POESIA (MU ALLAQA) DO POETA ÂNTARA IBN CHADDÁD (Trad. MM Jarouche)
POESIA (MU ALLAQA) DO POETA ÂNTARA IBN CHADDÁD (Trad. MM Jarouche)
POESIA (MU ALLAQA) DO POETA ÂNTARA IBN CHADDÁD (Trad. MM Jarouche)
no início do século VI) como maneta tentando bater pedra sobre pedra.
21. Ela anoitece e amanhece sobre acolchoado leito,
1. Os poetas deixaram algo por ser glosado? e eu passo a noite no lombo de um negro animal de rédeas,
Ou por acaso conheceste a casa após ter-se iludido? 22. meu leito é uma sela sobre um animal de fortes patas,
2. Fala, ó casa de ‘Abla em al-Jiwá’! grandes ilhargas, robusto dorso.
Bom dia, ó casa de ‘Abla, e esteja bem! 23. Levar-me-ás até a casa dela, ó camela de Chadan,
3. É o lar da donzela de suaves contornos, de maldito leite obstruído?
afável abraço e doce boca sorridente. 24. Rápida, marchadeira noturna, bamboleante,
4. Foi ali que detive minha camela, semelhante devastando montículos de espinhosas plantas:
a um castelo que atendesse às necessidades de um desesperado. 25. segue mais tarde esmagando-os,
5. ‘Abla mora em al-Jiwá’, e nossa gente tal avestruz sem orelhas, de juntas patas,
em al-Hazn, e al-Sammán e Mutathallam. 26. à qual se juntassem pequenas avestruzes
6. Salve, ó ruínas de antigos tempos, como rebanhos iemenitas a mudo pastor bárbaro,
desertas e desoladas depois que se foi Umm al-Haytham. 27. seguindo com a vista a crista de sua cabeça,
7. Em terra de [meu] inimigo vives, e é como seguiriam uma liteira coberta com andor:
difícil para mim procurar-te, filha de Makhram; 28. cabeça pequena, deixa seus ovos em Dhul-‘Uchayra,
8. Sem querer, enamorei-me dela enquanto matava sua gente: como um escravo sem orelhas portando comprida pele.
por vida de teu pai que penso ser [tal paixão] um despropósito. 29. Minha camela bebeu água de Duhrudayn e se tornou
9. Mas tu, não duvides, ocupas em meu coração arisca: detesta os tanques inimigos
o lugar da amada venerada. 30. e parece evitar, com seu flanco direito,
10. Como visitar-te, se a tua família passa a primavera a voz do noturno cabeçudo:
em ‘Unayzatayn e a minha em al-Gaylam? 31. é o lince que ataca, e se ela se protege,
11. Quando decidiste partir, foram furiosa, ele ataca com as patas e a boca.
as camelas ajaezadas em noite escura, 32. Ajoelha-se ao lado de al-Ridá‘ e parece
12. E não me assustaram senão as fortes montarias lançar-se sobre talos quebrados e rangentes:
naquele lugar pastando os grãos de musgo, 33. alcatrão ou betume coalhado,
13. entre elas quarenta e duas leiteiras com que o fogo se aviva junto ao vaso,
negras como longas plumas de negro corvo. 34. Parece brotar atrás de suas orelhas, iracunda, segura,
14. Mas cativo me tinha uma branca boca com lábios rápida como um macho robusto.
de doce beijar, alimento delicioso: 35. Se te cobres com véu diante de mim, sabe que
15. como se o almíscar do perfumista em sua arca sou hábil em vencer cavaleiros de couraça:
precedesse a seus dentes, até ti, desde sua boca, 36. elogia-me pelo que de mim conheces,
16. ou como bosque intacto, de plantas regadas pois sou de amável trato se não me fazem injustiça;
pela chuva de água limpa e impoluta, 37. mas se me fazem, acerba é minha resposta,
17. favorecida por puras nuvens primaciais, amarga de sabor, como o gosto da coloquíntida.
que deixam cada poça qual moeda, 38. Bebi muito vinho, depois que o
18. fluindo e correndo, pois cada tarde calor diminuiu, e paguei com reluzente moeda cunhada,
recolhe, sem cessar, a água; 39. em ocre vaso, sulcado,
19. e sozinhas ficam as moscas, com seu interminável emparelhado com brilhante garrafa, à esquerda, tapada.
zumbido, como melopéia de bêbado, 40. Porém quando bebo consumo somente
20. cantando, esfregando as patas, meu dinheiro; minha honra fica íntegra, sem mácula.
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41. Passada a embriaguez, minha liberalidade não diminui: Formosa gazela de claro focinho.
minha nobreza e qualidades continuam tais as conheces. 63. Eu soube que alguém não me louva esta benesse,
42. Quantas vezes a marido de beldade prostrei por terra, e ser ingrato é trair quem fez o bem.
os membros silvando, qual sulco de lábio leporino: 64. Cumpri o conselho de meu tio, meio-dia,
43. minhas mãos se anteciparam com rápida estocada quando os lábios retesados mostram os dentes
e o sangue do atingido esguichava qual rubra tinta. 65. em meio à guerra, de cujos rigores
44. Por que não perguntas aos cavalos, ó filha de Málik, não se queixam heróis senão com gritaria;
o que ignoras e o que de mim desconheces? 66. eu, quando me usaram de barreira às lanças, não me acovardei,
45. Nunca deixo a sela de minha rápida montaria, senão que estava estreito o lugar de avançar;
vigorosa, muitas vezes ferida por campeões: 67. e quando vi chegar a toda a gente,
46. numas vezes se destaca ao fazer carga, e noutras inflamada, avancei, irreprochável.
une-se ao tropel dos retesados arcos. 68. Chamavam: “ó ‘Ântara!”. As lanças pareciam
47. Que to diga quem me viu em tais batalhas: cordas de poço no peito do negro cavalo.
como procuro a luta e desdenho os despojos. 69. Sem descanso, eu os atacava na covinha da garganta
48. A quantos campeões cujo enfrentamento faz temer guerreiros, e do peito, até cobri-los de sangue;
não dados embora à fuga ou rendição, 70. esquivou-se do ataque de lanças ao peito,
49. minha mão assestou rápido golpe queixando-se com lágrimas e relinchos:
com reta lança de rijas pontas endereçada! 71. pudesse dialogar, protestaria;
50. Atravesso com ela, rígida, toda roupa, soubesse falar, me falaria.
pois nem o nobre é respeitado pela lança, 72. Mas curou minha alma e lhe expulsou a debilidade
51. e deixei-os, pasto de feras que, tomando-os, o dizer dos ginetes: “avança, ‘Ântara!”
mastigavam a formosura de seus dedos e seus pulsos. 73. E os cavalos, taciturnos, irrompiam no chão mole,
52. De quantas cotas largas, espessas, rompi as junturas corcéis, todos eles puro-sangue.
com a espada, deixando à mostra o corpo do guerreiro, 74. Minha montaria é obediente; quero que me acompanhe
53. a mão preparada para jogar dados no inverno, o coração: movo-o com firme ordem.
abaixador, censurado, das bandeiras dos vendedores de vinho. 75. Temi, porém, morrer sem que
54. Ao ver-me avançar em sua direção, a guerra se volte contra os filhos de Damdam,
mostrou os dentes, não decerto sorrindo. 76. que insultaram minha honra, sem que eu os tivesse insultado,
55. Avançado o dia, haveria de vê-lo e juraram matar-me, quando eu não estava presente.
como se sua cabeça e mãos estivessem tingidas de índigo; 77. Que o façam não surpreende, pois deixei o pai deles
56. tendo-o atingido e atravessado Pasto de feras e velhos abutres.
com um valente sabre de claro aço, cortante:
57. a um herói como uma árvore com vestido,
calçado de couro de vaca, e não gêmeo!
58. Ovelha acessível a quem é lícita
a mim continua proibida; oxalá não fosse!
60. Mandei-lhe minha escrava dizer: “vê,
vigia tudo sobre ela, fica informada”.
61. Ela voltou dizendo: “vi o inimigo descuidado;
a ovelha é acessível ao ferido por ela”.
62. Ela se volta com pescoço de antílope,