Unidade 6.2 - José Saramago, Memorial Do Convento
Unidade 6.2 - José Saramago, Memorial Do Convento
Unidade 6.2 - José Saramago, Memorial Do Convento
282 Expressão Oral 1.1 No separador figuram o convento de Mafra, as imagens de D. João V, de Baltasar, de Blimunda e da passarola.
1.2 A ação do romance Memorial do convento, de José Saramago, centra-se na construção, levada a cabo por milhares de trabalhadores, do convento de
Mafra, que foi mandado edificar por D. João V. Na história intervêm também Baltasar e Blimunda que, com o padre Bartolomeu Lourenço, empreendem
o projeto de construção de uma máquina voadora – a passarola – cuja invenção era apoiada pelo rei.
283 Informar 1. Ao intitular o seu romance Memorial do convento, Saramago pretende, acima de tudo, tornar memorável e inesquecível o verdadeiro obreiro da
construção do edifício – o povo –, que a História ignora, celebrando apenas o seu promotor – o rei D. João V.
1.1 Como forma de homenagear e resgatar do esquecimento estes homens sofridos, Saramago enumera, simbolicamente, nomes iniciados por todas as
letras do alfabeto.
2.
a. Promessa de D. João V de construir um convento em Mafra.
b. Construção do convento pelo povo.
c. Relacionamento amoroso de Baltasar e Blimunda.
d. Sonho do padre Bartolomeu Lourenço de construir a passarola.
u. trezentos
v. 1730
w. D. Maria Bárbara
x. voo
y. sagração
z. auto de fé
288 Educação Literária 1.1 D. João V é um rei poderoso, mas que ainda não conseguiu alcançar um dos seus maiores objetivos: ter um descendente. Ainda assim, na busca desse
propósito, é persistente e cumpre rigorosamente determinadas rotinas. É um homem infiel. D. Maria Ana Josefa é uma mulher muito religiosa e os
problemas de infertilidade, no início do casamento, levam-na a ficar ainda mais devota. Por isso mesmo, sente um peso na consciência após cada ato
sexual, o que a leva a rezar fervorosamente. No entanto, os escrúpulos religiosos dão lugar a desejos libidinosos que se configuram na forma de sonhos,
ocultados ao confessor, que acabam por minimizar a insatisfação pessoal que sente e a ajudam a adotar uma atitude resignada relativamente à
infidelidade do marido. De facto, a rainha é uma mulher paciente e submissa ao rei e às convenções da aristocracia e da corte a ponto de se sacrificar
para dar um descendente à coroa. É, ainda, frágil (“estende ao rei a mãozinha suada e fria”, l. 61).
1.2 É uma relação pautada pela frieza, pela distância e pela formalidade. De facto, a ida do rei ao quarto da rainha, que ocorria rigorosamente duas vezes
por semana, assume contornos protocolares, na medida em que é descrito um conjunto de atos de natureza cerimonial e ritual (os preparativos, o cortejo
até aos aposentos da rainha, a ida para a cama). Além disso, a relação sexual mantida entre o rei e a rainha tem apenas o propósito de garantir a sucessão
do rei, não havendo espaço para o amor ou para a ternura. Por isso, findo o ato, e ao contrário do que sucedia ao princípio, o rei abandona o quarto e não
pernoita com a rainha.
2.1 Ao afirmar “Que caiba a culpa ao rei, nem pensar” (l. 6), o narrador denuncia a perspetiva machista da época: a de que a infertilidade seria sempre da
responsabilidade da mulher, chegando mesmo a declarar que “a esterilidade não é mal dos homens, das mulheres sim” (ll. 6-7). Percebe-se, assim, que o
narrador está a ser irónico, criticando a mentalidade que vigorava naquela altura quer relativamente ao casamento por conveniência quer no que
concerne à ideia da mulher como ser submisso, com a função de assegurar a descendência. (A propósito desta questão, sugere-se que o professor leve os
alunos a fazer aproximações com o romance Amor de perdição no que respeita à tentativa de Tadeu de Albuquerque casar a filha com Baltasar Coutinho).
3.1 Metáfora que evidencia o objetivo da ida do rei ao quarto da rainha: garantir a descendência. Deste modo, sendo a rainha o elemento gerativo da
relação, ela é associada ao cântaro que espera a água da fonte, ou seja, espera que o rei a fecunde. Por outro lado, pela antecipação de "cântaro" a
"fonte", distingue se a rainha como o elemento passivo da relação.
3.2 A intertextualidade é visível no facto de esta expressão resultar da transformação do provérbio “tantas vezes o cântaro vai à fonte que um dia lá deixa
a asa”.
2
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3.3 Alusão.
4. O facto de o narrador afirmar que, em Portugal, não há artífices de tanta qualidade, e se os houvesse ganhariam menos, é uma forma de demonstrar o
menosprezo dos portugueses e das suas competências por parte dos governantes que valorizavam tudo o que era estrangeiro, não investindo nos seus
concidadãos nem na sua cultura. (A propósito desta questão, pode estabelecer-se uma relação de intertextualidade com A Abóbada e com Os Maias,
focando se o desprestígio a que muitas vezes o povo português foi votado.
– A Abóbada: o facto de Afonso Domingues ter sido preterido por Mestre Ouguet.
– Os Maias: a valorização da cultura francesa, em detrimento da portuguesa, por Dâmaso Salcede; o episódio da corrida de cavalos, “costume” importado
de Inglaterra e que não se coadunava com as tradições portuguesas).
289 Informar 1.1 Retiram-se a uma parte D. João V e o inquisidor, e este diz:
− Aquele que além está é frei António de S. José, a quem falando-lhe eu sobre a tristeza de vossa majestade por lhe não dar filhos a rainha nossa senhora,
pedi que encomendasse vossa majestade a Deus para que lhe desse sucessão.
E ele me respondeu que vossa majestade terá filhos se quiser. E então perguntei-lhe que queria ele significar com tão obscuras palavras…
1.2
Discurso direto: “(e este diz:) − Aquele que além está é frei António de S. José”.
Marcas: verbo de tipo declarativo, dois pontos, parágrafo, travessão.
Discurso indireto: “e então perguntei-lhe que queria ele significar com tão obscuras palavras…”.
Marcas: verbo de tipo declarativo, oração subordinada substantiva completiva.
290 Educação Literária 1. Primeiro, foi necessário escolher o local (o alto da Vela, em Mafra); depois, estabelecer a dimensão do convento em função do número de frades que
albergaria; a seguir, D. João V inaugurou a construção, colocando a primeira pedra, tendo-se iniciado, posteriormente, as obras de maior envergadura
que requeriam já um número considerável de trabalhadores, que laboravam de manhã à noite.
2. Através destas palavras, o narrador pretende enfatizar as condições precárias e o sofrimento a que os trabalhadores estavam sujeitos, já que identifica
o alto da Vela com o local onde Cristo foi crucificado.
291 Compreensão do Oral 1. Véspera da reunião da concertação social em que o governo apresentará uma proposta de aumento do salário mínimo para 530 € em 2016 e 600 € até
2019.
2.
(1) poder do governo para decretar politicamente “o salário mínimo”;
(2) competitividade/ produtividade;
(3) consequências a nível dos indicadores do emprego e do desemprego.
3.
a. Está dependente da evolução da economia, do estado de desenvolvimento das empresas e da sustentabilidade do emprego.
b. O valor mensal é baixo, mas o salário de cada trabalhador corresponde a 14 meses, além de outros encargos que o vencimento acarreta.
c. Foi estabelecido um acordo com o governo para um aumento progressivo do salário mínimo a partir de 2011, acordo que foi violado, mantendo-se o
3
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4. Trata-se de um debate, uma vez que estamos na presença de dois intervenientes que assumem posições diferentes em relação ao tema e às questões
lançadas pela moderadora, servindo-se de argumentos e exemplos que fundamentam as suas opiniões. É ainda evidente o respeito pelo princípio da
cortesia.
293 Educação Literária 1.1 Pretende-se realçar o poder de D. João V, uma vez que se afirma, ironicamente, que, apesar da importância de D. Henrique no conhecimento do
mundo, e consequentemente na construção do império, o seu papel é agora diminuto, comparado com a gestão dos rendimentos e do reino que o rei
português tem a seu cargo.
1.2 Trata-se da paródia, uma vez que o autor introduz diferenças por entre as semelhanças do seu texto com os versos do poema, “O Infante”. Para além
disso, utiliza essas diferenças de maneira jocosa, como forma de criticar o rei D. João V na gestão das riquezas do reino.
1.3 A enumeração serve, por um lado, para salientar a riqueza do Império Português, já que se enunciam todos os bens de que o reino dispunha,
provenientes das várias colónias, e, por outro, para acentuar o contraste existente entre as duas épocas – a de D. João V e a dos Descobrimentos – no que
à gestão dos dinheiros públicos diz respeito.
2. Se no plano histórico estamos no séc. XVIII, mais concretamente no reinado de D. João V, o narrador, através da prolepse, dá-nos conta de uma
realidade posterior e que tem a ver com a existência de um poeta português – Fernando Pessoa – que na sua obra Mensagem louva os feitos do infante
D. Henrique.
3. O menosprezo pelos portugueses e por Portugal é visível no facto de, para o convento de Mafra, D. João V encomendar à Europa todo o tipo de
ornamentos e contratar estrangeiros como artífices, cabendo apenas ao seu povo e à sua pátria os trabalhos braçais e o fornecimento de matérias-primas
básicas, como a pedra.
4. A displicência do rei é visível na distribuição desigual dos bens, pois canaliza-os maioritariamente para a Igreja, negligenciando a miséria em que o povo
se encontrava. É visível também no facto de, apesar dos avisos do almoxarife sobre a situação financeira do reino, ignorar recomendações feitas e
continuar a delapidação da riqueza da coroa.
5. “Se vossa majestade me perdoa o atrevimento” – oração subordinada adverbial condicional; “eu ousaria dizer” − oração subordinante; “que estamos
pobres” – oração subordinada substantiva completiva; “e sabemos” – oração coordenada copulativa.
293 Escrita 1.
Introdução – Exposição do tema e defesa de um ponto de vista.
Desenvolvimento – Apresentação dos argumentos e exemplos (vantagens: melhora as infraestruturas do país – são criadas novas redes viárias, hotéis,
estádios…; traz proveitos económicos – há um maior fluxo turístico; desvantagens: o dinheiro investido na organização destes eventos podia ser
canalizado para outros setores, como a educação, a saúde ou a investigação científica; o investimento feito pelo Estado é demasiado avultado, sendo de
notar que a maior parte dos orçamentos apresenta derrapagens: o Euro 2004 em Portugal ou o Mundial do Brasil em 2014.
Conclusão – retoma do tema e fecho.
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2. O facto de o narrador afirmar que nem o diabo – o protótipo do mal – se tinha alguma vez lembrado de um sacrifício tão grande para punir os
pecadores espelha bem o esforço e o sofrimento sobre-humanos a que os trabalhadores foram sujeitos, no desempenho desta tarefa.
2.1 Além do recurso à descrição minuciosa quer da pedra, para que o leitor tenha noção do colosso que ela era, quer do trabalho que os homens tiveram
que executar, são utilizados também recursos expressivos: a metáfora – “agora sim, ontem aquilo foi uma brincadeira de rapazes” (l. 65); “o monstro que
implacavelmente o arrasta” (l. 68); a construção anafórica – “Seiscentos homens” (cf. ll. 61-76) – , que realçam o esforço hercúleo que uma enorme
quantidade de homens teve de fazer para transportar uma enorme pedra de Pero Pinheiro até Mafra.
3. Enquanto Vasco da Gama e os seus marinheiros foram recompensados pelos deuses pela enorme empresa realizada, no célebre episódio da Ilha dos
Amores, tendo retornado à pátria envoltos em fama e prestígio, os trabalhadores do convento regressam a Mafra em péssimas condições, sem qualquer
tipo de glória ou reconhecimento.
4. Através da enumeração de nomes de A a Z, Saramago pretende destacar o papel preponderante dos trabalhadores na construção do convento,
imortalizando-os e conferindo-lhes o verdadeiro mérito, já que a História apenas recorda o promotor da construção – D. João V –, ignorando a
importância do povo. Quando os caracteriza como portadores de um conjunto de deficiências, a sua intenção é não só valorizá-los ainda mais pelo
esforço empreendido, o que lhes confere o estatuto de heróis, ainda que não possuam as características canónicas para tal, como também demonstrar
que a superação dos limites humanos é uma realidade ao alcance de todos.
5. Quando se serve da primeira pessoa do plural e afirma “melhor é julgarmos pelos nossos próprios olhos” (l. 8), o narrador assume o mesmo estatuto
que o narratário, demonstrando-se disponível para, com ele, fazer a avaliação sobre a situação que está a ser narrada.
6. Por se sentir revoltado pelo facto de a História só homenagear D. João V na construção do convento, em detrimento dos verdadeiros protagonistas, o
narrador utiliza uma expressão popular, típica do português atual – “que se lixam” (l. 77) – como forma de exprimir o seu estado de espírito. Ora, estando
ele a relatar acontecimentos ocorridos no séc. XVIII, o narrador pede, pois, perdão pelo facto de não estar a utilizar linguagem própria da época e daí
admitir que a sua narração esteja a assumir contornos anacrónicos, ou seja, fora do seu tempo. Este é, aliás, um recurso recorrente em Saramago, como
forma de aproximar o narratário do seu universo de referência – o séc. XX.
7. Tendo ouvido falar de um ermitão, uma rainha que vivia insatisfeita quis ir visitá-lo para saber o que poderia fazer uma mulher da sua condição para
deixar de se sentir apenas rainha e se sentir também mulher. O ermitão e a rainha acabam por fugir, na expetativa de se fazerem/sentirem
verdadeiramente homem e mulher.
7.1 A história acaba por refletir, por um lado, a frustração da rainha D. Maria Ana Josefa por viver apenas em função do seu estatuto real, nunca
chegando a sentir-se verdadeiramente mulher – veja-se a propósito a relação protocolar que mantém com o marido, sem amor, nem entrega; por outro
lado, realçar o papel dos trabalhadores que transportaram a pedra que, tendo-se superado, atingem a verdadeira essência do que é ser homem e apenas
dessa forma se notabilizam.
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8. Através das palavras proferidas pelo frade, o narrador põe em evidência a manipulação da Igreja em relação aos seus fiéis, uma vez que se afirma que
os trabalhos e sacrifícios passados durante a construção seriam recompensados com a vida eterna.
9.
a. Posterioridade.
b. Anterioridade.
c. Simultaneidade.
9.1 Trata-se de um narrador participante, que está a observar in loco o desenrolar da ação, daí a simultaneidade.
10. Sonorização.
298 Leitura 1.
a. O presidente da República defende a tese de que Portugal é o seu povo. Apresenta os seguintes argumentos: – o povo “não vacila, não trai, não se
conforma, não desiste”; “A sabedoria hoje como há nove séculos reside no povo”; “quando a pátria é posta à prova, é sempre o povo quem assume o
papel determinante”; “O povo, sempre o povo, a lutar por Portugal, mesmo quando algumas elites […] nos falharam”. Estes argumentos são
corroborados pelos exemplos de determinação, coragem e sacrifício do povo, na conquista do território, no apoio ao Mestre de Avis, na Restauração da
Independência, na resistência às invasões, na instauração da República, na queda da ditadura e nos momentos de crise económica atravessados pelo
país;
b. o caráter persuasivo e a eloquência são visíveis no uso da primeira pessoa do plural (“celebramos”), como forma de envolver o auditório, e na
utilização de recursos expressivos como a anáfora (“Foi o povo”) ou a enumeração (“ele não vacila, não trai, não se conforma, não desiste”, l. 7), que
enfatizam a importância e as qualidades do povo português. No que respeita ao conteúdo, o tom persuasivo resulta da convocação do passado, como
forma de reforçar o papel determinante do povo, ao longo de nove séculos;
c. o discurso evidencia uma dimensão social, pois o presidente enaltece aquele que considera ser o verdadeiro protagonista da História de Portugal – o
povo –, valorizando assim esta classe social.
2. É evidente que os autores de Memorial do convento e da Crónica de D. João I pretendem enaltecer as qualidades do povo, elegendo-o assim como o
verdadeiro protagonista de determinados acontecimentos históricos e fazendo sobressair as suas capacidades de privação, de sacrifício, de determinação
e de audácia. Assim o faz também o presidente da República no discurso proferido, ao declarar e comprovar que “Portugal é o seu povo”.
2.
(1) Pela forma como o narrador faz contrastar a megalomania e o absolutismo do rei com a enorme fraqueza que D. João V deixa transparecer
relativamente ao medo de morrer (não usufruindo da sua obra), o que conduz a uma certa inveja dos seus descendentes.
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(2) Na forma como é conduzido pelo arquiteto a uma decisão que não planeava e que assume como sendo sua desde o início.
3.1 Em ambos os casos, estamos na presença de homens velhos, que simbolizam a experiência de vida, um de aspeto venerando, o outro visto como um
labrego, que se insurgem contra o que estão a presenciar. No caso de Os Lusíadas, o velho manifesta-se contra a empresa marítima, por considerar que o
país fica votado ao abandono, em prol da fama, da glória e de uma ambição desmedida. No caso do Memorial do convento, o envio forçado de
trabalhadores para Mafra faz o "labrego" insurgir-se contra a vaidade e prepotência do rei.
3.2 As diferenças servem para sublinhar não só a importância de cada uma das empresas – uma grandiosa, e daí o velho ter um aspeto venerando, a
outra medíocre, por ser o resultado de um capricho, e, por isso, é denunciada por um labrego – mas também o período de censura e obscurantismo que
se vivia na época de D. João V, que, sendo um rei absoluto, concentrava em si todos os poderes, infligindo grandes males ao povo. Por essa razão, ao
contrário do que acontece em Os Lusíadas, em que o velho tem liberdade para discursar, no Memorial o labrego é abatido.
3.3 Paródia.
4. Trata-se da enumeração, que serve para evidenciar um conjunto de artistas mundialmente famosos a que Ludovice se refere como forma de criticar
aquela que entende ser a falta de sensibilidade do rei em relação à criação artística.
5. Neste segmento textual, no relato que faz, o narrador recorre, por um lado, ao discurso direto, quando dá a conhecer a conversa estabelecida entre o
rei e Ludovice, (“É minha vontade que seja construída na corte uma igreja como a de S. Pedro de Roma”, ll. 2-3). Recorre, por outro lado, ao discurso
indireto livre quando nos transmite o pensamento do arquiteto sobre a intenção manifestada por D. João V (“este rei não sabe o que pede, é tolo, é
néscio, se julga que a simples vontade, mesmo real, faz nascer um Bramante […] que Deus me livre dessa”, ll. 8-18).
302 Informar 1. Em Memorial do convento, assistimos à crítica da vaidade e da prepotência de um rei cheio de caprichos que gere de forma negligente os bens do
reino. Não se coíbe, por isso, de delapidar a riqueza do país para construir um convento sumptuoso, ignorando as necessidades e fraquezas do seu povo
que vivia na miséria. Assiste-se ainda à denúncia da ligação perversa entre o poder da coroa e da Igreja, que também detinha um estatuto absoluto.
Ambos exerciam um enorme controlo sobre um povo ignorante, nomeadamente através da manipulação religiosa e da perseguição daqueles que não
comungavam da mentalidade da nobreza e do clero.
assistia, como o comprova o facto de haver penitentes que “clamam estrepitosamente, tanto pelos motivos que a dor lhes dá como de óbvio prazer, que
não compreenderíamos se não soubéssemos que alguns têm os seus amores à janela e vão na procissão menos por causa da salvação da alma do que por
passados ou prometidos gostos do corpo” (ll. 32-35). Quanto às mulheres, assistem à procissão nas janelas, excitadas pelo sofrimento dos homens.
Quanto mais violenta for a vergastada do seu amado, maior será a sensação de prazer (“enquanto latejam por baixo das redondas saias, e apertam e
abrem as coxas segundo o ritmo da excitação e do seu adiantamento.”, ll. 48-50). Esta é ainda uma altura que permite a prevaricação e a luxúria das
mulheres que, a pretexto de irem à igreja, têm encontros furtivos com homens.
307 Educação Literária 1. A ação decorre por ocasião da Guerra da Sucessão espanhola que se desenrolou entre 1702 e 1714, na altura em que reinava em Portugal D. João V,
que foi proclamado rei em 1706, tendo o seu reinado durado 44 anos.
2. Baltasar Mateus surge em cena como um soldado esfarrapado e descalço, a viver da caridade, que se viu obrigado a abandonar a Guerra da Sucessão
espanhola por ter perdido a mão esquerda. É um homem solitário, cuja família é de Mafra; é desenvolto, destemido e corajoso, já que se atreve a
percorrer os caminhos sozinho, acabando mesmo por matar um homem em legítima defesa. Por meio da figura de Baltasar, o narrador põe em evidência
o sofrimento da classe mais desfavorecida – o povo – às mãos dos caprichos dos poderosos. Baltasar, que, como se disse, perdera a mão esquerda ao
serviço da pátria, numa guerra que nada tinha que ver com Portugal, vê-se abandonado pela própria nação.
3.1 A proximidade do narrador é visível no recurso ao deítico espacial “este” e ao deítico temporal “agora”, que presentificam o momento de enunciação
do narrador, e ainda no uso do presente do indicativo “parece”, “é”.
3.2 Esta atitude de proximidade justifica-se pelo facto de o narrador mostrar simpatia por aqueles que são mais desfavorecidos, ou não fosse o objetivo
de Memorial do convento homenagear o povo sofrido e valeroso.
3.3 O narrador adota a primeira pessoa do plural quando se refere ao povo português, por dele se sentir parte integrante.
4. Por duas vezes, o narrador serve-se da prolepse para antecipar acontecimentos. Primeiro, fá-lo, em relação ao desfecho da Guerra da Sucessão, numa
altura em que esta ainda decorria; depois revela que, num futuro próximo, Baltasar matará um homem que tentou assaltá-lo. Recorre, ainda, à analepse,
quando dá conta da batalha em Jerez de los Caballeros, ocorrida um ano antes.
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Sentidos 12, Unidade 6.2 – José Saramago, Memorial do convento Cenários de resposta
5. A sequência textual predominante no primeiro parágrafo é de natureza explicativa, uma vez que o narrador pretende esclarecer o leitor sobre as
razões e as circunstâncias que levaram Baltasar a ser dispensado do exército, bem como sobre as condições de vida experienciadas pelo ex-soldado.
6. Valor perfetivo.
310 Educação Literária 1. A opressão sobre o povo era concretizada na perseguição aos que tinham um credo diferente, aos que não respeitavam os dogmas da Igreja, aos
acusados de práticas de feitiçaria e ainda aos que apresentavam comportamentos sexuais desviantes. De acordo com a gravidade da acusação, os
condenados eram degredados ou queimados numa fogueira.
2.1 O povo é visto como ignorante e sanguinário porque, não compreendendo a opressão e a perseguição que a Igreja exercia sobre os mais
desprotegidos, se regozija e se excita com a violência infligida aos seus semelhantes, no decurso dos autos de fé, vividos como um momento festivo.
2.2 O narrador serve-se da prolepse quando afirma “nunca se chegará a saber de que mais gostam os moradores, se disto, se das touradas, mesmo
quando só estas se usarem” (ll. 9-11). Esta observação, que serve para denunciar a caráter sanguinário do povo, contribui também para destacar e criticar
a violência ainda hoje presenciada nas touradas portuguesas.
3. Ironia. Ao referir que Domingos Afonso Lagareiro tinha sido condenado por ter visões e curar enfermos, o narrador ironiza esta condenação, evocando
a figura de Jesus Cristo, que partilhava dos mesmos dons e é o responsável pela existência do cristianismo, o que não deixa de resultar numa situação
paradoxal.
4. Quando apresenta a mãe de Blimunda (Sebastiana de Jesus), o narrador permite que ela se assuma como voz enunciativa, falando, por isso, na
primeira pessoa.
5. Blimunda tem dezanove anos e é filha de Sebastiana de Jesus, que foi condenada ao degredo pela Santa Inquisição por ter “visões e revelações”. É uma
mulher forte já que, para sua própria defesa, não revela quaisquer sentimentos quando vê a mãe pela última vez. No entanto, quando está em casa,
chora copiosamente, assim demonstrando a sua emotividade e a sua tristeza. Revela-se uma mulher pouco convencional para a época, dado que não se
coíbe de perder a virgindade com um homem que acabara de conhecer, assumindo, nessa relação, um papel ativo. Percebe-se ainda que tem poderes
sobrenaturais e místicos, uma vez que consegue comunicar telepaticamente com a sua mãe e se benze e faz uma cruz no peito de Baltasar com o sangue
da virgindade. Fisicamente, o que mais a distingue são os olhos que vão variando de cor, consoante a luz ou as emoções.
6. É ela quem, telepaticamente, leva Blimunda a perguntar o nome a Baltasar, estabelecendo, assim, o primeiro contacto com aquele homem que se
relacionará com ela – “que vai ser deles” (ll. 34-35).
7. É visível (1) no facto de Blimunda ter esperado para comer da mesma colher que Baltasar, situação que o narrador associa à declaração formal de união
que ocorre num casamento; (2) no facto de o padre ter abençoado não só a casa e a comida mas também a esteira no chão e o punho cortado de
Baltasar; (3) no facto de Blimunda ter feito uma cruz no peito de Baltasar e se ter benzido com o sangue da virgindade, como se estivesse a selar um
pacto entre os dois.
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Sentidos 12, Unidade 6.2 – José Saramago, Memorial do convento Cenários de resposta
8. Por um lado, a relação assume contornos pouco convencionais para a época, na medida em que o casal optou por não legitimar formalmente a sua
união, através do casamento, e pelo facto de Blimunda se ter entregado a Baltasar no primeiro encontro. Por outro, este casal dá mostras da vivência de
um amor puro, sincero e profundo, visível quer na forma como, estrategicamente, Baltasar se coloca na cama para poder abraçá-la quer na frequência
com que tinham relações íntimas, respeitando a vontade e o desejo de um e de outro.
9. O ato sexual dos reis reveste-se de um formalismo ritual, protocolar (os preparativos ou a condução, em jeito de procissão, da rainha pelo rei até à
cama), apenas com o objetivo preciso de gerar um herdeiro. Além disso, está isento de qualquer afeto e intimidade, dada a presença de um conjunto de
criados. Baltasar e Blimunda, contrariamente, vivem a sexualidade com liberdade, de forma pura e com uma entrega total, decorrente apenas da vontade
prazerosa de ambos: “e se a ele apeteceu, a ela apetecerá, e se ela quis, quererá ele” (ll. 94-95). O facto de Blimunda, findo o ato, se benzer e fazer uma
cruz com o sangue da sua virgindade no peito de Baltasar traduz o compromisso selado entre ambos a partir daquele dia, um compromisso em que não
cabem nem os pensamentos libidinosos da rainha nem as relações adúlteras do rei.
313 Educação Literária 1. Baltasar esconde o pão de Sete-Luas porque quer, de uma vez por todas, compreender a razão do ritual de Blimunda: todas as manhãs, mal acorda, ela
come pão de olhos fechados.
2. Blimunda, a não ser que mude o quarto da lua, possui o dom de ver as pessoas por dentro, quando está em jejum. Por esta razão, e por respeitar
Baltasar, jurou que nunca se iria servir daquele dom para o olhar por dentro.
3. Blimunda era constantemente confrontada com visões terríveis e com situações que gostaria de evitar, até porque, como diz, “o que a pele esconde
nunca é bom de ver-se” (ll. 48-49).
4. O dom de Blimunda poderá vir a ser confundido com heresia e feitiçaria, situação que a levaria a ter problemas com o Santo Ofício, podendo culminar
com um destino semelhante ao de sua mãe, que foi açoitada e degredada.
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Sentidos 12, Unidade 6.2 – José Saramago, Memorial do convento Cenários de resposta
Queres assim?
− Quero – respondeu Baltasar – mas diz-me que mistério é este? Como foi que te veio esse poder, se não estás a enganar-me…
− Amanhã saberás que falo verdade.
7. Valor causal.
313 Escrita 1. São considerados fenómenos paranormais aqueles que a ciência não consegue explicar, ou cuja explicação supera os limites desta, ou que resultam de
situações não expectáveis. Podem ter várias causas e não dependem da cultura, da educação ou do QI. Frequentemente, são associados a superstições, a
ansiedade ou a más interpretações da realidade.
(50 palavras)
316-317 Educação Literária 1. O padre Bartolomeu, fazendo uso das relações privilegiadas que tinha no Paço, foi informar-se de uma possível pensão de guerra destinada aos
soldados feridos na Guerra da Sucessão espanhola.
2. Bartolomeu Lourenço era conhecido como o Voador por ter feito voar um balão, mais do que uma vez.
3. Bartolomeu Lourenço sente-se humilhado com essa alcunha, porque sabe que ela lhe foi atribuída por malícia, já que tinha havido muita gente a
ridicularizar os seus inventos.
4. A enumeração, a gradação e a metáfora presentes neste segmento servem para ilustrar a evolução humana, que acontece paulatinamente, por etapas,
e à custa da constante persistência, apesar dos eventuais percalços.
5. Primeiro, o padre tenta persuadi-lo de que com uma mão e um gancho poderá fazer tudo o que quiser, até porque “um gancho não sente dores se
tiver de segurar um arame ou um ferro, nem se corta, nem se queima” (ll. 42-43); depois, advoga que Deus é maneta, por não haver ninguém que se
sente à sua esquerda, e mesmo assim fez o universo. Este argumento acaba por ser decisivo quanto ao intento do padre.
6.1 A alusão ao bicho da terra, forma como Camões se refere à fragilidade humana por estar à mercê de um conjunto de contrariedades inerentes à vida,
serve para salientar a necessidade sentida pelo ser humano de progredir e evoluir, para poder dar resposta às adversidades ou limitações que lhe são
impostas pela sua natureza.
7. Esse cruzamento é visível no facto de o padre declarar que, para os seus inventos, tem contado com a proteção de D. João V, que inclusivamente lhe
cedeu a quinta do duque de Aveiro, em S. Sebastião da Pedreira, para que pudesse continuar a fazer as suas experiências.
8. Blimunda serve-se do seu dom (de conseguir ver as coisas por dentro), para fazer a vistoria aos materiais usados na construção da passarola e
perceber, assim, as fraquezas/ defeitos da construção.
9. O batismo do padre salienta a vidência de Blimunda ao mesmo tempo que reforça a complementaridade existente entre ela e Baltasar.
10. O padre Bartolomeu Lourenço decide partir para a Holanda, com o intuito de descobrir a forma de fazer descer o éter do espaço, já que sem ele a
passarola não podia voar.
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Sentidos 12, Unidade 6.2 – José Saramago, Memorial do convento Cenários de resposta
11. O padre Bartolomeu revela ser um homem influente e, por isso, tenta interceder por Baltasar relativamente à pensão de guerra a que este teria
direito. Era apelidado, de forma jocosa, “o Voador”, por ter feito voar balões no Paço. No entanto, o seu projeto é apadrinhado pelo rei D. João V, que lhe
cedeu a quinta do duque de Aveiro, em S. Sebastião da Pedreira. É um homem sonhador, que acredita no progresso e na evolução da humanidade e que
se revela como o mentor de uma invenção: construir uma máquina que permita ao homem voar. Demonstra ser um padre pouco convencional, já que se
interessa por artes ocultas (travou conhecimento com a mãe de Blimunda) e profere afirmações, como “maneta é Deus, e fez o universo”, que seriam
consideradas heresia por parte da Igreja. É ainda um homem persuasivo quando convence Baltasar a participar no seu projeto. É persistente e, por isso,
está disposto a partir para a Holanda para descobrir o segredo do éter.
12. A relação entre eles alicerça-se não só na profunda amizade que os une (veja-se que na despedida prescindiram da formalidade a que o estatuto do
padre obrigava e acabam por se abraçar os três) mas também na confiança mútua. Esta harmonia e forte ligação estão espelhadas nos seus próprios
nomes, dado começarem todos pela mesma letra do alfabeto.
13. [A]
14. [B]
15. [D]
16. [C]
317 Compreensão/Expressã 1.1 A canção versa sobre a importância do sonho para a evolução e o desenvolvimento humanos. Sem ele, o Homem não teria progredido nem realizado
o Oral missões como a descoberta dos mares ou da superfície lunar.
1.2
Comparação – “como esta pedra cinzenta / em que me sento e descanso”.
Metáfora – “que em verde e oiro se agitam”.
Enumeração – “é tela, é cor, é pincel, / base, fuste, capitel”.
1.3 Da mesma forma que o sujeito lírico afirma que é o sonho que comanda a vida e que é ele o promotor da evolução humana, visível, por exemplo, em
inventos ou em manifestações artísticas, também o padre Bartolomeu declara a importância do sonho, afirmando que a necessidade, aliada à vontade
humana, fez o Homem progredir ao longo dos tempos, levando-o a ambicionar chegar cada vez mais além.
Mensagem
Foi o sonho, aliado à vontade, que levou os portugueses a aventurarem-se nos mares desconhecidos e a construírem um Império, e serão eles – sonho e
vontade – que poderão resgatar Portugal do estado de letargia em que se encontra. Exemplos: “E a nossa grande raça partirá em busca de uma Índia
nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo de que os sonhos são feitos”, “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”; “Triste
de quem vive em casa, / Contente com o seu lar, / Sem que um sonho, no erguer de asa, / Faça até mais rubra a brasa / Da lareira a abandonar!”
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Sentidos 12, Unidade 6.2 – José Saramago, Memorial do convento Cenários de resposta
Memorial do convento
Foi o sonho do padre, juntamente com as duas mil vontades recolhidas por Blimunda (e que representam a vontade humana), que levou a passarola a
voar. Exemplos: “Esse gancho que tens no braço não o inventaste tu, foi preciso que alguém tivesse a necessidade e a ideia, que sem aquela esta não
ocorre, juntasse o couro e o ferro, e também estes navios que vês no rio, houve um tempo em que não tiveram velas, e outro tempo foi o da invenção
dos remos, outro o do leme, e, assim como o homem, bicho da terra, se fez marinheiro por necessidade, por necessidade se fará voador”; “é portanto a
vontade dos homens que segura as estrelas, é a vontade dos homens que Deus respira”.
319 Educação Literária 1. O padre tenciona retornar a Coimbra para prosseguir os seus estudos teológicos e se sagrar doutor.
2. O padre ficou a saber que, antes de subir aos ares, o éter vive dentro dos homens e das mulheres, sob a forma de uma nuvem fechada, que mais não é
do que a vontade dos vivos e que se pode separar do homem ainda em vida ou na hora da sua morte.
3. Para que o mundo possa evoluir e os projetos se possam concretizar, torna-se imprescindível que os homens manifestem vontade de o fazer. Sem ela,
nada acontece nem se realiza.
4. Blimunda foi incumbida de recolher as vontades que se desprendessem dos homens (duas mil no total). Para tal, deveria usar um frasco com uma
pastilha de âmbar amarelo que possuía a faculdade de atrair o éter.
5. O padre tem esta atitude porque chegou a temer ter perdido a vontade, quando, numa primeira tentativa, Blimunda nada viu dentro dele. Ele tem
plena consciência de que, sem ela, o seu projeto de voar nunca se concretizaria.
6. A adoção de um novo nome espelha uma sociedade mesquinha, que valoriza os títulos em detrimento da essência do ser humano e que distingue os
seus membros em função do seu estatuto.
321 Educação Literária 1. Trata-se de um músico italiano, nascido em Nápoles, que foi contratado para ensinar a infanta D. Maria Bárbara a tocar cravo. É um homem com boa
figura, “rosto comprido”, “boca larga e firme” e “olhos afastados” (l. 8).
2. O padre começa a duvidar de um dos dogmas mais importantes da Igreja Católica – a Santíssima Trindade. Este dogma defende que, apesar de Deus
ser uno em essência, é trino em pessoa, ou seja, Deus é uma unidade composta pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. A razão para esta dúvida
decorre, por um lado, do facto de ter concluído, durante a conversa com Scarlatti, que Pilatos e Jesus eram iguais. Por outro lado, o facto de se ter sentido
da mesma carne e do mesmo sangue de uma gaivota levou-o a concluir que participavam todos da mesma essência de Deus e que, por isso, Ele só podia
ser um e estar presente em cada uma das coisas que criou.
3. Depois de ter ido à abegoaria, onde viu a passarola e conheceu Baltasar e Blimunda, Scarlatti faz uma analogia entre os três e o mistério da Santíssima
Trindade: o padre, enquanto mentor do projeto, identificar-se-ia com o Pai; Baltasar, enquanto executor da vontade de Bartolomeu, com o Filho;
Blimunda, por estar incumbida de uma missão com contornos transcendentais, com o Espírito Santo.
321 Expressão Oral Poderão ser tratados, entre outros, os seguintes aspetos:
− ao longo dos séculos, a religião constituiu-se como um entrave ao desenvolvimento e ao progresso: veja-se, por exemplo, a condenação à fogueira de
Copérnico, por defender que a Terra girava em torno do Sol, ou o conjunto de conhecimentos que, durante séculos, a Igreja impediu que fossem
divulgados;
− na atualidade, há investigações científicas que a Igreja condena, como a clonagem humana;
− um crente defende ideias incompatíveis com a ciência, como a crença de que foi Deus a conceber o Universo, quando a ciência defende a teoria do Big
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Sentidos 12, Unidade 6.2 – José Saramago, Memorial do convento Cenários de resposta
Bang;
− o Vaticano promove a investigação científica: por exemplo, na área da astronomia;
− ao longo dos séculos, houve várias figuras religiosas com contributos importantes na área da ciência: veja-se o caso de Rogério Bacon, que inventou o
telescópio;
− um crente consegue facilmente conciliar a religião com a ciência, aceitando, por exemplo, que a história de Adão e Eva seja uma metáfora do início da
humanidade.
323 Educação Literária 1. Blimunda caiu doente, perdendo momentaneamente a sua própria vontade, ficando apática e num estado de letargia, provavelmente por ter atingido
um estado de extrema exaustão, causado pelo confronto com visões terríveis, e por ter estado constantemente em contacto com a morte.
2. O padre considerava-se responsável pelo estado de Blimunda, por a ter incumbido de recolher vontades junto dos moribundos e, por isso, sentia-se
com remorsos e arrependido.
3. Blimunda recupera progressivamente graças à música do cravo tocada por Scarlatti. Esta situação poderá justificar-se pelo facto de a música ter a
faculdade de despertar emoções no ser humano. Ora, estando Blimunda num estado de letargia, a música poderá ter funcionado como um estimulante
para resgatar a vontade que estaria “refugiada em confins inacessíveis do corpo” (l. 42), fazendo-a regressar à vida.
4. Por causa das dúvidas que o começaram a assaltar acerca dos dogmas da Igreja Católica, o padre recusa-se a abençoar Baltasar e Blimunda, por já não
saber “em nome de que Deus” (l. 78) o faria. Por outro lado, quando propõe que eles se abençoem um ao outro, afirmando que “pudessem ser todas as
bênçãos como essa” (ll. 79-80), o padre acaba por sugerir que, mais do que em qualquer religião, a humanidade poderá atingir a plenitude se se deixar
reger pelo amor.
325 Educação Literária 1. O padre estava aterrorizado por saber que o Santo Ofício andava à sua procura.
2. As palavras do padre enfatizam as situações de terror a que qualquer pessoa estava sujeita no século XVIII por causa do Santo Ofício. Assim, quando
afirma que, muitas vezes, o homem é confrontado com o inferno ainda em vida, está na verdade a referir-se às fogueiras a que eram sujeitos tantos
condenados pela Inquisição.
3. A ridicularização é visível no facto de os habitantes de Mafra que testemunharam o voo terem acreditado que se tratava de uma aparição do Espírito
Santo, com o intuito de abençoar as obras do convento. Este episódio serve o propósito de demonstrar a fragilidade e a falsidade de muitas situações que
a Igreja Católica considerava como milagres, constituindo assim uma crítica aos dogmas da Igreja.
4. A passarola constitui-se como um bem em prol do desenvolvimento humano, ao passo que o convento é apenas um símbolo da vaidade e da
prepotência de um rei. Para a construção da máquina voadora foram necessárias apenas três pessoas, movidas pela vontade e pelo sonho; em contraste,
as obras do convento obrigaram a um trabalho hercúleo e de sofrimento por parte de milhares de trabalhadores. Ambas as construções são finalizadas,
mas só a do convento subsistiu, situação que traduz, por um lado, o poder da Igreja e o absolutismo do rei e, por outro, a opressão do povo.
327 Educação Literária 1. A premonição da tragédia por parte de Blimunda é visível não só nos conselhos que dá a Baltasar para que tenha cuidado na vistoria que irá fazer à
passarola, mas, sobretudo, quando afirma “Não sossego, homem, os dias chegam sempre” (l. 9).
2. O reencontro de Blimunda com Baltasar pode ser visto como o coroar de um esforço: uma recompensa pelo facto de Sete-Luas, durante nove anos, ter
procurado incansavelmente Sete-Sóis. Ao mesmo tempo, o facto de esse reencontro ter ocorrido na sétima vez em que a personagem passava por Lisboa
sugere a renovação e a completude da ligação entre os dois, já que Blimunda se une novamente a Baltasar, recolhendo a sua vontade.
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Sentidos 12, Unidade 6.2 – José Saramago, Memorial do convento Cenários de resposta
3. Foi a voz que Blimunda parecia ouvir que a aconselhou a manter-se em jejum. Se assim não fosse, Blimunda não poderia ter recolhido a vontade de
Baltasar e ficar permanentemente ligada a ele.
4. Apesar de, fisicamente, Baltasar e Blimunda se virem obrigados ao afastamento, dado que Baltasar morre queimado na fogueira, espiritualmente o
amor e a união entre os dois mantém-se, pelo facto de Blimunda ter acolhido dentro de si a vontade de Baltasar, o que sugere que, enquanto viver, Sete-
Luas estará sempre acompanhada de Sete-Sóis.
5. A circularidade é visível no facto de a terceira linha de ação finalizar praticamente da mesma forma como se inicia: Blimunda (re)encontra Baltasar num
auto de fé no Rossio.
6. “Teria de substituí-las, trazer os materiais necessários, demorar-se aqui uns dias, ou então, só agora lhe ocorria a ideia, desmontar a máquina peça por
peça, transportá-la para Mafra escondê-la debaixo duma parga de palha, ou num dos subterrâneos do convento, se pudesse combinar com os amigos
mais chegados, confiar-lhes metade do segredo” (ll. 14-18).
7. Noturno, notívago.
329 Informar 1. A relação de Baltasar e de Blimunda pauta-se pelo amor profundo e verdadeiro: efetivou-se sem os formalismos do casamento; manifesta-se a todo o
instante; perdura além da morte. Contrariamente, a relação do rei e da rainha caracteriza-se pelo formalismo e pelo convencionalismo. Nesta relação
está ausente a intimidade, a cumplicidade e a pureza do sentimento – a rainha sonha com outros homens, e o rei dorme com outras mulheres. Através do
contraste entre o par fictício e o par histórico da obra, o autor pretende realçar a nobreza de sentimentos e atitudes das classes mais desfavorecidas.
Poderá também evidenciar a opressão política e religiosa a que estavam sujeitas estas classes, já que os dois amantes se veem forçados a separar-se
fisicamente após a morte de Baltasar.
330 Informar 1.
[A] – [6]
[B] – [8]
[C] – [5]
[D] – [1]
[E] – [7]
[F] – [3]
[G] – [4]
[H] – [2]
331 Informar 1. O tempo histórico é aquele que é evocado pela ação e que se circunscreve a uma determinada época. No caso de Memorial do convento, a ação situa-
se no século XVIII, no reinado de D. João V. O tempo da narrativa diz respeito ao tempo de duração da ação: 28 anos, desde 1711 até 1739.
335 Verificar 1.
a. F − O objetivo é Resgatar da sombra aquele que Saramago considera ser o verdadeiro herói e protagonista da construção do convento: o povo.
b. F − As linhas de ação entrecruzam-se a cada passo, conferindo unidade à obra.
c. V
d. F − Foi Sebastiana de Jesus quem telepaticamente deu essa indicação à filha.
e. F − Blimunda recolhe a vontade de Baltasar para que a união entre eles se mantenha, enquanto ela viver.
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Sentidos 12, Unidade 6.2 – José Saramago, Memorial do convento Cenários de resposta
f. F − O papel de Blimunda foi extremamente importante, pois, sem a recolha das vontades por ela protagonizada, a passarola nunca teria voado.
g. F − É no entender de Scarlatti que Baltasar, Blimunda e Bartolomeu Lourenço formam uma trindade terrestre.
h. F − É na cura de Blimunda que Scarlatti tem um papel preponderante.
i. F − O episódio assume contornos heroicos pela força hercúlea que os homens tiveram de despender, pelo sofrimento causado e pela superação
humana.
j. F − O tempo da narrativa é o que decorre de 1711 a 1739.
k. V
l. V
m. F − Denuncia sobretudo a opressão do povo em face dos caprichos dos poderosos.
n. F − Constitui-se como um ciclo perfeito e acabado (7x4) e corresponde ao tempo da duração da ação.
o. V
p. V
q. V
r. F − Saramago usa apenas dois sinais de pontuação: o ponto final e a vírgula.
s. V
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