Texto 1 - A Formação Da Sociologia Como Conhecimento Científico
Texto 1 - A Formação Da Sociologia Como Conhecimento Científico
Texto 1 - A Formação Da Sociologia Como Conhecimento Científico
Graduação
OBJETIVO DA UNIDADE:
• Analisar as condições sócio-históricas que favoreceram o surgimento da Sociologia como ciência,
identificando seu objeto de estudo e comparando as diferentes posturas paradigmáticas neste contexto, a fim de
que possa participar do processo social conscientemente.
PLANO DA UNIDADE:
• O contexto sócio-histórico e intelectual do surgimento da Sociologia.
• A crise do Feudalismo.
• A formação dos Estados-Nacionais.
• O Mercantilismo e a expansão comercial ultramarina.
• A Sociologia se estabelece como Ciência.
A economia medieval encontrava-se em crise face à baixa produtividade agrícola, ocasionada pelo esgotamento
dos solos - utilização inadequada de técnicas agrícolas predatórias - o que projetava um declínio na produção de
alimentos, gerando a fome e, conseqüentemente, as epidemias.
Em meados do século XIV, os comerciantes genoveses trouxeram da região do Mar Negro uma
epidemia que, no espaço de dois anos, espalhou a morte por toda a Europa, atingindo homens e mulheres
adultos e crianças de todos os segmentos sociais, sendo conhecida como Peste Negra – um castigo de Deus.
A crise se agravou na medida em que os
senhores feudais viram seus rendimentos
declinarem devido à falta de trabalhadores e ao
despovoamento dos campos.
Capitalismo: sistema social baseado no capital,
dinheiro.
A mortandade trazida pela fome e a peste negra
foi ainda ampliada pela longa Guerra dos Cem
Anos (1337/1453), desencadeada pela disputa das
regiões de Bordéus e Flandres, entre França e
Inglaterra.
A conjuntura de epidemias, de aumento brutal da
mortalidade e de superexploração camponesa que
caracterizou a Europa do século XIV trazendo a
crise, foi sendo superada no decorrer do século
XV, com a retomada do crescimento
populacional, agrícola e comercial.
MERCANTILISMO E A EXPANSÃO
COMERCIAL ULTRAMARINA
Veremos agora como os europeus –
pioneiramente Espanha e Portugal – chegam a
regiões nunca antes alcançadas e quais os seus
verdadeiros interesses. A expansão territorial
implementada pela política
Secularização
Desenvolve-se, então, uma nova forma de entender a realidade, isto é, a razão passou a ser
considerada o elemento principal de interpretação dos fatos. O homem constrói uma concepção anticlerical
apoiada em bases de liberdade, que não precisava se submeter à autoridade divina imposta pela Igreja
Católica.
Renascimento
O Renascimento foi um movimento intelectual que marcou a cultura européia entre os séculos XIV
e XVI, originário da Itália e irradiado por toda a Europa.
Está associado ao humanismo e
fudamentado nos conceitos da civilização da
antiguidade clássica, numa demonstração de
menosprezo pela Idade Média, considerada como
“noite de mil anos” ou “escuridão”.
O Renascimento representou uma nova
visão de mundo que atendia plenamente aos
interesses da burguesia em ascensão. Suas
principais características eram o racionalismo,
crença na razão como forma explicativa do mundo
em oposição à fé; o antropocentrismo, colocando o
homem no centro de todas as coisas, em oposição
ao teocentrismo e o individualismo, em oposição ao
coletivismo cristão.
O Humanismo pregava a pesquisa, a crítica
e a observação, em oposição ao princípio da
autoridade. A explicação da origem italiana do
Renascimento e do Humanismo, se dá em função da
riqueza das cidades italianas, da presença de sábios
bizantinos, da herança clássica da Antiga Roma e da
difusão do mecenato. A invenção da Imprensa
contribuiu muito para a divulgação das novas idéias.
Fases do Renascimento
O Renascimento pode ser dividido em três grandes fases, correspondentes aos séculos XIV, XV e o
XVI.
Trecento - século XIV - manifesta-se predominantemente na Itália, mais especificamente na cidade
de Florença, pólo político, econômico e cultural da região. Giotto, Boccaccio e Petrarca estão entre seus
representantes. Suas características gerais são o rompimento com o imobilismo e a hierarquia da pintura
medieval - valorização do individualismo e dos detalhes humanos;
Quatrocento - século XV - o Renascimento espalha-se pela península itálica, atingindo seu auge.
Neste período atuam Botticelli, Leonardo da Vinci, Rafael e, no seu final, Michelangelo, considerados os
três últimos o “trio sagrado” da Renascença. As características gerais do período são: inspiração greco-
romana (paganismo e línguas clássicas), racionalismo e experimentalismo;
Cinquecento – século XVI - o Renascimento torna-se neste século um movimento universal
europeu, tendo, no entanto, iniciado sua decadência. Ocorrem as primeiras manifestações maneiristas e a
Contra-reforma instaura o Barroco como estilo oficial da Igreja Católica. Na literatura atuaram Ludovico
Ariosto, Torquato Tasso e Nicolau Maquiavel, já na pintura eram Rafael e Michelangelo.
O Iluminismo
O Iluminismo foi o movimento intelectual desenvolvido na França no século XVII e teve o seu
apogeu durante o século XVIII - o chamado “Século das Luzes”, que enfatizava o domínio da razão e da
ciência como formas de explicação para todas as coisas do universo, substituindo as crenças religiosas e o
misticismo que bloqueavam a evolução do homem desde a Idade Média.
Para os filósofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porém era corrompido pela sociedade
com o passar do tempo. Eles acreditavam que se todos fizessem parte de uma sociedade justa, com direitos
iguais para todos, a felicidade comum seria alcançada. Por esta razão, eles eram contra as imposições de
caráter religioso, contra as práticas mercantilistas, contrários ao absolutismo do rei, além dos privilégios
dados à nobreza e ao clero.
O Iluminismo foi mais intenso na França onde influenciou a Revolução Francesa, assim como na
Inglaterra e em diversos países da Europa onde a força dos protestantes era maior, chegando a ter
repercussões, mesmo em alguns países católicos.
Podemos dizer que, de certo modo, este movimento é herdeiro da tradição do Renascimento e do
Humanismo por defender a valorização do Homem e da Razão, contribuindo também para o avanço do
capitalismo e da sociedade moderna na medida em que disseminava os ideais de uma sociedade “livre”,
com possibilidades de transição de classes e mais oportunidades iguais para todos.
Economicamente, o Iluminismo identificava que era da terra e da natureza que deveriam ser
extraídas as riquezas dos países. Segundo Adam Smith, cada indivíduo deveria procurar lucro próprio sem
escrúpulos o que, em sua visão, geraria um bem-estar geral na civilização.
Os principais filósofos do Iluminismo foram: John Locke (1632-1704), ele acreditava que o homem
adquiria conhecimento com o passar do tempo através do empirismo; Voltaire (1694-1778), ele defendia a
liberdade de pensamento e não poupava crítica à intolerância religiosa; Jean-Jacques Rousseau (1712-1778),
ele defendia a idéia de um estado democrático que garantia igualdade para todos; Montesquieu (1689-1755),
ele defendeu a divisão do poder político em Legislativo, Executivo e Judiciário; Denis Diderot (1713-1784)
e Jean Le Rond d´Alembert (1717-1783), juntos organizaram uma enciclopédia que reunia conhecimentos e
pensamentos filosóficos da época.
Tudo mudava. Aquela sociedade tradicional que antes existia estava completamente
transformada precisando se organizar para atender às novas necessidades.
Revolução Industrial Inglesa
Agora, iremos pesquisar a revolução que alterou a relação entre os homens, configurando as
formas do mundo contemporâneo.
No decorrer do século XVIII, a Europa Ocidental passou por uma grande transformação no
setor da produção, em decorrência dos avanços das técnicas de cultivo e da mecanização das fábricas, a
qual se deu o nome de Revolução Industrial. A invenção e o aperfeiçoamento das máquinas permitiram
o aumento vertiginoso da produtividade, resultando na diminuição dos preços dos produtos e o
crescimento do consumo e dos lucros.
Esse momento revolucionário de passagem da energia humana, hidráulica e animal para motriz,
é o ponto culminante de uma revolução tecnológica, social e econômica, cujas origens podem ser
encontradas nos
séculos XVI e XVII, com a política de incentivo ao comércio, adotada pelos Estados-Nacionais
e a adoção da política mercantilista. A acumulação de
capitais nas mãos dos comerciantes burgueses e a abertura dos mercados proporcionada pela
expansão marítima estimularam o crescimento da produção, exigindo mais mercadorias e preços
menores. Gradualmente, passou-se do artesanato disperso para a produção em oficinas e destas para a
produção mecanizada nas fábricas.
Para Karl Marx, a Revolução Industrial integra o conjunto das chamadas “Revoluções
Burguesas” do século XVIII, responsáveis pela crise do Antigo Regime na passagem do capitalismo
comercial para o industrial. Os outros dois movimentos que a acompanham são a Independência dos
Estados Unidos e a Revolução Francesa que, sob influência dos princípios iluministas, assinalam a
transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea.
A Inglaterra foi o país pioneiro da industrialização, sendo que alguns fatores contribuíram para
isso:
• o principal deles foi a aplicação de uma política econômica liberal em meados do século
XVIII, liberalizando a indústria e o comércio o que acarretou um enorme progresso tecnológico e
aumento da produtividade em um curto espaço de tempo;
• a Lei de Cercamento dos Campos, denominados “enclouseres” marcou o fim do uso comum
das terras, expulsando o homem do campo e gerando o “trabalhador livre”. Na medida em que não
tinham mais condições de vida no meio rural, partiam para as cidades, gerando forte concentração de
mão-de-obra urbana, o que favorecia às indústrias;
• a Inglaterra possuía grandes reservas de carvão mineral em seu subsolo, a principal fonte de
energia para movimentar as máquinas e as locomotivas a vapor. Possuíam também consideráveis
reservas de minério de ferro, principal matéria-prima utilizada neste período.
• a burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as fábricas, comprar matéria-prima,
máquinas e contratar empregados por causa da grande taxa de poupança que existia na época;
Primeira Revolução Industrial – desenvolvida entre meados do século XVIII até as últimas
décadas do século XIX, com a predominância do trabalho intensivo com jornadas de trabalho de até 16
horas por dia, com baixa remuneração do operariado. Utilização de máquinas à vapor nas indústrias têxteis,
sendo que a grande fonte de energia era o carvão mineral.
Segunda Revolução Industrial – compreendida entre as últimas décadas do século XIX até o final
da década de 1970 – século XX. A jornada de trabalho cai para 8 horas diárias e passa a ser regulamentada
por leis trabalhistas, a partir dos avanços sociais relativos ao processo histórico de cada país. O petróleo vai
substituindo o carvão até se constituir na principal fonte de energia e a indústria automobilística como maior
atividade produtiva.
O trabalho assalariado que substitui o trabalho artesanal ganha força utilizando-se fortemente da
mão-de-obra feminina e infantil e a energia a vapor cresce em lugar da energia humana.
Revolução Francesa
A Revolução Francesa é um importante marco histórico da transição do feudalismo para o
capitalismo, inaugurando um novo modelo de sociedade baseada na economia de mercado.
A Revolução Francesa significou o colapso das instituições feudais do Antigo Regime e o fim da
monarquia absoluta na França. Ao mesmo tempo, propiciou a ascensão da burguesia ao poder político,
fortalecendo as condições essenciais para a consolidação do capitalismo.
Movimento político de extrema relevância para o continente europeu e para o Ocidente, a Revolução
Francesa teve início em 1789 e se prolongou até 1815. Sofreu grande influência dos ideais do Iluminismo,
baseando-se no direito à liberdade, à igualdade e à fraternidade e nos princípios democráticos e liberais da
Independência Americana(1776).
A Revolução Francesa pode ser subdividida em quatro grandes períodos: a Assembléia Constituinte,
a Assembléia Legislativa, a Convenção e o Directório.
Causas da Revolução
A Revolução Francesa foi resultado de uma conjugação de fatores sociais, econômicos, políticos e,
pelo menos um desses fatores, é apontado, pela maioria dos historiadores, como determinante para o
desencadeamento do processo revolucionário. Trata-se do descontentamento do povo com os abusos e
privilégios do regime absolutista.
A composição social da sociedade francesa, na segunda metade do século XVIII, é marcada por uma
rígida hierarquia e estratificação social. A hierarquia social francesa propiciava honras e privilégios em
função do
nascimento e dividia a população de maneira discriminatória segundo ordens ou estados.
De um lado, duas classes – o clero e a nobreza, que juntas usufruíam dos privilégios e da riqueza
produzida pela sociedade francesa.
O Clero ou 1º Estado composto por importantes membros da Igreja Católica, originário da nobreza,
que em 1789 representava 2% da população francesa.
A Nobreza ou 2º Estado formado pelo rei e sua família, bem como outros nobres como: condes,
duques, marqueses, aproximava-se de 1,5% dos habitantes. Controlava a maior parte das terras,
concentrando em suas mãos boa parte de tudo que produziam os camponeses; gozava de inúmeros
privilégios e não pagava impostos.
Do outro lado, o povo – base da sociedade francesa, que sustentava pelo peso de impostos que
pagava, a vida de riqueza e muito luxo dos nobres e do clero.
O Povo ou 3º Estado era formado pela burguesia, pelos trabalhadores urbanos (a maioria deles
desempregados), artesãos e camponeses – sans cullotes.
O desenvolvimento do comércio e da indústria, assim como a conquista de novos mercados na
Europa e fora dela, fizeram a burguesia acumular riquezas muito rapidamente. A confortável posição que
desfrutava no campo dos negócios, contrastava com a desfavorável condição que a burguesia ocupava na
vida política do regime absolutista. Apesar de rica, a estrutura social francesa barrava a ascensão da
burguesia, uma vez que os privilégios, honras e títulos estavam reservados somente à nobreza e ao alto
clero. Além disso, a má administração das finanças, a cobrança excessiva de impostos e os gastos
descontrolados da nobreza eram considerados obstáculos aos interesses burgueses.
No campo, embora grande parte dos camponeses fosse livre, somente uma pequena parcela podia
manter-se com a produção da terra. A elevada carga de impostos relegou boa parte dos pequenos
proprietários a subsistir trabalhando nas propriedades dos grandes senhores ou dedicar-se a produção
artesanal.
Liberalismo: corrente política de pensamento que defende a
liberdade do indivíduo frente ao intervencionismo do Estado.
Por outro lado, o progresso industrial não representou para a classe trabalhadora operária uma
melhoria das condições de vida e de trabalho. A classe operária convivia com salários muito baixos e com
altos níveis de desemprego.
O quadro de desigualdade social da sociedade francesa, alimentado pela crise econômico-financeira
do Antigo Regime, tornou ainda mais precárias as condições em que viviam os trabalhadores do campo e da
cidade. Relegados a condições miseráveis de existência, camponeses e trabalhadores urbanos desejavam
novas formas de vida e de trabalho.
As origens do processo revolucionário francês de 1789 devem ser buscadas nas contradições dos
interesses estabelecidos pelo regime absolutista e as novas forças sociais que estavam em ascensão. Ou seja,
os interesses econômicos e políticos da nova e poderosa classe burguesa sufocada por uma organização
social aristocrática e decadente fizeram despertar o povo (o terceiro estado), que passou a rejeitar as ordens,
as
diferenças sociais e as restrições. Diante das promessas igualdade e fraternidade, o povo foi atraído
para a causa revolucionária.
Estas reformas estavam embasadas no Liberalismo que triunfara no século XIX e pregava a
liberdade e a igualdade inata entre os homens. Porém, suas reformas estabeleciam a autoridade e a ordem
pública contra os abusos do individualismo da Escola Liberal (RIBEIRO JR. 1988:15).
A Sociologia nasce como resposta a esse individualismo pregado pela sociedade capitalista e vai
assim enfatizar as ações altruístas entre os homens.
O positivismo de Comte comparava a sociedade à vida orgânica, cujas partes que a constituem
desempenham funções que se orientam para a preservação do todo. Sendo assim, a sociedade não poderia
sofrer revoluções violentas e sim se desenvolver harmoniosamente. Repudia o laissez-faire do Liberalismo,
pregando o planejamento social.
Comte defendia a idéia de que as ciências deveriam atingir a máxima objetividade possível.
A influência de Comte foi além da escola francesa, atingindo também os republicanos no Brasil,
como podemos observar, o lema na bandeira nacional “Ordem e Progresso”.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício!
Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-
aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente
virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Nesta primeira unidade estudamos a formação da Sociologia como conhecimento
científico. Na próxima unidade, estudaremos a Sociologia Clássica. Espero você na próxima unidade. Temos
muito que estudar!
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO
1. A partir da transição feudal-capitalista, surge uma nova postura intelectual do homem, nova forma
de ver a realidade e uma nova maneira de interpretar as coisas sagradas, que o colocava numa condição de
liberdade, rompendo com a submissão diante da autoridade divina:
a) existencialismo;
b) positivismo;
c) marxismo;
d) racionalismo;
e) tomismo.
6. A Revolução Industrial inglesa, utiliza em seus momentos iniciais, que tipos de energia?
a) Energia humana e energia eólica;
b) Energia humana e energia a vapor;
c) Energia humana e energia nuclear;
d) Energia humana e energia elétrica;
e) Energia humana e energia solar.
7. Que tipo de motivação, inserida na lógica do capitalismo, levou a classe burguesa a investir em
“inventos”?
a) Acompanhar o ritmo de produção da classe trabalhadora;
b) Retração da produção para atendimento do mercado interno;
c) Atender as exigências dos reis;
d) Renovação do parque industrial;
e) Racionalização e aumento da produção.
Como vimos na Unidade 1, a Sociologia enquanto ciência surgiu como resposta intelectual para as
“crises” decorrentes da implantação e da consolidação das sociedades capitalistas modernas. Nesta segunda
unidade de estudo, vamos a Sociologia Clássica.
OBJETIVOS DA UNIDADE:
Compreender o pensamento de três autores considerados clássicos na Sociologia do século XIX e no
início do século XX. São eles Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx.
PLANO DA UNIDADE:
• Uma nova ciência: a Sociologia.
• A Sociologia de Émile Durkheim.
• A Sociologia de Karl Marx.
• A Sociologia compreensiva de Max Weber.
Bons estudos!
UMA NOVA CIÊNCIA: A SOCIOLOGIA
As transformações sociais, econômicas e políticas desencadeadas pelo duplo processo
revolucionário - a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, no século XVIII - fizeram emergir
um novo gênero de “questões sociais” que despertou o interesse de filósofos e intelectuais em
investigar a sociedade. A sociedade passava assim a se constituir em objeto de estudo de uma nova
ciência – a Sociologia.
Para Karl Marx (1818-1883), a questão fundamental da sociedade do seu tempo eram as
contradições insolúveis engendradas pela sociedade capitalista. O antagonismo entre as classes
sociais constituía a realidade concreta do capitalismo. Para ele, a divisão do trabalho entre os
homens era uma fonte inesgotável de exploração e alienação. A ciência, em sua tarefa de conhecer
a realidade, deveria converter-se em um instrumento político para a transformação social.
Embora, Auguste Comte seja reconhecidamente apresentado como fundador da Sociologia pela sua
preocupação de dotar a Sociologia de bases científicas, Durkheim é apontado como um dos primeiros
grandes teóricos desta ciência.
Em sua obra – “As Regras do Método Sociológico (1895)”, Durkheim afirmava que a Sociologia
deveria estudar fatos essencialmente sociais e procurar interpretá-los sociologicamente.
contra elas. Mesmo quando são finalmente vencidas, ainda fazem sentir
suficientemente a sua força constrangedora, pela resistência que opõem.
Não há inovador, mesmo bem sucedido, cujos empreendimentos não
acabem por chocar com oposições deste tipo.
A partir dessa definição, podemos, então, afirmar que são três as características básicas que
permitem reconhecer os fatos sociais.
A primeira característica dos fatos sociais é a exterioridade. Segundo Durkheim, o indivíduo ao
nascer já encontra regras sociais, morais, legais, religiosas, etc., que foram sedimentadas pelas gerações
anteriores que deverão ser internalizadas a sua existência para que ela possa viver em sociedade. São
maneiras de ser e de agir consolidadas pelo grupo, que existem independente de sua vontade individual, ou
seja, são fatos sociais exteriores ao indivíduo. Ele não é consultado para decidir se agirá ou não em
concordância com esse conjunto de regras. O fato do indivíduo pertencer a uma determinada sociedade ou
grupo social implica na adesão obrigatória de regras que servirão para orientar sua conduta e
comportamento.
Portanto, além de exteriores, os fatos sociais são coercitivos, ou seja, dotados de um poder
imperativo que se impõem ao indivíduo pela força. Essa é, pois, a segunda característica dos fatos sociais -
exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior. Todo conjunto de regras: jurídicas, morais, religiosas,
financeiras, lingüísticas, etc., constituídas pela sociedade é imposto coercitivamente ao indivíduo. Cabe a ele
conformar-se às regras socialmente instituídas e orientar-se de acordo com elas, independente de sua
vontade particular.
Segundo Durkheim, um fato social é reconhecido pelo poder de coação externa que exerce ou é
suscetível de exercer sobre os indivíduos; e a presença desse poder é reconhecida, por sua vez, pela
existência que o fato opõe a qualquer iniciativa individual que tende a violentá-lo.
Uma pessoa pode não querer usar o idioma falado em sua sociedade, pode não querer usar a
moeda corrente em seu país ou pode não querer se subordinar aos códigos legais vigentes em seu meio,
mas certamente, suas atitudes serão severamente tolhidas pela força que a sociedade exercerá sobre seu
comportamento.
Além da exterioridade e coercitividade dos fatos sociais, uma terceira característica deve ser
considerada – a generalidade. Será considerado social o fato que é geral, ou seja, o fato que se
manifesta pela sua natureza coletiva, difusa - formas de viver consolidadas socialmente, como os
hábitos, as crenças e os valores, e também, as formas de habitação, as vias de comunicação que definem
o fluxo das correntes migratórias e de escoamento da produção.
Portanto, o domínio da Sociologia compreende um determinado grupo de fenômenos – fatos
sociais – que são reconhecidos pelo seu poder de coerção externa que exerce ou é suscetível de exercer
sobre os indivíduos; e se manifestam pela sua generalidade, pela difusão que têm no interior de uma
determinada sociedade.
O Método Sociológico
Para Durkheim, o conhecimento e a explicação da vida social impõem ao pesquisador a escolha
de um método que permita investigar de maneira cientifica os fatos sociais. Para observar e interpretar a
realidade social, o pesquisador deveria assumir posição semelhante a do estudioso das ciências naturais,
considerando, entretanto, que a Sociologia examina fatos que pertencem ao reino social, com
especificidades próprias que os distinguem dos fenômenos da natureza.
A Sociedade
Precursor da corrente positivista e inspirado nas análises das ciências
naturais, Durkheim compara a sociedade a um corpo vivo, em que
cada “órgão”, ou seja, cada uma das partes que compõem a sociedade,
Materialismo Histórico
Para interpretar o capitalismo e compreender a história das sociedades humanas,
Marx desenvolveu uma teoria – o Materialismo Histórico, que procurava explicar
qualquer tipo de sociedade, em todas as épocas, através de fatos materiais,
essencialmente econômicos.
Nessa passagem destacamos algumas questões centrais que serviram de suporte teórico
ao materialismo histórico:
Segundo Aron (1987), esses quatro modos de produção podem ser reunidos em
dois grupos. Os modos de produção antigo, feudal e capitalista são representantes da
história do Ocidente. Enquanto o modo de produção asiático caracteriza uma civilização
distinta da do Ocidente. O modo de produção antigo é caracterizado pela escravidão; o
modo de produção feudal pela servidão e o modo de produção capitalista pelo trabalho
assalariado. Eles correspondem a três modos distintos de exploração do homem pelo
homem. O modo de produção capitalista seria a última etapa de uma formação social
baseada na exploração do homem pelo homem, na medida em que o modo de produção
que o substituiria, seria o modo de produção socialista, não submeteria a massa de
trabalhadores à exploração e à opressão.
“conexões” que, para ele, possui significado. O fenômeno social que o pesquisador escolhe,
assim como a delimitação do problema que orientará a sua investigação serão determinados
pelas suas escolhas, orientado pelas suas idéias de valor, ou seja, o pesquisador é orientado pela
sua convicção pessoal e subjetiva, que é ele que confere ao seu estudo uma direção e exprime
uma determinada interpretação do fato estudado.
Afirmava Weber que apenas as idéias de valor que dominam o investigador e uma
época podem determinar o objeto de estudo e os limites desse estudo.
Mas, no que refere a validade científica, uma questão emerge: como conferir ao
conhecimento produzido a partir das idéias e dos valores subjetivos do pesquisador, a validade
e o rigor de uma obra científica? Como alcançar a objetividade científica?
No que se refere ao método de investigação, defendia Weber que para alcançar maior
objetividade científica seria fundamental o pesquisador construir sua interpretação baseada nas
normas e preceitos válidos e determinados pela ciência de seu tempo “só será considerada uma
verdade científica aquilo que se pretende válido para todos os que querem a
verdade.”(WEBER,idem,p.100)
O primeiro significa que a ciência moderna se caracteriza pelo não acabamento, isto,
porque o conhecimento científico é um processo que jamais se esgotará.
Weber elabora uma distinção entre quatro tipos de ação social: a ação acional
com relação a fins, a ação racional com relação a valores, a ação tradicional e a ação
afetiva.
1) A ação racional com relação a fins: é uma ação concreta em que o agente concebe
claramente objetivos específicos a serem alcançados. Exemplo: o atleta que se
prepara para realizar uma competição; a ação do cientista.
2) A ação racional com relação a um valor: é a ação definida pela crença consciente
no valor - moral, ético, religioso, estético, etc. – que justifica determinada conduta. O
indivíduo age motivado pela “força” dos valores sobre a sua conduta. Aceita todos os
riscos para manter-se fiel a sua honra ou causa que acredita. Por exemplo: o
“homem-bomba”, que mesmo consciente do fim trágico de sua ação, age em
conformidade com a sua crença religiosa.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício!
Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-
aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO
Nesta unidade, veremos como o homem é um ser que necessita viver em grupo para se hominizar,
ou seja, para se tornar verdadeiramente humano. Examinaremos o seu ambiente social e a sua produção em
grupo. Vamos lá!
OBJETIVOS DA UNIDADE:
• Diferenciar a sociedade humana da sociedade animal, identificando seus elementos principais.
• Conceituar cultura atentando para as suas sutilezas.
• Construir uma visão crítica acerca da influência da indústria cultural nos dias atuais, avaliando seu
papel ideológico.
PLANO DA UNIDADE:
• Elementos principais da sociedade humana.
• A essência da cultura.
• Classificação da cultura.
• Cultura popular e cultura erudita.
• Indústria cultural ou cultura de massa.
Bons estudos!
Tendo em vista o que foi exposto na unidade anterior, examinaremos agora o ambiente social do
homem, o seu papel como elemento ativo da sociedade em que vive e suas possibilidades transformadoras
deste ambiente.
Embora o ambiente físico seja também importante, o ambiente social é o fator verdadeiramente
determinante na socialização da criança. Mas este processo durará pela vida toda, pois ele é permanente e
nós estamos sempre aprendendo coisas novas em nossa sociedade.
O ambiente social influencia até no tipo
de personalidade dos indivíduos, assim
observamos, ao longo da História, sociedades que
geraram homens guerreiros, homens caçadores,
homens viajantes, homens executivos com tino
para negócios, etc. De um modo geral, pode-se
dizer que cada cultura produzirá seu tipo especial
ou tipos especiais de personalidades.
Durkheim (In: CASTRO & DIAS, 1981) afirmou que o pensamento e o comportamento dos
indivíduos são determinados pelas “representações coletivas”. Esta representação indicava o corpo de
experiências, idéias e ideais de um grupo do qual o indivíduo inconscientemente depende para a formulação
de suas idéias, atitudes e comportamento.
A ESSÊNCIA DA CULTURA
Entretanto, para a produção de cultura, o homem precisa se comunicar e esta comunicação, que é
feita de várias maneiras na sociedade humana, ganha maior peso com a linguagem simbólica (abstrata) que
é exclusiva do homem.
Assim o homem transmite a sua cultura, mas ao mesmo tempo rompe com as tradições, renovando
esta cultura e acrescentando novos elementos à mesma. Desta forma, observamos que o homem é um ser
histórico que vive a cada época de maneira diferente.
CLASSIFICAÇÃO DA CULTURA
As culturas apresentam um aspecto material e outro não-material. Aqui podemos situar as tradições,
os costumes, as leis, as ciências, as ideologias, etc. A cultura, também possui o seu lado material, concreto,
em que são produzidos todos os tipos de objetos, máquinas, ferramentas, que estão ligados, obviamente, ao
lado abstrato.
Sob o enfoque marxista, como vimos na unidade I, o homem é o único animal que produz cultura,
pois é o único animal que transforma a natureza através de seu trabalho, produzindo bens materiais para a
sua subsistência.
CULTURA POPULAR E CULTURA ERUDITA
Esses conceitos geram, muitas vezes, discussões entre os estudiosos da questão, pois como se define
o que é popular e o que é erudito? Quais os critérios utilizados para separarmos o que é uma coisa e o que é
outra?
O critério mais utilizado é o da classe social, ou seja, a cultura popular pertenceria ao povo e a
cultura erudita às elites ou classes dominantes dentro da sociedade capitalista. Para alguns antropólogos,
estas definições são muito mais complexas do que aparentemente se apresentam, pois as classes não são
homogêneas e nem tão pouco a sua produção cultural.
Portanto, esta divisão traz em si um grande debate científico. Em uma sociedade como a nossa,
verificamos a existência de uma interrelação entre a cultura popular e a cultura erudita, o que permite a
manutenção da sociedade como um todo. Os elementos que a princípio pertencem à cultura popular ou à
cultura erudita vão se transformando dinamicamente e se entrelaçando. O que podemos dizer é que este
fenômeno é conseqüência da vivência do homem em sociedade. E assim, se por um lado vemos a feijoada
que a princípio era alimento de escravos nos melhores restaurantes das cidades, por outro lado, vemos a
música clássica (pertencente às elites) em um radinho de pilha de um operário.
Edgar Morin (1986, p.75), grande pensador sobre as questões culturais, analisa o conceito de cultura
da seguinte forma:
O que percebemos é que a cultura é um sistema em que todos os elementos estão ligados entre si e
que cada sociedade transmite a seus membros a sua cultura, o seu patrimônio cultural.
Cada sociedade possui a sua cultura e é ela que a caracteriza.
Indústria cultural ou cultura de massa
Podemos começar a falar de indústria cultural ou
cultura de massa a partir do século XVIII quando
foi marcante a multiplicação dos jornais na
Europa, fato que anteriormente à industrialização
somente o clero e a nobreza tinham acesso à
escrita.
Todas estas transformações fizeram com que um ramo da indústria passasse a se dedicar
exclusivamente a este fato. Logo, não só os jornais apresentavam crescimento, como já foi dito
anteriormente, mas os livros, as peças, as “mercadorias culturais” como um todo, cresciam.
Este termo, indústria cultural, foi criado por dois grandes filósofos contemporâneos: Theodor
Adorno (1903-1969) e Max Horkheime (1895-1973).
Eles explicam como os meios de comunicação de massa (rádio, televisão, cinema) vendem as
mercadorias culturais e como são veiculadas as imagens da sociedade capitalista através da propaganda
desta sociedade, a fim de que ela se mantenha como está, ou seja, para que a sua estrutura permaneça a
mesma.
Os atuais meios de produção propiciaram a reprodução de obras de arte que foram sendo
popularizadas em larga escala. E sobre esse aspecto os estudiosos da questão afirmam que não podemos
pensar em cultura erudita ou cultura popular sem antes examinarmos a indústria cultural.
Segundo esta corrente de pensadores, a indústria cultural contribuiu para a emancipação e melhoria
das sociedades, pois promovendo a padronização dos gostos e sensibilidades entre as classes sociais,
promove também a união e o sentimento de nacionalidade.
Faça uma revisão deste conteúdo, buscando rever os pontos principais que foram abordados.
LEITURA COMPLEMENTAR:
CASTRO & DIAS. Introdução ao pensamento sociológico. Rio de Janeiro: Eldorado, 1981.
KOENIG, S. Elementos de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
MORIN, E. Cultura de Massa no século XX. O espírito do tempo -2. NECROSE. Rio de Janeiro:
Forense, 2001.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício!
Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-
aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO
4. Como vimos nesta unidade, o homem é um ser que não nasce pronto e por isso depende do grupo social
para se:
a) movimentar.
b) concentrar.
c) transportar.
d) socializar.
e) especializar.
7. Dois elementos são apontados durante esta unidade como diferenciadores da sociedade humana, são eles:
a) o trabalho e os meios de comunicação.
b) a cultura de massa e os meios de comunicação.
c) a linguagem simbólica e os meios de comunicação.
d) a leitura e os transportes.
e) a linguagem simbólica e o trabalho.
8. A indústria cultural é vista por alguns autores sob um ângulo negativo porque:
a) faz com que as pessoas consumam cada vez mais mercadorias desnecessárias.
b) diminui o papel da escola, pois as crianças se interessam mais pela televisão do que pelos estudos.
c) vende muito mais revistas do que livros.
d) serve apenas para controlar e manter a sociedade capitalista através da dependência e da alienação dos
homens.
e) aumenta o consumo de bens que antes eram apenas das classes dominantes.
2. Explique por que Edgar Morin afirma que a palavra cultura parece ser uma armadilha.
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________