ARGAN, Giulio Carlo. Guia de História Da Arte PDF
ARGAN, Giulio Carlo. Guia de História Da Arte PDF
ARGAN, Giulio Carlo. Guia de História Da Arte PDF
ARGAN, Giulio Carlo; FAGIOLO, Maurizio. Guia de história da arte. Lisboa: Ed. Estampa, 1992 [1977].
,
GUIA BIBLIOGRAFICO, de Maurizio Fagiolo •.•.....•••..•...•....•...•...•...
Advertência
I. Os Instrumentos de Pesquisa
I . Re..&erenctas gerats ............................................................... .
A • •
7
c) As colecções ................................................................... . 51
d) As revistas ..................................................................... . 53
8
c) O destino da obra de arte ............................................. . 131
d) A reprodução da obra de arte ...................................... .. 135
e) Arte e espectáculo ......................................................... .
.,.. .
139
f) Arte e c1encta ................................................................. . 141
g) Arte e indústria .................................................•............ 143
9
PREÂMBULO AO ESTUDO
,
DA HISTORIA DA ARTE
13
(arquitectura, pintura, escultura) e artes menores (todos os géneros de
artesanato): nas primeiras prevaleceria o momento ideativo ou inventivo,
na segunda o momento executivo ou mecânico. Mas trata-se de uma
distinção válida apenas para as culturas que a estabeleceram, e nem sequer
é resolutiva neste caso: existem obras de ourivesaria, esmaltes, tecidos,
cerâmicas, etc., que, artisticamente, valem mais do que obras medíocres
de arquitectura, pintura ou escultura.
9 conceito de arte não define, pois, categorias de coisas, mas um tipo
de valor. Este está Ügado .sempre- trabalho humano e às suas técnicas ao
e indica o resultado de uma relação entre uma a~ti__yidade mental ç___yma
~!~.Yidade operacional. Esta relação não é a única possível: também uma
obra de engenharia pode realizar uma relação perfeita de ideação e exe-
cução, e nem por isso é uma obra de arte. O valor artístico de um objectG
é aquele que se evidencia na sua configuração visível ou como vulgar-
mente se diz, na sua forma, o que está em relação com a maior ou menor
importância atribuída à experiência do real, conseguida mediante a per-
cepção e a representação. Qu~~qu~~ _g_~~- ~~ja_ ':\ sua r(!!~_ç_ªº _ç_çm -ª-f~ªl_idac!.e
_obj~ctiva_} uma fonnª é sempre quªlquer coisa que é dada _a_perceberl
Ufn.ª__l}l~~~ª_g~~ _comunica4~_p-~~--~-~is>__~~_pe~~~pçã.~.· ~s .. f~nnas valem
como sivnificantes . --.somente
----·-· ·-· ---·-~-'!1-~-----·-·· . ·-··--··- na medida
--·-· em nue -------
__ ._.._···-·--···----····-~--·- uma ·-···-consciência
- ·-- lb.e~
colhe.~ sig_nifl.c;.~Q~ ..!I.!!!~-9-~ra ~·~-- ~~~<l.~!:~-~~ ~rt~---~~~~-~~-!13.-. ~-~-q-~.~~--~~
que a -~onsciênç_ia gue a r~c~p~--ª-iulga ~9_1!!Q__t~~~-_PQrl_ªQ_t~_.ª-_.P.istóri_~t dCJ
arte __QãQ~ tal}!º__!!_~ª- Q_i_~tº~~a ~.~. ÇQ_i~-'··~ -~~~o .':1~ª- hi~tc)~~a -~~j~-í~~~-- ~~
valor. Na medida em nue toda a história é uma história de valores2 aindCJ
-- 4. -··-····-·····--. -------·--------- -·----·~. . ""' ........ _ -- ---- ... _ _ _ _ _ _ _ _ ., _ _ _ _ _ ,. _ _ _ _ _ , _ _ _ _ _ ..... _. ------·- •• - - - - - - - - - - - -· --- . . . . .-
2. A LITERATURA ARTÍSTICA
15
tino e romano ou ao "colorido" veneziano (Ludovico Dolce, Paolo Pino),
e também as expressivas descrições das reacções emotivas experimentadas
perante obras de arte (Pietro Aretino e, no século XVII, Marco Boschini).
A partir do século XVII (G. B. Bellori), a crítica é sobretudo apreciação
da situação artística contemporânea, com a manifesta intenção de apoiar
esta ou aquela corrente.
No século XVIII, quando se p~~!~ndeº_ ºM
ªJ9Q9_Q_ç_ºnb~çiroe.n_to UIJl
fundamento crítico e já não dog_!!lático, tentou-se (J. Richardson) funda-
Jl!entar cientificament~ o juí~Q_____ct:itiço ___ SQbr.e Q_ v.alQr __das obras de .art~.
O crítico é propriamente um perito, uma pessoa que, possuindo uma longa
e vasta experiência da arte, está em posição de reconhecer se, na obra que
examina, se contém aquela qualid_~dl}__gl}.~-~ prá~~-çª _lQ~ ~Jl.~inpu enco11;trar-
-s~__e_~ _!-~~~~ -~s ~~~~~ti~-~~__2_Qrf!~ ___d~ arte; eêtue, aprofundando o exame,
reconhece na obra que estuda caracteres e processos que a aproximam das
obras certas de um determinado período, de uma certa escola, de um certo
mestre. No decurso do século XIX, cuja cultura é dominada pelo ~º--~-ª
mento positivi~ta, procurou-se eliminar tud(!_Q_ gue havi'!_de _emp(ricq !la
activida9e do perito e fornecer-lhe um método baseado em dados objec_-
tivos (Giovanni Morelli). Se bem que, originariamente, a figura do perito,
que se limita a reconhecer a existência dos factos artísticos, seja bem
diferente da do historiador que os reagrupa e os ordena, é propriamente
ao perito que se deve o aparecimento de uma historiografia da arte (em
Itália, Giovanni Battista Cavalcaselle, Adolfo Venturi, Pietro Toesca) já
nãq__ b.~s~-~ºª--~-~as __na tradição e em QO~}lmen~osL.!!!-ª.~-º.9 estudQ. di!~~o
e analíticoj_~~--~bras, en!~~di~a~ ~91!!.<?. -~.o.~u~~~~~s. P.~~.!ll~~!-~~-~-~s_s.~~~c,-~a~s
da história da arte.
· - - - - . . . . . . _ . - -................ •4-. - . . . . . . - ..
16
3. A FUNÇÃO DA HISTÓRIA DA ARTE
17
mesmo modo -
que os filósofos a enfrentaram
, -
como. pr9bleq1~ filosófico .e
. .
~~-º-~-~o,~~~-~~~-~ ~g~~t~ 4~. histó~üt.:_ e~ª é_, portanto, um~ história _esp~ciql
(~~1110 -~ _~ist<)ri~ c:i_(l fi,osofia ou da economia ou da ciência), que operª
nu._~ -~-3:.~P.~ pr~p~i~ _e tem _meto9ol_Qgi~~- _pr_<)priª~L m~~'-- çomQ_ todas a~s
~i~t~rias especiais, de~emboça e enqll~d~a~se na ~t~~<?r~a_ g~r'.ll da cultura,
explicando como será a cultura elaborada e construída pela. arte.
~JUÍZO CRÍTICO
.. ,/
E VALOR ARTÍSTICO
18
rada,
-------
etc. Para a nossa
-------------------
.
cultura,. -que
·-------- -- -
se--·--·--·······----·------------------,.--
baseia na ciência e-----------
-
considera
--- ..-----
a
~!st<?_!i~--ª- _ç!~~~ia qu~ estu~a as_ ~cçõ~s humanas, -- -- ------ --·.
o parametro
- - -·
do JUÍzo é
-···--·----·--·---- . .. . -·-·- --····-·· -----------------~---··--- ..... --·- ~--·--·-· --·
Decidir pela qualidade de uma obra de arte significa decidir pela sua
autenticidade. A noção de autenticidade, fundamental para o estudo da
arte, é também ela uma noção histórica. Em sentido restrito, o autêntico
é o contrário do falso; e o falso, em arte, é a coisa que passa por ser o
que não é, a contrafacção do estilo de um artista ou de uma época. Em
sentido mais lato, não se incluem no âmbito do autêntico as cópias (ainda
que, por vezes, vindas da oficina ou da própria mão do artista), as imi-
tações, as derivações. Em sentido ainda mais alargado, nªQ -~Jl!t~_Jl!-IJ~-º_t!ca
tudo aquil~ _g~~-~ repetição, con~ormidade com mode~os, operação téc~i
ca s~arada de qualquer acto ideativo ( 1). A história da arte, como qual-
- - •---~. • • • • -·· ·- o •••••o~ ~- •-· ••·- ···---· • • •P• - -~-· • o • o-·
quer história, é processo: tudo aquilo que marca passo e não faz avançar
19
o processo, nem modifica a situação é isento de autenticidade. Conside-
ramos, pois, interessante para a história da arte tudo aquilo que, de qualquer
~aneira,_se despe_ga da tradição: seja continuando-a .~. ~esenvolvendo-a,
ºº-
~eja de_~viart<l_Q:_~~- _ _)~Ç!I___ ç~~~9, _ s~j~ _ .!f.'lv_~~~I!Q.9~~--_p~J~Ill~c~~ente. A
discriminação do autêntico e do não autêntico é portanto necessária a
todos os níveis: ao dos valores máximos, levará a que se caracterize a obra
de arte como acto único e irrepetível; ao da produção menor (mobiliário,
cerâmica, tecidos, etc.), onde a repetição em muitos exemplares está prevista
e calculada desde a fase inicial da ideação e do projecto, levará a que se
caracterizem os protótipos ou os modelos.
A distinção entre arte e não-arte passa-se muitas vezes no interior da
obra do artista, e até dos maiores: nem se afirma apenas que uma obra é
melhor do que outra, mas também que na mesma obra existem por vezes
partes "conseguidas" e partes "falhadas". Diz-se então que o nível da
actividade daquele artista é descontínuo e a qualidade da obra desigual.
Também este tipo de juízo, que parece depender sobretudo da sensibili-
dade e do gosto de quem o emite, é um juízo histórico: até a um grande
artista pode acontecer repetir-se, e até na mesma obra podem surgir partes
em que o artista põe problemas novos e outras onde fica ligado aos
próprios hábitos. Morelli, quando se propôs dar uma base científica à
20
actividade do perito, sugeriu que se atentasse sobretudo nas repetições ou
nos maneirismos, supondo que nas partes menos importantes da obra o
artista possa repetir mecanicamente processos habituais (por exemplo, o
desenho das orelhas, das mãos, dos drapeados). De facto, os esquematis-
mos, os maneirismos, as maneiras típicas ou habituais, são exactamente
aquilo que os imitadores mais facilmente copiam. Já Cavalcaselle notou
que a coerência do desenvolvimento de um artista não está na recorrência
de certos temas ou motivos, mas na contínua mutação da sua maneira: ou,
mais precisamente, na ordem e na razão das sucessivas mutações; aquilo
que o historiador deve reconstruir, seja no âmbito das personalidades
singulares, seja no âmbito mais lato de uma situação cultural, é o desen-
volvimento de uma experiência. Os artistas vivem no mundo da arte como
os cientistas no da ciência, conhecem e avaliam o que foi feito antes deles
e o que fazem os seus contemporâneos; tal como para os cientistas, também
para os artistas não é admiss_ível a ig~orâf!cia. da história e _da~ condições
actuais da sua disciplina. Nas suas obras e com os meios da sua arte, os
artistas desenvolvem um discurso cultural precioso, que o historiador deve
decifrar e reconstruir: reconhecem ou limitam ou negam a autoridade dos
mestres, aceitam ou discutem ou recusam polemicame.nte os resultados de
outras pesquisas, reexaminam criticamente a sua própria actividade pas-
sada. O historiador decompõe a obra de arte nas suas muitas componentes
culturais, analisa-a como um conjunto de relações, de factores interactuan-
tes. No seu -discurso falará frequentemente de influências recebidas ou
exercidas, porém não existe contradição entre as influências e a origina-
lidade da obra, a menos que se trate de influências passivamente sofridas
e não de opções motivadas e reflectidas. Na pintura de Rafael é possível
reconhecer influências de todos os maiores artistas contemporâneos e, no
entanto, Rafael é um artista absolutamente original, e a pluralidade dessas
influências demonstra não já o ecletismo, mas o altíssimo nível intelectual
da sua pintura. De facto, em vez de influências, deveria falar-se de vivas
e construtivas reacções críticas às pesquisas dos seus contemporâneos.
º
_A __q_'!:'!__~qa4_~--~-~- -~_IT)a obr~ <I.~ ~e é-~ si!!~~- d~ _q~~ el~ doÇMJlJ~nta
realizar de uma experiência, com todo o iQt~r~sse_ e --ª _ &_n_~iª de .busca que
necessari_~ent~. a_ (lC~~P~~~· O conceito de qualidade artística foi
definido no século XVIII por J. Richardson como valor que a crítica, e só
a crítica, pode descobrir com a leitura atenta das obras. Justamente
21
-Richardson desvia a atenção do estudioso das coisas que o artista diz para
a maneira como as diz. A maneira do artista é tensa, intensa, essencial;
a maneira do imitador, copista ou falsário que seja, é fraca, penosa, ou
apenas superficial e artificiosamente viva. Todavia, a qualidade ou a
autenticidade não se manifestam necessariamente na fluidez, na facilidade,
na espontaneidade da formulação. Nas pinturas flamengas do século XV,
a feitura é lenta, minuciosa, precisa; nos quadros de Cézanne é laboriosa
e atormentada: num e noutro caso a qualidade, altíssima, manifesta-se
justamente naquela feitura bem distante de imediata e espontânea. Assim,
uma pintura de Ingres não é qualitativamente inferior a uma pintura de
Delacroix pelo facto de os contornos serem firmemente marcados e não
diluídos, as cores cuidadosamente esbatidas e não lançadas à tela com
toques rápidos e impetuosos; e os mármores de Canova não são qualita-
tivamente inferiores aos esbocetos porque apresentam superfícies polidas
e lustrosas em vez de ásperas e acidentadas. O estudioso deve, pois,
concentrar a atenção não no fulgor exterior,. que .pode ser facilmente
~imulad~, mas na vitalidade int~rior das carac~er(sticas; verificar se, na
~erdade, são ou não expres~ivas, ~~- -~~q_ .11~C~~-s.ã.J-!as Oll_ sup~rflu~s,_ _se
<!efinem ou apenas de~cr~vem._ co~v~nçj9n~l.men~~' se no contexto s.oam
bem
.
ou mal. A busca da qualidade requer indubitavelmente sensibilidade,
--···------ -...... -· .. .
.
22
inacessíveis, por uma razão ou por outra, à atenção dos estudiosos: fresco:
escondidos debaixo do reboco e mais tarde pelas transfonnações da:
estruturas de alvenaria; pinturas que continuam quase ignoradas em igre
jas distantes dos grandes centros, ou em velhas colecções muitas veze:
cobertas por camadas de sujidade ou por reparações que toma impossíve
qualquer leitura sem um bom restauro; quadros, esculturas, objectos de
todo o género que giram por esse mundo passando de um comerciante
para outro, sem que os estudiosos deles tenham notícia; objectos de ou
rivesaria, paramentos, códigos com iluminuras sepultados nos "tesouros
das igrejas; objectos de alto artesanato que ficaram ignorados porque c
estudo das ditas "artes menores" ainda está, especialmente em Itália, ben
pouco desenvolvido. Há depois outro material, precioso para a reconstru
ção da história da cultura artística e dos processos de trabalho dos artistas
os desenhos que documentam os estudos, as pesquisas, por vezes as fase
dos projectos e da preparação das obras; as gravuras que no passado cons
tituiram um dos principais intennediários para a difusão·do conheciment~
da arte dos grandes mestres; as réplicas, as cópias, as derivações, que, s
não podem ser consideradas obras de arte autónomas, são todavia ur
testemunho precioso de originais perdidos. Há, finalmente, as notícias da
fontes literárias, os escritos dos artistas, as cartas, os documentos relativo
a encomendas, a pagamentos, às sucessivas vicissitudes das obras.
Nos limites do possível, evidentemente, o trabalho do historiador dev
processar-se sobre textos originais: nenhum juízo decisivo pode ser feit
a partir de reproduções, ainda que tecnicamente perfeitas. Uma obra d
arte é sempre uma realidade complexa, que não pode ser reduzida apen(l
a imagens. O limite das reproduções é especialmente evidente na arqu
tectura: nem uma vasta série de fotografias do conjunto com perspectivé
diversas, e dos pormenores do exterior e do interior, permitirá jamais a
estudioso ficar a conhecer factores essenciais como a dimensão do edifícic
a sua relação com o ambiente, a articulação dos espaços interiores, etc. ~
mesmo limite é válido para as esculturas: as fotografias poderão apresente
-las de diferentes perspectivas, mas isso não substituirá o panorama ci:
cular e contínuo que o estudo de um facto plástico exige, nem dará a
estudioso a possibilidade de avaliar as qualidades mais subtis da modc
lagem, a reacção da matéria à luz, a profundidade dos alicerces e as infn
-estruturas. Até as pinturas que se apresentam como imagens de superfíc:
são na realidade objectos plásticos dotados de uma estrutura complexa. 1
23
estrutura das tábuas ou das molduras, etc.), dos sinais que frequentemente
se apresentam (inscrições, assinaturas., chancelas, etiquetas, números de
inventário, etc.), da espessura e da composição da imprimação ou das
camadas de preparados interpostos entre a base e a superfície pintada, das
várias espessuras e da contextura diversa desta última. Uma reprodução,
ainda que boa, não dará nunca a noção precisa das dimensões da pintura,
da exacta relação das cores, da qualidade da superfície, e só uma longa
experiência permitirá ao estudioso reconstruir imperfeitamente o aspecto
do original (2 ).
Ciente destes limites e procurando, na medida do possível, tomar
conhecimento directo dos originais, o estudioso de arte opera sobretudo
sobre reproduções fotográficas. Independentemente dos casos em que a
reprodução substitui originais perdidos ou danificados ou inacessíveis, o
trabalho do historiador desenvolve-se principalmente sobre reproduções,
porque consiste predominantemente no confronto entre obras de arte.
Porque o objectivo é explicar a obra de arte como um sistema de relações,
24
e as relações são muitas vezes indirectas e a longo prazo, somente através
de uma extensa série de confrontos é possível caracterizar uma por uma
as muitas e muito espalhadas raízes de que a obra nasceu. Os confrontos,
de facto, não servem apenas para revelar as analogias e as dependências
directas, mas também as divergências, as associações de experiências
diversas, os percursos por vezes complicados de pesquisa do artista.
-
8. A ATRIBUIÇAO
25
interior da mesma consciência em crise, e a de Caravaggio é notoriamente
uma consciência em crise, em contínua e dura polémica, não só com o
ambiente artístico do seu tempo, mas também consigo mesma.
A atribuição não tem grande interesse quando se limita a baptizar uma
obra, a catalogá-la; mas tem um carácter de juízo histórico autêntico e
próprio quando corrige e precisa o quadro de uma determinada situação
cultural. Toda a gente reconheceu sempre que o retábulo Rucellai é uma
obra-chave para a história de pintura toscana no fim do século XIII;
porém, tem-se discutido longamente se o retábulo, seguramente devido a
um mestre de primeira grandeza, se deve atribuir a Cimabue, florentino,
ou a Duccio di Boninsegna, de Siena. Se bem que não tenham aparecido
novos elementos documentais, hoje é geralmente aceite a atribuição a
Duccio: através de uma análise mais aprofundada de situação artística do
tempo, e especialmente das relações entre Florença e Siena, chegou-se à
conclusão de que a obra não podia incluir-se na coerência da actividade
de Cimabue, e se inseria antes na actividade de Duccio, na época da sua
estada em Florença.
Também a determinação da data implica a análise histórica. Quando
a data não está escrita na obra ou não é fornecida por documentos credíveis,
pode ser estabelecida, pelo menos por aproximação, através do confronto
da obra com o que veio antes e com o que veio depois, isto é, situando
a obra em causa entre outras de que se conhece com segurança a data. Em
suma, trata-se de colocar um facto numa concatenação histórica de factos,
de compreender que experiências pressupõe e que consequências terá tido
no trabalho posterior do próprio artista ou no ambiente cultural da época.
A atribuição e a datação não pressupõem necessariamente o conheci-
mento da personalidade histórica do artista a que se referem: muitas vezes
o historiador depara com obras ou grupos de obras que não julga poder
atribuir a um artista já famoso, e que atribui a personalidades hipotéticas,
designando-as por um nome provisório (por exemplo, Mestre de Santa
Cecília, Mestre de Madalena, Mestre do "Bambino Vispo", Mestre da
Natividade de Città di Castello, etc.). Por vezes, com o alargamento da
investigação, chega-se a identificar o artista ou a reconhecer na obra
designada por um nome provisório o produto de uma fase ainda não
estudada de um mestre famoso por outros motivos.
Para o verdadeiro perito a atribuição e a datação são o ponto de chegada
da pesquisa: um dos maiores do nosso século, Bernard Berenson, compi-
lou os resultados de muitos anos de assíduo reconhecimento de igrejas
italianas e de museus em todo o mundo numa série de simples listas para
cada artista, contendo as pinturas certas e aquelas por ele atribuídas aos
26
mestres do Renascimento italiano. O mesmo Berenson publicou o corpu . .~
dos desenhos florentinos. Outros investigadores e peritos reuniram em
repertórios quase completos as pinturas murais e sobre madeira dos século~
XIII e XIV, os pequenos bronzes e as medalhas do Renascimento, o~
exemplares mais significativos da cerâmica, de tecidos, etc. São recolha~
preciosas de materiais aturadamente estudados, e constituem úteis traba-
lhos preparatórios, mais do que tratados históricos. Profundidade de.:
investigação e densidade de pensamento bem diferentes assume a atribui-
ção, no trabalho de peritos-historiadores como Pietro Toesca e Robertc
Longhi: implicando uma leitura penetrante dos textos figurativos e ~
individualização das complexas componentes culturais da obra, e tambérr
a recriação do delicado e tantas vezes imprevisível processo pelo qual <
artista as combinou, a atribuição assume carácter de juízo crítico t
histórico.
Visando a recriação do percurso estilístico dos artistas, a pesquis<
atributiva encontrou apoio no pensamento estético idealístico, para o qua
a obra de arte é a expressão da "personalidade" do artista. Como a obr;;
de um artista se desenvolve num certo espaço de tempo, uma grande parte;
da pesquisa histórica segue um método diacrónico e resulta em tratado:
de carácter monográfico, nos quais a obra do artista estudado é recons·
truída desde a formação até à maturidade plena e tardia, para demonstra:
como uma coerência de fundo se estende da primeira à última obra.
O critério da personalidade deu resultados apreciáveis quando fo
aplicado a períodos em que os próprios artistas, cientes da sua qualidade
de agentes e protagonistas da história, propuseram-se deliberadamente
afirmar a própria personalidade. O mesmo Vasari, quando se dispôs ~
narrar o ,...desenvolvimento do "renascimento" da arte desde Cimabue •
Miguel Angelo, deu-se conta de não poder fazê-lo senão escrevendo a:
vidas dos maiores artistas. Muito mais difícil e muito menos útil seria 4
pesquisa da personalidade noutros períodos (por exemplo, a alta Idad4
Média) em que as obras de arte, sejam de um só artista ou de uma oficina
não exprimem a maneira de ser e de sentir de um indivíduo, mas de um;
comunidade. Nestes períodos em que os artistas não tentam minimament~
fazer algo de novo no que respeita à tradição, mas antes colhem dela a
implicações mais profundas e as mais remotas inflexões e variantes, 4
critério sincrónico parece, se não preferível, tão necessário como 4
diacrónico: de facto, torna-se evidente que na arquitectura românica nã4
seria nunca possível distinguir uma sucessão ordenada, e é bem mai
interessante verificar a presença simultânea de diversas influências.
27
SJ. A CRÍTICA DE ARTE
28
pretação explicar que com aquele espaço arquitectónico, aquela compo-
sição perspéctica, aquele desenvolvimento volumétrico das figuras, Rafael
pretendeu representar um espaço universal; se a segunda passar do conteúdo
doutrinal para a necessidade de o exprimir mediante a representação visual
da unidade universal da natureza e da história; se a terceira esclarecer que
as diversas experiências de Rafael não reflectem um ecletismo indiferente.,
mas a consciência da universalidade da cultura, então deveremos reco-
nhecer que as três interpretações são por igual legítimas, e que cada uma
delas representa um ponto de vista diferente pelo qual se considera e no
qual se expõe, na sua globalidade, a realidade histórica da obra. Rafael
pintou este fresco para exprimir o pensamento da sua própria época; mas
porque a obra de arte se destina a durar no tempo, não vale apenas pot
aquilo que significou na situação do momento, mas por aquilo que signi-
ficou depois, significa para nós, significará para quem vier depois de nós.
Cada época deve definir o que significam as obras de arte do passado nc
âmbito da sua própria cultura e que problemas representam no quadro dos
seus próprios problemas.
Uma investigação de que historiagrafia modema de arte não pode
prescindir é a relativa à história da crítica. Deve-se a Julius von Schlosset
uma monumental Storia de/la letteratura artistica ( 1924), e a Lionellc
Venturi uma fundamental Storia de/la critica d'arte ( 1938); procuram-se
e republicam-se com um interesse cada vez maior as fontes literárias d2
história da arte; quase sempre os tratados histórico-artísticos começam
pela análise do desenvolvimento e da situação actual do problema, isto é.
por um capítulo da história da crítica. O estudo da história da crítica nã<
é auxiliar e colateral, é um processo metódico da historiografia da arte.
Porque temos de saber o que pensaram de Giotto, de Mantegna, d~
Ticiano os seus contemporâneos e os estudiosos dos séculos que se seguirarr.
até ao nosso, uma vez que sabemos que a nossa interpretação da obr~
daqueles mestres será necessariamente diferente? Dissemos que uma obr~
existe como obra de arte apenas no juízo que a reconhece como tal
O primeiro juízo sobre a obra é implicitamente formulado pelo própri<
artista que a realizou, no próprio momento em que, considerando-(
completa, deixa de trabalhar nela e a entrega ao mundo: desde entã<
também para ele a obra é objecto de crítica, de juízo, de avaliação histórica
Todos os juízos pronunciados sobre a obra (e por vezes não-pronunciados
também o silêncio pode ser um juízo) demonstram que ela foi consideradé
um problema a enfrentar e resolver, e como tal é transmitida à nossê
cultura e proposta ao nosso julgamento. Na medida em que cada culturê
é a crítica da cultura precedente, a nossa apenas pode formular um juíz(
29
próprio como crítica dos juízos procedentes. Resumindo, pode dizer-se
que a história da arte, sendo história dos juízos emitidos sobre obras de
arte, é história da crítica de arte.
30
~rte modef!la. ~
este preconceito corresponde o oposto: que o crític_~,
t~~tando -~arte do seu tempo, não deve proceder segundo os métodos da
história, como se a arte contemporânea constituísse um problema histórico.
Pode fazer-se a história da arte antiga com uma metodologia modema, e
pode fazer-se, a história da arte modema com metodologias antigas e ul-
trapassadas. E evidente que o historiador, expoente responsável pela cultura
do seu tempo, deve sempre fazer uma história modema, qu~r o objecto da
sua investigação e do seu juízo seja antigo quer moderno.
- -
11. PERIODIZAÇAO E LOCALIZAÇAO
31
"escola" de Angélico ou de Lippi ou de Verrocchio, mas depois incluem-
-se todas na designação de "escola florentina", tal como há uma escola de
Tura, uma de Hércules de Roberti, uma de Cassa, uma de Costa, e todas
se reassumem na designação de "escola de Ferrara". Menos convincente
e depois usada, quando muito., como designação topográfica, é a inclusão
naquelas "escolas" citadinas de artistas dos séculos XVII e XVIII, ou, por
maioria de razão, de artistas modernos. Não caberia na cabeça de ninguém
incluir Magnelli, florentino, na escola florentina, ou De Pisis, de Ferrara,
na escola de Ferrara. Nos grandes museus encontramos "escolas" nacio-
nais completamente distintas: italiana, flamenga, francesa, alemã, espa-
nhola, etc.: e tal como seria inconcebível incluir os mosaicos de Ravena
"
ou os frescos de S. Angelo em Formis na escola italiana, seria verdadei-
ramente ridículo incluir Picasso
, na escola espanhola, Chagall na escola
russa, Brancusi na romena. E, pois, evidente, que por "escola" se entende
um âmbito de relações historicamente comprováveis, ainda que muito
separadas no espaço e no tempo: o conceito de escola é, pois, um critério
de classificação histórica e, como tal, susceptível de ser, como tem sido,
criticado e ultrapassado. O critério de escola parece assim inadequado no
que toca às exigências de classificação e periodização da historiografia
moderna, para a qual todas as delimitações de campo, sejam elas ti-
pológicas, tipográficas ou cronológicas, são na realidade a definição de
uma área problemática. A periodização convencional, que conserva algu-
ma utilidade prática para o estudo da arte ocidental, não tem nenhuma para
outras áreas culturais: quem se lembraria de chamar medieval a uma
pintura chinesa do século XI, ou renascentista a um bronze indiano do
século XV? Também os períodos históricos são, pois, campos de relações,_
e mudam segundo a interpretação dada aos sistemas de relações respec-
tivos. Nenhum historiador de arte poderia jamais aceitar a periodização,
ainda mantida em certos manuais escolares, segundo a qual a Idade Média
termina em 1492, com a descoberta da América; o mesmo conceito de
Idade Média perdeu significado histórico desde que, com argumentos bem
fundamentados, foram contestados os falsos conceitos de decadência e de
renascimento da cultura clássica e, sobretudo, desde quando foram deli-
mitados outros campos de fenómenos correlativos (bizantino, carolíngio,
românico, gótico, etc.) que permitiram articular e ordenar a imensidade de
fenómenos que o termo "Idade Média" reunia e misturava num único saco.
O conceito de Renascimento~ que ainda compreendia todas as mani-
festações artísticas italianas e parte das europeias entre o princípio do
século XV e metade do XVI, parece hoje mais aleatório do que definidor,
e já não pode ser referido como o período do renascimento da cultura
32
figurativa clássica. Entretanto, aquele conceito valeria apenas para Itália
(rigorosamente, pelo menos até metade do século XV, apenas para Flo-
rença), pois o dito renascimento da arte clássica não serviria decerto para
explicar a obra dos flamengos Jan van Eyck ou Roger van der Weyden
ou do francês Jean Fouquet que, no panorama da pintura europeia da
primeira metade do século XV, não são menos importantes do que os
grandes mestres florentinos; além disso, ele configura erradamente a
dinâmica da cultura artística da época como um processo de irradiação de
um centro e não como um sistema de factores inter-actuantes.
Se o te~mo Renascimento tende a desaparecer e já quase desapareceu
mesmo, o termo Maneirismo vai adquirindo cada vez maior importância
e extensão, tendo anteriormente sido usado para definir uma fase ima-
ginária de decadência que se seguiu ao apogeu do Renascimento: deixan-
do de ter um significado negativo e assumindo um positivo, no sentido de
que exactamente nesse período se esboça a problemática de fundo da arte
~odema, o Maneirismo não podia ser já a sequela e a dissolução da arte
~os grandes mestres da primeira metade do século XVI e devia reconhe-
cer-se a estes o mérito de terem realizado e promovido uma transforma-
"
ção radical das próprias estruturas da arte. Maneirista Miguel Angelo,
portanto, e maneiristas Ticiano, Tintoretto, Veronese, e até o mais respei-
tado teórico do classicismo arquitectónico, Palladio; e, se não maneiris-
tas, pelo menos premissas indispensáveis do Maneirismo, Leonardo, Rafael,
Bramante.
"Barroco", termo depreciativo ou pelo menos fortemente limitativo,
designou durante muito tempo tudo aquilo que se fez em Itália e na Europa
desde o princípio do século XVII até metade do XVIII: na crítica moderna,
e apesar da condenação autorizada de Croce, o termo perdeu qualquer
implicação negativa, embora ainda hoje se discuta a oportunidade de o
empregar restritiva ou extensivamente. Em todo o caso, renunciou-se a
excluir do contexto histórico da época, como se fossem aparições mira-
culosas, os maiores artistas como Caravaggio em Itália, Velazquez em
Espanha, Rembrandt na Holanda, cuja obra surge profundamente integra-
da e determinante na dialéctica cultural da época.
A partir do Neoclassicismo, a periodização segue o movimento e a
sucessão das correntes e dos seus programas explícitos e reflecte por isso
o fim daquilo a que se chamava "estilos de época". Não faria sentido dizer
que os últimos decénios do século XIX são a era do Impressionismo ou
tentar estabelecer os limites cronológicos do Cubismo, seja porque estas
correntes não são as únicas e explicam-se em relação e em contraste com
outras, seja sobretudo porque àqueles termos corresponde já uma área
33
precisa de fenómenos, todos ligados aos enunciados teóricos ou aos
programas dos vários movimentos. Também as áreas geográficas serven1
para classificar os fenómenos artísticos
,
na medida em que correspondan1
a outros tantos campos de relações. E absurdo falar-se de arte italiana a
respeito de épocas em que não existia uma unidade étnica e cultural
italiana, ou daquelas em que, como na nossa, o conceito de cultura nacional
perdeu todo o significado.
,
12. O MET(JDO FORMALISTA
34
é puramente descritiva ou ilustrativa, mas universalizada ou ideali?:ada, é
pr~~i~amente o valor universal ou ideal dos sinais que universaliza ou
idealiza a figuração. Poderá observar-se a seguir que o sistema dos sinais
representativos não só se desenvolve tendo em conta os sistemas repre-
sentativos de outros artistas (incluindo os antigos), mas também que existem
certas afinidades entre os sistemas de sinais representativos usados pelos
artistas da mesma época e do mesmo âmbito cultural. Wolfflin procurou
reduzir os sistemas de sinais representativos a algumas categorias funda-
mentais: linear e pictórico; superfície e profundidade; forma fechada e
forma aberta; multiplicidade e unidade; clareza e não-clareza. Pode pare-
cer uma abstracção arbitrária; mas, como é fácil de ver, a cada categoria
corresponde o seu oposto, e nesta série de opostos W olftlin pretende
representar aquilo que considera o~ ~~is grandes rumos da arte: a repre-
sentação e a expressão, o clássico e o não-clássico, a arte do mundo
mediterrânico e a arte do mundo nórdico. De um lado está a representação~
que implica a distinção, mas também o paralelismo e o equilíbrio entre
aquilo que é representado e aquele que representa, entre o mundo como
objecto e o homem como sujeito; no outro está a indistinção e depois a
identificação do dinamismo da vida com o dinamismo do cosmos. Esque-
matização semelhante de grandes áreas étnicas, se não propriamente
históricas, propusera Worringer ( 1906); as formas representativas mani-
festariam o conhecimento de uma realidade que, na sua clareza formal,
lhes serve de modelo (daí a concepção da arte como imitação, própria do
pensamento clássico}, enquanto os sinais "abstractos" da arte nórdica
reflectiriam a tensão entre o homem e um ambiente indefinido, suspeito
ou hostil. Para um outro estudioso, Alais Riegl, a simbologia in1plícita na
morfologia dos adornos reflecte uma intuição do espaço e do tempo próprio
do mesmo grupo étnico e dependente do tipo de experiência vivida. Ainda
que estas posições possam conduzir a inadmissíveis distinções raciais
(como aconteceu com alguns estudiosos alemães) não se pode negar que
permitiram superar a classificação tradicional dos factos artísticos segundo
as nações. Perfilam-se assim áreas ou sistemas de alcance mais vasto,
como o da arte, "ocidental" (Focillon) e o da arte "oriental" (de Bizâncio
ao Islão, à lndia, ao Extremo Oriente).
Q_ perigo inerente a este tipo de pesquisa consiste na fixação de cons ..
tantes formais, nacionais ou étnicas, e no consequente retardamento de
processo histórico: se não se pode negar que as relações são mais estreita~
e frequentes entre fenómenos da mesma área cultural, não, se trata d(;
.
constantes
- .
~
invariáveis,
-
-.------.
mas de desenvolvimentos históricos. E certament{
possível que alguns sistemas ou modos de representação se encontrem en
35
todas as manifestações artísticas de um dado lugar ou período, subjacentes
às características variáveis de artista para artista e de escola para escola.
Toda a arte italiana do princípio do século XIV ao século XIX, por
exemplo, implica uma concepção geométrica do espaço, a perspectiva; e,
se bem que a representação perspéctica mude no tempo e não possa por
isso ser considerada uma constante, é verdade que muda menos rapida-
mente do que outros modos de representação. Mas daqui apenas se pode
concluir que, nas mutações históricas da arte, há tempos mais longos e
tempos mais curtos; e que cada artista opera na base de uma cultura
sedimentada e difusa que a sua busca pessoal contribui para alargar,
aprofundar, mu~ar.
36
do que uma história da arte é uma história da sociedade vista no espelho
~a arte. A historiografia marxista orientou a pesquisa para os motivos
profundos: mais do que nos conteúdos ou nos temas, a relação entre arte
e sociedade é procurada (Hauser, Antal) na própria estrutura da forma, na
organização dos sistemas de representação. Antal, por exemplo, confron-
tou a Adoração dos Magos, de Gentile da Fabriano, com a de Masaccio:
o tema (o tributo dos poderosos da terra ao Deus nascido na pobreza) tinha
um significado particular numa sociedade mercantil como a florentina do
princípio do século XV; todavia, as duas obras são profundamente dife-
rentes. De facto Gentile, expoente da arte refinada e elegantíssima prefe-
rida pelas cortes feudais, desenvolveu o tema no sentido cavalheiresco:
Masaccio, expoente da nova cultura burguesa, exprimiu nele a seriedade,
a densidade do pensamento, a consciência histórica, a essencialidade des-
pojada de qualquer ornamento. A análise e o confronto podem ser apro-
fundados, até explicarem a diferente estrutura formal das duas obras e o
estilo diverso dos dois artistas. A qualidade é igualmente alta; mas se a
obra pictórica de Gentile se enquadra numa realidade histórica em declínio,
a de Masaccio insere-se numa realidade histórica nascente e tem uma
carga ideológica muito mais forte. A primeira é certamente mais atraente,
a segunda mais importante. Eis um caso em que a análise de um ponto
de vista sociológico levou a uma interpretação esclarecedora e, o que é
mais importante, exaustiva.
Não é, pois, correcto dizer-se que a crítica de orientação sociológica
considera a obra de arte apenas como documento e descura-lhe a quali_-
dade. Porém, é verdade que essa crítica não tem dado todos os resultados
que podia dar. Quando muito operou em campos já trabalhados, sem se
aventurar a novas direcções de pesquisa mais condizentes com as suas
premissas e com os seus objectivos: a relação entre a actividade artística
e o mundo da produção e do trabalho; a sua organização no quadro de
a~~~vidades sociais; a fruição artística a diversos níveis sociais e os seus
meios (decalques, gravuras, reproduções mecânicas, etc.).
37
artística tem impulsos mais profundos, ao nível do inconsciente individual
~~-ºlect_i~o. Períodos houve (por exemplo, o da arte bizantina) em que as
figurações obedeciam a prescrições iconográ_ficas precisas e inevitáveis .
fixadas pela liturgia, e toda a actividade inventiva era vedada aos artistas:
mas nem por isso o seu valor artístico era menor. A iconologia é diferente
da iconografia: num caso e noutro, porén1, o que conta, porque tem um
significado próprio, é a imagem. O assunto, que a crítica formalista eli-
mina como facto inteiramente contingente, é sempre uma componente da
obra: uma interpretação que se
. -~
queira exaustiva não - pode desprezá-la. A
.
38
e é considerada a representação rigorosamente objectiva do espaço; toda-
via é, também ela, uma "forma simbólica", uma iconografia do espaço,
que não difere substancialmente da iconografia do Omnipotente ou da
Trindade. E;~_iste, J?.~-i~_,-~ tem uma importâ_ncia capital na ~istória da civi-
lização, uma cultura de in1agens; a história da arte é a história da cultura
~laborada não pela via dos conceitos rnas por meio das imagens. As
imagens têm no mundo uma existência própria; propagam-se, embora
alteradas, em todas as classes sociais, não conhecem limites de "escolha"~
nem de "estilo'' nem de nação. Por vezes um grande monumento (o Colos~o,
digamos) é reproduzido de maneira mais ou menos esquemática, reduzido
a um símbolo, a uma sigla a que se atribuem os mais diversos significados:
alusão à universalidade do império romano, ao sacrifício dos mártires
cristãos ou, simplesmente, indica a cidade de Roma. Seja como for, a
imagem do Colosso faz parte do inconsciente colectivo, torna-se um sinal
que pode assumir diversos significados, mas que cada um pode decifrar
como quiser. N_~ste sentido, o método iconológico permite uma análise
dos processos de fruição e de recuperação ainda mais extensa do que a que
se faz com o método sociológico. Também ao método iconológico se
censura o facto de não ter em conta a qualidade, e de não estar em posição
de a assegurar. Limitar-se-ia a recolher e ordenar um imenso}nas indis-
criminado material icónico, em que se misturariam a criação do génio e
as medíocres e por vezes mesquinhas imagens devotas, ilustrativas,
populares. Na arquitectura, portanto, o método iconológico revalorizaria
as detestadas tipologias, sendo evidente que a tipologia do templo redondo
períptero ou a da basílica, cristã ou, até, as ordens clássicas, são outras
tantas iconografias. E verdade que não se definiu um valor de qualidade
inerente às imagens; -rrias não é verdade que o método iconológico con-
sidere apenas as repetições do tipo de imagem: pelo_ contrário, ele ocupa-
-se sobretudo das mutações, das diversas associações de imagens para
tQmar novos significados. Por outras palavras, se a iconografia é o estudo
d~_._ǺJ1(Qr.mi~(ld~ com uma _i~ag~m-tipo, a iconologia é o estudo das in-
fracções ao modelo, do percurso muitas vezes misterioso da imagem na
imaginação, dos motivos para as suas reaparições por vezes muito distan-
~i~~~~ no tempo. Na cultura da imagem, os processos de associação e
transmissão surgem de facto muito mais complexos e estruturalmente
diversos dos da cultura da forma, que requerem a relação directa e cons-
ciente: muitas vezes, é certo, um tema icónico é ligado a culturas e tra-
dições remotas, fora de qualquer continuidade verificável, como aconte-
ceu precisamente no Renascimento, quando se estabeleceu uma relação.
à distância de séculos, com a cultura de imagem do mundo clássico. Não
é correcto dizer-se, como se tem dito, que o método iconológico não é um
39
n1étodo histórico: exactamente como método histórico é que ele estuda c
descreve processos peculiares da cultura artística como cultura da ima-
gem, que explicam a sua maneira específica de evoluir e difundir-se.
40
a nível estético e a nível não-estético, o problema desloca-se mais uma vez
para aquele plano sociológico que o estruturalismo exclui: teremos de
concluir que o mesmo objecto vale somente pela sua função prática para
quem não possua o código que lhe permita decifrar a mensagem estética,
e vale também (ou apenas) como mensagem estética para quem o possua.
Este problema, porém, não se apresenta apenas no âmbito dos estudos da
art~.: insere-se, de facto, no problema mais vasto da cultura de massas. No
âmbito da cultura de massas ,
é possível a produção estética, como produ-
-·
ção superior ou de elite? E possível uma, estética ou uma teoria de arte que
não se insiram numa teoria de valores? E possível uma ciência estética que
não seja história da arte? Finalmente, é possível a história, como pensá-
menta e como pesquisa, num sistema cultural em que se toma conheci-
mento dos actos humanos através de circuitos de informação próprios, mas
não se pode formular um juízo?
41
de processos científicos (por exemplo, a fotografia, o microfilme, a cine-
matografia, etc.), o historiador de arte não poderia dispor dos materiais
indispensáveis para fazer bem o seu trabalho. São científicos os processos
de catalogação das coisas de arte, e a catalogação científica é a primeira
condição da sua conservação. São científicos os critérios de ordenamento
e de apresentação das obras de arte: a ciência chamada museografia não
diz respeito apenas à arquitectura mas à estrutura orgânica do museu, ao
ordenamento e à apresentação das suas colecções. O restauro, que no
passado era considerado uma actividade reservada a artistas mais ou menos
especializados (com resultados. na sua maioria deploráveis), é hoje uma
verdadeira ciência específica a que se dedicam, em estreita colaboração
com os historiadores de arte, físicos, químicos, biólogos, geólogos. O em-
prego de aparelhos e procedimentos científicos é também necessário à
investigação propriamente histórica. A microfotografia, os raios infraver-
melhos e ultravioletas permitem "ler" uma pintura como não se poderia
fazer a olho nu, recolhendo dados preciosos para lhe estabelecer a auten-
ticidade e reconstruir-lhe a história. Numa pintura, a radiografia revela o
que estava por baixo da última camada: o original debaixo de uma emenda,
o esboço, por vezes as fases sucessivas de concepção e da textura da obra
(como no caso do Martírio de S. Mateus, de Caravaggio). Existem vários
processos de análise (é famoso o do Carbono 14) que, em qualquer caso,
permitem definir com segurança a data das obras. Tudo isto que a ciência
revela são dados históricos não menos preciosos do que os, que se reco-
lhem nos documentos de arquivo e nas fontes literárias. E certo que a
análise científica não pode substituir a investigação histórica, mas fornece
ao historiador os meios para, penetrar mais profundamente na realidade
histórica da obra de arte. E fácil prever que o progresso do equipamento
científico e as novas vias que assim se abrirão à investigação, levarão a
uma progressiva transformação das actuais metodologias históricas, sem
que por isso a história da arte deixe de ser a única ciência da arte possível.
GUIA BIBLIOGRÁFICO
Maurizio Fagiolo
ADVERTÊNCIA
( 1)Personagem mitológica que deu a Teseu um fio que permitiu a este sair do Labirinto
depois de ter vencido o monstro Minotauro.
45
tnetodologias divergentes e parcialmente em formação (exactamente o que
acontece com a história da arte contemporânea); a arquitectura é o "ponto
forte" do discurso, embora não seja encarada especificamente.
Como preliminar para muitos problemas, devo precisar que a hase
deste trabalho indica uma visão histórica do fenómeno "arte". Daí a
insistência no problema material das técnicas e das artes decorativas
(substrato e tecido de ligação de toda a arte italiana); a relação com áreas
vizinhas como a literatura e o teatro; a proeminência conferida aos textos
teóricos e práticos da disciplina como base das metodologias modernas;
a exigência de estender o olhar dos centros italianos até à Europa (partindo
sobretudo do princípio de que apenas se pode falar de história da arte nos
vários centros italianos), tão necessária para a Idade Média ou para o
século XX, quando falar de Itália é um erro histórico, como para o século
XVI ou o barroco, quando é um erro metodológico; o estudo das estru-
turas reais do trabalho artístico (os géneros, as tipologias) em relação às
orientações culturais e às estruturas sociais em que têm origem.
46
I - OS INSTRUMENTOS DE PESQUISA
1. REFERÊNCIAS GERAIS
a) Histórias da arte
47
Um sector à parte é constituído por "manuais" da disciplina (quase
sempre rigorosamente escolásticos) surgidos depois do início do estudo da
história da arte nos liceus. Citamos os de M. Salmi, R. Salvini, F. Maz-
zariol-T. Pignatti e E. Carli Deii'Acqua. Para uma visão mais ampla
aconselha-se a Storia dell'arte italiana, ao cuidado de F. Negri Arnoldi c
outros (3 volumes, Fabbri, Milão, 1968). O último ensaio de G. C. Argan
(Sansoni, Florença, l 968), parece ser o mais válido; sobretudo pelo
enquadramento da história da arte no desenvolvimento histórico da cultura.
Um óptimo exemplo de síntese de divulgação é-nos dado por E. H.
Gombrich, com La storia dell'arte, Einaudi, Turim, 1973 ( 1950): é uma
tentativa de reduzir a linguagem técnica e os tratados sobre obras de arte,
além da exigência de proporcionar uma chave para a descoberta de uma
nova área, valendo-se de métodos mais evoluídos (psicologia do visual,
sociologia), para reencontrar as verdadeiras intenções do artista nos diver-
sos âmbitos históricos.
Como orientação para a história da arquitectura, terreno muitas vezes
tecnicamente distinto do das artes visuais, pode recorrer-se ao texto antigo
mas sempre útil, Storia dell'architettura secondo ii metodo comparativo,
de B. Fletcher, Martello, Milão, 1967 ( 1896). O livro de N. Pevsner Storia
deli' architettura europea, Laterza, Bari, 1970, é uma óptima síntese alar-
gada a todos os tempos e centros culturais.
b) Enciclopédias e repertórios
48
(Mecenato e Patronato), psicológico (Sexualidade e Erotismo), técnico
(Cerâmica). Citemos uma série de artigos conceptuais para indicarmos
desde já um leque de problemas abertos à investigação ou de qualquer
modo essenciais para uma correcta delineação do estudo: Astronomia e
Astrologia, Humor, Classicismo, Cómico e Caricatura, Cosmologia e
Cartografia, Didáctica, Eclectismo, Escatologia, Exotismo, Exposições~
Estética, Falsificações, Jogos, Iconismo, Iconografia e Iconologia, Mágica
e Ocultismo, Máscara, Mecenato e Patronato, Mercado de Arte, Imitação~
Monumento, Monstruoso e Imaginário, Orientalizante, Pitoresco, Popular~
Provinciano, Primitivismo, Propaganda, Psicologia de Arte, Restauro~
Cenografia, Escrita, Semântica, Símbolo e Alegoria, Sociologia da Arte~
Espaço e Tempo, Tradição, Trágico e Sublime, Tratadística, Tutela dos
monumentos
, e obras de arte.
E diferente o delineamento do Dizionario Encic/opedico di Architet-
tura ed Urhanistica (6 volumes, Instituto Editorial Romano, Roma, 1968-
-69) dirigido por Paolo Portoghesi. O tratamento histórico e crítico é
moderno. Notável o material ilustrativo e bibliográfico que acompanha os
artigos estilísticos, ou bibliográficos ou geográficos: novidade a inclusão
dos fenómenos urbanísticos. O carácter de "dicionário" toma a sua con-
sulta particularmente fácil e útil. Para as referências ao mundo antigo que
aparecem em qualquer estudo da arte italiana, remetamo-nos à Encic/ope-
dia del/'arte antica, classica ed orienta/e (7 volumes, Instituto da, Enci-
clopédia Italiana, Roma, 1958) dirigida por R. Bianchi Bandinelli. E a pri-
meira recolha sistematizada, até no sentido histórico, de dois séculos de
pesquisas sobre arqueologia. Para as referências ao mundo teatral, reme-
temo-vos à Encic/opedia de/lo Spettaco/o ( 1O volumes mais a actualiza-
ção) editada por Sansoni, Florença, 1954. Oferece a possibilidade de
conhecer um tema, seja através de exposições sintéticas (França, Cenogra-
fia) ou analíticas (Festival, Bienal) e fornece, além disso, uma vasta
documentação sobre os aspectos visuais do espectáculo contemporâneo.
A primeira abordagem às personalidades dos artistas é facilitada por
um instrumento insubstituível: Thieme-Becker (Allgemeines Lexicon der
hildenden. Künstler, 1907-1950). Publicado em Leipzig em 37 volumes~
foi compilado por especialistas dos vários assuntos e em muitos casos
(embora nos últimos anos os estudos se tenham sucedido com demasiada
frequência) contém as únicas indicações existentes sobre muitas persona-
lidades. Iniciado há poucos anos, o Dizionario Biografico degli ltaliani é
editado pelo Instituto da Enciclopédia Treccani: as monografias são de um
rigor insólito em empreendimentos do género, e sempre dotadas de biblio-
grafias completas. Está em curso a publicação do Dizionario enciclope-
49
dico Bolaffi dei pittori e degli incisori italiani dall'XI ai XX seco/o, Turim
( 1O volumes): é interessante, no fim dos artigos (sempre dotados de
bibliografias), o acrescentamento de dados sobre os preços praticados em
leilões, indício de um tipo diferente de "êxito" histórico do artista.
Outro problema inicial é o de uma correcta leitura iconográfica da obra
de arte. Um exemplo, infelizmente limitado a poucos centros e períodos
culturais, é-nos dado pelo trabalho exemplar de G. Kaftal: /conography of
the Saints in Tuscan Painting, Sansoni, Sansoni, Florença, 1952; I cono-
graphy of the Saints in Central and South ltalian Paintinx, San~oni,
Florença, 1965. Uma leitura iconográfica ex.acta pode trazer elementos in-
dispensáveis sobre a datação, sobre a localização, sobre a atribuição de
uma obra. Por vezes pode até rectificar um juízo: em Berlim, um quadro
de Rembrandt foi durante muitos anos considerado incongruente porque
se julgava representar um Moisés despedaçando as tábuas da lei, quando
se trata de um Moisés mostrando as tábuas ao povo, e por isso não revela
"furor", mas sim segurança. Para adquirir conhecimentos iconográficos de
tipo sacro pode consultar-se, além da Encic/opedia Cattolica: L. Reau,
Jconographie de /'Art Chrétien, Paris, 1955-59; Lexicon der Christlichen
/konographie (Viena, 1972, com traduções inglesa e francesa). Para a
temática profana: A. Pigler, Barockthemen, Budapeste, 1956. Além disso,
é indispensável assegurarmo-nos dos estratos simbólicos de uma obra,
evidentes ou ocultos (pode consultar-se: J. Chevalier-A. Gheerbrandt,
Dictionnaire des Symholes, Paris, 1969): o livro fundamental consultado
pelos artistas dos século XVII e XVIII é a Iconologia de Cesare Ripa
( 1593 ), um texto publicado e actualizado durante mais de um século.
Outra questão prévia é a dos termos técnicos. Pode recorrer-se ao
recente Dizionario dei termini arti.\·tici, organizado por M. Masciotta, Le
Monnier, Florença, 1967: contém um repertório conclusivo sobre a termi-
nologia correspondente francesa, inglesa e alemã. A Encic/opedia mono-
Rrafica dei/e arti figura tive, Zanichelli, Bolonha, 1960 (volume que pode
também ser consultado para a cronologia, para os problemas históricos e
para a lista dos museus e galerias), contém um profuso glossário. Dado
que a história da arte se baseia principalmente na entidade física das obras,
é essencial um correcto conhecimento das diversas técnicas: o volume Le
tecniche artistiche, Mursia, Milão, 1973~ coordenado por C. Mal tese,
proporciona uma ajuda perfeita.
Finalmente, um vade-mécum útil para aprofundar alguns problemas
teóricos ou metodológicos: Arte, de G. Previtali, Feltrinelli, Milão, 1971.
Segundo uma perspectiva sociológica mas também técnica, diversos co-
laboradores abordam temas fundamentais, tais como: Géneros Artísticos,
50
Perspectiva, Administração das Belas Artes, Técnicas Artísticas e Restau-
ro, Classicismo, Sociologia da Arte, Naturalismo e Realismo, Vanguarda,
Iconografia e Iconologia, Cópias-Reproduções-Fraudes, Primitivismo,
Atribuição, Desenho, Proporção, Exotismo, Colecções e Mercado, Litera-
tura Artística. Aconselha-se também~ para o enquadramento de qualquer
investigação, uma consulta da Storia d'ltalia Einaudi, um empreendimen-
to exemplar, que, alheio a qualquer sistema idealístico, define o verdadeiro
espaço da cultura italiana.
c) As colecções
51
bizantina), de A. Hauser (sobre o Maneirismo), de A. Griseri (sobre o
Barroco}, de E. Kaufmann (sobre a arquitectura do Iluminismo). Para um
alargamento dos limites europeus da arte italiana, assinalam-se três
colecções: li mondo de/la fiRura. Storia dell'arte e dei/e civilità de/ nlon-
do, dirigida por A. Malraux e A. Parrot, publicada em Itália pela Fcltri-
nelli, tem uma boa abordagem à investigação das linhas de desenvolvi-
mento da civilização e é acompanhada por uma documentação exaustiva
visual e bibliográfica: são de lembrar os volumes sobre a arte bizantina
de A. Grabar, sobre o Humanismo italiano, de A. Chastel, sobre a arte ca-
rolíngia, de W. F. Volbach e outros. Le grandi epoche dell'arte, publica-
da pela Sansoni, abrange horizontes mais vastos, sempre com textos
rigorosos: recordemos os volumes sobre a pré-história e os primitivos,
sobre a arte pré-colombiana, sobre a época clássica (de G. Becatti ). 11
Marcopo/o, editado por ,II Saggiatore, apresenta perspectivas sobre centros
como Bizâncio, Creta, lndia, Pérsia, Etrúria e Oriente.
Para a arquitectura, recordemos duas colecções: 11 mondo dell'archi-
tettura (11 Parnaso, Milão) é uma colecção homogénea com uma série de
volumes dedicados a um século ou a um "estilo", dotada, entre outras
coisas, de um óptimo material ilustrativo. Storia universale dell'architet-
tura, dirigida por P. L. Nervi ( 13 volumes, EJecta, Milão) centra-se na
reavaliação das técnicas de construção e no seu peso na determinação das
formas arquitectónicas.
Reserva-se um lugar à parte para algumas colecções de "divulgação"
publicadas em Itália nos últimos anos; pela sua economia e o recurso a
especialistas dos assuntos, os repertórios ilustrativos e frequentemente os
aparelhos científicos constituem, não um instrumento de consulta, mas o
primeiro esqueleto de uma biblioteca histórico-artística. Entre os trabalhos
monográficos, é de recordar Classici del/'arte (Rizzoli, Milão), uma série
de volumes de extrema utilidade que abordam a obra integral dos mestres
europeus com fichas críticas e uma ilustração completa (saíram até agora
quase cem monografias). E também: I diamanti, pequena monografia edi-
tada pela Sansoni-Sadea; I maestri dei colore (Fabbri, Milão), mais de 200
fascículos dedicados a artistas e épocas com um índice final exaustivo.
Sobre locais, monumentos, ciclos pictóricos italianos e europeus: Forma
e colore (Sansoni-Sadea, Florença), fascículos desde o mundo antigo até
à arte contemporânea, republicados em 12 volumes (li mondo dei/e forme);
I grandi decoratori (Fabbri-Skira, Milão). Sobre os desenhos: I disegni dei
maestri (Fabbri, Milão), uma série de 18 volumes concebida por W. Vitz-
thum, quase sempre trabalhos fundamentais em que os desenhos (muitas
vezes inéditos) são acompanhados por catálogos e bibliografias. Dedica-
52
dos à arte do século XIX até aos nossos dias, são os fascículos d~ L 'arte
moderna (Fabbri, Milão, republicados em 15 volumes), dirigida por F.
Russoli, um primeiro repertório com muitos colaboradores impQrtantes,
mas por vezes descontínuo.
d) As revistas
Uma fonte inesgotável para o estudo dos artistas, dos problen1as, dos
períodos, é o conjunto hoje imenso das revistas que se vêm put.Iicando
desde o início do nosso século. Muitas vezes, os contributos mai~... actua-
lizados ou as descobertas de obras ou ainda a sistematização do c~atálogo
de um artista, são referidos neste intermediário científico que s~ revela
oportuníssimo. Citaremos algumas destas publicações italianas e estran-
geiras, indicando o delineamento metodológico.
"L'arte" foi fundada por Adolfo Venturi em 1898 e continu(lda por
Lionello Venturi; em 1968 nasce uma nova série redigida por ur11 grupo
de estudiosos internacionais; à primitiva orientação filológica s,.egue-se
hoje uma série de estudos em grande parte ligados às novas metoqologias
histórico-culturais e iconológicas. O "Bollettino d'arte", que se publica
desde 1907, é a revista oficial da Administração das Belas Artes: contém
relatórios sobre actividades públicas (restauros, aquisições, moçõe~ ), além
de escritos sobre as principais descobertas e de ensaios históricos <ie cariz
filológico. "Paragone", fundada por Roberto Longhi em 1950 e hoje redigida
por um grupo de discípulos seus, está aberta a investigações mais attalíticas
e a contributos qualificativos; mostra-se hoje muito atenta a<1s reais
problemas históricos. "Commentari", fundada em 1950 por L. V (!nturi e
M. Sal mi, dedica-se à pesquisa filológica. "Critica d'arte", dirigiq,a desde
1935 por C. L. Ragghianti, é o órgão da "pura-visualidade" italia11a (mas
contém também ensaios sobre aspectos artísticos "menores"). l~ntre as
revistas extintas, há que notar "Arte antica e modema", órgão da Univer-
sidade de Bolonha; entre as revistas novas, "Arte illustrata", dirigiqa desde
1968 por A. Gonzalez-Palacios, de cariz internacional. "Storia d~ll'arte",
dirigida por G. C. Argan e redigida por M. Calvesi, O. Ferrari e L. ~)alemo,
alterna (desde 1969) assuntos variados ou monográficos com a HAnnata
storico-artistica", uma resenha bibliográfico-crítica dos últimos ~studos.
Existe uma série de revistas dedicadas aos aspectos da arte num(l deter-
minada região: como a "Arte Lombarda" (desde 1955) ou a "Arte Veneta"
(desde 1947) ou "Napoli nobilíssima" ou os vários boletins das "Peputa-
zioni di storia patria" ou os boletins dos museus (ex.: Bolonha, f,·ádua) e
53
das entidades comunais ("Capitolium" para Roma). Para a actualidade
cultural com notícias de exposições, livros, leilões, património cultural,
assinala-se "Bolaffi arte" (surgida em Turim em 1970).
Muitas revistas são exclusivamente dedicadas à arquitectura. A mais
oficial é "Palladio", publicada desde 1937 (nova série desde 1951 ). Mais
acessíveis e dedicadas à arquitectura modema mas com artigos históricos,
temos: "Casabella" (desde 1928) e "Domus" (desde 1928). Uma revista
mais homogénea é "L'architettura: cronache e storia", dirigida desde 1955
por B. Zevi. "Controspazio" tem recorte ideológico e é dirigida desde 1968
por P. Portoghesi. Entre as revistas estrangeiras, tem uma longa tradição
a inglesa "The Burlington Magazine" (saída em 1903 e hoje dirigida por
B. Nicolson), com informações fundamentais sobre a arte italiana. O
"Joumal of Warburg and Courtauld Institute" é desde 1937 o órgão do
instituto
,
pioneiro no campo de estudo da arte como história das imagens.
Optima revista é "The Art Bulletin" (nova série publicada em Nova Iorque)
com artigos sobre a "história da cultura" e novidades filológicas. Dedicado
à arquitectura, com contributos importantes, temos o "Joumal of the Society
of Architectural Historians". Entre as revistas francesas, a mais antiga é
"La Gazette des Beaux Arts" (desde 1859), que contém muitos artigos
sobre a relação Itália-França (assinala-se um útil boletim periódico de
notícias e exames críticos); mais recente é a "Revue de l'art" (desde 1968)
com importantes contributos para os problemas italianos. Entre as revistas
alemãs, as mais atentas à arte italiana são o "Zeitschrift für Kunstges-
chichte" (desde 1938) e "Pantheon" (desde 1943), além dos "Romisches
Jahrbuch für Kunstgeschichte", que são os anais da Biblioteca Hertziana
de Roma, sempre dedicados a temas italianos. Lugar especial ocupam as
revistas sobre antiguidades dedicadas aos coleccionadores: um exemplo é
a inglesa "Apollo" (desde 1928 e dirigida por D. Sutton). Dedicada
especificamente ao problema do desenho é a americana "Master Dra-
wings" (desde 1963 ), com artigos importantes sobre a relação entre os
desenhos e as obras já acabadas. Existem por fim numerosas revistas de
museus dedicadas à ilustração científica das novas aquisições ou à ilus-
tração da coerência das próprias colecções: assinalamos para a Inglaterra
o periódico da National Gallery de Londres e para a América os boletins
dos museus de Nova Iorque, Boston, Minneapolis, Cleveland.
54
2. OS PERÍODOS DA HISTÓRIA DA ARTE
55
a) Da Antiguidade tardia à alta Idade Média
56
momentos, centros e técnicas, é 11 Medioevo, de P. T<
[ 1965 ( 1913-1927) (por alguns aspectos pode ser integ
E. Lavagnino, Storia del/'arte medievale, Utet, Turim,
introdução acessível aos problemas culturais encontra-se
de J. Von Schlosser, L'arte de/ Medievo, Einaudi, Tt
Entre os estudos dedicados a um determinado perfi
(mesmo que não faltem os confrontos com outras zona:
pittura e la miniatura in Lombardia, de P. Toesca, T1
com introdução de E. Castelnuovo. Esta cultura é ex
estudo de frescos e mosaicos e também de ilustraçõe~
valheirescas ou sacras. Mais específicos e já clássicos
E. B. Garrison sobre a pintura medieval italiana, de F
a arquitectura lombarda, ou estudos morfológicos corr
Kautzsch sobre capitéis. Para uma visão cultural, pode
do colóquio "Conceito, História, Mitos e Imagens d«
cuidado de V. Branca, Sansoni, 1973. Quanto ao aspecto
(ver 111.2.a.), são ainda fundamentais os estudos de t
(Pirenne, Huizinga, Chabod, Pepe e Bloch). Para orien
e problemática, remeter-se aos artigos do EU A "Tard
barbarica", "Prerornaniche scuole e correnti", "Carolit
"Romanico", "Gotico" (para a arquitectura consulter
DAU).
Com o período de Ravena nasce o problema de
estreito Oriente-Ocidente [foi mesmo um problema his·
Galassi, Roma, o Bisanzio, Roma, 1953 ( 1930)]. O e i
-se em B izâncio, mas à transformação política corre~
uma deslocação dos interesses religiosos e depois cultt
enquadramento do período, com os vários aspectos (arq
ourivesaria, marfins, etc.), é L' arte bizantina, de D. Ta
1966 ( 1963). Obra mais específica é Storia de/la pittu
Lazareff, Einaudi, Turim, 1967 (1948) (a arte de todas a
em Constantinopla, o centro de difusão), mas deveria s~
trabalhos menos acessíveis (como o estudo de O. Den
entre Bizâncio e o Ocidente até ao século XIV, ou o e
sobre a influência bizantina no Mediterrâneo, L'età d'~
Feltrinelli, Milão, 1966). A arquitectura de Ravena, c
ao Oriente e também a Roma e Milão, está ligada ao ce
não se pode compreendê-la sem nela encontrar funç
exemplo, San Vitale como capela palatina ou o Mau~
como apoteose do novo Constantino): para problemas
Angelis d'Ossat, Studi ravennati, Ravena, 1962; G.
57
palazzo di Teodorico e la cosidetta "architettura di potenza", De Luca,
Ron1a, 1970. É também estudado, em relação à sua vocação ornamental,
o mosaico: não é apenas uma técnica privilegiada, está também relacio-
nado com significados precisos. Uma actualização contínua sobre a pro-
blemática do período (muito complexa, dado que é uma abstracção falar
de "arte bizantina"), encontra-se nas actas dos "Cursos de cultura sobre a
arte de Ravena e bizantina" e também na revista "Felix Ravenna".
Convencionalmente, fala-se da "alta Idade Média" para designar o
período que vai do século VIII ao século XI: inclui a chamada arte "bárbara"
(a mais atenta às acções ornamentais), as expressões figurativas dos
impérios carolíngio e otoniano, além do desenvolvimento de uma cultura
"vulgar". Dois volumes úteis para orientação são "11 mondo deli a figura",
de Feltrinelli (J. Hubert, J. Porcher e W. F. Volbach, L'Europa dei/e
invasioni barbariche e L'Jmpero carolingio, 1968). Mais específicos são
alguns estudos sobre a época carolíngia (a obra de K. J. Conant sobre a
arquitectura, de A. Haseloff sobre a escultura italiana, o estudo sobre
Carlos Magno, de W. Braunfels), sobre a época otoniana (a obra genérica
de H. Jantzen, a obra de L. Grodecki sobre a arquitectura encarada como
momento ideológico e político contraposto à área mediterrânica de in-
fluência bizantina) ou sobre momentos especiais (como o delicado proble-
ma do ciclo pictórico de Castelseprio encarado do ponto de vista ico-
nográfico e cultural por K. Waitzmann, contrapondo-se aos estudos de G.
Bognetti, G. Chierici e A. De Capitani d'Arzago). Um exemplo meto-
dológico é o estudo de G. De Francovich, Problemi de/la pittura e de/la
scultura preromanica ( 1954), que aborda os problemas comuns da Europa
pós-carolíngia (a chamada arte beneditina, as iluminuras-campânulas, os
frescos de Sant'Angelo em Formis): está publicado no importante boletim
do centro italiano de estudos sobre a alta Idade Média que realiza anual-
mente um curso sobre esse período.
O acontecimento mais notável da relação Oriente-Ocidente é a difusão
da civilização islâmica: no fim do século VII os árabes apoderam-se do
Mediterrâneo (em 750 conquistam a Espanha e em 831 a Sicília). Dado
o seu interesse icónico, a sua língua difunde-se em Itália, sobretudo na
arquitectura (superfícies de alvenaria sem saliências, arcos ogivais ou em
ferradura, cúpulas hemisféricas sobre pináculos, abóbadas com saiméis
suspensos, tectos com estalactites). Quando são derrotados pelos norman-
dos dois séculos mais tarde, a sua influência persiste graças à actividade
comercial na Itália do norte e do centro: no que nos interessa, é notável
a influência da cultura árabe no campo histórico, geográfico e científico.
Enquanto continuam a ser fundamentais os antigos estudos de Amari, um
58
guia útil é L'arte de/1'/slam, de C. J. Du Rey, Rizzoli, 1972. O Ocidente
responde ao Islão com as Cruzadas (a primeira é de 1095): que são também
um acto comercial e territorial por trás do alibi religioso e escondem um
importante fenómeno de colonialismo. Um problema interessante diz
respeito à arquitectura (ver de S. Lange, Architettura dei/e Crociate in
Palestina, Como, 1965): a transposição para um ambiente estranho das
formas ocidentais, do edifício à cidade e ao território. No campo das artes~
existe uma intensa permuta de imagens com uma nítida revivescência
bizantina (ver de M. Elia, Mostra deli'arte in Puglia, Roma, 1964 ).
b) Românico e Gótico
59
Na arquitectura é fundamental o lugar ocupado pela igreja . sempre
num ponto estratégico da cidade: local de culto mas também de reunião
dos cidadãos e até de defesa, dado o fenómeno das catedrais fortificadas
(um texto com belo material ilustrativo é o de R. Oursel, Architettura
,Aomanica, II Pamaso, Milão, 1967). Entre os estudos sobre pintura cxis-
~em alguns muito elaborados (F. Bologna, La pittura italiana dei/e origini,
Editori Reuniti, Roma, 1962; O. Demus e M. Hirmer, Pittura mura/e ro-
manica, Rusconi, Milão, 1969), outros de tipo monográfico (para a
situação em Florença pode consultar-se C. Gnudi, Giotto, Martello, Milão,
1958; G. Previtali, Giotto e la sua bottega, Fabbri, Milão, 1967; para o
ambiente em Rimini e Emília, C. Gnudi, Vitale da Bologna, Silvana,
Milão, 1962) e outros mais especializados (R. Longhi, Giudizio sul Due-
cento, em "Proporzioni", 1948). Entre os estudos sobre escultura são de
assinalar os que se debruçam sobre mestres como Wiligelmo, Antelarni e
Pisano: muitas vezes, como no caso da obra de De Francovich . é analisada
historicamente a relação com as coordenadas europeias (R. Salvini . Wi-
r i~-:elmo e le origini de/la scultura romanica, Martello, Milão, 1956; G.
de Francovich, Benedetto Antelami architetto e seu/tore e /'arte de/ suo
tempo, Electa, Milão, 1952; C. Gnudi, Nico/a, Arnolfo, Lapo: /'arca di San
Domenico a Bo/ogna, Vallecchi, Florença, 1948). Para análise de monu-
mentos, ver Cattedrale di Modena, de A. C. Quintavalle, Modena, 1964-
-65 (mas é fundamental um enquadramento histórico menos acessível,
como em Die Entstehung der Kathedrale, de H. Sedlmayr, Zurique, 1950).
Os artistas do período desenvolvem um novo interesse pela invenção,
para se contraporem à canonicidade bizantina: em geral, conseguem
simplificar as estruturas e reduzir à sua essência o discurso pictórico ou
escultórico. Porque o período se caracteriza pela variedade multiforme dos
''dialectos" (incluindo a inserção de alguns estrangeiros, como o gálico ou
o ibérico), é fundamental a análise das escolas regionais, até porque só de
llm estudo histórico e estrutural semelhante emerge a continuidade entre
a. arquitectura, a ornamentação monumental e o mobiliário. Como exem-
plo, temos uma investigação sobre a Lombardia (E. Arslan, L'architettu-
ra romanica milanese, em Storia di Mi/ano, II, 1954, pp. 395-521) e uma
élnálise sobre a Emitia (A. C. Quintavalle, Rornanico padano, civiltà d'Oc-
cidente, Marchi e BertoIIi, Florença, 1969). Temos depois o compli-
cadíssimo problema do Sul, discutido entre Bizantinos, Islamitas, Lombar-
dos e Normandos (são clássicos os estudos de Bertaux), sem esquecer a
''insularidade" de Veneza (ver S. Bettini, L'architettura di San Marco,
Pádua, 1946).
O Gótico nasce em França, mas encontram-se alguns caracteres origi-
60
nais na Alemanha e em Itália. Está ligado ao aparecimento das cultura~
nacionais,
, após o fim do domínio cultural (e político) do Oriente e do~
Arabes. Os problemas alargam-se: pense-se na fecundidade da polémicc:
entre os Franciscanos (o ideal da pobreza: de Cimabue a Giotto) e o~
Dominicanos (a Súmula tomista de S. Tomás paralelo a Dante); pense-st:
que até o mundo da cavalaria é modelado sobre esquemas religiosos. Err
arquitectura vai-se de uma nova gramática (o arco ogival denuncia o inte-
resse espiritual do período) ao requinte das tipologias citadinas (a catedral
o palácio público). O artista encontra uma nova dignidade social [pense-st:
no cortejo que em 1311 acompanha a Maestà de Duccio (2) pelas ruas dt:
Siena]; toma-se a encarar a história como progresso ("pense-se em Cimabut:
na pintura, a dominar o terreno e agora é Giotto que está na moda"); ac
antigo opõe-se o moderno, ao grego (ou seja, ao bizantino) o latino.
Como enquadramento, assinala-se o fundamental Gothic Architecture
de P. Frankl, Penguin Books, 1962; mas para uma breve síntese pode;
consultar-se L'arte gotica, de H. Jantzen, Sansoni, Florença, 1961. E na·
turalmente impensável qualquer discurso sobre o período sem ter em con·
sideração o enquadramento cultural e global: vejamos, por exemplo, o~
estudos clássicos de Panofsky, desde a investigação de 1948 sobre ~
relação entre arquitectura e pensamento escolástico até à análise de urr
grande comitente como o abade Suger de Saint-Denis (ver III. 2. c.)
O grande fenómeno do período é a construção da catedral: pense-se err
Chartres, onde cada elemento, desde a planta à decoração dos pórticos, d~
disposição interna aos vitrais, está ligado como num microcosmos ac
macrocosmos. Um volume útil sobre o fenómeno da construção gótica <
I costruttori di cattedrali, de J. Gimpel, Mondadori, Milão, 1961 (mai ~
especializado é The Gothic Cathedral, de O. V. Simson, Londres, 1956
muito estimulantes, até pela documentação visual, são os dois livros de F
Cali e S. Moulinier, L'ordre ogival e L'ordre flamboyant).
As realizações em Itália constituem uma franja provinciana no contex. ·
to dos grandes empreendimentos europeus. G. Weise em L'/talia e i
mondo gotico (Sansoni, Florença, 1956), dá-nos um registo histórico·
-filosófico do problema (após o ensaio pioneiro de Enlart, 1894). A pri·
meira fonte de difusão é a ordem cisterciense com a sua organização fun·
cional, em que o mosteiro é entendido como uma grande casa ou um<
pequena cidade (ver L. Fraccaro De Longhi, L'architettura dei/e chies~
cistercensi italiane, Ceschina, Milão, 1958); existem depois alguns estu·
(2) Pintor italiano do século XIII-XIV cuja obra-prima é o retábulo da Virgem (Maestà
da catedral de Siena.
61
dos sobre regiões (depois de Kingsley Porter, modelar é a análise fi-
lológica de A. M. romanini, L'architettura gotica in Lombardia, Ceschina,
Milão, 1964 ). Para a escultura pode recorrer-se ao bem documentado texto
de J. Pope-Hennessy, La scultura italiana. ll Gotico, Feltrinelli, Milão,
1963 ( 1955). Para a pintura assinala-se a análise aprofundada de F.
Bologna sobre o Sul (/ pittori della corte angioina di Napoli, Bozzi,
Roma, 1969), além das pesquisas de M. Salmi sobre a Lombardia e de E.
Carli sobre Sena (La pittura ele miniature gotiche, em Storia di Mi/ano,
V- VI, 1955; La pittura senese, Electa, Milão, 1964) ou os escritos pro-
blemáticos mais especializados (J. White, The Birth and Rebirth of Pic-
torial Space, Londres, 1957). Entre as monografias, são de assinalar os
trabalhos sobre Duccio (C. Brandi, Duccio, Vallechi, Florença, 1951 ),
sobre Amolfo di Cambio (A. M. Romanini, Arnolfo di Cambio e lo "stil
novo" dei gotico italiano, Ceschina, Milão, 1969), sobre os veroneses (G.
L. Mellini, Altichiero e Jacopo Avanzi, Comunità, Milão, 1965), sobre
J acquerio (A. Griseri, Jacquerio e i/ realismo gotico in Piemonte, Pozzo,
Turim, 1965). Um óptimo estudo de conjunto é Painting in f,lorence and
Si ena after the Black Death, the M. Meiss,Princeton, 1951: analisa o
período entre 1350 e 1375, relacionando a arte com a religião e com a
cultura e também com o estado objectivo de crise provocado pela peste.
O Gótico toma-se um estilo retomado de tempos a tempos polemica-
mente (assinalem-se os textos de P. Frankl e H. Jantzen, com uma anto-
logia dos teóricos do século XIV ao século XIX): permanece subjacente
no Humanismo, sobretudo nórdico, no Barroco (Borromini), na cultura ro-
mântica, até se tomar uma revivescência no século XIX (ver III, 2, d.).
Um fenómeno histórico definido é, pelo contrário, o do gótico interna-
cional, entre o fim do século XIV e a primeira metade do século XV.
O problema é de ordem cultural (é uma espécie de enciclopedismo) e so-
bretudo de costumes e de novas aplicações da imagem artística (das cartas
de jogar pintadas às tapeçarias, aos caixotões, à ourivesaria). O interesse
predominante, enquanto nasce a grande síntese humanista, é a análise mais
minuciosa. O primeiro texto sobre o problema é de J. Von Schlosser,
L 'arte di corte nel seco/o XIV, Comunità, Milão, 1965 ( 1895) (como
repertório temos II gotico internazionale in /ta/ia, de L. Castelfranchi-
-Vegas, Editores Reunidos, Roma, 1966). Os centros são Milão, Veneza
e Verona; os artistas mais representativos, Giovannino
,
de Grassi, os irmãos
de Limbourg, Gentile da Fabriano, Pisanello. E justamente este último,
sobretudo depois da descoberta do seu ciclo cavalheiresco em Mântua,
(ver G. Paccagnini, Pisanello alia corte dei Gonzaga, Electa, Milão, 1972),
que vem esclarecer o sentido de todo um movimento que, no fundo, é já
62
um neogótico. Pisanello pinta (com estilo de miniaturista e um conjunto
de tapeceiro) a gesta da Távola Redonda: é uma espécie de manual pa-
laciano, luxuoso e solene, para o ensino da religião da cortesia. Passando
de Verona para Veneza, para Mântua, Pavia, Florença, Ferrara e Roma
como um "pintor aventureiro", Pisanello regista com subtil melancolia o
ocaso da arte palaciana.
c) Humanismo e Renascimento
63
vestigação, através da teoria de um Alberti ou de um Palladio., sobre o
significado da construção sacra e sobre a organização proporcional (e
harmónica) da arquitectura. De A. Chastel, Arte e Umanesimo a FirlJnze
a/ tempo di Lorenzo ii Magnifico, Einaudi, Turim, 1964 ( 1959): uma ri-
gorosa análise cultural (relação entre a arte e o Humanismo neoplatónico)
da política artística (o quadro completo de uma realização estética gerada
por um certo tipo de mecenato).
Para um enquadramento cultural aconselha-se a consulta dos trabalhos
de E. Garin, um dos mais autorizados especialistas do período: Medioevo
e Rinascimento, Laterza, Bari, 1954; Scienza evita civile nel RinascirnlJnto
italiano, Laterza, Bari, 1965; L'Umanesimo italiano, Laterza, Bari, 1965
( 1947); La cultura de/ Rinascimento, Laterza, Bari, 1967. Existe em Roma
um Centro Internacional de Estudos Humanísticos dirigido por E. Castelli
que promove congressos e publicações (ex.: "Humanismo e simbolismo",
"Humanismo e esoterismo"). Dedicam-se a este sector, naturalmente, os
estudiosos da linha "iconológica" (ver 11.5.): desde as pesquisas dos fun-
dadores Warburg e Saxl aos trabalhos de Panofsky e Wittkower, até E.
Wind (Misteri pagani de/ Ri nascimento, Adelphi, Milão, 1971 ( 1958) e
E. H. Gombrich [Norma e Forma, Einaudi, Turim, 1973 (1968)j.
Para a escultura é fundamental a obra de J. Pope-Hennessy, La Scul-
tura italiana, 4 volumes, Feltrinelli, Milão 1964 ( 1958): do Gótico ao
Barroco, com um texto acompanhado de fichas detalhadas e um óptimo
conjunto de ilustrações. Para uma síntese actualizada sobre arquitectura,
consulte-se L'architettura del/'Umanesimo, de M. Tafuri, Laterza, Bari,
1969 (dos estudos fundamentais sobre o período recordemos os de W.
Lotz). Para todos os problemas culturais do período, A. Chastel e R. Klein,
em L'Umanesimo e L'Europa de/la Rinascita (Electa, Milão, 1973), dão-
-nos uma visão de conjunto.
Os livros a considerar para os artistas em si mesmos são imensos, dada
a orientação predominantemente monográfica dos estudos. Um instrumen-
to fundamental para orientação na selva dos "catálogos gerais" dos diver-
sos pintores (florentinos, venezianos, da Itália central) são os famosos
lndici de Bernard Berenson: um ficheiro de grandes dimensões iniciado
em 1897 e revisto várias vezes, sempre um ponto de referência para
qualquer nova aquisição (a última edição é inglesa, da Phaidon Press, e
tem 7 volumes; o editor Sansoni publicou os volumes sobre os pintores
venezianos).
1
Sobre os protagonistas dos séculos XV e XVI, indicamos apenas
1
1
algumas obras como referência. Para Brunelleschi, a obra de G. C. Argan
(Mondadori, Milão, 1955) e as duas monografias de P. Sanpaolesi (Ciub
64
dei Libro, Milão, 1962) e E. Luporini (Comunità, Milão, 1964 ). Para Ma-
saccio, as pesquisas actualizadas de L. Berti (lEI, Milão, 1964 ). Para Do-
natello, o ensaio de L. Castelfranco (Martello, Milão, 1963 ). Para Ange-
lico e Botticelli, os ensaios problemáticos de G. C. Argan (Skira ed. it.
1965). Para Piero della Francesca, os estudos de R. Longhi (última edição:
Sansoni, Florença, 1963) e a recente monografia de E. Battisti (lEI, Milão,
1971 ). Para Bellini, a obra de F. Heinemann (Neri Pozza, Vicenza, 1962).
Para Carpaccio, o detalhado registo sociocultural de M. Murara (Milão,
1965, 1966). Para Bramante, a obra actualizada de A. Bruschi (Laterza,
Bari, 1971 ). Para Rafael e Leonardo são inúmeros os volumes, mas para
orientação podem ser consultadas as duas obras resumidas (De Agostini,
Novara, 1969), com diversos contributos sobre as suas personalidades
"
multiformes. Para Miguel Angelo, a monografia monumental de C. De
Tolnay, que constitui também um exemplo metodológico de grande
conjunto de documentos (5 volumes, Princeton, 1947-1960) e também
Michelangelo architetto, de B. Zevi-P. Portoghesi, Einaudi, Turim, 1964.
Para Palladio, o "Bolettino dei Centro di studi palladiani" de Vicenza
(publicado anualmente desde 1959), com muitos contributos sobre o
ambiente e as influências do arquitecto, como por exemplo a urbanística
ou o Maneirismo vé neto ou a problemática do campo (organizado pelo
mesmo Centro, publica-se desde 1968 um Corpus palladiano ). Para
Giorgione, o trabalho de T. Pignatti (Alfieri, Veneza, 1969) e a editorial
problemática de M. Calves i (ex.: "Storia dell'arte", n.os 7-8). Para Ticiano,
a vasta monografia de R. Pallucchini (Sansoni, Florença, 1969).
A articulação da arte italiana com a cultura europeia constitui um
grande problema. Para o mundo dos flamengos, pode partir-se do trabalho
fundamental de FriedUinder, o estudioso que definiu os perfis dos pintores
[além da grande edição publicada na Bélgica em 14 volumes, 1924-37,
consulte-se em italiano: La pittura nei Paesi Bassi, Sansoni, Florença,
1956 (1916)]. O problema da relação é caracterizado por C. Brandi, através
da contraposição entre a precisão microscópica de Van Eyck e a macros-
copia compositiva de Masaccio: Spazio italiano e ambiente fiammingo, II
Saggiatore, Milão, 1960. Vejam-se ainda as indagações de M. Bonicatti
(Studi sull'Umanesimo, La nuova Italia, Florença, 1969) e de P. Philippot
(Pittura fiamminga e RinascJmento italiano, Einaudi, Turim, 1970): uma
tentativa para reencontrar a continuidade entre a idade de ouro dos Países
Baixos e a renascença clássica em Itália. De qualquer modo, deve acen-
tuar-se que qualquer estudo sobre a arte italiana não pode prescindir de
um enquadramento europeu, dadas as contínuas mudanças culturais nos
dois sentidos: para orientação humanística é essencial, por exemplo,
65
considerar a posição charneira de Albrecht Dürer (veja-se a monografia,
aberta a todos os problemas, de E. Panofsky, Feltrinelli, Milão, 1967
( 1948) e, etn geral, a relação com a cultura alemã (R. Longhi tem um
trabalho óptimo).
Para a urbanística é de considerar pelo menos a obra de B. Zevi sobre
Biagio Rossetti em Ferrara, a primeira cidade modema (Einaudi, Turim,
1960, 1971 ), além dos trabalhos específicos dedicados a locais estudados
a fundo em todo o seu valor histórico: por exemplo, Strada Nuova, una
lottizzazione de/ Cinquecento a Genova, SAGEP, Génova, 1972, de E.
Poleggi; e, de L. Salemo, L. Spezzaferro e M. Tafuri, Via Giulia, Stadc-
rini, Roma, 1972.
d) Do Maneirismo à Contra-Reforma
66
entrada dos luteranos no Vaticano quando elegem Lutero para Papa, mas
já antes se sentiam exigências reformistas (Maquiavel, Guicciardini):
todavia, não foi o "Saco" C) a causa histórica do aparecimento do Manei-
rismo nem da sua difusão por diáspora. A definição aplica-se historica-
mente de maneira mais correcta à geração dos Vasari-Salviati-Bontalenti,
isto é, aos meados do século XVI. A historiografia do problema é tratada
no artigo "Maniera" no EUA, de L. Becherucci (ampla bibliografia).
As temáticas visuais e figurativas da astrologia, da magia, da alegoria,
inerentes ao fenómeno maneirista, são analisadas por E. Battisti, na senda
das teorias de H. Haydn e G. R. Hocke: L'antirinascimento, Feltrinelli,
Milão, 1962. Trata-se de pesquisas fecundas e indispensáveis para com-
preender a fenomenologia (já não artística mas estética no sentido lato) de
um fenómeno já internacional: mas têm tendência para exacerbar estes
aspectos "irregulares" que são parte integrante de uma cultura. Sobre um
aspecto particular do experimentalismo na primeira metade do século,
veja-se de M. Fagiolo, II Parmigianino, un saggio sul/'ermetismo nel
Cinquecento, Bulzoni, Roma, 1970. A personalidade inquieta é explicada
historicamente com seu pensamento de "alquimista sapientíssimo" (mas
esta filosofia era também própria do Renascimento maduro: veja-se o
estudo sobre Dürer de M. Calvesi, em "Storia dell'arte", n.os 1-2).
Esclarecem-se muitos problemas estudando as personalidades dos ar-
tistas. A relação de Pontormo com a Reforma alemã (monografia de L.
Berti, II Fiorino, Florença, 1966), o contributo de R osso para a corte de
França (monografia de P. Barocchi, Roma, 1950), a posição correcta de
Beccafumi (monografia de D. Sanminiatelli, Bramante, Milão, 1967), a
síntese objectiva de Bronzino (monografia de A. Emiliani, Bramante,
Milão, 1960). Outros problemas,
surgem ao estudar-se os diversos ambien-
tes culturais: a requintada Ecole de Fontainebleau (ver o catálogo da
última exposição, Paris, 1972), ou a esotérica corte de Praga com Rodolfo
II. A corte de Francisco I em Florença (veja-se o belo estudo psicosso-
ciológico de L. Berti, II Principe deli o Studiolo. Francesco I e la fine dei
Ri nascimento florentino, Florença, 1967) está totalmente ao serviço de um
método experimental esotérico.
O último balanço foi tentado por G. Weise, aceitando a hipótese de
uma filiação no mundo gótico, mas refutando a identificação com o
anticlássico e a confusão com o fenómeno barroco (// Manierismo. Bilan-
cio critico dei problema stilistico e culturale, Olschki, Florença, 1971 ).
67
Parece todavia preferível enfrentar os problemas na dialéctica autêntica.
Um trabalho como o de M. Tafuri (L'architettura de/ Manierisn1o nel
Cinquecento europeo, Officina, Roma, 1966) demonstra como um hori-
zonte mais largo pode contribuir para o esclarecimento do mesn1o proble-
ma (a categoria de "experimentalismo" revela-se muito funcional).
A era da Contra-Reforma nasce antes do Concílio de Trento ( 1545),
a resposta católica ao Protestantismo: é anunciada pela fundação da Com-
panhia de Jesus (a milícia de Loyola é aprovada na década de 40)., pela
instituição da Inquisição ( 1542) e pela censura à imprensa ( 1543 ). Surge
a arte rigorista: contrapondo-se à heresia, a arte é posta ao serviço do culto.
Inicia-se a censura: o revestimento dos membros nus no Juízo de Miguel
"
Angelo e o processo contra Paolo Veronese por ter introduzido persona-
gens arbitrárias num quadro sacro (veja-se o texto em Storia docun1entaria
de/l'arte, de E. G. Holt, Feltrinelli, Milão, 1972). Basta reler os tratados
compilados depois daquele acontecimento, para se ter uma perspectiva
eloquente (Gilio, Borromeo, Ammannati, Paleotti): foram publicados e
anotados por P. Barocchi, os Trattati d'arte de Cinquecento, tra Manie-
rismo e Controriforma, 3 volumes, Laterza, Bari, 1960-62. Devem ser con-
frontados com os tratados análogos sobre a arte cénica, La jascinazione
de/ teatro, editados recentemente por F. Taviani, Bulzoni, Roma., 1970.
Um volume que encara o complexo problema da "substituição" da
iconografia religiosa depois das decisões do Concílio é ainda o actual
repertório de E. Mâle, L 'art religieux apres /e Cone i/e de Trente, Paris,
1932. Um ensaio interessante sobre o típico artista "sacro" é o de F. Zeri,
Pittura e Controriforma. L'arte senza tempo di Scipione da Gaeta, Einau-
di, Turim, 1957. Para compreender plenamente este clima cultural, é
necessário ver em perspectiva também a obra de um artista "oficial" como
Ticiano (ver E. Panofsky, Prohlems in Titian, mostly iconographic, Phaidon,
Londres, 1967), até ao princípio do novo século: a dialéctica entre Cara-
vaggio e os Carracci.
e) Barroco e Rococó
68
ganda de confiança". O primeiro artista "europeu" é Caravaggio: abrirá
caminho a uma verdadeira escola de Roma, arrastando atrás da sua pes-
quisa realista muitos franceses, espanhóis, flamengos e holandeses. A via
do "realismo" deve contrapor-se ao "eclectismo" culto de Carracci em
Bolonha: para Caravaggio, devem confrontar-se as posições de R. Longhi
(// Caravaggio, Editori Reuniti, Roma, 1968) e G. C. Argan ("11 realismo
nella poetica dei Caravaggio", em Studi e note, Bulzoni, Roma, 1970);
para Carracci, as posições dialécticas de D. Mahon, F. Arcangeli, C. Gnudi
(catálogos das exposições bienais de Bolonha). Mas no princípio do século
é Rubens, com o seu mundo decorativo e solene, que marca a viragem
"barroca". Uma obra sobre Caravaggio é a recente monografia de M.
Marini, Bozzi e Bestetti, Roma, 1973.
O autêntico fenómeno barroco foi contrariado em Itália durante muitos
anos, por respeito para com a posição de B. Croce: não tanto pela sua
Storia dell'età barocca in ltafia (Bari, 1925), quanto pelo seu desprezo
pelas correntes de ordem cultural (definidas como "não poesia"). O pro-
blema do conceito e das suas muitas interpretações e avaliações em rela-
ção ao real problema artístico pode ser encarado no volume de G. Briganti,
Pietro da Cortona o de/la pittura barocca, Sansoni, Florença, 1962.
A avaliação correcta do período é relativamente recente. Fundamental
é um trabalho de R. Wittkower que faz o ponto de todos os aspectos do
século: Arte e architettura in /ta/ia, 1600-1750, Einaudi, Turim, 1972
( 1958). A erudita bibliografia, a vertente científica cuidadíssima, o texto
muito conciso, fazem dele o modelo para um trabalho histórico sobre um
século de arte. Para uma análise sociológica sobre a vastidão do fenómeno:
C. G. Argan, L'Europa dei/e capitali, Skira, Milão-Genebra, 1964. Um
amplo tratamento, sobretudo do fenómeno decorativo e do ambiente
piemontês, é-nos oferecido por A. Griseri em Le metamorfosi dei Barocco,
Einaudi, Turim, 1967.
Para penetrar na mentalidade da época, é necessário aprofundar dois
problemas: a poética da "maravilha" e a relação com a ciência. "O alvo
do poeta é a 'maravilha"', é o que declara o cavaleiro Marina, autor entre
outros de um livro de poesia (La Galeria, 1619) dedicado à ilustração de
obras de arte. O método torna-se subtileza: na poesia de um Gôngora
como na teoria de um Tesauro, na pintura de um Guercino como na ar-
quitectura de um Borromini ou de um Bemini. Essencial é também a
"retórica", a arte da persuasão em função da "propaganda": vejam-se as
actas do colóquio específico Retorica e Barocco, Roma, 1955 (sobretudo
as
,
intervenções de G. C. Argan, J. Baltrusaitis, A. Chastel e H. Sedlmayr).
E decisiva a relação com o mundo do espectáculo, dada a predilecção pela
69
ambiguidade entre a arte e a vida, a permuta entre realidade e ficção. Não
é apenas a arte barroca que sofre a influência do teatro, mas também o
teatro se renova de acordo com os novos princípios: o movin1cnto, a
procura do pitoresco, a escala colossal, a metamorfose. Um protagonista
é Gian Lorenzo Bernini, que é, entre outros, autor de textos teatrais e
cenógrafo (ver M. e M. Fagiolo dell'Arco, Bernini. Una introdu:ione ai
gran teatro de/ Barocco, Bulzoni, Roma, 1966). Um amplo olhar sobre
o mundo da cena nos diversos centros italianos é-nos dado por C. Molinari
em Le Nozze degli dei. Un saggio sul grande spettaco/o italiano dei
Seicento, Bulzoni, Roma, 1968.
O mundo do barroco romano é dialéctico: além da "retorica" pública
de Bemini, existe também um classicismo declarado (Pietro da Cortona),
também um misticismo atormentado (Borromini). Sobre arquitectura está
disponível um vasto panorama (P. Portoghesi, Roma barocca, Bcstetti,
Roma, 1966; Laterza, Bari, 1973); sobre escultura uma síntese acessível
(I. Faldi, La scultura harocca in /ta/ia, Garzanti, Milão, 1958 ); e sobre os
protagonistas algumas obras fundamentais (K. Noehles, La chiesa dei
Santi Luca e Martina nell'opera di Pietro da Cortona, Bozzi, Roma, 1969;
P. Portoghesi, Borromini. Architettura come linguaggio, Electa c Bozzi,
Milão-Roma, 1967; Atti de/ congresso horrominiano, Accademia di San
Luca, Roma, 1967; R. Wittkower, Gian Lorenzo Bernini, Phaidon, Lon-
dres, 1955).
Os problemas yariam de maneira sensível nos diversos centros cultu-
rais. Em Bolonha a orientação é clássica (veja-se os catálogos da Bienal
de arte antiga dedicada a Carracci, a Reni, a Guercino, etc.). Em Nápoles,
na peugada de Caravaggio, ela é realista, mas torna-se depois cenográfica
(R. Causa, La pittura de/ Seicento a Napoli, em Storia di Napoli, 1972;
além de uma óptima monografia sobre um protagonista: O. Ferrari-L.
Scavizzi, Luca Giordano, ESI, Nápoles, 1966 ). Em Turim o clirna é
"científico" mas também decorativo (Mostra de/ barocco piemonte.\'l', 3
volumes, Turim, 1963; Guarino Guarini e l'internazionalità de/ Barocco,
Atti dei Congresso, Academia delle Scienze, Turim, 1968). Em Milão
prevalece uma arte severamente "contra-reformada" (é fornecido um amplo
panorama pelo catálogo da última grande exposição de Milão, 1973 ). Em
Florença desenvolveu-se um discurso nostálgico neo-renascentista (os
estudos úteis são de M. Gregori, E. Borea e C. Dei Bravo). Em Génova
vai-se da grande pintura decorativa até à expansão dos "géneros" (Mostra
dei pittori
, genovesi a Genova ne/'600 e '700, 1969).
E impossível assinalar uma bibliografia sobre os principais centros
europeus (França, Países Baixos, Espanha, Europa central), mas é indis-
70
pensável considerar que, sem um enquadramento geral, qualquer pesquisa
sobre o Barroco é vaga, sendo ele uma corrente por definição "internacio-
nal" (até à "missão" na América Latina).
O Rococó, o movimento que exacerba e compromete as conquistas do
Barroco, está activo na Europa central (o termo deriva de roca il/e, quer
dizer, decoração que preconiza os elementos naturais). A recusa de todas
aquelas normas clássicas ainda operantes no Barroco é uma exigência de
liberdade de composição, de elegância, de abertura também ao mundo do
exotismo. Urna boa síntese é ainda o artigo do EUA de H. Sedlmayr e H.
Bauer. Há todavia quem refute o valor da categoria, afirmando que o
período seria um barroco tardio, anterior à chegada revolucionária de
Neoclassicismo (C. Norberg-Schultz, Architettura tardobarocca, EJecta.
Milão, 1972). O centro mais activo, após a pausa do século XVII, é
Veneza: vai-se do tom áulico e grandiloquente (Ricci, Tiepolo) até um~
inflamada pintura sacra (Piazzeta) ou à pintura de paisagens e de vista5
panorâmicas, romântica ou científica (Guardi, Canaletto). Para orientação.
pode consultar-se os catálogos da última Bienal de arte antiga (Da/ RiccJ
a/ Tiepolo, I Guardi, I Vedutisti) e sobre os protagonistas uma catálogc
muito vasto (Mostra dei Tiepo/o, EJecta, Milão, 1971 ), um ensaio incisivc
(C. Brandi, Canaletto, Mondadori, Milão, 1960) e uma ampla monografié:
(A. Morassi, I Guardi, Alfieri, Veneza, 1972).
Os problemas do século XVIII são de certo modo variados e muitc
interligados, dada a recente atenção crítica prestada ao período. Vai-se de:
pintores que parecem continuar o discurso do Barroco (como Solimena err
Nápoles: ver a monografia de F. Bologna, Nápoles, 1958; como o grande:
Serpotta: ver a monografia de G. Carandente, ERI, Turim, 1966) at(
pintores que apresentam interesses novos (como o pré-neoclássico Baton
em Roma: ver o catálogo da exposição de Lucca, 1967). Lugar à parte (
reservado ao estudo sobre Piranesi (H. Focillon, Piranesi, introdução de;
M. Calvesi, Alfa, Bolonha, 1967): o intermediário entre as últimas luze~
do Barroco e a teoria neoclássica.
f) Do Neoclassicismo às vanguardas
Também a arte do período neoclássico tem sofrido, até aos nossos dias
uma pesada desvalorização. Apreciava-se a posição cultural, mas ela eré
fortemente considerada não-arte: ignorava-se o problema da descoberta de
uma arte já não criativa mas sim "crítica" e o problema da ideologié
iluminista (e por isso revolucionária). A confirmação do actual sucesso d<
71
período surgiu em 1972 com uma grande exposição em Londres, The Age
rJ Neo-Classicism (o catálogo inclui ensaios fundamentais sobre as diver-
sas técnicas e problemas). Um estudo pioneiro poderia interessar-se pelos
aspectos curiosos ligados à moda do período [M. Praz, Custo neoclassico,
ESI, Nápoles, 1959 ( 1939)], enquanto hoje se aprofunda o discurso sobre
debate europeu. A melhor história sintetizada é Neoclassicisnl, de H.
Honour, Harmondsworth, 1968. G. C. Argan, em "Storia dell'artc" n.l)' 7-
8, desenvolve uma resenha recente sobre o valor do período como época
da crítica e da razão. A arquitectura do período representa o prin1ciro
episódio da arquitectura modema: personagens como Boullée ou Lcdoux
são testemunhos de revolução [E. Kaufmann, L'architettura del/'illu"linis-
mo, Einaudi, Turim, 1966 (1955)]. Na pintura o mestre é David (A.
Gonzalez--Palacios, David e la pittura napoleonica, Fabbri, Milão, 1967),
na escultura é Canova (ver G. C. Argan, Antonio Canova, Bulzoni, Roma,
1969). Muitos aspectos do fenómeno ainda estão para ser aprofundados,
até por causa da recente viragem crítica .
...
A medida que nos aproximamos do nosso tempo as correntes artísticas
tornam-se cada vez mais articuladas, e devemos concluir que uma história
virada para o fenómeno italiano já não é suficiente. De resto, durante o
século XIX assiste-se à provincianização da cultura italiana e o debate de
ideias é cada vez menos fecundo: o Romantismo ou a pintura dos Mac-
chiaioli ou a "Scapigliatura'' ou o "Liberty" são momentos só longinqua-
mente comparáveis com fenómenos como o Romantismo francês ou o
Impressionismo ou a Arte Nova. Um panorama de cariz sociol6gico
destinado a esclarecer os diversos fenómenos é-nos dado por C. Maltcse,
Storia deli'arte italiana, 1785-1943, Einaudi, Turim, 1960. Con1plcta-se
com o conhecimento da cultura romântica francesa, além do Realisn1o de
Courbet e do Impressionismo (para os perfis dos artistas: L. Venturi, La
via dell'lnzpressionismo. De Maneta Cézanne, Einaudi, Turin1, 1970), até
às correntes estéticas do fim do século (R. Schmutzler, Art Nouveau, II
Saggiatore, Milão, 1966).
No início do nosso século, as correntes artísticas sucedem-se num
ritmo premente: o estudo tem de se alargar no espaço (toma-se fundamen-
tal, por exemplo, o contributo da América). Um panorama da "vanguarda"
(Expressionismo, Cubismo, Futurismo, Dadá, Abstraccionismo, Surrealis-
mo) pode encontrar-se num volume escrito para o ensino: G. C. Argan,
L'arte moderna, 1770-1970, Sansoni, Florença, 1970. Para a arquitectura
indicam-se dois volumes de conjunto: Storia dell'architettura moderna, de
L. Benevolo, Laterza, Bari, 1960; Gli spazi dell'architettura nzoderna, de
72
B. Zevi, Einaudi, Turim, 1973 (vasta recolha visual e crítica que actualiza
a sua Storia).
Podemos concluir estas indicações bibliográficas afinnando que o estudo
da arte contemporânea é quase uma disciplina autónoma em relação à arte
antiga: impõe pesquisas diferentes e mais articuladas, outros instrumentos,
outros locais de pesquisa, se não outras metodologias.
a) Estudos gerais
73
do por L. Venturi, Storia dei/a critica d'arte, 1936 (Einaudi, Turitn, 1964 ).
A literatura artística torna-se não uma operação de apoio, mas o processo
metódico (a estrutura, talvez) da história da arte: e o valor nunca é abso-
luto e perene mas variável em relação ao espaço e ao tempo em que se
apresenta. O último panorama é de L. Grassi, Teorici e storici dlJI/a critica
d'arte, Multigrafica, Roma, 1970. Um livro complementar da obra de
Schlosser é Storia docunzentaria del/'arte, dai Medioevo a/ XVIII sl}co/o,
de E. G. Holt, Feltrinelli, Milão, 1972 ( 1947). E"' uma antologia de textos
e páginas autobiográficas, além de documentos para a reconstrução dos
momentos culturais, válida também pela sua perspectiva europeia.
Entre os guias da literatura artística (também com antologias de tex-
tos), indicamos alguns títulos para os vários séculos. Para o mundo clássico:
Arte e gusto neg/i scrittori latini, de G. Becatti, Florença, 1951. Uma
introdução à teoria artística mais ou menos consciente da cultura n1cdicval
encontra-se no volume de R. Assunto La critica d'arte nel pensiero nle-
dievale, II Saggiatore, Milão, 1961 (para complemento serve um artigo de
F. Bologna em "Paragone", 1961, n.º 137). Para o Renascimento, há vários
volumes a assinalar. Um texto conciso e acessível é o de A. Blunt, Le
teorie artistiche in /ta/ia dei Rinascimento a/ Manierismo, Einaudi, Turim,
1966 ( 1940). R. de Fusco dá-nos uma antologia dos tratados de arquitec-
tura desde Vitrúvio a Palladio, // codice dell'architettura, ESI, Nápoles,
1968. Uma antologia dos tratados sobre as três artes encontra-se nos
volumes em vias de publicação de P. Barocchi, Scritti d'arte de/ ("inque-
cento, Ricciardi, Nápoles, 1971. Uma análise de textos e comentários es-
sencial continua a ser a de P. Barocchi, Trattati d'arte dei Cinquecento .fiAa
Manierismo e Controriforma, Laterza, Bari, 1960-62. A análise de uma
consciência da história da arte anterior a Rafael encontra-se no volun1c de
G. Previtali, La fortuna dei primitivi da/ Vasari ai Neoclassici, Einaudi,
Turim, 1964. Para a historiografia da arquitectura modema: L'idea di
architettura. Storia della critica da Viollet-le-Duc a Persico, de R. De
Fusco, Comunità, Milão, 1964.
Existem algumas colecções organizadas de textos facilmente acessíveis.
Gli storici de/la letteratura artistica italiana é dirigida por A. Ottino della
Chiesa e B. della Chiesa (edições Labor, Milão): inclui obras clássicas
(Vasari, Baldinucci, Borghini, Baglione, Passeri, Pascoli, Bellori, Boschi-
ni) e também obras menos comuns (Scannelli, Scaramuccia) e sobretudo
as úteis histórias "regionais" (Ridolfi, Zanetti, Temanza, Dai Pozzo, Tassi,
Zaist, Soprani-Ratti, Malvasia, Crespi, Zanotti, Baruffaldi, De Dominicis,
Della Valle). Cada volume é precedido de um ensaio bibliográfico e
acompanhado de notas. Os Trattati di architettura são dirigidos por R.
74
Bonelli e P. Portoghesi (II Porlifilo, Milão): apresentam tratados clássico,
como de Alberti, Francesco Di Giorgio, Guarini e Filarete. Fonti e doeu
menti per la storia dell'arte veneta, aparece sob os auspícios da Fundaçã(
Cini: são obras de Scamozzi, de Temanza, de Canova, de Boschini e d~
Lotto. Fonti e documenti per la storia dell'architettura, organizado por F
Borsi (Officina, Roma), publicou até agora obras de Vasari il Giovane
Ammannati e Cario Fontana. Entre as edições anastáticas é de assinala
a da "Libreria Fomi", de Bolonha (documentos e fontes regionais) e a d;
"Multigrafica" de Roma (Pascoli, Ridolfi, Tassi e Zaist).
75
nétodo das artes eclesiásticas (pintura mural, miniatura, vidraria, traba-
hos em marfim e ourivesaria).
76
Press, 1965 (com as folhas originais do código); ao cuidado de A. M_
Finoli-L. Grassi, II Polifilo, Milão, 1972. - O tema é a fundação de
"Sforzinda", uma cidade ideal para Francesco Sforza. Vinte e um livros
são dedicados à arquitectura e três ao desenho e à pintura (em 1466 é
acrescentado um último volume, quando da morte de Sforza). Em forma
narrativa e também em diálogo, ganha vida um microcosmos da cultura
humanista. Culturalmente ligado ao Gótico tardio, Il Filarete anseia pelo
mundo antigo numa atitude romântica. Um tom semelhante, entre a ale-
goria medieval e a nova filologia humanista, encontra-se em Hypneroto-
machia Poliphili, de Colonna, dado à estampa por Aldo Manuzio em 1499
(edição crítica: ao cuidado de M. T. Casella-G. Pozzi, Pádua, 1959).
77
é o do profeta da nov.a ciência: o experimentalismo. Também muito im-
portantes os seus escritos literários (edição crítica: ao cuidado de A.
Marinoni, Rizzoli, Milão, 1952). Para completar o conhecimento da teoria
italiana é indispensável confrontar as ideias de Albrecht Dürcr, o prota-
gonista do Humanismo nórdico (sobre as proporções humanas, sobre a
perspectiva prática): veja-se a monografia de E. Panofsky, Fcltrinclli,
Milão, 1967.
78
cuidado de P. Barocchi, Sansoni, Florença (as duas edições são publicadas
em paralelo e o comentário é uma selecção de antigas exegeses).- Sobre
a obra de Vasari veja-se 11.1.
79
prática do grande arquitecto véneto: partindo de Vitruvio., vê no entanto
a arquitectura à luz da sua própria obra. Fala da construção civil provada,
da cidade, do templo pagão (as igrejas são citadas acidentalmente). Terá
um extraordinário sucesso na Europa, o que determinará o fenón1cno do
"paladianismo", activo até ao fim do século XIX.
80
Storiografia dei Barocco romano - G. MANCINI, Consideraziont
sul/a pittura, cerca de 1620. Edição crítica: ao cuidado de A. Marucchi·
-L. Salemo, Accademia dei Lincei, Roma, 1956. G. BAGLIONE, Le vitt
dei pittori, scultori ed architetti dai pontificato di Gregorio XIII fino a
tempi di Papa Urbano VIII, Roma, 1642. Fac-simile: ao cuidado de V
Mariani, Roma, 1935. G. P. BELLORI, Le vite de' Pittori, Scultori et
Architetti moderni, Roma, 1672. Edição modema: ao cuidado de E. Battisti·
-E. Caciagli, Universidade de Génova, 1968. Edições de outras vidas: a(
cuidado de M. Piacentini, Roma, 1942. G. B. PASSERI, Vite de' Pittori
Scultori e Architetti che hanno lavorato in Roma, cerca de 1678 (editadc
em 1772). Edição crítica ao cuidado de J. Hess, Leipzig-Viena, 1934. L
PASCOLI, Vite de' Pittori, Scultori e Architetti moderni, Roma, 1730-36
Fac simile: ao cuidado do Instituto de Arqueologia e História de Arte
Roma, 1933 (reimpressão anastática: Multigrafica, Roma, 1965). -Trata·
-se de cinco obras que se completam reciprocamente, de tom crítico ot
simplesmente de crónica. A posição de Mancini é a do homem cult(
"diletante" (ver 11.1.). Baglione dá-nos uma visão parcial, de artista qut
é. Bellori é, entre todos, o mais teórico (ver 11.1.): é o ponto intennédi(
entre Roma e o Classicismo francês, dada a sua relação com Poussin, d(
qual referem as Osservazioni sopra la pittura. Passeri é uma fonte indis·
pensável no que toca aos protagonistas, enquanto para os "menores", qut
constituem o tecido conectivo do século XVII romano, é indispensáve
Pascoli.
81
Architetti Genovesi, 1674 (segunda edição acrescentada por Ratti, 1678).
Edição modema: ao cuidado de Colozzi, Génova, 1965. C. C. MAL V AS IA,
Felsina pittrice. Vi te de' pittori holognesi, 1678. Edição crítica: ao cuidado
de M. Bascaglia, Alfa, Bolonha, 1971. B. DE DOMINICIS, Vite llei Pittori,
Seu/tore ed Architetti Napoletani, 1742-43. -Cada centro italiano tem o
seu historiógrafo: quase nunca (exceptuando Malvasia) se trata de verda-
deiros historiadores mas sim de compiladores (por vezes fantasiosos como
De Dominicis.
82
aconselha a consulta de pintores como Rafael e Correggio, intérpretes da
"moderação" e da "graça". Para a teoria neoclássica, é fundamental ainda
a posição de Winckelmann (ver 11.1.).
c) Fontes acessórias
83
de O. Pollak, dedicados à arte do tempo de Urbano VIII (Viena, 1927,
1931 ): um verdadeiro modelo de organização em investigação.
A publicação dos inventários de colecções e galerias favorece a data-
ção temporal e também sociológica das obras de arte. Nos últimos tempos
a publicação intensificou-se, dado o novo despertar do interesse pelo rne-
cenato e pela colecionação. Limitamo-nos, pois, assinalar algumas refe-
rências clássicas. Uma colecção útil para os séculos XIV-XVIII é a de G.
Campori (Modena, 1870); para centros restritos pode citar-se a colecção
de E. Müntz dos inventários dos Médicis (Paris, 1888) e da Roma renas-
centista (Paris, 1878-82). Para a reconstrução ambiental do ofício de artista,
veja-se: Bibliografia dei/e corporazione di arti e mestieri in /ta/ia, Roma,
1891.
A correspondência epistolar entre artistas ou comitentes é numerosa e
em parte ainda inédita. A obra clássica é a de G. C. Bottari publicada entre
1745-83 e actualizada por S. Ticozzi entre 1822-25: Raccolta lli /cttere
sul/a Pittura, Scultura e Architettura, escritas pelos mais célebres perso-
nagens dos séculos XV, XVI e XVII. A colecção é completada pela de
M. A. Gualandi (Roma 1833, Bolonha 1834) e de G. Campori (Modena
1866). Há depois uma correspondência epistolar de artistas do século XIV
ao XVII organizada por G. Gaye (Florença, 1839-40) e entre artistas dos
séculos XIV e XV, ao cuidado de G. Milanesi (Roma, 1869). Por fin1 duas
colecções de correspondência
,...
essenciais, recentemente republicadas: o
epistolário de Miguel Angelo (ao cuidado de P. Barocchi, Florença, 1966)
e de Aretino (ao cuidado de F. Pertile-E. Camesasca, II Milione. Milão,
1957 -60), dois testemunhos expressivos que permitem não só reconstruir
a personalidade de um artista e de um apreciador, mas também enriquecer
a perspectiva sociológica de um estudo histórico correcto.
Entre os escritos dos artistas, ocupa lugar especial a autobiografia de
Benvenuto Cellini (ver 1.3.b.). Um texto sobre a vida de um pintor do
;éculo XVI é o recente 11 "libro di spese diverse" di Lorenzo Lolto con
aggiunta di lettere e altri documenti, ao cuidado de P. Zampetti, Instituto
de Colaboração Cultural, Veneza-Roma, 1969. Um exemplo de diário
~comovente e íntimo) é o que foi compilado por Jacopo Pontormo perto
do fim da vida (ao cuidado de E. Cecchi, La Nuova Italia, Florença, 1956).
3xistem também diários de viagens: o de Frederico Zuccari na Itália
setentrional (Passa~gio per /'/ta/ia, Bolonha, 1608)~ o de Vincenzo Sca-
mozzi, de Paris a Veneza em 1600 (ao cuidado de F. Barbieri, Instituto
de Colaboração Cultural, Veneza-Roma, 1959), o de Antonio Canova
quando jovem (ao cuidado de E. Bassi, Instituto de Colaboração Cultural,
Veneza-Roma, 1959). Um caso à parte é o Journal que o gentil-homem
84
Paul Fréart de Chantelou mantém durante a estada de Gian Lorenzo Bemini
na
, corte de França (edição italiana: ao cuidado de S. Bottari, Roma, 1946 ).
E também de considerar a eventual actividade literária de um artista:
A
d) Os centros culturais
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XVII é um centro autónomo (ver os catálogos das Bienais: sobre Carracci,
sobre Reni, sobre Guercino, sobre o século XVII emiliano, sobre o Clas-
sicismo); um centro verdadeiramente insular é constituído por Veneza (ver
os catálogos das bienais: sobre Carpaccio, sobre Guardi, sobre V cdustisti
do século XVIII, sobre Ticiano, etc.). Um caso à parte é representado pela
cidade papal (ver como primeiro guia: P. Portoghesi, Ronza nel Rinusci-
mento, Electa, Milão, 1971; Roma harocca, Bestetti, Roma, 1966). Mas
cada região, do Piemonte à Sicília, tem naturalmente uma tradição autónoma
(ver, por exemplo: L. Mallé, Le arti figurative in Piemonte, Turin1, 1961 ).
Para muitas cidades estão disponíveis histórias orgânicas que pcrrnitem
analisar todos os problemas que vão da política à cultura, da cconornia à
arte. Para dar um exemplo: se não se tem em conta que na corte de Urbano
VIII em Roma, no início do século XVII, era possível um grande filósofo
(Campanella) dar-se com um músico (Frescolbaldi), com um arqueólogo
Bosio) e com artistas (Pietro da Cortona, Bernini, Borromini}, não se pode
entender a fundo o clima daquela "ciência nova" (o Papa era tamhém um
amigo de Galileu) que é o Barroco romano. De entre as histórias gerais,
assinalamos: Storia di Roma, 30 volumes, Instituto de Estudos Romanos,
Roma-Bolonha; Storia di Mi/ano, 16 volumes, Treccani degli Alfieri,
Milão, 1962; Storia de/la civiltà veneziana, 11 volumes, Sansoni, Floren-
ça, 1955-56; Storia di Napoli, I O volumes; Mantova: la storia, li' /ettere,
le arti, Verona, 1960; Storia di Brescia, 1963.
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