Ano A 1 Advento - Natal - Tempo Comum (Inicio) 2013-2014
Ano A 1 Advento - Natal - Tempo Comum (Inicio) 2013-2014
Ano A 1 Advento - Natal - Tempo Comum (Inicio) 2013-2014
Roteiros Homiléticos
do Tempo do Advento — Natal — Tempo Comum
Ano À — São Mateus
Dições CNS?
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar
os seus caminhos (Is 2,3)
12 Edição - 2013
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C748e “O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). Roteiros
Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus. Brasília, Edições
CNBB. 2013.
120 p.:14x21 cm
ISBN: 978-85-7972-293-6
1. Liturgia
2. Advento
3. Natal
CDU: 264.941.4
Cs a COCO LOCAL SC CLEO CCC UEC CLORO OCT UC UEL OC Cenas e st 4 04
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO........... reiterar
INTRODUÇÃO ............esmeeeemeereeeeremeeris
1º DOMINGO DO ADVENTO
1º de dezembro de 2013 .........cceseeseseereseerrerereor
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2º DOMINGO DO ADVENTO
08 de dezembro de 2013
Solenidade da Imaculada Conceição de Maria ..........ccsermmeeeeeeees
4º DOMINGO DO ADVENTO
22 de dezembro de 2013 .........ccee
cerne sereesserens errar ss srenscenado
Mas, “revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez para
conceder-nos, em plenitude, os bens prometidos que hoje vigilantes
esperamos”. Quanto à segunda e definitiva vinda de Cristo, não nos
é dado saber o dia nem a hora. Também não devemos ficar neuroti-
camente esperando esta data. É preciso, sim, aspirar por aquele dia,
com o mesmo suspiro com que um exilado anseia por sua pátria; e,
de outro lado, é preciso paciência e um total abandono à vontade
Daquele que virá. À nossa alegria é, então, fazer sua vontade pela
prática da justiça e do amor solidário.
À oração da Igreja expressa muito bem o espírito do Advento e
do Natal: “Ó Deus de bondade, que vedes o vosso povo esperando
fervoroso o natal do Senhor, dai chegarmos às alegrias da salvação e
celebrá-las com intenso júbilo na solene liturgia” (Oração do dia, 3º
domingo do Advento).
Neste tempo de Advento, somos convidados a viver em profunda
contemplação e admiração, fé e confiança. É tempo de gestação de
novas relações no silêncio do cotidiano da vida. Como José, somos
encarregados de proteger as sementes de vida semeadas no ventre
fecundo de nossas comunidades, nas organizações populares, entre
Os jovens € os pequenos.
1º de dezembro de 2013
Situando-nos brevemente
Neste domingo, iniciamos mais um Ano Litúrgico. Reunindo
desejos, sonhos e utopias da humanidade por profundas transfor-
mações e dias melhores, manifestadas em veementes clamores em
nossos dias, iniciamos o tempo do Advento. Como “memorial da
esperança”, o advento alarga nossa vida para acolher o grande mistério
da encarnação. Na perspectiva do Natal e Epifania do Senhor, como
acontecimentos sempre novos e atuais, vislumbramos vigilantes e
esperançosos, a lenta e paciente chegada de seu Reino e sua manifes-
tação em nossa vida e na história. O Senhor nos garante que, nesta
espera, não seremos desiludidos, como nos lembra a antífona de
entrada deste domingo.
À liturgia abre para nós um tempo favorável de vigilância e con-
versão, de retomada de nossas opções como discípulo/as daquele que
sempre vem e cuja ação é libertadora, consoladora e salvífica.
Acendendo, neste domingo, a primeira vela da coroa do Advento,
somos convidados a aguçar nossa atenção, acordarmos do sono da pas-
sividade para melhor percebermos os sinais da chegada do Reino no
cotidiano e, mais despertos, nos levantarmos da acomodação, do indi-
vidualismo e do consumismo que marcam nosso tempo e nos parali-
sam. Por isso, pedimos, na oração inicial, que o Pai nos conceda ardente
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano À - São Mateus
Recordando a Palavra
Neste dia do Senhor, iniciamos o Ano À, sendo conduzidos pelo
evangelho segundo Mateus,! nome que significa “dom de Deus”,
presente de Deus” para nós. Para compreendermos bem o primeiro
6 » 2 . .
Atualizando a Palavra
Iniciando o ano litúrgico, as leituras já nos apontam para o final: a
vinda do Filho do Homem e nos dão uma luz orientadora para nossa
caminhada até sua chegada. O salmo nos ajuda a compreender quem
é o Senhor que nos mantém na caminhada: “Que Ele não deixe teu pé
vacilar, que teu vigia não cochile! Não! Ele não cochila nem dorme,
o vigia de Israel” Nesta confiança, vamos permanecer vigilantes à
espera do Senhor que vem, a cada dia, ao nosso encontro e de toda
a comunidade. “Acorramos com nossas boas obras ao encontro de
Cristo que vem”, conforme rezamos hoje na oração do dia.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).
08 de dezembro de 2013
Solenidade da Imaculada Conceição de Maria
Situando-nos brevemente
Neste domingo, em pleno Advento, ao nos prepararmos para reviver
o mistério da Salvação em acontecimentos nos quais a graça irrompe
com abundância, celebramos a solenidade da Imaculada Conceição.
Intuição mariológica, mas também eclesiológica e escatológica, no
sentido de que Maria, plasmada pelo Espírito Santo, antecipa o
estado de nova criatura ao qual todos somos chamados.
É uma realidade teológica: o “sim” de Deus à humanidade, na pes-
soa da jovem israelita Maria, a cheia de graça, que, a seguir, consagra-se
com seu “sim”, como digna habitação para a encarnação do Verbo e
serva solidária, por excelência, da humanidade a ser salva. Deus, por
pura bondade e iniciativa sua, preparando a vinda de seu Filho, “pre-
servou a Virgem Maria de toda mácula do pecado, para que, na plenitude
da graça, fosse digna mãe de seu Filho”, entoa o prefácio do Advento Ia.
Em 1854, ao ser proclamada pelo Papa Pio IX Imaculada, liberada
dos estragos do pecado desde sua concepção, Maria nos é apresentada
como a primeira redimida pela Páscoa de Cristo (cf. CIgC, n. 490-493).
Portanto, é uma festa da Igreja que envolve a humanidade no dom
gratuito que Deus faz a Maria, abençoando-nos a todo/as. Nela foi
dado o início de uma Igreja, “sem mancha e sem rugas” (Ef 5,27),
resplandecente de beleza e santidade, revestida “de justiça e salvação,
como a noiva ornada de suas joias”, cantamos na antífona de entrada.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A — São Mateus
Recordando a Palavra
À primeira leitura da festa de hoje é um diálogo entre Deus e as suas
criaturas, mostrando o interesse que Deus tem por cada uma. Deus
chama Adão e lhe pergunta: “Adão, onde estás?” Ele ouvira a voz
de Deus, ficara com medo por estar nu e se escondera. Deus torna a
perguntar: “Quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore
proibida” Adão tira o corpo fora, não admite a própria responsabilidade
e acusa a companheira mulher. Questionada por Deus, a mulher acusa a
serpente e admite que fora enganada. Deus então amaldiçoa a serpente e
estabelece sua derrota, comer pó (cf. Mq 7,17), e sua punição. À astúcia
da serpente volta-se contra ela própria. À mulher e sua descendência
atingirão a serpente na cabeça, correndo o risco de serem atingidos no
calcanhar, em seu ponto vulnerável (tendão de Aquiles). A. Igreja sempre
interpretou este texto como anúncio da vitória do Messias, nascido de
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). R
uma mulher, sobre todo mal e a própria morte. A Vulgata traduz esta
passagem como “ela, a Mulher te esmagará a cabeça.” A mãe do Messias
tem um papel muito importante na história da salvação.
No evangelho de Lucas, a anunciação do nascimento de Jesus não é
feita ao pai, mas à mãe, mocinha virgem. No Antigo Testamento, o anún-
cio é sempre feito ao pai e a dificuldade a ser rompida é a esterilidade da
mãe já idosa. À anunciação a Maria não é a resposta de Deus ao pedido
de alguém, mas pura iniciativa divina. Chama a atenção também o local
onde ocorre o anúncio: Galileia, lugar sem valor, “da Galileia não surge
profeta” (Jo 7,52), longe de Jerusalém, onde ocorrera o anúncio a Zaca-
rias do nascimento de João; em Nazaré, de onde “nada de bom pode vir”
(cf. Jo 1,46). Deus envia Gabriel a Nazaré da Galileia para levar uma men-
sagem à jovem Maria que estava noiva de José: “Alegra-te, cheia de graça!
O Senhor está contigo”. Esta á a Boa Nova da alegria! Maria é a primeira
a ser convidada a acolher Jesus sem medo, sem receio, com confiança e
júbilo. Maria se perturbou e tentava decifrar o sentido da saudação.
Outra novidade é que o nome será dado por ela, a mãe, e não pelo
pai, como no Primeiro Testamento. O menino será chamado Jesus
que significa “o Senhor salva” equivalente a Josué, Isaías, Oseias. São
muitos elementos perturbadores para a jovem Maria que bem conhe-
cia as tradições de seu povo, mas, mesmo assim, se coloca inteira-
mente à disposição de Deus. “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em
mim segundo a tua Palavra”. Deus fecundou a fé e a entrega de Maria.
Maria é coberta pelo Espírito e cheia da glória de Deus como em
Ex 40,34: “A nuvem envolveu a tenda do Encontro, e a glória do Senhor
encheu a Morada.” Em Maria, os pobres proclamam a misericórdia
do Deus que se lembra dos pequenos e vem morar com eles porque os
ama, trazendo-lhes a plenitude da salvação, Jesus, o Messias.
Atualizando a Palavra
À Sagrada Escritura nos apresenta Maria como a crente por excelência,
o modelo de nossa fé. A festa de Maria Imaculada nos traz alegria, apelo
H Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum — Ano A - São Mateus
Damos graças e louvores ao Pai por nos ter dado Maria, modelo
de fé adulta, esclarecida, solidária, de contínua abertura ao amor.
Alimentamo-nos com o corpo de Cristo para sermos, com ele e com
Maria, vencedores do mal e da morte no dia a dia de nossa vida.
Partindo da celebração, somos enviados, como comunidade
cristã, a percorrer, em nosso cotidiano, o caminho que Maria percor-
reu: o caminho do contínuo advento.
15 de dezembro de 2013
Situando-nos brevemente
Ao aguardarmos a vinda de uma pessoa querida e identificando
vários sinais que já confirmam sua chegada, a esperança brilha com
maior força e o empenho de preparação para sua vinda se transforma
em alegria. É o que experimentamos neste terceiro domingo do
Advento, chamado de “domingo da alegria”, ou Gaudete. Somos
tocados por alegre júbilo pela proximidade da vinda do Senhor, já
na antífona de entrada: “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos
digo: alegrai-vos! O Senhor está perto” (cf. Fl 4,4-5). Esta será a tônica
motivadora de toda a celebração.
Aquele que esperamos, o Deus fiel que transforma o deserto em
Jardim, que exerce a justiça a favor dos pobres e oprimidos, se aproxima.
E mais ainda, Ele já está entre nós e com ele preparamos o advento
do seu Reino. Vida plena e feliz para todos, oprimidos libertados em
festa, harmonia e solidariedade entre os povos, natureza preservada, são
sonhos de salvação ainda esperados por nós e alimentados pela nossa fé!
Já próximos do Natal, na terceira semana de preparação, é tempo
de redobrar nossa esperança e, contentes, irmos ao encontro do
Senhor que sempre vem. Nossas velas acesas, agora três, em crescente
brilho, anunciam a certeza de sua chegada. Cada celebração deve ser
um ensaio e uma antecipação do Reino.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).
Recordando a Palavra
No evangelho de hoje, Jesus fala sobre João Batista. No início do
cristianismo, em algumas comunidades, houve a preocupação sobre
o lugar de João Batista com referência a Jesus. À perícope deste
domingo reflete essa preocupação. Podemos dividi-la em duas
partes: Na primeira parte os discípulos de João, que já está na prisão
de Herodes, vão perguntar a Jesus sobre sua identidade: “És tuo que
devia vir, ou devemos esperar outro?” Jesus responde, definindo sua
identidade messiânica: “Informem a João sobre o que vocês ouvem e
veem: cegos recobram a visão, coxos caminham, leprosos são purifi-
cados, surdos ouvem, mortos ressuscitam, os pobres recebem a boa
notícia e feliz quem não tropeça por minha causa” Nesta identifi-
cação do Messias, ressoa a profecia de Isaías 35,5-6 e 61,1.
Na segunda parte do trecho de Mateus, Jesus esclarece à multi-
dão sobre a missão de João: O que foram contemplar no deserto? Uma
taquara fininha, delgada, agitada pelo vento? Um homem com roupas
finas e ricas? Quem se veste assim mora em palácio. Mas o que foram
ver? Um profeta? Sim, e alguém que é mais do que profeta. Dele é que
está escrito na Sagrada Escritura: Eis que envio o meu mensageiro à tua
frente para preparar o teu caminho diante de ti. Jesus encerra dizendo
que, de todos os que nasceram, nenhum homem é maior do que João
Batista. Porém, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele. As
palavras das profecias confirmam a missão de Jesus.
À primeira leitura é do primeiro Isaías, profeta que atua entre
740-700 a.C. cujos ensinamentos e oráculos encontram-se nos capí-
tulos 1-39 de Isaías. Portanto hoje ouvimos o primeiro Isaías que
mostra que a classe dominante assumiu o culto da religião assíria
e é infiel à Aliança com Deus. À começar pelo rei, vivem sem fé,
ã Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum — Ano A — São Mateus
causa das desgraças que estão para cair sobre vós.” Repete assim, o
grito dos profetas: Is 5,8-10; Jr 5,26-30; Am 2,6-7; 8,4-8. O tesouro
dos ricos, já reduzido a nada pelos vermes e a ferrugem (cf. Mt 6,19)
vai testemunhar contra eles no final dos tempos. Nas comunidades
primitivas, esperava-se que o Senhor voltasse em breve para o julga-
mento final e definitivo.
Nos versículos 7 a 11, sua exortação abre-se para um horizonte
escatológico e Tiago pede que se tenha paciência, porque o Senhor
está próximo. Paciência, como a de quem coloca uma semente na terra
e fica à espera da planta que virá e dos frutos que ela vai produzir
sem impacientar-se com a demora. Paciência, constância, firmeza no
tempo de provação que antecede a vinda do Reino. Paciência laboriosa
no tempo que prepara a Parusia, a segunda presença/vinda do Messias,
segundo Advento do Senhor que proclamamos em nossa liturgia.
Tiago propõe Jó como modelo de paciência. É a única vez que
Jó é citado no Segundo Testamento. Esse exemplo é conhecido no
judaísmo e a comunidade de Tiago é composta de cristãos vindos do
judaísmo. O Senhor é rico em misericórdia, benevolente e compassivo
como foi com Jó (cf Ex 34,6; Sl 86,15; Sl 103(102),8; Sl 111(110),4).
Esses são atributos litúrgicos de Deus.
Atualizando a Palavra
O Senhor não demora! Alegrai-vos! Deus quer renovar conosco sua
aliança e nos promete novo vigor. Quer transformar nosso sofrimento
e nosso choro em prazer e alegria, fazendo-nos já apreciar um
“o » . . ,
«
aperitivo” da realidade nova que desejamos para nós e para o mundo.
Por isso, ele mesmo vem para nos erguer de todo tipo de acomodação
e desânimo, vem fortalecer as mãos enfraquecidas e os joelhos cansados,
vem animar nossa esperança. Daí vem nossa alegria!
Apesar da pobreza, corrupção, exclusão de tantos, das guerras, o
tempo do Advento desperta nossa esperança e nos chama a viver na
alegria e na perseverança cotidiana. Qual é nossa esperança?
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal —- Tempo Comum — Ano À - São Mateus
João Batista, mesmo preso e prestes a ser martirizado, envia dois dis-
cípulos para ouvirem de Jesus os motivos para manter viva a sua esperança:
“Você é o Messias?” À resposta são testemunhos da pessoa, das obras, do
jeito de ser de Jesus com relação ao povo mais espezinhado e abandonado.
Tudo o que ele é e faz consiste em dar a vida. Ele é o Messias que está entre
nós. À esperança se cumpriu. O Reino de Deus por ele trazido se destina
preferencialmente aos pobres e, através deles, a toda a pessoa. Os gestos
de amor ao próximo alimentam a esperança da chegada final do Senhor.
O amor, a entrega da vida podem ser vistos, apalpados, testemunha-
dos, porque são concretos: fazer ver, andar, ouvir, curar as mãos e joelhos
enfermos. Jesus fez as obras do amor sem limite e nos deu a missão de
continuar fazendo o mesmo. Hoje nossos gestos de solidariedade diante
da fome e da pobreza devem comunicar que o Reino está em nosso meio.
À esperança nos dá alegria confiante. À esperança fundamenta
nossa firmeza permanente e a certeza de que Deus vencerá o mal,
que ainda persiste na humanidade. À esperança se manifesta na cele-
bração, expressão comunitária de nossa alegria e confiança.
22 de dezembro de 2013
“EIS QUE A VIRGEM CONCEBERÁ E DARÁ À LUZ UM FILHO. ELE SERÁ CHAMADO
PELO NOME DE EMANUEL...”
Situando-nos brevemente
Neste domingo, o último do Advento, chegando ao ponto alto de
nossa espera, despontam para nós os lampejos de um novo amanhecer,
anunciando a chegada do Sol da justiça, o Emanuel, o Deus conosco.
Ele é a manifestação do segredo escondido em Deus, há séculos: a
salvação, a vida plena e feliz para toda a humanidade.
À antífona de entrada, inspirada no Salmo 45,8, evoca a descida
do orvalho celeste que faz brotar da terra, a salvação. É um vivo sinal do
maravilhoso encontro do divino e do humano em Jesus de Nazaré
que a liturgia de hoje evidencia.
O acendimento das quatro velas nos confirma a chegada plena
da luz no seio bendito de Maria, grávida pelo Espírito Santo e na fiel
obediência de José, o homem justo. Ambos, modelos do Advento,
vivem ardente espera do Salvador em meio à obscuridade da fé e às
ambiguidades e provas da frágil condição humana.
Mesmo na alucinação das compras natalinas, aturdidos pelos
anúncios de um Natal esvaziado pelo consumismo e devotados ao
ídolo mercantilista e tirano do dinheiro, a humanidade e todo o
universo clamam esperançosos pelo Reino e se enternecem diante
da simplicidade, da gratuidade, de relações verdadeiras, do serviço
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). RB
Recordando a Palavra
O evangelho de Mateus se inicia com a genealogia de Jesus. Genealogia
é um gênero literário para apresentar uma personalidade importante. A
partir do versículo 18, procura explicar como Jesus, nascido de maneira
misteriosa de Maria, toma parte da linhagem de Davi e Abraão, através
de José, que o adota como filho. O fato do nascimento legal de Jesus,
afirmado pela genealogia, é o tema da narrativa evangélica. José, que é
da família de Davi, recebe Jesus em sua linhagem.
Antes mesmo de levarem uma vida em comum, os jovens que
se comprometeram ao casamento são considerados esposos; somente
um repúdio legal poderia desligá-los do compromisso. Devido à gra-
videz misteriosa de Maria, José se decide pelo repúdio, mas quer
fazê-lo secretamente. À lei não prevê tal atitude, pois a carta de
divórcio devolve à mulher o direito de se casar novamente. Então,
por que José é considerado justo? Será que José é considerado justo
por cumprir a lei que autoriza o divórcio em caso de adultério? Ou
por mostrar-se indulgente? Como usar a justiça com uma inocente?
Ou por não querer ser pai de um filho que não é seu, em uma cultura
que valoriza muito a paternidade? Nenhum texto do Primeiro Testa-
mento prevê um repúdio secreto. Para ser legal, tinha que ser auten-
ticado por um certificado oficial (cf. Dt 24,1). Em sonho, Deus se
revela a José, o ajuda a compreender os acontecimentos e lhe dá uma
missão: dar o nome de Jesus (Deus salva) ao menino. Embora Maria
esteja grávida do Espírito Santo, cabe a José cooperar, conferindo ao
menino a filiação davídica, para que se cumpram as Escrituras.
Mateus apoia-se na profecia de Isaías que ouvimos na primeira
leitura. Através de Isaías, o Senhor oferece ao rei um sinal: “Eis que
uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe dará o nome de
H Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus
Atualizando a Palavra
“Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o
nome de Emanuel.” Este domingo é de fato, uma festa de Maria. À
oração do dia de hoje tornou-se a conclusão da oração do “Angelus”.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). RB
D: Que elas acompanhem sempre estas novas vidas com o seu amor mater-
nal. T: Amém.
Situando-nos brevemente
Natal é o mistério, sacramento da humanização de Deus e da divini-
zação humana, Festa da fidelidade e da ternura de Deus para conosco.
O Verbo, a Palavra eterna, a Sabedoria, a mais fiel comunicação do
Pai, o Filho amado se faz pequenina e frágil criança, filho de um
casal de pobres, provindo de um recanto não importante do mundo,
para “realizar o direito e a justiça”.
Não simples comemoração do aniversário de Jesus, mas a reali-
zação da promessa de Deus de fazer uma aliança eterna de amor com
toda a humanidade e de restabelecer o seu Reino no mundo. Com a
encarnação, afirma o Concílio Vaticano II, o Filho de Deus uniu-se,
de certa maneira, a toda a humanidade (cf. GS, n. 22) e mais ainda
atingiu todo o universo (cf. GS, n. 38). Iniciou-se, portanto, o miste-
rioso processo de renovação e unificação de toda a humanidade e do
cosmos com Cristo.
Recordando o nascimento de Jesus em Belém, pobre entre os
pobres, junto com Maria e José, com os pastores de ontem e de hoje,
“O Senhor nos vai mostrar a sua estracla e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).
Recordando a Palavra
O Evangelho de hoje não é uma simples narração histórica, mas uma
catequese, uma releitura teológica da infância de Jesus sob a luz de
sua paixão, morte e ressurreição.
Lucas situa historicamente a ida de Maria e José a Belém e o
nascimento de Jesus na pobreza, na época de César Augusto, impera-
dor romano. À viagem foi motivada pelo recadastramento ordenado
pelo imperador a fim de arrecadar impostos injustos da população.
O nascimento de Jesus, nesse tempo e lugar, revela que a salvação
não vem dos poderosos, mas de um pobre, filho de marginalizados
e explorados.
José e Maria vêm de Nazaré, na Galileia, para Belém, cidade
de Davi, na Judeia, para se recensearem, porque eram da casa e da
família de Davi. Maria estava nos últimos dias de sua gravidez e aí se
completaram os dias para o parto. Ela deu à luz ao filho primogênito,
envolveu-o com faixas e colocou-o numa manjedoura, porque não
havia lugar para eles “na sala”, palavra que, em geral, é traduzida por
hospedaria. Lucas, porém, usa a mesma palavra que usou em 22,11,
indicando a sala onde se daria a última ceia. Seria uma sala de estar
em uma habitação. No contexto do nascimento de Jesus, o local devia
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus
Atualizando a Palavra
Jesus nasce entre pobres, migrantes, pastores; encarna-se na realidade
dos que sofrem. Deus entra em nossa história através de uma mulher
marginalizada.
Hoje é dia de Boa Notícia! Deus fiel é solidário com a huma-
nidade e a humanidade pode tomar novo rumo. À glória de Deus é
que a humanidade toda viva, é ação concreta repercutindo na Terra,
trazendo a paz para todos.
Esta noite nos conduz às fontes de nossa fé. Noite de luzes, cores,
cheiros, sons, cantos e diálogos. Jesus nasceu em Belém, casa do pão,
e foi rodeado por pobres, pastores, animais... Na marginalidade, o
Filho de Deus tornou-se um de nós, fez-se criança, entrou na His-
tória da humanidade e no mundo criado... À Palavra de Deus fez-
-se gente pequena, em um lugar pequeno, entre pequenos, para ser
o Emanuel, Deus conosco para sempre. Nasce Jesus, insignificante
ante os olhos da força cínica de Herodes e força endeusada do impe-
rador de Roma; reconhecido apenas pelos que não tinham poder na
terra, mas que estavam atentos aos sinais de Deus.
4 Missal Dominical — Missal da assembleia cristã. São Paulo: Paulus, 1995. p. 80.
a Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus
5 PAGOLA, José Antônio. O Caminho aberto por Jesus: João/ Tradução de Lúcia Mathilde
Endlich Orth. - Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. P. 18-19.
FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA
28 de dezembro de 2013
Situando-nos brevemente
É bastante recente a origem da festa da sagrada família. Bento XV
determinou sua celebração a toda a Igreja em 1921, fixando-lhe o domingo
dentro da oitava da Epifania. No entanto, com a reforma do calendário
romano, passou a ser celebrada no domingo dentro da oitava do Natal,
deixando a data anterior para a festa do Batismo do Senhor. Caso não
haja domingo dentro da oitava, celebra-se no dia 30 de dezembro.
O sentido desta festa afina-se com o sentido teológico do Natal/
Epifania, ou seja, é manifestação do Senhor, na realidade familiar,
como consequência de sua encarnação: veio para fazer parte da famí-
lia humana, vivendo na obediência e no trabalho de uma família con-
creta, com todas as suas tensões e contingências, alegrias e dramas. A
família de Nazaré, única e irrepetível, é indicada como modelo para
qualquer família cristã.
Na perspectiva da encarnação, o mundo e a humanidade tor-
nam-se também a família sagrada de Deus, lugar de comunhão e de
fraternidade universal.
Celebrando a Sagrada Família, valorizamos a vida de nossas
famílias com suas alegrias e sofrimentos, conquistas e conflitos,
como santuário da vida, lugar privilegiado da vivência da gratui-
dade, do amor, do perdão, do exercício de relações verdadeiras, da
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).
Recordando a Palavra
O evangelho de Mateus apresenta José como o pai em sua missão de
salvar a família. Ele enfrenta graves problemas e, com presteza, ainda
durante a noite, os resolve, executando as ordens divinas. José e sua
família, perseguidos e fugindo da morte, vão para o Egito. Assim
agindo estão refazendo a caminhada do povo de Deus. Cumprindo
as Escrituras, pai e mãe levam o filho a realizar o mesmo destino de
Moisés (cf. Ex 2,1-9). O Egito foi o tradicional lugar de refúgio e asilo
do povo (cf. 1Rs 11,40; Jr 43). Chama a nossa atenção a ordem em
que são colocadas as personagens: “pega o menino e a mãe”, “pegou
o menino e a mãe”, “toma o menino e a mãe”; “Levantou-se, pegou o
menino e a mãe e se dirigiu para Israel.” Mesmo que o menino não
fosse o Messias, a defesa do inocente, do pequenino, do indefeso está
em primeiro lugar. Também nos alerta a atenção que esta família
dedica à Palavra de Deus — um sonho é acolhido como uma ordem
de Deus — e a atenção à palavra profética: Oseias 11,1 — “Do Egito
chamei o meu filho” Conforme o evangelho de Mateus, Jesus é o
novo Moisés que salva seu povo.
À primeira leitura trata das relações familiares e traz uma explica-
ção de Ex 20,12 e Dt 5,16: “Honra teu pai e tua mãe, como o Senhor
teu Deus te ordenou, para que vivas por longos anos e sejas feliz na
terra que o Senhor teu Deus te dará...” O Eclesiástico enumera alguns
aspectos da relação entre pais e filhos que Deus recebe como feitos a si:
honrar, consolar, socorrer, não entristecer, ter piedade, compadecer-se
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus
Atualizando a Palavra
À palavra de Deus nos convida à transformação das relações pessoais,
familiares, comunitárias, sociais e cósmicas. À família está inserida
no contexto sociopolítico-econômico-ecológico, assim os problemas
sociais, políticos, econômicos, ambientais a atingem e recaem sobre ela.
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).
1º de janeiro de 2014
Situando-nos brevemente
Celebrando hoje, oitava do Natal, a Solenidade de Santa Maria, Mãe
de Deus, recordamos o dia em que o Menino recebeu o nome de Jesus,
que quer dizer “só Deus salva” e Senhor da Paz. O significado de seu
nome nos introduz no mistério do Cristo: da encarnação ao nascimento,
à circuncisão, até a realização pascal da morte e ressurreição. Ele é dom
de salvação e paz para todos. Em seu nome somos salvos!
Neste “Dia Mundial da PAZ”, iniciando um novo ano, no
mundo inteiro, a paz é desejada, suplicada como sinal da bênção e
da proteção permanente de Deus. É, em nome de Jesus, a pleni-
tude da bênção, que invocamos toda sorte de bênção para o novo ano
que começa.
Fazemos isto junto com Maria, que participou do mistério da
vinda do Salvador, Jesus Cristo, que nasceu humano através dela,
como a maior bênção de Deus para toda a humanidade.
Com os irmãos orientais, também honramos “Maria sempre
Virgem, solenemente proclamada santíssima Mãe de Deus, pelo
Concílio de Efeso, para que Cristo fosse reconhecido, em sentido
verdadeiro e próprio, Filho de Deus e Filho do homem.” (UR, n. 15)
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).
Recordando a Palavra
Iniciamos o ano com Maria, mãe de Jesus, aquela que conservava
cuidadosamente todos os acontecimentos de salvação em seu coração,
meditando-os. Os pastores vão visitar o menino nascido em Belém e
contam tudo o que ouviram do Anjo sobre ele. Todos ficam maravi-
lhados e os pastores voltam glorificando e louvando Deus por causa
do que viram e ouviram.
No oitavo dia, levaram o menino para circuncidar e lhe deram o
nome de Jesus, conforme o anjo o chamou antes de ser concebido no
seio de Maria. Lucas salienta o rito da imposição do nome que indica
a função que a pessoa desenvolveria no meio do Povo da Aliança. O
nome hebraico que o menino recebe significa “O Senhor é salvação”,
“Deus salva”. À circuncisão (Gn 17,2-17; Lv 12,3) é sinal da promessa,
da aliança e tornou-se lei para Israel: “Assim trareis em vossa carne o
sinal de minha aliança para sempre” (Gn 17,13b). É o rito mediante o
qual o menino começava a fazer parte do povo eleito. Jesus nasce sob
a lei, mas não é a lei que salva. Seu nome diz quem é o salvador.
Para o povo israelita e todo povo semita, a bênção tem força para
produzir a salvação. Em Nm 6, Deus fala a Moisés para que transmita
as palavras de bênção a Aarão e seus filhos. Eles são encarregados de
abençoar os filhos de Israel. Essa missão passa aos sacerdotes, ao rei e
Roteiros Homiléticos do Tempo do Aclvento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus
aos levitas que abençoavam o povo na festa do Ano Novo (Yom Kipur),
invocando três vezes o nome do Senhor. À bênção se fundamenta na
crença na força e na eficácia da palavra. À imposição do nome do Deus
da Aliança era atualização da própria Aliança, com suas promessas e
exigências, realizando a própria vinda de Deus com o dom da salvação.
Para o israelita, o nome significa a presença da própria pessoa.
À bênção é de uso litúrgico e se assemelha à linguagem dos sal-
mos. Três vezes o nome do Senhor é invocado. O bem que se pede é
a paz (shalom). Esse dom se concretiza pelas três fórmulas de augúrio
que acompanham o nome de Deus, exprimindo: a) (v.24) a bênção
e a proteção: a bênção é fonte de vida e a proteção traz segurança; o
Senhor é teu vigia; b) (v.25) a graça e a amizade: presença amiga de
Deus que mostra um rosto sorridente e luminoso; c) (v.26) o aco-
lhimento e o dom da felicidade: Deus mostra o rosto para um olhar
benevolente e acolhedor; e oferece seu shalom, a paz que é o estado de
felicidade plena e bem total.
No evangelho, o nome “Deus que salva” foi dado a Jesus. Ele é a
bênção do Deus que salva a humanidade.
“Que Deus nos dê a sua graça e a sua bênção.” O Salmo 67(66)
é ação de graças coletiva. É uma variação ampliada, um comentário
da bênção canônica de Nm 6,24-26. O povo agradece a Deus após a
festa da colheita, e reconhece que ele é o Senhor do mundo. Deus é o
Deus da Aliança para todos os povos da terra. Ele julga a terra com
justiça e retidão e nos dá sua bênção, fazendo a terra produzir frutos
e sua salvação chegar a todas as nações.
À carta aos gálatas nos diz que o Filho de Maria nos resgata da
lei e nos torna filhos. À maior bênção de Deus Pai é seu filho Jesus,
nascido de Maria, na plenitude do tempo messiânico, coroamento
da esperança longamente guardada pelo povo. Nasceu submisso à
Lei, como sua mãe, para que nos tornássemos filhos do mesmo Pai.
Tornando-nos filhos, Deus enviou-nos o Espírito de seu Filho para
que possamos clamar ao Senhor, como Jesus fez: 4bba! Paizinho!
Não somos escravos, mas filhas, filhos e herdeiras/os. Graças a Deus!
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). BR
Atualizando a Palavra
Ão celebrar a festa de Maria, ouvimos a Palavra de Deus que anuncia
nossa filiação divina, nos manda abençoar todo o povo e aprender
dos pobres que encontram, na simplicidade de Maria, em José e no
recém-nascido, a Salvação vinda de Deus.
Os pobres estariam na “plenitude dos tempos”, mais bem dispostos a
acolher o Filho de Deus, nascido de uma mulher? Em nossa experiência
de fé na América Latina, descobrimos que os pobres nos evangelizam.
Em muitas etapas da história do cristianismo, a fé popular foi mantida
porque mulheres e homens pobres continuaram sabiamente anunciando
a salvação gratuitamente oferecida a nós. Hoje ainda são os mais pobres
e simples que mantêm e anunciam a fidelidade à Palavra de Deus.
Deus santificou em Maria a maternidade, quando o Filho assu-
miu a humanidade. Deus experimentou a realidade íntima da mater-
nidade na criação de tudo o que existe e de forma especial ao enviar o
Messias Jesus. À maternidade é capaz de receber Deus. Deus conhece
por dentro o mistério da maternidade.
Maria é imagem da comunidade-mãe que medita e interioriza o
mistério pascal. É essa a nossa mãe. Fomos educados por ela e cui-
dadosamente também guardamos a datar (acontecimento) de Deus
como parte de nossa vida como ela guardava? Temos, diariamente,
algum tempo de meditação que torne nosso coração despojado, fiel e
comprometido com o plano da salvação?
O evangelho que ouvimos salienta mais a imposição do nome a
Jesus, que o rito da própria circuncisão. O nome indicava a função que
a pessoa iria desenvolver no meio do Povo da Aliança. Conforme a lei,
devido à sua circuncisão no oitavo dia, Jesus é integrado à comunidade
judaica. Torna-se cidadão, política, social e religiosamente; verdadeiro
representante da humanidade. Como pertence a um povo, pode ser seu
representante. Deus escolhe seu nome e seus pais assumem a vontade
do Pai Eterno. Jesus é o realizador da salvação e quem o segue torna-se
herdeiro desse nome, recebendo também a missão de dedicar a vida à
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus
salvação de tudo o que está perdido. Deus não nos ama abstratamente,
mas através de pessoas, comunidades e situações concretas.
Como Jesus, podemos ser bênção de Deus que salva? Come-
çando este ano vamos nos comprometer em restabelecer a tradição
judaica da bênção entre nós. Em muitas famílias ainda há essa cul-
tura preservada com muita seriedade e fé. A bênção é sempre de
Deus que nos guarda, nos ilumina, que é bondoso conosco, que nos
mostra sua face de Pai e nos dá a paz. Podemos ser portadores desses
dons em nome do próprio Deus. À paz cultivada e desejada abrange
todos os bens e dons, abundantemente derramados sobre todos nós.
Somos filhos e herdeiros de Deus; não somos escravos, e podemos
clamar como Jesus: “4bba! Pai!” Chamamos Deus de Pai e vivemos
como filhos. Reconheçamos, então, que não somos filhos únicos, mas
temos irmãs e irmãos que, como nós, precisam da bênção e da paz.
Maria, portadora de Deus, é exemplo da comunidade cristã que
aceita a boa-nova. Ela é modelo de quem acredita na vida, vencendo
a morte e a escravidão, destruindo o medo e as inseguranças. São os
pobres que acolhem Jesus nos braços de Maria. Aceitamos o projeto
de Deus que nos vem dos pobres e excluídos?
6 GUIMARÃES, M.& CARPANEDO, P. Dia do Senhor, Ciclo do Natal, ABC. São Paulo:
Apostolado Litúrgico & Paulinas, 2002 (Coleção Liturgia no caminho. Série Dominical e
Santoral).176.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). EB
5 de janeiro de 2014
Situando-nos brevemente
A manifestação do Salvador em nossa terra, em nossa realidade
humana, atingindo a todos sem discriminação é o grande mistério
que, sob diferentes aspectos, Natal e Epifania celebram.
No Natal, celebramos a encarnação do Filho de Deus e seu
nascimento no meio do seu povo. À Epifania, realçando a cami-
nhada dos magos guiados pela estrela, faz cair possíveis barreiras
e monopólios, confirmando a manifestação de Jesus Salvador e seu
Reino a todos os povos e nações. À antífona de entrada, inspirada em
M13,1 e em 1Cr 19,11-12 abre a celebração de hoje, nos introduzindo
na atmosfera deste mistério: “Eis que veio o Senhor dos senhores, em suas
mãos, o poder e a realeza.”
Tendo a Páscoa como núcleo central do ano litúrgico, neste dia,
após o evangelho, é feito solenemente o anúncio das festas pascais.
À páscoa de Jesus Cristo, que celebramos na Epifania, manifesta-
-se na busca espiritual que hoje se espalha por todo o mundo, na luta
pela paz, pela unidade e comunhão, pela preservação de terra. Como
peregrinos na fé, nos unimos com toda a humanidade que enfrenta o
cansaço do caminho e vive a busca contínua de um sentido para a vida
No Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus
Recordando a Palavra
O evangelho de hoje narra a visita dos magos do oriente a uma casa
onde se encontram Jesus e sua mãe. Herodes Magno é rei da Judeia.
Por ser estrangeiro, é visto como ilegítimo por parte da população.
Para ele, Jesus é um rival perigoso que deve ser eliminado. Contras-
tando com Herodes estão os magos do oriente. Rejeitado por Herodes
e seu povo, Jesus é aceito pelos pagãos representados pelos magos, que
provavelmente são sábios, sacerdotes persas, mágicos, astrólogos da
região do atual Iraque, antiga Babilônia. Importante é que eles eram
conhecedores das tradições judaicas. Chegam a Jerusalém, pergun-
tando pelo rei dos judeus recém-nascido, pois viram sua estrela e
vieram homenageá-lo. Herodes tremeu e, com ele, toda a Jerusalém
ligada ao poder. Ele conhecia a esperança messiânica do povo e a
temia como ameaça a seu poder político.
Sumos sacerdotes e doutores foram indagados sobre onde deve-
ria nascer o Messias. Eles citam o profeta Miqueias 5,1: “Mas tu,
Belém de Efrata, pequenina entre as aldeias de Judá, de ti é que sairá para
mim aquele que há de ser o governante de Israel.” À profecia de Miqueias
opõe a humilde aldeia de Belém à capital, Jerusalém.
O rei Herodes se informa sobre o tempo em que havia aparecido
o astro, recomendando que os magos lhe enviassem informações para
que também ele pudesse homenagear a criança. Os magos partiram e
a estrela os conduzia, motivo de imensa alegria. Entraram em casa e
viram o menino com a mãe Maria. Não é uma gruta, ou sala de pere-
grinos, ou um dormitório. É uma casa. Não se menciona José. Na
tradição bíblica, a mãe do rei ou do herdeiro tem papel importante
(cf. Sl 45,10). Os magos prostraram-se, homenagearam a criança e
lhe ofereceram ouro, incenso e mirra, reconhecendo sua dignidade
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). R
como rei, Filho de Deus e ser humano. Avisados para não retorna-
rem a Jerusalém, voltaram para o oriente por outro caminho, impe-
dindo os planos de Herodes.
O evangelho mostra o sentido universal do nascimento de Jesus.
Ele é o Rei-Messias, salvador anunciado pelos profetas do Primeiro
Testamento. Este texto opõe Herodes a Jesus Menino. Para Hero-
des, Jesus é um rival perigoso, a ser eliminado por ser o anunciado
descendente do Rei Davi. À astúcia de Herodes é vencida pela luz da
estrela e pela fidelidade dos três estrangeiros.
Atualizando a Palavra
O mistério de Deus, seu plano salvífico manifestou-se plenamente,
em Cristo, a toda humanidade. Mistério não significa enigma ou
problema insolúvel. É uma realidade que nos envolve e, por isso, escapa
à nossa compreensão total. À Epifania, como mistério, nos atinge,
fazendo desaparecer todos os nossos fechamentos e individualismos,
afirmando que Jesus veio para todos os povos e todos os tempos.
São Paulo nos fala daquilo que agora foi dado a conhecer em
Cristo: todos chamados a ser discípulos de Jesus, todos podem parti-
cipar da herança, devem formar o mesmo corpo, participar da mesma
promessa. Isto é Epifania! A manifestação total de nosso Deus em
Jesus, o Messias. Faz-nos sentir caminheiros na fé, junto com toda a
humanidade que enfrenta os dissabores da caminhada. À fé não é um
assunto particular, mas leva à comunicação e à vivência comunitária,
na busca contínua de um sentido para a vida e suas contradições.
À estrela indica um caminho alternativo, um caminho que não
passa pelo conhecimento dos grandes, nem pelos palácios, mas pelo
“O Senhor nos vai mostrar a sua estracla e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).
4 Cristo que era, que é e que há de vir, Senhor do tempo e da história, louvor
e glória pelos séculos dos séculos. Amém.
No final, canta-se uma aclamação a Cristo: Cristo ontem, Cristo hoje,
Cristo para sempre Amém! (ou outra semelhante)
12 de janeiro de 2014
Situando-nos brevemente
Finalizando o tempo de Natal e entrando no cotidiano do ano
litúrgico, recordamos, neste domingo, o dia em que Jesus foi batizado
no Jordão, revelando para nós, um outro aspecto de sua encarnação,
de sua epifania: a manifestação pública de sua adesão ao Pai e à
missão que lhe foi confiada, como Filho amado e fiel.
Nas Igrejas orientais, é uma das maiores festas do ano, com bên-
ção das águas, batismo dos adultos e muitos elementos de uma vigília
pascal. Isso pode nos ajudar a redescobrir o sentido dessa festa.
Conforme o relato de Mateus, Jesus assume o batismo de conver-
são para realizar “toda a justiça”, toda a vontade do Pai, que é, antes
de tudo, levar a boa nova aos pobres, na força do Espírito que repousa
sobre ele. Expressa toda sua disposição de mergulhar, assumindo pro-
fundamente nossa humanidade, num inacreditável ato de solidariedade
que o leva até a cruz. É o sinal profético da arrancada final em direção
à Páscoa: manifestação plena e definitiva de Deus e de seu Espírito, no
serviço à justiça, dando a vida pela libertação da humanidade.
Recordamos, também hoje, o nosso Batismo, pelo qual o Espí-
rito reaviva em nós a mística da solidariedade e da compaixão para
com nossa frágil condição humana e nos engaja, com novo ardor, na
missão de seguidores de Jesus que “passou sua vida fazendo o bem”.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal — Tempo Comum - Ano A — São Mateus
Recordando a Palavra
Jesus vem da Galileia em busca de João Batista para ser batizado por
ele, juntamente e no meio do povo pecador. João se opõe e declara
que ele sim tem necessidade de ser batizado por Jesus. Jesus alerta
sobre a necessidade de que os dois cumpram “toda justiça”. No
evangelho de Mateus, a palavra justiça designa a fidelidade nova e
radical ao projeto de Pai. João Batista e Jesus acolhem e se submetem
ao desígnio do Pai. O significado da justiça em Mateus é revelado
em todo o evangelho. João compreende a resposta de Jesus e ambos
assumem o ministério proposto por Deus.
Após ser batizado por João, Jesus sai imediatamente da água, os
céus se abrem e ele vê o Espírito em forma de pomba, pousando sobre
ele. Do céu veio uma voz dizendo: “Este é o meu Filho amado; nele está
o meu agrado!” O céu, de portas abertas, se une à terra! Presença de
Deus no meio da humanidade! “O céu se abriu”. Acabou-se a distância
entre Deus e suas criaturas. Jesus se tornou o elo de união perene.
Tudo o que Deus faz por seu povo e quer de seu povo tornou-se
manifesto na prática de Jesus.
Jesus recebe o duplo testemunho: do Pai e do Espírito. O Espírito
se manifesta na imagem de uma ave; o Pai, na voz que vem do céu pro-
clamando Jesus como Filho, Messias escolhido e enviado como servo
amado. Em Dt 19,15 — “não se admitirá contra alguém uma testemunha
apenas. À sentença se apoiará na palavra de duas ou três testemunhas. —
baseia-se o testemunho de que Jesus é o Messias enviado pelo Pai.
Jesus dá novo sentido ao rito batismal: o que era sinal de arrepen-
dimento, para Jesus é plenitude de justiça, é confirmação de sua mis-
são. Jesus se solidariza com todos os pecadores para resgatá-los. Con-
tudo, podemos também tomar o batismo de Jesus como uma atitude
de protesto público contra o sonho judaico de um messias triunfante.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). “RB
8 Primeiro cântico do Servo: Isaías 42,1-7, segundo cântico: 49,1-6; terceiro: 50,4-9; quarto:
52,13-53,2.
sh Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum — Ano A — São Mateus
Atualizando a Palavra
Com a festa do Batismo do Senhor encerramos o tempo de Natal.
Saímos dos evangelhos da infância de Jesus e nos colocamos na
vigília de sua vida pública.
Jesus não se comporta como um filho privilegiado de Deus, mas
se coloca na fila dos pecadores para receber o batismo de João Batista.
É solidário com os menores, os pecadores, os últimos. Para entender
a atitude de Jesus, deixemo-nos iluminar por Isaías: o Senhor recebe
o Espírito de Deus para ser luz das nações e o libertador dos oprimi-
dos. Quando João o batiza, Deus o proclama “seu filho” e o Espírito de
Deus torna-se visível sobre ele. No Espírito, Jesus assume sua missão de
enviado. Jesus é o Servo do Senhor Deus por excelência! O dinamismo
de Deus está sobre o filho e tudo o que ele faz é obra de Deus. Jesus é
realizador do projeto do Pai, cumpridor de toda justiça. Jesus cumpre a
encarnação até as últimas consequências: desce onde estão os que deve
salvar. Jesus mergulha mais profundamente em nossa humanidade, para
que, em sua ressurreição, todos nós nos ergamos mais plenificados nele.
O seu batismo consagrou-o na missão de Servo do Senhor. Nele
Deus reafirma a aliança
Ç com toda a humanidade, , sem acepção
Pç de
pessoas.
ste é o meu Filho bem amado, aquele que me aprouve escolher!”
cc
pobreza!”
9 CNBB. PAPA FRANCISCO, mensagens e homilias —- JMJ 2013. Brasília: Ed. CNBB.
2013. p. 29.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).
D- Que esta água, ó Pai, recorde para nós o batismo do Senhor e seu mergu-
lho em nossa humanidade. E teu povo passe da morte para a vida, e acolha
a graça do teu Espírito que manifesta a tua misericórdia, por Cristo, nosso
Senhor!
19 de janeiro de 2014
“MEU DEUS, É ISTO QUE DESEJO, TUA LEI ESTÁ NO FUNDO DO MEU CORAÇÃO.”
Situando-nos brevemente
Este segundo domingo do Tempo Comum liga a festa do batismo
do Senhor ao seu ministério público na Galileia. Ainda em clima
de epifania, o evangelho de João torna-se mais adequado que o
evangelho de Mateus (evangelista do ano À), para iniciar a narração
da vida pública de Jesus. Continua assim o mistério de sua manifes-
tação que terá seu desfecho final na cruz.
Ão recordar o testemunho de João Batista após o batismo no Jordão,
celebramos o mistério da Páscoa de Jesus. João o reconhece e o apre-
senta como o Servo Fiel, o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado
do mundo e que batiza no Espírito para que o mundo seja renovado.
Recordamos a vocação de toda a humanidade de realização
plena. Todos somos chamados para a plenitude! Como discípula de
Jesus, a comunidade cristã é chamada a irradiar a luz de Cristo em
todas as situações e instâncias da vida.
Recordando a Palavra
Os textos do evangelho de João e do profeta Isaías expressam a entrega
total da vida que Jesus faz, reunindo duas imagens. À primeira é a do
Cordeiro pascal (Ex 12,46), quando, no início da primavera, era tomado
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (ls 2,3).
Atualizando a Palavra
Eu disse: “Eis que venho, Senhor, com prazer faço a vossa vontade.”
(cf. S1 39) Nossa missão é participar da missão de Jesus que recebemos
em nosso Batismo na água e no Espírito. O Espírito do Ressuscitado
está sobre nós para colaborarmos com a luta contra todo pecado que
ainda domina a humanidade. Não podemos fechar nossos lábios,
mas levar a todos os lugares as boas novas da justiça de Deus.
Em Cristo, sofrem e salvam, morrem e ressuscitam todos os que
aceitam romper com os ídolos, acabar com o medo e sair da “casa da
escravidão”, porque sabem que a Palavra que os conduz não cessou
de ser eficaz.
Pelo Batismo assumimos nossa missão de seguir Jesus. Isto
amplia nossa missão humana. Como filhos amados do Pai, servos
de Deus, nossa fidelidade consiste em nos empenharmos, de todas
as formas, para tirar o pecado do mundo, lutando contra todas as
espécies de morte, e proclamarmos a vitória da vida, pelo cultivo
constante da reconciliação, da justiça e da paz.
Rezamos em nossas celebrações: “Cordeiro de Deus que tirais o
pecado do mundo, tende piedade de nós e dai-nos a paz.” O pecado
consiste na autoafirmação do ser humano, que se encerra em seu
próprio poder para colocar-se contra Deus e os irmãos. O pecado á
algo que atinge o mais profundo da pessoa, pois vai nos desumani-
zando, pessoalmente, socialmente, até atingir as estruturas sociais e
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). “RB
10 PAGOLA, José Antônio. O Caminho aberto por Jesus: João/ Tradução de Lúcia Mathilde
Endlich Orth. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. p. 33s.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum — Ano A — São Mateus
26 de janeiro de 2014
"O POVO QUE ESTAVA NAS TREVAS VIU UMA GRANDE LUZ, PARA OS HABITANTES
DA REGIÃO SOMBRIA DA MORTE UMA LUZ SURGIU"
Situando-nos brevemente
O mistério pascal, que hoje celebramos, permite-nos acompanhar
Jesus no início de sua missão, na Galileia e sermos chamados à
conversão e à missão.
Junto aos doentes, aos sofredores e aos mais pobres, Jesus anuncia
a chegada do Reino de Deus, chama os primeiros discípulos, cura e
alivia as enfermidades do povo. Na visão de Mateus, ele realiza a pro-
fecia de Isaías, proclamada no Natal — O povo que andava nas trevas
viu uma grande luz — e repetida para nós, hoje, na primeira leitura,
Conhecendo nossa fraquezas e possibilidades, ele renova seu cha-
mado a cada um de nós e nos propõe a conversão ao Reino, para que em
seu Nome, possamos frutificar em boas obras, rezamos na oração inicial.
Recordando a Palavra
Após a provação sofrida no deserto, após João Batista ser preso
na Judeia, Jesus retirou-se para a Galileia, estabelecendo-se em
Cafarnaum, à beira do lago. Esta é a mesma região citada por Isaías,
terra de Zabulon e Neftali, caminho do mar. À mudança de Jesus da
Judeia para a Galileia é explicada à luz das Escrituras pelo evangelho
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus
Atualizando a Palavra
Jesus começa sua missão entre os mais desprezados, os que são
considerados pecadores. À luz que resplandeceu no Natal é para todos,
não apenas para os puros, os eleitos, os melhores. Pelo contrário, a
preferência de Jesus é mesmo para os que são tidos como menores.
Dessa opção, nasce a espiritualidade cristã do seguimento não de
uma doutrina perfeita, mas de uma pessoa e seu projeto, Jesus. Seguir
Jesus é entrar em sua escola, a favor de quem se encontra na periferia
do mundo, como disse o papa Francisco em sua viagem ao Brasil.
Na Bíblia, o mar é sinônimo do mal, da escuridão, algo caótico
e forças contrárias à vida. A missão dos seguidores de Jesus é tirar as
pessoas dessa situação e levá-las para a luz. O chamado de Jesus se
estende até nós. Deixemos com generosidade tudo para entrar nessa
caminhada.
12 CNBB. PAPA FRANCISCO, mensagens e homilias — JMJ 2013. Brasília: Ed. CNBB.
2013. p. 96.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).
02 de fevereiro de 2014
Situando-nos brevemente
Neste domingo, quarenta dias depois do Natal, celebramos o mistério
da Apresentação de Jesus no templo, nos braços de Maria e José.
Esta festa situa-se ainda no contexto do Natal, apresentando outro
aspecto da manifestação do Senhor: humano como nós, nasce de
uma mulher e submisso às tradições da lei.
Esta festa já era celebrada nos finais do século IV, em Jerusalém,
e, mais tarde, foi assumida por toda a Igreja. No século V, com ins-
piração no cântico de Simeão, eram usadas tochas, tornando a cele-
bração mais expressiva: Celebremos o mistério deste dia com lâmpadas
flamejantes, dizia São Cirilo de Alexandria (+ 444). O Missal atual
conserva, com este sentido, o rito inicial da bênção das velas.
Com a reforma do Concílio Vaticano II, a festa que, por muito
tempo tinha o título de “Purificação da Bem aventurada Virgem
Maria”, em conformidade com a prescrição da lei judaica de os pais
apresentarem o filho recém-nascido, quarenta dias após o nasci-
mento, e da purificação de sua mãe, foi mudado para a Apresentação
do Senhor. Fica assim mais evidente que se trata de uma festa do
Senhor, cujo mistério se inscreve na dinâmica da Páscoa.
Contudo, entre nós esta festa mantém ainda um acentuado caráter
mariano, recebendo vários títulos, como: Nossa Senhora das Candeias,
Nossa Senhora da Luz, Candelária, Nossa Senhora de Belém.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).
Recordando a Palavra
Nos antigos tempos históricos, a consagração do primogênito
pode ter sido um sacrifício humano, como nos lembra o sacrifício de
Isaac. Maria apresenta a Deus o filho Jesus. Oferece-o a Deus e sua
oferta é uma renúncia, um sofrimento que a levará aos pés da cruz.
À cruz será a espada que traspassará seu coração de mãe. Este seu
filho primogênito será o memorial cotidiano da libertação da grande
escravidão. Ele não será poupado.
À purificação era um rito destinado somente à mãe (cf. Lv 12,1-8).
À criança devia ser resgatada (cf. Nm 18,15). Lucas registra, cuida-
dosamente, que os pais de Jesus, bem como os pais de João, cumpri-
ram todas as prescrições da Lei. Relatando a apresentação de Jesus ao
Templo, Lucas quer salientar o zelo dos pais em obedecer à missão
que Deus lhes confiou. À narrativa centraliza o primeiro ato cultual
de Jesus na Cidade Santa, lugar do acontecimento pascal.
Todo primogênito devia ser consagrado a Deus, conforme
Ex 13,2: “Consagra-me todo primogênito: todo o primeiro parto
entre os israelitas [...] será meu”. Em Levítico 12,8 lemos que, se a
mãe “não dispuser de recursos suficientes para oferecer um cordeiro,
tomará duas rolas ou dois pombinhos, um para o holocausto e outro
para o sacrifício pelo pecado. O sacerdote fará por ela o rito de expia-
ção e ela ficará purificada”. Maria faz a oferenda dos pobres para ser
purificada da impureza legal advinda do parto.
Lucas se refere a Simeão com expressões próprias para desig-
nar um profeta. O Espírito Santo lhe revelara que veria o Cristo do
Senhor, aquele que o Senhor ungiu para uma missão de salvação.
O Messias que irá instaurar o Reino de Deus. Simeão, tomando o
menino nos braços, entoa um hino de ação de graças, pautado em
Roleiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal — Tempo Comum - Ano A - São Mateus
Atualizando a Palavra
À festa da apresentação do Senhor enche-nos novamente do espírito
natalino. O conjunto desta festa é de alegria, mesmo que uma espada
paire sobre a vida de Maria. É festa de pureza e de luz. É festa que
une o início e a plenitude da vida humana. Festa da família, na qual se
reúnem crianças, jovens, adultos e idosos, cada um com sua preciosa
contribuição para que se realize o projeto de Deus na humanidade.
Ao mesmo tempo, é festa que evoca o mistério de Deus encarnado
em Jesus de Nazaré.
Ão nascer, Jesus se manifestou, em primeiro lugar, aos pastores,
que eram pobres e excluídos. Agora, ao ser apresentado no Templo,
revela-se, em primeiro lugar, não aos levitas nem aos sacerdotes que
executaram os ritos da purificação de Maria e do resgate do Menino,
mas a dois “pobres de Deus”, os anciãos Ana e Simeão. Os dois per-
tenciam aos círculos dos anawim e esperavam a libertação de Israel.
O lugar da nova revelação messiânica não é o campo aberto, a man-
jedoura, entre trabalhadores pobres, mas é o Templo.
O nome “Simeão” significa “escutador”,!º aquele que vive aten-
tamente à escuta dos sinais dos tempos, dos acontecimentos como
Do mesmo modo que a Mãe de Deus e Virgem imaculada trouxe nos braços a
verdadeira luz e a comunicou aos que jaziam nas trevas, assim também nós:
iluminados pelo seu fulgor e trazendo na mão uma luz que brilha diante de
todos, corramos pressurosos ao encontro daquele que é a verdadeira luz.
Chegou a verdadeira luz, “que vindo ao mundo a todos ilumina” (Jo 1,9).
Portanto, irmãos, deixemos que ela nos ilumine, que ela brilhe sobre todos nós.
Que ninguém fique excluído deste esplendor, ninguém insista em continuar
mergulhado na noite. Mas avancemos todos resplandecentes; iluminados por
este fulgor, vamos todos ao seu encontro e, com o velho Simeão, recebamos a
luz clara e eterna. Associemo-nos à sua alegria e cantemos com ele um hino
de ação de graças ao Criador e Pai da luz, que enviou a luz verdadeira e,
afastando todas as trevas, nos fez participantes do seu esplendor.
9 de fevereiro de 2014
Situando-nos brevemente
Neste domingo, fazemos memória de Jesus, o bem-aventurado do Pai,
que deu a vida pela humanidade. Manifesta-se como luz do mundo e
presenteia-nos com o novo sabor e o suave vigor de seu Espírito.
No contexto das bem-aventuranças, o Senhor nos renova na
missão de ser sal da terra e luz do mundo. Ele nos convida a “provar”,
como cristãos, a qualidade de nosso sal e a ver com que obstácu-
los ocultamos a luz do evangelho, numa Igreja e numa sociedade de
tanta desigualdade, competição, discórdia, corrupção e miséria.
“Entrai, inclinai-vos e prostrai-vos: adoremos o Senhor que nos criou,
pois Ele é nosso Deus” já nos inspira, a antífona de entrada, lembrando-
-nos que as obras da luz são frutos de sua ação em nós. Elas não se
baseiam na sabedoria humana, mas no poder amoroso e compassivo
do Senhor.
Recordando a Palavra
No sermão da montanha, Jesus fala com o povo simples e des-
prezado da Galileia. O que ele fala? “Vocês são sal e luz do mundo!”
Aquele povo, “zé ninguém”, aos olhos dos “puros” formado por
pecadores, dá sabor ao mundo sem sentido, insípido e brilha atra-
vés de suas boas obras, para que o mundo reconheça nele a bondade
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).
Atualizando a Palavra
Cristo é luz do mundo! (cf. Jo 8,12) Quem o segue não anda nas trevas!
Será luz também! — essa é nossa missão no mundo! Deus será reconhecido
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal — Tempo Comum - Ano A — São Mateus
através das boas obras de seus filhos e filhas. Aí, porém, surge o perigo
da vaidade, da sede de sucesso, de ofuscar a luz de Deus pelo engano de
achar que temos luz própria. Uma luz boa não ofusca, mas ilumina.
O profeta Isaías nos ensina como deixar a luz de Deus brilhar atra-
vés de nossa vidas: saciar os famintos, ser pessoa acolhedora dos indi-
gentes, lutar e afastar a opressão de nosso mundo, cobrir os que estão
desnudados. Se tivermos olhos iluminados, veremos tantas espécies de
nudez, como nudez de dignidade, de possibilidades, de direitos...
Hoje existe muito brilho e excesso das luzes do luxo e do esban-
jamento, da erudição para enganar, roubar, corromper; muita esper-
teza para prejudicar os outros e se manter na acumulação, na riqueza
e no poder social, ideológico, político e econômico. Esses se colocam
no lugar de Deus. Infelizes os que vivem olhando para esse lado.
Ficarão cegos. Essa luz ofusca a visão.
O cristão é sal. À vivência do evangelho dá “sabor” à vida, ilu-
mina tudo o que acontece, leva à ação. Com sua presença, o cristão
é desafiado a impedir que a humanidade se corrompa. Num mundo
onde cada qual procura o próprio interesse, o cristão é chamado a ser
o sal que dá sabor e que conserva a força do evangelho.
Os cristãos podem fazer o sal perder seu sabor, adocicando o
evangelho. Liram o sabor da mensagem de Jesus, das exigências do
evangelho e as adaptam a uma vida confortável, de bem-estar, de
acumulação de riquezas. Uma vivência cristã medíocre tira o sabor da
mensagem de Jesus, a faz perder seu “gosto” profético.
€ » 24:
Rito do Sal
Apresenta-se o sal. Quem preside reza:
C: Bendito sejas, Deus da vida, pelo sal que dá sabor e conserva os alimen-
tos. Derrama o teu Espírito sobre nós e realiza em nossa vida a palavra
do Senhor de sermos, também nós, sal da terra. Por Cristo, nosso Senhor.
Amémi(distribuir o sal e cada um entrega o sal para outra pessoa, dizendo)
— Você é sal da terra!
(ou canta-se o refrão: Vocês são o sal, o sal tem sabor! Sal da Terra, diz o
Senhor. melodia de: Eu sou a videira, vocês são os ramos...)
C: Bendito sejas, Deus fonte da luz, por teu Filho Jesus Cristo, luz de nossa
vidas, energia de nossas comunidades.
Essa vela pode ser levada para casa e acesa durante a semana, num momento
de oração.
6º DOMINGO DO TEMPO COMUM
16 de fevereiro de 2014
Situando-nos brevemente
Neste domingo, o sexto do Tempo comum, na trilha do evangelista
Mateus, permanecemos na montanha com Jesus, acolhendo como
discípulos, a proposta singular e desafiadora de seu Reino.
Ele nos propõe uma nova maneira de interpretar a lei, a levando
à plenitude e chamando-nos à exigência de sua radicalidade, na prá-
tica da justiça e da misericórdia.
À Páscoa semanal, que hoje celebramos, abraça todas as pessoas
que, com o coração sincero e reto, se comprometem com a justiça, socor-
rem os mais fracos, partilham com generosidade o pão, promovem
o relacionamento fraterno entre as pessoas e acreditam na força do
perdão e da reconciliação.
Feliz quem anda na lei do Senhor, cantamos no salmo de hoje.
Esta é assembleia onde Deus habita, rezamos na oração inicial, a quem
Deus revela a sabedoria de sua lei, pelo seu Espírito.
Recordando a Palavra
Hoje continuamos ouvindo o sermão da montanha, no qual Jesus
ensina o que está na origem do Reino de Deus. Ele não veio abolir
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). |
Atualizando a Palavra
Hoje a Palavra de Deus nos ilumina sobre a relação entre Jesus e a
lei. Sua missão não é abolir nem facilitar, mas libertar do formalismo
e do fundamentalismo. Para Jesus, não basta a observância externa
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).
apenas para “ir para o céu” após a morte. Jesus exige radicalidade. A
Palavra de Deus deve atingir até o mais profundo do ser humano. É
uma procura amorosa da vontade original de Deus que ultrapassa a
simples letra da lei. É necessário ver e ouvir por “trás das palavras”,
encontrando-se pessoalmente com o Espírito da Lei.
Para o cristão ser justo, conforme a exigência de Jesus, não basta
observar preceitos, cumprir mandamentos, é necessário viver e rea-
lizar o bem proposto por Deus em sua Palavra. À letra da lei mata,
mas o Espírito vivifica. Conforme o Salmo 119(118), a lei é uma
luz, um caminho, razão de viver e se sentir interiormente como povo
escolhido de Deus. À lei foi dada para podermos viver e testemunhar
o bem que Deus propõe.
Jesus nos alerta que podemos observar a lei em outro espírito,
que não seja o Espírito de Deus. O espírito que motivava os fariseus
da época se afastava do projeto do Pai, porque não beneficiava os
pobres e pequeninos. Não era espírito de Deus, mas um negócio com
Deus, troca, barganha. Os fariseus tornaram-se donos da lei e ela
passou a ser instrumento de dominação econômica, política e reli-
giosa sobre os demais: “Amarram pesados fardos e impóem-nos aos
ombros dos irmãos, ao passo que eles mesmos se negam a movê-los
com o dedo” (cf. Mt 23,4). Jesus, então, deseja tirar a lei das mãos
de quem oprime em nome de sua observância e devolvê-la a Deus.
O que Deus deseja é a justiça, seu plano amoroso. Procurar a justiça
verdadeira é olhar a vida com amor radical. Então os mandamentos
de Deus significarão muito mais do que a letra diz, e nos levarão à
perfeição de filhas e filhos de Deus.
Cumprir toda justiça é a justiça que inclui lei e profetas. O essen-
cial da lei é a prática da justiça e da misericórdia que ultrapassam a
observância legalista. Jesus toma alguns exemplos para deixar claro
até onde devem ir a justiça e a misericórdia. Vai até a raiz e mostra
que o objetivo da lei é a defesa da vida. Não basta “não matar”, é
necessário construir uma sociedade humana, fraterna e solidária, na
qual a vida plena seja para todos. À lei é “não cometer adultério”, mas
A Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal — Tempo Comum — Ano A — São Mateus
23 de fevereiro de 2014
".. SEDE SANTOS, PORQUE EU, O SENHOR VOSSO DEUS, SOU SANTO.”
"PORTANTO, SEDE PERFEITOS COMO VOSSO PAI CELESTE É PERFEITO!”
Situando-nos brevemente
Como assembleia de irmãos, todos chamados a atingir a estatura
da santidade de Deus, fazendo o bem até aos inimigos, celebramos
o memorial da Páscoa de Jesus. Louvamos a imensa misericórdia
do Pai, que olha compassivo nossa realidade, cheia de fraquezas e
necessidades.
O salmo hoje nos propõe esta atitude que permeia toda a cele-
bração: Bendize, ó minh'alma, ao Senhor, pois ele é bondoso e compas-
sivo... Não te esqueças de nenhum de seus favores... Te perdoa toda culpa...
cura toda a sua enfermidade... Te cerca de carinho e compaixão.
Em Jesus, o Pai nos oferece sua compaixão, dando-nos seu per-
dão, a força da reconciliação que nos leva ao amor incondicional e
guia-nos no caminho da concórdia e da justiça.
Na oração inicial, pedimos que, procurando conhecer sempre o que é
reto, realizemos a vontade de Deus, em nossas palavras e ações.
Recordando a Palavra
Continuamos hoje o evangelho do domingo passado. Jesus, depois de
proclamar as “bem-aventuranças”, as “felicidades”, expõe uma série
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).
Atualizando a Palavra
Hoje, a primeira leitura ajuda a iluminar o evangelho que ouvimos.
O Levítico nos fala da necessidade de sermos santos, porque Deus
é santo. À santidade que Deus exige de nós, não se reduz a práticas
externas da religião, mas ao amor sem limites. Pela Aliança, os
israelitas são de Deus. Pelo Batismo, os cristãos são de Deus. Aqueles
que formam o “povo de Deus” não podem desonrar esse nome, mas
assemelhar-se a ele que é amor e perdão, como nos diz o livro do
Êxodo 34,6-7: “O Senhor, Deus misericordioso e clemente, paciente,
rico em bondade e fiel, que conserva a misericórdia por mil gerações
e perdoa culpas, rebeldias e pecados...” Por isso, é necessário que
sejamos irrepreensíveis.
Jesus, como filho amado do Pai, compreendendo e vivendo a
pertença plena a Deus, explica e exige a santidade de seus seguidores.
À caridade fraterna, o amor aos inimigos devem ser as caracte-
rísticas de quem segue Jesus, o Cristo. No seguimento do Senhor,
não cabem ódio, vinganças, egoísmo, injustiças, violências, guerras,
comércio de armas, competições, incompreensões, divisões. Entre-
tanto, no mundo, vemos acontecer tudo isso entre nações, grupos,
pessoas. Até entre igrejas e dentro das igrejas existem diversos tipos
de inimizades, competições, exploração de pobres e pequenos.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).
“Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu
vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto conhe-
cerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.”
(Jo 13,34-35)
A medida de nosso amor para com o próximo é, pois, o amor
que Cristo tem por nós, a ponto de entregar sua vida. Mais ainda, a
medida é o amor que o Pai tem por Cristo: “Como meu Pai me ama,
assim também eu vos amo”. (Jo 15,9) O amor ao próximo está indis-
soluvelmente ligado ao preceito do amor a Deus.
Realizamos nossa vocação de sermos semelhantes ao nosso Deus,
quando amamos todas as pessoas com o amor gratuito de Deus, sem
busca de retribuição. Por esta razão, nosso empenho maior é amar os
pobres, os estranhos, os diferentes e, o mais difícil, amar os inimigos.
02 de março de 2014
Situando-nos brevemente
Neste oitavo domingo do Tempo Comum, que neste ano antecede
o início da quaresma, ainda no contexto das bem aventuranças,
o Senhor nos propõe romper com o culto ao dinheiro, que é uma
idolatria, e ter confiança em Deus Pai, sempre solícito amorosa-
mente às nossas necessidades e preocupações, para que, disponíveis,
concentremos todas as energias na busca de seu Reino.
A antífona de entrada já nos inspira: O Senhor se tornou o meu
apoio, libertou-me da angústia e me salvou por que me ama. O conjunto
das orações nos ajudam a entrar no espírito deste domingo: confiar no
amor providente do Pai e não ficarmos divididos entre dois senhores.
Em quase todas as regiões do Brasil, acontecem, nestes dias, as
festas de carnaval que revela a carência de festa que existe nas pes-
soas. Para nós, um convite a dar às nossas celebrações um sabor pas-
cal, um clima de festa, de convívio alegre de irmãos que, na liberdade
de filhos e filhas entram na intimidade amorosa do Pai.
Assim, pedimos na oração inicial deste domingo: Fazei, ó Deus,
que os acontecimentos deste mundo decorram na paz que desejais, e vossa
Igreja vos possa servir, alegre e tranquila.
11 s Roteiros Homiléticos do Tempo do Aclvento — Natal - Tempo Comum — Ano A - São Mateus
Recordando a Palavra
Nos capítulos 5 a 7 de Mateus, encontramos o primeiro grande
discurso de Jesus, chamado de “Sermão da Montanha”, ele faz parte
do Gênesis alternativo (Mt 3-7). Trata-se do começo que nos diz o
que vem a ser o Reino, onde ele está e como se constrói. Jesus está
cercado por seus prediletos — os pobres, doentes, marginalizados - e
lhes fala da justiça do Reino que deve ser a prática de suas discípulas
e de seus discípulos. O capítulo 6 começa com Jesus denunciando a
hipocrisia de quem se diz seu seguidor. Depois diz que o Reino exige
decisões radicais, ensina a orar, impõe o desapego das coisas terrenas,
apela para que todo corpo seja luz e termina exigindo serviço exclusivo
ao projeto de Deus. É a Palavra de Deus na liturgia deste domingo.
Jesus é claro com quem o segue: não dá para servir a Deus e ao
dinheiro. O deus do dinheiro e da cobiça é “Mamon”, que se opõe a Deus
verdadeiro, e é todo poder econômico que produz a morte e destrói a vida.
À ganância é uma idolatria. Quem só pensa em acumular não possui os
bens, mas é possuído por eles, dominado e escravizado pela riqueza, diante
do que está encurvado. À preocupação em acumular, deteriora todas as
relações e chega a deteriorar a saúde do ser humano (cf. Eclo 31,1-2).
Nosso Deus verdadeiro é doador generoso e nos ensina a doar, a
partilhar. À correta relação com os bens também nos ajuda a uma ati-
tude de confiança diante de Deus e das outras pessoas. O “Reinado
de Deus e a sua justiça” promovem relação harmoniosa entre os seres
humanos e entre a humanidade e a natureza. As aves do céu, os lírios
dos campos não deturpam a própria natureza.
Jesus demonstra sua sensibilidade contemplativa e ecológica.
Revela uma exigência atualíssima para aqueles que o seguem. É
necessário mudar o objeto de nossas preocupações. Não à ganância,
sim à busca do reinado de Deus sobre todas as pessoas, todas as coisas
e sobre toda a natureza, todo o universo criado.
Deus nos ama com amor de mãe. A palavra de Deus no Deu-
tero Isaías é um consolo tanto para os exilados da Babilônia, como
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).
Atualizando a Palavra
Hoje, Jesus nos pede para escolhermos entre os bens econômicos,
o dinheiro e Deus. À nossa resposta fundamental ao chamado de
Deus é a confiança total no Pai. Viver a justiça do reinado de Deus
é deixar-se guiar pela palavra de Jesus. Ele não ensina uma vida de
“sombra e água fresca”, mas a luta pela justiça, que é o bem para toda
a humanidade e toda a criação.
A palavra de Jesus é muito atual para esse tempo de desrespeito
às matas, às águas, à natureza. Viver em concordância com as regras
naturais está mais de acordo com o projeto de Deus. O que a ganância
humana criou não se compara com a sabedoria da natureza, criada e
mantida por Deus.
Como mãe que jamais abandona seus filhos, Deus acompanha,
abençoa e ama seu povo que sofre debaixo da ganância dos opresso-
res. Sempre haverá uma saída, esperança de que a justiça reinará. À
construção de um mundo novo, de uma sociedade na qual existam
menos desigualdades é possível e o dia de amanhã não causará preo-
cupações, mas haverá possibilidades e alternativas de a humanidade
se aproximar da vida sábia das aves e dos lírios, mantendo confiança
ilimitada em nosso Deus e Pai. À justiça torna-se sinônimo de amor
misericordioso, de solidariedade fraterna, de perdão reconciliador, de
igualdade respeitosa.
E Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus