TCC Samira Sarife PDF
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Pesquisa concretizada nos povoados de Mapudje, Unango sede, Malulo e Miala, Distrito de
Sanga de Outubro de 2018 a Dezembro de 2018.
Eu Samira Gani Hagi Sarife, declaro por minha honra que este trabalho nunca foi apresentado
em nenhuma outra instituição académica, para obtenção de qualquer grau académico. Este
relatório constitui o fruto de trabalho de campo e de pesquisa bibliográfica, estando as fontes
utilizadas registadas no texto e nas referências bibliográficas.
Assinatura do Autor
____________________________________________
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Avaliação do nível de Envolvimento da comunidade de Unango na tomada de decisões sobre a
Gestão dos recursos Florestais no distrito de Sanga
EPIGRAFE
DEDICATÓRIA
Dedico
Ofereço
AGRADECIMENTOS
A Deus, autor da vida, por ter-me dado condições de lutar e alcançar os objectivos pretendidos.
A toda minha família, em especial meus pais Abdul Gani Hagi Sarife e Olga Mussa Madeira
Mendes, pelo apoio, incentivo constante e seu amor incondicional, pelo empenho na minha
formação por sempre ter feito tudo o que podia e não podia pela felicidade dos filhos e netos,
muitas vezes sacrificando suas próprias vontades.
Ao Eng.º Adérito Jeremias Vicente da Silva, por dividirmos bons momentos juntos, tornando
meu quotidiano mais prazeroso de ser vivido e pela paciência, força, apoio moral, material de
consulta bibliográfica e colecta de dados para a realização do presente estudo.
Ao meu supervisor Engenheiro Remígio Rangel Nhamussua (Msc), pela orientação, apoio,
ensinamentos, e por transpassar sabedoria, contribuindo expressivamente na elaboração do
presente trabalho, pela paciência, força e ânimo dado para que não me cansasse, e que fez com
que este trabalho fosse uma maravilha.
Aos meus colegas da FCA: Almeida, Aurora, Samuel, Anchura, Bernardino, Elvira, Elca, Tiago,
Solange, Banete, Pedro, Aicir, Abílio, Nicolau, Eufrásia, Atija, Valoque, Shelsia, Valério, Aiuba,
Atanásio, Milo, Mino, Paulino, Chico ‘’em memoria’’ pelo companheirismo durante a formação.
Aos meus amigos Adérito, Madzafe, Anchura, Eufrásia, Atija, Shelsia, Júnior, Julay, e Dalmildo
Máquina pelos ombros nos momentos tristes, pelas críticas feitas relativas ao trabalho, apoio e
que fizeram de tudo para que o trabalho se tornasse uma realidade. Vocês definitivamente fazem
a diferença.
A todos que passaram pela minha vida e contribuíram directa ou indirectamente para a minha
formação pessoal e profissional
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Avaliação do nível de Envolvimento da comunidade de Unango na tomada de decisões sobre a
Gestão dos recursos Florestais no distrito de Sanga
Lista de Tabelas
Tabela 1. Escala de participação do cidadão segundo Arnstein, 1969 ........................................ 22
Tabela 2. Número e categoria de indivíduos entrevistados ......................................................... 32
Tabela 3. Dados de frequências absolutas da pesquisa sobre a participação da comunidade na
gestão dos recursos naturais na comunidade de Unango. ............................................................. 36
Tabela 4. Dados de frequências absolutas a cerca do conhecimento da existência do regulamento
que preconiza os 20% de taxa de exploração................................................................................ 41
Tabela 5. Papel dos intervenientes na GRN na comunidade de Unango ..................................... 50
Lista de Figuras
Figura 1. Descrição da Área de estudo ........................................................................................ 27
Figura 2. Principais recursos naturais que ocorrem na comunidade de Unango.. ....................... 34
Figura 3. Dados de frequências relativas da pesquisa sobre a participação da comunidade na
gestão dos recursos naturais na comunidade de Unango.. ............................................................ 37
Figura 4. Papel da comunidade de Unango na gestão de recursos naturais................................. 39
Figura 5. Dados da pesquisa a cerca da divulgação da existência do regulamento que preconiza
os 20% da taxa de exploração florestal e faunística.. ................................................................... 42
Figura 6. Dados sobre a percepção da comunidade sobre a existência de comités de gestão
participativa dos recursos naturais na comunidade de Unango.. .................................................. 46
Figura 7. Dados da pesquisa sobre intervenientes no MCRN na comunidade de Unango.......... 47
Figura 8. Dados sobre representação das instituições relacionadas com o MCRN ..................... 49
Figura 9. Dados da pesquisa sobre a decisão do Acesso e Uso dos RN em Unango. ................. 50
Figura 10. Dados da pesquisa sobre os potenciais conflitos no processo de gestão dos recursos
Naturais na comunidade de Unango.. ........................................................................................... 51
Figura 11. Dados da Pesquisa sobre as Formas de Resolução de Conflitos na Comunidade de
Unango.. ........................................................................................................................................ 54
Lista de Apêndices
Apêndice 1. Guião de entrevista .................................................................................................. 64
Apêndice 2. Fotos tiradas no campo durante as entrevistas ......................................................... 70
Lista de Abreviaturas
RN Recursos Naturais
RESUMO
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
Moçambique é um país rico em recursos florestais, com uma superfície de 799 380 km2, 51% da
qual é coberta por florestas naturais e é um dos poucos países na região da África Austral que
ainda mantém uma proporção considerável da sua cobertura com florestas naturais, todavia,
apresenta uma elevada taxa de desmatamento pelas queimadas, agricultura itinerante, corte de
lenha e carvão, estimada em 219 mil hectares por ano (Marzoli, 2007).
O governo de Moçambique definiu como uma das suas principais metas a redução da pobreza
que se alastra mais de dois terços da população do país. O maneio comunitário dos recursos
naturais surge assim como uma abordagem que visa motivar a promoção do envolvimento dos
utentes na gestão dos recursos naturais com vista a colher benefícios e garantir o seu uso
sustentável (Matakala e Mushove, 2001).
A gestão dos recursos naturais pelas comunidades locais ou o Maneio Comunitário dos Recursos
Naturais (MCRN) é uma estratégia adoptada pelo governo para a implementação do objectivo
social da política e estratégia de florestas e fauna bravia para simultaneamente melhorar as
condições da vida da comunidade rural, assegurar a gestão participativa e sustentável dos
recursos naturais, com vista à redução da pobreza. O MCRN surgiu oficialmente em 1997, assim,
é definido como sendo o controlo e uso dos recursos junto dos povoados pelas comunidades
locais para o seu próprio benefício e sustentabilidade dos recursos a longo tempo (Matakala e
Mushove, 2001).
As teorias que governam o MCRN colocam enfâse no conceito de participação que é uma
situação que os intervenientes exercem o direito a palavra e o controle sobre os programas de
desenvolvimento, decisões e recursos que lhes afectam.
O MCRN é uma estratégia de devolução de poderes em que as comunidades locais devem
retornar a responsabilidade de gerir os recursos naturais de forma ambientalmente sustentável
assim como o direito de exercer controlo sobre o uso e distribuição dos benefícios provenientes
de tal maneio (Salomao,2001).
Desta forma, o trabalho pretende avaliar o nível de envolvimento da comunidade de Unango na
tomada de decisão sobre a gestão dos recursos florestais no distrito de Sanga.
1.1. Problematização
A legislação florestal Moçambicana prevê a criação de concelhos locais de gestão de recursos
naturais, comités de gestão comunitária (CGC) a nível dos distritos, postos administrativos e
localidades onde estes ocorrem, cujo objectivo fundamental é orientar a implementação da
mesma e garantir a gestão dos recursos naturais a nível das comunidades (Nhantumbo e
Macqueen,2003).
Todavia, sabe-se que a maioria dos Moçambicanos vive em áreas rurais e depende dos recursos
naturais para a sua subsistência diária, a ausência de uma entidade responsável pela tomada de
decisões sobre o uso e maneio dos recursos, leva ao surgimento de conflitos entre as
comunidades, comunidades e investidores e dentro da mesma comunidade onde estes recursos
ocorrem.
De acordo com o que foi exposto, nota-se que na área de estudo, não se percebe até que ponto a
comunidade participa no processo de tomada de decisões, ou seja, qual é o nível do seu
envolvimento na tomada de decisão sobre a gestão dos recursos naturais em Sanga, por parte de
organizações do sector privado e agentes governamentais que muitas vezes são guiados por
interesses económicos ou políticos. A ausência de uma entidade local responsável pela gestão
dos recursos, ocasionando disputa das entidades locais ao interferir na gestão e tomada de
decisão sobre os recursos florestais, sem visão comum, com prioridades e responsabilidades
diferentes, o que pode levar a conflitos e ou a um maneio comunitário de recursos naturais
deficiente.
.
1.2. Justificativa
A organização da comunidade em grupos de interesse para exploração de alternativas de geração
de rendimentos baseados nos recursos naturais tem se mostrando uma das novas tendências do
MCRN. Apesar de o capital inicial envolvido nestas iniciativas serem reduzidos ou baixos, a lei
n° 10/99 (LFFB) prevê a criação de comitês de gestão dos recursos naturais a nível da
comunidade, com o intuito de representar a comunidade e garantir a gestão dos recursos naturais
e assegurar a participação das comunidades na exploração dos recursos florestais e nos
benefícios gerados pela sua utilização, impulsionando o desenvolvimento socioecónomico das
comunidades abrangidas pelos mesmos.
Portanto a escolha do tema e da área de estudo fundamenta-se pelo facto de se querer apurar com
profundidade junto a comunidade de Unango sobre até que ponto estas participam no processo
de tomada de decisão e gestão dos recursos florestais e na existência de uma entidade
responsável na gestão dos mesmos. Podendo os resultados da pesquisa serem úteis na melhoria
do sistema de gestão dos recursos naturais e na decisão sobre os benefícios gerados e no grau de
legitimação e de reconhecimento das organizações previstas para a gestão dos recursos de forma
a levar a cabo o maneio efectivo dos recursos naturais e base de estudos de género em outras
comunidades com características similares.
1.3. Objectivos
1.3.1. Geral
Avaliar o nível de envolvimento da comunidade de Unango na tomada de decisões sobre a
gestão dos recursos florestais no distrito de Sanga.
1.3.2. Específicos
➢ Descrever o nível de envolvimento da comunidade de Unango na tomada de decisões
sobre a gestão dos recursos florestais;
➢ Identificar as organizações envolvidas e seu papel no processo de tomada de decisão
sobre a gestão dos recursos florestais;
➢ Analisar os potenciais conflitos e limitações na gestão dos recursos florestais.
De acordo com Matakala (1998), o MCRN relaciona-se com o conceito de maneio comunitário
de florestas que é o controlo, uso e gestão das florestas arredores pelas comunidades locais para
o seu benefício e garantindo a sustentabilidade do recurso ao longo do tempo. Tendo como base
a definição, Matakala enfatiza que o MCRN deve garantir quatro aspectos básicos, que são:
c) As iniciativas do maneio comunitário devem gerar benefícios a curto prazo para assegurar a
motivação da comunidade, o seu interesse e envolvimento nas actividades de maneio
comunitário a longo prazo;
Para uma melhor compreensão de maneio que é efectuado pelas comunidades, deve-se em
primeiro lugar saber o que é uma comunidade local. Existem muitas definições sobre o que é
uma comunidade local, mas para este trabalho usar-se-á a definição apresentada pela lei 19/97 (
lei de terras), segundo a qual comunidade local é um agrupamento de famílias e indivíduos que
vivem numa circunscrição de nível de localidade e/ou inferior, que visa salvaguardar interesses
comuns através da protecção de áreas habitacionais, áreas agrícolas, sejam cultivadas ou em
pousio, florestas, sítios de importância cultural, entre outras.
No artigo 33 delega o poder de gestão dos recursos quer florestais como faunísticos as
comunidades, ao sector privado e associações assim como a isenção de pagamento de taxas
para as comunidades locais pela utilização dos recursos florestais e faunísticos para o consumo
próprio (artigo 35 da lei de florestas e fauna bravia).
O regulamento de lei de florestas e fauna bravia (decreto 10/2002) no seu artigo 95 prevê a
criação de conselhos locais de gestão participativa dos recursos naturais (COGEP); no artigo
98 enfatiza a responsabilidade dos conselhos criados no artigo 95 dizendo que estes devem
representar os interesses dos seus membros; a delegação de poderes (artigo 99) e como a
alocação dos benefícios contabilizados em 20% da taxa de exploração florestal e faunística que
deve destinar-se as comunidades (artigo 102).
Permite de igual modo, a utilização dos recursos florestais e faunísticos que estejam dentro e ou
fora das áreas de conservação, quer parques e/ou reservas para o consumo próprio de acordo
com as restrições impostas pela lei e o plano de maneio sem causar danos ambientais;
No artigo 112 valoriza a actividade dos fiscais comunitários, dizendo que 50% do valor da
comparticipação das multas deve reverter aos ficais do estado e aos agentes comunitários;
A política e estratégia para o desenvolvimento de florestas e fauna bravia, lei de florestas e fauna
bravia, o regulamento da LFFB, a lei de terras, definem o quadro favorável a implementação do
maneio comunitário dos recursos naturais em Moçambique, conforme se pode notar, a legislação
reconhece o conhecimento local das práticas costumeiras das comunidades locais, incluindo a
descentralização do poder de decisão na gestão dos recursos e também a questão dos benéficos
provenientes deste maneio.
a) Maneio comunal
b) Maneio comunitário
c) Maneio estatal
d) Maneio privado
O maneio comunal é efectuado por grupos distintos que formam somente alguma parte da
comunidade. Neste tipo de maneio, apenas um grupo possui o direito de propriedade, pode ser m
grupo baseado em família, clã, grupos políticos, entre outros. A distribuição de benefícios esta
nas mãos de alguns membros das comunidades.
De acordo com Manjate (2004), no maneio comunitário a gestão dos recursos naturais é feita por
todos membros das comunidades ou a comunidade ao todo, incluindo grupo autorizados pela
comunidade. A comunidade regula o acesso na base de conselhos locais de gestão e os recursos
são exclusivamente da comunidade. Estes grupos localmente eleitos têm o direito de excluir
outros membros que não fazem parte, tomar decisões sobre o uso e conservação dos seus
recursos e controlar a conduta de seus membros face a gestão dos recursos.
Os recursos detidos pela comunidade são de propriedade comum, uma vez que os direitos de uso
pertencem a um grupo composto por indivíduos que podem regular o acesso e uso assim como
excluir outros usuários (Chilundo e Cau, 1999).
No maneio estatal, o estado regula o acesso, concede o direito de uso mas fica com a
propriedade. O usuário não pode vender e nem transferir os direitos e neste caso os recursos são
propriedade do estado.
No maneio privado, os direitos são do privado, o privado regula o acesso e uso dos recursos;
pode exigir direitos para o uso e exclusão dos outros. Neste caso, o titular pode vender ou
transferir os direitos de propriedade.
A falta de direitos de propriedades em sido advogada como sendo a razão da degradação dos
recursos. A cerca de três décadas passadas, Garrett Hardin tentou explicar o problema no
contexto de “tragédia dos comuns”. Hardin argumentou dizendo que as pessoas estão num
sistema que lhes encoraja a aumentar o máximo possível de exploração dos recursos escassos,
uma situação que leva a degradação dos recursos assim a degradação dos próprios usuários. Uma
vez que os recursos são abertos para todos, cada usuário tende a maximizar os seus proveitos
sem contar com a conservação dos recursos, necessidades e benefícios de todos. Uma solução
para este problema seria trazer o uso sob controlo governamental e/ou privatização, onde tanto o
governo como o sector privado ira estabelecer regras para o acesso e controlar o seu uso (Hardin,
1968).
De acordo com Chilundo e Cau (1999), citando (Berks, et al.,1989; Feeny, et al., 1990), Hardin
defendeu a divergência entre a racionalidade individual e colectiva no uso dos recursos naturais
sem considerar a capacidade de auto-regulação dos usuários. Este assumiu que as pessoas eram
incapazes de limitar o acesso e instituições que regulam o uso sem controlo governamental ou
privatização. Para muitos autores, Hardin confundiu um recurso de propriedade comum com um
recurso de livre acesso (uma situação em que não há direitos de propriedade).
Segundo Ostron (1999), num sistema de propriedade comum, todos os grupos excluem os não
membros e tem que regular o seu acesso e investir na conservação, onde uns dos objectivos da
exclusão é para evitar a sobre exploração dos recursos sem contribuir para o seu maneio e
conservação.
Para implementação do maneio comunitário dos recursos naturais, deve haver órgãos locais com
poder de decisão, Salomão (2002), citando estudos realizados, afirma que a base institucional do
maneio comunitário dos recursos naturais é composta por actores locais, e esta não pode ocorrer
sem que estes tenham poderes decisórios significativos. Para a sua implementação, os
intervenientes devem ter o poder e autoridade para criar novas leis e modificar as existentes,
poder de decisão sobre o aproveitamento a fazer sobre um determinado recurso e/ou
oportunidade, assim como responsabilidade para implementação das próprias leis.
Segundo Pateman (1970), Gould (1981) e Markovic (1993), citados por Matakala & Mushove
(2001), a opção pelo processo participativo e não pelo representativo é melhor pois assim pode-
se ter certeza que as opções de todos os indivíduos são consideradas e as decisões são tomadas
de acordo com os anseios de cada membro. Para o efeito, propõe uma participação democrática,
no qual as pessoas propõem, discutem, decidem, planificam e implementam decisões que
afectam as suas vidas (Benello e Roussopoulos, 1971, citados por Matakala e Mushove, 2001).
A participação comunitária deve ser vista de acordo com a sua natureza e a sua genuidade
dependera de quem recebe os poderes. Quando a natureza, Salomão (2002), afirma que a
participação é estabelecida, regulamentada e condicionada unilateralmente pelo estado, o qual na
maioria dos casos reserva a si o poder de recusar, modificar ou revoga-la. Para este autor, as
comunidades locais jogam um papel insignificante na determinação dos poderes de decisão e
controle que lhes cabem em relação aos recursos naturais. Como regra o seu papel restringe-se a
conservação, fiscalização e partilha de benefícios nos termos e condições predeterminados pelo
estado.
Para Matakala (1998), a participação no maneio comunitário dos recursos naturais (MCRN) deve
ser entendida como a distribuição do poder de tomada de decisões do nível central para o nível
local. Este, afirma também que o poder de tomada de decisão na gestão dos recursos naturais
(GRN) prove de duas fontes: a jurisdição de propriedade (direito de propriedade/posse) e
jurisdição legislativa (gerir os recursos para o seu próprio interesse). Em Moçambique o estado
possui tanto a jurisdição legal como a de propriedade sobre a terra.
implica que a autoridade de tomada de decisões esta descentralizada dos detentores do poder ao
nível central e que a planificação e o maneio dos recursos naturais se fazem de uma forma
participativa (Filimão, 2001).
Com este esquema os níveis mais baixos, “manipulação e terapia” representam a não
participação. Na manipulação os cidadãos são incutidos pelos “detentores do poder” a acreditar
que a sua opinião não conta e devem ouvir sempre o que vem do nível central. Na terapia, os
cidadãos são tratados como doentes e o problema, onde os detentores de poder resolvem o
problema com soluções terapêuticas como se doentes se tratassem. Estes são vistos como os que
não conseguem resolver os seus problemas.
No nível de consulta, os cidadãos são consultados pelos detentores do poder antes da tomada das
decisões. Esta não chega a ser uma participação genuína. No nível de pacificação os cidadãos são
realmente envolvidos na tomada de decisões só que pesar deste envolvimento, os cidadãos
continuam como assistentes passivos (Matakala, 1998).
Os níveis de “parceria, poder delegado e controlo do cidadão” representam os graus de poder real
da cidadania na tomada de decisões. No nível de parcerias, os cidadãos compartilham de igual
maneira as responsabilidades de tomada de decisões com os detentores de poder. No poder
delegado, os cidadãos são delegados poderes de tomada de decisões sob direcção de uma agência
governamental relevante e no último nível que é de controlo do cidadão, os poderes de tomada
de decisões, são completamente devolvidas as comunidades locais. Mas isto raramente acontece
uma vez que o governo sempre se encontra envolvido de qualquer modo.
De acordo com pereira (2002), a maioria das plantas medicinais pertence ao estrato arbustivo do
Miombo e foram identificadas 130 diferentes plantas com valor medicinal. Destas plantas, a raiz
é a parte da planta mais usada para fins medicinais, seguido das folhas e da combinação destas
duas partes das plantas.
2.1.6.4. Carvão
O carvão é um dos produtos mas consumidos. Segundo estimativas do Banco Mundial, cerca de
80% da energia consumida em Moçambique é derivada da floresta. A produção do carvão
constitui umas das principais actividades das comunidades de Malulo e Unango, contribuindo
para o aumento das rendas familiares e é a maior fonte da desflorestação. O carvão produzido é
vendido localmente e na cidade de Lichinga.
Em muitos países, comunidades rurais e famílias que vivem arredores das florestas são altamente
dependentes destas, e exploram madeira, lenha e produtos florestais não madeireiros como frutos
silvestres, bambu, fungos, ervas medicinais e fibras. Estas florestas têm se beneficiado do
maneio baseando em famílias onde estas têm um controlo directo sobre as decisões de maneio.
Este é um exemplo típico do continente Asiático, concretamente na china onde farmeiros podem
decidir sobre as espécies a plantar, a explorar, quando e onde vender sem esperar que os comités
façam essa decisão (Edmunds & Wollemberg, 2003).
2.1.7.2. Na África
Em África, o MCRN não constitui nenhuma novidade, embora muitas vezes este não seja
acompanhado por uma devolução de responsabilidades para o maneio e desenvolvimento dos
recursos naturais (Onibon, 2005).
Experiências de MCRN tais como os CAMPFIRE em Zimbabwe, Gestion des Terroirs em Mali
criaram processos participativos nos quais os actores locais tem exercido responsabilidades de
maneio dos recursos naturais (RN) e poderes de tomada de decisões. O projecto CAMPFIRE é
um dos primeiros projectos de gestão participativa dos recursos naturais em África, e este
funciona desde os anos 70.
Estes aspectos de maneio comunitário têm dado luz ao aspecto de decentralização. Eles indicam
que as instituições locais democráticas podem ser a base de tomada de decisões locais efetivas,
que a comunidade tem ou podem desenvolver habilidades e desejos para fazer e executar
efectivamente as decisões do maneio dos recursos naturais e que o maneio ao nível comunitário
pode ter efeitos ecologicamente e socialmente positivos (Ribot, 2002).
2.1.7.3. Moçambique
Em Moçambique o maneio teve início na década de 80 com a implementação de um projecto em
Bazaruto, que era relacionado com a gestão dos recursos marinhos. Apesar do início da década
de 80, este não era um maneio comunitário pois não envolvia a comunidade para a
implementação do projecto. O maneio comunitário teve o seu início após a assinatura de acordo
geral de paz em 1992, com a implementação de projectos que lidavam com o maneio dos
recursos faunísticos. Actualmente, em Moçambique estão em curso, mas de 60 experiências de
maneio comunitário, distribuídas por todo o país, onde exista o recurso (Matakala & Mushove,
2001).
A região de Malulo e Unango vem desde sempre sendo vítima de exploração florestal e
faunística descontrolada. No período da guerra, a exploração florestal era pouco intensa mais
com o fim desta, o acesso a floresta foi solicitado e a pressão sobre os recursos florestais tem
aumentado.
Devido a estas razões, a área de gestão comunitária em Malulo e Unango foi uma área piloto de
projecto GCP/MOZ/056/NET de apoio ao maneio comunitário e projecto de Gestão do Recursos
Florestais e Faunísticos (GERFA), com objectivo de envolver a comunidade no maneio dos
recursos naturais para a melhoria do nível de vida desta comunidade (Mussanhane, 2003).
A pesquisa foi realizada na comunidade de Unango, situada no distrito de Sanga, na parte Norte
da Província do Niassa a 60 Km da capital provincial – Lichinga. O distrito está limitado a Norte
com a República da Tanzânia, a Sul com o distrito de Lichinga, a Leste com os distritos de
Muembe e Mavago e a Oeste com o distrito de Lago. Com uma superfície de 12.545 km2 e a sua
população está estimada em 67 mil habitantes à data de 1/7/2012. Com uma densidade
populacional aproximada de 5,4hab/km2, prevê-se que o distrito em 2020 venha a atingir os 80
mil habitantes (MAE, 2014).
3.1.1. Clima
O distrito de Sanga é influenciado pela zona de Convergência Inter-tropical que origina duas
estações bem definidas. A estação quente e chuvosa que vai de Dezembro a Março, com Abril
como mês de transição e, a estação seca e fria de Maio a Outubro, com o mês de Novembro
como de transição (MAE, 2014).
A precipitação média anual oscila entre 1.000 a 1.200 mm no extremo norte, ao longo dos rios
Rovuma e Lucheringo, chegando a atingir os máximos de 2.000 mm nas zonas mais altas da
cordilheira (MAE, 2014).
Os valores médios das temperaturas durante a estação quente e húmida são de 20 e 23°C na zona
planáltica e na Cordilheira de Sanga. Estes valores aumentam para 23 a 26°C na faixa Norte, na
zona de planícies, ao longo do Rio Rovuma.
Sanga encontra-se na bacia hidrográfica do Rio Rovuma, onde dominam os Rios Messinge e
Lucheringo e os afluentes destes, nomeadamente, Mohola, Montse, Mutuke, Lualece de curso
permanente e outros mais pequenos e sazonais, constituindo uma rede hidrográfica densa e bem
distribuída de Sul a Norte do distrito. A Cordilheira de Sanga constitui uma das maiores fontes
dos afluentes do Rio Rovuma, a disposição do relevo faz com que os rios tenham elevado
potencial hidroeléctrico e, consequentemente de irrigação, principalmente na Zona Sul e Centro,
nos PA’s de Lucímbesse, Unango e Macaloge. Os cursos dos rios na parte Norte do distrito
apresentam uma maior sazonalidade devido aos solos franco-argilosos-arenosos e profundos e às
temperaturas relativamente mais elevadas que na parte Sul. (MAE, 2014).
3.1.2. Solos
Os solos do distrito de Sanga são predominantemente argilosos, vermelhos, profundos e bem
drenados, associados a climas húmidos e sub-húmidos, ocupando manchas consideráveis nas
regiões altas, muito chuvosas da Cordilheira de Sanga. Os solos desta área destacam-se pela
elevada fertilidade e grande potencial agrícola constituindo, assim, a Zona Agro-ecológica 10.
Os solos ferralíticos de textura média a fina, bem drenados e profundos em regiões com
condições de humidade favoráveis, associados a climas sub-húmidos estão em estreita ligação
com o relevo.
Estes solos são originários, essencialmente, de rochas cristalinas quartzíferas, sedimentos não
consolidados e rochas sedimentares não consolidadas. Apresentam-se com a cor avermelhada
nos topos, alaranjada nas encostas e parda a acinzentada nas depressões (como a faixa ao longo
do Rio Rovuma, constituída por solos franco-argilosos acinzentados). Estas condições edafo-
climáticas constituem, assim, a região correspondente à Zona Agro-Ecológica 7 (MAE, 2014).
3.1.3. Vegetação
Em Sanga predominam formações florestais de miombo decíduo seco, isso na zona Norte e
Nordeste e ao longo do Rio Rovuma; miombo decíduo que ocupa a maior parte do distrito e
miombo decíduo tardio das zonas planálticas e montanhosas do Sul do distrito, manchas de
vegetação arbustiva com predominância para Brachystegia utilis encontram-se nas zonas
planálticas do posto administrativo de Matchedje. Por seu turno, a parte Sul do distrito é
dominada por Brachystegia boehmii, Brachystegia. spiciformis (messassas) e a espécie Uapaca
kirkiana (massuco) nas zonas planálticas e montanhosas da cordilheira de Sanga (MAE, 2014).
3.2. Métodos
Para a concretização dos objectivos propostos no presente estudo e pelo tipo de informação
requerida, foi orientada uma pesquisa baseada em métodos qualitativos tanto quanto
quantitativos, sob ponto de vista dos objectivos foi exploratória e quantitativa quanto a
abordagem dos factos. De acordo com (Matakala, 2001, apud Chipanga, 2005), a combinação de
métodos é muito importante a medida em que as desvantagens de um determinado método
possam ser compensadas pelo uso de outro.
Moraes & Fadel (2008), afirmam que os dados qualitativos podem ser transformados em
quantitativos através do uso de critérios, categorias e escala de atitudes como parâmetros.
Podendo ainda identificar a intensidade que uma determinada atitude ou opinião possa
manifestar-se. Por seu turno Prodanov & Freitas (2013), explicam que a pesquisa exploratória
proporciona mais informações sobre um determinado assunto em abordagem e, é de ligeiro
planeamento possibilitando o estudo do tema sob diversos aspectos e que esta envolve
levantamento bibliográfico, entrevistas e análise de exemplos que motivem a compreensão.
3.2.2. Amostragem
A selecção dos entrevistados foi feita usando a amostragem não probabilística, do tipo snowball
sampling ou Bola de Neve, na qual indivíduos foram seleccionados de acordo com diversas
categorias e de forma não aleatória, existindo um procedimento de selecção dos elementos da
população seleccionando os elementos a que se teve acesso, admitindo que estes, de alguma
forma, representaram o universo, ou seja, onde os participantes iniciais de um estudo indicaram
novos participantes e assim sucessivamente, até que foi alcançado o objectivo proposto que foi
no momento em que os entrevistados começarão a repetir a mesma informação. Escolheu-se o
entrevistado que esteve disponível, no entanto na tabela 2 está descrita a proposta da entrevista a
vários intervenientes no processo do envolvimento da comunidade na gestão de recursos
Naturais, onde contem o número de indivíduos a serem entrevistados e a categoria,
respectivamente.
A escolha deste tipo de amostragem deve-se ao facto de ser apropriada para estudos
exploratórios que procuram aprofundar um certo assunto com as pessoas mais informadas.
Os métodos qualitativos e quantitativos foram levados como base para a compilação dos dados
com recurso a IBM SPSS Statistics na versão 22 de 2016 onde foram identificadas respostas
semelhantes e diferentes, em seguida agrupadas em tabelas de frequências e percentagens, que
foi efectuado com auxílio do pacote estatístico Microsoft Excel 2010 e os dados que não foi
possível representar de forma quantitativa ou numérica, foram apresentados na forma descritiva.
Frequência relativa (Fr): quociente entre a frequência absoluta e o número total da amostra
3.2.3.2.Triangulação metodológica
Usou-se uma combinação dos métodos qualitativos e quantitativos que permitiram a correcção
de deficiências de informação encarada através do confronto das informações obtidas através da
De acordo com Matakala (2011), apud Chipanga (2005) a triangulação constitui um mecanismo
de verificação de dados e aumenta a força e rigor da investigação usando métodos qualitativos.
De acordo com os resultados da Figura 2, pode-se verificar que dos 82 indivíduos entrevistados
28% deles apontam para terra, 34.1 % para lenha, 28% para carvão, 7.3% para bambu e 2.4%
para os animais de caça como sendo os principais recursos naturais que ocorrem em Unango,
destacando assim a lenha, Terra e o carvão que se mostraram com maior desempenho percentual
tornando-os os mais importantes e actualmente procurados por pessoas locais e ou pela
comunidade em estudo.
Porém, a preferência pela lenha e pelo carvão pode ser devido ao facto de constituírem uma das
principais fontes de energia e renda existente no seio da comunidade de Unango, tornando-os
indispensáveis a vida da comunidade, pois estes são usados para confeccionar os seus alimentos.
Não obstante são um recurso muito apreciado no mercado e mais demandados na capital
provincial Lichinga a um preço médio de 250 a 300 meticais o saco e ao longo da estrada nos
povoados de Mapuje, Unango sede, Miala e Malulo a um preço unitário que varia de 80 a 200
meticais dependendo da época (chuvosa/ seca), um recurso maioritariamente explorado pelos
homens com uma percentagem de 36.6% contra 31.7% de mulheres para lenha e 31.7% contra
24.4% para carvão, respectivamente.
Pela terra a preferência cinge-se por esta ser a base de suporte de toda a vida existente no
ecossistema terrestre e por ser um recurso bastante apreciado por parte de investidores nacionais
e estrangeiros. Para a comunidade em estudo a sua peculiar importância desdobra-se no cultivo
sustentável da terra para a pratica de agricultura para sua subsistência e negociação com o sector
privado para pratica de Silvicultura, notadamente se observada na figura acima evidencia a
mulher como sendo a maior exploradora deste recurso com 39% contra 17.1% de homens num
universo 28% totais, cultivando principalmente o milho, feijão manteiga, batata reno, Batata-
doce, etc. A soja e espécies florestais exóticas que são especialmente praticadas pelas empresas
florestais e fomentadoras de culturas de rendimento, como é o caso da Niassa Green resources.
Em Moçambique, a terra é propriedade do Estado, não pode ser vendida, alienada e nem
penhorada (Governo de Moçambique, 2004). Todavia, a legislação reconhece os direitos de uso
costumeiro das comunidades locais sobre a terra e outros recursos naturais. As comunidades
podem delimitar a terra comunitária e emitir-se um certificado que lhes confere os direitos de
posse como uma entidade colectiva; o que lhes permite negociar contractos, parcerias e os
termos de uso e aproveitamento da terra com investidores (Cuambe, 2004). Contudo, ainda não
está claro, como é que as comunidades locais poderão entrar e beneficiarem-se de tais parcerias
(Assulai, 2004).
Mussanhane (2003) num estudo sobre zoneamento participativo de uso da terra da área
comunitária de Mucombezi obteve resultados similares aos encontrados na presente pesquisa que
mostravam que a comunidade vive principalmente da pratica da agricultura, cultivando o milho,
mapira, feijão manteiga e nhemba, mandioca, batata-doce, etc., explicando que apesar da
agricultura ser a principal actividade praticada naquela comunidade, os recursos florestais são
também igualmente importantes para sua subsistência na medida em que providenciam para além
da madeira e o carvão, os frutos silvestres e plantas medicinais que são de extrema importância
para a comunidade.
Por seu turno Chipanga (2005) num estudo similar, em Nhamatanda encontrou resultados
diferentes aos do presente estudo, onde identificou que o recurso mais manejado na comunidade
de Mucombezi em Nhamatanda era o bambu, seguido de plantas medicinais e por fim a madeira
com as percentagens de respondentes de 23%, 21% e 18% respectivamente e as menores
percentagem foram para melíferas com 3%, 5% para material de construção, 8% para lenha, 11%
para frutos silvestres e carvão, que é comercializado na cidade da beira, mas enfrentando
problemas de falta de meios para o escoamento do produto ao mercado, resultando em lucros
demasiadamente insignificantes que chegaram a não compensar o esforço exercido durante o
processo de produção.
PGRN
Tipo de resposta: (fechada) Sim Não Total
Sexo Masculino 25 16 41
Feminino 29 12 41
Total 54 28 82
Fonte: Adaptado pela autora, 2019.
Com base nos dados da tabela é possível notar que 54 das 82 pessoas entrevistadas responderam
favoravelmente que participam na gestão de RN, dos quais 25 do sexo masculino e 29 feminino e
28 responderam que não participam, onde, 16 são do sexo masculino e 12 feminino, estes dados
podem ser percebidos na figura 3. onde são apresentados graficamente.
De acordo com a figura 3. 65% (54) dos respondentes afirma que participa na gestão dos
recursos naturais na comunidade de Unango e 31% (28) dos 82 entrevistados não participa,
evidenciando duas percentagens altas que mostram que as mulheres participam mais com 70.7%
e os homens menos com 39%.
Diante disto foi lançada uma outra questão que se desejava saber como ou de que forma esta
comunidade participava na gestão dos RN e os 65% responderam que eles participam na gestão
através dos comités de gestão dos recursos naturais (CGRN) criados na comunidade.
A participação massiva das mulheres deve estar associada aos dados da figura 2. referente aos
principais recursos naturais mais procurados em Unango.
recursos naturais no seio da sua comunidade movidos pela influencia por parte dos membros
mais influentes e ou membros do CGRN em responder favoravelmente sobre a sua participação
na gestão dos recursos . É difícil envolver toda a comunidade local, uma vez que elas não são
homogéneas, nem geograficamente e nem socioeconomicamente, compostas por género, idade,
religião, riqueza, grupo e classe social, cultura, interesse pessoal ou colectivo sobre o uso dos
recursos naturais, mas isso não pode ser justificação para o não envolvimento delas na
planificação, gestão e nos processos de tomada de decisão.
Segundo Chipanga (2005) nos resultados de sua pesquisa afirma que a participação da
comunidade por ele estudada no maneio dos recursos naturais limitava-se apenas a informação
sobre encontros a terem lugar na área ou algo que viesse a acontecer e igualmente consultados na
preparação de planos de maneio (PMRN) de recursos naturais, mas estas não chegam a participar
dos mesmos e nem se quer eram explicados sobre o propósito do plano de maneio a que se
desejava preparar.
Todavia, num estudo sobre o envolvimento comunitário na gestão dos recursos florestais em
Changalane, Macuácue (2017) lançou uma questão idêntica ao estudo com o objectivo
compreender o nível participativo das comunidades nas actividades de gestão dos recursos
florestais e obteve resultados que demostravam que 2% da comunidade havia respondido
positivamente e 92% negativamente, ou seja, apenas um entrevistado afirmou que participa e
contribui na gestão das florestas.
Com base nos dados apresentados na figura 4. que representam as respostas dadas pelos
entrevistados quando se desejou saber qual era o seu papel na gestão de recursos naturais, onde é
possível verificar que 11% aponta para sensibilização e fiscalização respectivamente, 2.4%
aponta para facilitação 41.5 para protecção e 34.1 detêm o uso costumeiro dos recursos naturais.
Não obstante, identificou-se vários papéis no processo de gestão dos recursos naturais na
comunidade de Unango, mas verificou-se duas percentagens elevadas evidenciando a proteção e
uso costumeiro, ou seja, acesso livre aos recursos naturais como sendo papéis mais ocupados
pela comunidade na gestão dos recursos naturais.
Chipanga (2005) no seu estudo, encontrou resultados que mostram que 100% dos seus
entrevistados afirmam que a autoridade tradicional tem como principal papel sensibilizar as
populações locais a pautarem por medidas regradas no uso dos recursos naturais de modo a
garantirem a sustentabilidade dos mesmos e que possam ser usados pelas futuras gerações e um
dos exemplos foi a sensibilização da população contra as queimadas descontroladas e ainda
apontaram que a autoridade tradicional era responsável pela fiscalização dos recursos,
distribuição de terras, resolução de conflitos e servem como elo de ligação com as autoridades
formais de modo a conhecer o ponto de situação da zona.
Conforme Domingos (2015), num estudo sobre o papel das comunidades na co-gestão de
recursos florestais em Chibabava, afirma que o papel da comunidade na gestão comunitária de
recursos florestais reflecte a existência de actores colectivos e singulares na interacção não
somente harmoniosa e os princípios e normas básicas sobre a protecção, conservação e utilização
sustentável dos recursos florestais e faunísticos. Assim, o papel das comunidades é dado pela
capacidade dos CGRN em influenciar os processos de gestão de recursos naturais e alocação de
recursos daí provenientes usando os seus diferentes capitais.
ER 20%
Não Sim Total
Sexo Masculino 2 39 41
Feminino 0 41 41
Total 2 80 82
Fonte: Adaptado pela autora (2019).
De acordo com os dados da tabela 4, é possível observar que 2.4% (2) das 82 pessoas
entrevistadas não possuem conhecimento ou domínio do Regulamento da Lei nº 10/99 de 7 de
Julho – Lei de Florestas e Fauna Bravia sobre os 20% da taxa de exploração, ao passo que 97,6%
correspondente a 80 pessoas conhecem ou pelo menos já ouviram falar, mediante a esta questão
foi colocada uma outra aos 97,6% de como ou com quem ouviram falar e as resposta a esta
questão podem ser encontradas na figura 5.
De acordo com a figura acima, 18.3% aponta para o governo, 22% para Green resources, 32.9%
para ORAM e 24.4% para ROADS como principais actores da divulgação da lei de florestas e
fauna bravia e seu regulamento no que concerne a taxa de exploração de recursos florestais e
faunísticos, preconizando a sua devolução a comunidade de Unango, evidenciando ORAM,
seguida pela ROADS como principais actores.
Porem, os 97.6% de entrevistados reclamam que a comunidade desconhece quanto valor foi
canalizado ao estado e por sua vez quando o estado faz a devolução as comunidades elas não
sabem a quantos mil meticais os 20% representam. Mediante isso quis- se saber com a ORAM
como sendo maior facilitador no processo de GRN naquela comunidade eles responderam que
nem eles sabem como é que o valor é deduzido e nem quais são os critérios de dedução usados e
a comunidade não sabe que os 20% de taxa anual de exploração que o operador canaliza ao
estado pode vir a variar de uma comunidade para outra e ou povoado para povoado o que causa
Na comunidade de Unango, o mecanismo que esta sendo usado para a canalização dos 20% da
taxa anual de exploração de REFF é a criação de CGRN que são representadas por pessoas
indicadas pela comunidade que sejam responsáveis na gestão, fiscalização, e abertura de contas
onde antes do levantamento do fundo, a comunidade faz uma reunião de planificação de
projectos para decidirem em que será usado o valor.
A planificação dos projectos é realizada fundamentalmente pelos membros dos CGRN e líderes
comunitários, sendo fraco o envolvimento de outros membros das comunidades locais
beneficiárias. As mulheres são o grupo social que menos participam no processo de planificação
devido a sua fraca presença nos CGRN e nos cargos de decisão.
O valor é entregue ao líder comunitário e por sua vez ele escolhe as pessoas que se
responsabilizam na gestão dos fundos. A maior parte do fundo recebido é utilizado para a
construção de infra-estruturas sociais tais como escolas, postos de saúde e mercados e caso não
haja consenso no uso do valor, na maior parte das vezes o líder comunitário junto dos membros
dos CGRN, que coincidentemente são seus familiares e alguns membros locais do governo
dividem o valor sem que o resto da comunidade perceba. Tornando o método ineficiente e indo
contra todos os princípios preconizados no regulamento.
No entanto a conta é aberta por três assinantes e quando é depositado o dinheiro na conta o
SDAE tem de ir a comunidade informar que o valor existe e por sua vez para a comunidade ter
acesso ao dinheiro deve-se deslocar a administração distrital pedir uma credencial que só lhe é
passada após apresentação de um plano por parte da comunidade que explica o que pretendem
fazer, dai reúnem-se com a administração para verem se o valor das receitas existente é
suficiente para o que a comunidade pretende.
deficiente, onde a informação sobre os 20% está focalizada para os líderes comunitários e
membros dos CGRN, tendo consequências negativas na planificação dos projectos comunitários
e respectiva gestão de fundos. Por outro lado, a falta de monitoria na implementação do processo
de canalização dos 20%, cria na maior parte das vezes desconfiança nas comunidades locais em
relação aos gestores de fundos e até origina conflitos entre os intervenientes.
António (2016) no seu estudo obteve resultados que mostram que os benefícios da gestão dos
recursos naturais, são canalizados nas contas bancárias de cada comunidade uma vez por ano.
Apesar das contas estarem abertas em nome de singulares e não em nome dos Comités como esta
prevista no regulamento 93/2005. Porém, isso poderá trazer conflitos na utilização destes valores
no seio das comunidades, dado que o processo actualmente usado não apresenta maior
transparência na gestão dos fundos.
Ribeiro et al (2009) apud António (2016) o objectivo dos fundos provenientes dos 20% não é
somente de ter um microprojecto para a comunidade, mas para além disto usar esses fundos
como mecanismo de empoderamento e criação de mais iniciativas para a comunidade ter uma
gestão sustentável dos recursos naturais de forma mais participativa
De acordo com Sitoe & Lisboa (2017) num estudo sobre avaliação dos impactos dos
investimentos nas plantações florestais da Portucel Moçambique nas tecnologias agrícolas das
populações locais nos distritos de Ile e Namarrói, província da Zambézia afirma que a Lei e o
Regulamento de Terras estabelecem a necessidade de se realizar consulta comunitária e indica o
formato (participantes do processo, as fases do diagnóstico participativo, mas não indica os
aspectos que devem ser negociados.
É neste contexto que as comunidades tomam a liberdade de “pedir em troca” da sua terra itens
tais como poços de água, escolas/salas de aulas, postos de saúde, material de construção para o
líder comunitário, insumos e ferramentas agrícolas, entre outros. Assim, a negociação vai
depender da habilidade e conhecimento da comunidade, bem como da capacidade do investidor.
No caso de investidores como os das plantações florestais, ofertas de emprego, instalação de
infra-estruturas (estradas e pontes) e outras facilidades são prometidas às comunidades.
4.2. Organizações envolvidas no processo de tomada de decisão sobre a gestão dos recursos
naturais.
De acordo com os resultados dispostos na figua acima ilustram que 96.3% de entrevistados para
a existencia de comintes locais de gestao de recursos naturais, 1.2% afirma que não existe
comites e 2.4% de entrevistados não sabe da existencia dos comites locais de gestao de recursos
naturais.
De acordo com a resposta dada pelos entrevistados foi de seguida lançada uma outra questão aos
95.3% que responderam favoravelmente sobre a existência dos CLGRN com o intuito de
perceber qual é a composição desses comités. No entanto a resposta foi de que os comités são
compostos por 12 (doze) pessoas sendo 6 (seis) do sexo masculino e 6 (seis) do sexo feminino,
com os cargos de Presidente, secretario, vogas e tesoureiro.
Não obstante, constatou-se no povoado de Mapuje a existência comité composto por 7 (Sete)
homens e 2 e (duas) mulheres, cujo este não se encontra em funcionamento devido a
desestruturação do mesmo e aguardam a eleição de novos membros a mais de 6 meses para que o
comité se revitalize. Em Miala 9 (nove) homens e 3 e (três) mulheres e Malulo 6 e (seis) homens
e 6 e (seis) mulheres.
Pese embora em todos os comités formados existam mulheres, mesmo que em menor número,
nenhuma delas ocupa cargo de liderança capaz de influência na tomada de decisão no que diz
respeito aos diversos assuntos tratados pelo comité em prol do desenvolvimento sustentável da
comunidade, fazendo com que elas se sintam marginalizadas. Porém importa citar que em todos
os comités não existe estrutura administrativa local.
Macome (2004) apud Chipanga (2005) afirma que o comité de gestão de recursos naturais é um
órgão unicamente formado por membros da comunidade e trabalha em parceria com agentes
comunitários para a implementação da sustentabilidade dos recursos naturais para as futuras
gerações. Chipanga, sustenta que de acordo com a DNFFB, o comité deve ser eleito por
membros da comunidade como no presente estudo e por mais um membro a representar a
estrutura administrativa local que pode ser o chefe ou régulo da aldeia.
4.2.2. Instituições relacionadas com o Maneio comunitário dos Recursos naturais (MCRN)
A figura 7 ilustra os dados da pesquisa inerente a intervenientes relacionados com o maneio
comunitário de recursos naturais na comunidade de Unango.
Com base nos resultados apresentados na figura 7 é possível observar que 45.1% das 82 pessoas
entrevistadas apontam para o comité de gestão de recursos naturais, 4.9% aponta para o governo
distrital, 19.5% aponta para as autoridades tradicionais 11% para ROADS, 12.2% para ORAM e
7.3% para Chikweti forest of Niassa (Green resources).
Segundo Massuque (2013), num estudo sobre a Análise do Processo de Gestão dos Recursos
Naturais duma área protegida contendo populações humanas na Reserva Nacional do Niassa,
identificou o Ministério do Turismo através da Administração da Reserva Nacional do Niassa
como principal interveniente na gestão, seguindo-se com o Governo Distrital e por final as
autoridades tradicionais em parceria com o comité de gestão.
Por outro lado, António (2016) avaliando o sistema de gestão dos recursos naturais e a
participação das comunidades locais no processo de tomada de decisão nos postos
administrativos de Macaloge e Matchedje no distrito de Sanga encontrou resultados próximos ao
estudo que mostravam o Comité de gestão, a Lipilichi Wilderness Investment e a Direcção
Nacional das Áreas de Conservação como principais intervenientes que participavam com maior
intensidade na gestão dos recursos naturais.
Lançou-se uma terceira questão que foi: A quem representam as instituições relacionadas com o
maneio comunitário de recursos naturais, onde a resposta esta apresentada na figura 8.
De acordo com os dados descritos na figura acima, 72% das 82 pessoas entrevistadas apontam
para a comunidade, 13.4% para governo distrital, 6.1% ONG e 8.5% não sabe. Os resultados
evidenciam que as instituições intervenientes no MCRN, representam a comunidade de Unango.
Mediante aos resultados encontrados na figura 4.2.3. questionou-se aos 72% que responderam
favoravelmente se realmente as instituições representavam o interesse da comunidade e se sim
quais são os interesses? Os 72% dos entrevistados afirmam que as instituições representam os
seus interesses que são na equidade no acesso aos recursos e na distribuição dos benefícios
provenientes do maneio a qualquer nível (governo local, sector privado e organizações da
sociedade civil). A sociedade civil facilita no processo de comunicação, pese embora a
comunidade dificulte no retorno da informação.
De acordo com os dados da figura acima referenciada, pode-se notar que 61% dos 82
entrevistados aponta para a comunidade, 24.4% para o Governo distrital, 4.9% para o sector
privado e 9.8% para a Sociedade civil, apurando a comunidade e o Governo como decisores
sobre o acesso e uso dos recursos naturais na área de estudo.
Figura 10. Dados da pesquisa sobre os potenciais conflitos no processo de gestão dos recursos
Naturais na comunidade de Unango.
De acordo com os dados da figura 10, pode verificar-se que a terra mostrou maior percentagem
como sendo o principal conflito registado na comunidade em estudo com 32.9% de respondentes
A preferência da terra como maior conflito existente deve-se ao facto de a terra ser um recurso
importantíssimo pelo qual assegura a prática da agricultura para a subsistência familiar. Porem, o
conflito origina-se pela disputa do recurso entre membros da comunidade sobre quem seja o
proprietário, coadjuvado com o nomadismo de parte de membros da comunidade, abandonando
seus campos e ou deixando-os em poisio pela perda da capacidade produtiva fazendo com que
estes emigrem para outras zonas a procura de terras férteis. Mas, no entanto, depois de alguns
anos voltam e encontram suas antigas áreas ocupadas por outros membros da comunidade e o
abandono é feito sem nenhum acto legal de legitimação do direito de posse, uso e
aproveitamento da terra (DUAT) e por se tratar de membros da mesma comunidade torna assim
o processo de resolução difícil.
Os resulados da presente pesquisa são semelhanes com os de Manjate (2013), num estudo sobre
a categorização de conflitos na utilização de recursos naturais na reserva nacional do Niassa, que
mostravam a disputa pela terra como sendo um dos principais conflitos na sua área de estudo
com 45% de respondentes, onde afirma que o conflito de terra envolvendo camponeses é
causado pela disputa de terra para a prática da agricultura que ocorre na definição sobre quem
eram os ocupantes da terra no passado remoto, onde algumas pessoas dizem que tem a posse da
terra desde o tempo dos seus antepassados e o não reconhecimento de limites dos campos
agrícolas de uma época de cultivo para outra e o sistema de posse de terra na sua área de estudo
era por ocupação onde cada membro da comunidade procurava espaço para a prática das suas
actividades agrárias.
Por um lado, o conflito de terras é também verificado pela disputa entre o sector privado e a
comunidade, onde, os entrevistados afirmam que as empresas florestas junto com o Governo
distrital usurparam suas terras para prática de silvicultura sem prévia consulta e auscultação da
comunidade antes da implantação do projecto. Por outro lado, as empresas florestais que operam
nesta área de estudo aliciaram a comunidade com valores monetários e promessas de emprego
para cederem suas áreas a favor das empresas e no entanto ocasionando conflitos pela
insatisfação da comunidade, fazendo com que estas causem incêndios nas plantações e ou
arranquem as plantas jovens no campo das empresas. Este acto também faz com que os membros
da comunidade se mudem para outras áreas longicuas a procura de terras para prática de
agricultura e construção de habitação.
Segundo a alínea a – c) do nº 2 do artigo 12 da Lei de terras de 1997 afirma que uma das formas
de aquisição do direito de uso e aproveitamento de terra pelas comunidades locais e pessoas
singulares pode ser por ocupação segundo as normas e práticas costumeiras, utilização da terra
há pelo menos dez anos de boa-fé e através da autorização do pedido apresentado conforme
estabelecido na lei do que não contrarie a constituição. E o nº 3 do artigo 13 da mesma lei
afirmando que o processo de titulação do direito do uso e aproveitamento da terra deve ser
precedido de consulta às comunidades, para efeitos de confirmação de que a área está livre e não
tem ocupantes.
A demora na canalização dos 20% a favor das comunidades deve ser devido a morosidade no
acto de registo dos comités de gestão na administração do distrito, falta do Número Único de
Identificação Tributaria e BIs para abertura de conta como no estudo de António (2016). E a
distribuição desigual dos 20% advém da falta de consenso sobre o uso do valor proveniente da
taxa de exploração e interferência de alguns membros do governo na gestão dos fundos.
De acordo com Ribeiro (2009) afirma que 20% das taxas de licenças provenientes da exploração
florestal e de fauna bravia devem ser canalizados para as comunidades locais, conforme
plasmado na Lei de Florestas e Fauna Bravia de 1999, seu regulamento e o diploma ministerial
de 2005.
A separação do género na tomada de decisão deve ser pelo facto da inexistência dos princípios
de participação, democracia, equidade e ou igualdade de género e acreditação no empoderamento
da mulher na ocupação de cargos de liderança e poder de tomada de decisão, facto que demostra
que mais de 95% dos comités de gestão é maioritariamente constituídos por homens como
apresentado no subtítulo 4.2.1., para o desenvolvimento comunitário e capacidade da mulher na
gestão de recursos naturais. O crescente dogma dos homens ao pensar que a função da mulher se
limita apenas na gestão da família e da casa e não nos cargos de liderança e ou consulta no acto
de tomada de decisões culminando na marginalização da mulher.
De acordo com os resultados da figura 11 relacionada com a 10. quanto ao conflito da terra,
25.6% de entrevistados aponta para Negociação como forma de resolução como no estudo de
Manjate (2013) através reuniões com os membros do comité de gestão dos recursos naturais e o
sector privado e ou membros da comunidade caso o conflito seja entre os membros da mesma
comunidade no sentido de se ultrapassar as dificuldades e chegar-se a um consenso. 19.5% de
entrevistados afirma que caso não haja consenso entre as partes envolvidas no conflito recorre-se
a mediação, onde uma terceira parte é chamada para mediar o conflito no sentido de facilitar o
processo de negociação no caso específico é recorrido ao Governo distrital.
Quanto a demora na canalização dos 20% e na distribuição desigual 24.4% afirma a arbitragem
como sendo a forma de resolução de conflito, onde o comité de gestão marca audiência com o
Governo distrital com o intuito de saber os motivos da demora na canalização dos benefícios da
comunidade na presença do sector privado/ investidor onde o sector privado informa que já fez a
canalização ao estado e que cabe ao estado fazer sua parte para a comunidade e a resposta do
governo é de que a comunidade deve ter paciência que a morosidade pode estar associada aos
actos administrativos da gestão bancaria.
Por outro lado importa sublinhar que antes da intervenção de organizações da sociedade civil o
governo era o principal assinante da conta da comunidade culminando assim com o desvio de
uma parte do valor destinado a comunidade e consequentemente distribuição desigual entre os
membros da comunidade, uma vez que esse acto teve inicio logo na fonte antes que o valor
chegasse a comunidade ocasionando o uso indevido dos fundos e a prestação de contas sobre a
gestão do mesmo.
Para o caso da separação do género na tomada de decisões sobre os recursos naturais 15.9%
afirma que a adjucação é a forma que se tem usado para resolver o conflito onde o assunto é
levado a administração distrital junto com a sociedade civil como facilitador no sentido de
contribuir na solução dos mesmos, um grupo representativo das mulheres da comunidade
devidamente organizado apresenta o conflito ao Administrador ou ao SDAE na presença do
CGRN com intuito que elas estejam envolvidas na tomada de decisão dos recursos naturais e que
ocupem alguns cargos de liderança nos CGRN.
lado, influencia negativamente nas actividades de fiscalização de florestas e fauna bravia por
parte de técnicos do SDAE.
Quanto a falta de equipamentos de patrulha, importa sublinhar que influencia de igual modo nas
actividades de fiscalização devido ao facto dos fiscais de florestas e fauna bravia queixarem- se
de não possuir material como: botas, fardamento, chapéu, capa de chuva, baioneta e ou arma de
fogo para combater actos de caça furtiva e exploração ilegal de recursos naturais, queixam-se
ainda que o estão a mais de 3 anos que não são alocados novos equipamentos de protecção
individual.
Bila (2005), afirma que em Moçambique existem províncias sem meios de transporte para a
fiscalização, impossibilitando assim a fiscalização nos locais de exploração, principalmente em
situações em que os operadores ilegais têm a certeza de que não serão interpelados pela equipe
de fiscalização, prevalecendo o uso de motorizada para efeitos de fiscalização. Bila sublinha
ainda que os Recursos humanos e os meios disponíveis para fiscalização são limitados, afectando
assim no sucesso das actividades de fiscalização.
Para a falta de instituições bancarias as comunidades afirmam que influencia negativamente pelo
facto de terem que se deslocar para a cidade para fins de abertura e movimentação da conta do
CGRN.
5.1. Conclusão
De acordo com os resultados alcançados, pode-se concluir que:
5.2. Recomendações
Recomenda-se aos investigadores a desenvolverem estudos similares que envolvam não só a
comunidade como um todo, mas também um estudo específico que aborde o envolvimento da
mulher na gestão de recursos naturais e sua inserção na ocupação de cargos de liderança.
➢ A comunidade em organizarem-se em associações e que sejam envolvidas no processo de
priorização de necessidades e tomada de decisões os jovens, mulheres, adultos e idosos
para garantir a equidade na distribuição dos benefícios sobre a gestão dos recursos.
➢ Ao Governo para que não esperem que haja um projecto ou benefícios de 20% para
formação de CGRN, pois é da sua inteira responsabilidade e não das organizações da
sociedade civil que vem somente acoplar e incentivar as iniciativas para que as
comunidades estejam devidamente organizadas e que o valor dos 20% seja canalizado a
devida comunidade onde ocorre a exploração de recursos de acordo como plasmado na
lei de florestas e fauna bravia e o seu respectivo regulamento.
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http://www.leat.or.tz/publication/index.php. 19pp (Acessado em 27 de Junho, pelas 16 H e 32´).
OSTROM, E. et al., (1999). Revisting the commons: local lessons, global challenges. Sience,
vol. 284, p. 278-282.
SAL & CALDEIRA (2014). Manual sobre a Aplicação da Lei da Conservação, Maputo.
SITOE, A e LISBOA, S.N. (2017). Avaliação Dos Impactos Dos Investimentos Nas Plantações
Florestais Da Portucel Moçambique Nas Tecnologias Agrícolas Das Populações Locais Nos
Distritos De Ile E Namarrói, Província Da Zambézia.
VIRDIGAL, J. F. (2004). Participação comunitária no projecto TCHUMA-TCHATO. UEM,
Maputo.44pp.
Apêndices
Identificação
Data: ____/____/____
Comunidade: ________________________________________________________
Nome: _______________________________________________________________
Ocupação: __________________________________________________________
Sexo: Feminino (___) Masculino (___)
Idade: (___)
a) Conheces os principais recursos naturais que ocorrem neste Posto adminitrativo? Sim
(___) ou Não (___), Se sim, quais são os mais
procurados?_______________________________________________________
b) Tem participado na gestão dos recursos naturais? Sim (___) ou Não (___), Se sim,
como?_______________________________________________________
Se não, porque?__________________________________________________________
c) Qual é o seu papel na gestão dos recursos naturais?
________________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Identificação
Data: ____/____/____
Comunidade: ________________________________________________________
Nome: _______________________________________________________________
Ocupação: __________________________________________________________
Sexo: Feminino (___) Masculino (___)
Idade: (___)
a) Será que a comunidade participa no âmbito de tomada de decisões sobre a gestao de
recursos naurais? Sim (____) ou Não (____), se Sim, como?
_____________________________________________________, se Não,
porque?__________________________________________________________
b) Qual é o seu papel na gestão dos recursos naturais?
________________________________________________________________________
________________________________________________________
c) Qual é o papel das autoridades tradicionais?
________________________________________________________________________
________________________________________________________
d) existe algum grupo que seja marginalizado no âmbito de tomada de decisões? Sim (____)
ou Não (____) se Sim qual __________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________________
__________________
1.4. Identificar as organizações envolvidas no processo de tomada de decisão sobre a gestão
dos recursos naturais;
a) Quais são as instituições que estão relacionadas com o maneio comunitário dos recursos
existentes nesta
região?__________________________________________________________________
__________________________________________________
b) Existe COGEP nesta comunidade? Sim (___) ou Não (___), se Sim Qual é a sua
composição?_____________________________________________________________
________________________________________________________
c) A quem representam?
_______________________________________________________________
d) Qual é a viabilidade de formação das instituições para o maneio dos recursos naturais ao
nível local? Boa (____) ou Ma (____).
e) Será que estas instituições representam os interesses dos seus membros? Sim (___) ou
Não (___) se sim quais ________________________________________________, se
não, porque? _________________________________________________________
f) Qual a viabilidade de formação de COGEP com a inclusão de outros intervenientes como
o governo local, o sector privado e as associações? Boa (___) ou Ma (___).
g) Qual é o papel de cada um dos intervenientes?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________
h) Dentre eles, quem decide sobre o acesso aos recursos naturais?
________________________________________________________________________
____________________________________________________________________
i) Quem decide sobre o uso dos recursos?
________________________________________________________________________
____________________________________________________________________
a) Nesta comunidade tem havido limitações na gestão dos recursos naturais? Sim (___)
Não (___). Tns que por a opcao de justificar
b) Seria bom saber sobre os tipos de conflitos existentes
Legenda: Entrevista dirigida ao membro do CGRN. Legenda: Entrevista dirigida ao membro da c. Unango sede.
Legenda: Entrevista dirigida ao membro da c. Miala. Legenda: Entrevista dirigida a Sociedade civil (ORAM)