115 - Apostila - Ensino Religioso No Brasil
115 - Apostila - Ensino Religioso No Brasil
115 - Apostila - Ensino Religioso No Brasil
no Brasil
Professora Ma. Laís Azevedo Fialho
Professora Esp. Thaís Fialho Lisboa
AUTORAS
UNIDADE I....................................................................................................... 5
As Religiões Brasileiras
UNIDADE II.................................................................................................... 26
Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
UNIDADE III................................................................................................... 44
A Maçonaria
UNIDADE IV................................................................................................... 60
Religiões Orientais – Mudanças Sociais
UNIDADE I
As Religiões Brasileiras
Professora Ma. Laís Azevedo Fialho
Professora Esp. Thaís Fialho Lisboa
Plano de Estudo:
• A chegada dos portugueses e a implementação do catolicismo no Brasil Colonial.
Objetivos de Aprendizagem:
• Refletir sobre a organização institucional da Igreja e o processo de transposição dessa
instituição para o Brasil colônia;
• Conceituar e contextualizar a construção histórica do catolicismo no Brasil;
•Demonstrar a existências de práticas religiosas africanas que coexistiam com o
catolicismo no Brasil Colonial, utilizando como exemplo os calundus.
5
INTRODUÇÃO
Bons estudos!
Diante da disputa com outros povos e suas investidas para ocupar o território bra-
sileiro, como os franceses, a coroa portuguesa instituiu, no início da década de 1530, o
Governo Geral. Esse episódio marca, para a historiografia, o controle, de fato, da colônia
pela metrópole e o Início do período chamado de Brasil Colonial. O primeiro dos governado-
res gerais do Brasil foi Tomé de Souza, escolhido para ser governador de Dom João III, em
1548. Com o cargo, recebeu o regimento em que o rei dizia que estava povoando as terras
brasileiras para catequizar os indígenas à fé católica (DEL PRIORE, 1994).
Nesse momento, esses homens assumiram a prerrogativa de que todos aqueles
que não eram católicos, por conseguinte, eram infiéis, pagãos, inimigos e um perigo para
a unidade religiosa. Assim, é possível afirmar que o rei de Portugal assumia formalmente
sua função dupla de chefe político e religioso, com o aval de Roma. Ou seja, demonstrava,
na prática, o processo de colonização e cristianização. “O combate contra os indígenas
assumia o caráter de uma guerra santa, de uma cruzada: cristãos lutavam contra selvagens
perigosos e incrédulos pagãos” (DEL PRIORE, 1994, p. 9).
Quando D. Afonso VI ascende ao trono, Vieira perde seu prestígio na corte, conside-
rando que ele era apoiador de D. Pedro, adversário do rei recém entronado. Sendo assim,
são retiradas dos jesuítas as prerrogativas temporais sobre as missões e a exclusividade
missionária na região. Nesse momento, Padre Antônio Vieira é proibido de seguir com sua
tarefa de cristianização, parte para Porto, e depois para Coimbra, onde sofre seu inquérito
inquisitorial (PÉCORA,1998).
Em 21 de Junho de 1662, inicia-se o processo Inquisitorial contra ele, em 14 de
Setembro de 1665, o Padre é encarcerado pela Inquisição, considerado culpado de tentar
conciliar a fé católica às práticas do judaísmo, com o objetivo de agradar os judeus batiza-
dos, também chamados pela historiografia de “cristãos novos” (PÉCORA,1998, p. 59).
Não seria possível nos delongar mais na biografia e trajetória de Padre Antônio
Vieira, mas consideramos por bem citá-la, porque sua história ou a narrativa produzida
por meio dos documentos deixados como vestígios, oferece-nos um amplo pano de fundo
acerca da profunda relação entre Igreja e Estado, as disputas em torno da Companhia
de Jesus, e as dinâmicas inerente às disputas políticas que ocorriam na Europa, as quais
influenciavam diretamente o modo como o catolicismo se expandia e se institucionalizava
no Brasil.
Além dos subsídios régios e das doações de terras, tanto da coroa quanto particu-
lares, para a construção de escolas e igrejas, das isenções alfandegárias, a Companhia de
Jesus desenvolveu o seu autofinanciamento (ARÉCO, 2019).
Souza (1986) e Reis (1991) são historiadores que estudam a religiosidade popular,
no período colonial e imperial, respectivamente. A primeira reflete sobre a religiosidade co-
lonial, tendo como base as disputas entre os projetos institucionais e as particularidades
e modos de vida cotidianos, que, em sua visão, se caracterizam pela busca de respostas
para os problemas do dia a dia, na feitiçaria e nas práticas mágicas (SOUZA, 1986).
Já João José Reis compreendia que o catolicismo popular, em especial o baiano
(por ser o seu objeto específico de estudo), admitia feitio mágico e estava “impregnado
de paganismo”, sendo “adotado pelo povo e mesmo membros da elite”, configurando-se
como “um catolicismo ligado de maneira especial aos santos de devoção” (REIS, 1991, p.
60).
Nesse sentido, a historiografia admite as irmandades religiosas, o clero secular,
como um espaço no qual era possível manifestar as práticas populares e leigas. Alguns
pesquisadores apontam as Irmandades como Associações que reuniam devotos a um
santo protetor. Essas instituições tinham a função de auxiliar camadas menos privilegiadas
da população no Brasil Colonial. Essas assistências ocorriam de diversos modos, inclusi-
ve com o financiamento de rituais funerários. As irmandades organizavam-se a partir de
um grupo interessado em organizar o culto de algum santo específico, sem intervenção
eclesiástica. Construía igrejas, buscava recursos financeiros para realização das festas
públicas e serviços relativos aos ritos fúnebres (HOONAERT, 1987/1988).
Desse modo, pertencer a uma irmandade significava ter algum respaldo e apoio
em momento de necessidade, como na doença. Hoonaert (1987/1988, p. 33) apontou que
elas “cuidavam de importantes aspectos da vida escrava: o enterro (a compra do caixão), a
doença (a organização de uma enfermaria) [...] a velhice, a religião, e certamente a comu-
nicação social sobre bases africanas”.
O autor também aponta para a crítica em torno de uma possível assimilação pas-
siva dos negros africanos ao culto católico, apontando para uma subversão em relação à
ressignificação do culto e seus elementos europeus.
[...] as irmandades apresentaram sempre um caráter social e devocional.
O fato de serem autorizadas e protegidas pela ação das autoridades fez
com que muitos classificassem essas associações como “instrumento de
alienação” dos negros e até de sua pacificação. No entanto, se as classes
senhoriais e as elites quiseram utilizar as irmandades como meio de controle
e de integração do negro numa sociedade escravocrata, estes souberam
transformá-la num espaço de sociabilidade, de reivindicação social e de
protesto racial conseguindo, dessa forma, salvar a sua identidade e sua
dignidade (QUINTÃO, 2002, p. 34).
Marcussi (2018) defende a distância entre os dois universos religiosos. Para ele,
se por um lado os africanos praticavam o catolicismo de modo superficial, por outro, as
religiões africanas teriam permanecido intocadas e independentes em seu sistema de
pensamento. Assim, o autor compreende o calundu como uma religião tipicamente centro-
-africana recriada no Brasil. Em sua leitura do calundu, de Luzia Pinta (que se localizava
em Minas Gerais), no século XVIII, um dos mais discutidos na historiografia precisamente
pela documentação existente sobre ele, Marcussi (2006) afirmou que a angolana ao invés
de escolher entre duas cosmologias, classificando-as como verdadeira e profunda ou falsa
e superficial, produziu um repertório simbólico utilizado de acordo com as circunstâncias.
Por isso, o autor vê no calundu, de Luzia Pinta, uma ferramenta de mediação simbólica
por meio de uma interpretação própria das duas tradições em diálogo, “um texto cultural
particular, nem bem português, e nem exatamente angolano, mas um texto próprio da zona
de mediação intercultural na qual viveu” (MARCUSSI, 2006, p. 122).
“Luzia era natural de Luanda, Angola, onde viveu antes de ser levada para o Brasil pelo
tráfico negreiro no início do século XVIII. Os inquisidores tentavam desvendar os signi-
ficados dos serviços espirituais que ela prestava à população de Minas Gerais em um
ritual identificado como calundu. O recurso à tortura era usado para descobrir possíveis
evidências de um pacto demoníaco em suas práticas religiosas. Ao final, ela conseguiu
escapar da morte, mas não foi considerada inocente. Na ausência de provas explícitas,
seu pacto foi presumido. Sentenciada pela “abjuração de leve suspeita de ter aban-
donado a fé católica”, Luzia foi para sempre proibida de retornar a Sabará, e foi ainda
condenada a quatro anos de degredo no Algarve. De alguma forma, as perguntas sobre
o significado do calundu de Luzia Pinta e de outros escravizados que transplantaram
crenças, rituais e significados religiosos africanos para o Brasil atravessaram os sécu-
los seguintes. Ao menos desde a década de 1980, esse ritual tem sido interpretado de
forma variada e continua suscitando discordâncias e novas interpretações por parte dos
historiadores”.
REFLITA
Fonte: a autora.
Bons estudos!
LIVRO
• Título: Negociações e Conflito: a resistência negra no Brasil es-
cravista
• Autor: João José Reis e Eduardo Silva
• Editora: Companhia das Letras
• Sinopse: A historiografia brasileira, por muito tempo, encarou a
escravidão de forma bastante rígida. O escravo foi visto alterna-
damente como herói ou vítima e, sempre, como objeto, fosse de
seus senhores, de seus próprios impulsos ou mesmo da História
que se propunha a estudá-lo. Negociação e conflito propõe uma
nova e iluminadora abordagem do tema, resgatando as pequenas
e grandes conquistas do dia-a-dia daqueles que, inversamente ao
que até hoje se supôs, resistiam a se tornar meras engrenagens
do sistema que os escravizara. Eduardo Silva e João José Reis
mostram que, entre a passividade absoluta e a agressividade cega
que os historiadores acostumaram-se a atribuir ao escravo, havia
uma posição intermediária: a da negociação, a do compromisso
com o sistema, a da engenhosidade no sentido de conquistar,
em meio a todas as adversidades, um espaço onde se pudesse
construir o próprio viver […].
FILME/VÍDEO
• Título: A missão
• Ano: 1986
• Sinopse: O Padre Jesuíta Gabriel (Jeremy Irons) vai para a terra
dos Guaranis, na América do Sul, com o propósito de converter os
nativos ao Cristianismo. Rapidamente ele constrói uma missão,
juntamente com Rodrigo Mendoza (Robert De Niro), um comer-
ciante de escravos em busca de redenção. Quando um tratado
transfere a terra da Espanha para Portugal, o governo português
quer capturar os nativos para o trabalho escravo. Mendoza e Ga-
briel protegem a missão, discordando da realização da tarefa.
• Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=cqcLJopZJ2A
Plano de Estudo:
• Histórico sobre as políticas de educação para os espaços escolares.
• Panorama das políticas de educação para o Ensino Religioso no Brasil.
Objetivos de Aprendizagem:
• Compreender o conceito de Políticas Públicas.
• Apresentar e analisar algumas Políticas Públicas de Educação no Brasil.
• Conhecer algumas Políticas Públicas de Educação específicas para o Ensino Religioso
no Brasil.
26
INTRODUÇÃO
Bons estudos!
Assim, a partir dos estudos apresentados, é possível apontar que o governo deveria
possibilitar, por meio da gestão dos setores públicos, a oportunidade de avanços sociais,
utilizando as Políticas Públicas como ferramenta para as melhorias na qualidade de vida da
população, na economia e educação.
Por fim, destacamos aquela que é conhecida como Carta Magna da educação no
Brasil, a Lei 9394, de 1996, que propôs inovações e permitiu avanços significativos para o
sistema educacional. Sobre o Ensino Religioso a Lei diz:
O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários
normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem
ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas
pelos alunos ou por seus responsáveis, em caráter facultativo:
I - confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu
responsável, ministrado por professores ou orientadores religiosos prepa-
rados e credenciados pelas respectivas igrejas ou entidades religiosas; ou
II - interconfessional, resultante de acordo entre as diversas entidades reli-
giosas, que se responsabilizarão pela elaboração do respectivo programa
(BRASIL, 1996).
Novamente, nesse período, há uma aproximação entre Igreja e Estado, visto que
a igreja seria responsável pela disciplina Educação Moral e Cívica, que pretendia educar
o caráter dos estudantes a fim de moldá-los para atender suas responsabilidades com o
Por sua vez, após o regime militar, nas décadas de 1980 e 1990, muitas mudanças
aconteceram no panorama social e histórico do país, devido aos novos princípios de edu-
cação e suas práticas. A partir da Lei nº 9.394 (BRASIL, 1996) e da Constituição de 1988,
houve uma abertura social e política aparentemente emancipadora.
Conforme Mocellin (2008), a carta Magna recupera propostas que permitem ao
educando vivenciar na escola uma experiência de conhecimento mais amplo, dando-lhe
oportunidades de encontrar respostas para questões existenciais no encontro e na convi-
vência com as diferenças.
Por meio dessas mudanças sociais e políticas, a disciplina de Ensino Religioso
também poderia contribuir para um processo de educação mais autônomo, visto que os
Se o Ensino Religioso está presente nas escolas, como ele se manifesta ou é exposto?
Em pesquisa com os diretores de escolas públicas, o questionário da provinha Brasil
indica:
● 66% ministram aulas de Ensino Religioso.
● 51% têm o costume de fazer orações ou cantar músicas religiosas.
● 22% têm objetos, imagens, frases ou símbolos religiosos expostos.
REFLITA
Fonte: a autora.
Hegemonia e confronto na produção da segunda LDB: o ensino religioso nas escolas pú-
blicas: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8642484
LIVRO
• Título: Ensino Religioso no Brasil
• Sérgio Rogério Azevedo Junqueira
• Sinopse: Ao longo da história do Brasil, o ensino religioso foi
permeado pelas culturas indígenas, africanas e pelo cristianismo.
Este encontro religioso provocou um sincretismo que não permite
uniformização religiosa. O livro indicado trata da importância de
conhecer e respeitar esta diversidade em nível legislativo e geo-
gráfico.
FILME/VÍDEO
• Título: O auto da compadecida
• Ano: 2000
• Sinopse: O filme mostra as aventuras de João Grilo e Chicó,
dois nordestinos pobres que vivem de golpes para sobreviver. Eles
estão sempre enganando o povo de um pequeno vilarejo no sertão
da Paraíba, inclusive o temido cangaceiro Severino de Aracaju,
que os persegue pela região. Somente a aparição da Nossa Se-
nhora poderá salvar essa dupla. O filme apresenta a religiosidade
da época de forma peculiar.
Plano de Estudo:
• A Maçonaria e a relação com o catolicismo.
Objetivos de Aprendizagem:
• Estabelecer a relevância histórica da postura anticlerical da Maçonaria;
• Compreender aspectos da organização institucional da Maçonaria no Brasil;
• Contextualizar as contribuições da Maçonaria para a consolidação de um Ensino
Religioso laico no Brasil.
44
INTRODUÇÃO
Bons estudos!
De fato, foi a questão religiosa que se colocou como marcador político de confronto
e disputa entre a Maçonaria e a igreja católica. O episódio mais emblemático que demonstra
tal afirmativa é a condenação do papa Pio IX (1846-1879) ao liberalismo e, em especial, à
maçonaria. Que é considerado por alguns pesquisadores, como Colussi (2003), um verda-
deiro caça às bruxas, em que os bispos, de maneira truculenta, tentavam defender seus
privilégios e atacar as ideologias liberais
Essas condenações se deram principalmente pelas bulas Quanta Cura e o
Syllabus Errorum, de 1864 e 1865. O papa pretendia se contrapor às vitó-
rias liberais e ao crescente processo de laicização da sociedade em escala
mundial. No Brasil, os bispos dom Vital, de Olinda, e dom Antônio de Macedo
Costa, do Pará, foram os porta-vozes da política do Vaticano e tornaram-se
os mais conhecidos e raivosos inimigos do liberalismo e da maçonaria. A
forte e crescente presença maçônica em muitos espaços sociais assustava
os dirigentes católicos, que acreditavam na existência de um complô do
Conforme Colussi (2000), foi na década 1870 que surgiram as primeiras propostas
de lojas maçônicas que visavam a iniciação de professores na maçonaria. Muitos desses
profissionais não atendiam aos requisitos para participar da ordem, porque não tinham
recursos financeiros o bastante para custear as despesas exigidas de filiação. Desse modo,
somente alguns profissionais liberais ou herdeiros, que também exerceram o ofício da ma-
gistratura, eram alvo da maçonaria.
O ingresso de professores na maçonaria, especialmente os que atuavam na
instrução pública, passou a ser visto como um dos meios mais eficientes para
que a ordem buscasse ter acesso e influenciar na formação laica dos setores
populares. A primeira iniciativa importante nesse sentido foi localizada em
Porto Alegre, onde a loja Zur Eintracht aprovou uma resolução, na sessão
de 14 de junho de 1876, que previa: “Aqueles professores que pela sua
vida e costumes são dignos de pertencerem a ordem dos Franco-maçons e
são propostos nesta Loja com as formalidades do rito, podem ser aceitos e
iniciados, independente do pagamento de jóia e mensalidades” (COLUSSI,
2003, p. 51).
Havia requisitos básicos para ser aceito como um membro da maçonaria. O aspecto
elitista dessa instituição se apresentava logo no início, possibilitando ou não a iniciação de
um profano na vida maçon. Para Colussi (2000), o objetivo de desempenhar papel impor-
REFLITA
Você já parou para pensar que, muitas vezes, as sociedades tidas como secretas, na
verdade são somente discretas? Isso pode ocorrer, porque suas ideias são perseguidas
por instituições hegemônicas. Manter algumas práticas em sigilo pode ser um modo de
resistência.
Fonte: a autora.
Bons estudos!
LIVRO
• Título: Origem e os ensinamentos da maçonaria: Uma explicação
clara dos princípios básicos das regras maçônicas
• Autor: Fernando Pessoa e Albert Pike
• Editora: Madras
• Sinopse: Esta obra reúne dois grandes nomes da literatura,
Fernando Pessoa e Albert Pike. Traz uma explicação clara dos
princípios básicos das regras da Maçonaria, seus ensinamentos,
suas origens e sua essência. Na primeira parte, ou Livro I, traz a
conferência apresentada por petição da Grande Loja, pelo Irmão
Albert Pike, que mostra as nocivas consequências das excisões
e disputas pelo poder na Maçonaria, e das invejas e desacordos
a respeito dos Rituais maçônicos. Já o Livro II traz a cronologia
de Fernando Pessoa e seu conhecimento maçônico abordando
temas como a Iniciação e também trata das origens e essência da
Ordem e do seu contributo judaico. Esta é uma obra indispensável
a todos os maçons.
FILME/VÍDEO
• Título: Maçonaria: segredos revelados
• Ano: 2017
• Sinopse: Explore a história e o futuro da maçonaria, uma ordem
fraternal fincada nos valores da discrição e da tradição.
Plano de Estudo:
• Breve histórico sobre o Islamismo no Brasil.
• Panorama histórico sobre o Budismo no Brasil.
Objetivos de Aprendizagem:
• Compreender as práticas religiosas e as construções históricas particulares do
Islamismo e do Budismo no Brasil;
• Estabelecer a importância da diversidade religiosa no Brasil e seus fundamentos no
Ensino Religioso.
60
INTRODUÇÃO
Como visto na Unidade II, o ensino religioso no Brasil tem sido discutido a fim de
que seus objetivos, previstos nas leis que regem as diretrizes para tal disciplina, sejam
efetivamente atingidos. Para tanto, é fundamental ampliar os conhecimentos sobre a di-
versidade religiosa presente no Brasil e possibilitar que os estudantes tenham acesso aos
estudos contemporâneos do tema, e à noção histórica de como as religiões se organizaram
em nosso país, entre embates, disputas, sincretismos etc. Sendo assim, te fazemos o
questionamento: como conseguiremos avançar neste sentido, se não houver preparo ou
conhecimento do vasto campo das religiões?
Apontamos para o fato de que os debates sobre a presença das religiões não
hegemônicas têm ganhado, cada vez mais, visibilidade nos espaços educacionais, nos dias
atuais. Vemos com mais frequência os diálogos nos fóruns e nas políticas educacionais
que tangem o Ensino Religioso, como temas emergentes devem fazer parte dos currículos.
Destaca-se a diversidade religiosa como um componente curricular que possibilita o reco-
nhecimento e compreensão das pluralidades de manifestações religiosas que temos no
mundo multicultural.
Nesse contexto, as religiões orientais ganham mais visibilidade, visto que histo-
ricamente foram negadas ou apagadas no ocidente, por sua cultura, costumes, crenças
e fundamentos religiosos. Por isso, daremos enfoque ao tema destacando duas religiões
orientais não hegemônicas, das quais sabe-se pouco, a partir do se senso comum. Na
Bons estudos!
Já falamos que o Islamismo foi disseminado pelo mundo, mas de que modo essa
religião chegou ao Brasil? Segundo pesquisadores, adentrou em nosso país de três formas:
Islamismo de escravidão, Islamismo de imigração e de conversão (MENDONÇA; VELAS-
QUEZ FILHO, 2002, p. 25).
Assim como os negros africanos, os muçulmanos chegaram ao Brasil como es-
cravos, em navios negreiros, no século VXIII. Esses escravos eram advindos das regiões
islamizadas da África, como Sudão, hoje norte da Nigéria.
Em sua maioria homens, esses primeiros islâmicos do Brasil ficaram conhecidos
como malês, que significa renegado. Outra característica destes era que sabiam ler e
escrever, o que lhes garantiu vantagens em relação aos senhores e ao trabalho que de-
sempenhavam.
Por meio desse conhecimento, eram escolhidos para atividades ligadas ao comér-
cio, tornando-se negros de ganhos. Contudo recebiam salários muitos baixos, dificultando
o processo de compra da alforria. Alguns tinham êxito, construíram patrimônios financeiros
maiores que certos brancos. Mas, mesmo assim, eram dominados pelo colonizador e fa-
ziam alianças até religiosas com eles.
O diferencial da língua lhes permitiu acesso a ambientes nos quais não entravam
escravos. Gradativamente, conquistaram espaço na economia como pequenos comercian-
tes.
Neste contexto, também desenvolveram suas crenças, embora aparentassem
ter aceitado o catolicismo, assumindo até mesmo nome de batismo. Em relato do imã Al’
Baghdadi, percebemos esse comportamento: “depois disso, todos os que conseguiram
a liberdade por direito lembravam-se da religião dos seus antepassados, a qual eles se
voltaram após a libertação” (FREYRE, 1980, p. 306). Fica evidente que a força da crença
islâmica não se perdeu.
Como forma de manutenção da crença, os muçulmanos livres criaram escolas
e casas de oração. Ainda hoje é possível observar, em alguns estados do Brasil, ruínas
dessas casas de oração, com textos escritos do Alcorão em árabe. Essas reuniões eram
organizadas longe das cidades para evitar perseguição. Entre eles, escolheram líderes
religiosos que deveriam ser responsáveis por preservar a crença, esses homens ficaram
conhecidos como alufás. Desta forma, mesmo com a perseguição religiosa latente, eles
foram se organizando como grupo sólido, longe de sua terra natal.
Segundo os dados do “The World Factbook”, organizado pela CIA (Agência Central de
Inteligência dos Estados Unidos) em 2012 e também o site de religiões Adherents, os
maiores grupos religiosos do mundo, em números aproximados, são: Cristianismo (28%,
incluindo várias religiões cristãs), Islamismo (22%, incluindo os xiitas e sunitas), Hinduís-
mo (15%), Budismo (8%), Religião Tradicional Chinesa (6%), Religiões Primárias (6%
somando religiões primárias da África, Ásia, Oceania e Américas) e Sikhismo (1%).
Na sequência vêm algumas religiões também muito conhecidas mundialmente como o
Judaísmo e o Espiritismo (que reúne diversas religiões).
REFLITA
GOUVEIA, A. P. M. O filosofar budista: breves reflexões sobre o fazer filosófico e as suas mo-
tivações. Kriterion, Belo Horizonte, v. 57, n. 133, p. 189-205, abr. 2016. Disponível em: ht-
tps://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-512X2016000100189&lang=-
pt
LIVRO
• Título: Descobrindo o Islã no Brasil
• Autor: Karla Lima
• Editora: Hedra
• Sinopse: O livro apresenta os fundamentos da religião islâmica
e disserta sobre como os muçulmanos vivem no Brasil. Também
relata sobre temas particulares as mulheres islâmicas como rela-
cionamentos, roupas íntimas e outros assuntos.
FILME/VÍDEO
• Título: Sete anos no Tibet
• Ano:1997
• Sinopse: Um famoso alpinista decide escalar o pico do Himalaia,
mas é interrompido pela segunda guerra mundial. Ele passa esse
tempo no Tibet, conhece Dalai Lama e se desenvolve como ser
humano.
ASSUNÇÃO, P. de. Negócios Jesuíticos: o cotidiano da administração dos bens divinos. São Pau-
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Prezado(a) estudante
Neste material, busquei trazer para você os principais conceitos que auxiliem na
sua compreensão da importância da História das Religiões para a educação. Para tanto
abordamos a formação religiosa brasileira, práticas e simbolismos diversos, as noções de
embate e sincretismo religioso, e a importância da diversidade cultural no Brasil, e dessa
pauta como componente curricular da Educação Básica.
Destacamos a importância de compreender o processo de construção histórica do
catolicismo no Brasil, conceituando importantes noções como a de Cristandade e Padroado
Régio. Indicamos a importância de algumas ordens religiosas nesse processo missionário,
e também do Clero Secular, as Irmandades que deram origem a um catolicismo hetero-
doxo. Refletimos também sobre a existência de cultos africanos, como os calundus, que
resistiram às ordens religiosas que buscava extinguir as práticas religiosas não oficiais da
Coroa Portuguesa. Demonstrando assim processos históricos de continuidade e rupturas
entre diferentes religiosidades do Brasil.
Levantamos também aspectos históricos de como a disciplina de Ensino Religioso
se organizou no Brasil. Entendemos que as mudanças curriculares são organizadas pelas
políticas públicas e que as mesmas estão sujeitas a organização política, ou seja, atreladas
ao poder.
Ao pensarmos a consolidação histórica de laicidade no Brasil, consideramos as
importantes contribuições da Maçonaria. Indicamos, assim o surgimento da Maçonaria na
Europa, e como ela se consolidou como uma sociedade de pensamento, secreta e cos-
mopolita, que difundia ideias racionalistas e cientificistas, mantendo em sua história uma
postura anticlerical. Demonstramos como ela se organizou para tentar difundir um modelo
educacional com o “espírito das luzes”.
Por fim, apresentamos os fundamentos religiosos do Islamismo e Budismo, a fim
de operacionalizar a importante noção de diversidade e pluralidade cultural, utilizando as
Religiões orientais e sua formação no Brasil.
A partir de agora acreditamos que você já está preparado para seguir em frente
aprofundando ainda mais suas capacidades intelectuais e posturas teórico-metodológicas
e pedagógicas, diante do Ensino Religioso e sua construção histórica no Brasil.