Adequação de Packing House
Adequação de Packing House
Adequação de Packing House
CONTATO: DANIEL.LOBO@ECOLOG.COM.BR
INTRODUÇÃO
OBJETIVOS
A segurança alimentar tem como base a análise e controle do processo para eliminar riscos
relacionados à inocuidade do alimento. Através da análise detalhada do processo bem como o
entendimento do uso do produto é possível estabelecer boas práticas de processo e controlar
todos os pontos críticos que venham a representar risco à segurança do alimento.
Existem três tipos de contaminação que podem levar a perda da segurança alimentar, sendo
elas:
1. Microbiológica: contaminação alimentar de origem microbiana como bactérias, vírus
entre outros, ex: salmonela, e. coli, clostridium.
2. Química: contaminação alimentar oriunda de qualquer produto químico presente no
alimento, em dosagens superiores à aquela permitida, ex: agrotóxicos, antibióticos e
detergentes.
3. Física: contaminação através de elementos inertes que podem ou não levar à infecções
e ou constrangimentos por parte do consumidor, ex: pelos, cabelos, pedras e adornos.
O objetivo de toda análise de processo para se atingir a segurança alimentar é a identificação
de fatores de risco que possam levar a uma ou mais das contaminações citadas acima. Boas
Práticas de Processo (BPP) são medidas adotadas na linha de produção que minimizam o risco
destas contaminações. Pontos Críticos de Controle (PCC) são as etapas do processo que são
rigorosamente controladas de forma a eliminar um risco real ou potencial.
Apesar da fruta para consumo in natura ser a mesma, o Packing House lida com quatro
categorias de produto, sob a ótica de segurança alimentar. Assim como o diâmetro altera a
categoria de produto, quando se faz uma separação baseada na qualidade do fruto, parâmetros
físico, químicos e biológicos levam a formação de categorias quando se baseia em parâmetros
de segurança alimentar. O Quadro 1 mostra claramente os fatores que levam à classificação
nas categorias acima relacionadas.
Quadro1: Categoria de produtos embalados no galpão.
Categoria de Contaminação Contaminação Contaminação física
produto química biológica
a. Fruta encerada e Excesso de cera e de Presença de micro Presença de corpos
tratada (mercado agrotóxicos organismos estranhos
internacional) patógenos
b. Fruta não encerada Presença de cera e Presença de micro Presença de corpos
e tratada (mercado excesso de organismos estranhos
internacional) agrotóxico patógenos
c. Fruta encerada e Excesso de cera e Presença de micro Presença de corpos
não tratada (mercado presença de organismos estranhos
local) agrotóxico patógenos
d. Fruta não tratada e Presença de cera e de Presença de micro Presença de corpos
não encerada agrotóxico organismos estranhos
(mercado local) patógenos
* Neste exemplo considera-se agrotóxico apenas os produtos utilizados no tratamento pós-colheita.
É com base na forma de utilização do produto que se faz a identificação do nível de segurança
que se deve estabelecer à fruta. Por exemplo, a segurança atribuída a um produto que será
consumido in natura é obviamente maior do que aquela atribuída a uma fruta que será
esmagada e processada para suco.
Isso se deve por uma serie de fatores, mas o principal deles é que para a fruta que será
consumida in natura o galpão é o último estágio de processamento anterior ao consumo,
incluindo-se os tratamentos e embalagem, ao passo que a fruta que será esmagada passará por
processos que podem eliminar riscos potenciais ou reais. A contaminação microbiológica, por
exemplo, para a fruta que será consumida in natura, representa um risco muito maior para o
consumidor do que a fruta que será consumida na forma de suco. Isso porque a indústria de
suco, adotou como prática a pasteurização do suco, o que elimina o risco microbiológico.
Na cadeia de produção de alimentos cada elo da cadeia contribui para a garantia da segurança
do alimento e isto deve ser claramente compreendido. Por exemplo, a utilização de
agrotóxicos durante a etapa de cultivo, antes da colheita, é sem dúvida alguma um dos fatores
que pode afetar a segurança alimentar.
Contudo, é de responsabilidade do primeiro elo da cadeia, ou seja, o produtor rural, garantir o
controle deste fator de risco. Isto porque, este fator de risco não poderá ser revertido pelo
segundo elo da cadeia, o galpão de armazenamento. O atendimento ao período de carência,
por parte do produtor, bem como a utilização de Boas Práticas Agrícolas (BPA), eliminam
este risco. Já o tratamento pós-colheita é um fator de risco ligado ao Packing, cabendo ao
mesmo, adotar todas as medidas de controle de forma a eliminar potenciais risco à segurança
alimentar.
As normas, de higiene, compreendem os efeitos adversos que podem ocorrer ao longo da
cadeia e definem como sendo de responsabilidade de controle do elo da cadeia que tem a
capacidade de eliminar ou reduzir o risco, e de responsabilidade do próximo elo, o
monitoramento e eventual rejeição de lotes inadequados.
ANÁLISE DA CAPACIDADE DAS ETAPAS SEGUINTES AO PACKING EM
AUMENTAR OU MINIMIZAR OS RISCOS DE SEGURANÇA DA FRUTA
Como um plano de segurança alimentar não se resume apenas à adequação de uma das etapas
da cadeia, pois será necessário dar garantias ao consumidor final. Por isso, assim como foi
feita a análise do elo anterior, a mesma análise para os elos seguintes se faz necessária. Por
exemplo, qual a eficácia de um tratamento pós-colheita, se não serão mantidas as condições
adequadas de temperatura e umidade da fruta durante o processo de armazenamento.
O transporte, armazenamento da fruta no varejo e até sua conservação pelo consumidor final
são fatores que devem ser levados em consideração, não só nos procedimentos do Packing,
mas por todas as etapas da cadeia produtiva. Isto irá auxiliar no processo de decisão na busca
por soluções que aumentem a vida de prateleira e eliminem risco à saúde do consumidor.
Alguns procedimentos como limpeza e desinfecção de carretas e contêineres poderão se tornar
parte da rotina de Packings e propriedades rurais, à medida que os fornecedores destes
serviços não estejam certificados ou não garantam a ausência de risco.
A ferramenta de layout é utilizada para a análise do fluxo do produto dentro do Packing com
o objetivo de otimizar a utilização dos espaços e Máquinas dentro do mesmo. Através da
Figura 1 é possível perceber que metade do Packing House não apresenta paredes, ou seja,
encontra-se completamente aberto, apesar do mesmo ser coberto. A ausência de paredes
impossibilita que se tenha uma área considerada limpa, onde o fruto após o tratamento tenha
menores chances de recontaminação com poeira, frutos e instrumentos contaminados e
mesmo dejetos de aves e outros animais.
O fechamento do galpão aparece então como a primeira necessidade de adequação, para que
se tenha à caracterização da área limpa. Lembrando que a área limpa é aquela que apresenta os
custos mais elevados para construção e reforma, e por esse motivo, deverá ser reduzida à
menor área possível dentro do galpão.
De modo a se reduzir o tamanho da área limpa, busca-se entender o fluxo do produto e seus
processos, dentro do galpão de embalagem. A partir da análise da Figura 1 é possível
identificar os seguintes processos:
1. Recepção da fruta vinda do campo através das carretas acopladas a tratores;
2. Armazenamento temporário da fruta vinda do campo em áreas dentro do galpão.
Na Figura 1 é possível identificar três áreas distintas para esta mesma função;
3. Pré-limpeza, ramos e folhas são eliminados nesta etapa além da seleção visual
(Máquina 1);
4. Pesagem do primeiro rendimento;
5. Classificação por diâmetro em Máquina classificadora (no layout da Figura 1
“Classificação e Embalagem”). Devido a característica do maquinário, a fruta é
obrigada a passar, em um primeiro momento, dentro da Máquina de aplicação de
cera, que se encontra desligada;
6. Tratamento pós-colheita;
7. Armazenamento temporário de fruta tratada;
8. Enceramento: a fruta retorna novamente para a Máquina de seleção (no layout da
Figura 1 “Classificação e Embalagem”). Nesta etapa a Máquina de cera é acionada,
9. Embalamento;
10. Resfriamento em câmara fria;
11. Expedição para o mercado externo e interno.
Uma vez identificadas todas as não conformidades do processo para as diferentes categorias
de produto deve-se buscar soluções que eliminem os risco de contaminação das frutas.
Diferentes problemas podem exigir diferentes soluções, que podem variar desde a
implementação de Boas Práticas de Processo, treinamentos e conscientização até
investimentos em equipamentos mais modernos, alterações na estrutura e áreas dentro do
Packing.
Para cada não conformidade encontrada deverá ser identificada ao menos uma solução que
mitige o problema. O potencial de perda de rastreabilidade, devido a divisão de lotes (Quadro
2 – Etapa do processo no 1) poderá comprometer todo o sistema de segurança alimentar, isto
porque se faz necessário que o Packing tenha registros de todos os processos sofridos pela
fruta, caso uma análise de resíduos ou uma outra eventual não conformidade venha a
manifestar-se. A criação de uma área específica para a entrada e armazenamento da fruta
vinda do campo, auxilia neste processo de identificação de lotes semelhantes que irão entrar
no Packing, vide Figura 2 (campo inferior esquerdo “Estoque de frutas vindas do campo”).
Este galpão apresenta uma peculiaridade com relação ao equipamento utilizado, Máquina de
enceramento e seleção que se encontram integradas (Figura 1). No Quadro 2 percebe-se que
isto pode levar a duas não conformidades, a primeira ligada a Boas Práticas de Processo
Quadro 2 (item no 2.1) e a segunda ligada a um risco de contaminação alimentar Quadro 2
(item no 2.2).
Poderão existir duas soluções distintas para este problema, a primeira seria a adoção de Boas
Práticas de Processo, que levassem à limpeza do equipamento, antes da segunda passagem ou
antes de passar fruta que não necessitasse de cera ou não recebesse o tratamento pós-colheita
(Quadro 1 categorias b e d).
Contudo esta solução apresenta uma inviabilidade técnica, uma vez que o processo é
contínuo, ficando praticamente impossível parar uma Máquina da linha para limpeza. A
segunda solução é a aquisição de mais um equipamento de classificação, estratégia esta
adotada na prática, pelo Packing House que foi alvo deste estudo. A compra de um novo
equipamento, atrelado com sua nova disposição dentro do Packing (Figura 2) levou à
eliminação das duas não conformidades.
O tratamento pós-colheita, conforme dito anteriormente, representa para este processo, o
ponto de divisão entre fruta vinda do campo e fruta de mesa. Desta forma o Packing House
deve manter o padrão adquirido após o tratamento, evitando assim futuras contaminações
cruzadas. No processo apresentado, tanto a pré-seleção como a classificação e embalagem
(Figura 2) representam um divisor de águas, onde serão separadas as frutas de mercado
interno e externo. As frutas de mercado interno, por não necessitarem de certificação não
sofrerão tratamento pós-colheita e por isso não adentrarão a área reservada ao mercado
externo (Figura 3 “Área limpa”).
Para que pudesse haver a entrada desta fruta na área limpa seria necessário a eliminação da
categoria de produto encerado e não tratado para mercado interno (Quadro 1 categoria c.).
Como neste caso, a exigência do cliente interno era que a fruta, tipo mercado interno, fosse
encerada, não havia nenhuma restrição com relação ao uso do tratamento pós-colheita, por
esse motivo a alteração da categoria do produto não comprometeu o contrato com o cliente
interno. É importante notar que a proibição da entrada de fruta não tratada em área limpa
trata-se da adoção de uma Boa Prática de Processo.
Agora, sob a ótica da segurança alimentar as categorias a. e c. (Quadro 1) são iguais, a
diferença está na qualidade da fruta, a fruta para mercado interno categoria c. não apresenta
coloração e tamanho adequados para o mercado internacional.
Figura 2: Packing House depois do projeto de otimização utilizando layout.
O Packing House em questão tem área aproximada de 1.000 m2 (hum mil metros quadrados),
se fosse utilizada a estratégia padrão de transformar todo o Packing em uma área limpa o
custo total de adequação estaria estimado no valor de R$ 85.000,00 (oitenta e cinco mil reais).
Com a metodologia utilizada, a área limpa foi reduzida para 350 m2 com um custo de
adequação desta área no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais). A área comum fica portanto
com 650 m2 com um custo total de adequação de R$ 23.000,00 (vinte e três mil reais), o custo
total de adequação deste Packing ficou na ordem de R$ 53.000,00 (cinqüenta e três mil reais)
uma redução de 38%.
CONCLUSÕES