Texto Base - Histórico Da Terapia Familiar
Texto Base - Histórico Da Terapia Familiar
Texto Base - Histórico Da Terapia Familiar
SISTÊMICA.
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* Vania Fonseca de Castilho. Psicoterapeuta sistêmica; Diretora e Formadora do CEFAC
(Centro de Estudos de Família e de Casal)
A filosofia básica que rege a terapia familiar é que o todo e as partes são inextrincáveis,
pois as propriedades do todo derivam das interações entre as partes, definindo-se
mutuamente um às outras. Além destas idéias de globalidade e retroalimentação esta nova
epistemologia tem como idéia central a causalidade circular concepção oposta à idéia de
causalidade linear dos modelos clássicos tradicionais, cuja causa e efeito dos distúrbios
mentais são pensados em termos históricos e casuais A causalidade circular, pelo
contrário, afirma que um todo não possui começo nem fim.
“Nos primeiros anos o “Movimento de Terapia Familiar”, como era chamado, ficou restrito a
estudos, pesquisas, criação de comitês e publicações, inclusive a criação da revista
“Family Process” de grande importância até os dias de hoje. Uma das razões que impedia
o seu uso terapêutico era o fato de que esta nova abordagem representava o inverso da
maneira como a psicanálise buscava ajudar os seus pacientes, cuja natureza era pessoal
, confidencial e privada. A inclusão da família representava um radical rompimento com o
establishment da psicoterapia até então.
Foi somente em meados da década de 50 e início da década de 60 que o campo da
terapia familiar começou a tomar forma e suas idéias foram integradas em uma teoria
geral. Quando novos adeptos juntaram-se aos pioneiros, introduziu-se um trabalho clínico
sistemático caracterizado por um corpo de conhecimento bem aceito pelos centros
psiquiátricos com sua utilização no trabalho com qualquer tipo de desordem.
Um novo fenômeno foi surgindo após este período principalmente devido à ampla
divulgação e aceitação da terapia familiar. Um uso empírico desta abordagem por
terapeutas, cuja orientação teórica era individual, começou a se espalhar e uma variedade
de diferentes métodos, procedimentos e técnicas foram sendo usados aleatoriamente.
Estabeleceu-se um estado de caos que, por um lado, teve um aspecto saudável, porque à
medida que o terapeuta via os membros da família juntos, ele estava sendo confrontado
com um novo fenômeno clinico não explicado por uma teoria individual. Neste período,
também, a efervescência e a abundancia de pesquisas e construções teóricas, que
marcou o primeiro momento, foi dando lugar a produções teóricas que passaram a
enfatizar essencialmente a clinica.
A partir do final da década de 70, houve uma retomada nas preocupações com as
pesquisas e com o corpo teórico/clinico, impondo uma avaliação de conceitos previamente
estabelecidos e utilizados. Neste momento, decorridos trinta anos, já se tinha uma idéia da
eficácia de determinados métodos e técnicas de resultados duradouros ou não, através da
pratica de Follow up de casos.
Como diz Maria José Esteves, durante decênios (1950 a 1980), os “sistemas “-metáfora
usada para os grupos familiares - foram modelo importante no campo da terapia familiar
sistêmica, usando-se a analogia com a maquina cibernética. Com a mudança
paradigmática, tanto o sentido ou concepção cibernética do mundo, quanto o trabalho
Mony Elkain, um destacado terapeuta de família belga, criador dos conceitos de auto-
referencia e ressonância, acredita que as formas vivas são vulneráveis à mudança
principalmente quando se afastam do equilíbrio. Essa transformação, entretanto é
imprevisível. Assinala que, nos estados distantes do equilíbrio (Prigogine), a evolução de
um sistema está ligada, não a uma lei geral, mas a propriedades intrínsecas desse sistema
e suas singularidades. Estas podem provocar um estado instável, gerando os chamados
momentos singulares ou pontos de bifurcação, onde ocorrem, abruptamente,mudanças de
comportamento.
Elkain assinala: “no quadro da psicoterapia, não é a verdade ou a realidade que importa,
mas a construção mutua do real, o multiverso (Maturana e Varela). Pareamentos diferentes
fazem surgir mundos compatíveis. As soluções ligadas a essas construções são sempre
operatórias. Uma psicoterapia de sucesso significa, não que o terapeuta teve razão, mas
que a construção que ele edificou com os membros do sistema terapêutico é operatória”.
Um outro importante aspecto que destaco aqui é o de que a abordagem sistêmica tem
sistematicamente desafiado a crença de uma reificação da patologia na medida em que a
toma como circunstancial e vê o sintoma como uma oportunidade na busca de soluções
para o sofrimento psíquico.Novas praticas têm enfatizado o uso das possibilidades e
redefinições , ao invés de investigações detalhadas no porque de uma manifestação
patológica . Um bom exemplo disto é a Abordagem Narrativa de Michael White. Para ele,
as pessoas experienciam problemas quando as estórias contadas sobre suas vidas são
narrativas saturadas e não representam suficientemente as experiências vividas. Propõe
que a terapia se torne um processo de re-narração das estórias e experiências vividas,
sugerindo uma “externalização do problema (separar o problema da pessoa)”para que a
mesma se desidentifique com sua estória saturada de problema , não fique subjugada a
este discursos unitário sobre si mesmo, e novas narrativas comecem a ganhar mais
influências sobre suas vidas.
Uma tendência semelhante pode ser encontrada nas idéias de Processos Reflexivos de
Tom Andersen, que, ao propor que clientes, terapeutas e a equipe de consultoria troquem
Considerações Finais
O campo da terapia familiar sistêmica tem sido claramente um campo fértil e prolífero em
sua breve existência. Contribuiu e continua contribuindo com idéias inovadoras e com uma
abertura epistemológica e conceitual tanto no nível de interpretação de fenômenos
psicológicos, como no nível de utilização de recursos e técnicas psicoterapêuticas. Apartir
do final século xx, o surgimento das epistemologias pós-modernas construtivistas e a
cibernética de segunda ordem, mais “Batesonianas” que estratégicas, provocaram um
remolduramento do foco sistêmico, com uma abertura para a complexidade. Resgataram o
individuo e seu mundo interno ao mesmo tempo em que prosseguiram na leitura do seu
mundo externo e das relações. As noções clinicas tomaram,então, um novo rumo: O
cliente é o sistema organizado pelo o problema ,e o foco das intervenções e no sistema
significativo: pessoas,relações, idéias e significado conectados recursivamente ao
problema .A queda do mito do purismo e do unicismo teórico, favoreceu uma postura de
utilização de verso recursos teóricos e a inclusão do Self do terapeuta, atrás da auto-
referência ,ressonância e auto-reflexividade.Porém, como diz Luiggi Boscolo (1996), “...ter
uma posição não purista é diferente de fazer ecletismo ou risoto à milanesa... as teorias
são lentes e não camisas de força.”
Também na sua pratica de ensino e /ou formação, a terapia familiar sistêmica utiliza
habilidades e recursos diferenciados, como o uso do espelho unidirecional, supervisão ao
vivo, gravação de sessões para estudo e follow up e um constante trabalho com as
ressonâncias e auto- referências dos alunos em formação.
REFERÊNCIAS
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