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Tema 2 Dimensão Antropológica, Cultural e Ética Do Homem

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APONTAMENTOS DE APOIO DE FILOSOFIA. PROF. LUBANZILANGA M.C.

NZAU
LICEU 8054/2021. Salas: 04, 10 e 12.

TEMA: DIMENSÕES ANTROPOLÓGICA, CULTURAL E ÉTICA DO


HOMEM.

NATUREZA E ESSÊNCIA DO HOMEM


A distinção do ser humano e os demais seres vivos, a interrogação, em que consiste a
natureza humana? O homem é composto de corpo e alma (espírito) ou é de natureza puramente
corpórea? Ela se representa como indagação e reflexão sobre o homem, sobre o lugar que ela ocupa
no universo e sobre sua função de arquitecto da história e criador das diferentes culturas.
O termo Antropologia vem do grego: antropos (homem) + logos (tratado) + ia: estudo das
raças e variedades humanas; história natural do homem, enquanto um ser animal.
Quem é o homem? Animal racional de ordem dos mamíferos (Homo) que se distingue de
todos os outros pelo dom da palavra ou linguagem articulada e pela inteligência: a razão é que
distingue o homem dos outros animais. Ainda, é um indivíduo pertencente à espécie animal que
apresenta o maior grau de complexidade na escala evolutiva; cada um dos indivíduos da espécie
Homo Sapiens.
Santo Agostinho, um dos autores que mais atentamente estudou a realidade humana,
responde a essa questão dizendo: “Que grande mistério é o homem”
As definições acima, não esgotam as respostas à pergunta: O que é o homem? A dificuldade
de se elaborarem respostas definitivas sobre a natureza humana, é o que impulsiona os filósofos a
elucidar as diversas questões acerca da essência do homem.
Do ponto de vista filosófico, falar da natureza humana significa falar da essência do homem.
Porém, não há consenso sobre o que o vem a ser essa essência, embora se concorde que ela existe e
é o que diferencia o ser humano dos demais seres do universo. Exemplo: Do ponto de vista dos
evolucionistas, o homem é resultado de um processo evolutivo contínuo, e sua vida representa a
passagem de formas inferiores e mais simples para formas superiores e mais complexas. Para os
representantes da antropologia filosófica, há um salto qualitativo do animal para o homem que não
pode ser explicado por transformações progressivas, mas somente por uma diferenciação inicial de
ambos.
A filosofia, ao se ocupar do ser humano, tem como finalidade provocar uma reflexão sobre a
sua natureza, bem como sobre o processo de produção de sua existência, e busca transformar
experiências compreendidas. Dessa forma, é possível afirmar que a filosofia procura compreender o
sentido e o significado da existência do homem em seus diferentes aspectos.

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A PESSOA HUMANA

O ser humano é um ser singular, nobre, único e irrepetível: é uma pessoa.


Sobre o conceito de pessoa, aparecem várias respostas ao longo da história da filosofia, que,
segundo Battista Mondim, podem ser agrupadas em três modelos principais:
a) As definições ontológicas e psicológicas: têm como principal ponto de referência o
sujeito;
b) As definições dialógicas: têm como ponto de referência o próximo, o tu, o outro;
c) As definições icónicas; o homem como imago Dei: têm como ponto de referência Deus.
A definição memorável de pessoa, sem dúvida a mais célebre de todas, muito completa e
precisa do ponto de vista ontológico, deixou-nos Severino Boécio (480-524) que diz: persona est
racionalis naturae individua substantia (a pessoa é uma substância individual de natureza
racional).
Para Tomás de Aquino, a pessoa significa o que de mais nobre há no universo, isto é, o
subsistente de natureza racional.
Descartes com o seu cogito, ergo sum (penso, logo existo), define a pessoa não mais em
relação à autoconsciência, que passa a ser o fundamento da singularidade do homem.
No fim da época moderna, Kant afirma que os seres humanos são chamados de pessoas
porque existem como fim em si e não somente como um meio de que esta ou aquela vontade pode
servir-se ao seu bel – prazer.
No século XX desenvolveu-se a filosofia personalista. Autores como Mounier, Renouvier,
Buber, Scheler, Marcel, Ricoeur, Heidegger e outros peocuravam recuperar a singularidade do
homem e a complexidade do seu ser, enquanto constituído não só de espírito, mas também de
matéria, não só de pensamento, mas também de extensão, não só de alma, mas também de corpo.
Quando dizemos que o homem é antes de mais uma pessoa, queremos simplesmente indicar
a sua autonomia no ser, o senhorio de si mesmo (sui júris), inviolabilidade, incomunicabilidade,
unidade, autoconsciência, abertura e auto transcendência, em suma, queremos indicar o seu valor
absoluto em relação a qualquer outra pessoa, instituição ou cultura; um ser que vale por aquilo que é
e, por isso, não manipulável.

O HOMEM COMO PRODUTO DA CULTURA


A cultura é humana enquanto não é produto de Deus e nem mesmo da natureza, mas sim
quando é produto do homem. A cultura é realização humana. A cultura é realização humana. A
cultura é obra da mente e das mãos dos homens. Porém, a cultura não é o resultado de apenas um

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homem, mas de todo um grupo, e por isso ela possui como característica a de ser social.
Ao nascer, a criança é um ser não cultural. A medida que cresce apercebe-se das maneiras de
agir e de pensar no grupo, transformando-se num indivíduo daquele grupo, isto é, condicionando
pelos valores e normas do seu grupo, adquire os modelos de comportamento. Os homens surgem-
nos, assim, como produto de uma cultura. Dado que ele pode alterar a cultura, surge então, não só
como produto, mas também como produtor da cultura indo também transmiti-la, por herança às
gerações vindouras.
O homem surge como único ser que é não só, um ser social, mas também um ser cultural.
Todas as estruturas culturais são obra humana. O homem projecta-se criando. Estabelece
condições para a sua própria evolução. Produz cultura, mas é também produzido por ela.

DEFINIÇÃO DE CULTURA
O conceito de cultura pode ser definido em várias formas. Em outras palavras, diríamos que
da cultura podem-se dar várias definições.
A Enciclopédia filosófica apresenta duas:
- Do ponto de vista subjectivo, a cultura é o exercício das faculdades espirituais, mediante o
qual elas são postas em condições de dar os frutos mais abundantes e melhores que sua constituição
natural permita.
- Do ponto de vista objectivo, a cultura são frutos adquiridos pelo homem mediante o
exercício das suas faculdades, seja espiritual, seja orgânica.
Genericamente e em sentido sociológico, podemos definir cultura como tudo aquilo que os
homens criaram ao longo do tempo e em todos os domínios numa dada sociedade (o idioma, os
dialectos, os usos e os costumes, as convenções e os preconceitos sociais, as crenças e as atitudes
colectivas, as ciências e as artes, a filosofia, as ideias sociais, a técnica, os monumentos, etc.) e que
se mantém em determinadas condições sociais.
Ou seja, todo um conjunto de elementos de ordem material e mental que constitui como que
uma herança social, algo que, através da sociedade, se recebe do passado sofrendo naturais
alterações, quer por abandono de certos elementos, quer por absorção de elementos novos. Porém,
todos eles têm a sua origem em acções criadoras humanas.

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PROBLEMÁTICA DOS VALORES


O mundo humano é um mundo de valores, de preferências axiológicas, de eleições
valorativas.
Através dos valores conferimos o significado quer ao mundo em que vivemos, quer à acção
que nele desenvolvemos. Com efeito, todos os seres humanos agem em conformidade com as suas
preferências e os seus valores.
O problema dos valores é um problema perene que acompanhou e acompanha o homem em
todas as épocas da História, sobretudo nos momentos de mudança cultural ou do regime de uma
sociedade.
Cada sociedade ou povo possui uma consciência de valores que forma aquilo a que se chama
sabedoria de um povo. Mediante tal consciência, cada povo reconhece mais ou menos,
instintivamente o valor positivo ou negativo da realidade e sabe qual deve ser o seu comportamento
diante dele. São os valores que orientam as principais escolhas de comportamento a nível pessoal ou
colectivo.

DEFINIÇÃO DOS VALORES


Valores são objectos a propósito dos quais é pretendida uma adesão de um indivíduo ou
grupos particulares, ou seja, genericamente, valor é uma qualidade inerente a um bem ou algo para
o benefício de uma pessoa, algo precioso, importante, desejado e respeitado por aqueles que
apreciam. Podemos também dizer que os valores são qualidades sui generis que atribuímos a certos
objectos que chamamos de bens.
O conceito de valores tem múltiplas acepções, tais como: económica, cultural, vital, estética,
política e ético-moral, e estão sempre ligadas à satisfação das necessidades de uma pessoa ou de um
grupo, criadas no tempo e no espaço.

CLASSIFICAÇÃO DOS VALORES


A natureza do homem comporta uma dupla dimensão, a saber: material e espiritual; por isso
é que a natureza dos valores se subdivide em dois grupos: valores materiais ou sensíveis e valores
espirituais.
a)-Valores materiais ou sensíveis: são aqueles que tem a ver com a realidade dos factos e
são:
-Valores do agradável e do prazer: são os que produzem as sensações do prazer e de
satisfação, como comida, a bebida, vestuário, emprego, etc.

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-Valores vitais: são os que têm a ver com questões como a saúde, a força, o vigor e robustez,
êxitos, felicidade, amor, etc.
-Valores de utilidade: são aqueles que têm a ver com o dinheiro, habitação,
electrodomésticos, automóveis, vestuário, alimentos, etc.
b)-Valores espirituais: são aqueles que de certa forma têm a ver com tudo que é imaterial e
são:
-Valores religiosos: são aqueles que retratam o sagrado ou o divino, a pureza e a castidade.
-Valores estéticos: são os que têm a ver com a beleza, harmonia, graciosidade, elegância,
etc.
-Valores éticos: são os que abordam questões como: o bem, o mal, lealdade, altruísmo,
amizade, honestidade, solidariedade, liberdade e verdade.
-Valores políticos: são os que abordam questões como a justiça, igualdade, liberdade de
expressão, de associação, de culto.
-Valores teoréticos: o conhecimento e a validade.

Atitude Valorativa
A atitude valorativa é toda a avaliação ou apreciação que temos de certas acções. A este
tipo de comportamentos chamamos de juízos, que podem se de valor e de facto.
a)-Juízos de facto: são aqueles que descrevem a realidade ou informam-nos acerca de
factos, coisas, acontecimentos ou acções.
O juízo de facto é verdadeiro ou falso, isto é, refere-se aos factos podendo ser negado ou
confirmado pela experiência (observação e / ou experimentação.
Os juízos e facto são descritivos ou informativos: não proíbem o que deve ou não se fazer.
b)-Juízos de valor: são os que valoram determinados acontecimentos, coisas e acções.
O juízo de valor refere-se, de forma explícita, a valores ou princípios fundamentais nos quais
se baseia para produzir uma avaliação (uma valoração positiva ou negativa). São normativos ou
prescritivos.
A CONCIÊNCIA MORAL E SUA NATUREZA

A consciência moral é a dimensão ética que avalia racionalmente os actos humanos como
bons ou maus. Ou ainda, é a faculdade que permite ao homem avaliar o bem e o mal. A natureza da
consciência moral pode ser:
1-Interna, porque há comportamentos normativos da consciência pessoal do sujeito que são
diferentes dos do colectivo, que o sujeito leva para o grupo.

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2-Externa, porque há normas de valor colectivo que não dependem do interior do sujeito, e
os quais deverão ser aceites e interiorizados para harmonia da sociedade (individuo e sociedade).
Todo o acto moralmente humano apresenta-se como:
1-Sentimento de uma pessoa ou de um povo;
2-Raciocínios de um povo;
3-Normas definidas por um povo para a sua regência.

ESTRUTURA DA CONSCIÊNCIA MORAL

1-Complexidade: porque a sua própria natureza interna e externa não facilita a


compreensão exacta dos diferentes modos de actuação.

2-Evolutiva: Os actos estão em constante evolução, o que não permite ter uma conduta
única em todos os tempos de uma comunidade porque amadurecem com o andar do tempo.

3-Dialéctica: Os elementos interagem. Ex: a partir das normas pode-se identificar a maneira
de sentir de um povo e como pensa.

LIBERDADE E RESPONSABILIDADE MORAL

O tema da liberdade ao longo do tempo é bastante complexo na socialização das pessoas. E


as vezes se esquece o elemento responsabilidade dos actos humanos.
A liberdade moral é a capacidade natural do homem agir de modo autónomo em relação aos
outros seres que o rodeiam. Ora, agir implica ser com, ser em relação a outra coisa; logo, exige-se o
livre – arbítrio que consiste em agir, mas respeitando a liberdade dos outros. Neste sentido não
podemos pensar numa liberdade absoluta, mas sim numa liberdade condicional ou relativa. Aqui,
faz-nos lembrar a noção tradicional de liberdade que é: a minha liberdade começa onde termina a
liberdade do outro e termina onde começa a liberdade do outro.
Podemos identificar vários tipos de liberdades, como: política, religiosa, económica,
científica, social, moral e outros tipos de liberdade.
Quanto a responsabilidade moral, é a capacidade moral do homem que consiste em assumir
a culpa e responder pelos seus actos. E a responsabilidade pode ser individual e colectiva, por
existirem actos individuais e colectivos.

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A DIMENSÃO DO AGIR

O homem é um ser activo, é um ser que realiza múltiplos actos. A palavra acção utilizamo-la
para nos referirmos àquilo que é feito pelos seres humanos, mas esse uso é impreciso porque só os
actos que emanam do homem exprimem o seu carácter propriamente humano, só os actos
especificamente humanos, merecem o nome de acções. S. Tomás de Aquino (1225 – 1274)
consciente de que nem tudo o que fazemos ou realizamos constitui, no sentido próprio da palavra
uma acção, distinguiu actos do homem e actos humanos. E diferem nas seguintes características:
Os actos do homem: são aqueles em que a pessoa age ou actua sem o pleno uso das suas
faculdades psicomorais, sem a sua livre execução do acto, porquanto pode estar desprovida da sua
plena razão, em função de certas forças estranhas ao organismo. São actos involuntários.
Os actos humanos: são aqueles que o sujeito executa voluntariamente, com pleno uso das
suas faculdades psicomorais; aqui o sujeito tem consciência do que faz, porque o acto parte da sua
decisão. O sujeito é senhor de realizá-los ou não, podendo omiti-los ou realizá-los, pois está livre de
qualquer coacção estranha; age, por isso, deliberadamente, programando.

ESTRUTURA DO ACTO HUMANO


1-Estrutura de um sujeito agente;
2-Escolha do acto;
3-Decisão para a realização do acto;
4-Motivo ou fim para o qual o acto foi programado. E por fim podemos acrescer um
elemento que é o resultado.

BIBLIOGRAFIA

1- LAU, Rafael Lando, O Rosto da Filosofia: Introdução à Filosofia 11 ͣ Classe, Texto Editores, Lda
2005.
2- CHAUI, Marilena, Convite à Filosofia, 5 ͣ Edição, Editora Ática, São Paulo 1995.
3- MONDIN, Battista, Introdução à Filosofia, Problemas, Sistemas, Autores, Obras, 16 ͣ Edição,
São Paulo, 2006.
4- MONDIN, Battista, O Homem Quem é Ele? 1 ͣ Edição, São Paulo, 2005.
5-SANTOS, José Cassanji, Repensar O Homem na Angola do Século XXI. Uma antropologia em
perspectiva, 2ª Edição, Edições Chá de Caxinde, Luanda, 2009.

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