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Texto 1 - A Formação Da Sociologia Como Conhecimento Científico

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SOCIOLOGIA APLICADA

Graduação

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO


Prezado aluno iniciaremos os nossos estudos de Sociologia fazendo uma análise do contexto sócio-histórico que
propiciou o seu surgimento e, a partir daí, poderemos entender melhor o seu conceito e o seu objeto de estudo.

OBJETIVO DA UNIDADE:
• Analisar as condições sócio-históricas que favoreceram o surgimento da Sociologia como ciência,
identificando seu objeto de estudo e comparando as diferentes posturas paradigmáticas neste contexto, a fim de
que possa participar do processo social conscientemente.

PLANO DA UNIDADE:
• O contexto sócio-histórico e intelectual do surgimento da Sociologia.
• A crise do Feudalismo.
• A formação dos Estados-Nacionais.
• O Mercantilismo e a expansão comercial ultramarina.
• A Sociologia se estabelece como Ciência.

Bem-vindo à primeira unidade de estudo.


Sucesso!

O CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO E INTELECTUAL DO


SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA

O surgimento da Sociologia pode ser


identificado no bojo de um amplo processo
histórico que tem início na transição feudal-
capitalista, quando se dá a desagregação da
sociedade feudal no século XV e vai até o período
das revoluções burguesas - revolução industrial
inglesa e a revolução francesa no século XVIII,
marcando a consolidação da sociedade capitalista.
Respondendo a essas indagações, estaremos
com os nossos estudos bem encaminhados... Sendo
assim, vamos em frente!
A CRISE DO FEUDALISMO
Caminharemos juntos nesta etapa, visando entender que, para que a nova ordem pudesse ganhar espaço,
o Feudalismo teria que extinguir todas as suas possibilidades de reprodução.
A partir dos séculos XV e XVI podemos
observar que grandes transformações ocorreram na
Europa e, conseqüentemente, no mundo todo. Esses
acontecimentos desestruturaram o sistema feudal
existente e deram origem a um novo sistema – o
capitalismo. A grande crise do feudalismo
desenvolveu-se na Europa Ocidental no século
XIV, atingindo indiscriminadamente campo e
cidade, disseminando a fome, epidemias e as
guerras, podendo ser explicada por um conjunto de
fatores que trouxe, como conseqüência, a superação
do sistema feudal.

A economia medieval encontrava-se em crise face à baixa produtividade agrícola, ocasionada pelo esgotamento
dos solos - utilização inadequada de técnicas agrícolas predatórias - o que projetava um declínio na produção de
alimentos, gerando a fome e, conseqüentemente, as epidemias.
Em meados do século XIV, os comerciantes genoveses trouxeram da região do Mar Negro uma
epidemia que, no espaço de dois anos, espalhou a morte por toda a Europa, atingindo homens e mulheres
adultos e crianças de todos os segmentos sociais, sendo conhecida como Peste Negra – um castigo de Deus.
A crise se agravou na medida em que os
senhores feudais viram seus rendimentos
declinarem devido à falta de trabalhadores e ao
despovoamento dos campos.
Capitalismo: sistema social baseado no capital,
dinheiro.
A mortandade trazida pela fome e a peste negra
foi ainda ampliada pela longa Guerra dos Cem
Anos (1337/1453), desencadeada pela disputa das
regiões de Bordéus e Flandres, entre França e
Inglaterra.
A conjuntura de epidemias, de aumento brutal da
mortalidade e de superexploração camponesa que
caracterizou a Europa do século XIV trazendo a
crise, foi sendo superada no decorrer do século
XV, com a retomada do crescimento
populacional, agrícola e comercial.

FORMAÇÃO DOS ESTADOS-NACIONAIS


Para acompanharmos as transformações em curso, é fundamental concentrarmos-nos na aliança
entre a burguesia e o rei, que resulta na formação dos Estados-Nacionais, verificando-se a consolidação
territorial a partir de práticas políticas absolutistas, com o fortalecimento do poder e autoridade dos reis.
Essa nova forma de organização política atendia aos interesses tanto da nobreza quanto da
burguesia. Os nobres, apesar de sua crescente dependência frente aos reis e da perda de autonomia, tiveram
assegurados
os seus privilégios feudais sobre os camponeses, mantendo suas terras e os seus títulos
nobiliárquicos, além de cargos administrativos, pensões e chefias de regimentos militares.
Os burgueses procuraram aliar-se aos reis, financiando-os com recursos para a manutenção de
exércitos profissionais permanentes, necessários à manutenção da ordem e do poder. Além disso, a
centralização política e administrativa trouxe a gradual unificação de impostos, leis, moedas, pesos, medidas
e alfândegas em cada país, beneficiando o comércio e a burguesia.
Os Estados-Nacionais, formados a partir de fins do século XIV em Portugal e durante o século XV
na França, Espanha e Inglaterra, evoluíram no sentido do Absolutismo monárquico. Sistema político o qual
o rei detém o poder total, cabendo-lhe o direito de impor leis e obediência aos súditos. Mesmo as regiões
que permaneceram divididas em pequenos reinos e cidades, como a Itália e a Alemanha, a tendência foi para
o fortalecimento do poder político dos governantes locais.

MERCANTILISMO E A EXPANSÃO
COMERCIAL ULTRAMARINA
Veremos agora como os europeus –
pioneiramente Espanha e Portugal – chegam a
regiões nunca antes alcançadas e quais os seus
verdadeiros interesses. A expansão territorial
implementada pela política

mercantilista resultou na conquista e exploração de novos territórios denominados “colônias” e estas


passando a cumprir o papel de complementaridade da economia da metrópole, constituindo-se em fontes
geradoras de riquezas dos países europeus. Através do “Pacto Colonial”, ficava assegurada a exclusividade
das transações mercantis estabelecidas entre as metrópoles e suas respectivas colônias, numa relação
também conhecida como monopólio comercial.
Dentre as características do Mercantilismo, podemos identificar:
• expansão marítima comercial e a conquista de novos mercados fornecedores de matérias-primas e
mão-de-obra;
• busca incessante do lucro, através da manutenção de uma balança comercial de superávit, ou seja,
exportar sempre mais do que importar;
• idéia metalista – nível de riqueza de um país medido pelo montante de ouro e prata acumulado em
seu tesouro nacional;
• absolutismo monárquico – poder político centralizado em torno do rei que constituía-se na
autoridade maior do sistema, com o Estado controlando a política econômica em favor dos interesses
burgueses.
As práticas mercantilistas impulsionaram o crescimento do capitalismo comercial dando origem à
acumulação primitiva de capitais, pré-condição necessária ao desenvolvimento do próprio capitalismo.

Secularização

É importante agora, percebermos as


mudanças do entendimento do homem sobre si
mesmo e o mundo. Na transição feudal-capitalista
surge um novo homem, principalmente nos
centros urbanos, mais crítico e sensível,
representando um pensamento antropocêntrico –
o homem como o centro de todas as coisas e
racionalista – crença ilimitada na capacidade
da razão em dar conta do mundo - movimento
resgatado da antiguidade greco-romana, que
chocava-se com a postura teocêntrica e
dogmática, definida pelo poder clerical na Idade
Média.

Desenvolve-se, então, uma nova forma de entender a realidade, isto é, a razão passou a ser
considerada o elemento principal de interpretação dos fatos. O homem constrói uma concepção anticlerical
apoiada em bases de liberdade, que não precisava se submeter à autoridade divina imposta pela Igreja
Católica.

Renascimento
O Renascimento foi um movimento intelectual que marcou a cultura européia entre os séculos XIV
e XVI, originário da Itália e irradiado por toda a Europa.
Está associado ao humanismo e
fudamentado nos conceitos da civilização da
antiguidade clássica, numa demonstração de
menosprezo pela Idade Média, considerada como
“noite de mil anos” ou “escuridão”.
O Renascimento representou uma nova
visão de mundo que atendia plenamente aos
interesses da burguesia em ascensão. Suas
principais características eram o racionalismo,
crença na razão como forma explicativa do mundo
em oposição à fé; o antropocentrismo, colocando o
homem no centro de todas as coisas, em oposição
ao teocentrismo e o individualismo, em oposição ao
coletivismo cristão.
O Humanismo pregava a pesquisa, a crítica
e a observação, em oposição ao princípio da
autoridade. A explicação da origem italiana do
Renascimento e do Humanismo, se dá em função da
riqueza das cidades italianas, da presença de sábios
bizantinos, da herança clássica da Antiga Roma e da
difusão do mecenato. A invenção da Imprensa
contribuiu muito para a divulgação das novas idéias.

Fases do Renascimento
O Renascimento pode ser dividido em três grandes fases, correspondentes aos séculos XIV, XV e o
XVI.
Trecento - século XIV - manifesta-se predominantemente na Itália, mais especificamente na cidade
de Florença, pólo político, econômico e cultural da região. Giotto, Boccaccio e Petrarca estão entre seus
representantes. Suas características gerais são o rompimento com o imobilismo e a hierarquia da pintura
medieval - valorização do individualismo e dos detalhes humanos;
Quatrocento - século XV - o Renascimento espalha-se pela península itálica, atingindo seu auge.
Neste período atuam Botticelli, Leonardo da Vinci, Rafael e, no seu final, Michelangelo, considerados os
três últimos o “trio sagrado” da Renascença. As características gerais do período são: inspiração greco-
romana (paganismo e línguas clássicas), racionalismo e experimentalismo;
Cinquecento – século XVI - o Renascimento torna-se neste século um movimento universal
europeu, tendo, no entanto, iniciado sua decadência. Ocorrem as primeiras manifestações maneiristas e a
Contra-reforma instaura o Barroco como estilo oficial da Igreja Católica. Na literatura atuaram Ludovico
Ariosto, Torquato Tasso e Nicolau Maquiavel, já na pintura eram Rafael e Michelangelo.

O Iluminismo
O Iluminismo foi o movimento intelectual desenvolvido na França no século XVII e teve o seu
apogeu durante o século XVIII - o chamado “Século das Luzes”, que enfatizava o domínio da razão e da
ciência como formas de explicação para todas as coisas do universo, substituindo as crenças religiosas e o
misticismo que bloqueavam a evolução do homem desde a Idade Média.

Para os filósofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porém era corrompido pela sociedade
com o passar do tempo. Eles acreditavam que se todos fizessem parte de uma sociedade justa, com direitos
iguais para todos, a felicidade comum seria alcançada. Por esta razão, eles eram contra as imposições de
caráter religioso, contra as práticas mercantilistas, contrários ao absolutismo do rei, além dos privilégios
dados à nobreza e ao clero.
O Iluminismo foi mais intenso na França onde influenciou a Revolução Francesa, assim como na
Inglaterra e em diversos países da Europa onde a força dos protestantes era maior, chegando a ter
repercussões, mesmo em alguns países católicos.

Podemos dizer que, de certo modo, este movimento é herdeiro da tradição do Renascimento e do
Humanismo por defender a valorização do Homem e da Razão, contribuindo também para o avanço do
capitalismo e da sociedade moderna na medida em que disseminava os ideais de uma sociedade “livre”,
com possibilidades de transição de classes e mais oportunidades iguais para todos.

Economicamente, o Iluminismo identificava que era da terra e da natureza que deveriam ser
extraídas as riquezas dos países. Segundo Adam Smith, cada indivíduo deveria procurar lucro próprio sem
escrúpulos o que, em sua visão, geraria um bem-estar geral na civilização.

Os principais filósofos do Iluminismo foram: John Locke (1632-1704), ele acreditava que o homem
adquiria conhecimento com o passar do tempo através do empirismo; Voltaire (1694-1778), ele defendia a
liberdade de pensamento e não poupava crítica à intolerância religiosa; Jean-Jacques Rousseau (1712-1778),
ele defendia a idéia de um estado democrático que garantia igualdade para todos; Montesquieu (1689-1755),
ele defendeu a divisão do poder político em Legislativo, Executivo e Judiciário; Denis Diderot (1713-1784)
e Jean Le Rond d´Alembert (1717-1783), juntos organizaram uma enciclopédia que reunia conhecimentos e
pensamentos filosóficos da época.

O outro lado da moeda


Estas transformações foram acompanhadas, nos séculos XVII e XVIII,
por mudanças políticas, tais como: a Revolução Inglesa, a Revolução

Americana e a Revolução Francesa, que introduziram grandes alterações nessas sociedades e


influenciaram a mudança de outras no mundo a fora.
Você pode observar que a sociedade que antes tinha suas bases na produção da terra passa a ter
suas bases na produção industrial e trouxe consigo uma nova forma de trabalho, que é o trabalho
assalariado. Este também trouxe novas formas de relações entre as pessoas e de representatividade nos
governos.

Tudo mudava. Aquela sociedade tradicional que antes existia estava completamente
transformada precisando se organizar para atender às novas necessidades.
Revolução Industrial Inglesa

Agora, iremos pesquisar a revolução que alterou a relação entre os homens, configurando as
formas do mundo contemporâneo.
No decorrer do século XVIII, a Europa Ocidental passou por uma grande transformação no
setor da produção, em decorrência dos avanços das técnicas de cultivo e da mecanização das fábricas, a
qual se deu o nome de Revolução Industrial. A invenção e o aperfeiçoamento das máquinas permitiram
o aumento vertiginoso da produtividade, resultando na diminuição dos preços dos produtos e o
crescimento do consumo e dos lucros.
Esse momento revolucionário de passagem da energia humana, hidráulica e animal para motriz,
é o ponto culminante de uma revolução tecnológica, social e econômica, cujas origens podem ser
encontradas nos
séculos XVI e XVII, com a política de incentivo ao comércio, adotada pelos Estados-Nacionais
e a adoção da política mercantilista. A acumulação de
capitais nas mãos dos comerciantes burgueses e a abertura dos mercados proporcionada pela
expansão marítima estimularam o crescimento da produção, exigindo mais mercadorias e preços
menores. Gradualmente, passou-se do artesanato disperso para a produção em oficinas e destas para a
produção mecanizada nas fábricas.
Para Karl Marx, a Revolução Industrial integra o conjunto das chamadas “Revoluções
Burguesas” do século XVIII, responsáveis pela crise do Antigo Regime na passagem do capitalismo
comercial para o industrial. Os outros dois movimentos que a acompanham são a Independência dos
Estados Unidos e a Revolução Francesa que, sob influência dos princípios iluministas, assinalam a
transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea.

A Inglaterra foi o país pioneiro da industrialização, sendo que alguns fatores contribuíram para
isso:
• o principal deles foi a aplicação de uma política econômica liberal em meados do século
XVIII, liberalizando a indústria e o comércio o que acarretou um enorme progresso tecnológico e
aumento da produtividade em um curto espaço de tempo;

• a Lei de Cercamento dos Campos, denominados “enclouseres” marcou o fim do uso comum
das terras, expulsando o homem do campo e gerando o “trabalhador livre”. Na medida em que não
tinham mais condições de vida no meio rural, partiam para as cidades, gerando forte concentração de
mão-de-obra urbana, o que favorecia às indústrias;

• a Inglaterra possuía grandes reservas de carvão mineral em seu subsolo, a principal fonte de
energia para movimentar as máquinas e as locomotivas a vapor. Possuíam também consideráveis
reservas de minério de ferro, principal matéria-prima utilizada neste período.

• a burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as fábricas, comprar matéria-prima,
máquinas e contratar empregados por causa da grande taxa de poupança que existia na época;

• a agricultura inglesa desenvolveu-se com a difusão de novas técnicas e instrumentos de


cultivo.
A mecanização da produção criou o proletariado rural e urbano, composto de homens, mulheres
e crianças, submetido a jornadas de trabalho diárias, extensivas e intensivas, de mais de 16 horas no
campo ou nas fábricas.
Com a Revolução Industrial, consolida-se o sistema capitalista baseado em duas classes
fundamentais: a burguesia detentora do capital e o proletariado, que nada possuíam a não ser a sua força
de trabalho, que vendiam aos capitalistas em troca de um salário.
O capital apresenta-se sob a forma de terras, dinheiro, lojas, máquinas ou crédito. O agricultor,
o comerciante, o industrial e o banqueiro, donos do capital, controlam o processo de produção,
contratam ou demitem os trabalhadores, conforme seus interesses.

As formas de transformação de matérias-primas em produtos são:


trabalho artesanal – é a forma mais primitiva de trabalho, dominada pelo homem há milhares
de anos. O trabalho era manual, sem a utilização de máquinas e o artesão realizava sozinho todas as
etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima até o acabamento final dos produtos, não
havendo divisão do trabalho. O artesão era dono dos meios de produção - oficina e ferramentas simples
- possuindo também o produto final de seu trabalho.

trabalho manufaturado – estágio intermediário entre o artesanato e a indústria. Neste


processo, podemos observar o uso de máquinas simples e a divisão social do trabalho (especialização
do trabalhador) com cada trabalhador ou grupo de trabalhadores, realizando uma etapa para a obtenção
do produto final. Na manufatura, já encontramos a figura do capitalista com interferência direta no
processo produtivo, passando a comprar a matéria-prima e a determinar o ritmo de produção.

indústria moderna – com a mecanização da produção introduzida pela Revolução Industrial,


os trabalhadores perdem o controle do processo

produtivo, passando a trabalhar para um patrão – burguês - na condição deoperários – empregados


assalariados. Esses trabalhadores passam a manejar máquinas que pertencem agora ao empresário, dono dos
meios de produção e para o qual se destina o lucro, sendo que a matéria-prima e o produto final não mais
lhes pertencem.

Temos como etapas da industrialização, os seguintes períodos:

Primeira Revolução Industrial – desenvolvida entre meados do século XVIII até as últimas
décadas do século XIX, com a predominância do trabalho intensivo com jornadas de trabalho de até 16
horas por dia, com baixa remuneração do operariado. Utilização de máquinas à vapor nas indústrias têxteis,
sendo que a grande fonte de energia era o carvão mineral.

Segunda Revolução Industrial – compreendida entre as últimas décadas do século XIX até o final
da década de 1970 – século XX. A jornada de trabalho cai para 8 horas diárias e passa a ser regulamentada
por leis trabalhistas, a partir dos avanços sociais relativos ao processo histórico de cada país. O petróleo vai
substituindo o carvão até se constituir na principal fonte de energia e a indústria automobilística como maior
atividade produtiva.

Terceira Revolução Industrial – conhecida também como Revolução Técnico-Científica, tem


início a apartir da segunda metade da década de 1970, sendo caracterizada pelo avanço do conhecimento e
tecnologia avançada. As jornadas de trabalho são mantidas em 8 horas diárias. Os setores de ponta são a
informática, a robótica, as telecomunicações, a química fina e a biotecnologia. Neste período, temos uma
diversificação quanto às fontes de energia – hidrogênio, energia solar, etc.
A Revolução Industrial favoreceu também o desenvolvimento dos transportes. Logo vieram a
locomotiva e a navegação a vapor, o que fez com que houvesse uma redução nos custos dos fretes, baixando
os preços dos produtos e aumentando o consumo.

Com a Revolução Industrial, a Inglaterra se transformou no maior produtor e exportador de produtos


manufaturados e a população dos centros urbanos cresceu assustadoramente. Não podemos esquecer de que
havia nesse país matérias-primas indispensáveis para o funcionamento e a construção dessas máquinas –
carvão e ferro.
E, então, você já pode imaginar o que foi acontecendo: a burguesia investiu na inovação tecnológica
e as máquinas foram cada vez mais se aprimorando e aumentando a produção que se expandia por todo o
mundo, estabelecendo laços de dependência entre as nações.

O trabalho assalariado que substitui o trabalho artesanal ganha força utilizando-se fortemente da
mão-de-obra feminina e infantil e a energia a vapor cresce em lugar da energia humana.

Revolução Francesa
A Revolução Francesa é um importante marco histórico da transição do feudalismo para o
capitalismo, inaugurando um novo modelo de sociedade baseada na economia de mercado.

A Revolução Francesa significou o colapso das instituições feudais do Antigo Regime e o fim da
monarquia absoluta na França. Ao mesmo tempo, propiciou a ascensão da burguesia ao poder político,
fortalecendo as condições essenciais para a consolidação do capitalismo.

Movimento político de extrema relevância para o continente europeu e para o Ocidente, a Revolução
Francesa teve início em 1789 e se prolongou até 1815. Sofreu grande influência dos ideais do Iluminismo,
baseando-se no direito à liberdade, à igualdade e à fraternidade e nos princípios democráticos e liberais da
Independência Americana(1776).

O êxito do processo revolucionário francês, encerrando os privilégios da nobreza e do clero, serviu


de motivação para novos movimentos em direção ao igualitarismo em outras partes da Europa.

A Revolução Francesa pode ser subdividida em quatro grandes períodos: a Assembléia Constituinte,
a Assembléia Legislativa, a Convenção e o Directório.

Causas da Revolução

A Revolução Francesa foi resultado de uma conjugação de fatores sociais, econômicos, políticos e,
pelo menos um desses fatores, é apontado, pela maioria dos historiadores, como determinante para o
desencadeamento do processo revolucionário. Trata-se do descontentamento do povo com os abusos e
privilégios do regime absolutista.

A composição social da sociedade francesa, na segunda metade do século XVIII, é marcada por uma
rígida hierarquia e estratificação social. A hierarquia social francesa propiciava honras e privilégios em
função do
nascimento e dividia a população de maneira discriminatória segundo ordens ou estados.

De um lado, duas classes – o clero e a nobreza, que juntas usufruíam dos privilégios e da riqueza
produzida pela sociedade francesa.
O Clero ou 1º Estado composto por importantes membros da Igreja Católica, originário da nobreza,
que em 1789 representava 2% da população francesa.

A Nobreza ou 2º Estado formado pelo rei e sua família, bem como outros nobres como: condes,
duques, marqueses, aproximava-se de 1,5% dos habitantes. Controlava a maior parte das terras,
concentrando em suas mãos boa parte de tudo que produziam os camponeses; gozava de inúmeros
privilégios e não pagava impostos.

Do outro lado, o povo – base da sociedade francesa, que sustentava pelo peso de impostos que
pagava, a vida de riqueza e muito luxo dos nobres e do clero.

O Povo ou 3º Estado era formado pela burguesia, pelos trabalhadores urbanos (a maioria deles
desempregados), artesãos e camponeses – sans cullotes.
O desenvolvimento do comércio e da indústria, assim como a conquista de novos mercados na
Europa e fora dela, fizeram a burguesia acumular riquezas muito rapidamente. A confortável posição que
desfrutava no campo dos negócios, contrastava com a desfavorável condição que a burguesia ocupava na
vida política do regime absolutista. Apesar de rica, a estrutura social francesa barrava a ascensão da
burguesia, uma vez que os privilégios, honras e títulos estavam reservados somente à nobreza e ao alto
clero. Além disso, a má administração das finanças, a cobrança excessiva de impostos e os gastos
descontrolados da nobreza eram considerados obstáculos aos interesses burgueses.

Os camponeses e os trabalhadores urbanos que representavam a esmagadora maioria da população


francesa viviam em precárias condições de vida e de existência, ou seja, em quase absoluta miséria.

No campo, embora grande parte dos camponeses fosse livre, somente uma pequena parcela podia
manter-se com a produção da terra. A elevada carga de impostos relegou boa parte dos pequenos
proprietários a subsistir trabalhando nas propriedades dos grandes senhores ou dedicar-se a produção
artesanal.
Liberalismo: corrente política de pensamento que defende a
liberdade do indivíduo frente ao intervencionismo do Estado.

Por outro lado, o progresso industrial não representou para a classe trabalhadora operária uma
melhoria das condições de vida e de trabalho. A classe operária convivia com salários muito baixos e com
altos níveis de desemprego.
O quadro de desigualdade social da sociedade francesa, alimentado pela crise econômico-financeira
do Antigo Regime, tornou ainda mais precárias as condições em que viviam os trabalhadores do campo e da
cidade. Relegados a condições miseráveis de existência, camponeses e trabalhadores urbanos desejavam
novas formas de vida e de trabalho.

As origens do processo revolucionário francês de 1789 devem ser buscadas nas contradições dos
interesses estabelecidos pelo regime absolutista e as novas forças sociais que estavam em ascensão. Ou seja,
os interesses econômicos e políticos da nova e poderosa classe burguesa sufocada por uma organização
social aristocrática e decadente fizeram despertar o povo (o terceiro estado), que passou a rejeitar as ordens,
as
diferenças sociais e as restrições. Diante das promessas igualdade e fraternidade, o povo foi atraído
para a causa revolucionária.

A SOCIOLOGIA SE ESTABELECE COMO CIÊNCIA


Tendo em vista todos estes
acontecimentos, Augusto Comte (1798-1857)
defende uma proposta para resolver os problemas
da sociedade de sua época que viria através da
reforma intelectual do homem alcançando a
reforma das instituições.

Estas reformas estavam embasadas no Liberalismo que triunfara no século XIX e pregava a
liberdade e a igualdade inata entre os homens. Porém, suas reformas estabeleciam a autoridade e a ordem
pública contra os abusos do individualismo da Escola Liberal (RIBEIRO JR. 1988:15).
A Sociologia nasce como resposta a esse individualismo pregado pela sociedade capitalista e vai
assim enfatizar as ações altruístas entre os homens.

Positivismo: corrente filosófica cujo iniciador foi Augusto Comte.


Defendia a ciência acima de tudo.
Laissez-faire: expressão francesa que transmite uma das essências do
Liberalismo que dizia: deixai - fazer, ou seja, o homem era livre para
fazer o que quisesse.
Objeto de estudo: aquilo que vai ser estudado pelo cientista.

O positivismo de Comte comparava a sociedade à vida orgânica, cujas partes que a constituem
desempenham funções que se orientam para a preservação do todo. Sendo assim, a sociedade não poderia
sofrer revoluções violentas e sim se desenvolver harmoniosamente. Repudia o laissez-faire do Liberalismo,
pregando o planejamento social.
Comte defendia a idéia de que as ciências deveriam atingir a máxima objetividade possível.
A influência de Comte foi além da escola francesa, atingindo também os republicanos no Brasil,
como podemos observar, o lema na bandeira nacional “Ordem e Progresso”.

A especificidade do conhecimento sociológico


As ciências se distinguem pelos seus objetos de estudo e pelos seus métodos.
E com a Sociologia não vai ser diferente. Se observarmos uma sociedade, veremos que os homens
praticam atos que podemos chamar de individuais, tais como: dormir, respirar, caminhar, como também,
praticam atos
considerados sociais – casar, fazer reuniões, pedir demissão – são situações que só podem ser
entendidas através das relações que se estabelecem entre indivíduos ou grupos de indivíduos e que não
podem ser entendidas isoladamente. São estes fatos coletivos que interessam à Sociologia, pois suas causas
são encontradas não no individual, mas sim na sociedade.

É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício!
Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-
aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente
virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Nesta primeira unidade estudamos a formação da Sociologia como conhecimento
científico. Na próxima unidade, estudaremos a Sociologia Clássica. Espero você na próxima unidade. Temos
muito que estudar!

SOCIOLOGIA APLICADA – EXERCÍCIOS

UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO

1. A partir da transição feudal-capitalista, surge uma nova postura intelectual do homem, nova forma
de ver a realidade e uma nova maneira de interpretar as coisas sagradas, que o colocava numa condição de
liberdade, rompendo com a submissão diante da autoridade divina:
a) existencialismo;
b) positivismo;
c) marxismo;
d) racionalismo;
e) tomismo.

2. A Sociologia é a ciência que estuda as ações humanas sob qual perspectiva?


a) As ações humanas fora do contexto histórico-social;
b) As ações humanas comparativamente às demais espécies animais;
c) As ações humanas tomadas isoladamente;
d) As ações humanas tomadas em coletividade;
e) As ações humanas tomadas em estado de natureza.

3. Dentre os pensadores iluministas, destacamos Jean-Jacques Rousseau


(1712-1778), que defendia a idéia de:
a) procura do lucro individual sem escrúpulos;
b) centralização política em torno de um Estado forte;
c) intolerância religiosa;
d) um estado democrático que garanta igualdade para todos;
e) divisão do poder político em Legislativo, Executivo e Judiciário.

4. A Crise Geral do Feudalismo do século XIV, só foi superada em função da:


a) retomada do crescimento populacional, agrícola e comercial;
b) linha de crédito bancária obtida junto aos reis;
c) Revolução Industrial Inglesa;
d) fatores naturais dada a fé religiosa do povo;
e) união entre todos os segmentos sociais em torno do Pacto de Moncloa.

5. A produção industrial trouxe consigo uma nova forma de expressão do trabalho:


a) servil;
b) escravo;
c) voluntário;
d) assalariado;
e) terceirizado.

6. A Revolução Industrial inglesa, utiliza em seus momentos iniciais, que tipos de energia?
a) Energia humana e energia eólica;
b) Energia humana e energia a vapor;
c) Energia humana e energia nuclear;
d) Energia humana e energia elétrica;
e) Energia humana e energia solar.

7. Que tipo de motivação, inserida na lógica do capitalismo, levou a classe burguesa a investir em
“inventos”?
a) Acompanhar o ritmo de produção da classe trabalhadora;
b) Retração da produção para atendimento do mercado interno;
c) Atender as exigências dos reis;
d) Renovação do parque industrial;
e) Racionalização e aumento da produção.

8. Com a Revolução Industrial, que tipo de fenômeno populacional se deu na Inglaterra?


a) Aumento vertiginoso das populações urbanas;
b) Envelhecimento assustador da população adulta;
c) Aumento da população feminina, uma vez que o número de óbito entre
os homens aumentou em face da exploração desumana do trabalhador;
d) Alta na taxa de mortalidade infantil, num processo de contaminação
produzida pelas máquinas;
e) Aumento da taxa de mortalidade, tanto dos homens quanto das mulheres, em razão de que, as
condições de trabalho no sistema capitalista, se apresentavam mais hostis do que as verificadas no
sistema feudal.

EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO

1. O que foi o Renascimento e quais as suas principais características?


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2. O que foi o “Pacto Colonial” e quais as partes envolvidas neste acordo?


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UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA

Como vimos na Unidade 1, a Sociologia enquanto ciência surgiu como resposta intelectual para as
“crises” decorrentes da implantação e da consolidação das sociedades capitalistas modernas. Nesta segunda
unidade de estudo, vamos a Sociologia Clássica.

OBJETIVOS DA UNIDADE:
Compreender o pensamento de três autores considerados clássicos na Sociologia do século XIX e no
início do século XX. São eles Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx.

PLANO DA UNIDADE:
• Uma nova ciência: a Sociologia.
• A Sociologia de Émile Durkheim.
• A Sociologia de Karl Marx.
• A Sociologia compreensiva de Max Weber.
Bons estudos!
UMA NOVA CIÊNCIA: A SOCIOLOGIA
As transformações sociais, econômicas e políticas desencadeadas pelo duplo processo
revolucionário - a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, no século XVIII - fizeram emergir
um novo gênero de “questões sociais” que despertou o interesse de filósofos e intelectuais em
investigar a sociedade. A sociedade passava assim a se constituir em objeto de estudo de uma nova
ciência – a Sociologia.

Observadores da nascente sociedade industrial, cada um deles procurou em estudos que


realizaram, interpretar as questões sociais fundamentais da sociedade de seu tempo. Todos três, de
maneira diversa,
estavam comprometidos com o propósito de apresentar respostas para a crise da sociedade
moderna. Suas obras apresentam distintas interpretações das crises sociais de uma nova sociedade
que nasce mergulhada em contradições profundas.

Para Durkheim(1858-1917), a crise da sociedade industrial moderna estava associada à


fragilidade moral da época em orientar com eficácia a conduta dos indivíduos. A sociedade só
poderia manter sua estrutura e
equilíbrio se reconstituísse uma nova moral comum que pudesse reunir os membros da
coletividade. Para ele, a Sociologia deveria servir para resgatar o bom funcionamento da sociedade,
reconstruindo novos hábitos e valores, instituindo, enfim, uma nova moral capaz de recuperar a
“normalidade social” e preservando, assim, a ordem social.

Para Karl Marx (1818-1883), a questão fundamental da sociedade do seu tempo eram as
contradições insolúveis engendradas pela sociedade capitalista. O antagonismo entre as classes
sociais constituía a realidade concreta do capitalismo. Para ele, a divisão do trabalho entre os
homens era uma fonte inesgotável de exploração e alienação. A ciência, em sua tarefa de conhecer
a realidade, deveria converter-se em um instrumento político para a transformação social.

A contribuição dos trabalhos realizados por Weber(1864-1920) tornou-se referência para o


desenvolvimento da Sociologia. Polêmico pelas críticas ao positivismo de Durkheim e ao
Materialismo Histórico de Marx, Weber foi capaz de compreender as particularidades das ciências
humanas realçando o caráter particular de cada formação social e histórica, realçando aquilo que
ela apresenta de específico.
Caro aluno, saiba que quando buscamos empreender uma análise da vida social, nos
deparamos com um conjunto significativo de pressupostos teóricos, que nos levam a diferentes
abordagens e concepções metodológicas também variada. A marca principal da análise sociológica
do fenômeno social é a pluralidade de abordagens e contribuições teóricas que nos informam como
a realidade e a vida social foram analisadas e interpretadas. Essa diversidade teórica nos permite
construir diferentes imagens do fenômeno estudado e apontam para diferentes direções.

A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM

Embora, Auguste Comte seja reconhecidamente apresentado como fundador da Sociologia pela sua
preocupação de dotar a Sociologia de bases científicas, Durkheim é apontado como um dos primeiros
grandes teóricos desta ciência.

Representante do Positivismo, uma das preocupações centrais de Durkheim foi estabelecer a


Sociologia como uma disciplina rigorosamente científica. De acordo com Durkheim, a Sociologia deveria
assentar-se em uma base sólida afastando-se de todas as orientações que transformavam a investigação
social numa dedução de fatos particulares, mergulhada em generalidades abstratas, interpretando a realidade
social sem critérios e limites impostos pela ciência.
Autor de obras essenciais para o pensamento sociológico, como: A Divisão de Trabalho Social
(1893), As Regras do Método Sociológico (1895), O Suicídio (1897) e As Formas Elementares da Vida
Religiosa (1909).
Em sua visão, a Sociologia deveria delimitar com rigor o objeto de estudo de seu interesse; definir
um objeto de investigação próprio, específico, distinto do objeto analisado por outras ciências.

Em sua obra – “As Regras do Método Sociológico (1895)”, Durkheim afirmava que a Sociologia
deveria estudar fatos essencialmente sociais e procurar interpretá-los sociologicamente.

O Fato Social como objeto de investigação da Sociologia


Para Durkheim, o objeto de estudo da Sociologia é o fato social.Mas, o que são fatos sociais?
Afirma Durkheim (1970, p.87-88):

“Antes de procurar saber qual é o método que convém ao estudo dos


fatos sociais, importa dar a conhecer os fatos que assim designamos.

A questão é tanto mais necessária quanto as pessoas se servem desta


qualificação sem grande precisão. Empregam-na correntemente para
designar, mais ou menos, todos os fenômenos que ocorrem na sociedade,
mesmo que apresentem, apesar de certas generalidades, pouco interesse
social. Mas, partindo desta acepção, não há, por assim dizer, acontecimentos
humanos que não possam ser apelidados de sociais. Cada indivíduo bebe,
dorme, come, raciocina, e a sociedade tem todo o interesse em que estas
funções se exerçam regularmente. Assim, se estes fatos fossem sociais, a
sociologia não teria um objeto que lhe fosse próprio e o seu domínio
confundir-se-ia com os da biologia e da psicologia.
Mas, na realidade, há em todas as sociedades um grupo determinado
de fenômenos que se distinguem por características distintas dos estudados
pelas outras ciências da natureza.
Quando desempenho a minha obrigação de irmão, esposo ou
cidadão, quando satisfaço os compromissos que contraí, cumpro .
deveres que estão definidos, para além de mim e dos meus atos, no direito e
nos costumes. Mesmo quando eles estão de acordo com os meus próprios
sentimentos e lhes sinto interiormente a realidade, esta não deixa de ser
objetiva, pois não foram estabelecidos por mim, mas sim recebidos através
da educação. Quantas vezes acontece ignorarmos os pormenores das
obrigações que nos incumbem e, para os conhecer, termos de recorrer ao
Código e aos seus intérpretes autorizados! Do mesmo modo, os fiéis,
quando nascem, encontram já feitas as crenças e práticas da sua vida
religiosa; se elas existiam antes deles, é porque existiam fora deles. O
sistema de sinais de que me sirvo para exprimir o pensamento, o sistema
monetário que emprego para pagar as dívidas, os instrumentos de crédito
que utilizo nas minhas relações comerciais, as práticas seguidas na minha
profissão, etc. funcionam independentemente do uso que deles faço.

Tomando um após outro todos os membros de que a sociedade se


compõe, pode repetir-se tudo o que foi dito, a propósito de cada um deles.

Estamos, pois, em presença de modos de agir, de pensar e de sentir


que apresentam a notável propriedade de existir fora das consciências
individuais. Não somente estes tipos de conduta ou de pensamento são
exteriores ao indivíduo, como são dotados dum poder imperativo e coercivo
em virtude do qual se lhe impõem, quer ele queira quer não. Sem dúvida,
quando me conformo de boa vontade, esta coerção não se faz sentir ou faz-
se sentir muito pouco, uma vez que é inútil. Mas não é por esse motivo uma
característica menos intrínseca de tais fatos, e a prova é que ela se afirma
desde o momento em que eu tente resistir. Se tento violar as regras do
direito, elas reagem contra mim de modo a impedir o meu ato, se ainda for
possível, ou a anulá-lo e a restabelecê-lo sob a sua forma normal, caso já
tenha sido executado e seja reparável, ou a fazer-me expiá-lo, se não houver
outra forma de reparação. Tratar-se-á de máximas puramente morais? A
consciência pública reprime todos os atos que as ofendam, através da
vigilância que exerce sobre a conduta dos cidadãos e das penas especiais de
que dispõe. Noutros casos, a coação é menos violenta, mas não deixa de
existir. Se não me submeto às convenções do mundo, se, ao vestir-me, não
levo em conta os usos seguidos no meu país e na minha classe, o riso que
provoco e o afastamento a que me submeto produzem, ainda que duma
maneira mais atenuada, os mesmos efeitos de uma pena propriamente dita.
Aliás, a coação não é menos eficaz por ser indireta. Não sou obrigado a falar
francês com os meus compatriotas, nem a usar as moedas legais, mas é
impossível fazê-lo de outro modo. Se tentasse escapar a esta necessidade, a
minha tentativa falharia miseravelmente. Se for industrial, nada me proíbe
de trabalhar com processos e métodos do século passado, mas, se o fizer,
arruíno-me pela certa. Mesmo quando posso libertar-me dessas
regras e violá-las com sucesso, nunca é sem ser obrigado a lutar

contra elas. Mesmo quando são finalmente vencidas, ainda fazem sentir
suficientemente a sua força constrangedora, pela resistência que opõem.
Não há inovador, mesmo bem sucedido, cujos empreendimentos não
acabem por chocar com oposições deste tipo.

Aqui está, portanto, um tipo de fatos que apresentam características


muito especiais: consistem em maneiras de agir, pensar e sentir
exteriores ao indivíduo, e dotadas de um poder coercivo em virtude do
qual se lhe impõem. Por conseguinte, não poderiam ser confundidos com
os fenômenos orgânicos, visto consistirem em representações e ações; nem
com os fenômenos psíquicos, por estes só existirem na consciência dos
indivíduos, e devido a ela. Constituem, pois, uma espécie nova de fatos, aos
quais deve atribuir-se e reservar-se a qualificação de sociais. Tal
qualificação convém-lhes, pois, não tendo o indivíduo por substrato, não
dispõem de outro para além da sociedade, quer se trate da sociedade política
na sua íntegra ou de um dos grupos parciais que engloba: ordens religiosas,
escolas políticas, literárias, corporações profissionais, etc. Por outro lado, a
designação convém unicamente a estes fatos, visto a palavra “social” só ter
um sentido definido na condição de designar apenas os fenômenos que não
se enquadrem em nenhuma das categorias de fatos já constituídas e
classificadas. Eles são, portanto, o domínio próprio da sociologia.”

A partir dessa definição, podemos, então, afirmar que são três as características básicas que
permitem reconhecer os fatos sociais.
A primeira característica dos fatos sociais é a exterioridade. Segundo Durkheim, o indivíduo ao
nascer já encontra regras sociais, morais, legais, religiosas, etc., que foram sedimentadas pelas gerações
anteriores que deverão ser internalizadas a sua existência para que ela possa viver em sociedade. São
maneiras de ser e de agir consolidadas pelo grupo, que existem independente de sua vontade individual, ou
seja, são fatos sociais exteriores ao indivíduo. Ele não é consultado para decidir se agirá ou não em
concordância com esse conjunto de regras. O fato do indivíduo pertencer a uma determinada sociedade ou
grupo social implica na adesão obrigatória de regras que servirão para orientar sua conduta e
comportamento.

Portanto, além de exteriores, os fatos sociais são coercitivos, ou seja, dotados de um poder
imperativo que se impõem ao indivíduo pela força. Essa é, pois, a segunda característica dos fatos sociais -
exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior. Todo conjunto de regras: jurídicas, morais, religiosas,
financeiras, lingüísticas, etc., constituídas pela sociedade é imposto coercitivamente ao indivíduo. Cabe a ele
conformar-se às regras socialmente instituídas e orientar-se de acordo com elas, independente de sua
vontade particular.

Segundo Durkheim, um fato social é reconhecido pelo poder de coação externa que exerce ou é
suscetível de exercer sobre os indivíduos; e a presença desse poder é reconhecida, por sua vez, pela
existência que o fato opõe a qualquer iniciativa individual que tende a violentá-lo.

Uma pessoa pode não querer usar o idioma falado em sua sociedade, pode não querer usar a
moeda corrente em seu país ou pode não querer se subordinar aos códigos legais vigentes em seu meio,
mas certamente, suas atitudes serão severamente tolhidas pela força que a sociedade exercerá sobre seu
comportamento.
Além da exterioridade e coercitividade dos fatos sociais, uma terceira característica deve ser
considerada – a generalidade. Será considerado social o fato que é geral, ou seja, o fato que se
manifesta pela sua natureza coletiva, difusa - formas de viver consolidadas socialmente, como os
hábitos, as crenças e os valores, e também, as formas de habitação, as vias de comunicação que definem
o fluxo das correntes migratórias e de escoamento da produção.
Portanto, o domínio da Sociologia compreende um determinado grupo de fenômenos – fatos
sociais – que são reconhecidos pelo seu poder de coerção externa que exerce ou é suscetível de exercer
sobre os indivíduos; e se manifestam pela sua generalidade, pela difusão que têm no interior de uma
determinada sociedade.

O Método Sociológico
Para Durkheim, o conhecimento e a explicação da vida social impõem ao pesquisador a escolha
de um método que permita investigar de maneira cientifica os fatos sociais. Para observar e interpretar a
realidade social, o pesquisador deveria assumir posição semelhante a do estudioso das ciências naturais,
considerando, entretanto, que a Sociologia examina fatos que pertencem ao reino social, com
especificidades próprias que os distinguem dos fenômenos da natureza.

Segundo Durkheim, a explicação científica dos fatos sociais exigiria do pesquisador um


compromisso com a objetividade e a neutralidade em relação aos fenômenos observados. A regra
fundamental para observação dos fatos sociais era considerá-los como coisa, isto é, como realidades
exteriores ao indivíduo.

O distanciamento do pesquisador em relação ao objeto investigado é condição essencial para


garantir a cientificidade de seu estudo. O sociólogo deve ser capaz de observar a realidade dos fatos
sem “contaminar” a interpretação com suas prenoções, seus preconceitos, sentimentos e concepções de
mundo pessoais, o que certamente, dificultaria conhecer verdadeiramente o objeto em questão. O
sociólogo deve procurar interpretar a realidade tal como ela é, e não como ele gostaria que ela fosse,
fazendo prevalecer visões permeadas de valores e preconceitos.

A Sociedade
Precursor da corrente positivista e inspirado nas análises das ciências
naturais, Durkheim compara a sociedade a um corpo vivo, em que
cada “órgão”, ou seja, cada uma das partes que compõem a sociedade,

desempenha uma função específica para a preservação e a coesão do todo. Ao comparar


a sociedade a um organismo vivo, Durkheim identifica dois estados em que a sociedade
pode se encontrar: o normal e o patológico.
Para ele, os fenômenos que apresentam uma regularidade no meio social e que
estão previstos em sua estrutura e organização deverão ser interpretados como normais.
De outra forma, a sociedade poderá apresentar comportamentos que podem ameaçar a
integridade e a harmonia sociais, colocando em risco o consenso que deverá prevalecer.
Tais situações são consideradas “patológicas”, anormais. Considerava Durkheim que a
sociedade poderia apresentar, como um “corpo vivo” que é, alguma disfunção. Depois
de instalada, a “doença” deveria ser tratada para não provocar prejuízos maiores e
comprometer a integridade e “bom” funcionamento da ordem social. Os fenômenos
sociais “patológicos” deveriam ser tratados para restabelecer a “saúde” e o equilíbrio da
sociedade.
Para Durkheim, a sociedade industrial se encontrava em um estado patológico
porque as crises geradas por ela colocavam em risco o seu pleno funcionamento. A
crise que se encontrava a sociedade capitalista, não era de natureza econômica, como
defendiam os socialistas, mas sim uma certa fragilidade moral e a ausência de regras de
conduta e comportamento que correspondessem à nova realidade, capazes de frear o
ímpeto de destruição e de desordem sociais e guiar com eficácia a vida dos indivíduos.

A Sociologia de Karl Marx


Ao lado de Émile Durkheim e Max Weber, Karl Marx faz parte do grupo seleto
de intelectuais que integram o pensamento teórico da Sociologia Clássica.
Autor de obras fundamentais para a teoria sociológica, como o Manifesto do
Partido Comunista(1848), Contribuição à Crítica da Economia Política (1859) e, sem
dúvida, a mais importante obra dedicada a interpretar o funcionamento do sistema
capitalista – O Capital (1867). A questão central que orientou os
trabalhos de Marx foi analisar o funcionamento do capitalismo, o processo
histórico que o gerou e a sua evolução.
Em sua trajetória intelectual, contou com a colaboração de outro
importante intelectual alemão – Friederich Engels(1820-1903). Comprometidos com a
não-preservação da ordem socioeconômica do sistema capitalista, Marx e Engels não
estavam interessados em dotar a Sociologia de um caráter científico, institucionalizá-la
como disciplina acadêmica, como, aliás, fizeram Durkheim e Weber, mas sim torná-la
instrumento político de reflexão e crítica da sociedade capitalista, denunciando as
contradições e os antagonismos entre as classes sociais, com o objetivo extremo de
proporcionar os fundamentos teóricos para a transformação revolucionária desse
modelo de sociedade. Embalados por um ideal revolucionário, defendiam a adesão da
ciência a uma proposta de ação política prática. Para Marx, a ciência deveria converter-
se em um instrumento de transformação radical da sociedade.

A análise socioeconômica do capitalismo


Enquanto para análise positivista, as crises sociais e os conflitos entre
trabalhadores e empresários na sociedade capitalista eram interpretados como fenômenos
passageiros, passíveis de serem superados pela inclusão de um sistema de regras para
orientar a conduta dos indivíduos. A análise marxista procurou realizar uma crítica
radical a esse modelo histórico de sociedade, apontando suas contradições e
antagonismos.
Comprometidos com ideal revolucionário de transformação social, Marx e Engels
identificavam a luta de classes como a principal característica da sociedade capitalista.
Concordavam que a crescente divisão de trabalho na sociedade moderna era a principal
fonte de exploração, opressão e alienação.
Afirmava Marx, em O Manifesto do Partido Comunista:

A história de todas as sociedades que existiram até os nossos


dias tem sido a história das lutas de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo,
mestre de corporação e companheiro, numa palavra opressores e
oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra
ininterrupta, orafranca, ora disfarçada; uma guerra que terminou
sempre, ou por uma transformação revolucionária da sociedade
inteira, ou pela destruição das duas classes em luta.
Nas primeiras épocas históricas, verificamos, quase por toda
parte, uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma
escala graduada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos
patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores
vassalos, mestres, companheiros, servos; e, em cada uma destas
classes, gradações especiais.
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da
sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez senão
substituir novas classes, novas condições de opressão, novas formas
de luta às que existiram no passado.
Entretanto, a nossa época, a época da burguesia caracteriza-se
por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se
cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes
classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.
(Marx, Karl. Manifesto do Partido Comunista. In:
FERNANDES, Florestan. Marx e Engels – História. São Paulo:
Editora Ática, p.365-366)

Dois conceitos essenciais para o pensamento de Marx podem ser analisados a


partir deste trecho do Manifesto do Partido Comunista: classe social e alienação.
Marx partiu da idéia de que a sociedade estava dividida em classes, cada uma
com regras e condutas apropriadas, mas que estão inseridas em um único sistema que é o
modo de produção capitalista.

Para Marx, na sociedade capitalista as relações sociais de produção definem duas


classes principais: a burguesia – classe dominante detentora dos meios de produção
(propriedades, máquinas, ferramentas, capital, etc.), e o proletariado que destituído dos
meios de produção, oferece a sua força de trabalho em troca de salário.
tentou demonstrar que no capitalismo sempre haveria desigualdade social, uma
vez que a concentração de riquezas se daria pela exploração dos trabalhadores. O
capitalismo se revelaria, portanto, em um sistema “selvagem”, pois o trabalhador
produziria mais para o seu empresário do que o seu próprio custo para a sociedade. O
capitalismo se apresentaria necessariamente como um regime econômico de exploração,
sendo a mais valia a lei fundamental do sistema.
O capitalismo tornou o trabalhador alienado, isto é, separou-o de seusmeios de
produção (suas terras, ferramentas, máquinas, etc.), provocando um “estranhamento”
entre o trabalhador e seu trabalho. O homem alienase de sua própria essência que é o
trabalho. A divisão social do trabalho no capitalismo promove, então, a alienação, uma
vez que o trabalhador deixa de ter o domínio do processo de trabalho e dele não se
beneficia.
As crises e conflitos em que se envolviam a burguesia e o proletariado
decorriam, em grande medida, da oposição de interesses entre as classes sociais. No
capitalismo, os trabalhadores estão submetidos à dominação econômica, uma vez que se
encontram destituídos da propriedade dos meios de trabalho. A enorme capacidade de
produzir do regime capitalista não foi capaz de reduzir a miséria da grande massa da
população.
Os trabalhadores, no entanto, não estavam submetidos somente a dominação
econômica. A dominação estendia-se ao campo político, ideológico e jurídico da
sociedade. Para Marx, o instrumento de que dispõe a burguesia para fazer prevalecer seus
interesses e privilégios é o Estado. Através do Estado e dos seus aparatos repressivos
(exércitos, polícias), a classe dominante impõe seus interesses ao conjunto da sociedade,
fazendo-a submeter-se às regras políticas. Além do aparato repressivo, a classe
dominante dispõe do aparato jurídico – o Direito – para garantir, através do
estabelecimento de leis que sua vontade prevaleça.

Materialismo Histórico
Para interpretar o capitalismo e compreender a história das sociedades humanas,
Marx desenvolveu uma teoria – o Materialismo Histórico, que procurava explicar
qualquer tipo de sociedade, em todas as épocas, através de fatos materiais,
essencialmente econômicos.

Na Contribuição à Critica a Economia Política, afirmava Marx (1957, 4-5):

“O resultado geral ao qual cheguei, e que, uma vez adquirido,


serviu de fio condutor aos meus estudos, pode ser formulado brevemente
assim: na produção social de sua existência, os homens entram em
relações determinadas, necessárias, independente de suas vontades,

relações de produção que correspondem a um grau de desenvolvimento


determinado de suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações
de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, base concreta
sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política e à qual
correspondem formas de consciências sociais determinadas. O modo de
produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e
intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu
ser; é inversamente seu ser social que determina sua consciência. A um
certo estágio de seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da
sociedade entram em contradição com as relações existentes, ou, o que não
é senão a expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das
quais se moviam até então. De formas de desenvolvimento de forças
produtivas que eram, essas relações tornaram-se obstáculos. Abre-se, então,
uma época de revolução social. A mudança na base econômica transtorna
mais ou menos rapidamente toda a enorme superestrutura. Considerando-se
estes transtornos, torna-se necessário sempre distinguir entre a desordem
material – que pode -constatar de forma cientificamente rigorosa - das
condições de produção econômica e as formas jurídicas, políticas,
religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas sob as
quais os homens tomam consciência desse conflito, levando-o às últimas
conseqüências. Da mesma forma que não se pode julgar um indivíduo pela
idéia que faz de si mesmo, não se poderia julgar uma época de transtornos
pela consciência que ela tem em si mesma; é necessário, ao contrário
explicar esta consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito
existente entre as forças produtivas sociais e as relações de produção. Uma
formação social nunca desaparece antes que sejam desenvolvidas todas as
forças produtivas que ela possa conter, e nunca relações de produção novas
e superiores tomam seu lugar antes que as condições de existência materiais
destas relações surjam no seio da velha sociedade. É por isso que a
humanidade só se coloca problemas que possa resolver; pois, olhando isso
de mais perto, poder-se-á observar sempre que o problema só surge onde as
condições materiais para resolvê-lo já existem ou estão pelo menos em vias
de existir. Em geral, os modos de produção asiático, antigo, feudal e
burguês moderno podem ser qualificados de épocas progressivas da
formação social-econômica. As relações de produção burguesas são a última
formação contraditória do processo de produção social, contraditória, não no
sentido de uma contradição individual, mas de uma contradição que nasce
das condições de existência social dos indivíduos; entretanto, as forças
produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa, criam ao
mesmo tempo as condições materiais para resolver esta contradição. Com
esta formação social termina então a pré-história da sociedade humana.”

Nessa passagem destacamos algumas questões centrais que serviram de suporte teórico
ao materialismo histórico:

1) os homens constroem a sua vida (social) e a sua história, porém não as


constroem em condições por eles escolhidas, determinadas pela sua vontade. A vida em
sociedade estabelece relações sociais que não foram geradas pela vontade individual. A
ação do indivíduo no mundo que o envolve obriga-o a contrair relações, as relações
sociais. Elas determinam o ser social, ou seja, o indivíduo é o resultado das forças
econômicas e das relações sociais que atuam sobre ele.
Para viver, os homens têm de inicialmente transformar a natureza, arrancando
dela tudo o que necessita para subsistir e para ultrapassar a vida simplesmente natural. É
pelo trabalho que os homens transformam e dominam a si próprios e a natureza. Assim, é
pelo trabalho, através dos instrumentos que ele gerou, como as ferramentas ou máquinas,
as técnicas empregadas para produzir e a divisão do trabalho, que os homens produzem a
sua existência.
Portanto, as relações fundamentais de qualquer sociedade são as relações de
produção. As relações de produção são as formas pelas quais os homens se organizam
para executar a atividade produtiva. São as relações fundamentais dos homens com a
natureza e dos homens entre si na sua atividade produtiva.
As relações de produção articulam-se a três elementos: as condições naturais
(clima, solo, fauna, flora, etc.) determinada pela própria natureza, as tecnologias e a
divisão do trabalho. Esses três elementos constituem as forças produtivas.
No curso da história, cada um desses elementos pode sofrer modificações e
aperfeiçoamentos. Por exemplo, a exploração e o uso de novos recursos naturais exigem
o aperfeiçoamento tecnológico e a invenção de novas técnicas para atingir o máximo de
produção. Por outro lado, além da incorporação de novos instrumentais e tecnologias,
uma nova organização da divisão do trabalho também será exigida, determinando novos
padrões de formação e aperfeiçoamento da capacidade técnica da força de trabalho.
Portanto, as forças produtivas e as relações de produção são fatores essenciais
para organização de toda atividade produtiva realizada em sociedade. A forma como
cada uma existe e se desenvolve vai determinar o que Marx chamou de modo de
produção.

2) Defendendo rigoroso determinismo econômico em todas as sociedades


humanas, Marx distingue as etapas da história humana a partir dos modos de produção.
São quatro os modos de produção: o asiático, o antigo, o feudal e o capitalista.

Segundo Aron (1987), esses quatro modos de produção podem ser reunidos em
dois grupos. Os modos de produção antigo, feudal e capitalista são representantes da
história do Ocidente. Enquanto o modo de produção asiático caracteriza uma civilização
distinta da do Ocidente. O modo de produção antigo é caracterizado pela escravidão; o
modo de produção feudal pela servidão e o modo de produção capitalista pelo trabalho
assalariado. Eles correspondem a três modos distintos de exploração do homem pelo

homem. O modo de produção capitalista seria a última etapa de uma formação social
baseada na exploração do homem pelo homem, na medida em que o modo de produção
que o substituiria, seria o modo de produção socialista, não submeteria a massa de
trabalhadores à exploração e à opressão.

3) Estabelece uma distinção entre a infra-estrutura e a superestrutura. Compara a


sociedade a um edifício, cuja base, a infra-estrutura, seria representada pelas forças
econômicas - forças produtivas e relações de produção, enquanto a superestrutura
representaria as idéias, costumes e instituições jurídicas e políticas, as ideologias e as
filosofias.
É sobre essa base econômica que se ergue a superestrutura da sociedade moderna.
O campo político, jurídico e ideológico por sua vez representa a forma como os homens
estão organizados no processo produtivo. Para Marx, a esfera econômica determina e
condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral.

A Sociologia compreensiva de Max Weber


Pretendendo distanciar-se do Positivismo de Durkheim – que pretendia estabelecer
“leis universais” comuns a várias ou a todas as configurações históricas, e do Materialismo
Histórico de Marx – que pressupõe um determinismo econômico na análise dos processos
históricos, Max Weber parte da idéia de que cada formação histórica carrega
especificidade e importância próprias. Sendo tarefa do sociólogo trazer à tona o que há de
peculiar, de particular em cada uma delas.
Para Weber, os fenômenos sociais que interessam a Sociologia não devem ser
tratados como “coisa”, ou seja, fatos exteriores que devem ser analisados à distância pelo
pesquisador.
“O domínio do trabalho científico não tem por base as conexões
‘objetivas’ entre as ‘coisas’ mas as conexões conceituais entre os
problemas. Só quando se estuda um novo problema com auxílio de
um método novo e descobrem verdades que abre novas e importantes
perspectivas é que nasce uma nova ciência”.
(WEBER, M. A “Objetividade” do Conhecimento nas Ciências
Sociais. In: COHN, G. Weber – Sociologia. São Paulo: Editora Ática,
p.84)

Nem tampouco devem tentar interpretá-los sempre tomando como única


explicação causal a esfera econômica. “Em nenhum domínio dos fenômenos culturais pode
a redução unicamente a causas econômicas ser exaustiva, mesmo no caso específico dos
fenômenos ‘econômicos’”. (WEBER,Op.Cit,86)
Sua obra é marcada pela análise teórica e empírica dos fatos econômicos,
históricos e culturais. Weber partia do pressuposto que a realidade social era infinita e
inesgotável, portanto, o conhecimento e os fundamentos gerados pelas ciências sociais não
deveriam se limitar a determinar “leis” gerais que explicassem a totalidade da vida social.

“A ciência social que nós pretendemos praticar é uma ciência da


realidade. Procuramos compreender a realidade da vida que nos rodeia e na
qual nos encontramos situados naquilo que tem de específico; por um lado,
as conexões e a significação cultural das suas diversas manifestações na sua
configuração atual e, por outro, as causas pelas quais se desenvolveu
historicamente assim e não de outro modo.
Ocorre que, tão logo tentamos tomar consciência do modo como se
nos apresenta imediatamente a vida, verificamos que se nos manifesta,
“dentro” e “fora” de nós, sob uma quase infinita diversidade de eventos que
aparecem e desaparecem sucessiva e simultaneamente.
E a absoluta infinidade dessa diversidade subsiste, sem qualquer
atenuante do seu caráter intensivo, mesmo quando prestamos a nossa
atenção, isoladamente, a um único “objeto” - por exemplo, uma transação
concreta -; e isso tão logo tentamos sequer descrever de forma exaus-tiva
essa “singularidade” em todos os seus componentes individuais, e muito
mais ainda quando tentamos captá-la naquilo que tem de causal-mente
determinado. Assim, todo o conhecimento reflexivo da realidade infinita
realizado pelo espírito humano finito baseia-se na premissa tácita de que
apenas um fragmento limitado dessa realidade poderá constituir de cada
vez o objeto da compreensão científica, e de que só ele será “essencial” no
sentido de “digno de ser conhecido”. (WEBER, In: COHN, 1979, p.88)

Segundo Weber, o propósito da ciência não é dar conta da infinita e exaustiva


totalidade da vida social, reduzindo-a às leis gerais “vazias de conteúdo”.

“Isto porque quanto mais vasto é o campo abrangido pela validade


de um conceito genérico – isto é quanto maior a sua extensão -, tanto mais
nos afasta da riqueza da realidade, posto que para poder abranger o que
existe de comum no maior número possível de fenômenos, forçosamente
deverá ser mais abstrato e pobre de conteúdo.” (Ibid., p.96)

Na perspectiva de Weber, a ciência pode e deve produzir uma análise objetiva


das diversas dimensões (econômica, política, cultural, religiosa, etc.) da realidade, sem a
intenção de reduzir e aprisionar toda a riqueza dos fatos a leis gerais. O que importa é
compreender a significação que a realidade da vida possui para os indivíduos em
diferentes contextos e em diferentes épocas.

O método sociológico interpretativo


Para Weber, todo o conhecimento da realidade social é parcial, limitado e
subordinado a pontos de vista particulares. O cientista social fará sempre uma seleção,
consciente ou inconscientemente, dos elementos da realidade que pretende analisar a
partir do seu ponto de vista particular, destacando

“conexões” que, para ele, possui significado. O fenômeno social que o pesquisador escolhe,
assim como a delimitação do problema que orientará a sua investigação serão determinados
pelas suas escolhas, orientado pelas suas idéias de valor, ou seja, o pesquisador é orientado pela
sua convicção pessoal e subjetiva, que é ele que confere ao seu estudo uma direção e exprime
uma determinada interpretação do fato estudado.

Afirmava Weber que apenas as idéias de valor que dominam o investigador e uma
época podem determinar o objeto de estudo e os limites desse estudo.

Mas, no que refere a validade científica, uma questão emerge: como conferir ao
conhecimento produzido a partir das idéias e dos valores subjetivos do pesquisador, a validade
e o rigor de uma obra científica? Como alcançar a objetividade científica?

No que se refere ao método de investigação, defendia Weber que para alcançar maior
objetividade científica seria fundamental o pesquisador construir sua interpretação baseada nas
normas e preceitos válidos e determinados pela ciência de seu tempo “só será considerada uma
verdade científica aquilo que se pretende válido para todos os que querem a
verdade.”(WEBER,idem,p.100)

Segundo Aron (1987), a ciência, na perspectiva weberiana, apresenta dois pressupostos


fundamentais para o alcance de sua validade científica.

O primeiro significa que a ciência moderna se caracteriza pelo não acabamento, isto,
porque o conhecimento científico é um processo que jamais se esgotará.

Weber não acreditava que o conhecimento gerado na atividade científica representava


um retrato fiel e acabado da realidade, já que esta é ampla e inesgotável, impossível de ser
encerrada em sua totalidade. O conhecimento será sempre parcial, fragmentado e inacabado. O
que o pesquisador consegue alcançar em sua tarefa investigativa é apenas uma comparação
aproximada da realidade.

O segundo diz respeito à objetividade do conhecimento como requisito indispensável


para qualquer cientista que procure construir um conhecimento verdadeiro e válido.

Ação Social: objeto da ciência


Segundo Weber, a Sociologia é uma ciência voltada para a compreensão interpretativa da ação
social, conduta humana dotada de sentido e subjetivamente elaborada. À Sociologia caberia
buscar compreender o sentido que os indivíduos atribuem a sua conduta. Segundo Cohn (1979)
é tarefa da Sociologia desvendar o sentido que manifesta em ações concretas e que envolve um
motivo sustentado pelo indivíduo como fundamento da sua ação. Tanto o indivíduo como as
suas ações são considerados pontos-chave da investigação científica, evidenciando o que

para Weber era o ponto de partida para a Sociologia: a compreensão e a percepção do


sentido que cada indivíduo atribui à sua conduta. Portanto, é tarefa do cientista social
reconstruir o motivo que fundamenta a ação, porque ela figura como causa e efeitos da
conduta dos indivíduos. Na concepção weberiana, o indivíduo age orientado por
motivações informadas pelos valores, por interesses racionais ou pela emoção.
Existirá uma ação social toda vez que um indivíduo estabelecer com outro algum
tipo de comunicação, a partir da sua conduta com os demais indivíduos. Para Cohn
(1979) a ação social é a conduta à qual o indivíduo
associa um sentido subjetivo. É a ação orientada significativamente pelo
indivíduo conforme a conduta de outros indivíduos e que transcorrem consonância com
isso.

Weber elabora uma distinção entre quatro tipos de ação social: a ação acional
com relação a fins, a ação racional com relação a valores, a ação tradicional e a ação
afetiva.
1) A ação racional com relação a fins: é uma ação concreta em que o agente concebe
claramente objetivos específicos a serem alcançados. Exemplo: o atleta que se
prepara para realizar uma competição; a ação do cientista.

2) A ação racional com relação a um valor: é a ação definida pela crença consciente
no valor - moral, ético, religioso, estético, etc. – que justifica determinada conduta. O
indivíduo age motivado pela “força” dos valores sobre a sua conduta. Aceita todos os
riscos para manter-se fiel a sua honra ou causa que acredita. Por exemplo: o
“homem-bomba”, que mesmo consciente do fim trágico de sua ação, age em
conformidade com a sua crença religiosa.

3) A ação afetiva: é a ação que corresponde ao “estado de espírito” do agente que a


pratica. É definida por uma reação emocional dos indivíduos em determinadas
circunstâncias, que necessariamente não foi orientada por um planejamento prévio
ou motivada por valores. Exemplo: a explosão de raiva do motorista quando leva
uma “fechada” no trânsito.

4) A ação tradicional: é a ação ditada pelos hábitos, costumes e crenças arraigadas. O


indivíduo age obedecendo a reflexos adquiridos pela prática. Para agir conforme a
tradição, o indivíduo não precisa orientar-se por um objetivo ou valor, nem tragado
por uma emoção, obedece simplesmente a hábitos enraizados por longa prática.
Exemplo:o batismo dos filhos realizados por pais pouco comprometidos com a
religião.
Segundo Quintaneiro (1999), o sociólogo pode usar essas categorias para
analisar o sentido de quase todas as condutas que o indivíduo pode ou não praticar:
estudar, dar esmolas, comprar, casar, participar de uma associação, fumar, presentear,
socorrer, castigar, comer certos alimentos, assistir à televisão, ir à missa, à guerra, etc. É
tarefa do sociólogo, portanto, compreender o sentido que o sujeito atribui à sua ação e
seu significado social.
Os “tipos ideais”

Para tornar possível a investigação e a compreensão de categorias e conceitos


empregados na análise sociológica, Weber recorreu a certos instrumentos metodológicos
que permitiriam ao cientista uma investigação dos fenômenos particulares. A este recurso
metodológico Weber chamou de tipo ideal, o qual cumpriria duas funções principais:
primeiro a de selecionar explicitamente a dimensão do objeto que virá a ser analisado e,
posteriormente, apresentar essa dimensão de uma maneira pura, sem suas sutilezas
concretas.
Para Weber(Falta o ano e a página), o tipo ideal é construído:

“mediante a acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista, e


mediante o encadeamento de grande quantidade de fenômenos
isoladamente dados, difusos e discretos, que se podem dar em maior
ou menor número ou mesmo faltar por completo, e que se ordenam
segundo os pontos de vista unilateralmente acentuados a fim de se
formar um quadro homogêneo de pensamento. Torna-se impossível
encontrar empiricamente na realidade esse quadro, na sua pureza
conceitual, pois trata-se de uma utopia. A atividade historio-gráfica
defronta-se com a tarefa de determinar, em cada caso particular, a
proximidade ou afastamento entre a realidade e o quadro ideal, em
que medida portanto o caráter econômico das condições de
determinada cidade poderá ser qualificado como “economia urbana”
em sentido conceitual. Ora, desde que cuidadosamente aplicado, esse
conceito cumpre as funções específicas que dele se esperam, em
benefício da investigação e da representação”.

Trata-se, portanto, de uma construção teórica abstrata dos fenômenos


particulares que se pretende investigar. O cientista constrói um modelo (tipo ideal)
acentuando algumas características cujo exame lhe parece importante na observação do
fenômeno selecionado para o estudo.
Segundo Costa(2005, 100):
o tipo ideal não é um modelo perfeito a ser buscado pelas formações sociais
históricas nem mesmo em qualquer realidade observável. É um instrumento
de análise científica, numa construção do pensa-mento que permite
conceituar fenômenos e formações sociais e identificar na realidade
observada suas manifestações. Permite ainda comparar tais manifestações.

A construção do tipo ideal permite ao sociólogo explicar uma realidade


complexa, partindo de traços característicos essenciais.
Chegamos ao final desta unidade, abordando as principais questões e conceitos
que orientaram os estudos dos principais teóricos clássicos da Sociologia. Esperamos que
você tenha percebido que a realidade social é um fenômeno que pode ser compreendido
de várias formas distintas e que a análise sociológica é plural, porque permite olhar um
mesmo fenômeno por diferentes ângulos.
LEITURA COMPLEMENTAR:
COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. 3a.ed. ver. ampl..SãoPaulo:
Moderna, 2005. 416p.
MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. 38a. ed. São Paulo: Brasiliense,1994. (Coleção
Primeiros Passos-57). 58p.
QUINTANEIRO, T. Um Toque de Clássicos: Durkheim, Marx e Weber. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 1999. 157p.

É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício!
Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-
aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso
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Na unidade 3, estudaremos a caracterização da sociedade humana.


Vamos em frente!

A SOCIOLOGIA CLÁSSICA

EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO

1. Segundo Durkheim, é objeto de estudo da Sociologia:


a) a ação social.
b) o fenômeno orgânico.
c) a consciência individual.
d) o fato social.
e) as classes sociais.
2. Aponte os principais critérios de validade científica para Durkheim.
a) Objetividade e especificidade.
b) Subjetividade e neutralidade.
c) Neutralidade e especificidade.
d) Objetividade e neutralidade.
e) Subjetividade e especificidade.

3. Marque a alternativa correta:


É a maneira como a sociedade é organizada para produzir bens e serviços. Consiste de dois aspectos
principais: forças produtivas e relações de produção.

A que conceito fundamental da análise marxista se refere esta idéia?


a) Modo de produção.
b) Mais-valia.
c) Alienação.
d) Força de Trabalho.
e) Mercado de Trabalho.

4. Marque a alternativa correta:


É a relação rompida entre o trabalhador e o seu trabalho, porque os que produzem bens não têm voz
sobre o que produzir e como produzir.
Na perspectiva marxista, este conceito representa a idéia de:
a) classe social.
b) divisão do trabalho.
c) meios de produção.
d) relações sociais.
e) alienação.
5. Marque a alternativa correta:
Ao denunciar a forma de contradição inerente ao regime capitalista, afirmava que o papel da
Sociologia era unir conhecimento científico à ação política. Caberia a Sociologia denunciar a
contradição essencial do capitalismo entre o aumento das riquezas e a miséria crescente da maioria,
contribuindo, assim, para a realização de transformações radicais na sociedade.
Essa idéia expressa o pensamento de:
a) Émile Durkheim.
b) Georg Hegel.
c) Max Weber.
d) Karl Marx.
e) Auguste Comte.

6. Marque a alternativa correta:


A percepção de um estado de anarquia na sociedade capitalista não poderia ser atribuída somente a
uma distribuição injusta da riqueza, mas, principalmente, à falta de regras de comportamento mais
rigorosas capazes de conduzir a vida dos indivíduos. A união de esforços entre a elite empresarial e
intelectual seria fundamental para a orientação da conduta dos indivíduos.
Essa idéia expressa o pensamento de :
a) Karl Marx.
b) Max Weber.
c) Friedrich Engels.
d) Émile Durkheim.
e) Francis Bacon.
7. Perspectiva teórica baseada na idéia de que uma interpretação sociológica de comportamento
deve necessariamente incluir o significado que os fatores sociais atribuem as suas condutas.
a) Sociologia Marxista.
b) Sociologia Compreensiva.
c) Sociologia Positivista.
d) Sociologia Crítica.
e) Sociologia Aplicada.

8. Marque a alternativa correta:


“Depois que um terrorista suicida de Gaza voou pelos ares, os parentes encontraram freqüentes
referências ao Paraíso em seus cadernos. Ele escreveu muito sobre o desejo de morrer, de
‘conhecer Deus como mártir e viver uma vida muito melhor do que esta’”. (Jornal Estado de São
Paulo,1994)
De acordo com a análise weberiana, esta passagem exemplifica que tipo de ação social?
a) Afetiva.
b) Irracional.
c) Racional em relação aos fins.
d) Tradicional.
e) Racional em relação a valor.

EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO


1. Explique porque, segundo Durkheim, os fatos sociais são exteriores e coercitivos:
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2. Leia e explique a afirmação a partir da análise sociológica desenvolvida
por Max Weber:
“Apenas as idéias de valor que dominam o investigador e uma época podem
determinar o objeto de estudo e os limites desse estudo.”
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CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA

Nesta unidade, veremos como o homem é um ser que necessita viver em grupo para se hominizar,
ou seja, para se tornar verdadeiramente humano. Examinaremos o seu ambiente social e a sua produção em
grupo. Vamos lá!

OBJETIVOS DA UNIDADE:
• Diferenciar a sociedade humana da sociedade animal, identificando seus elementos principais.
• Conceituar cultura atentando para as suas sutilezas.
• Construir uma visão crítica acerca da influência da indústria cultural nos dias atuais, avaliando seu
papel ideológico.

PLANO DA UNIDADE:
• Elementos principais da sociedade humana.
• A essência da cultura.
• Classificação da cultura.
• Cultura popular e cultura erudita.
• Indústria cultural ou cultura de massa.

Bons estudos!

Tendo em vista o que foi exposto na unidade anterior, examinaremos agora o ambiente social do
homem, o seu papel como elemento ativo da sociedade em que vive e suas possibilidades transformadoras
deste ambiente.

ELEMENTOS PRINCIPAIS DA SOCIEDADE HUMANA


O homem sempre viveu em grupos e não podemos imaginar a sua existência fora deles. Sem contato
com o grupo social, o homem dificilmente pode desenvolver as características que chamamos de humanas,
como, por exemplo: organizar instituições, chorar e sentir pela morte de seus entes queridos, transmitir
mensagens através de símbolos... O processo de hominização ocorre, justamente, na sociedade em que ele
aprende a viver com outros homens e a se comportar como tal.
Portanto, o ser humano é produto da interação social. É interagindo com os outros homens, ou seja,
é influenciando e sendo influenciado que ele irá aprender a conviver.
Segundo Durkheim que o homem só é homem porque vive em sociedade.
A criança não nasce sabendo se comportar em sociedade. É convivendo, primeiramente, com seus
grupos mais íntimos (família e escola) e depois com outros grupos que irá se tornar um membro ativo da
sociedade em que nasceu. A esse processo chamamos de socialização.
Socialização: processo de aprendizagem da
cultura da sociedade em que nascemos.
Hedonista: ligado aos prazeres.

Conseqüentemente, podemos observar


que a criança tem poucas possibilidades de seguir
seus desejos e suas vontades, que normalmente
são hedonistas e egoístas e que muitas vezes são
opostas às vontades do grupo, o qual exige
restrição, disciplina, ordem e abnegação. E nesta
relação, a sociedade normalmente sai ganhando.

Embora o ambiente físico seja também importante, o ambiente social é o fator verdadeiramente
determinante na socialização da criança. Mas este processo durará pela vida toda, pois ele é permanente e
nós estamos sempre aprendendo coisas novas em nossa sociedade.
O ambiente social influencia até no tipo
de personalidade dos indivíduos, assim
observamos, ao longo da História, sociedades que
geraram homens guerreiros, homens caçadores,
homens viajantes, homens executivos com tino
para negócios, etc. De um modo geral, pode-se
dizer que cada cultura produzirá seu tipo especial
ou tipos especiais de personalidades.

Durkheim (In: CASTRO & DIAS, 1981) afirmou que o pensamento e o comportamento dos
indivíduos são determinados pelas “representações coletivas”. Esta representação indicava o corpo de
experiências, idéias e ideais de um grupo do qual o indivíduo inconscientemente depende para a formulação
de suas idéias, atitudes e comportamento.

A ESSÊNCIA DA CULTURA

A cultura tem sido definida de diversas maneiras.


Spencer (In: KOENIG, 1985) considerou-a o ambiente superorgânico, ambiente peculiar ao
homem, enquanto os outros dois (inorgânico ou físico e orgânico, o mundo dos vegetais e animais) ele
compartilha com os animais inferiores.
Uma definição muito conhecida é a de Edward Tylor (1871, p1):
“Cultura é todo o complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral,
lei, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo
homem como membro da sociedade”.

Também pode ser definida como:


A soma total dos esforços do homem para ajustar-se a seu ambiente e melhorar suas maneiras
de viver.
Desta forma, os antropólogos enfatizam que a cultura é o comportamento aprendido em sociedade,
pois o comportamento instintivo é inerente aos animais. Logo, a cultura é resultante da invenção social, é
aprendida e transmitida por meio da educação e da comunicação entre os membros de uma sociedade
humana.

Alguns animais vivem em sociedades, mas estas


se baseiam em instintos ou comportamento
reflexo e não mostram variação de geração para
geração. O caso mais apontado é o das abelhas,
em que visualizamos certa organização social.
Os instintos animais respondem a leis
biológicas, sendo assim suas reações podem ser
previstas e estão ligadas completamente ao
mundo natural, não o ultrapassando. Já o homem
se comportará de acordo com a sociedade em que
vive, respondendo diferenciadamente aos
estímulos e às necessidades de seu meio ambiente
e de seu tempo.

Entretanto, para a produção de cultura, o homem precisa se comunicar e esta comunicação, que é
feita de várias maneiras na sociedade humana, ganha maior peso com a linguagem simbólica (abstrata) que
é exclusiva do homem.

Assim o homem transmite a sua cultura, mas ao mesmo tempo rompe com as tradições, renovando
esta cultura e acrescentando novos elementos à mesma. Desta forma, observamos que o homem é um ser
histórico que vive a cada época de maneira diferente.

CLASSIFICAÇÃO DA CULTURA

As culturas apresentam um aspecto material e outro não-material. Aqui podemos situar as tradições,
os costumes, as leis, as ciências, as ideologias, etc. A cultura, também possui o seu lado material, concreto,
em que são produzidos todos os tipos de objetos, máquinas, ferramentas, que estão ligados, obviamente, ao
lado abstrato.
Sob o enfoque marxista, como vimos na unidade I, o homem é o único animal que produz cultura,
pois é o único animal que transforma a natureza através de seu trabalho, produzindo bens materiais para a
sua subsistência.
CULTURA POPULAR E CULTURA ERUDITA

Esses conceitos geram, muitas vezes, discussões entre os estudiosos da questão, pois como se define
o que é popular e o que é erudito? Quais os critérios utilizados para separarmos o que é uma coisa e o que é
outra?
O critério mais utilizado é o da classe social, ou seja, a cultura popular pertenceria ao povo e a
cultura erudita às elites ou classes dominantes dentro da sociedade capitalista. Para alguns antropólogos,
estas definições são muito mais complexas do que aparentemente se apresentam, pois as classes não são
homogêneas e nem tão pouco a sua produção cultural.

Portanto, esta divisão traz em si um grande debate científico. Em uma sociedade como a nossa,
verificamos a existência de uma interrelação entre a cultura popular e a cultura erudita, o que permite a
manutenção da sociedade como um todo. Os elementos que a princípio pertencem à cultura popular ou à
cultura erudita vão se transformando dinamicamente e se entrelaçando. O que podemos dizer é que este
fenômeno é conseqüência da vivência do homem em sociedade. E assim, se por um lado vemos a feijoada
que a princípio era alimento de escravos nos melhores restaurantes das cidades, por outro lado, vemos a
música clássica (pertencente às elites) em um radinho de pilha de um operário.

Edgar Morin (1986, p.75), grande pensador sobre as questões culturais, analisa o conceito de cultura
da seguinte forma:

Cultura: falsa evidência, palavra que parece uma, estável, firme, e, no


entanto, é a palavra armadilha, vazia, sonífera, mimada, dúbia, traiçoeira.
Palavra mito que tem a pretensão de conter em si completa salvação:
verdade, sabedoria, bem-viver, liberdade, criatividade...

O que percebemos é que a cultura é um sistema em que todos os elementos estão ligados entre si e
que cada sociedade transmite a seus membros a sua cultura, o seu patrimônio cultural.
Cada sociedade possui a sua cultura e é ela que a caracteriza.
Indústria cultural ou cultura de massa
Podemos começar a falar de indústria cultural ou
cultura de massa a partir do século XVIII quando
foi marcante a multiplicação dos jornais na
Europa, fato que anteriormente à industrialização
somente o clero e a nobreza tinham acesso à
escrita.

A industrialização trouxe consigo grandes transformações sociais, econômicas, políticas e culturais,


não somente os bens materiais produzidos por ela apresentaram aumento no consumo, mas também os bens
culturais. O número de leitores aumentou consideravelmente com o barateamento dos custos do papel, os
jornais tinham cada vez mais tiragens. Cresceram as companhias de teatro, balé, circos, que se preocupavam
com o público das cidades que aumentava a cada dia com o êxodo rural.

Todas estas transformações fizeram com que um ramo da indústria passasse a se dedicar
exclusivamente a este fato. Logo, não só os jornais apresentavam crescimento, como já foi dito
anteriormente, mas os livros, as peças, as “mercadorias culturais” como um todo, cresciam.

Este termo, indústria cultural, foi criado por dois grandes filósofos contemporâneos: Theodor
Adorno (1903-1969) e Max Horkheime (1895-1973).

Eles explicam como os meios de comunicação de massa (rádio, televisão, cinema) vendem as
mercadorias culturais e como são veiculadas as imagens da sociedade capitalista através da propaganda
desta sociedade, a fim de que ela se mantenha como está, ou seja, para que a sua estrutura permaneça a
mesma.

Os atuais meios de produção propiciaram a reprodução de obras de arte que foram sendo
popularizadas em larga escala. E sobre esse aspecto os estudiosos da questão afirmam que não podemos
pensar em cultura erudita ou cultura popular sem antes examinarmos a indústria cultural.

Entretanto, os autores mencionados vezes, estes são as únicas fontes de informação


criticavam a indústria cultural, pois consideravam para uma considerável parcela da população.
que, ao invés de democratizar os bens culturais
chamados de eruditos, simplesmente os
banalizavam, na medida em que o povo não
conseguia compreendê-los. Logo, só serviam para
controlar e manter o status quo através da
dependência e da alienação dos homens.
Em contrapartida, outros autores, assim
como Marshall Mcluhan (1911-1980) analisam a
indústria cultural sob outro ângulo mais positivo,
pois consideram que os meios de comunicação de
massa aproximam os homens e diminuem as
distâncias territoriais e sociais entre eles e muitas
Status quo – expressão latina
que significa o sistema vigente

Segundo esta corrente de pensadores, a indústria cultural contribuiu para a emancipação e melhoria
das sociedades, pois promovendo a padronização dos gostos e sensibilidades entre as classes sociais,
promove também a união e o sentimento de nacionalidade.

Faça uma revisão deste conteúdo, buscando rever os pontos principais que foram abordados.

LEITURA COMPLEMENTAR:

CASTRO & DIAS. Introdução ao pensamento sociológico. Rio de Janeiro: Eldorado, 1981.
KOENIG, S. Elementos de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
MORIN, E. Cultura de Massa no século XX. O espírito do tempo -2. NECROSE. Rio de Janeiro:
Forense, 2001.

É HORA DE SE AVALIAR!
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Na próxima unidade, estudaremos a estratificação social. Até lá!


CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA

EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO

Marque a alternativa correta nas questões abaixo:


1. A indústria cultural nasceu na Europa propiciando a expansão e circulação dos livros, das peças
teatrais, dos jornais, na maioria das cidades, portanto:
a) a produção das mercadorias culturais aumentou, mas a circulação continuou restrita às classes
dominantes.
b) o comércio das mercadorias culturais continuou a se restringir ao clero e à nobreza.
c) a indústria cultural produz mercadorias que interessam basicamente às pessoas que estão ligadas à
educação formal.
d) as mercadorias produzidas pela indústria cultural se tornaram de difícil acesso ao povo porque
eram caras.
e) a indústria cultural produzia mercadorias culturais que passaram a circular entre as diversas
classes sociais.

2. Marque a alternativa que completa corretamente o parágrafo abaixo:


Spencer chamou o ambiente peculiar ao homem de _________________, enquanto que o
_______________ pertenceria ao mundo físico e o __________________ aos animais e vegetais.
a) orgânico – superorgânico – inorgânico;
b) superorgânico – inorgânico – orgânico;
c) inorgânico – superorgânico – orgânico.
d) orgânico – inorgânico – superorgânico;
e) superorgânico – orgânico – inorgânico;

3. O homem é considerado um ser histórico porque:


a) vive diferentemente em cada sociedade ao mesmo tempo.
b) estabelece contato com várias culturas diferentes aprimorando a sua cada vez mais.
c) vive diferentemente em cada época, o que demonstra o seu poder de transformação.
d) transforma a sua cultura de acordo com a influência de outros povos.
e) interage com várias pessoas de lugares diferentes através da comunicação.

4. Como vimos nesta unidade, o homem é um ser que não nasce pronto e por isso depende do grupo social
para se:
a) movimentar.
b) concentrar.
c) transportar.
d) socializar.
e) especializar.

5. O processo de socialização é aquele no qual:


a) o homem aprende a cultura de sua sociedade de forma contínua.
b) a criança aprende a respeitar seus amiguinhos.
c) o homem troca experiências com as gerações mais novas.
d) o homem aprende a cultura dos países com quais mantém contato.
e) as crianças brincam com os coleguinhas na escola.

6. Marque (V) para as afirmativas verdadeiras e (F) para as falsas:


I. ( ) As culturas apresentam três aspectos considerados importantes: o material, o não-material e o
sobrenatural.
II. ( ) Os conceitos de cultura erudita e de cultura popular são facilmente definidos entre os antropólogos.
III. ( ) Muitas vezes, quando definimos cultura, somente o seu aspecto abstrato é lembrado, como as
tradições e as crenças.
IV. ( ) A linguagem simbólica é considerada uma linguagem abstrata porque se baseia na fantasia humana.
V. ( ) Verificamos em sociedades como a nossa, uma freqüente interrelação entre o que é erudito e o que é
considerado popular.
a) F, V, V, V, V.
b) F, V, V, F, V.
c) V, V, F, F, V.
d) F, F, V, F, V.
e) V, V, F, V, F.

7. Dois elementos são apontados durante esta unidade como diferenciadores da sociedade humana, são eles:
a) o trabalho e os meios de comunicação.
b) a cultura de massa e os meios de comunicação.
c) a linguagem simbólica e os meios de comunicação.
d) a leitura e os transportes.
e) a linguagem simbólica e o trabalho.

8. A indústria cultural é vista por alguns autores sob um ângulo negativo porque:
a) faz com que as pessoas consumam cada vez mais mercadorias desnecessárias.
b) diminui o papel da escola, pois as crianças se interessam mais pela televisão do que pelos estudos.
c) vende muito mais revistas do que livros.
d) serve apenas para controlar e manter a sociedade capitalista através da dependência e da alienação dos
homens.
e) aumenta o consumo de bens que antes eram apenas das classes dominantes.

EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO


1. Quais são as críticas mais apontadas à indústria cultural por Adorno e Horkheime?
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2. Explique por que Edgar Morin afirma que a palavra cultura parece ser uma armadilha.
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