereciam somente Educação Infantil; somente Ensino Fundamental;
somente Ensino Médio e as que ofereciam Educação Infantil e Ensino Fundamental; número
total de alunos integrantes da rede pública do Estado ou Município na Educação Infantil,
Ensino Fundamental e Ensino Médio e número de alunos com deficiência nos três níveis de
ensino; dotação orçamentária destinada à Educação Especial para a rede regular e para as
instituições conveniadas; número de alunos beneficiados com a referida verba na rede regular
e nas instituições conveniadas; modalidades mais freqüentes de atendimento aos alunos com
deficiência (escola especial da rede de ensino, turma comum com apoio da Educação Especial,
classes especiais e instituições conveniadas, ou outros casos que existissem); número de
professores capacitados em Educação Especial / Inclusiva; maneira como se dá a formação de
professores para atuar na escola inclusiva e, por último, listar e fazer uma descrição resumida
de exemplos de experiências bem sucedidas e / ou inovadoras na área da Educação Inclusiva
no Município / Estado.
Alguns dos dados, que aparecem nas sínteses e na tabela que são apresentadas nessa
seção, foram enviados pelos Estados e Municípios de formas distintas. Alguns trabalharam
com números referentes às suas redes locais, outros forneceram números referentes à
totalidade do Estado ou Município. Essa aclaração se refere a informações sobre: total de
escolas (regulares, especiais e inclusivas); número de escolas que oferecem acesso físico a
deficientes e, por conseqüência, número de alunos atendidos e número de professores.
Como exemplo, podemos citar informações fornecidas em relação ao número de
escolas do Estado. Nesse caso, a partir de comparação com dados do INEP (Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), que traz os números da educação no Brasil
(2002), verifica-se que seis estados forneceram dados sobre a rede estadual (Bahia, Distrito
Federal, Piauí, Rio de Janeiro, Rondônia, Rio Grande do Sul), enquanto outros seis se
referiram ao número total de escolas existentes no estado (Amazonas, Amapá, Ceará, Pará,
Santa Catarina e Tocantins).
A seguir apresentamos uma síntese dos principais dados fornecidos.
pertinentes à Educação Especial que são incluídos nos cursos de formação continuada dos
professores do Ensino Regular.
atendimento aos alunos com necessidades especiais mais utilizadas são as classes especiais, as
turmas comuns com apoio da Educação Especial, os centros municipais de atendimento
especializado e as salas de recursos. Há ainda, em menor número, as instituições conveniadas e
as escolas especiais da rede de ensino. O município conta com 314 professores habilitados em
Educação Especial / Inclusiva. A formação desses profissionais é feita por meio de cursos,
assessoramentos, palestras e encontros com profissionais das escolas, e em parceria com
instituições e especialistas da área.
2
A discussão pela Internet ficou cada semana sob a coordenação de um consultor, que também
coordenou o grupo de trabalho sobre este tema na Oficina, a saber: 1) Currículo, Rosana Glat (com a
colaboração de Eloíza da Silva G. de Oliveira); 2) Acessibilidade, Verônica Camisão; 3) Família / Comunidade,
Lilia Pinto Martins; 4) Material Pedagógico & Tecnologias Assistivas, Elizabet Dias de Sá; 5) Recursos Humanos,
Cristina Nassif; e 6) Políticas Públicas, Windyz Ferreira.
3
Os trechos que constituem transcrição dos relatórios estão em itálico, no texto.
4
GLAT, Rosana & OLIVEIRA, S. G. de, Eloíza. Relatório – Currículo.
Dois pontos foram bastante enfatizados nas falas dos participantes de todos os grupos
de discussão, como alerta e crítica a algumas experiências ditas “inclusivas”. O primeiro é que
inclusão acadêmica não é o mesmo que inclusão social, e que a acessibilidade e a permanência do aluno especial
na escola regular não garante a apropriação de conhecimento e a qualidade de ensino5. Embora alguns
participantes valorizassem os aspectos de desenvolvimento social, há a preocupação de que, se
a dimensão acadêmica for minimizada em projetos de inclusão, os alunos que trocarem o
ensino especial pela escola regular terão sua aprendizagem e aquisição de conhecimentos
prejudicadas, o resultando em fracasso e evasão escolar.
O segundo ponto, também muito enfatizado, é que a Educação Inclusiva, embora
respaldada pela legislação e considerada política educacional prioritária, ainda não representa a
realidade cotidiana das escolas brasileiras.
Em relação ao aspecto curricular, a modificação de paradigma exigida pela proposta de
inclusão, na visão dos participantes, não se refere apenas às adaptações feitas para acomodar
os alunos com deficiências ou demais necessidades especiais, mas implica, sim, em uma nova
forma de concepção curricular, que tem que dar conta da diversidade do alunado da escola.
Independente da composição da turma, o professor deve ser capaz de preparar e coordenar as
atividades de sala de aula, imprimindo às mesmas uma dinâmica mais compatível com a
realidade social, e menos enfadonha para os alunos. Nesta nova perspectiva curricular, que,
como já mencionado, ainda não faz parte da realidade cotidiana de nossas escolas, a ênfase e a
responsabilidade pela aprendizagem é deslocada do aluno e dirigida para os procedimentos de ensino6.
A maior barreira apontada, inúmeras vezes, em todas as discussões temáticas, é que os
nossos professores não foram preparados, tanto pedagógica como psicologicamente, para lidar
com alunos com diferentes necessidades individuais, sobretudo se essas envolvem deficiências
sensoriais ou psicomotoras, ou comprometimentos graves de ordem cognitiva,
comportamental e ou de comunicação.
Há, ainda, por parte de alguns profissionais, o receio de que Educação Inclusiva acabe
se tornando uma forma de negar as necessidades educativas especiais específicas de cada
aluno. Por isso foi proposto que não se fale em “inclusão para todos” e sim “inclusão para cada um”, já
que a individualização do processo ensino-aprendizagem é a base em que se constitui um currículo inclusivo.
Considera-se importante reconhecer as características e dificuldades individuais de cada aluno, para, então,
determinar que tipo de adaptações são necessárias, ou não, para ele aprenda7. O grande desafio, em nossa
opinião, é justamente como efetuar uma avaliação individual que não esteja “viciada” pelo
enfoque clínico-patológico, ainda predominante nos setores responsáveis pela Educação
Especial, em grande parte das redes escolares do país.
Ficou bem marcado nas discussões ao vivo durante a Oficina e on line pela Internet,
que a maioria dos profissionais acredita que o processo da inclusão tem uma amplitude que vai além da
inserção de alunos considerados especiais na classe regular, e de adaptações pontuais na estrutura curricular8.
Inclusão implica em um envolvimento de toda a escola e de seus gestores, um
redimensionamento de seu projeto político pedagógico, e, sobretudo, do compromisso
político de uma re-estruturação das prioridades do sistema escolar (municipal, estadual, federal
ou privado) do qual a escola faz parte, para que ela tenha as condições materiais e humanas
necessárias para empreender essa transformação.
5
Idem nota nº 3.
6
Idem nota nº 3.
7
Idem nota nº 3.
8
Idem nota nº 3.
9
CAMISÃO, Verônica. Relatório – Acessibilidade.
10
Idem nota nº 8.
11
SÁ, D. de Elizabet. Relatório – Material Pedagógico & Tecnologias Assistivas.
12
Idem nota nº 10.
13
Idem nota nº 10.
14
MARTINS, P. Lílian. Relatório – Família/ Comunidade.
15
Idem nota nº 13.
16
Idem nota nº 13.
17
Idem nota nº 13.
18
NASSIF, Cristina. Relatório – Recursos Humanos.
19
FERREIRA, Windyz. Relatório – Políticas Públicas.
Participantes
32% 34%
3%
6% 25%
Figura 1
Questão 1
A sua escola de tem alunos com necessidades especiais incluídos em classe regular de
ensino?
20
Alguns acumulam docência com outras funções.
Questão 2
Caso tenha alunos com necessidades especiais matriculados na classe regular, marque
abaixo os tipos de necessidades presentes na escola:
( ) Deficiência mental
( ) Deficiência auditiva
( ) Deficiência visual
( ) Deficiência física
( ) Deficiência múltipla
( ) Transtorno severo de comportamento
( ) Altas habilidades
( ) Outros
Como indicado na Figura 2, 72% dos informantes disseram que em suas escolas há
alunos com algum tipo de necessidade especial incluídos na classe regular21; 20% responderam
que não há alunos com necessidades especiais em sua escola; e 8% que os alunos com
necessidades especiais de suas escolas são atendidos apenas na classe especial.
72%
Figura 2
16% A
AH
22%
18%
Figura 3
21
Em algumas das escolas, dependendo do município, co-existiam as duas situações: classes especiais e
alunos com necessidades especiais incluídos nas classes regulares.
22
Em alguns casos os respondentes colocaram que tinha alunos especiais em sua escola, mas não
sabiam determinar o diagnóstico.
Questão 3
A sua escola recebe algum serviço de apoio da Educação Especial?
Pelo que mostra a Figura 4, 53% dos participantes responderam que em suas escolas
não há qualquer apoio da Educação Especial para os alunos incluídos e seus professores, 33%
recebem em suas escolas algum tipo de apoio especializado (incluindo sala de recursos,
professores itinerantes ou supervisão) e 14 % (outras respostas) reclamou da ineficiência do
apoio recebido ou encontra-se em outra situação não especificada no questionário.
14%
53%
33%
Figura 4
Vale ressaltar, ainda, que do total de escolas em que há alunos com necessidades
especiais incluídos em classe regular, apenas 45% recebe apoio especializado, enquanto que
em 55% dos casos, segundo os informantes, os alunos foram incluídos sem qualquer suporte
ou acompanhamento.
Chamou atenção, como indicado na Figura 5, que 73% das escolas que incluem alunos
especiais em suas classes regulares, não efetivaram qualquer adaptação curricular para atendê-
los. Entre as escolas (17%) em que alguma adaptação curricular foi feita, a grande maioria dos
participantes informou que essas são desenvolvidas pelos próprios professores da classe,
através de troca de experiência entre os colegas; foi também bastante freqüente a queixa da
falta de conhecimento do professor em como fazer adaptações curriculares. Dez por cento
dos participantes não respondeu a esta questão ou descreveu outras situações não pertinentes
ao contexto.
Adaptações
10% 17%
Com adaptações
Sem adaptações
Outros
73%
Figura 5
Deve-se ressaltar, ainda, que mesmo nas escolas em que, segundo os professores, são
feitas adaptações curriculares para atender aos alunos especiais incluídos (17% das escolas
inclusivas) estas nem sempre são de natureza curricular propriamente dita, já que ao analisar as
respostas verificamos que muitos participantes citaram adaptações de acessibilidade como
construção de rampas, mudança da sala de aula para o 1º andar, e outras.
Na parte final do questionário foram feitas duas perguntas abertas sobre as principais
dificuldades enfrentadas pelos professores face à inclusão, bem como pelos alunos (com e sem
necessidades especiais) no cotidiano da classe inclusiva.
Questão 5
Quais as maiores dificuldades enfrentadas pelos professores com a inclusão de alunos
com necessidades especiais?
Questão 6
Quais as maiores dificuldades enfrentadas pelos alunos com e sem necessidades
especiais no cotidiano escolar?
23
Vários participantes citaram mais de uma dificuldade.
dessas, várias outras dificuldades foram mencionadas, como, por exemplo, desmotivação para
trabalhar com essa clientela (6%), dificuldades para avaliação do desempenho do aluno (0,5%),
cobrança dos pais (0,3%).
Quanto aos alunos, os educadores consideram que as suas maiores dificuldades no
processo de inclusão escolar estão na esfera da socialização (31%), incluindo-se aqui tanto
dificuldades dos alunos especiais se integrarem na turma, quanto dos outros os aceitarem; nos
problemas oriundos da falta de acessibilidade do prédio da escola bem como do transporte
escolar e público (25%); e no preconceito dos profissionais da escola, pais e / ou outros
alunos (13%).
Dificuldades Declaradas
Nº %
Professores
Capacitação Profissional 66 54%
Acessibilidade/mobiliário;
42 34%
Material didático
Orientação Pedagógica 29 24%
Adaptação curricular 26 21%
Superlotação de alunos 23 19%
Desmotivação 07 0,6%
Cobrança dos pais 02 0,2%
outras 22 18%
Dificuldades Declaradas
Nº %
Alunos
Dificuldade para a
38 31%
socialização
Acessibilidade/edificação;
31 25%
transporte
Preconceito 15 13%
1.1.4.1.3. Conclusões
Esta pesquisa teve como objeto um questionário aplicado em 121 professores visando
averiguar como está acontecendo, na prática cotidiana escolar, o processo de inclusão de
alunos com necessidades especiais em turmas regulares. Embora representativa, abrangendo
todos os níveis de ensino e escolas tanto da rede publica quanto privada, tratou-se de uma
pequena amostra, circunscrita a escolas de 14 municípios relativamente próximos às regiões
metropolitanas do Estado do Rio de Janeiro. Assim sendo, os dados obtidos devem ser
considerados como indicativos e comparados com resultados de outros estudos e pesquisas
mais abrangentes.
De imediato chamou atenção que apesar de 72% dos professores afirmarem que em
suas escolas há alunos com necessidades especiais incluídos em classes regulares, em mais da
metade dessas escolas não há qualquer apoio especializado para auxiliar o professor da classe
regular nesta tarefa, e em grande parte das escolas em que há esse apoio é considerado
insuficiente para a demanda do professor.
Constatamos, também, que na maioria dessas escolas com proposta inclusiva,
aparentemente, não são feitas quaisquer adaptações curriculares para atender às necessidades
especiais dos alunos, mesmo nos casos em que estas são recomendadas. Quando adaptações
curriculares são feitas, de modo geral, ficam a cargo dos próprios professores que, sem
capacitação adequada ou supervisão, buscam entre os próprios colegas formas criativas,
porém, nem sempre eficazes, de promover a aprendizagem desses alunos especiais.
De fato, os professores apontaram como a maior dificuldade que sentem em
implementar a proposta de educação inclusiva, sua falta de preparo, tanto a nível de formação
básica quanto continuada, para atender em salas de aula superlotadas e sem adaptações
estruturais, de mobiliário e de recursos pedagógicos, alunos com problemas de aceitação social
e processos e capacidades de aprendizagem diversificados e, freqüentemente, divergentes do
resto da turma.
Os resultados deste estudo são significativos por apresentarem a visão dos professores,
os principais atores – junto com os próprios alunos – no cenário cotidiano escolar. E apontam
para a prioridade de se prover as escolas com recursos humanos e materiais adequados para
que a inclusão seja efetivada com real aproveitamento acadêmico e social para os alunos.
24
A partir dessas informações, foram selecionados os estudo de casos que foram, posteriormente,
apresentados na Oficina. Também foi enviado um questionário às ONGs, profissionais, família e comunidade,
cujos depoimentos não foram incorporados a esse texto que visa caracterizar ações desenvolvidas nas instituições
escolares nos sistemas de ensino.
25
Vale observar que tradicionalmente as APAEs atendem alunos portadores de deficiência mental;
neste caso, não foi especificado se havia, além do comprometimento lingüístico resultante da deficiência auditiva,
algum tipo de déficit intelectual.
26
Neste caso, também, não está claro se os alunos com deficiência auditiva eram atendidos na APAE.
27
Não há informação sobre o nível da turma em que essa aluna foi inserida.
institucionais, como propostas curriculares rígidas e extensas, que não permitiam levar em
consideração as necessidades específicas do aluno e dificultavam a formação continuada.
Na perspectiva de priorizar a qualidade nos resultados pedagógicos, o Departamento
de Educação Especial da Secretaria de Educação (DEES/SEDUC), no ano de 2002, priorizou
a formação e atualização dos profissionais da Capital e dos municípios próximos envolvidos
no trabalho pedagógico junto ao aluno com necessidades educacionais especiais.
Com o propósito de propiciar “subsídios teóricos, técnicos, metodológicos e filosóficos, na intenção
de eliminar barreiras atitudinais e pedagógicas, para a garantia de um atendimento educacional acolhedor e de
maior qualidade para todos os alunos”, foi desenvolvido, no período de Março a Dezembro, o
projeto “CONHECER PARA ACOLHER – Capacitação de Educadores para Atendimento
de Alunos com Necessidades Educacionais Especiais no Contexto da Escola Regular”. O
mesmo “aplicava a Metodologia de Educação à Distância, com aplicação dos recursos, estratégias de ensino e
metodologias estudadas em suas ações cotidianas no contexto escolar e utilizando-se materiais instrucionais
sobre as especificidades das deficiências e sobre os princípios que orientam a proposta da escola inclusiva”.
Participaram do projeto 700 professores, técnicos e diretores de escolas de Ensino
Fundamental que atuam junto ao aluno com necessidades educacionais especiais no contexto
da escola regular.
Conforme relato apresentado, os resultados positivos apontados em reuniões de
avaliação realizadas com grupos distintos de professores, técnicos e diretores de participantes
e não participantes do curso, indicam:
A sensibilização dos participantes, inclusive dos profissionais considerados
resistentes à inclusão
Interesse de outros profissionais, que não participaram, pelo processo de inclusão
Aumento no índice de aprovação dos alunos com necessidades educacionais
especiais
Significativo aumento de interação entre os atores das escolas, mobilizando novas
ações com reflexos positivos na dinâmica escolar
A necessidade de efetivar a continuidade do projeto, tanto para os profissionais que
dele participaram, como para os que ainda não foram capacitados.
Nesse sentido, considerando os resultados alcançados, o DEES intenciona a
continuidade do Projeto “Conhecer para Acolher” em módulos distintos, de iniciação para
profissionais que não participaram e de aprofundamento, para os iniciados a fim de garantir a
manutenção e ampliação da qualidade que vem sendo obtida na Educação.
No que tange aos municípios, Belo Horizonte, Minas Gerais, destacou a experiência de
uma escola estadual que, desde 1999 atende alunos surdos e a cegos a partir de 2001. Essa
escola possui um projeto de artes cênicas, do qual os alunos surdos participam; há, também, o
projeto de educação afetivo-sexual e, em parceria com o Curso de Psicologia da PUC/MG. E
escola também está iniciando o trabalho de Orientação Vocacional e foram criadas oficinas de
expressão artística, que funcionam durante o projeto de artes cênicas. Entre outros
considerado bem sucedido está o projeto “Educação Inclusiva Linguagem e Comunicação” com o
objetivo de desenvolver habilidades de linguagem, comunicação e expressão de todos os
alunos, “possibilitando uma leitura de mundo com vistas a uma maior participação e inclusão social”. O
importante nesse caso é que os projetos não se destinam apenas aos alunos com necessidades
especiais; ao contrário, “esta escola se destaca por seu investimento na capacitação profissional e na
elaboração de projetos que atendem às necessidades de todos os alunos da escola”.
Ensino Fundamental a LIBRAS como disciplina para todos os alunos, proposta que
possibilitou um ambiente escolar bilíngüe.
No Município de Salvador, na Bahia, uma escola municipal firmou convênio, através
da Secretaria Municipal de Educação, com a Associação Brasileira de Síndrome de Down
(SERDOWN), abrangendo 12 unidades escolares. Este convênio possibilitou uma experiência
de inclusão de crianças com Síndrome de Down nesta unidade escolar, “assegurando a partir de
um acompanhamento sistemático o acesso, permanência e sucesso do processo ensino aprendizagem”. É
importante ressaltar que todos os professores da escola, da Educação Infantil à 8ª série,
participaram de uma capacitação, com dois cursos Formação em Alfabetização e Inclusão e Vivendo
a Igualdade com Direito à Diferença: Teoria e Prática. Essa instituição também trabalhou com a
inclusão de crianças com câncer.
Além dessa escola, a rede pública municipal de ensino de Salvador desenvolve outras
experiências de educação inclusiva com alunos portadores de diversas deficiências, bem como
alunos em situação de risco que são atendidos pelo Projeto AXÉ.
Em Teresina, no Piauí, a Secretaria Municipal de Educação e Cultura possui o “Projeto
de Apoio Pedagógico Específico – APE”. Esse projeto foi implantado em 1994, “dentro da modalidade
de Educação Especial, com o objetivo de acompanhar e estimular o desenvolvimento social e psicopedagógico
destes, na rede regular de ensino, salas comuns”. As escolas da rede municipal de ensino fundamental
realizam diagnóstico prévio onde são analisados, dentre outros aspectos, aqueles que a criança
ou adolescente evidencia maior comprometimento: modo de interação da criança no grupo e
com objetos do meio físico; desenvolvimento afetivo, social, psicomotor; estruturação
cognitiva nas diversas áreas do conhecimento.
Assim, mediante informações coletadas pela escola é realizada avaliação diagnóstica
por equipe multidisciplinar (psicopedagogo, psicólogo, pedagogo, assistente social,
fonoaudiólogo, neurologista e psiquiatra) e os alunos que apresentam necessidades especiais
são encaminhados para as turmas de apoio pedagógico específico. As turmas são “organizadas
em grupos de, no máximo, seis alunos, numa freqüência de 2 a 3 vezes por semana, perfazendo uma carga
horária de 4 a 6 horas semanais, conforme avaliação da equipe pedagógica responsável, e funcionam em turnos
contrário ao ensino regular, sem que haja prejuízo das atividades curriculares”.
De acordo com as necessidades específicas dos educandos são realizadas pela escola
atividades voltadas para as “artes, desenho, dramatização, teatro, ritmo, conceitos relativos a lateralidade –
espaço, discriminação auditiva e visual entre outras, bem como, ações de articulação e integração com a família
no que se refere ao acompanhamento dos pais nas atividades escolares e orientações específicas de como lidar com
as crianças e/ou adolescentes incluídos no projeto”.
A capacitação dos professores ocorre “de forma sistemática e contínua para intervir com
estratégias metodológicas, respeitando as diferenças culturais, sociais e individuais das crianças e adolescentes
com necessidades educativas especiais, promovendo o desenvolvimento nos aspectos: cognitivo, emocional,
lingüístico e psicomotor”.
Durante o ano de 2002 foram acompanhados 2023 alunos, distribuídos em 81 turmas.
Destes, 73,4% foram promovidos para a série seguinte. Segundo o relato, “o Projeto Apoio
Pedagógico Específico, representa um passo importante para o resgate de direitos de crianças e adolescentes
portadores de necessidades especiais visto que a Educação Inclusiva é condição essencial para o desenvolvimento
de uma sociedade democrática e igualitária”.
Finalmente, completando este quadro, o Estado do Rio Grande do Sul relata ter uma
extensa experiência de assessoria para professores que atuam com alunos autistas e psicóticos.
O trabalho é realizado a partir de estudo de caso, estudo teórico, discussão de intervenção pedagógica.
28
Como informação complementar destacamos que uma das experiências relatadas pelo Estado do
Amapá, foge das categorias acima arroladas, pois aponta o trabalho da APAE que “desenvolve a inclusão de
forma inversa das escolas da Rede Regular (incluindo o aluno normal na instituição)”. Não foram indicados
outros dados que poderiam permitir compreender a contribuição de tal processo para a inclusão. Sem maiores
informações parece ser necessário cautela para anunciar a “inclusão inversa” como experiência bem sucedida ou
inovadora. Também não incluímos na discussão o Estado de Pernambuco que não respondeu a esse item do
questionário; o Estado do Rio Grande do Norte que apenas indicou como resposta: “os 12 anos de inclusão no
Rio Grande do Norte – uma avaliação crítica da Suesp e das instituições conveniadas”; e o Estado do Piauí que
assinalou que: “a Secretaria tem uma experiência na Unidade Escolar Paulo Ferraz que preferimos não enquadrar
como bem sucedida, embora a consideremos válida”.
29
Por ser referência em Educação Especial, a Prefeitura fornece o transporte escolar para os alunos que
vivem na zona rural do município que necessitam de atendimento especializado.
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Todas as professoras do Ensino Especial têm graduação e / ou pós-graduação na área.
É digno de nota que, conforme informação colhida para elaboração deste estudo junto
à Direção da escola, todos os alunos incluídos conseguiram, “dentro de suas possibilidades”, com
as devidas adaptações curriculares e de avaliação, e o trabalho de apoio das professoras da sala
de recursos, permanecer e progredir para as séries posteriores.
1.1.5. Conclusões
Este estudo baseou-se em indicadores referentes à situação da Educação Inclusiva no
Brasil, tendo sido consideradas as seguintes fontes de dados: a) documentos oficiais
vinculados à esfera da União Federal Brasileira (legislação, propostas de políticas, censos); b)
documentos vinculados às esferas estaduais e municipais; c) relatos de representantes de
Secretarias Estaduais e Municipais de Educação sobre ações e projetos de Educação Inclusiva;
d) relatos e opiniões de docentes, especialistas de Educação Especial, profissionais das áreas
conexas, familiares e outros interessados na questão da inclusão escolar.
Foram utilizados os seguintes recursos específicos para reunião de indicadores: (i)
extratos tabulares dos relatórios colhidos junto às Secretarias Estaduais e Municipais de
Educação através de questionário de sondagem para realização da Oficina ocorrida na Cidade
do Rio de Janeiro; (ii) extratos tabulares de pesquisa realizada junto a professores do Ensino
Fundamental, através de um questionário específico e um estudo de caso referente à
experiência de uma unidade escolar; (iii) relatórios descritivos das contribuições obtidas em
Seminário e lista de discussão eletrônica referente a temas centrais da Educação Inclusiva.
Ainda que não exaustivos, os dados referenciadores da pesquisa mostraram-se
expressivos e relevantes para a formulação de um perfil consistente sobre o estado geral da
Educação Inclusiva no Brasil, no que concerne aos seguintes pontos:
12.Suporte instituinte da cultura e da prática de Educação Inclusiva, por meio de
políticas públicas;
13.Condições e demandas, formais e materiais para implementação das políticas
públicas de Educação Inclusiva.
Os dois pontos foram abordados em cada uma das seções do estudo realizado, mesmo
quando preferencialmente destinadas à discussão de um deles em particular. O elenco de
tópicos que se apresentam a seguir sintetiza as principais conclusões a que se deve deter
atenção a curto e médio prazos.
TONINI, Andréa. Uma análise do processo de inclusão: a realidade de uma escola estadual de
Santa Maria/RS. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, 2001.