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OS CONTRATOS ELECTRONICOS NO CONTEXTO JURIDICO ANGOLANO - Revista Juridica Jue Justica 1

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OS CONTRATOS ELECTRÓNICOS NO CONTEXTO JURÍDICO ANGOLANO.

Sabino Jacinto2 & Solange João3

RESUMO
Ao longo do presente artigo far-se-á uma abordagem sobre os contratos electrónicos
enquanto um ex-novo modo de celebração contratual. A presente análise, cinge-se, numa
visão fundamentada do conceito dos contratos como instrumento que a ordem jurídica
faculta aos sujeitos para, por acordo, realizarem as operações económicas que lhes convém,
permitindo, por sua vez, que estas transacções sejam realizadas por intermédio de meios
electrónicos, dispensando, por isso, a presença física das partes contratantes. Abordaremos
também acerca das características dos contratos electrónicos, bem como a sua
contextualização no ordenamento jurídico angolano, faremos uma incursão sobre os
requisitos de validade do contrato electrónico, sua formação e conclusão.

Palavras chaves: E-commerce, Contratos Electrónicos, Requisitos de Validade,


documentos electrónicos, assinaturas electrónicas, conclusão do contrato, proposta 1
contratual, convite a contratar, confiança.

1
Artigo para a Revista Jurídica Digital JuLaw – Direito e Justiça (www.julaw.co.ao).
2
Licenciando (5º ano) em Direito pela Universidade Católica de Angola.
3
Licenciada em Relações Internacionais pela Universidade Óscar Ribas, Licencianda (5º ano) em
Direito pela Universidade Católica de Angola.
Introdução

Através do presente artigo, propusemo-nos a fazer uma abordagem sobre os


contratos electrónicos no contexto jurídico angolano.

Nos últimos tempos, o recurso aos meios digitais por parte dos comerciantes, e não
só, tornou-se cada vez mais frequente. Apesar da predominância, ainda, dos contratos
tradicionais, a verdade é que, aos poucos, os contratos celebrados pela via electrónica têm
estado a firmar-se no mercado angolano.

Com o Covid-19, parece que houve uma reeducação por parte das pessoas no que
diz respeito às formas como se relacionam, como efectuam as transacções no mundo do
comércio, etc.

Mas, diante disto, surgem algumas questões que carecem de respostas imediatas.
Por exemplo, os contratos electrónicos têm ou não respaldo legal em Angola? Como os
comerciantes que usam a via electrónica para a transacção dos seus produtos e/ou serviços
conseguem assegurar a confiança dos seus clientes? Como assegurar que esse contrato
será cumprido por ambas as partes? Em que momento esses contratos são concluídos?
Qual a sua verdadeira característica?

É sobre estas questões e outras, que decidimos desenvolver o presente artigo que 2
poderá incidir sobre os seguintes pontos:

Começaremos por apresentar o conceito de contratos numa perspectiva genérica,


posteriormente, apresentaremos o conceito de contratos electrónicos, bem como as suas
características, em seguida, abordaremos sobre o e-commerce no contexto jurídico
angolano, acerca dos requisitos de validade dos contratos electrónicos em Angola, os
documentos e assinaturas electrónicos (sua natureza jurídica), faremos, ainda, um rasgo
intelectual sobre a formação dos contratos electrónicos, momento da sua conclusão e, no
final, vamos abordar sobre essa modalidade de contrato vs princípio da confiança.

Delimitação do Tema

Tem-se questionado, muito, se os contratos electrónicos são o mesmo que contratos


de patrocínio digital. Essa questão surge pelo facto de ambos ocorrerem por via
electrónica e que muitas das vezes os intervenientes de um, ou do outro nem se conhecem
sequer.

No entanto, é necessário que se discorde de quem pensa assim, pois, não obstante
ambos os contratos serem celebrados por via digital, na verdade, há elementos de fundo
que acabam por diferenciar um do outro.

Nos contratos de patrocínio digital há a necessidade de existir um influenciador


digital que, na visão de José Luquinda dos Santos “é toda a pessoa singular ou colectiva
que se populariza nas redes sociais pelo facto de produzir determinado conteúdo com
certa periodicidade, gerando um público, chamados seguidores, que acompanham as suas
publicações e eventualmente compartilham com outras pessoas.”4

Esse influenciador poderá servir de intermediário entre o comerciante e os seus


potenciais clientes, pois, o que o influenciador digital poderá fazer, é, no fundo, divulgar
os produtos ou serviços do comerciante, para que os clientes facilmente tenham acesso
aos mesmos. Por este facto, em regra, o influenciador digital deve ser alguém muito
popular nas redes sociais.

Nos contratos electrónicos, não há esta figura, em princípio. Visto que aqui a
divulgação dos produtos ou serviços pode não depender de um influenciador digital. O
que poderá existir é uma proposta contratual ou um convite a contratar5.

Enquanto no contrato electrónico, como tal, há uma relação directa entre o


comerciante ou sujeito activo e cliente ou sujeito passivo, nos contratos de patrocínio
digital não se verifica, ainda, esta relação. Tal como podemos retirar do conceito
“(...)aquele em que certa pessoa, singular ou colectiva, com reconhecida notoriedade
digital, quer seja num certo nicho do mercado ou internacionalmente, serve-se da sua
popularidade para a promoção de determinada marca, bem, serviço, evento, entre outros,
a título gratuito ou oneroso, exercendo assim influência sobre os seus seguidores, estes
que, por conseguinte, representam-se como potenciais clientes ou aderentes do objecto
3
por ele patrocinado.”6

Do conceito apresentado, conseguimos perceber a grande diferença entre um e


outro. Todavia, sem prejuízo do que dissemos acima, nada obsta que as partes
intervenientes nos contratos de patrocínio digital usem os contratos electrónicos para a
celebração do contrato de patrocínio digital. Pelo que é de se concluir que os contratos
electrónicos são mais abrangentes que os contratos de patrocínio digital.

Assim, focar-nos-emos, apenas, no que diz respeito aos contratos electrónicos, por
ser este o objecto de estudo do presente artigo.

1. Conceito dos Contratos em Geral

4
DOS SANTOS, José Luquinda «A PROBLEMÁTICA DO CONTRATO DE PATROCÍNIO DIGITAL
NO CONTEXTO JURÍDICO ANGOLANO», artigo científico, disponível em https://julaw.co.ao/a-
problematica-do-contrato-de-patrocinio-digital-no-contexto-juridico-angolano-jose-luquinda-dos-
santos, consultado aos 19 de Agosto de 2020, p. 3-4
5
Mais à frente, apresentaremos a diferença existente entre um e outro.
6
DOS SANTOS, José Luquinda «A PROBLEMÁTICA DO CONTRATO DE PATROCÍNIO DIGITAL
NO CONTEXTO JURÍDICO ANGOLANO», artigo científico, disponível em https://julaw.co.ao/a-
problematica-do-contrato-de-patrocinio-digital-no-contexto-juridico-angolano-jose-luquinda-dos-
santos, consultado aos 19 de Agosto de 2020, p. 5
Os negócios jurídicos distinguem-se em unilaterais e bilaterais, sendo que, os
primeiros são aqueles que possuem apenas uma parte, e, os segundos são os que possuem
duas ou mais partes, estes também designados por contratos.

Importa clarificar o que são partes no âmbito jurídico-civil. Assim, no Direito Civil
tem-se por parte, não uma pessoa, mas antes o titular de um interesse, o que poderia implicar
que duas ou mais pessoas podem constituir uma única parte, quando estas fruem interesses
comuns.

Menezes Leitão7 defende que, «ao distinguirmos o negócio unilateral do contrato


devemos ter em conta o critério da necessidade de uma declaração ou duas. Onde, no
negócio unilateral há apenas uma declaração negocial, da qual resultam todos os efeitos
jurídicos estipulados, independente de ter um único autor ou vários. Por sua vez, o contrato
resulta de duas ou mais declarações negociais contrapostas, mas integralmente
convergentes entre si, de onde resulta uma única estipulação de efeitos jurídicos».

Os contratos constituem a principal fonte das obrigações. Antunes Varela entende o


contrato como «acordo vinculativo, assente sobre duas ou mais declarações de vontade
(oferta ou proposta, de um lado; aceitação do outro) contrapostas, mas perfeitamente
harmonizáveis entre si, que visam estabelecer uma regulamentação unitária de interesses8».

Almeida Costa, por seu turno, diz que se fala de «contrato, quando existe nele a
manifestação de duas ou mais vontades, com conteúdos diversos, prosseguindo distintos
interesses e fins, até opostos, mas que se ajustam reciprocamente para a produção de um
resultado unitário. A uma proposta ou oferta correspondente uma aceitação9».
4
O contrato é, assim, o instrumento que a ordem jurídica faculta aos sujeitos para, por
acordo, realizarem as operações económicas e sociais que lhes convém, atribuindo a esses
acordos carácter jurídico, isto é, vinculativo.

Deste modo, entendemos que o contrato pode ser conceituado como o negócio jurídico
bilateral ou plurilateral integrado por duas ou mais declarações negociais exprimindo
vontades divergentes, mas integralmente convergentes entre si, com vista à produção de
determinados efeitos jurídicos sobre a sanção da ordem jurídica. O contrato de compra e
venda comercial previsto no artigo 463.º do Código Comercial – doravante C.Com., é um
exemplo de contrato que se reduz em duas declarações de vontades. Um outro exemplo de
contrato onde existem mais de duas declarações de vontade, mais do que dois contraentes
(contrato plurilateral) é o contrato de Sociedades anónimas, consagrado no artigo 304.º da
Lei das Sociedades Comerciais, a pluralidade de mandantes estabelecido no artigo 1169.º do
Código Civil (doravante C.C.) e, por fim, a pluralidade de fiadores previsto no artigo 649.º
do C.C.

Nos Contratos, temos como elemento fundamental o mútuo consenso. Dado que se as
declarações de vontades das partes, apesar de opostas, não se ajustarem uma à outra, não há
contrato, porquanto falta o mútuo consentimento. De outro modo, as vontades que integram
o acordo contratual, embora concordantes ou ajustáveis entre si, têm que ser opostas,
animadas de sinal contrário, pois, se as declarações de vontade são concordantes, mas

7
Cfr. Menezes Leitão – Direito das Obrigações, 9.ª Ed., p. 191.
8
Cfr. Antunes Varela – Das Obrigações em Geral, Vol. I, 10.ª ed. p. 212.
9
Cfr. Almeida Costa – Direito das Obrigações, 12.ª Ed. p. 220.
caminham no mesmo sentido, refletindo interesses paralelos, não há contrato, mas acto
colectivo ou acordo. O contrato é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral, isto é,
integrado pela manifestação de duas ou mais vontades diversas que se conjugam para a
realização de um objectivo comum. Consideramos, por isso, que a única razão porque se fala
em vontades contrapostas, mas convergentes para a produção de um certo efeito, é para que
seja possível distinguir os contratos dos negócios jurídicos unilaterais em que há mais de um
sujeito. E, neste caso, as declarações já não são contrapostas, mas sim paralelas.

1.2. Conceito de Contratos Electrónicos

Com o surgimento da internet e a consequente evolução do comércio electrónico,


surgiu a necessidade de adoptar-se uma nova modalidade de contrato para que se pudesse
regular as transacções que ocorrem via Internet. É neste sentido que surge o contrato
electrónico.

O contrato celebrado via internet é um contrato que não exige a presença física das
partes. E, desta feita, é considerado válido desde que presentes todos os requisitos
necessários para a celebração do negócio jurídico em geral.

Nos dizeres de Mota Pinto, «negócios jurídicos são actos jurídicos constituídos por
uma ou mais declarações de vontade, dirigidas a realização de certos efeitos práticos, com
intenção de os alcançar sob a tutela do direito, determinando o ordenamento jurídico a 5
produção dos efeitos jurídicos conforme a intenção manifestada pelo declarante ou
declarantes»10. Um contrato é nada mais do que um acordo de vontades entre duas ou mais
partes destinado à produção de determinado efeito jurídico.

O Regulamento das Tecnologias e dos Serviços da Sociedade da Informação


considera, no seu artigo 4.º, alínea i), o contrato electrónico como o «contrato celebrado por
via electrónica, seja ou não qualificável como comercial e independentemente de serem
celebrados em rede, por correio eletrónico ou por outro meio de comunicação individual
electrónico. O contrato considera-se electrónico mesmo que não seja executado por via
electrónica11».

Por sua vez, os doutrinadores entendem o contrato electrónico como sendo aquele
cujas declarações de vontade são produzidas e transmitidas por meio de programas de
computador ou de aparelhos electrónicos – em bom rigor, podemos dizer que é o contrato
tradicional celebrado por via electrónica, sendo que, o que diferencia um do outro, em nosso
entender, é, principalmente, o meio utilizado para concluir o contrato 12. Assim, somos
obrigados a concordar, com a ideia segunda a qual, o contrato electrónico não é um tipo
contratual diferente do contrato existente, mas sim uma modalidade de contratação que se
reveste de algumas especificidades, sendo que a maior delas é o facto de a materialização
deste tipo contratual dispensar a presença física dos contraentes.

10
Cfr. Carlos Alberto de Mota Pinto – Teoria Geral do Direito Civil, 4.ª Ed. p. 379.
11
Cfr. Decreto Presidencial n.º 202/11, de 22 de Julho, Aprova o Regulamento das Tecnologias e dos
Serviços da Sociedade da Informação,publicado em Diário da República, I Série, nº 139.
12
Uma outra diferença que também podemos apontar é a forma da disponibilização do produto, que é feita
através de sites da rede de internet ou por meio de correio electrónico.
De salientar que os contratos electrónicos podem apresentar compleições distintas.
Mormente, em relação aos sujeitos intervenientes.

Neste sentido, Pupo Correia13 considera existir «no comércio eletrónico três grandes
grupos ou áreas tipológicas de relações jurídicas e económicas, segundo a respectiva
natureza e os inerentes reflexos normativos», dos quais citamos:

«a) Empresa – empresa (“Business-to-Business – B2B”): que compreende as relações de


compra e venda de bens ou prestação de serviços estabelecidos entre pessoas singulares e
colectivas que exercem uma actividade económica de qualquer tipo, no âmbito e por causa
destas actividades. […]» – Ou seja, refere-se às transacções comercias estabelecidas entre
profissionais;
b) Empresa – consumidor (“Business-to-consumer” – B2C): abrange os contratos de venda
a retalho e de prestação de serviços, realizados entre uma empresa e o consumidor ou
destinatário final, com vista ao uso próprio e não profissional deste. […]» – A aquisição de
bens e prestação de serviços dá-se entre o profissional e o consumidor;
c) Empresa – Administração Pública (“Business-to-Administration” – B2A). Engloba-se
nesta designação os contratos de aquisição de bens e serviços por entes públicos com recurso
aos meios de comunicação electrónica.»

Em regra, aplicam-se aos contratos electrónicos os mesmos princípios aplicáveis aos


contratos em geral, destacando-se o princípio da autonomia privada, o princípio da força
vinculativa (pacta sunt servanda) e, por fim, o princípio da boa-fé.
6
Cita-se o princípio da autonomia privada, que versa sobre a possibilidade conferida às
partes de estabelecer os efeitos jurídicos que se irão repercutir na esfera jurídica14 dos
contraentes. A autonomia privada é, assim, a liberdade de produção reflexiva de efeitos
jurídicos, na medida em que os efeitos jurídicos produzidos irão repercutir-se na esfera dos
sujeitos que a produzem. Esta faculdade de autorregulamentação, manifesta-se, aqui, no
princípio da liberdade contratual consagrado no artigo 405.º do C.C.

Fala-se, portanto, sobre o princípio da força vinculativa (pacta sunt servanda), que
vem expresso no nº 1 do artigo 406.º do CC, onde segunda Almeida Costa «este significa
que, uma vez celebrado, o contrato plenamente válido e eficaz constitui lei imperativa entre
as partes (lex privata15)»16. Isto é, consiste na obrigação de as partes cumprirem o que foi
convencionado.

Outrossim, não obstante aplicarem-se aos contratos electrónicos os princípios


relacionados aos contratos tradicionais, existem princípios específicos aplicáveis aos
contratos eletrónicos estabelecidos pela ONU, através da Comissão das Nações Unidas para

13
Cfr. Miguel J. A. Pupo Correia. Direito Comercial – Direto da Empresa, 12ª Ed., revista e actualizada.
p. 596.
14
Esfera jurídica é o conjunto de relações jurídicas patrimoniais e não patrimoniais de que uma pessoa é
titular em determinado momento.
15
Lex privata = Lei privada que é a colecção de artigos e cláusulas que norteiam as condições e obrigações
ajustadas num contrato que, depois das partes terem aceitado as exigências ali propostas e assinado
devidamente, passará dito documento a ter força de lei. In Enciclopédia jurídica, https: www.enciclopedia-
juridica.com (consultado em 26-07-2020).
16
Cfr. Almeida Costa – Direito das Obrigações, 12.ª Ed. p. 312.
o Direito Comercial Internacional (Lei Modelo da UNCITRAL/CNUDCI17), aquando da
elaboração da Lei Modelo sobre o Comércio Electrónico, onde se destaca o princípio da
equivalência funcional. Este princípio visa garantir ao contrato electrónico a mesma validade
conferida ao contrato tradicional. Compreende-se como o princípio da admissibilidade e
equiparação dos contratos electrónicos aos contratos tradicionais e, encontramos a
conformação no nosso ordenamento jurídico nos n.ºs 1 e 2 (a contrario sensu) do artigo
55.ºdo Decreto Presidencial n.º 202/11, de 22 de Julho, que aprova o Regulamento das
Tecnologias e dos Serviços da Sociedade da Informação. Não havendo, assim, que
considerar sem validade ou eficácia jurídica os contratos celebrados por via electrónica.18

2. Características dos Contratos Electrónicos

A natureza jurídica dos contratos electrónicos pode ser enquadrada no âmbito das
diversas categorias em que se subdivide o facto jurídico em sentido amplo, em especial na
categoria dos negócios jurídicos, pelo que urge a necessidade de procedermos à classificação
dos contratos electrónicos dentro da categoria dos negócios jurídicos19:

 Contratos formais ou solenes vs contratos consensuais ou não solenes


Contrato formal é aquele em que a lei exige uma forma específica para a sua
celebração, sob pena de ser considerado nulo20 segundo os artigos 219.ºin fine e o 220.º,
todos do C.C.; por seu turno, os contratos consensuais (não solenes) são aqueles que não se
lhes exige uma forma específica como requisito de validade, tal como, o contrato de compra 7
e venda de bens móveis nos termos do art. 874º C.C;
Quanto aos contratos electrónicos, estes são consensuais, porquanto, a lei não exige
uma forma específica como requisito de validade do contrato.

 Contratos nominados vs contratos inominados


O contrato nominado é aquele que existe como uma categoria jurídica, que tem uma
designação jurídica, um “nomen iures” – o contrato que tem o seu nome previsto na lei.
Exemplo: o contrato de compra e venda comercial estabelecido, no artigo 463.º e ss. do
C.Com.; Contrariamente, o contrato inominado é aquele que não tem uma designação
jurídica, não tem o seu nome previsto na lei.

Neste sentido, entendemos que os contratos electrónicos integram a categoria de


contratos nominados, porquanto o mesmo possui um “nomen iures”, conforme se depreende
do artigo28.º da Lei nº 23/11, de 20 de Junho, Lei das Comunicações Electrónicas e dos
17
UNCITRAL – United Nations Commission on International Trade Law.
18
Cfr. Fábio Ulhoa Coelho – Curso de Direito Comercia. Vol. 3. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 36.
19
Pois ficou patente, aquando do conceito dos contratos electrónicos, que estes não designam um novo tipo
contratual, mas apenas um ex-novo meio de formação contratual, pelo que, julgamos que estes podem
encaixar-se sem quaisquer sobressaltos à classificação dos contratos em geral ou tradicional.
20
Todavia, existem casos em que, pela inobservância da forma, a lei estabelece outra sanção, vide artigo
220.º in finedo C.C.. Importa aclarar que, forma não é sinónimo de escritura pública, esta é apenas uma
forma que a lei estabelece para determinados contratos. Vejamos, no n.º 1 do artigo 947.º do C.C., a lei
prevê uma forma específica, para a doação de coisas imóveis, que é a escritura pública, mas já o n.º 2 do
artigo 410.º o legislador consagrou o escrito particular como forma de validade do contrato promessa nos
casos em que, para a celebração do contrato definitivo, a lei exija documento autêntico ou particular.
Destarte, tanto a escritura pública, quanto o escrito particular são formas que a lei estabelece ou exige como
requisito de validade para determinados contratos.
Serviços da Sociedade da Informação, bem como a alínea i) do artigo 4.º e o artigo 55.º,
todos do Decreto Presidencial n.º 202/11, de 22 de Julho, que aprova o Regulamento das
Tecnologias e dos Serviços da Sociedade da Informação, não sendo, por isso, um contrato
inominado.

Todavia, sem prejuízo do que dissemos acima, o facto de não existir, ainda, no nosso
ordenamento um regime jurídico específico para os contratos electrónicos e, não se tratando
de um ex-novo tipo contratual, entendemos que a sua caracterização como formal ou
consensual; nominado ou inominado; típico ou atípico e oneroso ou gratuito, está subjacente
aos tipos contratuais que lhes servem de base, em regra, utiliza-se a via electrónica como
instrumento para se celebrar o contrato de compra e venda comercial, o contrato de seguros,
o contrato da prestação de serviço e outros, previstos no C. Com. e no C.C.

3. O E-Commerce no Contexto Jurídico Angolano

A ideia do e-commerce ou comércio electrónico tem sido motivo de controversas a


nível da doutrina, visto que alguns consideram que o e-commerce se restringe ao tráfico
jurídico comercial, no entanto, tal posição levar-nos-ia ao entendimento de que os contratos
electrónicos, principal fonte do e-commerce, serão sempre comerciais. O que pode dar a
falsa ideia de que não se poderá celebrar contratos electrónicos estritamente civis. Pelo que,
pese embora seja nossa intenção falarmos dos contratos electrónicos numa vertente
comercial, o contrário não é proibido.
8
O Direito não é estático, isso porque o mesmo deve acompanhar a dinâmica das
sociedades. O contexto social, económico, político e cultural actual anda cada vez mais
evoluído a nível mundial. Por esta razão, é mister que o contexto jurídico acompanhe esta
mesma evolução.

Com o avanço das TIC, o mundo da informação tornou-se mais dinâmico e evoluído.
Cada vez mais, temos notado a desnecessidade da presença física das partes de uma
determinada relação jurídica. Diante destes acontecimentos, Angola não fica de fora.

A CRA aprovada em 2010, regula várias situações que se enquadram no contexto em


que vivemos. Há quem diga mesmo que é uma “Constituição actualista”21.

Assim, se nos colocassem a questão de saber se a Constituição da República consagra,


de forma expressa, os contratos electrónicos, claramente responderíamos que, salvo melhor
entendimento, não, porque pensamos que isso deve ser de competência do Legislador
Ordinário.

Todavia, a CRA consagra princípios que nos remetem à essa realidade. Ao consagrar
a livre iniciativa económica e empresarial nos artigos 14.º22, 38.º23 e 89.º, nº1, al. b)24 todos

21
Não descartamos a possibilidade de existir na CRA normas que precisam de ser revistas.
22
Como um dos princípios fundamentais, a CRA consagra neste artigo que “o Estado reconhece (...)
a livre iniciativa económica e empresarial exercida nos termos da Constituição e da Lei”.
23
Neste artigo, como um dos direitos fundamentais, a CRA consagra igualmente a livre iniciativa
económica e Empresarial.
24
No âmbito da Constituição Económica, Financeira e Fiscal.
da CRA, transmite-nos a ideia da real intenção do Poder Constituinte angolano em tornar o
comércio cada vez mais dinâmico e competitivo, fazendo com que os angolanos, e não só,
pensem cada vez mais no empreendedorismo nacional e nas várias formas de materialização
do mesmo, bem como os métodos a serem usados para se atingir o maior número de clientes,
etc.

E, por isso mesmo, concordamos com o Jurista Moses Caiaia quando nos elucida que
“não parece restarem dúvidas de que o recurso às tecnologias, no âmbito da actividade
empresarial, encontra o seu respaldo no preceito que referimos. Resulta da livre iniciativa
empresarial”25.

A nível da legislação ordinária, o C.Com. angolano, apesar de ser anterior à


Constituição, já atribui força probatória às correspondências telegráficas, no seu artigo 97.º
Pensamos que naquela fase (1888) o legislador já esteve atento ao mundo da informação ao
ter consagrado tal preceito.

Vamos agora, tocar com maior ênfase à Lei nº 23/11, de 20 de Junho26. Olhando para
a referida Lei, conseguimos notar, a partir do seu preâmbulo, que o legislador esteve atento
à evolução das tecnologias de informação, admitindo mesmo o facto de que as TIC estão
presentes, actualmente, em todas as áreas sociais e sectores económicos, sendo importante
para o desenvolvimento do progresso em Angola.

Um dos grandes objectivos da consagração das TIC, na referida Lei, é de contribuir 9


para o combate à pobreza e para a melhoria das condições de vida dos cidadãos, bem como
aumentar a competitividade, produtividade, emprego, coesão territorial e cultural, inclusão
social e protecção dos direitos dos consumidores27.

Ora, pensamos estar clara a ideia de que aos termos, como sistema económico, uma
economia de mercado, o Legislador vem, através da Lei sub judice, dar aberturas para novas
tendências que podem ser fundamentais no processo de desenvolvimento do país e no
aumento da produtividade, visto que quanto maior for a concorrência, a tendência é de os
produtores ou comerciantes melhorarem a qualidade dos seus bens e/ou serviços.

Dito isto, o artigo 28.º da referida lei consagra, de forma expressa, o contrato
electrónico, atribuindo, desta forma, nomenclatura ao mesmo no ordenamento jurídico
angolano.

3.1. Requisitos de Validade do Contrato Electrónico no Ordenamento


Jurídico Angolano

Importa referir que estamos a analisar os contratos electrónicos numa vertente


puramente comercial e não civil que, como já dissemos, nada impede que assim seja.

25
Vide CAIAIA, Moses – O Direito Angolano aplicável ao comércio electrónico (I)», artigo jurídico
disponível em https://angolaforex.com, (consultado aos 27 de Julho de 2020).
26
Publicada em Diário da República, I Série – nº. 115
27
Vide art.º 13.º da Lei nº 23/11, de 20 de Junho
Destarte, para que um contrato seja válido, «é fundamental a observância dos
requisitos legais de validade dos negócios jurídicos e dos possíveis defeitos do negócio
jurídico (que podem tornar o negócio jurídico nulo ou anulável)»28. Na ausência de um
regime específico, ainda, além da lei que já fizemos referência e do Decreto Presidencial
nº. 202/11 de 22 de Julho que estabelece o Regulamento das Tecnologias e dos Serviços
da Sociedade da Informação,29 pensamos que vale o regime dos Códigos Comercial e
Civil.

Ora, os requisitos de validade dos contratos em geral poderão ser os mesmos para os
contratos electrónicos,com as devidas adaptações. Pelo que nós consideramos três requisitos
fundamentais:

 Subjectivo;
 Objectivo; e
 Formal.

Analisando o primeiro requisito, devemos ter em conta os sujeitos da relação jurídica,


que consiste na relação de homem para homem, onde cada qual possui uma situação jurídica
própria, consistente na posição ocupada na relação jurídica como titular de direitos e deveres.
O credor será sujeito activo, enquanto o devedor será, neste caso, sujeito passivo.

Ora bem, neste âmbito, para que o contrato electrónico seja válido é necessário que os 10
intervenientes tenham capacidade jurídica de exercício30. Pelo que, se tratando de
comerciantes nos termos do artigo 7.º do C.Com. que nos remete para o CC, só poderá
celebrar este contrato quem for civilmente capaz, ou seja, aquele que atingir a maioridade31,
sob pena de os seus actos serem anuláveis, nos termos do art.º 125.º CC, salvo excepções
constantes no art.º 127.º do CC32. Todavia, o menor emancipado pode celebrar esse contrato
como se de adulto se tratasse, visto que a emancipação faz cessar a menoridade33.

No que diz respeito aos requisitos objectivos, aqui temos de ter em conta o objecto da
relação jurídica. E porque o C.Com. nada diz sobre isso, vale o regime constante do CC ex
vi art.º 3.º do C. Com.

28
https://lucasmarinho1991.jusbrasil.com.br/artigos (consultado aos 22/07/2020)
29
Publicado em Diário da República, I Série, nº 139.
30
“Consiste assim na medida dos direitos e das obrigações que uma pessoa pode exercer e cumprir
por si, pessoal e livremente” disponível em «https://dre.pt/web/guest/lexionario/», consultado aos
03 de Agosto de 2020.
31
Vide art.º 122.º do CC, com redacção imposta pela Lei nº 68/76 de 5 de Outubro, que estabelece
amaioridadepara quem tiver 18 anos de idade.
32
Quando se tratar de: «a) actos de administracção ou disposição de bens que o menor haja
adquirido por seu trabalho ou indústria, vivendo sobre si com permissão dos pais, ou pelas armas,
letras ou profissão liberal, vivendo ou não em companhia dos pais; b) os negócios jurídicos próprios
da vida corrente do menor, que, estando ao alcance da sua capacidade natural, só impliquem
despesas ou disposições de bens, de pequena importância; e c) os negócios jurídicos relativos à
profissão, arte ou ofício que o menor tenha sido autorizado a exercer, ou os praticados no exercício
dessa profissão, arte ou ofício».
33
Vide art.º 8.º C.Com. e 132.º e 133.º do CC.
Destarte, quanto ao objecto, este deverá ser física e legalmente possível, bem como conforme
à lei e ser, ainda, determinado. Ou seja, não se admitem negócios jurídicos cujos objectos
sejam inalcançáveis, que não existam ou que firam à lei, ou sejam de determinabilidade
duvidosa ou inexistentes34. E nem sequer podem ofender a ordem pública, ou aos bons
costumes. Caso isso aconteça, então, o contrato deverá ser nulo, tendo efeitos retroactivos35.

Assim, as partes não devem, por exemplo, por via de um contrato electrónico, acordar
em vender um balde de fumo, ou um carro que ainda não existe e nem se sabe se existirá 36,
ou acordar sobre o fornecimento de drogas. Caso isso venha a ocorrer, o negócio deverá ser
considerado nulo e acompanhado de todas as suas consequências.

O terceiro requisito tem a ver com a forma. Pensamos nós que, para a celebração dos
contratos electrónicos, vale os princípios da liberdade contratual37 e de forma38. Na mesma
ideia, Moses Caiaia elucida-nos que «(...) ainda que consideremos ser necessário apreciar
o tema tendo em conta o princípio da liberdade contratual (...) e o princípio da liberdade de
forma (...)»39.

Pupo Correia diz-nos que «o princípio da liberdade de forma (art.º 219º C. Civil)
remove, à partida, qualquer obstáculo de ordem geral à admissibilidade pelo nosso
ordenamento jurídico de que as declarações de vontade negociais se materializam através
de meios de comunicação electrónica. Pode, pois, formar-se um contrato verbalmente por
telefone, ou por troca de mensagens escritas, por fax, telex, correio electrónico»40.
11
Tudo isso para dizer que não existe uma única forma para a celebração dos contratos
electrónicos. Pelo que as partes podem escolher a forma que melhor lhes aprouver. Isso
significa que elas podem fazer o uso de correio electrónico, podem usar os seus telemóveis
para chamadas, mensagens, sendo que já é muito comum o uso das vias Whatsapp,
Instagram, entre outros. Ou seja, na medida em que as coisas vão evoluindo, as alternativas
também aumentam.

Porém, todas estas vias, que aqui indicamos, darão sempre origem a um documento.
Mas será este documento (uma mensagem, por exemplo, ou conversas no Whatsapp, correio
electrónico, etc.) um requisito de forma e consequentemente pressuposto para a validade do
contrato? Pensamos que não. Quanto à natureza desses documentos, abordaremos mais
abaixo.

34
Essa proibição da indeterminabilidade do bem, não obsta a que as partes celebrem um contrato
para a aquisição de bens futuros ou determináveis (por não existirem ainda no momento por diversas
razões).
35
Vide art. 280.º e 289.º CC.
36
Vide art.º 219.º CC.
37
Vide art.º 405.º CC.
38
Vide art.º 219.º CC.
39
CAIAIA, Moses, «O Direito Angolano aplicável ao comércio electrónico (I)», artigo jurídico,
disponível em https://angolaforex.com Angola Forex, 05/05/2019, consultado aos 27 de Julho de
2020.
40
CORREIA, Pupo «DIREITO COMERCIAL», EDIFORUM Edições Jurídicas, Lda, Lisboa, 14ª
Edição, Setembro 2018, p. 600.
Apesar do que dissemos supra, porque estamos no âmbito privado e porque se trata de
negócio jurídico, não descartamos a possibilidade de existirem eventuais desvios que
também podem ser pressupostos de validade dos contratos electrónicos. Estamos a fazer
referência aos vícios ou falta de vontade, ou seja, de elementos que podem viciar a vontade
de uma das partes ou mesmo das duas. É o caso da simulação, dolo, coacção (moral e física)
e o erro.

Todos estes requisitos já existiam antes mesmo da Lei 23/11. O que esta lei faz, apenas,
é dar o reconhecimento aos contratos electrónicos, como estatuído no nº1 do art.º 28.º,
quando usa a expressão “é reconhecida”. Portanto, isso é apenas fundamental para a
caracterização deste contrato como nominado.

3.1.1. Documentos e Assinaturas Electrónicos: Natureza Jurídica

Do termo documentos podemos retirar vários conceitos. Mas entendemos que


documento é qualquer registo de informações, independentemente do formato ou suporte
utilizado para registá-las. Pensamos estarem aqui, intrinsecamente, incluídos os documentos
electrónicos.

De acordo com o C.C., documento é qualquer objecto elaborado pelo homem com fim
de reproduzir ou representar uma pessoa, coisa ou facto41.

Os documentos electrónicos acarretam consigo vários riscos visto, que podem ser 12
adulterados sem deixar rasuras, por ser possível apagar a informação e escrever uma outra,
e são caracterizados por serem muito voláteis. Por esta razão, alguns especialistas
aconselham que o mesmo deve42:

 Permitir a livre inserção dos dados ou a descrição dos factos que se quer registrar;
 Permitir a identificação das partes intervenientes, de modo inequívoco, a partir de
sinais particulares (autenticidade)43;
 Não possibilitar adulteração sem deixar vestígios.

Essas características apresentadas supra são, ao nosso ver, fundamentais, visto que,
como já ficou dito acima, os documentos electrónicos não são requisitos ou pressupostos de
validade dos contratos electrónicos, mas sim, têm natureza probatória. Logo, os elementos
apresentados serão cruciais na verificação da veracidade da informação que o documento
apresentar.

A autenticidade de um documento electrónico está virada para o seu autor. Isto é, deve-
se assegurar que aquele que assina é o seu verdadeiro autor. Porque pode dar-se o caso de
existir uma autoria aparente. Tal como nos elucida Moacir Amaral Santos que «o facto de
o documento indicar quem seja o seu autor, como no caso de ser subscrito e assinado, não

41
Vide artigo 362.º CC.
42
Lima Neto, José Henriques Barbosa Moreira, «Aspectos jurídicos dos documentos electrónicos»
jus navegandi- jun/98. Disponível em «http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=1780»,
(consultado aos 30 de Julho de 2020).
43
Isso remete-nos para o tópico das assinaturas electrónicas.
se conclui só por isso que seja autêntico. Na subscrição ou assinatura tem-se a autoria
aparente, que pode não ser a verdadeira. A certeza da autoria se verifica pela coincidência
entre a aparente e a real».44

Assim sendo, essa autenticidade deverá ser apreciada em função da determinação


precisa do autor do documento.

Isso significa que não podemos falar da autenticidade dos documentos electrónicos, de
forma separada da assinatura digital e os problemas que esta suscita no ordenamento jurídico
angolano.

Como defende Moses Caiaia «(...) parece-nos grave na medida em que um contrato
comercial celebrado pela via electrónica pressupõe entre outros requisitos a assinatura
pelos contraentes. Tal assinatura assume especial relevância se considerarmos o valor
probatório do contrato»45.

Isso é muito importante, pois nós estamos diante de uma realidade, cujos riscos de
contrafacção são maiores. Alguém pode adulterar uma assinatura de outrem sem deixar
vestígios na medida em que, no âmbito electrónico, os documentos ou assinaturas podem
não ter rasuras, não temos como identificar o real autor pela grafia, portanto, o que pode
ocorrer a nível dos sistemas electrónicos é uma vulnerabilidade de mensagem ou
informações. Por esta razão, é importante que se pense, com urgência, na regulação desta
temática. 13
O art. 47.º do Decreto Presidencial nº. 202/11 de 22 de Julho que estabelece o
Regulamento das Tecnologias e dos Serviços da Sociedade da Informação46estatui que
a assinatura electrónica qualificada: «a) Deve referir-se inequivocamente a uma só pessoa
singular ou colectiva e ao documento ao qual é aposta. Esta exigência visa, sobretudo,
garantir a autenticidade dos documentos electrónicos».

Ligado à esta matéria, está o problema da certificação da assinatura digital47. Qual


seria a verdadeira natureza jurídica da mesma? O Estado ao impor isso, estaria a interferir
na esfera jurídica dos particulares?

A certificação resulta da al. b) do art.º 47.º que diz que a assinatura: «b) Deve constar
de certificado qualificado válido e em vigor na data da aposição e respeitar as condições
dele constantes, sob pena de se considerar que o documento não está assinado».

A certificação é um requisito fundamental para assegurar a validade da assinatura. Por


esta razão, é mister que o endereço da autoridade certificadora seja indicado, de modo a
comprovar a autenticidade da assinatura.
44
SANTOS, Moacir Amaral, «Primeiras linhas de direito processual civil», São Paulo -2001. LTr,
p. 389.
45
CAIAIA, Moses, «O Direito Angolano aplicável ao comércio electrónico (II)», artigo jurídico,
disponível em https://angolaforex.com, (consultado aos 3 de Agosto de 2020).
46
Publicado em Diário da República, I Série, nº 139.
47
A certificação deverá ser feita por uma entidade certificadora e previamente autorizada para o
efeito nos termos do art.º 52.º do DPnº. 202/11 de 22 de Julho que estabelece o Regulamento das
Tecnologias e dos Serviços da Sociedade da Informação.
Assim, quanto à primeira questão, pensamos que a verdadeira natureza jurídica seria a
de atribuir autenticidade à assinatura que pode servir de garantia para o outro contraente,
visto que terá a certeza de que a pessoa que assina é realmente a pessoa com a qual celebra
o contrato48. Isso será fundamental para efeitos de prova49. A emissão dessa certificação
deverá ser feita por um órgão competente50 para o efeito.

Quanto à segunda questão, acolhemos a opinião de Moses Caiaia quando diz que
«entretanto, é importante não desconsiderar o facto de em sede do comércio electrónico
vigorar a autonomia privado. Defendemos, por isso, que qualquer regulação da matéria
não pode obstar que as partes do contrato possam utilizar outros meios que permitam
atestar a autoria e integridade de uma declaração negocial de uma em relação à outra».5152

Uma outra nota sobre este aspecto tem a ver com a integridade dos documentos
electrónicos. Isso não é nada mais, nem nada menos que uma garantia de que o documento
recebido pelo receptor não sofreu nenhuma alteração, isto é, o documento deve ser
conservado para que não haja alterações do seu conteúdo ou de forma involuntária, ou por
alguém que tenha acesso aos arquivos do titular do documento. Por esta razão, o que se tem
aconselhado é conservar os documentos em pastas ou arquivos secretos.

Em alguns países onde o comércio electrónico está muito mais avançado, eles
desenvolveram o sistema da criptografia assimétrica, que permite verificar a autenticidade e
integridade dos documentos electrónicos. Isso é tão eficaz que permite identificar, 14
rapidamente, a ocorrência de alguma anomalia no documento.

3.2. Formação dos Contratos Electrónicos: Momento da sua Conclusão

A formação dos contratos electrónicos é um tema que gera muitas dúvidas a nível da
doutrina angolana e não só, por razões que iremos abordar ao longo da nossa exposição.

Pensamos que o facto de ser, ainda, uma realidade nova em Angola, também tem sido
motivo de controversas e de pouca exploração pelos doutrinadores angolanos.

48
Cfr. Art.º 48.º do Decreto Presidencial nº. 202/11 de 22 de Julho que estabelece ,o Regulamento
das Tecnologias e dos Serviços da Sociedade da Informação.
49
Cfr. Art.º 49.º do Decreto Presidencial nº. 202/11 de 22 de Julho que estabelece o Regulamento
das Tecnologias e dos Serviços da Sociedade da Informação. Este artigo atribui valor probatório ao
documento com assinatura electrónica. O que significa que estes documentos valem como prova,
mesmo até, em tribunal.
50
A competência aqui não é apenas entendida como conjunto de poderes, mas sim, referimo-nos ao
facto de o organismo ter o material necessário para se efectuar a certificação das assinaturas.
51
CAIAIA, Moses, «O Direito Angolano aplicável ao comércio electrónico (II)», artigo jurídico,
pub. Angola Forex, 19/05/2019.
52
A ideia da certificação, não nos pode levar ao entendimento erróneo de que estaríamos
perante uma limitação ao princípio da liberdade de forma. Pois, este visa estabelecer que as
partes, na celebração de um determinado negócio jurídico, escolham a forma que lhes
aprouver. A sua limitação surge sempre que a lei exija uma forma para que as partes celebrem
determinado contrato contrato; a inobservância desta forma, levaria à invalidade do contrato.
Enquanto que a certificação da assinatura serve apenas para equiparar a verdade declarada e a
real. É, portanto, fundamental por questões de provas visto que serve para garantir
autenticidade às assinaturas digitais.
Todavia, como qualquer tipo contratual, é mister existir sempre uma manifestação de
vontade das partes com vista a vincularem-se num determinado contrato. Isso é extensivo
também aos contratos electrónicos. A diferença é que nos contratos tradicionais exige-se a
presença física das partes (como retromencionado), enquanto que nos electrónicos essa
presença é dispensada. Em função disso surge o problema.

Qual é o momento da celebração do contrato electrónico? Será no momento da


assinatura (caso haja) do contrato, na entrega da encomenda e no pagamento do preço, ou na
aceitação da proposta contratual?

Ora, como qualquer contrato, os contratos electrónicos também começam com uma
proposta contratual53. A nível dos contratos electrónicos, essa proposta deve conter todos os
elementos essenciais do contrato que bastará apenas a aceitação do interessado para que o
contrato se conclua. Caso contrário estaríamos perante um convite a contratar.

A doutrina consagrada no C.C. angolano, no seu artigo 224.º, é o da teoria da


recepção, segundo a qual, a proposta será eficaz logo que o destinatário a receba ou que
tenha dela conhecimento, ou se só por culpa sua não tomou dela conhecimento. Portanto,
isso aplica-se quando se trata de contrato celebrado entre ausentes. Mas será esta aplicável
aos contratos electrónicos?

Primeiramente, é importante dizer que, tal como já frisamos acima, é necessário que a 15
proposta seja clara o suficiente para não criar confusão ou dúvidas;

Segundo, é importante determinar numa relação jurídica específica, quem é, de facto,


o autor da proposta. Isso porque a iniciativa para se celebrar o contrato pode ser da parte
interessada em adquirir os produtos ou se beneficiar de um serviço e não apenas de quem
vende ou presta algum serviço.

Mas até aqui ainda não conseguimos determinar, com precisão, o momento da
celebração dos contratos electrónicos. A determinação deste momento é importante, pois
existem dois tipos de contratos electrónicos e que se pode gerar dúvidas para determinar o
momento da conclusão de um e do outro contrato, ou se o momento é o mesmo.

Por isso, julgamos importante apresentar a distinção entre contratos electrónico directo
e indirecto54. Onde o primeiro «consiste na encomenda, pagamento e entrega directa (em
linha) de bens incorpóreos e serviços como programas de computador, conteúdos de
diversão ou serviços de informação em escala mundial». Neste caso a realização integral do
comércio jurídico é feita através de meios electrónicos uma vez que todo o negócio é
concluído e executado via internet, ou seja, não se exige a presença física das partes, nem
por si mesmas, nem por terceiro (representante). Nestes contratos todo o processo é feito via

53
É mister realçar que esta difere do convite a contratar, visto que aquela precisa de um simples sim,
ou aceitação do receptor da proposta para que o contrato seja concluído enquanto que, no segundo,
o simples “sim” faz com que as partes elaborem a proposta contratual.
54
Cfr. A Dias Pereira – Serviços de Informação das Sociedades p. 4 apud Maria Carvalho Homem
– A formação dos Contratos no Comércio Eletrónico in RED – Revista Eletrónica de Direito
disponível em http://cije.up.pt/pt/red.
internet: celebração do contrato e até o envio do produto ou prestação do serviço é feito pela
mesma via.

Trazemos como exemplo a BANDATEC que é uma empresa de jovens angolanos,


especializada na criação de diversos programas informáticos, incluindo, websites. Tudo é
feito online. Posteriormente, o cliente só tem acesso aos dados quando o produto já estiver
no ar. Não se exige a presença física das partes.

Temos ainda a empresa E-Card Pay- Prestação de Serviço, Lda. Através dessa
empresa, o cliente ou interessado pode fazer pagamentos online a partir de Angola, além de
comercializarem também produtos variados. Tudo é feito online desde a celebração até ao
cumprimento do contrato.

Já o segundo (contratos electrónicos indirectos), traduz-se na «encomenda electrónica


de bens, que têm de ser entregues fisicamente por meio dos canais tradicionais como os
serviços postais ou os serviços privados de correio expresso» – nesta modalidade
encontramos, por sua vez, as empresas que comercializam bens corpóreos cujo pagamento
pode ser efectuado quer via online, quer no momento da entrega da coisa.

Isto é, os contratos electrónicos indirectos55 são caracterizados pelo facto de


exigirem o uso das duas vias: internet e a presença física. Ou seja, não obstante a celebração
do contrato ser por via electrónica, a entrega do produto ou serviço é feita fisicamente ainda
que seja por terceiros. 16
Tomemos, a título de exemplo, os serviços prestados por alguns hipermercados na
entrega de produtos alimentares, tais como o Kero, Alimenta Angola, a entrega de materiais
electrónicos, como o fornecido pela empresa NCR-Angola, destacam-se, ainda, as empresas
N’A Store (comercializa vestuários) e CDCDShop (comercializa produtos variados).

Assim, o momento da celebração do contrato, de acordo com o art.º 56º do Decreto


Presidencial nº. 202/11 de 22 de Julho que estabelece o Regulamento das Tecnologias e
dos Serviços da Sociedade da Informação56,se dá com a recepção, pelo proponente, da
aceitação da proposta contratual. Ou seja, o legislador não se limitou apenas em olhar para
a proposta contratual de forma isolada, mas sim ao momento em que o autor da proposta vai
receber a aceitação da mesma.

Isso significa que, nos exemplos apresentados, independentemente de se tratar de


contratos electrónicos indirectos ou directos, quando aquele que formulou a proposta receber
a notificação do receptor a dizer que aceita57,aí dá-se por concluído o contrato.

55
Este meio de se exercer o comércio comporta benefícios não só para os consumidores, como
também para as empresas, na medida em que, as empresas podem participar mais activamente nos
mercados através da prestação de serviços, bem como, adquirir produtos (por meio dos seus
fornecedores) com maior celeridade.
56
Publicado em Diário da República, I Série, nº 139
57
Isso pode ser tacitamente, visto que o interessado na proposta pode apenas mandar a lista de
encomenda, como pode ser de forma expressa.
Será necessário acusar ou não a recepção? E se não acusar? A nosso ver, a posição
apresentada pelo legislador é criticável. Pois, aquele que emite a confirmação da proposta só
saberá, realmente, se o destinatário recebeu a confirmação se este acusar a recepção 58. Este
entendimento surge pelo facto de os contratos electrónicos merecerem um tratamento
especial, face aos tradicionais, em função de eventuais riscos que os sistemas informáticos
acarretam.

Pelo que o regime consagrado na norma em análise é o mesmo que o do art.º 224ºdo
C.C. Ou seja, e tal como escreve Pupo Correia “como a perfeição do contrato resulta da
recepção pelo proponente da resposta de aceitação, o contrato considerar-se-á concluído, em
regra, no momento da recepção, pelo proponente, da mensagem electrónica que
consubstancie a aceitação do destinatário”59

Por este facto, criticamos o nº3 do artigo 56º do diploma supracitado, pelo facto de ter
desconsiderado o aviso de recepção da ordem de encomenda para se determinar o momento
da conclusão do contrato. Essa crítica é legítima uma vez que, a nível da contratação
electrónica, podem existir erros de natureza variada. O e-mail pode não ter sido enviado com
sucesso, a mensagem idem. Por isso, é importante que se acuse a recepção para que se
verifique, de forma absoluta, o consenso.

Nota, o que nós temos visto, muitas das vezes, na internet, é mais um convite a
contratar do que propriamente uma proposta. Isso porque, as partes depois terão de acertar
alguns elementos essenciais, como é o caso da via para se realizar o pagamento, as 17
qualidades essenciais do produto, modalidades de pagamentos, local da entrega (no caso dos
contratos electrónicos indirectos), etc. Só no momento em que tudo isso e outros elementos
essenciais sejam definidos, se dá a conclusão do contrato.

Parece a mesma ideia que encontramos no artigo 56º, nº 2 quando diz que: “a oferta
de produtos ou serviços em linha representa uma proposta contratual quando contiver todos
os elementos necessários para que o contrato fique concluído com a simples aceitação do
destinatário, representando, caso contrário, um convite a contratar”.

Quanto ao momento de pagamento e entrega ou envio do produto, ou a prestação do


serviço, será fundamental apenas para se determinar o momento da execução do contrato.
Portanto, achamos que estes dois momentos são distintos, pois, o contrato pode ser
concluído, todavia, uma das partes deixar de cumprir o mesmo. Isso não põe em causa a sua
existência, mas sim remete-nos para a matéria de incumprimento.

É importante ainda realçar que nestes tipos contratuais, nada impede de se aplicar as
disposições de culpa in contrahendo60, naquelas situações em que, por exemplo, nas
negociações do contrato, haja abuso de direito de uma das partes61.

58
Nada obsta que seja tacitamente, com o envio dos produtos ou com o início da prestação de
serviço.
59
CORREIA, Pupo, «DIREITO COMERCIAL», EDIFORUM Edições Jurídicas, Lda., Lisboa,
14ª Edição, Setembro 2018, p. 623.
60
Cfr. Art. 227º CC
61
Cfr. Art. 334º CC
4. O E-Commerce Vs Princípio da Confiança

O e-commerce (comércio electrónico) representa uma nova modalidade de


comercialização de bens e serviços, compreende, por sua vez, realidades distintas,
permitindo a celebração de contratos de compra e venda de bens e prestação de serviços à
distância entre consumidores e empresários e/ou entre empresários entre si62 através de
meios eletrónicos.

Segundo Pupo Correia, comércio electrónico consubstancia-se na «utilização


detecnologias de informação avançadas para aumento de eficiência de relações entre
parceiros comerciais, para desenvolvimento de vendas de bens e prestações de serviços,
quer entre empresas, quer ao consumidor final63».

Por sua vez, o comércio electrónico é conceituado por Fábio Coelho64, como sendo,
«a venda de produtos (virtuais ou físicos) ou a prestação de serviços realizados em
estabelecimento virtual. A oferta e o contrato são feitos por transmissão e recepcção
eletrónica de dados. O comércio eletrónico pode realizar-se através da rede mundial de
computadores (comércio internáutico) ou fora dela.»Assim, entendemos, o comércio
electrónico, como sendo, um novo meio de realizar transacções comercias, permitindo a
celebração digital total ou parcial pelas partes. Este meio novo de formação contratual,
apresenta-se como uma forma célere de realizar transacções comercias, na medida em que
estes podem ser concluídos através dos computadores.
18
Todavia, apesar de o comércio electrónico encerrar inúmeros benefícios para os
contraentes, existe alguma fragilidade na segurança, especialmente, quanto à entrega da
mercadoria e ao pagamento, à privacidade e à autenticidade dos documentos, beliscando,
deste modo, a confiança entre as partes.

É neste contexto, que começaremos a nossa abordagem sobre o princípio da confiança.


As pessoas tendem a estabelecer relações comerciais, porque confiam na boa-fé da
contraparte, confiam na estabilidade das relações instituídas, na qualidade dos bens e
serviços oferecidos pelas páginas nos websites.

Um dos grandes problemas a nível dos contratos electrónicos tem que ver,
exactamente, com o princípio da confiança. Isso surge pelo facto deque, nestes contratos,
não se exige a presença física das partes. A existência de interesses opostos e que muitas das
vezes pode provocar prejuízos à parte mais fraca, visto que a falta de honestidade no tráfico
jurídico infelizmente ainda é uma realidade, pode levar à desconfiança nas relações.

Destarte, a confiança enquanto princípio traduz-se na presunção da boa-fé e de


lealdade dos intervenientes no tráfego jurídico e, consequentemente, na punição de quem
actuou de má-fé ou de forma contrária ao convencionado. Sendo a boa-fé objectiva o suporte

62
Importa referir que no primeiro caso estamos diante do contrato electrónico Business–to–consumer
(B2C), relação que se estabelece entre o consumidor e o fornecedor/empresário) e, no segundo
contrato electrónico Business– to –Business (B2B), contrato estabelecido entre empresários.
63
Cfr. Miguel Pupo Correia - Direito Comercial – Direito da Empresa. 12.ª Ed., revista e actualizada,
p. 565.
64
Cfr. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol. 3. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 32.
de qualquer negócio jurídico, a falta deste princípio terá como consequência um vício na
manifestação da vontade, promovendo, desta feita, uma relação contratual viciada. E a
possibilidade deste vício ocorrer é mais assente no e-commerce, porquanto, as transacções
são feitas por pessoas fisicamente separadas.

A formação do contrato é fundamental para se assegurar a confiança da pessoa com a


qual se está a contratar. Por exemplo, é importante que as partes assegurem que realmente
cada um vai cumprir com a sua obrigação. Mas como assegurar isso se nem se conhecem e
nem sabem, ao certo, o verdadeiro endereço do outro? Como fazer com que a outra parte se
assegure que a obrigação será de facto cumprida?

Muitas das vezes, o consumidor não tem acesso directo ao contrato e vê a coisa que é
o objecto da compra através de uma imagem ilustrativa, muito por causa da imaterialidade
que o ambiente da internet propõe e, em algumas vezes, o que assistimos no acto da entrega
da coisa é uma diferença gritante entre a imagem da coisa ilustrada na website, ou ainda, na
pior das hipóteses, a não entrega da coisa, provocando, desta forma, um desequilíbrio no
princípio da confiança, o que levará o consumidor a questionar-se sobre o cumprimento
integral e pontual da contraparte.

Alguns ganham confiança porque ouviram um comentário sobre uma determinada


empresa o que os leva a acreditar na seriedade da mesma. Mas será isso suficiente? E no
caso daqueles que nunca ouviram nada sobre determinada empresa?
19
Hoje, por exemplo, temos vistos que todos, mormente pessoas que habitam em
Luanda, não têm receios alguns em contratarem os serviços da empresa Tupuca. Eles sabem
que contratando os serviços da referida empresa, o contrato será efectivamente realizado.
Por que será?

O princípio da confiança é um dos princípios basilares nas relações jurídicas. E, a


nosso ver, a nível dos contratos electrónicos, não é fácil assegurar que as partes tenham
confiança de que aquele contrato será efectivamente realizado e, isso torna-se ainda pior,
caso as partes não cumpram com determinados requisitos.

Uma primeira ideia, versa sobre a própria organização da empresa. Para que as pessoas
acreditem nos contratos online, é necessário que as empresas se mostrem, suficientemente,
organizadas para garantirem tal confiança ou credibilidade. Por exemplo, devem ter uma
denominação, ou firma, um NIF, contabilidade organizada, linhas próprias onde os produtos
podem ser publicitados, endereço próprio, enfim, deve ter um conjunto de requisitos
fundamentais para que os clientes nela acreditem.

Mas não é apenas isso. É importante primar por mecanismos que deem publicidade às
suas marcas. Neste caso, é recomendável que as empresas registem as marcas dos seus
produtos ou serviços no Instituto Angolano de Propriedade Industrial (IAPI), nos termos
da lei nº 3/92, de 28 de Fevereiro sobre a Propriedade Industrial.

O registo da marca, além de conferir exclusividade de uso ao seu titular, confere


igualmente publicidade dos seus produtos ou serviços. Isso é muito importante, pois, faz
com que as pessoas aumentem a credibilidade numa determinada empresa.
Face ao acima exposto, podemos perceber que o consumidor é a parte mais fragilizada
no e-commerce, carecendo, por isso de uma protecção legal. No nosso ordenamento jurídico
não encontramos um diploma legal específico da protecção do consumidor nos contratos
electrónicos, todavia, ao longo da nossa exposição concluímos que o contrato electrónico
não é um tipo novo contratual, mas sim um meio novo de formação contratual.
Desta feita, não sendo um tipo novo contratual e, não existindo um diploma específico
que salvaguarde o interesse dos consumidores (como acontece em outros ordenamentos
jurídicos), no caso de violação do princípio da confiança dificultando, por sua vez, a
efetivação do princípio da boa-fé, entendemos que podem os consumidores lesados, recorrer
ao diploma geral de protecção dos consumidores vigente no nosso ordenamento jurídico, Lei
n.º 5/03, de 22 de Julho, Lei da Defesa do Consumidor.

Não obstante, e apesar da liberdade de forma como princípio importante na celebração


dos contratos electrónicos, sempre que possível, é melhor primar-se por se celebrar esses
contratos usando documentos devidamente assinados, tal como já fizemos referência mais
acima. Isso vale como prova, ao mesmo tempo que pode fazer com que as partes se
certifiquem que, de facto, há coincidência entre a pessoa aparente e a real.

Considerações Finais

Pelo exposto, podemos tirar as seguintes conclusões:


20

 Os contratos electrónicos surgem com o objectivo de facilitar as relações entre


os sujeitos da relação jurídica, de modo a dar respostas às exigências actuais das
sociedades;
 São contratos nominados, consensuais, sem prejuízo de poderem apresentar
outras características atendendo ao cada caso concreto, isto é, tendo sempre em
conta o objectivo para o qual se celebra estes contratos;
 A sua conclusão dá-se com a recepção da resposta de aceitação pelo proponente,
sem prejuízo de este poder acusar a recepção de tal resposta;
 Os documentos electrónicos têm natureza probatória, pelo que não são
requisitos de forma, e a sua assinatura serve para dar autenticidade ao
documento de modo a assegurar que haja coincidência entre a pessoa real e a
aparente;
 A confiança nas relações jurídicas que tenham como fonte o contrato
electrónico é assegurada em função do modo como a empresa está organizada,
desde a constituição de um NIF, a sua legalização, endereço, modo de se
relacionar com os clientes;
 Achamos imperioso que se regule, com urgência, de forma exaustiva os
contratos electrónicos em Angola para melhor salvaguardar os interesses dos
intervenientes desse tipo contratual.
Índice

Sumário
Resumo ............................................................................................................................... 1
Introdução ........................................................................................................................... 2
1. Conceito dos Contratos em Geral ................................................................................... 3
1.2. Conceito de Contratos Electrónicos ......................................................................... 5
2. Características dos Contratos Electrónicos ..................................................................... 7
3. O E-Commerce no Contexto Jurídico Angolano ............................................................ 8
3.1. Requisitos de Validade do Contrato Electrónico no Ordenamento Jurídico Angolano 9
3.1.1. Documentos e Assinaturas Electrónicos: Natureza Jurídica ........................... 12
3.2. Formação dos Contratos Electrónicos: Momento da sua Conclusão ..................... 14
4. O E-Commerce Vs Princípio da Confiança .................................................................. 18
Considerações Finais ........................................................................................................ 20
Bibliografia ....................................................................................................................... 21

Bibliografia
21
CAIAIA, Moses – O Direito Angolano aplicável ao comércio electrónico (I), artigo jurídico disponível em
https://angolaforex.com, (consultado aos 27 de Julho de 2020).

CAIAIA, Moses – O Direito Angolano aplicável ao comércio electrónico (II), artigo jurídico disponível
em https://angolaforex.com, (consultado aos 27 de Julho de 2020).

https://lucasmarinho1991.jusbrasil.com.br/artigos

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol. 3. São Paulo: Saraiva, 2000.

CORREIA, Pupo «DIREITO COMERCIAL», EDIFORUM Edições Jurídicas, Lda, Lisboa, 14ª Edição,
Setembro 2018.

DOS SANTOS, José Luquinda «A PROBLEMÁTICA DO CONTRATO DE PATROCÍNIO DIGITAL


NO CONTEXTO JURÍDICO ANGOLANO», artigo científico, disponível em https://julaw.co.ao/a-
problematica-do-contrato-de-patrocinio-digital-no-contexto-juridico-angolano-jose-luquinda-dos-santos,
consultado aos 19 de Agosto de 2020.

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