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Julia Coelho

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Julia Richard Bicudo Coelho

ARQUITETURA SENSORIAL
O RELACIONAMENTO DOS SENTIDOS HUMANOS
COM AS CONSTRUÇÕES ARQUITETÔNICAS

Trabalho Final de Graduação


apresentado à Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Presbiteriana
Mackenzie como requisito à
obtenção do grau de Bacharel em
Arquitetura e Urbanismo

São Paulo
2019
ARQUITETURA SENSORIAL:
O RELACIONAMENTO DOS SENTIDOS HUMANOS
COM AS CONSTRUÇÕES ARQUITETÔNICAS
Julia Richard Bicudo Coelho

Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de


Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana
Mackenzie como requisito à obtenção do grau de Bacharel
em Arquitetura e Urbanismo

Orientadora: Prof. Dra. Gilda Collet Bruna


São Paulo, 2019
Membros da banca examinadora

Prof. Dr. Ana Gabriela Godinho Lima

Prof. Dr. Cristina Kanya Caselli Cavalcanti

Prof. Dr. Gilda Collet Bruna


Agradecimentos

Primeiramente, a Deus e Nossa Senhora Aparecida


que sei que nunca me desamparam e estão comigo em
todos os momentos de minha vida, não me permitindo
fraquejar em toda essa caminhada que foi tão difícil.
Aos meus avôs e bisavô, que de onde quer que
estajam, tenho certeza que sempre estão do meu lado,
acompanhando cada um dos meus passo, sendo meu
suporte e orgulhando-se das minhas conquistas.
À minha mãe, que é a pessoa a quem eu devo tudo
o que eu tenho hoje e mais um pouco, quem nunca me
desamparou, nunca me deixou desistir ou duvidou do
meu potencial, meu exemplo de mulher e ser humano.
À todos os meus familiares, pai, irmã, avós, tias e tio, por
também estarem ao meu lado em tantos momentos.
Aos meus amigos que passaram neste tempo
de faculdade, aos que foram e aos que ainda estão,
às meninas que sofreram todo esse tempo comigo
principalmente. À todos os professores que de alguma
forma contribuíram para o meu crescimento acadêmico.
A todos que passaram pela minha vida profissional e
contribuíram também para o meu aprendizado.
Aos meus orientadores de Projeto e Monografia
Heck e Gilda, que contribuíram bastante para a minha
formação neste final de curso e me auxiliaram sempre
que necessário para o desenvolvimento deste trabalho.

6
R e s u m o

O presente trabalho tem como objetivo principal


discutir a relação entre arquitetura e seus efeitos sobre
o ser humano e o ambiente em que está inserida.
Demonstrando de que maneira usuário, meio ambiente e
arquiteto podem interagir para fazer parte diretamente
de um projeto arquitetônico residencial tornando-o
mais agradável e confortável para seus habitantes.

7
S u m á r i o

1 Introdução 09

Arquitetura sensorial

2
2.1 Os cinco sentidos do corpo humano e suas 19
relações com o projeto arquitetônico

2.2 Usuários como foco: participar ativamente do 27


“fazer arquitetura”

2.3 Sensações e emoções: Suas produções 33


através de uma construção com o conforto desta
construção.

Arquitetura confortável
3.1 Significado de conforto arquitetônico e como 37

3
se aplica em edifícios habitacionais

3.2 Relação e interação entre ambientes construído 40


e seu entorno

3.3 Conforto e sustentabilidade: aspectos 42


essenciais para a produção de uma arquitetura
ambiental, física e psicologicamente confortável

8
Arquitetura confortável
4.1 Inserção urbana do objeto de projeto, leitura 45

4
do território e justificativa

4.2 Análise de edifícios residenciais existentes e 50


seus enfoques em conforto e sustentabilidade

4.3 Apresentação das intenções de projeto 69

4.4 O condomínio residencial projetado 71

5 Considerações finais 103

6 Lista de figuras 104

7 Referências 107

9
1. I n t r o d u ç ã o

A produção de edifícios habitacionais interações diretas e indiretas


visando somente os efeitos econômicos e entre homem, meio ambiente
esquecendo-se do ser humano que ali se e objeto construído, pode
instalará, é um tema que vem merecendo agregar maior qualidade
crescente atenção de um modo geral, devido e conforto, seja ele físico,
principalmente aos efeitos, positivos ou psicológico ou ambiental.
negativos, que o espaço arquitetônico pode
causar em cada indivíduo e a importância de se
considerar não só seu habitante, mas também
o local onde determinada arquitetura irá ser Arquitetura é em tudo
projetada. uma experiência sensorial
Desta forma, esta pesquisa pretende que envolve tato, envolve
compreender e exemplificar a produção de olfato, envolve aroma,
uma arquitetura sensorial, aquela que aguça e envolve sentidos que
reconhece os sentidos e sentimentos de seus nos fazem vibrar. (...)
usuários, considerando-o como protagonista Prédios e cidades são
direto de seu projeto, reconhecendo assim, mais do que blocos de
materiais, mesmo que
suas percepções, necessidades e emoções.
lindamente empilhados.
Desta forma, serão consideradas as relações de
São materialização
cada um dos cinco sentidos humanos (visão,
de conceitos, ideias e
tato, audição, olfato e paladar) com o edifício
sensações humanas e
construído, entendendo as consequências deste por isso mesmo, em tudo
espaço sobre os indivíduos e demonstrando uma experiência sensorial
que o planejamento de uma arquitetura é uma única.
situação comercial, mas que ao considerar as (LEITÃO, 2011)

10
A arquitetura habitacional, principal foco Visto isso, iniciou-
deste trabalho, deve então, ser além de um se a busca por projetos
espaço comercializável para morar, um local arquitetônicos, já existentes,
que considere a harmonia, o relacionamento e que considerem toda essa
até mesmo as necessidades de seus residentes questão sensorial e perceptiva
e do próprio local onde se instala, de forma já citada. O primeiro
que valorize o planejamento, com o esforço de contato em tal campo de
adequar-se à questão social e ambiental de onde conhecimento, foi com as
se está projetando. O projeto arquitetônico é um obras de Tadao Ando, autor
espaço composto por sentimentos e memórias de projetos arquitetônicos
e tal composição deve ser uma consequência renomados, que tem grande
de todos os princípios e convicções tanto de facilidade em identificar
quem o idealiza, como de quem ali estará, uma e explorar as texturas de
mistura entre físico, psicológico e espacial, materiais e seus efeitos
considerando os sentidos, sensações, ideais e sobre o local e seus usuários,
percepções dos seres humanos. além de sempre considerar a
influência e sensibilidade da
luz natural em seus espaços
Nos últimos anos tivemos alguns projetados e as questões
agravantes. David Harvey, professor da ligadas à natureza que rodeia
Universidade de Nova York, explica que o suas construções, aliando
capitalismo vem sendo cada vez menos sempre a estética minimalista
produtivo e cada vez mais especulativo, com a humanização da
e os capitais estão indo no sentido arquitetura que produz. Ando,
de investir na cidade, mas de forma muito conhecido por suas
especulativa. Nesse sentido, a moradia construções em concreto,
foi virando uma commodity, um item de consegue como ninguém
investimento (...) A cidade deixou de ser trazer leveza e suavidade para
só o lugar dos negócios e passou a ser o seus conjuntos, misturando tal
negócio: a cidade é um negócio. elemento bruto com outros
(COMARÚ, 2018) naturais, proporcionando às

11
pessoas certa coexistência com o ambiente um novo ritmo à construção
natural já existente. já que se contradiz com as
formas retilíneas existentes
ali, mas novamente utilizando-
Quando projeto edifícios, penso tanto se da natureza o arquiteto
na composição global como nas partes “tece o seu caminho entre
de um corpo e como estas se encaixam. as estruturas de concreto,
Além disso, penso em como as pessoas enquanto a parede curva se
se aproximam da construção e a ex- estende desde o edifício para
periência deste espaço… Se oferecemos definir o espaço exterior”1
às pessoas o nada, elas podem refletir
sobre o que pode ser feito a partir do
nada.
(ANDO, 2015)

Partindo, então, para suas obras,


considerou-se estudar as que mais
assemelhavam-se com a proposição final
de projeto deste trabalho. A primeira delas é
a Casa Koshino (Ashiya-shi, Japão - 1984),
formada por dois volumes retangulares de
concreto que estão parcialmente enterrados.
Foi projetada e implantada com muito zelo para
que não desfigurasse a paisagem já existente.
A volumetria e aberturas foram pensadas
1. METCALF, T. “Clássicos da
para manipular a luz de modo lúdico, fazendo Arquitetura: Casa Koshino/Tadao Ando”
com que nos espaços interiores existam [25 Jan 2017]. São Paulo: ArchDaily
efeitos complexos e diferenciados através dos Brasil. Entrevista concedida a Begoña
cruzamentos de luz e sombra. Alguns anos Uribe. Disponível em: < https://www.
archdaily.com.br/br/804046/classicos-
após a construção, Ando propôs uma adição ao da-arquitetura-casa-koshino-tadao-
projeto, desta vez em forma curva, o que inicia ando>. Acesso em 9 outubro 2018

12
Figura 1 Casa
Koshino de Tadao
Ando. Fonte:
Archdaily (2017)

13
Figura 2 Casa
Koshino de Tadao
Ando. Fonte:
Tov Arquitectos
(2014)

14
Outra referência utilizada durante os Pode ser que seja minha
estudos, foi a Casa em Toyonaka (Toyonaka, percepção, mas creio que
Japão - 2015) do Estúdio Tato Architects, o espaço arquitetônico
fundado por Yo Shimada. O projeto em questão, gradualmente se torna
reproduz a essência principal do escritório, de estático quando elementos
seguir as vertentes do minimalismo, criando aditivos são reduzidos
espaços que muitas vezes não são óbvios, mas para serem percebidos
bastante acolhedores e colocando em prática como ‘abstratos’. Isso
a “abstração dinâmica”, definição criada pelo também se aplica nas
próprio Shimada, que refere-se a uma situação várias atividades humanas,
quando a redução dos
onde projeto arquitetônico, propriedades dos
objetos parecem negá-los.
moradores, paisagem circundante e volumes
(SHIMADA, 2016)
empilhados deslocando-se, funcionem com
uma coisa única. A forma é composta por três
pavimentos em volumes horizontais, sendo
dois acima do solo e divididos em sete camadas
que criam uma aparência plissada exterior e
um subsolo, que busca criar uma relação entre
lajes e elementos secundários, permitindo
que a construção e suas atividades internas
funcionem normalmente, mas ao mesmo
tempo os objetos pareçam estar flutuando.
Foram criados também beirais e plataformas
niveladas com o intuito de expandir os limites da
residência, estratégia utilizada para adaptar-se
ao terreno estreito com suas regulamentações
e utilizados revestimentos brancos, permitindo
maior relacionamento com espaço externo e ao
mesmo tempo protegendo o espaço interno.

15
Figura 3 Casa em
Toyonaka de Yo
Shimada. Fonte:
Archdaily (2017)

16
Figura 4 Corte
perspectivado. Casa
em Toyonaka de Yo
Shimada. Fonte: Tov
Arquitectos (2017)

17
A Casa do Lago (Rio Grande do Sul, Brasil suas limitações e “trazê-los
- 2009), do Escritório Stemmer Rodrigues, para dentro” da habitação.
também foi objeto de estudo e referência para A forma da casa é composta
as produções, por se preocupar em atender as por um jogo de volumes
necessidades da família que ali se instalaria e cúbicos e foi pensada de
desejava um ambiente tranquilo, com espaços maneira que permita grande
amplos, transparentes e que permitisse total permeabilidade visual para a
integração da construção com os elementos praia, através da criação de
naturais disponíveis em seu entorno (Lago espaços grandes e abertos,
Guaíba e mata nativa), buscando respeitar com pouquíssimos móveis

Figura 5 Casa do
lago de Stemmer
Rodrigues. Fonte:
Archdaily (2013)

18
e acessórios e uma combinação entre cheios
e vazios proporcionados pelas aberturas em
vidro. O diálogo entre os materiais também
promove uma determinada integração entre
áreas externa e interna, utilizando em ambos os
espaços a mesma composição de revestimento Figura 6 Casa do
(paredes de concreto pintadas de branco, lago de Stemmer
lâminas de pedra e réguas de madeira), o que Rodrigues.
confere identidade para a construção. Fonte: Stemmer
Rodrigues

19
A seguir, ao longo de todo o trabalho, serão
discutidas mais afundo questões essenciais para
a produção de uma arquitetura residencial que
leve em consideração as diversas necessidades
que a rodeiam, proporcionando espaços
confortáveis, aconchegantes e tranquilos para
seus usuários.
O capítulo inicial trata a questão dos
sentidos humano e como suas sensações
e percepções podem influenciar no fazer
arquitetura, como tal arquitetura pode ser
adaptada através das considerações e
importâncias do arquiteto que a projeta, para
tornar-se capaz de entender e respeitar as
necessidades e desejos de seus usuários.
Em seguida, durante o segundo capítulo,
serão discutidas as principais interações entre
meio ambiente, espaço arquitetônico e ser
humano e como todos podem ser atendidos de
maneira eficiente para produzir uma arquitetura
que seja confortável e sustentável ao mesmo
tempo.
Por fim, o último capítulo, apresentará
a proposição projetual de um condomínio
residencial para policiais militares, dentro dos
limites de um terreno da corporação, que busca
atender todas as questões tratadas ao longo
da pesquisa de maneira eficiente para um bom
relacionamento entre moradores, arquitetura e
meio ambiente onde se instala o projeto.

20
2. A r q u i t e t u r a S e n s o r i a l

2.1 Os cinco sentidos do corpo humano e


suas relações com o projeto arquitetônico

A relação entre arquitetura como obra conscientes ou inconscientes,


construída e suas consequências e efeitos sobre que o fazem pertencer ao
o corpo humano é uma questão que passou a ser espaço em questão. Tal
discutida por diversos pensadores e arquitetos, espaço arquitetônico sensível
onde parte deles acredita que algum sentido em é então, formado por uma
específico é o mais importante e influenciado série de elementos objetivos,
pela construção, enquanto outros acreditam presentes frequentemente em
que tal influência se da através da união de nosso dia-a-dia, que fazem
todos os sentidos. Porém, independente de parte das edificações e do
sua posição, o que não se pode negar é que meio ambiente em geral, e
o corpo humano funciona como o centro de quando reunidos resultam
tudo e suas sensações, percepções e emoções em um espaço sensorial e
são o que reforçam a existência e intensificam perceptivo, que possibilita
a vida, fazendo com que todos sintam-se parte diversas maneiras de interação
d mundo em que vivem. entre a arquitetura construída
Os sentidos são o que ligam os seres e o ser humano.
à realidade do mundo existente e através de
estímulos externos podem perceber e interpretar
o ambiente que os cerca e suas variáveis.
Desta forma, tornando cada indivíduo capaz
de atuar neste meio externo através de ações,

21
A realidade não é
percebida tão somente
pela objetividade das
características exteriores,
mas também pela
subjetividade.[...]só temos
a ideia de realidade se a
influência dos sentimentos
e das emoções formar
princípio das ações
humanas
(OKAMOTO, 2014, p. 68)

A visão muitas vezes é colocada como o sentido mais Figura 7 Espaço


importante ao considerar-se as percepções do ser humano sobre arquitetônico
a arquitetura, seguida pela audição, o que acontece por serem como resultado
do espaço
considerados os mais evoluídos sentidos e estarem diretamente
perceptivo.
ligados ao órgão mais complexo e importante do corpo
humano, o cérebro. Os demais sentidos, apesar de não menos
importantes, possuem menor grau de evolução se comparados
aos anteriores e por isso são por diversas vezes colocados em
segundo plano nesta questão, o que pode ser explicado pelo
fato de estarem relacionados à órgãos mais ligados aos apetites
físicos do ser humano e por isso considerados sentidos mais
viscerais.

22
[...] pesquisas empíricas revelam que, provavelmente devido a
razões de especialização evolutiva, 75% da percepção humana,
no estágio atual da evolução, é visual. Isto é, a orientação do
ser humano no espaço grandemente responsável por seu poder
de defesa e sobrevivência no ambiente em que vive, depende
majoritariamente da visão. Os outros 20% são relativos à
percepção sonora e os 5% restantes a todos os outros sentidos,
ou seja, tato, olfato e paladar.
(SANTAELLA, 1998, p. 11)

Porém, independente desta escala de outros no sistema nervoso”2.


evolução citada, acredita-se que todos os A partir disto, analisaremos
cinco sentidos têm sim sua determinada um a um dos cinco sentidos
importância sobre as construções, mas no existentes nos seres humanos e
fim, um deve ser complemento do outro para suas relações e consequências
produzir e fazer valer as experiências humanas principalmente sobre os
daquele local. Cada um com sua especificidade objetos arquitetônicos.
e propriedade faz parte da relação citada, mas
todos juntos são capazes de produzir sobre
uma pessoa, diversas reações e emoções e
contribuir para que a arquitetura produza
experiências multissensoriais em seus
usuários. Visão, audição, tato, olfato, e paladar
são considerações indispensáveis tanto no
produzir arquitetura, quanto no usufruir de uma
arquitetura e seus espaços projetados, assim
como citado por Jun Okamoto em seu texto, 2. OKAMOTO, Jun. Percepção
ambiental e comportamento:
“Todos os sentidos trabalham conjuntamente, visão holística na arquitetura e na
expandindo e limitando as funções uns dos comunicação. 2. ed. São Paulo: Editora
Mackenzie, 2014. p.38

23
A visão, ainda é considerada
Figura 8 Os cinco nos tempos atuais o mais
sentidos relacionados importante sentido para as
ao sistema nervoso. considerações sobre determinada
Fonte: 2nd Marketing arquitetura, o que explica-se
Digital (2019) com o fato de que, além de
ser dentre todos os sentidos
o que mais foi estudado e
especializado ao longo do tempo,
permitindo grandes criações que
possibilitam o aumento de sua
complexidade e são “poderosos
meios ou extensões do sentido
visual”3, também é responsável
desde o início de nossas vidas
por “enxergar a configuração de
tudo ao nosso redor e reconhecer
imediatamente se algo constitui
perigo ou se afeta nossa
sobrevivência”4. Porém mesmo
considerando-a mais importante
e estruturadora perante as
demais, não podemos considerá-
la como elemento único ao se
projetar uma arquitetura, visto
que a composição de sensações
e experiências é resultado de
3. SANTANELLA, Lucia. A percepção: uma teoria um conjunto de elementos e
semiótica. 2. ed. São Paulo: Experimento, 1998. p.12
4. OKAMOTO, Jun. Percepção ambiental e
consequentemente um conjunto
comportamento: visão holística na arquitetura e na de sentidos.
comunicação. 2. ed. São Paulo: Editora Mackenzie,
2014. p.82

24
A predileção pelos olhos nunca foi tão tecnologias e até mesmo aos
evidente na arte da arquitetura como “processos de produção de
nos últimos 30 anos, os quais tem linguagens que a humanidade
predominado um tipo de obra em busca foi criando ao longo de sua
de imagens visuais surpreendentes e existência”6. É, portanto, um
memoráveis. Em vez de uma experiência sentido importante no para
plástica e espacial embasada na a arquitetura, pois “estamos
existência humana. sempre ouvindo o fundo
(PALLASMA, 2011, p. 29) sonoro ambiental com o qual
estamos sintonizados”7 e sem
o som muitas coisas perdem
Tal sentido é também o que relaciona-se
totalmente a coerência,
mais diretamente ao campo estético, por ser
desta forma a arquitetura é
o sentido que permite às pessoas observar e
também muito importante
qualificar qualquer objeto, de acordo com seus
para os sentidos auditivos
gostos, memórias e pensamentos, mas também
e algo essencial para o
pode ser aquele que dentre todos mais afaste
entendimento dos sons, pois
seus usuários da realidade do mundo. Segundo
suas formas e materialidades
Juhani Pallasmaa5, existem dois tipos de visão
são as principais responsáveis
que podem distinguir a maneira como se
por reverberar ou ecoar, cada
enxerga qualquer composição arquitetônica, a
uma a sua maneira, tudo o que
visão periférica e a visão focada. Para o autor a
existe de audível no espaço.
primeira é muito mais importante, pois retrata
a realidade e nos integra ao espaço projetado, 5. PALLASMAA, Juhani. Os olhos
enquanto a segunda nos afasta desta realidade da pele: a arquitetura e os sentidos.
e consequentemente do espaço em questão. Porto Alegre: Bookman, 2011
6. SANTANELLA, Lucia. A
A audição, também é um sentido que
percepção: uma teoria semiótica. 2. ed.
na escala evolutiva foi desenvolvendo-se e São Paulo: Experimento, 1998. p.13
criando certa complexidade ao relacionar o 7. OKAMOTO, Jun. Percepção
corpo humano com mundo exterior, possuindo ambiental e comportamento:
visão holística na arquitetura e na
também muitas criações inovadoras produzidas
comunicação. 2. ed. São Paulo: Editora
graças ao desenvolvimento das ciência e Mackenzie, 2014. p.96

25
Cada prédio ou espaço tem seu cada pessoa e também do
som característico de intimidade ou entendimento das formas
monumentalidade, convite ou rejeição, que por qualquer motivo não
hospitalidade ou hostilidade. Um espaço
podemos enxergar.
é tão entendido e apreciado por meio
de seus ecos como por meio de sua
forma visual, mas o produto mental da
percepção geralmente permanece como
uma experiência inconsciente de fundo. Tateamos tudo: os
(PALLASMA, 2011, p. 48) olhos, os cheiros, os
sabores, as formas.
A pele sob diversas
O tato, por sua vez, também bastante formas (seja ela fina,
importante para os usuários, é um sentido muito grossa, transparente,
funcional, que auxilia a visão e audição e pode opaca, áspera, lavável
substituí-las eficientemente caso necessário, ou flexível), cobre todo
nosso corpo e penetra
além de estar ligado ao órgão que permite
neste por todos os
às pessoas entenderem e experimentarem o
orifícios.
mundo em que estão inseridas, integrando tal
O toque nas superfícies
experiência de mundo com a individualidade de
nos dá a sensação de
cada ser. O laço de identidade entre pele, tocar interioridade do objeto.
e lar, traz para qualquer pessoa o sentimento As impressões de liso,
de “estar em casa”, apenas ao tocar algo que áspero, rugoso são
lhe agrade e faça parte de sua história de vida. sentidas dentro de nós.
Voltando a Juhani Pallasmaa8, que acredita que O fato de sentir o tato
tal sentido e suas variantes são o que permitem é que define o nosso
à seus usuários viver direta e intensamente a corpo com relação ao
maioria das experiências sensoriais de um meio circundante. É uma
espaço arquitetônico, entende-se a importância forma de nos sentirmos
do toque nas diversas texturas existentes que vivos. (OKAMOTO, 2014,
causam reações especiais e diferenciadas em p. 95)

26
O olfato, além de ser um dos mais Já o paladar, mesmo
importantes sentidos para a vida, pois é o único sendo nosso primeiro sentido
sentido que não podemos “fechar”, já que a desenvolver-se quando
está diretamente ligado a respiração e parar ainda bebês e o último a ser
de respirar causaria nossa morte, é também esquecido quando idosos, é
o que possui maior relacionamento com a talvez, em relação aos demais
memória das pessoas, visto que o que mais se o que menos possamos
mantém guardado em nosso subconsciente relacionar ao desenvolvimento
são os cheiros que sentimos ao longo da vida, arquitetônico e suas relações
estando relacionado não só às lembranças diretas de sensação com o
de acontecimentos, mas principalmente de ser humano, por ser ainda
emoções, “com a memória do olfato, gravamos um sentido vago, difuso e
imagens que permanecem por muito anos, primitivo, muito vinculado à
às vezes por décadas, fixadas indelevelmente questão visceral do corpo,
em nossa mente sem perda de detalhes”9. Por já citada anteriormente. Mas
muitas vezes uma pessoa acaba se esquecendo como está relacionado ao
de determinadas características de um local ato de comer que, por ser
ou de outra pessoa, mas basta sentir qualquer considerado um ato social,
odor que lhe seja característico, que muitas pode ser relacionado ao
memórias, percepções e até sensações do convívio e interação entre
passado voltam à tona, como se esta nunca as pessoas dentro de uma
tivesse se esquecido de nada e pudesse reviver arquitetura existente, trazendo
aquilo que um dia foi realidade. à tona certo relacionamento

Os cheiros atraem, repelem, excitam,


causam ojeriza ou repulsa nas pessoas. 8. PALLASMAA, Juhani. Os olhos
Generalizando, também se pode dizer da pele: a arquitetura e os sentidos.
isso de um ambiente. É a primeira Porto Alegre: Bookman, 2011
9. OKAMOTO, Jun. Percepção
impressão de compatibilidade. Pelo olfato
ambiental e comportamento:
estabelecemos o contato efetivo com o visão holística na arquitetura e na
mundo, sem necessidade de intérprete comunicação. 2. ed. São Paulo: Editora
(OKAMOTO, 2014, p.87) Mackenzie, 2014. p.8

27
deste sentido com o ambiente que o cerca.
Dificilmente alguma pessoa sente prazer em
comer sozinha, na maioria dos casos prefere-
se estar com outras pessoas, conversando e
compartilhando momentos agradáveis, além
das experiências com novos ou já conhecidos
sabores, traduzindo então sensações que
possam refletir em um espaço construído.

A visão também se transfere ao tato; certas cores e


detalhes delicados evocam sensações orais. Uma superfície de
pedra polida de cor delicada é sentida subliminarmente pela
língua. Nossa experiência sensorial do mundo se origina na
sensação interna da boca, e o mundo tende a retornar às suas
origens orais. (PALLASMA, 2011, p. 56)
[...] o cotidiano do ser humano está também associado
ao paladar. A criança pratica por instinto o ato de mamar. Tudo
leva à boca, pois o paladar é o primeiro sentido que desenvolve.
A refeição está sempre ligada a um bom e carinhoso convívio
com os outros, para a apreciação das delícias gustativas.
(OKAMOTO, 2014, p. 89)

28
2.2 Usuários como foco: participar
ativamente do “fazer arquitetura”

Atualmente, a indústria tem de certa forma


banalizado a arquitetura, afastando-a de toda a Na cultura ocidental, a
parte emocional, enfraquecendo a valorização visão do meio ambiente
dos sentidos, a conexão e a participação do é geralmente direcionada
ser humano em suas produções. Muitos dos por grande objetividade
novos empreendimentos imobiliários, tem racional. Tudo é
racionalizado, justificado,
esquecido que os usuários não são apenas
catalogado. Esses aspectos
meros espectadores de suas construções, mas
de realidade exterior, em
pertencerão àquele espaço que está sendo
que se destacam as coisas
projetado e sua satisfação deve ser o objetivo
e as pessoas como objeto
principal do planejamento espacial. As cidades de estudo e atendimento
passaram a ser apenas uma coleção de edifícios as necessidades materiais,
com diversas finalidades e usos, construídos têm colocado em segundo
apenas para atender às funcionalidades e ao plano aspirações, como
status social e preocupando-se essencialmente sentimento, emoção e
com as questões formais e estéticas da afetividade em relação
construção. Tornando aspirações, sentimentos, ao meio ambiente, como
percepções e emoções dos usuários, como uma tênue ligação com o
elementos meramente secundários e sem tanta topos (sentido de lugar).
importância para a concepção arquitetônica. (OKAMOTO, 2014, p.9)

29
Figura 9 Cidades e
construções extremamente
impulsionadas pela razão
e racionalização da forma -
Le Corbusier (1922). Fonte:
Coisas da arquitetura (2010)

30
O fazer arquitetura deve levar sempre em que não se assemelha a de
consideração a ideia de acomodar e integrar, mais ninguém. Assim como os
produzindo então significados para os espaços valores, crenças, costumes e
que estão sendo criados, não apenas ser abrigo cultura de cada comunidade
para as necessidades básicas e utilitárias também é algo que influencia
do homem. As emoções, pensamentos e na maneira como os usuários
sensações dos usuários de uma construção, entenderão e irão usufruir
estão diretamente relacionados à produção de determinada arquitetura
destes espaços, assim como o espaço também e precisa ser considerado ao
ajuda as pessoas a criar suas percepções e se projetar. Um espaço criado
sentimentos. Uma arquitetura, no entanto, não para japoneses, por exemplo,
é influenciada apenas por seus usuários, visto não pode ser igual a um espaço
que também é projetada por seres humanos e para italianos, pois cada um
portanto, carrega sentimentos e experiências tem suas peculiaridades e
daqueles que a projetaram. especificidades na forma de
viver e agir.
Uma arquitetura
[...] na realidade da imaginação
arquitetônica e na realidade dos edifícios, doméstica deve ser elaborada,
existe o conteúdo: são os homens que de forma que não apenas
vivem os espaços, são as ações que neles permita habitá-la, mas que
exteriorizam, é a vida física, psicológica, ao mesmo tempo saiba
espiritual que decorre neles. O conteúdo domesticar o tempo, fazendo
da arquitetura é o seu conteúdo social. com que seus habitantes além
(ZEVI, 2002, p. 186) de relembrarem o passado,
possam construir memórias
que levarão consigo por
Cada pessoa, porém, reage aos estímulos toda a vida, e que também
de uma arquitetura de maneira diferente, isto serão parte desta arquitetura
se da pois suas reações dependem muito de destacada. Ao presenciar e
suas vivências, experiências e memórias, desta viver uma arquitetura, o corpo
forma, cada um tem sua maneira única de agir que carrega junto consigo

31
suas histórias e experiências, ao relacionar- [...], uma obra de
se com ela permite que seus usuários tenham arquitetura gera um
contato direto com suas memórias, fantasias todo invisível de
e sonhos de todos os tempos vividos ou a se impressões. O encontro
viver, trazendo em si como algo indispensável ao vivo com a Casa da
passado, presente e futuro. Cascata, de Frank Lloyd
Uma construção não deve apenas Wright, funde em uma
responder aos questionamentos e necessidades experiência totalizante
do momento ou de seus atuais e futuros e única a floresta
usuários, mas deve também lembrar-se do do entorno com os
volumes, as superfícies,
passado daquele local e daquelas pessoas que
as texturas e as cores da
já estiveram ali em algum momento da história,
casa, e até mesmo com
demonstrando que a memória corporal e
os aromas da floresta
a memória do lugar são indispensáveis às
e os sons do rio. Uma
considerações de um arquiteto que fará obra de arquitetura
qualquer proposição diferente do que já não é experimentada
exista ali. Uma obra porém, não pode ser como uma coletânea
totalmente transparente, ou seja, não pode de imagens visuais
deixar transparecer tudo o que ali aconteceu, isoladas, e sim a sua
nem representar todas as diversas lembranças presença material e
e histórias de seus usuários, apesar de carregar espiritual totalmente
todas as memórias que lhe são indispensáveis, corporificada. Uma obra
precisa também manter alguns de seus de arquitetura incorpora
segredos, para estimular a emoção, imaginação e infunde estruturas
e reação de seus novos habitantes e usuários. tanto físicas quanto
mentais.
(PALLASMAA, 2011, p.
42)

32
Figura 10 A experiência de uma pessoa dentro de
Trabalho de um espaço arquitetônico não pode mais ser
iluminação algo meramente estético, precisa ser melhorada
criando cenários
de forma que produza sensações e emoções
que ajudam
a despertar positivas relacionadas a este espaço físico. A
diversas arquitetura está presente em todo lugar, em
sensações e todos os ambientes que passamos ao longo de
percepções. nossas vidas, e por isso não pode ser apenas
Fonte: Lugar uma coisa agradável esteticamente aos olhos,
Certo (2016) deve prezar por uma ligação com sensações
boas para seus usuários, como felicidade,
tranquilidade, satisfação e não desconforto ou
descontentamento com o ambiente produzido.

33
A produção de tais sensações e percepções
em um ambiente é de responsabilidade do
arquiteto que produz o espaço, quando
a arquitetura é pensada de maneira que
considere seus habitantes e aquele local em
quem se instala, carregando todas as suas
memórias e percepções, ela torna a experiência
do usuário em um espaço mais completa, o
que faz com que as pessoas valorizem mais o
projeto arquitetônico, desta forma conseguem
relacionar-se mais profundamente com o
mundo que a circunda, permitindo também
uma troca de experiências entre tal usuário e o
ambiente em que se insere.

A arquitetura vai além do abrigo das


necessidades e atividades. Trata-se de um
meio de favorecer e desenvolver o equilíbrio,
a harmonia e a evolução espiritual do
homem, de modo a satisfazer aspirações,
acalentar sonhos, instigar emoções de se
sentir vivo, desenvolver um sentido afetivo
em ao locus e ao topos
(OKAMOTO, 2014, p.14)

34
2.3 Sensações e emoções: Suas
produções através de uma contrução
com o conforto desta construção

O desenvolvimento mundial avançado,


trouxe à tona uma grande evolução da área À elegância das formas
arquitetônica também, implantando novas nem sempre correspondia
máquinas e tecnologias que auxiliam de diversas a elegância das soluções
formas nesta produção, como os avançados técnicas; à aparência de
e complexos programas de computador, que engenharia, nem sempre
facilitam e racionalizam qualquer produção sua racionalidade. As
projetual. Porém tal desenvolvimento, pretensas máquinas
abordando-se pelo ponto de vista sensorial de morar e trabalhar
de uma arquitetura, não é muito benéfico para dependiam de portentosos
esta produção, visto que muitas essências e sistemas de climatização,
ideias do arquiteto podem acabar se perdendo que eram menos integrados
e tornando a construção diferente do esperado. aos edifícios ocultos entre
paredes, pisos e forros
falsos. (SCHMID, 2005, p.11)

35
Atualmente as construções tem se tornado, de certa forma,
superficiais, pois a importância de sua materialidade tem sido
enfraquecida por não ser mais um foco direto do planejamento
projetual. O uso desenfreado de materiais translúcidos, por
exemplo, pode não ser um fato completamente agradável em
uma construção ao pensarmos na questão de percepções e
sensações, visto que este material não permite a imaginação ou
indagação do que acontece através dele, o que pode muitas vezes,
resultar em certa alienação e irrealidade para seus usuários. Os
materiais naturais, que além de agregar muito valor, praticidade
e até mesmo maior sustentabilidade à uma arquitetura, também
trazem consigo parte de uma história com valores e experiências,
têm sido rejeitados em prol da utilização de novos materiais mais
tecnológicos e desenvolvidos industrialmente, que muitas vezes
são inflexíveis aos olhos e acabam empobrecendo a produção de
memórias e sensações daquele espaço construído.

Figura 11
Combinação
de elementos
naturais com
materiais mais
desenvolvidos,
mostrando
que pode-se
atingir certo
equilíbrio.
Fonte: Lugar
Certo (2016)

36
O projeto arquitetônico, precisa ser Com isso, a iluminação,
idealizado, não só como um mero objeto cores e disposições de objetos,
instalado e adaptado a um local já existente, a também são itens importantes
arquitetura deve ser uma extensão da natureza, que precisam ser considerados
integrando-se totalmente à ela e desta forma, ao se produzir uma arquitetura.
trazendo aos seus usuários as bases para Iluminações muito fortes
percepção, experimentação e compreensão do acabam rompendo com a
local onde está se instalando. A qualidade dos interioridade do espaço e de
espaços produzidos por uma arquitetura para seus usuários, pois fazem com
quem a habita deve ser sim mais importante do que a privacidade de cada um
que sua aparência e seus aspectos tecnológicos, seja exposta, rompendo com
ao construirmos, como arquitetos precisamos a individualidade que deve
considerar a estética como um todo, mas nunca se distinguir deste espaço e
nos esquecer de considerar o ser humano, suas do mundo em que se instala.
vontades e necessidades e os efeitos sensíveis Revestimentos, texturas,
que aquele espaço causará. aberturas, entre outros, fazem
parte de detalhes que são
importantes para a concepção
de um ambiente projetado e
Hoje não é suficiente apenas a discussão são diretamente responsáveis
sobre o espaço euclidiano dos ambientes, de pela produção de emoções e
seus acabamentos, mas também a existência
sensações. Cores mais claras,
de qualidades que venham a atrair e a tocar
como branco, azul e cinza,
a sensação de conforto, de acolhimento,
por exemplo, podem remeter
atendendo às dimensões psicológicas do ser
a uma sensação mais fria
humano, propiciando o sentimento de prazer
nos locais de atividade de sua existência, e refrescante, enquanto as
desenvolvendo o sentido afetivo ou a ligação mais fortes, como amarela,
prazerosa que enseje a permanência no local. vermelho e tons de madeira,
(OKAMOTO, 2014, p.168) remetem ao quente e
ao aconchego. É preciso
entender e saber combinar

37
todos esses elementos, para que em conjunto
possam transformar as experiências e registrar
memórias em seus usuários.

Além de sequencial e contínuo, o espaço


é texturizado, proporcionado, trabalhado
para conter todos os estímulos que
tocam os nossos sentidos, possibilitando
a leitura do espaço simbólico, cujo
significado orienta nossas atividades e
dá sentido à vivência social.
(OKAMOTO, 2014, p.101)

38
3. A r q u i t e t u r a C o n f o r t á v e l

3.1 Significado de conforto arquitetônico e


como se aplica em edifícios habitacionais

A ideia de conforto em arquitetura, é


uma questão bastante discutida atualmente
A casa acolhe. Atende
e que depende de muitos fatores e variantes a um conjunto de
para ser atingido. Um projeto arquitetônico, necessidades básicas
como já citado anteriormente, para ser de segurança,
confortável, precisa levar em consideração não envolvimento,
só as interações da construção com o meio orientação no tempo
ambiente, mas também as questões físicas e, principalmente, no
e psicológicas que envolvem o ser humano, espaço. É como se
aquele que habitará tal espaço construído. oferecesse consolo
Um projeto habitacional, não pode ser um interminável ao ser
mero conjunto de indagações técnicas e humano, lançado no
especulações imobiliárias que resultem em um mundo. E na casa,
edifício, mas sim algo que priorize seus usuários a qualidade mais
e tenha como principal vertente a qualidade de importante parece ser
vida de quem o habitará, buscando atender o conforto. (SCHMID,
questões como segurança, saúde e bem-estar 2005, p. 13)
da população.

39
O conforto em uma arquitetura, está Ao Modernismo faltava
ligado então, à uma questão básica de uma especificidade
proporcionar aos assentamentos humanos geográfica, ao menos
todas as condições necessárias para que o para considerar que
espaço projetado seja habitável, utilizando- diferentes climas,
se dos recursos disponíveis naquele local. Um paisagens e culturas
projeto arquitetônico confortável deve atender requerem diferentes
às necessidades e condicionantes do território propostas, por vezes
onde se instala, sejam elas sociais, culturais, diferentes conceitos de
econômicas ou do meio ambiente natural. edifícios. Como franca
oposição aos resquícios
Para isso, toda a evolução de um projeto
do Modernismo, nomes
deve compreender estudos das condições
distintos foram aplicados
térmicas, acústicas, luminosas, energéticas e
para ideias basicamente
da população à quem se destina a construção
similares: como
idealizada. arquitetura bioclimática,
Com o desenvolvimento econômico atual arquitetura passiva e,
as construções têm se tornado qualitativamente mais recentemente,
inferiores em prol de rapidez e baixo custo. Com arquitetura sustentável.
isso o ser humano e o meio ambiente passam (SCHMID, 2005, p. 12)
ao segundo plano, tornando tais arquiteturas
grandes equívocos, por esquecerem-se da
importância que a relação entre estes dois tem Um ambiente, porém, não
quando se trata de conforto e sustentabilidade pode atender as condições
arquitetônica, assuntos que também estão de conforto de todos os
crescendo e tomando suas devidas proporções seus habitantes, visto que
atualmente. cada corpo reage de maneira
individual aos diferentes
estímulos provocados por
uma arquitetura. Uma luz
mais fraca, por exemplo,
pode tornar um espaço mais

40
aconchegante e agradável para uma pessoa, temperatura, incidência solar,
enquanto para outra pode tornar o espaço intensidade sonora, entre
desagradável e escuro. Antigamente sinônimo outros.
de conforto em uma residência, eram janelas
pequenas cobertas por cortinas, trazendo
maior sensação de aconchego para seus Conhecer as condições
moradores, já nos tempos modernos, com o ambientais e visitar o
crescente desenvolvimento de novas técnicas local do projeto são
arquitetônicas, muitos habitantes sentem-se fundamentais para se ter
confortáveis em casas com aberturas maiores, uma noção correta de
onde a incidência de iluminação natural é maior, todas as particularidades
trazendo a sensação de diálogo com o meio como percepção dos
ambiente. ventos, percurso do
Com o Modernismo, a funcionalidade e sol, ruídos acústicos e
racionalidade passaram a ser exigências ao vegetação, por exemplo.
Posteriormente, com
se fazer arquitetura, porém na construção
as simulações feitas
de habitações não se pode esquecer que o
em softwares a partir
principal e mais nobre uso é o do repouso,
dos dados obtidos
portanto no anseio de obter-se uma residência
no local, temos como
confortável, a racionalização pode sim ser ter uma visão bem
colocada em prática, mas com certo cuidado, próxima da realidade e,
não esquecendo-se que aquela arquitetura assim podemos fazer
será o lar de alguém e que precisa estar os ajustes necessários
disponível a atender às diversas necessidades antes que a obra seja
que possam existir. O conforto ambiental surge executada. (ARAÚJO,
então, para “resgatar a arquitetura enquanto 2018)
abrigo”10, buscando somar diversas interações
da construção com a natureza e adaptar tal
construção para os efeitos que este ambiente 10. SCHMID, Aloísio Leoni. A ideia
pode causá-la, levando em consideração de conforto: reflexões sobre o ambiente
diversos elementos como: umidade, construído. Curitiba: Pacto Ambiental,
2005. p. 14

41
3.2 Relação e interação entre ambiente
construído e seu entorno

Já há algum tempo, com a criação e Uma construção, precisa


desenvolvimento do computador e de novas sempre considerar o local
tecnologias, como já citado anteriormente, de que está se apropriando,
muitos arquitetos têm projetado sem ao menos tudo precisa ser muito bem
conhecer o território onde estarão inserindo estudado e discutido. O local
suas construções, consequentemente sem deve ter todas as condições
saber com que efeitos climáticos e ambientais de permitir que tal arquitetura
estão lidando e quais dificuldades precisam seja inserida ali e tal
superar para fazer ali uma boa arquitetura. arquitetura precisa também
O que foge da ideia de conforto para seus ser projetada de forma que
habitantes, visto que muitas vezes as soluções tenha condições de interagir
adotadas durante todo o projeto, podem não de forma agradável com o
ser aquelas que melhor se adaptem ao local de meio ambiente que a cerca.
inserção. O entorno das edificações
é determinante para o bom
Faz falta que o arquiteto trate o espaço funcionamento da condição
como ele é e reconheça e respeite aquilo de conforto para seus usuários,
que nele se encontra: a Terra o céu; o dia o desenvolvimento do projeto
e a noite; a topografia; os seres vivos; e as deve ser capaz de garantir
pessoas - em toda sua imprevisibilidade todos os comportamentos
(SCHMID, 2005, p. 17) necessários e esperados,

42
como cita Cileide Siqueira, “o projeto deve estar 11. SIQUEIRA, C. (2013).
Conforto Ambiental, desafio
adequado ao meio, já que o inverso não é possível”.11
para arquitetos. Acesso em 09
Um bom exemplo de perfeita adaptação de 11 de 2018, disponível em
ao entorno é a Casa da Cascata, de Frank Lloyd Fórum da Construção: http://
Wright, que está totalmente integrada com a mata www.forumdaconstrucao.com.br/
conteudo.php?a=4&Cod=800
que a circunda e ao curso d’água que passa pela
propriedade, dando a impressão de estar sendo
“abraçada” por essa natureza, mostrando assim
toda essa harmonia que precisa estar presente ao
se pensar arquitetura.

Figura 12 Casa da
cascata - Frank
Lloyd Whright.
Fonte: Archdaily
(2012)

43
3.3 Conforto e sustentabilidade:
aspectos essenciais para a produção
de uma arquitetura ambiental, física e
psicologicamente confortável

Em qualquer proposição arquitetônica, deve ser utilizado em larga


independente do uso a que será destinada, o escala, para que não torne a
usuário daquela arquitetura será a peça chave arquitetura cansativa aos olhos
para o desenvolvimento das proposições ou desagradável ao habitar,
de conforto e sustentabilidade, pois suas a utilização de elementos
expectativas e desejos são o que induzem o em vidro e aberturas, por
arquiteto a executar uma construção que irá se exemplo, tem de ser feita de
adequar simultaneamente às tais necessidades maneira que não extrapole
e às condições e características da região onde a necessidade de seus
se está projetando. habitantes, tornando o espaço
Os materiais utilizados em uma edificação, interno de uma casa muito
conferem boa parte da responsabilidade sobre exposto e consequentemente
o conforto e sustentabilidade de uma obra, desconfortável.
por isso, em todos os casos o bom senso do Tratando-se do conforto
arquiteto nas escolhas destes materiais e a de seus usuários, podemos
quantidade utilizada, precisa estar presente. elencar alguns tipos principais,
Como produtores de projetos arquitetônicos como: conforto térmico,
devem sempre lembrar que nada em excesso conforto luminoso, conforto
agrada o ser humano, por tanto nenhum material acústico, conforto visual,

44
conforto ambiental e conforto psicológico. arquitetura, pois utilizada de
Desta forma o arquiteto precisa estudar seu diversas maneiras podem
cliente, entender suas necessidade e adaptar provocar diferentes sensações
diversos materiais, para que em conjunto e percepções nos usuários
possam atingir um resultado final satisfatório. de um espaço, assim como
Os materiais que compõem a alvenaria a colocação de espelhos em
de vedação são grandes responsáveis pelo locais específicos, que também
bom desempenho de uma construção, pois podem alterar a sensação de
influenciam diretamente nos confortos térmico, conforto de uma pessoa em
acústico e ambiental, por isso precisam ser determinado espaço.
muito bem pensados e escolhidos, sendo
preferencialmente algum material natural que
auxilie tanto nas necessidades da arquitetura
quanto nas do meio ambiente. Já os vidros
utilizados, são responsáveis por controlar a
entrada de luz (conforto luminoso) e calor
(conforto térmico) no interior dos espaços
arquitetônicos, permitem a permeabilidade
visual entre espaços externo e interno (conforto
visual) e se tratado de maneira especializada,
também pode ser protegido acusticamente
(conforto acústico).
Tratando-se de revestimentos, design de
interiores e outras escolhas mais específicas de
uma construção, o ponto principal dos tempos
atuais é sempre prezar pela naturalidade,
por elementos mais próximos da natureza,
que remetem ao aconchego, às memórias e
auxiliam no desenvolvimento das técnicas de
sustentabilidade na arquitetura. O uso de cores
também pode ser um elemento chave de uma

45
Figura 13 O efeito das cores
em um ambiente. Fonte:
Ana Paula Bello (2017)

46
4. P r o p o s i ç ã o a r q u i t e t ô n i c a

4.1 Inserção urbana do objeto de projeto,


leitura do território e justificativa

Localizado na Zona Norte de São Paulo,


o terreno escolhido situa-se em área de
preservação e conservação ambiental - Zona
Espacial de Preservação Cultural (ZEPEC) com
Bens Imóveis Representativos (BIR) e Áreas
de Proteção Paisagística (APP), está muito
próximo de avenidas que possuem grande
importância para o bairro (Av. Água Fria, Av.
Nova Cantareira e Av. Santa Inês) e possui
grande potencial para tal uso, pois já possui
diversas instalações destinadas exclusivamente
à policiais militares, como: hospital, academia
de policia, canil e clube, mas não existe na
região qualquer edificação que atenda às
necessidades de moradia dessa população.

47
Figura 14 Localização O lote é uma área subutilizada do terreno da Polícia
da área de Militar de São Paulo, que atualmente abriga edifícios em fase
intervenção inicial de estrutura e fundações, com obra embargada há
escolhida. Fonte:
mais de 20 anos e já bastante deteriorados pelos efeitos do
Google Maps (2018)
tempo, que serão demolidos e darão lugar ao novo projeto
arquitetônico.

48
Figura 15 Localização
do terreno utilizado.
Fonte: Google Maps
(2018)

49
Figura 16
Estrutura
existente. Fonte:
Google Maps
(2018)

Figura 17
Estrutura
existente. Fonte:
Google Maps
(2018)

50
Figura 18
Estrutura
existente. Fonte:
Google Maps
(2018)

51
4.2 Estudo de casos: Análise de edifícios
residenciais existentes e seus enfoques
em conforto e sustentabilidade

Seguindo então o raciocínio de propor de uso comum da construção.


um projeto arquitetônico residencial que Analisando tal projeto do
atenda não só as questões sensoriais de seus ponto de vista confortável e
habitantes, mas que também integre-se ao sustentável, pode-se destacar
meio ambiente que o cerca, dialogando com alguns pontos principais que
seu entorno e suas pré existências, trazendo tornam-se um diferencial para
conforto ambiental à construção e colocando a eficiência da construção e
em prática recursos e elementos que tornem serão elencados a seguir.
a arquitetura sustentável, buscou-se por
referências projetuais que se enquadrem nesses
requisitos e demonstre como determinados
formas de agir e projetar podem tornar-se
eficientes para a construção.
Inicialmente será discutido o conjunto
residencial, Urban Alchemy 9 (Goa, Índia - 2017),
do arquiteto Ankit Prabhudessai, composto
por seis residências que seu criador prefere
denominar como vilas, que unem-se através de
um grande átrio central que comporta as áreas

52
Figura 19 Vista
noturna Urban
Alchemy 9. Fonte:
Archdaily (2017)

Em questão de conforto térmico e melhora da qualidade térmica


iluminação, nota-se que nenhum dos cômodos da construção, ao mesmo
são totalmente fechados, todos possuem tempo em que, fazem uma
grandes janelas de vidro que, além de conectar composição arquitetônica
a vila com o pátio central, permitem a entrada de com tijolos de terracota,
luz e ventilação natural. A varanda e a alvenaria possibilitando também que a
customizada, onde cada tijolo foi colocado de arquitetura seja sustentável.
forma que desloque-se do próximo criando
vãos, também auxiliam na entrada destes
elementos para dentro da construção. O uso de
jardineiras em todos os pavimentos formando
um jardim lateral e as coberturas verdes no
terraço das vilas, também contribui para a

53
Pavimento térreo Primeiro pavimento

54
56
O próximo conjunto residencial analisado, arquitetura habitacional deve
desta vez não foi construído e manteve-se ser condicionada por padrões
apenas em fase projetual, a Habitação de econômicos ou classes social.
Interesse Social (São Paulo, Brasil - 2010), do Com isso, idealizaram casas
escritório 24.7 Arquitetura e Design, foi uma compactas, confortáveis e bem
proposta de projeto para um concurso produzido produzidas esteticamente.
para a companhia de desenvolvimento
habitacional urbano. E a principal intenção de
seus arquitetos era proporcionar o bem estar
de seus habitantes, buscando total interação Figura 22 Habitação
de interesse social.
com pessoas que já moram em construções do
Fonte: Archdaily
mesmo programa e ressaltando que nenhuma (2013)

58
Figura 23 Habitação de interesse social.
Fonte: Archdaily (2013)
de iluminação natural. No
quesito sustentabilidade foram
Buscando manter boa iluminação e utilizados materiais e técnicas
ventilação natural ao longo de todas as que propiciem a economia
construções, além de seus formatos alongados e racionalização do projeto,
e estreitos que garantem a iluminação e radiação como blocos de concreto
direta total sobre seus ambientes, ainda foram estruturais que permitem um
utilizados elementos vazados e caixilhos projeto modulado facilitando
eficientes, que permitem a entrada de correntes a construção, além de telhas
contínuas de ar e luz, assim como janelas altas termoacústicas mescladas
que viabilizam a ventilação cruzada e entrada com coberturas verdes.

59
Figura 24 a. Análise da
iluminação e ventilação
natural. Fonte: Archdaily
(2013) | Diagramação:
Julia Richard (2018)

60
61
Figura 24 b. Análise da
iluminação e ventilação
natural. Fonte: Archdaily
(2013) | Diagramação:
Julia Richard (2018)

62
63
64
Figura 25 Análise
dos elementos
verdes e
sustentáveis.
Fonte:
Archdaily (2013)
Diagramação: Julia
Richard (2018)

65
O último conjunto a ser analisado, será o
Moradias Le Bourg (Montreuil, França - 2017), do
escritório Archi 5, que desta vez não foi projetado
em unidades únicas e separadas, mas sim como
um único edifício de apartamentos proposto
de maneira que exista certa flexibilidade de
programas em suas diversas tipologias, permitindo
a produção de residências desde em estilo loft Figura 26 Moradias
até disposições de duplex com mais e maiores Le Bourg. Fonte:
acomodações. Archdaily (2017)

66
Assim como as anteriores, esta também busca
adequar-se aos quesitos de conforto térmico
e iluminação e para isso dispõe de aberturas
consideráveis em todos os cômodos e pavimentos,
que garantem a boa entrada de iluminação e
ventilação natural, além da toda a estrutura da
construção ser de madeira o que também auxilia
na melhora do bem estar térmico. O grande jardim
comum, também permite que a construção seja
mais bem arejada, tornando-se mais fresca e em
conjunto com a utilização de materiais naturais
como madeiras e alguns tipos de metais em
caixilhos e guarda corpos contribuem para um
bom desenvolvimento ambiental e sustentável do
projeto em geral.

67
Figura 27 Análise
da iluminação
e ventilação
natural. Fonte:
Archdaily (2017) |
Diagramação: Julia
Richard (2018)

68
69
4.3 Apresentação das intenções de
projeto.

O projeto proposto é de um condomínio a vida de policiais, que estão


residencial destinado a policiais que vivem constantemente diante de
atualmente em situações de risco e precisam situações de alto risco tanto
de um local mais confortável e seguro para para si, quanto para suas
habitar . A intenção de produzir tal tipo de famílias, demonstrando ao
arquitetura para policiais está vinculada longo de toda a discussão que
principalmente à busca por colocar em prática um projeto bem elaborado e
toda a pesquisa realizada anteriormente, com os recursos necessários
encontrando e conciliando estratégias que pode oferecer soluções que
sejam capazes de atingir uma arquitetura que ultrapassem as barreiras físicas
considere seu usuário, seus desejos e anseios; de um projeto arquitetônico.
seu entorno, respeitando o que já existe ali; e Para isso, a proposição é
o meio ambiente em que está sendo inserida. a criação 40 casas geminadas
Assim, constituindo-se como o tão almejado distribuídas em torno de uma
local físico, ambiental e psicologicamente centralidade aberta e bem
confortável. identificada, que abriga as
O objetivo principal deste projeto funções de lazer do conjunto.
sempre foi colaborar para o bem estar pleno O objetivo principal é que tal
de seus habitantes, buscando então diminuir conjunto residencial funcione
os efeitos do estresse que interferem em toda de forma que integre-se e

71
“converse” com a cidade, com a área verde e Dentro delas o íntimo de cada
os demais edifícios em seu entorno, sempre família será preservado, porém
mantendo a preocupação em tornar todo o a interação entre os familiares
conjunto como um único elemento em torno continua a ser instigada, pois
desta centralidade agradável e que promova todos os principais ambientes
a tranquilidade de um lar. Com isso, a busca possuem alguma forma de
durante todo o trabalho, foi de aliar um bom interligação entre si, onde
projeto, com questões de conforto ambiental nenhum está completamente
e arquitetura sensorial, tornando um local isolado dos demais.
agradável para habitação, que atenda às
necessidades perceptivas e sensoriais de
quem ali se instalará, através da utilização de
materiais naturais e sustentáveis.
Todo o conjunto habitacional funcionará
em torno de dois eixos de permeabilidade, o
primeiro que será responsável por acomodar
as funções de uso comum para seus habitantes,
proporcionando maior integração e diálogo
entre os elementos existentes no entorno,
sendo também o meio de ligação direta
das residências com a rua. O segundo eixo,
transpassará o já citado acima, e também é
definido por aberturas ao longo do projeto
que promovam sensações de relacionamento
direto com o meio ambiente que o cerca.
As residências serão projetadas
buscando oferecer maior individualidade e
intimidade para seus usuários, esquecendo-se
um pouco de toda a interação estimulada nas
áreas comuns, para agora satisfazer o que cada
um acredita ser a melhor forma de pensar e agir.

72
4.4 O condomínio residencial projetado

A implantação do projeto foi inspirada na esta fileira citada. Um ponto


forma das cidades jardim, assim as residências muito importante durante
foram dispostas em duas fileiras circulares a concepção projetual, foi a
de maneira que todas as casas tenham visão discussão de como resolver
das demais e do centro de lazer, buscando tal desnível entre rua e
manter a comunicação e interação entre todos condomínio de forma viável
os usuários. Ainda na busca por promover a para pedestres, o que foi
maior interação possível entre seus moradores, resolvido com a criação de
limitou-se a circulação de automóveis apenas um pomar com uma escada
pelas vias mais externas do projeto, de forma central, onde os degraus ao
que os estacionamentos apesar de individuais, mesmo tempo que funcionam
sejam todos no mesmo local e não separados como degraus comuns,
por residências possuem uma determinada
Entre o nível da rua e a primeira fileira inclinação, funcionando como
de casas existe um desnível de cinco metros, pequenas rampas, de forma
estando a rua no nível mais baixo. Em seguida, que o pedestre possa subir
os níveis voltam a diminuir, de forma que a de maneira leve e menos
segunda fileira de casas (mais interna) está cansativa.
um metro mais baixa do que a anterior e o
centro de lazer um metro mais baixo que

73
Figura 30 Corte geral longitudinal - Mostra as
diferenças entre níveis existentes em todo o
projeto.

Figura 31 Corte geral transversal - Mostra as


diferenças entre níveis existentes em todo o
projeto.

76
0 10 50

0 10 50

77
78
Figura 32 Planta
acesso de
veículos e
pedestres +
planta guarita
ampliada

79
80
Figura 33 Planta
acesso de
veículos e
pedestres +
planta guarita
ampliada

81
82
Figura 34 Planta
centro de lazer

83
84
Figura 35 Planta
academia e salão
de jogos

85
Figura 38 Corte
ampliado centro
de lazer

criou-se uma espécie de área de serviço para


atividades mais restritas ao íntimo, fechada
com paredes meia altura de cobogó, que criam
um efeito de “meia” visibilidade.

89
Figura 39 Planta
residência
pavimento térreo

90
Figura 40 Planta
residência
pavimento
superior

91
Figura 41 Corte
transversal
residência

92
Figura 42 Corte
longitudinal
residência

93
Figura 43 Elevação
frontal residência

94
Figura 44 Elevação
posterior residência

95
Figura 45 Elevação
lateral 1 residência

96
Figura 46 Elevação
lateral 2 residência

97
Figura 47 Perspectiva
do condomínio

98
Figura 48 Guarita
e acesso pedestres
e veículos

99
Figura 49 Vista
pomar e
administração

Figura 50 Vista
pomar de cima

100
Figura 51 Residência
vista frontal

Figura 52 Residência
vista posterior

101
102
Figura 53 Centro de lazer

103
5. C o n s i d e r a ç õ e s f i n a i s

Os edifícios tem se tornado meramente tratados de maneira conjunta


produtos visuais, imagens fotográficas, onde e não mais independentes,
a profundidade das experiências humana, formando um contexto geral
as questões psicológicas, a plasticidade que leve à melhor qualidade
da arquitetura e a própria existência do de vida possível e que
indivíduo em um espaço e sua relações com priorize as diversas redes de
tal espaço, estão sendo esquecidos em prol de relações entre seus usuários,
imagens surpreendentes e persuasão direta e de forma que produza-se um
instantânea, sem permitir que cada um tenha desenvolvimento harmonioso
seus próprios questionamentos e conclusões e equilibrado.
do local, sendo aquele objeto meramente Para isso, buscou-se no
o que ele é, sem abertura para interações e desenvolvimento projetual
percepções diferentes. do condomínio residencial
Chegando até este ponto, entende-se sempre levar em consideração
que o processo de concepção de um projeto as necessidades hipotéticas
arquitetônico não pode mais ser considerado da população em questão,
apenas como esse objeto comercial, mas tentando de todas as formas
considerar os efeitos que uma construção responder à questões de
causará em seus usuários e no espaço onde sensações e percepções e
está sendo instalada, adaptando-a da melhor melhorar a qualidade de vida
forma para que integrem-se. Corpo, mente daqueles que ali habitarão.
e arquitetura são elementos que estão
intimamente ligados no mundo e precisa existir
mudança de paradigma, onde todos os aspectos
necessários para se fazer uma arquitetura serão

105
6. L i s t a d e f i g u r a s

Figura 1: Casa Koshino de Tadao lago/>. Acesso em 09.10.2018


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ambient.shtml>. Acesso em 30.04.2019 Figura 18: Estrutura
Figura 11 : Combinação de existente. Imagens retiradas
elementos naturais com materiais mais do Googles Maps.
desenvolvidos, mostrandi que pode-se atingir Figura 19: V i s t a
certo equilíbrio. Disponível em <https:// noturna Urban Alchemy 9.
e s t a d o d e m i n a s . l u g a rce r to.co m . b r/a p p / Disponível em <https://www.
noticia/decoracao/2016/ 10/30/interna_ archdaily.com.br/br/899751/
decoracao,49611/estimular-sensacoes-e- urban-alchemy-9-ankit-
a-missao-da-arquitetura-sinestesica-com- prabhudessai>. Acesso em
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photos/dicas-em-rela%C3%A7%C3%A3o-aos- Julia Richard
efeitos-visuais-em-ambientes-usando-apenas- Figura 21: Análise
o-constraste-de-/465116647205525/>. Acesso dos elementos verdes e
em 30.04.2019 sustentáveis. Desenhos
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107
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e ventilação natural. Desenhos técnicos
disponíveis em <https://www.archdaily.com.
br/br/01-141035/habitacao-de-interesse-
social-sustentavel-slash-24-dot-7-arquitetura-
design>. Acesso em 15.09.2018 - Diagramação
por Julia Richard
Figura 25: Análise dos elementos
verdes e sustentáveis. Desenhos técnicos
disponíveis em <https://www.archdaily.com.
br/br/01-141035/habitacao-de-interesse-
social-sustentavel-slash-24-dot-7-arquitetura-
design>. Acesso em 15.09.2018 - Diagramação
por Julia Richard
Figura 26: Moradias Le Bourg.
Disponível em <https://www.archdaily.com.br/
br/884102/moradias-le-bourg-archi5>. Acesso
em 15.09.2018
Figura 27: Análise da iluminação
e ventilação natural. Desenhos técnicos
disponíveis em <https://www.archdaily.com.br/
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