Antemanhã Fernando Pessoa Mensagem
Antemanhã Fernando Pessoa Mensagem
Antemanhã Fernando Pessoa Mensagem
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“Antemanhã”, Mensagem
CENÁRIOS DE RESPOSTA
(Questões -com adap.- e respostas retiradas de : Testes de avaliação, 12º ano, Português, Porto Editora, teste nº6;
Criação intelectual- Ana Maria Amaro)
1. O poema “Antemanhã” insere-se em III- “Os Tempos”- na terceira parte de Mensagem, O Encoberto. Surge
imediatamente antes do último poema da obra, correspondendo ao momento imediatamente anterior ao fim do
ciclo da decadência, antes do ansiado começo de outro ciclo de grandeza, para cujo arranque o poeta deixa o repto
final do poema seguinte, “Nevoeiro”: “É a Hora!”.
2. O mostrengo representa todas as forças negativas, como o desconhecimento, o medo, a rejeição do risco, o
fechamento ao novo, que domadas pela ação dos portugueses aquando da descoberta do “Segundo Mundo” , o
mundo que os navegadores descobriram e conquistaram nos séculos XV e XVI e que foram acantonadas “no fim do
mar” (v. 1). A liberdade de movimentos evidenciada pelo mostrengo, que lhe permite vir procurar o senhor que
parece não ver há algum tempo, remete-nos para um eventual entorpecimento desse amo de outrora que o
mostrengo procura verificar se ainda existe e por que razão não cumpre o seu destino(“Nem o Terceiro quer
desvendar?). A presença deste mostrengo parece reavivar a possibilidade do regresso dessas forças negativas antes
domadas- hipótese que “faz mau o sonho, triste o sonhar “ (v. 9) e que está em consonância como o momento de
decadência vivido por Portugal, que tanto sofrimento patriótico provocou a Fernando Pessoa.
3. A expressão remete-nos para o conceito de Quinto Império, de caráter espiritual, que, contrariamente aos quatro
anteriores, que cumpriram o seu ciclo vital (nascer, crescer e morrer), será alicerçado num espaço e num tempo
místicos e, consequentemente, “sem acabar”.
4. Tal como é indicado pela expressão “do Mar”, este Senhor terá dominado o mar, terá desvendado um mundo, “o
Segundo Mundo”. Neste momento, parece viver da memória desse momento de grandeza, de vontade adormecida,
esquecido do seu destino: “dorme a lembrar/ Quedesvendou o Segundo Mundo, / Nem o Terceiro quer desvendar?”
(vv. 5-7).
5. Nos versos referidos predomina o pretérito perfeito do indicativo. As formas “Rodou e foi-se” (v. 10), “veio” (vv.
11 e 12) expressam as ações do mostrengo e apresentam um valor aspetual perfetivo, remetendo para uma ação
concluída: a tentativa de despertar o seu Senhor por parte do mostrengo que, concretizada embora, não passou de
uma tentativa. A forma “foi” veicula também um valor aspetual perfetivo, remetendo para a situação passada do
“Senhor do Mar”, situação essa completamente ultrapassada. Por seu turno, o complexo verbal “está dormindo”
veicula um valor aspetual imperfetivo e progressivo, descrevendo a situação de apagamento que caracteriza o
outrora “Senhor do Mar”, situação essa que se mantém. Em termos dos sentidos textuais, é profundamente
produtiva esta coexistência de valores aspetuais, posto que se estabelece um contraste entre o que foi (ação e
grandeza passadas do Senhor e ação do símbolo daquilo que este derrotou -o mostrengo- e o que é: a dormência do
Senhor, ou seja, Portugal.
6.1. A relação estabelecida entre os dois poemas é de caráter contrastivo. Esse constraste começa no aspeto formal:
no segundo, a estrutura estrófica tripartida remete para um ciclo perfeito, corresponde à derrota do medo e do
desconhecido metaforizada no silêncio do mostrengo; o primeiro é constituído apenas por duas estrofes, o que, por
comparação, poderá significar que o percurso ainda está incompleto, o que é confirmado pelo facto de ainda existir
um poema, o último (“Nevoeiro”) neste final de ciclo de decadência. Há ainda a considerar a diferença existente na
atitude dos portugueses: se, no segundo poema, estes são ousados e concretizam o domínio da treva e do medo
pela força da vontade, no primeiro surgem com a vontade entorpecida e vivendo da memória da grandeza passada,
esquecidos do destino a cumprir. O mostrengo, por seu turno, silenciado no segundo poema, regressa agora, em
“Antemanhã”, dotado da capacidade de interpelação que fora apanágio do homem do leme no poema “O
mostrengo”, facto que configura a possibilidade de regresso das forças da treva antes derrotadas.