Meus Apontamentos Direito Penal II
Meus Apontamentos Direito Penal II
Meus Apontamentos Direito Penal II
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação.
Nullum crimen, Nulla poene sine lege
legalidade das penas e da conexão entre crime se a lei que a impõe não determinasse
com suficiente segurança os pressupostos genéricos a que está ligada. Previsões legais
vagas, ou de outro modo indeterminadas são um modo de desvirtuar a função de
garantia da reserva de lei e do princípio da legalidade por inteiro. Isto vale tanto para
os crimes, como para as contravenções, como para os pressupostos das medidas de
segurança.»
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Fundamentos
Princípio “nullum crimen, nulla poena sine lege”, ou seja, princípio de que não há
crime nem pena sem lei, extrai-se o seguinte:
- Não pode haver crime sem lei;
- A lei que define crime tem de ser uma lei precisa – “nullum crimen nula poena sine
lege certa”;
- Proíbe-se a retroactividade da lei pena – “nullum crimen nulla poena sine lege
previa”;
- Proíbe-se a interpretação extensiva das normas penais incriminadoras – “nullum
crime nulla poena sine lege strica”;
- Proíbe-se a integração de lacunas por analogia e impõe-se a retroactividade das leis
penais mais favoráveis.
1) O princípio de que não há crime nem pena sem lei certa – “nullum crimen nulla
poena sine lege certa”;
2) Decorrência de que não existe crime nem pena sem lei escrita – “nullum crimen
nulla poena sine lege scripta”.
Introdução
O conjunto dos pressupostos de punibilidade e de punição que são comuns a todos os crimes,
a todos os factos tipificados na lei como crime.
Os requisitos comuns é que um facto deve ter para ser considerado criminoso e para que dele
decorra uma responsabilidade jurídico-penal para o seu autor, para o agente daquela
infracção.
Conceito de Crime:
Agente
Conduta
Facto Típico
Objectivo Objecto
Resultado
Crimes materias ou de resultado
Nexo causalidade
IMPUTAÇÃO OBJECTIVA
Teoria do Risco
Esta teoria permite desde logo uma aplicação certa, segura e racional da lei penal.
Passa-se dum casuísmo, de verificar caso a caso o que é crime para através da teoria da
infracção, ter-se uma vocação generalizadora de factos penalmente relevantes, de factos
criminosos.
Ainda que intuitivamente se possa dar automaticamente a resposta, tem-se de percorrer estas
etapas.
Os tipos, a não ser quando a lei expressamente o diga, são sempre dolosos.
- Por um lado, fazer uma aplicação certa, segura e uniforme da lei penal;
- Por outro lado, vai ter uma vocação de subsunção progressiva.
Mas se hoje, entende-se que o crime é uma acção típica, ilícita, culposa e punível, esta
tripartição entre tipicidade, ilicitude e culpa é uma conquista dogmática da Escola Clássica. E à
Escola Clássica segue-se cronologicamente a Escola Neo-clássica, e a esta segue-se a Escola
Finalista.
Todas estas escolas teorizam o crime tripartindo-o, dizendo que era uma acção típica, ilícita e
culposa. Agora, o que cada uma destas escolas considerava como integrante de cada uma
destas categorias analíticas é que diverge.
Escola Clássica:
- BELING/VAN LISTZ
Ação = vontade + movimento corporal que exterioriza a vontade + resultado dessa atuação.
Perceba que o resultado está embutido no conceito de ação.
- Ilicitude – formal;
Escola Neo-clássica:
FRANK, MEZGER
- A culpabilidade foi enriquecida (Reihnart Frank). O dolo e a culpa passam a ser ELEMENTOS
da culpabilidade (não mais espécies). - O dolo continua sendo normativo (consciência da
ilicitude). - Admite elementos não meramente descritivos no tipo. - Crime = Fato Típico +
Ilicitude + Culpabilidade (teoria tripartite).
- Tipicidade – o tipo tem também elementos normativos e determinados crimes têm também
na sua tipicidade elementos subjectivos;
- Ilicitude – material;
a) Tipo indiciador;
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Escola finalista:
WELZEL
Por isso que Welzel diz que a finalidade é vidente e a causalidade é cega.
- Acção – final;
O sistema clássico
Parte de uma concepção positiva, mecânica, mesmo naturalista, lógica da teoria da infracção.
O conceito de acção para os clássicos é visto como um conceito naturalista da acção, como um
movimento corpóreo, um esforço muscular ou nervoso que produz uma alteração objectiva do
mundo real.
Mas a tipicidade era vista do ponto de vista meramente extemo ou objectivo sem nenhuma
consideração de valor.
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A ilicitude é uma categoria separada. Para os Clássicos a ilicitude é vista numa óptica
meramente formal, ou seja, como contrariedade à ordem jurídica na sua globalidade. Um facto
ilícito é um facto contrário à lei.
Não vem permitir uma graduação do conceito de ilicitude, porque se em sentido formal, a
ilicitude significa contrariedade à ordem jurídica, se o facto ilícito é o facto que contraria a
ordem jurídica, donde contraria a lei, e o facto lícito é o facto que não contraria a lei, então só
se pode afirmar que um comportamento é ou não é ilícito, é ou não é contrário à ordem
jurídica.
Quanto à culpa, para os Clássicos, era nessa categoria dogmática do facto punível que se
incluíam todos os elementos subjectivos. Portanto, a ilicitude e a tipicidade eram meramente
objectivas. Tudo quanto fossem elementos subjectivos estaria na culpa.
A culpa era vista de uma óptica psicológica, porque a culpa corresponde à ligação psicológica
entre uma pessoa e o seu comportamento, e essa ligação poderia ser uma ligação dolosa ou
uma ligação negligente.
A tipicidade é meramente objectiva. É depois em sede de culpa que se terá de verificar que
relação existe entre o agente e o seu facto, para se poder afirmar uma culpa meramente
psicológica.
A primeira crítica diz respeito ao conceito de acção. Este conceito de acção como movimento
corpóreo que produz a alteração objectiva no mundo exterior é um conceito criticável por
várias razões.
Mas talvez a crítica mais forte que se pode tecer ao conceito de acção dos clássicos é
precisamente a omissão porque a responsabilidade penal é afirmada por factos cometidos por
acção, mas também por omissões penalmente relevantes.
Daí que os clássicos tenham reformulado um pouco esta noção, dizendo então que a acção
homicida é a acção que se esperava que o agente tivesse.
Em relação à ilicitude, sendo uma ilicitude meramente formal, só nos permite afirmar se um
comportamento, se um facto, se uma acção, é ou não ilícita, não nos permitindo graduar o
conceito de ilicitude.
Em relação à culpa.
Sendo a culpa vista numa óptica meramente psicológica, pergunta-se como é que os Clássicos
explicam a culpa negligente, mormente os casos de negligência inconsciente.
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Sistema Neo-clássico
É desenvolvido na Alemanha a partir dos anos 20, procurando “limar” alguns defeitos ou
arestas do sistema clássico.
Vêem dizer que não é importante verificar se houve ou não um movimento corpóreo que
produziu uma alteração objectiva no mundo exterior, porque as actuações humanas são
pautadas por determinadas valorações.
Klaus Roxin entende que o que é importante em sede de Direito Penal, em sede
comportamental são tão só os factos ou as acções voluntárias, isto é, aqueles comportamentos
dominados ou domináveis pela vontade.
Dentro da vertente Neo-clássica surge outro conceito de acção, que é a acção social,
desenvolvida por Smith.
Este autor defende que mais importante que tudo para afirmar a existência duma acção
penalmente relevante é verificar se aquele comportamento, se aquela actuação deve ser tido
como uma acção em termos sociais. Isto é, se socialmente aquele comportamento merece a
qualificação de acção.
E isto porque, desde logo, há acções que à prática, podem parecer negar valores, mas que não
devem ser acções penalmente relevantes de harmonia com a própria concepção social de
acção.
A tipicidade, os Neo-clássicos vêm dizer que a tipicidade é composta por uma série de
elementos, e o tipo não é valorativamente neutro, implica já um juízo de valor para quem
preenche a tipicidade. Referem que o tipo tem também elementos normativos, elementos
que, descrevendo entidades do mundo real, carecem duma interpretação complementar pelo
recurso a normas.
Para estes autores, o tipo é composto por elementos positivos e por elementos negativos:
- Elementos negativos: são as causas de justificação que, quando relevantes, justificam o facto
típico.
A culpa para os Neo-clássicos, não é uma culpa psicológica, como pretendiam os Clássicos, mas
é antes um conceito que é integrado já por um critério de censurabilidade assente na
existência de determinados pressupostos, nomeadamente a capacidade de culpa e a
consciência da ilicitude.
A culpa é já uma culpa com ingredientes normativos e implica um juízo de censurabilidade pela
prática de um facto.
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Portanto, aqui neste conceito de crime como comportamento socialmente relevante que lesa
valores, já se pode enquadrar de alguma forma o comportamento omissivo ou a omissão, coisa
que ficava de fora do conceito meramente causal e naturalístico de acção dos Clássicos.
Sistema finalista
Portanto, a intenção que preside a uma determinada acção, que é a sua finalidade, deve ser
espelhada no tipo. Logo, o dolo que é a intenção, o fim da actuação, deve ser um elemento
subjectivo do tipo.
Actuar ilicitamente já não é tanto actuar contrariamente à ordem jurídica na sua globalidade,
como pretendiam os Clássicos (ilicitude formal). Já não interessará tanto actuar lesando bens
jurídicos fundamentais, como pretendiam os Neo-clássicos (ilicitude material).
Interessará mais, verificar se aquela pessoa que actua de determinada forma actua
ilicitamente, se se lhe pode atacar um juízo de desvalor na acção ou no facto que pratica.
Existe aqui uma certa concepção ética do direito.
Dentro deste conceito de ilicitude pessoal de se poder reprovar uma pessoa por adoptar um
determinado comportamento, podem-se distinguir dois desvalores:
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A acção, embora no âmbito dos crimes negligentes seja também desvaliosa[23], por
comparação dos crimes dolosos em que o agente actua querendo e conhecendo um
determinado resultado, o desvalor da acção nos crimes dolosos é muito superior.
Quanto à culpa.
O conceito de acção, é um conceito de acção final e os finalistas nunca conseguiram com este
conceito justificar muito bem os crimes de negligentes. Sendo assim também para as
omissões.
Daí que quem segue a sistemática finalista opte por uma quadripartição do facto punível, em
que se distingue:
Acção
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- Torna-se mais difícil de explicar como é que nestes casos das omissões impuras pode haver a
acção omissiva;
- Crime de injúria: este crime só é concebível a partir de uma certa ponderação social daquele
comportamento como negação de um determinado valor, só é crime porque socialmente se
convenciona que aquele comportamento é uma acção relevante;
- Este conceito de acção causal não afasta, de per si, comportamentos dominados pela
vontade.
Smith vem com um conceito social de acção, dizendo que acção penalmente relevante é
aquilo que é socialmente adequado a ser acção.
Mas este conceito não explica de per si porque é que algumas omissões negam valores não é
dada tanto pela acção, mas pela ordem jurídica.
Muitas vezes também, a relevância social da acção não pode estar desligada daquilo que o
agente quis.
Por outro lado, não há dúvida que o mesmo comportamento pode ter vária e diferente
relevância social, consoante a intenção do agente.
O processo causal nos crimes omissivos representa especialidades face aos crimes activos.
Este conceito de acção final não é compreensível para abarcar todas as realidades e
comportamentos que podem dar origem à responsabilidade jurídico-penal.
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Se chegar à conclusão que aquele comportamento não foi dominado nem tão pouco era
dominável pela vontade humana, imediatamente se nega a responsabilidade criminal do
agente
Fica logo excluído os comportamentos ou as acções das coisas, das forças da natureza e dos
animais irracionais.
Dentro do ponto de vista dos fins das penais, quer numa óptica retributiva, quer numa óptica
preventiva, não faz sentido criminalizar comportamentos que não sejam dominados pela
vontade.
c) Hipnose –
d) Sonambulismo –
e) Movimento reflexo –
e) Coação física irresistível – aquela que exclui o controle dos movimentos do corpo –
um empurrão por exemplo. –
A acção tem relevância quer consista num comportamento positivo, quer numa omissão. A
nossa lei equipara a omissão à acção; essa equiparação é dada pelo art. 10º CP.
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No caso das omissões impuras nem toda a gente pode incorrer em responsabilidade jurídico-
penal por omissão impura, porque o legislador só responsabiliza pelas omissões impuras
aqueles sobre quem recaía ou impendia um dever jurídico que pessoalmente o obrigasse a
evitar a produção do resultado típico.
Tipo ou Tipicidade
Depois de se saber se a acção é penalmente relevante.
Tem-se de ver se essa acção preenche a tipicidade de um dos tipos previstos na parte especial
do Código Penal, ou então em legislação penal lateral.
Para isso é preciso verificar se essa acção é típica, isto é, é necessário verificar se estão
preenchidos os:
de um tipo legal.
Estando preenchida a tipicidade, vai-se verificar que esta categoria analítica que é composta
por elementos subjectivos e objectivos, estando integralmente preenchida indicia a ilicitude.
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Por detrás de cada tipo incriminador, o legislador há-de pretender sempre a tutela de um ou
mais bens jurídicos, porque o direito penal encontra a sua justificação na tutela de bens
jurídicos fundamentais.
Enquanto que o BEM é aquela realidade que não é uma realidade palpável, é um valor, um
interesse.
O objecto do facto ou da acção é o “quid” concreto sobre o qual incide a actividade criminosa
do agente.
Estrutura do tipo
Por detrás de cada tipo legal encontra-se sempre a tutela de um ou mais bens
jurídicos.
Os elementos descritivos - são aqueles elementos que expressam entidades do mundo real,
quer no foro exterior quer interior, quer para a sua cabal compreensão, não necessitam de
nenhuma valoração suplementar feita pelo recurso a uma norma.
Os elementos normativos - são aqueles que, expressando também entidades do mundo real,
para seu cabal entendimento carecem do recurso a uma valoração suplementar, do recurso
por exemplo a outra norma.
Há quem diga, como Ihering, que não existem elementos puramente descritivos: todos eles
são mais ou menos normativos; postulam sempre, para seu cabal entendimento e
compreensão, uma valoração suplementar, seja ética, seja de ordem jurídica.
O tipo é integrado sobretudo a partir duma abordagem finalista, por uma estrutura mista: é
composto por elementos objectivos e por elementos subjectivos.
Referindo, agora, tão só ao crime comissivo por acção, ou crime doloso por acção, pode-se
encontrar os seguintes elementos objectivos do tipo:
a) O agente;
c) Objecto
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e) O nexo de imputação, também designado de causalidade- Nos casos dos crimes materiais
ou de resultado.
Os elementos subjectivos, são aqueles que pressupõem já uma relação com o foro íntimo do
agente, ou seja, entre a representação da mente do agente daquilo que ele pensa e quer
aquilo que objectivamente se verifica, por isso se designam elementos subjectivos.
Um elemento de natureza volitiva ( relativo aos actos e aos fenómenos da vontade.A vontade, por sua vez, é a
faculdade de decidir e organizar a própria conduta (comportamento). Está portanto associada ao livre arbítrio e à livre determinação) -
a) Agente
O agente é aquela (s) pessoa (s) que adopta uma conduta típica descrita num determinado tipo
legal de um crime e que empreende a realização típica – o agente do tipo legal de crime.
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A conduta típica, também dita descrição da acção típica, ou tão só a acção típica, aparece
como um elemento objectivo do tipo legal de crime e encontra-se efectivamente descrita no
tipo.
c) Objecto
É o bem ou interesse protegido pela normal penal, podendo ser a vida, o património, a fé
pública, a honra, entre outros.
O objeto material situa-se dentro do tipo penal. Entretanto, nem todo o tipo penal tem objeto
material. Há, efetivamente, certos delitos cuja conduta não recai sobre pessoa nem coisa,
estando, por isso, destituídos de objeto material. Tal ocorre com os delitos de mera conduta e
com todos os crimes omissivos puros (ex: omissão de auxílio – art. 200 do CP).
Os crimes formais podem ou não ter objeto material. Falso testemunho, por exemplo, não tem
objeto material. No tocante aos crimes materiais, todos têm objeto material porque o
resultado necessariamente deve produzir-se sobre uma pessoa ou coisa.
d) Resultado
Há crimes em que, para além da descrição da conduta típica, se exige que espaço-
temporalmente se desprenda ou se destaque da conduta típica algo diferenciado que é o
resultado – o resultado típico – para que o facto possa estar efectivamente consumado.
Nestes crimes materiais ou de resultado, que para além da conduta pressupõe, ainda, para a
sua consumação, a verificação do resultado típico.
Isto traduz-se, em saber se um determinado resultado pode ser imputado a uma conduta do
agente; se aquilo que se verifica pode ser efectivamente considerado como obra daquela
actuação típica do agente.
É um elemento não escrito do tipo, isto porque, nos crimes materiais ou de resultado,
naqueles crimes que se designam normalmente por crimes de forma livre. Ou seja, são crimes
cuja obtenção do resultado típico previsto pela norma pode ser obtido, por referência à
conduta do resultado típica que é matar, pelas mais diferentes formas.
Por vezes, muito raramente, o legislador pode pretender dar cobertura literal a esse elemento,
ou a este nexo de nexo de causalidade ou de imputação objectiva, e descrevê-lo. É o que
acontece nos chamados crimes de realização vinculada.
Aqui o crime é de realização vinculada, pela descrição do elemento, por uma certa descrição
do nexo de causalidade.
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Um outro elemento não escrito no tipo e que existe apenas nalgumas classificações, ou
nalguns tipos de crime – os crimes de omissão impura ou imprópria – é o chamado dever de
garante.
Muitas vezes a lei descreve comportamentos que considera proibidos e que as pessoas não
devem adoptar, porque ao adoptá-los isso importa a obtenção de um determinado resultado
lesivo, o qual pode ser obtido quer por via de um comportamento activo ou de uma acção,
quer por via de um comportamento omissivo ou de uma omissão.
Para que uma pessoa seja responsabilizada por ter dado origem à produção de um resultado
típico proibido pela lei em virtude de uma inactividade, ou em virtude da sua passividade ou
omissão, é preciso que sobre essa pessoa impenda um dever jurídico que pessoalmente a
obrigue a evitar a produção desse resultado lesivo.
Este dever de garante/ dever jurídico pode resultar fundamentalmente de três pontos:
1. directamente da lei
2. contrato
3. situação de imergência.
As circunstâncias podem ser, para a nossa lei, ou crimes autónomos, ou então elementos que
integram qualificações ou priviligiamentos de tipos legais de crimes.
Podendo-se dizer assim que, tipo indiciador ou tipo em sentido restrito é a correspondência
objectiva e subjectiva à definição de um tipo legal de crime. Ou, por outras palavras, com a
expressão tipo indiciador, tipo em sentido restrito ou tipo de injusto, visa-se a delimitação de
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Porque o facto de preencher um tipo neste sentido restrito não significa de per si que a pessoa
vá ser punida, porque a pessoa pode ter actuado tipicamente, todos os elementos objectivos e
subjectivos do tipo podem estar preenchidos mas a pessoa não ter responsabilidade jurídico-
criminal porque, por hipótese, naquele caso actuou em legítima defesa.
c) Tipo intermédio
Significa pois, a situação de que alguém cometeu um facto típico em sentido estrito, que é
simultaneamente ilícito, ou seja, uma pessoa cometeu um facto que corresponde à descrição
objectiva e subjectiva de uma norma legal, não actuando ao abrigo de nenhuma causa de
exclusão da ilicitude, ou não actuando ao abrigo de nenhuma causa de justificação.
Quanto ao agente
1- Os crimes gerais ou comuns são aqueles que podem ser praticados por qualquer
pessoa, ou seja, qualquer pessoa pode ser agente ou autor do crime tipificado.
São portanto crimes que não postulam de determinadas qualidades, naturalísticas ou não, na
pessoa do agente.
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2- Os crimes específicos ou próprios são aqueles em que os agentes são qualificados por
um qualquer dever jurídicos, ou por uma qualquer situação juridicamente definida.
São aqueles que pressupõem como autores dos crimes apenas as pessoas que têm uma
qualidade exigida pelo próprio tipo.
quando para além de só poder ser agente ou autor da incriminação aquela pessoa que
tenha as características exigidas pelo próprio tipo, não existe na lei penal nenhuma tipificação
correspondente para o comum das pessoas.
É um crime que só pode ser praticado por aquelas pessoas e mais nenhumas. Não existe
responsabilidade jurídico-penal paralela para quem não tenha essas qualidades pressupostas
pelo tipo na pessoa do seu agente.
são aqueles que exigindo embora essas qualidades específicas do agente, têm paralelo
para o comum das pessoas em termos de responsabilização jurídico-penal.
Klaus Roxin fala nos chamados crimes de violação de dever. São crimes que são definidos
através de um dever jurídico, não tanto pelo desenvolvimento de qualquer actividade, mas
essencialmente pela titularidade de um dever jurídico.
- Por um lado, nos crimes que consistem em levar a cabo uma determinada actividade;
- Por outro lado, os crimes que violam deveres jurídicos, normalmente deveres jurídicos de
natureza profissional ou deveres jurídicos funcionais a que uma determinada pessoa está
adstrita.
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Salvo quando a lei expressamente o disser, apenas as pessoas singulares são susceptíveis de
responsabilidade jurídico-criminal.
Por um lado, Füerbach vem dizer que as pessoas colectivas são incapazes de agir. E isto porque
as pessoas colectivas estão dominadas e só têm capacidade de para agir de harmonia com a
especificidade do fim.
Neste sentido, as pessoas colectivas não podem agir como as pessoas singulares. Se o fim das
pessoas colectivas tem de ser um fim legítimo, então elas só têm capacidade de agir
legitimamente, porque senão eram nulas por contrariedade à lei, à ordem pública e aos bons
costumes.
Por outro lado, Savigny tem afirmado também a ideia de que não existe responsabilidade
penal das pessoas colectivas, acentuando já não a ideia de incapacidade de agir, mas
acentuando a ideia da incapacidade de culpa.
A culpa é um juízo individualizado de censura feita pela ordem jurídica e que se dirige a uma
pessoa pela prática de um facto ilícito. E naquilo que no juízo de censura se reprova ao agente
é precisamente o facto dessa pessoa, tendo capacidade e possibilidade de se decidir de forma
diferente, de se decidir pelo direito, ter-se decidido pelo torto, ter-se decidido pelo ilícito.
Neste sentido, uma vez que as pessoas colectivas não têm uma vontade própria real, têm só
uma vontade fictícia. Daí a insusceptibilidade de culpabilizar as pessoas colectivas.
Os crimes formais ou de mera actividade, não são só crimes de mera actividade. Crimes
formais são também omissões puras;
Os crimes por acção em cuja tipicidade e cuja conduta típica está descrita efectivamente em
termos de acção. Acção que, a ser efectuada pelo agente, viola uma proibição ou um comando
legal.
Existe responsabilidade por acção quando o agente pratica actos que são subsumíveis às
condutas descritas nos tipos legais em termos de acção.
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Dentro das omissões puras, tem-se a responsabilidade jurídico-penal do agente, na porque ele
tenha actuado, mas precisamente porque omitiu uma conduta que lhe era exigível por lei.
Nos caos de omissões puras o agente incorre em responsabilidade jurídico-penal por ter
violado uma norma preceptiva, uma norma que impõe a adopção de uma determinada
conduta que é omitida, ou não tem lugar.
No âmbito das omissões impuras tem-se uma situação diferente. Aqui o agente é
responsabilizado por um determinado resultado que tem lugar não por sua acção, não porque
ele tenha directamente adoptado uma conduta típica descrita na lei, mas precisamente
porque dá origem a um resultado por uma inactividade sua, violando desta forma uma norma
ou um preceito de natureza proibitiva.
Na omissão imprópria o agente é responsabilizado por um crime, porque sobre ele impendia
um dever jurídico que pessoalmente o obrigava a evitar a produção do resultado.
E este dever jurídico que impende sobre o agente e que pessoalmente o obriga a evitar a
produção do resultado lesivo, ou típico, pode resultar principalmente de três fontes:
1- - Directamente da lei;
2- - Indirectamente da lei ou do contrato;
3- - De situações de ingerência.
Mas por força do art. 10º CP, que equipara a acção à omissão, e onde se encontra a base legal
da construção das omissões impuras é necessário, para responsabilizar alguém por uma
omissão impura, que sobre essa pessoa recaísse o dever jurídico, oriundo de qualquer destas
fontes que pessoalmente o obrigasse a evitar a produção do resultado lesivo.
- Os crimes de omissão pura ou próprio são os que consistem directamente, pelo próprio tipo
legal, na violação de um comando;
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Tem importância prática desde logo para efeitos de início da prescrição do procedimento
criminal.
Os arts. 117º e 118º CP dizem a partir de que momento é que se começa a contar o prazo de
prescrição do procedimento criminal, e não maior parte dos casos é a partir da consumação.
Por outro lado, esta distinção é também importante para efeitos de possibilidade ou não
possibilidade de responsabilidade criminal por facto tentado.
A tentativa, tal como está tipificada no art. 22º CP, consiste na prática de actos de execução de
um crime que o agente decidiu cometer, sem que o resultado típico se chegue a verificar.
É concebível nos crimes de resultado, falar em tentativa, porque são concebíveis actos de
execução com a intenção criminosa do cometimento de um facto mas em que, por um outro
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motivo estranho à vontade do agente, o resultado pretendido pelo agente não se tenha
verificado.
Distingue:
1- crimes de perigo
2- crimes de dano ou lesão
Nos crimes de perigo a descrição típica não exige a lesão efectiva dos bens jurídicos tutelados
pela incriminação, mas tão só a colocação em perigo, tão só a ameaça de lesão desse bem ou
bens jurídicos tutelados pela norma.
Nos crimes de dano ou lesão, exige-se um dano ou uma lesão efectiva no bem ou bens
jurídicos tutelados pela norma.
E fala em bem ou bens jurídicos tutelados pela norma porque há tipos legais de crimes que
tutelam mais do que um bem jurídico. São os chamados crimes pluridimensionais.
- O crime do art. 131º CP: uma vez ocorrida a morte, há uma lesão do bem jurídico vida;
- O crime de ofensas corporais (ainda que um pouco controvertidamente) do art. 142º CP;
- Perigo concreto;
- Perigo abstracto;
- Perigo abstracto-concreto.
Crimes de perigo concreto, o legislador tipifica o próprio perigo pela descrição de uma
conduta perigosa, da qual se autonomiza o resultado típico, resultado que é o próprio
perigo para o bem ou bens jurídicos tutelados pela incriminação.
Donde, os crimes de perigo concreto, uma vez que têm autonomizado o resultado da
conduta perigosa descrita pelo legislador, que é o próprio perigo, são crimes de
resultado.
Nos crimes de de perigo concreto, o legislador:
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1. Identifica a conduta;
2. Para que haja consumação não basta a conduta, mas sim que haja um
resultado, que em concreto se verifique um perigo para a vida
E os crimes de perigo concreto, quanto ao seu elemento subjectivo, postulam um dolo especial
ou específico, que é o chamado dolo de perigo.
EXEMPLOS:
Exemplo: art.138.º CP- Exposição e abandono- pode ser praticado tanto por acção, em
sentido estrito, como por omissão.
O Bem juridico- protegido no presente tipo legal é a vida humana. Trata-se, porém, não de
um tipo legal de dano, mas sim de um crime de perigo concreto.
O agente tem de colocar em perigo a vida de uma, através de uma das duas
modalidade de conduta descritas. Este elemento típico (que, como vimos, confere uma
especial caracteristica ao tipo legal) implica evidentemente que, como acto do agente,
se crie um perigo ou se potencie um perigo. Assim, não haverá crime quando o perigo
já exista e não se encontre mais a disposição do agente qualquer meio de diminui-lo
ou atenuá-lo.
Na primeira modalidade, o agente tem que expor a pessoa em lugar que a sujeite a uma
situação de que não possa, de per si, defender. A exposição implica que a vítima deva ser
transferida de um local (relativamente seguro) para um outro menos seguro - o que significa
que se tem de verificar uma qualquer (por minima que seja) deslocação espacial produzida
pelo agente; dessa deslocação deve resultar um agravamento de riscos de tal ordem que a
vítima fique numa situação em que seja incapaz de, por si só, defender-se (face aos novos
riscos criados pela exposição e que colocam em perigo a sua vida).
A forma por que se verifica a exposição e indiferente: nao é necessaria a violencia, bastando a
ameaça, o ardil ou a astucia que motive a vítima a aceitar a deslocação de lugar. Pode tambem
a exposição resultar do aproveitamento de uma incapacidade da propria vítima.
Esta modalidade de conduta pode ser cometida por qualquer pessoa (e um crime comum).
Pode tambem sercometida por omissao (segundo as regras gerais) - assim, no caso de se
terverificado uma deslocação espacial produzida pela propria vítima, ou em decorrencia de um
qualquer acidente, e o garante, em violação dos seus deveres, nao actuar impedindo aquela
deslocação.
Abandono
a) O abandono supoe, desde logo, que a vítima permaneça no local em que se encontrava.
Mais discutivel parece ser se, do lado do agente, é necessário que este se desloque
espacialmente do local em que se encontrava (como defende a doutrina traditional alema) ou
se, pelo contrario, será suficiente que o agente, ainda que permanecendo no local junto a
vítima, omita a realização dos deveres que, no caso, se impoem.
A melhor solução parece ser a que é defendida por esta segunda doutrina, ate porque
permitira uma coerencia de soluções. Com efeito, nao parece coerente afirmar o presente tipo
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legal quando o agente abandone o local e já nao assim suceda quando o agente se mantenha
junto à vítima, mas omita, de todo, qualquer acto de auxílio para todo aquela.
b) O abandono tem de ser realizado por um agente sobre o qual impenda um especial dever
(de guardar, assistir ou vigiar, a definir nos termos gerais) –com o que se trata de um crime
especifico próprio. Parece-nos que este dever tem de ser pré-existente a situação de
abandono (e consequente colocação em perigo) e deve estar em directa conexão com a
ausência de defesa da vítima. Ou seja: é necessario que o dever que sobre o agente impende
tenha por finalidade garantir o auxilio para situações de risco em que incorra a vítima
Quanto aos crimes de perigo abstracto pelo legislador, que aqui o legislador parte da
presunção de que aquela conduta descrita é uma conduta perigosa. E perigosa por referência
ao mais variado leque de bens jurídicos.
Exemplo: art.138.º CP- Exposição e abandono- a al. a) e b) são condutas mas tem que se
provar que se colocou em perigo para a vida.
Neste tipo de crime, já não é preciso que se autonomize nenhum resultado típico que seja o
próprio perigo, porque a lei contenta-se com a descrição da conduta que tem como perigosa.
EXEMPLOS:
É esta uma classificação intermédia entre os crimes de perigo abstracto e os crimes de perigo
concreto, em que se pode dizer que o legislador é menos exigente do que em relação aos
crimes de perigo concreto, mas mais exigente do que em relação aos crimes de perigo
abstracto.
É menos do que nos crimes de perigo concreto porque o legislador descreve no tipo a própria
conduta que considera perigosa, sem necessidade de autonomizar o resultado perigoso, tal
como acontece no âmbito dos crimes de perigo concreto, e que é o próprio perigo.
30
Estes crimes são aqueles que alguns autores consideram que só podem ser cometidos pelo
próprio agente da infracção, pelo próprio agente material do crime, não admitindo outra
forma de autoria, desde logo autoria mediata.
A autoria mediata é uma das formas de autoria tipificada no art. 26º CP.
Outra situação típica de autoria mediata é o caso da coacção, em que alguém coage outrem à
prática de um determinado facto.
Não se pode confundir estes crimes de mão própria com os crimes específicos ou
próprios:
- Nos crimes específicos ou próprios exige-se uma especial qualidade do agente (v.g. médico);
- Os crimes de mão própria são crimes que podem ser praticados por qualquer agente.
São aqueles em que é violado, por lesão ou ameaça de lesão, por lesar ou colocar em perigo,
um determinado bem jurídico.
São aqueles em que são violados, por lesão ou ameaça de lesão, por lesar ou colocar em
perigo vários bens jurídicos.
Qualquer um destes tipos está inserido na parte especial do Código Penal, num determinado
capítulo. Com a adopção das condutas típicas proibidas por estes tipos o agente lesa vários
bens jurídicos.
Os crimes agravados pelo resultado, é uma espécie desta figura da praeter intencionalidade,
mas abrange um conceito mais amplo.
E mais amplo, porque não supõe que o crime básico, que o primeiro resultado, seja sempre
doloso; por hipótese, um resultado negligentemente provocado pode dar origem a um
resultado mais grave, negligentemente ocorrido.
Os crimes praeter intencionais têm uma estrutura mista, são um misto de um resultado a
título doloso. O nexo de imputação dá origem a segundo resultado imputado ao agente a título
de negligência.
31
EXEMPLO:
uma discussão em que duas pessoas lutam com golpes, uma cai por um golpe e vem a lesionar
a cabeça no chão após a queda, situação a qual provoca a morte do indivíduo. No presente
exemplo citado o golpe advindo do autor partiu da intenção apenas de lesionar a vítima,
portanto o resultado provocado, isto é, a morte, ultrapassa a intenção original do acusado.
Neste caso o autor seria acusado de crime de lesão corporal seguida de morte, previsto no art.
147.º n.º 1 do Código Penal, sendo este considerado um delito preterdoloso, ou seja, um
homicídio preterintencional, em que exige o dolo no ato antecedente (lesão corporal) e a
negligência no fato subseqüente (morte da vítima).
Sabemos que no estudo analítico de crime, a conduta (que só pode ser praticada por
humanos) é o único elemento subjetivo do fato típico, sendo composta por dolo e negligência.
Diz-se que nos crimes praeter intencionais há uma estrutura mista: misto de dolo e
negligência, ligados por um nexo de imputação objectiva[28].
[28] Repare-se que em Direito Penal – e é um princípio de Direito Penal que o distingue do
Direito Civil – não há responsabilidade objectiva.
O crimes básico ou crime simples - é aquele que descreve os elementos fundamentais de uma
certa forma de violação de bem jurídico tutelado pela incriminação, descrição essa a partir da
qual outros tipos fazem inserir determinadas variações ou variantes, no sentido de impôs
fazem inserir determinadas variações mais graves, negligentemente ocorrido.
Repara-se que esta classificação é também importante desde logo porque quando estão em
causa tipos básicos, tipos qualificados e tipos privilegiados, normalmente entre eles pode estar
32
em causa uma relação consensual, uma relação de concurso aparente, legal ou de normas,
neste caso numa relação de especialidade.
Mas, para a consumação do tipo, curiosamente, não se exige que o resultado dessas intenções,
ou dessas tendências se verifique.
Quem chamou a atenção para que os tipos por vezes pressupunham determinados elementos
subjectivos específicos e refiram as especiais intenções, foram os Neo-clássicos.
EXEMPLOS:
- O tipo de furto, para além de ser um tipo doloso, postula também para além do dolo (em
sede de tipicidade), um elemento subjectivo específico que é a especial intenção de
aprovação;
- O tipo legal do O crime de administração sanosa (art. 235º CP) tem uma especial intenção:
intenção de causar prejuízos ao Estado ou a terceiros.
Significa pois que a tipicidade aqui é descrita em função desta especial tendência ou intenção.
Se não se verificar esse elemento subjectivo específico, o tipo não está preenchido.
33
lesivo dura enquanto pelo menos a pessoa que furtou não devolveu o objecto furtado
a quem de direito.
A diferença entre os dois tipos de ilícito reside na consumação (ou, com maior propriedade, na
relação entre os efeitos do crime e a sua consumação).
Daí que relativamente aos crimes permanentes, o prazo de prescrição só corra desde o dia em
que cessar a consumação [art. 119º, nº 2, al. a), do Código Penal].
E então como é que estes crimes que são ditos de Estado se distinguem dos crimes
instantâneos?
Como ensina Roxin (() Cfr. Claus Roxin, Derecho Penai, Parte General, Tomo I, Editorial Civitas
S.A., [Madrid] 1997, pág. 328.) , existem delitos permanentes e delitos de estado, com uma
grande proximidade conceptual mas que não se confundem.
Os delitos permanentes são aqueles factos em que o delito não está concluído com a
realização do tipo, antes se mantém pela vontade delituosa do autor, tanto tempo quanto
subsiste o estado antijurídico criado por si mesmo.
Exemplos de delitos permanentes são a entrada em casa alheia - com a intrusão do autor já se
dá uma facto consumado, mas dura tanto tempo quanto o em que o sujeito se mantém dentro
do âmbito protegido.
São, em regra, delitos de mera actividade, mas podem ser, também de resultado, nos casos
em que o resultado típico constantemente volte a renovar-se enquanto se mantém o estado
antijurídico, como por exemplo, na condução perigosa de veículo rodoviário se o resultado
típico de perigo se repete constantemente pela condução em estado de incapacidade para
conduzir.
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Exemplos típicos são os crimes de homicídio, mas também os de ofensa à integridade física e
os de dano.
Entre os delitos de estado haverá que incluir também tipos como a bigamia ou a falsificação do
estado civil; ainda que nos mesmos o autor continue a aproveitar-se do estado criado pelo sua
acção isso não supõe que ele contraia com constante reiteração um matrimónio bígamo ou
uma repetição da falsificação, já consumada, do estado civil.
Conclusão:
- Nos crimes instantâneos não se verifica um estado lesivo que possa ser removido;
- Nos crimes duradouros, havendo também a possibilidade de remoção do estado lesivo tem-
se que, contrariamente aos crimes de estado, existem graus crescentes de ilicitude, ou uma
ilicitude progressiva, o que não acontece nos crimes de estado em que o grau de ilicitude é
sempre o mesmo.
Uma outra distinção que é necessária fazer é aquela que estabelece a diferença entre actos
preparatórios:
3. - De tentativa;
4. - E de consumação.
Em primeiro lugar, tem-se que atender a dois conceitos de consumação. Por um lado fala-se
em consumação formal e essa consumação formal pressupõe o preenchimento de todos os
elementos do tipo incriminatório.
Por outro lado, fala-se num conceito de consumação material que tem a ver com a lesão
efectiva do bem jurídico tutelado pela norma jurídico-penal.
Mas por vezes, tem-se de distinguir a responsabilidade penal do agente não por facto
consumado, mas por actos preparatórios ou por factos tentados.
Quanto aos actos preparatórios eles são uma fase do “inter criminis”, em que normalmente é
possível cindir e destacar várias etapas na evolução do cometimento do crime:
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1. - Há normalmente a pessoa que tem uma intenção criminosa- Que pode não
exteriorizar, mas que está em plano;
2. - Depois a pessoa passa efectivamente a procurar esse plano, que mentalmente
concebeu e prática para efeito determinados actos que são preparatórios à
execução;
3. - Passa depois aos actos de execução- Actos de execução daqueles que se
encontram previstos nas várias alíneas do art. 22º CP.;
4. - E finalmente, quando acaba os actos de execução, está perante a consumação.
Os actos preparatórios regra geral e por força do disposto no art. 21º CP, os actos
preparatórios não são punidos.
Só existe punição por actos preparatórios quando a lei expressamente o disser; ou então o
próprio legislador tipifica como crime autónomo actos que são actos de preparação.
A punibilidade da tentativa é muito menor do que a punibilidade por facto consumado, pois de
harmonia com o que preceitua o art. 23º CP:
- Por outro lado, sendo ainda punível a tentativa, a pena é especialmente atenuada.
Só há tentativa, nos termos do art. 22º CP quando o agente passa dos actos preparatórios para
os actos de execução. Então a tentativa é virtualmente punível. Mas para isso o agente tem de
empreender já actos de execução, tem de ter a decisão criminosa; e é preciso o resultado
típico não se produzir.
Por isso, pode-se assentar que os elementos da tipicidade do facto tentado sejam três:
Em Direito Penal não existem tentativas negligentes, as tentativas são sempre dolosas.
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Encontra-se por referência ao disposto no art. 23º CP, as tentativas impossíveis que também,
nalguns casos, não são puníveis.
Essa tentativa, quando existe numa manifesta inaptidão do meio empregue com vista à
produção do resultado pretendido, é uma tentativa não punida.
Regra geral, só é possível desistir enquanto não há consumação, pelo menos enquanto não há
consumação material.
A tentativa é uma figura que está especialmente concebida para os crimes materiais ou de
resultado. Como a tentativa pressupõe um elemento negativo que é a não produção do
resultado típico está concebida para os crimes de resultado.
Nos crimes formais, de que são exemplo os crimes de mera actividade ou as omissões puras,
há quem distinga e fale em:
- Crimes formais uniexecutivos - Nos crimes uniexecutivos já não é possível nem pensável uma
fragmentação de actos antes da consumação.
- Crimes formais pluriexecutivos - Os crimes pluriexecutivos têm uma descrição típica que
pressupõe um fraccionamento da actuação ou do comportamento ilícito; ou em que
ontologicamente se pode retirar essa conclusão.
A classificação dos crimes pluriexecutivos, dentro dos crimes formais, vem permitir duas
coisas:
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1. Por um lado, vem permitir considerar-se que também é possível falar de tentativa nos
crimes formais que sejam pluriexecutivos;
2. Por outro lado, ainda, nestes crimes formais, que estão preenchidos com a mera
conduta do agente e que não exigem a verificação de um resultado ontologicamente
diferenciado da conduta, vem permitir que nos crimes formais pluriexecutivos se possa
falar por exemplo em desistência.
Nos termos do art. 18º CP, a imputação de um resultado ao agente há-de fazer-se sempre com
base numa culpa, quando mais não haja a título de negligência. Não há responsabilidade
objectiva em Direito Penal – consagra-se no art. 18º CP o princípio da responsabilidade
subjectiva ou com culpa.
IMPUTAÇÃO OBJECTIVA
Dentro da teoria do facto punível e das categorias analíticas começou-se por analisar a acção.
Verificando-se que havia uma acção penalmente relevante, essa acção tinha de ser subsumível
a um tipo. E portanto o tipo tem uma determinada estrutura que é composta por elementos
objectivos e por elementos subjectivos.
Se faltar um elemento objectivo do tipo, já não há tipicidade. E já nem sequer há que passar
para a categoria seguinte, para analisar a responsabilidade jurídico-penal.
Há uma acção penalmente relevante, mas não é típica se não é típica, não há
responsabilização penal do agente.
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Esse nexo de causalidade, sendo um elemento objectivo do tipo nos crimes materiais, de
resultado, ou omissões impuras, é um elemento não escrito do tipo, não está lá escrito,
excepto se se tratar de um crimes de realização vinculada.
A imputação objectiva só existe nos crimes materiais, nos crimes de resultado ou nas omissões
impuras.
Nos crimes de mera actividade, como a conduta do agente consuma desde logo o tipo legal e
não é necessário que espaço-temporalmente algo se diferencia, não há nada a imputar. A
própria conduta consuma o tipo legal de crime.
Quando se fala em imputação objectiva, pressupõe-se que entre fenómenos exista um nexo
relacional.
Portanto, imputação objectiva e causalidade não são a mesma coisa, porque, pode haver
causalidade e não haver imputação objectiva; da mesma forma que só artificialmente é que se
poderá falar de causalidade e no entanto haver imputação objectiva.
Esta matéria de imputação objectiva mais na faz do que decidir quando é que se pode
responsabilizar criminalmente uma pessoa por alguma coisa que ela fez.
E só havendo nexo de imputação, esse nexo relacional, que não tem de ser necessária e
forçosamente causal, é que se pode afirmar a responsabilidade jurídico-penal do agente.
Surge uma teoria que procurava dar resposta a esta imputação do resultado a uma
determinada actividade e que é uma verdadeira teoria da causalidade, que pressupõe a
existência de um nexo causal entre um determinado resultado e uma conduta, em termos de
causa e efeitos.
Neste sentido todas as condições se equivalem enquanto causa do mesmo resultado. Ou seja,
para os partidários da teoria “conditio sine qua non”, eles partiam dum processo hipotético de
eliminação para verificar se um determinado comportamento podia ser ou não causa de um
determinado resultado.
Então, através deste raciocínio hipotético, eles pensavam assim: vai-se abstrair dessa conduta
cuja causalidade se quer aferir e verificar se o resultado, abstraindo da conduta, se mantém ou
não.
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E isto faz com que exista um encadeamento causal infinito e leva a exageros de
responsabilidade criminal.
Isto porquê?
Todas as circunstâncias se equivalem em termos de produção do resultado típico. Daí que esta
teoria seja também chamada a teoria da equivalência das condições.
Mas quando à partida a relevância da causa for desconhecida, a teoria pouco ou nada diz
sobre a manutenção ou não do resultado.
Uma critica que se faz à teoria da “conditio sine qua non” é que ela não resolve os casos de
imputação na chamada causalidade cumulativa e na chamada causalidade virtual ou
hipotética.
Por outro lado ainda, uma critica que se faz a esta teoria, é a de que esta teoria, já excessiva
na responsabilização criminal, por referência ao conceito de causa que tem, e porque não
permite distinguir entre causas relevantes e irrelevantes e irrelevantes porque todas as
circunstâncias são condições aptas à produção do resultado, então este conceito naturalístico
de causa não consegue explicar a imputação nos crimes omissões impuros ou impróprios.
Parece ser aquela que o Código Penal perfilha no art. 10º CP, quando equipara a acção à
omissão e quando se diz que, quando de um crime faz parte um determinado resultado, o
facto é tanto a acção adequada a produzi-lo, como a omissão da acção adequada a evitá-lo.
Já não são todas as circunstâncias que se equivalem enquanto causa do mesmo resultado, mas
são só importantes aquelas causas ou aquelas condições que sejam aptas, que sejam, no
sentido de importarem a obtenção de determinado resultado.
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Neste juízo vai-se verificar se, para um homem médio, para um agente médio colocado nas
mesmas circunstâncias de tempo e lugar daquele comportamento em concreto, era previsível
que resultasse aquela ocorrência ou que desse comportamento resultasse aquele evento em
concreto.
Fazer uma prognose é fazer uma previsão. E essa previsão é posterior, ou póstuma, porque se
vai fazer uma previsão no momento em que já ocorreu o resultado, quer-se efectivamente
comprovar se a conduta é conducente a esse resultado já ocorrido. Por isso é que é uma
prognose – uma previsão –, mas é póstuma.
E é objectiva, porque não se vai perguntar ao próprio agente que agiu se, actuando daquela
forma, lhe era a si previsível que ocorresse aquele evento, mas vai-se efectivamente
questionar, por relação – é quase uma valoração paralela na esfera laica do agente. Ou seja,
vai-se averiguar, para um homem médio colocado nas mesmas circunstâncias de tempo e de
lugar do próprio agente, se para ele era previsível que daquela conduta ocorresse aquele
resultado.
1. Os elementos objectivos,
2. O recurso à ideia da valoração feita pelo homem médio
3. E há que entrar em linha de conta também com os conhecimentos concretos
que o agente tenha daquela situação, tenha no caso concreto.
Contudo, são várias as críticas que se podem fazer a esta teoria da adequação e que são as
seguintes:
Em primeiro lugar, é uma doutrina que postula, para a adequação da causa, elementos de
natureza subjectiva, uma vez que se tem de ter também em conta os conhecimentos que o
agente tinha da situação. E portanto já não se faz totalmente uma prognose objectiva
posterior, porque ela não é mesclada por uma subjectividade, pelos conhecimentos que o
agente tinha da própria situação.
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Por outro lado, este critério, ou esta ideia de previsibilidade em que assenta a teoria da
adequação é um critério algo impreciso. E isto porque, postulando um conhecimento da
realidade e do mundo objectivo, não há dúvida nenhuma que esse conhecimento é residual.
Finalmente, não se pode esquecer também que sendo categórico o juízo de previsibilidade, ele
só se pode afirmar ou negar.
Existem doutrinas posteriores cujo percurso foi iniciado por Klaus Roxin, que vêm introduzir
determinadas ideias para de alguma forma, corrigir estas teorias antecedentes: quer a teoria
da adequação ou da causalidade adequada, quer a teoria da “conditio sine qua non” ou da
equivalência das condições. É a chamada teoria do risco, ou dos critérios do risco.
Os critérios de risco não são baseados em critérios de causalidade, sendo certo que a ideia de
causalidade em sede de imputação objectiva é um pressuposto mínimo ou um limite máximo
que não se pode dispensar.
Por vezes, a causalidade, o nexo de causalidade, não chega, não é suficiente para explicar a
imputação objectiva porque, pode existir causalidade, pode existir um nexo de causa e efeito
entre dois fenómenos e no entanto não haver lugar a imputação objectiva.
Perante a teoria do risco entende-se que só faz sentido considerar um evento, em termos
jurídico-penais, consequência de um determinado comportamento, sempre que o agente,
através do comportamento empreendido, criar um risco relevante, um risco juridicamente
desaprovado pela ordem jurídica.
Portanto, só faz sentido imputar um resultado, ou uma conduta humana, quando o agente
com aquela conduta:
O cerne está pois em que o comportamento ou a conduta do agente tem de ser criado,
aumentado ou não diminuído o risco proibido.
Só haverá lugar a imputação objectiva quando o agente, através da sua conduta, tiver criado,
aumentado ou não diminuído risco proibido.
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2. - E nos casos de risco lícito ou permitido- São riscos lícitos ou permitidos, porque
são inerentes à própria sociedade em que as pessoas vivem.
Em conclusão:
A causalidade e imputação objectiva são duas realidades que não significa a mesma coisa.
Por outro lado, pode haver causalidade e não obstante não haver imputação objectiva, são
casos de diminuição do risco- Quando o agente intervém no decurso de um processo causal já
iniciado, no sentido de evitar a produção de um risco, de o adiar, ou de evitar um risco maior.
Também a causalidade não resolve aquelas situações em que existe uma actuação negligente
por parte do agente, actuação negligente essa que da origem a um determinado evento lesivo;
mas, mesmo que o agente adoptasse um comportamento lícito, mesmo que o agente actuasse
diligentemente, com a observância de todos os cuidados que lhe são impostos e de que era
capaz, o resultado produzia-se na mesma.
Causalidade há, imputação objectiva em princípio não haverá, pelo menos para aqueles que
defendem como corrector, dentro dos critérios do risco, o chamado comportamento lícito
altemativo.
Quando uma pessoa pretende praticar um determinado crime, quando pretende a obtenção
de um determinado resultado típico, prevê normalmente a forma de obtenção desse evento
ou desse resultado típico, constrói, concebe um determinado processo causal, isto é, faz
desencadear uma série de acontecimentos que vão produzir o evento pretendido pelo agente.
Muitas vezes o processo causal perspectivado pelo agente para obtenção do evento ou do
resultado típico diverge daquele que na realidade se verifica.
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O critério utilizado para verificar se o desvio no processo causal é um desvio relevante ou não
relevante, isto é, se é um desvio essencial ou não essencial, é o mesmo critério de
previsibilidade que se utiliza para aferir da adequação da causa na teoria da adequação.
Ou seja, pergunta-se se, daquela actuação do agente seria previsível que ocorresse um risco tal
que levasse à produção daquele resultado.
Portanto, nos casos de desvio irrelevante ou não essencial do processo causal, há sempre
imputação objectiva.
É aquela causa que acontecem se isto ou aquilo não se verificasse ou não ocorresse; se não se
verificasse outro acontecimento que é, esse sim, a condição ou a causa real.
São todas aquelas situações em que o agente adopta um comportamento negligente, não
observa os deveres de cuidado a que está obrigado e de que é capaz e, com esse
comportamento ilícito por ele adoptado, dá origem a um resultado lesivo; mas prova-se que,
mesmo que o agente actuasse diligentemente, observando todos os deveres de cuidado, o
resultado lesivo seria o mesmo, os chamados casos de comportamento lícito altenativo.
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1. - Há aqueles que dizem que nos casos de comportamento lícito alternativo não
há lugar a imputação objectiva;
2. - E há aqueles que dizem que nestes casos deve firmar-se a imputação objectiva
do agente.
O legislador relativamente ao art. 10º CP, equipara a acção à omissão e que ai se consagrar
as chamadas omissões impuras ou impróprias.
Nos termos do art. 10º/1 CP, diz-se que quando um determinado crime, ou um determinado
facto típico, compreende um resultado, o facto abrange não só a acção adequada a produzi-lo,
como a omissão da acção adequada a evitá-lo.
Neste sentido, parece que o legislador firma aqui, como ponto de partida para a
imputação objectiva, uma teoria da adequação, mas teoria da adequação que, sendo
no entanto maioritária na doutrina e jurisprudência mais recentes, completada pelos
critérios de imputação objectiva nomeadamente pelas ideias do risco.
· Ou, pelo contrário, partir de uma teoria da adequação – causalidade adequada – e corrigi-
la depois com os critérios ou ideias do risco.
Para afirmar a imputação objectiva assenta-se no critério básico da teoria da adequação, num
critério de previsibilidade assente num juízo de prognose póstumo ou posterior.
Introduzem-se depois correcções a esta teoria, correcções essas trazidas pela ideia de risco,
nomeadamente os casos de diminuição do risco, os casos de risco permitido ou risco lícito, os
casos que se situam para além da esfera de protecção da norma, em todos eles há causalidade
mas não há imputação objectiva.
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Ainda um outro correctivo introduzido por força de um princípio dominante no Direito Penal,
que é o princípio da responsabilidade pessoal ou individual em Direito Penal e não
responsabilização por facto alheio.
IMPUTAÇÃO SUBJECTIVA
Do tipo fazem parte, para além dos elementos objectivos, os elementos subjectivos,
nomeadamente o elemento subjectivo geral nos crimes dolosos que é o dolo. E alguns tipos
pressupõem também elementos subjectivos específicos – as especiais tendências, as especiais
intenções.
A partir deste conceito de dolo, verifica-se que o dolo tem uma estrutura composta por dois
elementos:
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Esta falta de conhecimento de elementos do facto típico gera situações de erro; são as
situações de erro de tipo, situações em que há um desconhecimento ou um imperfeito
conhecimento dos factos ou da realidade.
Quanto ao elemento intelectual do dolo interessa ainda dizer que tem que ser um
conhecimento actual.
Uma pessoa pode querer um resultado, ou pode querer um facto típico, com maior ou menor
intensidade.
Quando a pessoa quer directamente aquilo que prevê com a intenção de realizar aquilo que
prevê, está-se perante a forma mais intensa de querer, está-se perante o dolo de intenção ou
dolo directo de primeiro grau.
Portanto, em Direito Penal é incorrecto dizer-se que dolo é sinónimo de intenção, porque
intenção em termos rigorosos visa tão só uma das espécies de dolo, que é a forma mais intensa
(art. 14º/1 CP).
Outras vezes a relação de intensidade para com aquilo que o agente quer já não é tão intensa.
São aquelas em que o agente quer algo em primeira linha, e quer essa coisa com a sua
intenção; mas sabe que para conseguir essa coisa, como consequência necessária da conduta
que tem de empreender para conseguir isso que quer, algo vai acontecer como consequência
necessária da conduta.
Nestas situações está-se perante o dolo directo de segundo grau ou dolo necessário (art. 14º/
2 CP).
Nas situações de dolo eventual, que é a forma mais ténue de intensidade da relação do querer
do agente para com o facto por ele praticado, o agente representa, prevê como possível que
da sua actuação possa ocorrer um determinado resultado lesivo, um determinado tipo crime. E
actua conformando-se com a possibilidade dessa realização, actua conformando-se com a
possibilidade de a sua actuação desencadear a ocorrência do facto típico por ele previsto, é o
chamado dolo eventual (art. 14º/3 CP).
Muito perto do dolo eventual, está uma outra figura que há chamada negligência consciente.
Em primeiro lugar, a norma do art. 13º CP, diz-se que a regra geral é a imputação por facto
doloso e só excepcionalmente existe responsabilidade criminal por facto negligente.
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Por outro lado, a figura da tentativa e a tipicidade da tentativa e do facto tentado prevista no
art. 22º CP é uma tipicidade dolosa. Não existe responsabilidade penal por tentativa
negligente.
E ainda, mesmo quando a lei prevê excepcionalmente responsabilidade por facto negligente, a
moldura penal prevista para o mesmo facto praticado dolosamente.
Enquanto que da estrutura do dolo fazem parte dois elementos – o elemento intelectual
(conhecer) e o elemento volitivo (o conhecer), como acontece na negligência inconsciente;
mas não há nunca o elemento volitivo.
O agente, tendo previsto o perigo para determinado bem jurídico, perigo que resulta da sua
actuação, actua não se conformando que dessa sua actuação o perigo se venha a desencadear
na lesão.
Há quem secunde para a distinção entre dolo eventual e negligência consciente, uma teoria da
probabilidade ou verosimilhança.
Aqui, o critério fundamental é o grau de probabilidade com que se prevê um certo resultado:
1. - Se uma pessoa prevê como altamente provável um certo resultado e não deixa
de agir como quer agir, pode dizer-se que essa pessoa actua com dolo eventual;
2. - Se o grau de probabilidade com que se prevê um determinado resultado é um
grau baixo, então haverá negligência consciente.
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o grau de probabilidade? Então uma pessoa previu como 50% de probabilidade ou será 60% ou
70%?
É um critério impreciso.
Para além de ser um critério muito impreciso, o grau de probabilidade com que se prevê ou
não determinado resultado é subjectivável, varia de pessoa para pessoa: há pessoas que são
mais cautelosas e outras pessoas que o são menos.
E por outro lado, há determinados resultados que são altamente prováveis e que contudo,
ninguém pensa imputá-los a título doloso.
Existem basicamente duas teorias, ou duas fórmulas de Frank que ajudam a compreender:
Segundo a fórmula hipotética de Frank, à que se interrogar quando é que o agente actuaria
caso previsse como certo o resultado:
1. - Se se chegar à conclusão que, tendo previsto como certo o resultado lesivo, o agente
não actuaria daquela forma, então é porque o agente actuou com negligência
consciente.
2. - Se pelo contrário, tendo previsto como certo o resultado lesivo, o agente não tivesse
deixado e actuar de forma como actuou, então é porque o agente actuou como dolo
eventual.
Esta fórmula ou teoria hipotética de Frank para distinguir os casos em que o agente actuaria
com dolo eventual ou com negligência consciente, é de alguma forma criticável. Por força de
algumas críticas Frank faz uma formulação positiva da sua teoria.
Já não se pergunta o que é que aconteceria se o agente tivesse previsto como certo o
resultado lesivo, mas vê-se antes, perante uma determinada situação fáctica, se a posição do
agente ao actuar é esta: “aconteça o que acontecer, haja o que houver, eu actuo”.
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Para fazer a distinção entre dolo eventual e negligência consciente e saber quando é que o
agente actua conformando-se (e portanto querendo o resultado), a teoria ou fórmula positiva
de Frank é um bom ponto de partida.
Simplesmente, por vezes há que introduzir ainda determinados correctivos a esta formulação
positiva de Frank. E essa correcção deve ser feita por recurso ao caso concreto, tendo
nomeadamente em conta a intenção do agente e a posição do agente.
Para a distinção entre dolo eventual e negligência consciente, vai-se partir do princípio da
actuação da teoria positiva de Frank mas com um correctivo face ao apelo da motivação
concreta do agente quando actua de determinada forma.
Dolo de perigo
Os crimes de perigo têm uma estrutura típica em que o legislador descreve uma conduta típica
perigosa e da qual se autonomiza um resultado típico que é o próprio perigo para o bem
jurídico que o legislador pretende proteger através da incriminação.
Para que o tipo esteja consumado, é necessário que se autonomize dessa conduta o resultado
típico, que é o perigo para a própria vida da pessoa que foi exposta.
Nos crimes de perigo concreto o resultado é o próprio perigo para o bem jurídico que a norma
pretende tutelar.
Mas o perigo é uma possibilidade de lesão. Sendo o dolo a consciência e vontade de realização
dos elementos objectivos do tipo, nos crimes de resultado de que são exemplo também os
crimes de perigo concreto, o resultado é o elemento objectivo do tipo. Logo tem de abarcar o
próprio resultado enquanto elemento objectivo do tipo.
Donde, o dolo tem efectivamente de se reportar nos crimes de perigo concreto ao próprio
perigo que é o resultado autonomizável da conduta perigosa.
O dolo é uma figura que tem um recorte legislativo. Existem várias modalidades de dolo, que é
um dolo de lesão, previstas no art. 114º CP. Portanto o dolo de perigo há-de ser um dolo que
não pode ser uma figura inteiramente nova, mas que tem que ter algum apoio legislativo. Há-
de ter alguma filiação em sede do que já está no art. 14º CP, nalgum dos seus números.
O dolo de perigo não é compaginável de ser recortado à figura do dolo directo de primeiro
grau, ou intenção, prevista no art. 14º/1 CP, porque é difícil conceber que quem actuar
querendo o perigo que é a probabilidade de lesão e querendo directamente aquele perigo,
pelo menos não se conforma com a possibilidade de lesão.
Por outro lado também não é concebível uma situação de dolo eventual de perigo, porque se o
dolo eventual nos termos do art. 14º/3 CP, é aquela situação em que o agente representa
como possível que da sua conduta vá ocorrer a lesão e actua conformando-se com essa
possibilidade, então o agente, ao prever como possível o perigo, está a prever a possibilidade
da lesão, porque o perigo é sempre a possibilidade de lesão.
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O dolo de perigo há-de ser natural e necessariamente um dolo necessário de perigo, que pode
ser recortado nos moldes do art. 14º/2 CP.
Para que exista dolo de perigo é necessário um elemento positivo e dois elementos negativos.
Elemento positivo:
É a consciência que o agente tem da situação de perigo: o agente tem de representar, tem de
tomar consciência (elemento intelectual do dolo) da possibilidade de lesão que é o perigo.
Elementos negativos:
2) Por outro lado, tendo o agente representado o perigo e tendo consciência desse perigo, ele
não se pode auto-conformar. Na verdade, se o agente prevê o perigo e se auto-conforma com
a possibilidade de o perigo por ele previsto se desencadear em lesão, então já se tem uma
situação de dolo eventual de lesão.
Ainda no que diz respeito à imputação subjectiva, torna-se relevante falar nos elementos
subjectivos específicos ou especiais.
Os Neoclássicos chamariam à atenção para o facto de que o tipo tinha alguns elementos
subjectivos específicos. Foram referidas em sede própria as especiais tendências, as especiais
intenções, a propósito do crime de burla, que pressupunha uma intenção de enriquecimento.
Nestes casos, os tipos só estão preenchidos e constituídos quando se verifica essa intenção ou
intenções. No entanto para a consumação material do tipo é necessário que o resultado dessas
intenções se concretize.
Quando o legislador nada diz, nos tipos da parte especial que são em geral dolosos, admite-se
qualquer forma de dolo – dolo directo, dolo necessário, dolo eventual – a não ser que a lei
expressamente limite a forma de dolo que serve para o preenchimento do tipo legal[34].