MAQUIA
MAQUIA
MAQUIA
A política moderna
Maquiavel
X C u M OsídadeS
PENSADORES
Reprodução
IP Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que
temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as
coisas seriam de desejar; mas, porque é difícil juntá-las, é
muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de
faltar uma das duas. Porque dos homens se pode dizer, duma
maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores,
covardes e ávidos de lucro e enquanto lhes fazes bem são
inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida
e os filhos quando o perigo está longe; mas, quando ele
chega, revoltam-se. E perde-se aquele príncipe, que por ter
acreditado nas suas palavras se encontra nu de qualquer outra
— Nicolau Maquiavel (1469-1527) defesa; porque as amizades que se adquirem a preço e não
por grandeza ou nobreza de alma compram-se, mas não se
possuem e no momento oportuno não se podem empregar.
Maquiavel foi o Os homens têm menor escrúpulo em ofender um que se faz
primeiro a discutir a amar, do que um que se faz temer, porque o amor está unido
política e os fenômenos com o vínculo da obrigação o qual, por os homens serem maus,
sociais sem recurso à se parte na primeira ocasião em que surja o interesse, mas
ética ou à jurisprudência. o temor é sustentado pelo medo do castigo o qual nunca se
Foi o primeiro pensador perde. Deve, todavia, o príncipe fazer-se temer de modo que,
ocidental a aplicar o método se não adquire amizade, evite ser odiado, porque pode muito
científico de Aristóteles e bem ser ao mesmo tempo temido e não odiado; o que sempre
de Averróis à política, a conseguirá desde que respeite os bens dos seus concidadãos e
partir da observação dos dos seus súditos e a honra das suas mulheres; e, quando se veja
fenômenos políticos e obrigado a proceder contra o sangue de algum, não o fará sem
das obras que se tinham justificação conveniente e causa manifesta; mas sobretudo não
escrito sobre o assunto. tocar na propriedade alheia, porque os homens esquecem mais
depressa a morte do pai que a perda do patrimônio.
Para Maquiavel, a política
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Tradução de Francisco Morais.
se restringia à conquista
e à manutenção do poder
e da autoridade.
V Coimbra, Atlântida, 1935. Capítulo XVII. (Fragmento)
A política moderna
O mundo social e político
descrito na sua obra O O período moderno é marcado por profundas rupturas que
P rín cip e é completamente acontecem lentamente, paralelas ao sistema feudal. Na esfera
imprevisível, sendo que só uma política, percebe-se uma tensão entre as forças sociais renovadoras
mente racional pode superar (a burguesia) que despontam e procuram seu espaço político,
essa imprevisibilidade. enquanto forças sociais conservadoras (nobreza e clero) lutam
para manter o poder e seus privilégios.
Para a burguesia, os interesses europeus estabelecidos por
essas forças de conservação dificultavam o desenvolvimento das
atividades comerciais e financeiras, fazendo surgir o interesse na
instituição de um poder unificado. Os burgueses possuíam muito
capital acumulado, mas não tinham prestígio político. Por outro
lado, o rei feudal também tinha interesse nessa unificação que o
fortaleceria politicamente diante dos poderes locais.
A nobreza, atemorizada diante das revoltas populares e das
guerras, aos poucos se aproxima dos reis e passa a aceitar o ■
fortalecimento do poder real. C u r 1O s íd a d e S
Assim, em algumas regiões da Europa Ocidental, tem inicio um
processo de centralização política e administratista comandado
pelos reis. Em vários casos, esse processo resultará na formação
MAQUIAVEL
de Estados Nacionais, em que o poder real suplanta o poder TEATRO
feudal. Reprodução
FILMOGRAFIA
Jogos de Poder
> n
Divulgação
IHÊUMMB
> z ;□ m o O 5
ESPIÃO
JOGOSDO
Tema em debate
53
I 0 poder do príncipe deve ser superior ao dos grandes e estar
a serviço do povo. O príncipe pode ser monarca hereditário
PENSAMENTOS ou por conquista; pode ser todo um povo que conquista
pela força, o poder. Qualquer desses regimes políticos será
legítimo se for uma república e não despotismo ou tirania,
é, só é legítimo o regime no qual o poder não está a
iço dos desejos e interesses de um particular ou de um
o de particulares.
“Dificilmente é
derrotado todo aquele que
consegue avaliar corretamente
as suas forças e as do inimigo.”
AAAQUIAVEL, Nicolau.
A a rte d a G u e rra
(Fragmentos)
Capitulo 2
Empirismo e
racionalismo
■■■■
VAN MIEREVELT. L ição de a n a to m ia do Dr. van d e r M eer, 1617. Museu de Delft.
n mais que ele queira enganar-me, nunca poderá fazer com que
eu nada seja, enquanto eu pensar ser alguma coisa.
De maneira que, após ter pensado bastante nisso e ter
cuidadosamente examinado todas as coisas, há que concluir
finalmente e ter por constante que esta proposição, Eu sou,
eu existo, é necessariamente verdadeira, todas as vezes que a
enuncio ou que a concebo em meu espírito.
26
I
Dentro do campo da filosofia moderna, um grande debate será
erguido em torno da questão da origem do conhecimento, quando .
duas correntes distintas apresentarão duas respostas possíveis.
O empirismo defenderá a tese de que a experiência é a única ' •.«
fonte segura de conhecimento e que ela é anterior à própria
formação da razão ou da mente. TÍTULO DE CURIOSIDADE
Já para o racionalismo, ao contrário do empirismo, a ra
zão tem uma primazia em relação à experiência, dando-lhe
significação e sentido. A seguir, vamos compreender com mais
detalhes essa questão.
Conhecimento e sabedoria
Normalmente usamos as palavras conhecimento e sabedoria
como se ambas possuíssem o mesmo sentido.
Mas existem diferenças entre elas. Todas as pessoas pos
suem conhecimento. Pode-se ter muita habilidade numa forma
de conhecimento, mas isso não o torna sábio.
Por exemplo, um cientista que criou uma nova teoria da
Física é um grande conhecedor de Ciência; o pedreiro é um
grande conhecedor das técnicas de construção; o professor de
Geografia tem grande conhecimento na sua área, mas esse co
nhecimento nem sempre significa sabedoria. 0 senso comum
Podemos concluir, afirmando que aquele que tem sabedoria contém uma série
detém conhecimentos que foram adquiridos pela vivência, pela enorme de receitas,
experiência científica, mas também pela prática do dia a dia, que vão desde instruções
pela coragem ou pela fé. de como procurar um
nome em uma lista
Quem é o sábio? telefônica até instruções
de como se comportar
Posso arriscar defini-lo dizendo que o sábio é aquele que à mesa ou na cama.
conhece as grandes fontes de conhecimento e é capaz de uti Na verdade,
poderiamos dizer
lizá-las, adequando-as à melhor situação, não só em ocasiões
que o senso comum
especiais, mas em todos os fatos da vida.
é dominado por um
motivo prático.
E isso porque o nosso
O sábio seria alguém que cotidiano comum é
marcado pela
necessidade de
' ^°nse§ue conviver, respeitando e aprendendo com as uma série de atos
diferenças (senso comum);
que devemos realizar
valoriza o conhecimento científico e sua objetividade e o para viver e viver bem.
utiliza como facilitador e garantidor de maior eficiência Esses atos têm por
na previsibilidade de vários processos (Ciência); objetivo realizar a
e capaz de reconhecer na subjetividade uma outra face integração do nosso
da realidade, o que lhe dá uma visão de totalidade e um corpo com o mundo
saber-viver (filosofia); que o rodeia.
sabe que tudo começa no sonho, na fé naquilo que se
ALVES, Rubem. Filosofia da
idealiza e que explica a realidade (mito);
ciência. São Paulo: Brasiliense,
é capaz de materializar esse sonho, realizá-lo (arte). 1983. p. 54. (Fragmento)
—
Nasceu em Oslo, na
assolado pela fome, a resposta será: a comida. Se fazemos
Noruega, em 1952.
a mesma pergunta a quem está morrendo de frio, então a
Escritor, autor de romances,
resposta será: o calor. E quando perguntamos a alguém que
contos e histórias infantis.
se sente sozinho e isolado, a resposta será: a companhia
O seu trabalho mais conhecido é
de outras pessoas. Mas, uma vez satisfeitas todas essas
O m u n d o de Sofia, publicado em
necessidades, será que ainda resta alguma coisa de que
1991, um romance acerca
todo mundo precise? Os filósofos acham que sim. Eles
da história da filosofia.
acham que o ser humano não vive apenas de pão. Precisa
Esse livro foi traduzido para 53
também de amor e de cuidado.
línguas, e existem 26 milhões de
Mas ainda há uma coisa de que todos nós precisamos:
cópias impressas, sendo que três
descobrir quem somos e por que vivemos. [...] Essas
milhões delas foram vendidas só
perguntas têm sido feitas pelas pessoas de todas as épocas.
na Alemanha. Com isso, passou a
Não conhecemos nenhuma cultura que não se tenha
ter renome internacional,
perguntado quem é o ser humano e de onde veio o mundo.
dedicando-se integralmente
É mais fácil fazer perguntas filosóficas do que respondê-las.
à produção literária.
A história nos mostra diferentes respostas para cada uma
dessas perguntas, mas cada um de nós deve procurar a sua
resposta.
Tema em debate
0 pensamento moderno
A necessidade de explicar o mundo e a si mesmo está presente
nos homens de todas as épocas. O que altera é a forma como essa
busca se processa em cada período da história humana.
Para os modernos, já é muito claro que o conhecimento é um
processo relacionado não apenas com o sujeito que pensa, mas diz
respeito também à sua atuação prática na realidade vivenciada
pelo homem.
O empirismo Inglês
Para os empiristas, as idéias humanas são provenientes dos
sentidos (visão, audição, tato, paladar e olfato), o que significa
que elas têm origem na experiência e nas sensações. Podemos,
assim, definir o empirismo como uma corrente que pretende que
todo conhecimento derive imediatamente do que é dado pela
experiência.
—I “Os pontos, as linhas, os círculos que cada um tem no
espírito são simples cópias dos pontos, linhas e círculos que
conheceu na experiência”. (Stuart Mill)
I C u r i O s l d a d eS
O Grande Ditador
Direção: Charles Chaplin
EU A ,1940
Divulgação
Francis Bacon
Francis Bacon (1561-1626) fez da experiência o fundamento da
Ciência. Ele concebia a Ciência como domínio da natureza a serviço
do homem. Contudo, sua concepção fundamental de natureza
depende da concepção filosófica de natureza na Antiguidade.
Retoma, assim, os princípios aristotélicos da causalidade dos Elisabeth,
fenômenos, propondo o método científico ou experimental como a era de ouro
principal instrumento para o conhecimento dos fenômenos a partir Direção: Shekhar Kapur
da compreensão de suas leis ou princípios. Inglaterra / França, 2007
C ü r Í0 s1 d a d eS
m Os jovens são mais aptos para inventar do que para julgar,
mais aptos para a execução do que para o assessoramento,
TÍTULO DE CURIOSIDADE e mais aptos para novos projetos do que para atividades já
estabelecidas; porque a experiência da idade em coisas que
estejam ao alcance dessa idade os dirige; mas em coisas
Filósofo, estadista novas, os maltrata.
e ensaísta inglês [...] Os jovens, na conduta e na administração dos atos,
nascido em Londres. abraçam mais do que podem segurar, agitam mais do que
É o fundador do empirismo podem acalmar; voam para o fim sem consideração para com
moderno. Ele dará um os meios e os graus; perseguem absurdamente alguns princípios
destino mais prático à com que toparam por acaso; não se importam em (isto é, em
Filosofia, isto é, à Ciência, como) inovar, o que provoca transtornos desconhecidos.
como precursor de um [...] Os homens maduros fazem objeções demais,
“novo método” (o indutivo), demoram-se demais em consultas, arriscam-se muito
que faz experiências e pouco, arrependem-se cedo demais e raramente levam o
observações rigorosas como empreendimento até o fim, mas se contentam com uma
antecipações da natureza mediocridade de sucesso. Não há dúvida de que é bom forçar
(previsões de chuva, sol, o emprego de ambos [...], porque as virtudes de qualquer
terra para bom plantio). um deles poderão corrigir os defeitos dos dois.
Bacon é o preconizador
Francis Bacon. Fragmento.
da separação entre
Disponível em: www.mundodosfilosofos.com.br/bacon.htm - 28K -
teologia e Ciência, e Acesso em: 10 mar. 2009. (Fragmento)
defensor da ideia de
que as descobertas
de esquemas operativos
não são resolução de Bacon enfatiza que as explicações científicas deveriam
um poder divino. buscar a causa dos fenômenos, ou seja, a sua condição de
aparecimento. Uma vez encontrada a causa, poderiamos obter
Desejava dar à explicações completas, isto é, explicações que descrevem
humanidade domínio relações inexoráveis de necessidade e suficiência causai entre
maior sobre as forças os acontecimentos.
da natureza por meio
de descobertas e
invenções científicas.
John Locke
0 filósofo John Locke (1632 - 1704) afirmava que “não há
nada no intelecto que não tenha existido antes na experiência”.
Isso significa que as idéias não são inatas, a mente humana é,
em seu nascimento, como uma folha de papel em branco,
sendo as experiências que imprimem as idéias no intelecto.
A experiência é externa e interna. A externa nos remete
a qualidades primárias, objetivas dos fenômenos, através da
sensação, proporcionando-nos a representação dos objetos
externos: cores, sons, odores, sabores, extensão, forma,
movimento, etc. A experiência interna, embora sua causa seja
objetiva, remete-nos a qualidades secundárias, subjetivas
dos fenômenos, através da reflexão, proporcionando-nos a
representação das próprias operações exercidas pelo espírito
sobre os objetos da sensação, como conhecer, crer, lembrar,
duvidar, querer, etc.
Atividades de aplicação
1
ATIVIDADE 4
Atividades de aplicação
Obras:
Tratado da n a tu re z a h um ana;
In v e stig a ç ã o so b re o
e n te n d im e n to hum an o ;
Se quero levantar o braço, levanto-o. Não é evidente que
In v e stig a çã o so b re os
minha vontade é a causa do movimento de meu corpo? Mas, se
p rin c íp io s d a m oral.
refletirmos bem, essa experiência não é menos clara do que
a precedente. Constato duas coisas: inicialmente, que quero
levantar o braço, em seguida, que ele se levanta. Não sei
absolutamente por meio de que engrenagem neuromuscular
complexa se opera o movimento de meu braço.
■a
ia
■ l
34
Um paralítico quer levantar o braço e, para surpresa sua,
constata que nenhum movimento se segue ao seu desejo.
E eu, cuja língua ou cujos dedos se movem segundo minha
vontade, não tenho o menor poder sobre meu coração ou
t C u r Í o s l d a d eS
Atividades de aplicação
ATIVIDADE 6
Tempos Modernos
Divulgação
ATIVIDADE 7
(UEL) "Em bora nosso pensam ento pareça possuir esta liberdade
ilimitada, verificaremos, por m eio de um exame m ais minucioso,
Direção: Charles Chaplin que ele está realmente confinado dentro de limites m uito reduzidos
E U A ,1936 e que todo poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de
combinar, de transpor, de aum entar ou de dim inuir os m ateriais
que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência. ”
a)
b)
os sentidos e a experiência estão confinados dentro de limites
muito reduzidos.
todo conhecimento depende dos materiais fornecidos pelos sentidos
t C u M o s i d a d es
e pela experiência.
O QUE ELES DIZEM
c) o espírito pode conhecer as coisas sem a colaboração dos sentidos
e da experiência.
SOBRE O SER HUMANO
d) a possibilidade de conhecimento é determinada pela liberdade
ilimitada do pensamento. Thomas Hobbes
e) para formar as idéias, o pensamento descarta os materiais fornecidos “O homem é o lobo
pelos sentidos. do homem.”
Jean-Jacques
O racionalismo Rousseau
“A natureza fez o
Os racionalistas não negam o empirismo, mas acreditam
homem feliz e bom,
que ele não possui valor científico, limitando-se a uma simples
mas a sociedade o
opinião, enquanto o verdadeiro conhecimento é aquele que for
corrompe e o torna
logicamente necessário e universalmente válido.
miserável.”
Para essa corrente, só a mente humana é capaz de conhecer a
verdade, pois o conhecimento inclui a existência de idéias inatas,
ou seja, que existiriam no homem, antes de qualquer experiência. Arthur
Schopenhauer
René Descartes “O homem é um
animal selvagem
e terrível. Nós
conhecemos
unicamente no
estado subjugado
e domesticado,
denominado
civilização: por isto
nos assustam as
eventuais erupções
de sua natureza.”
Sigmund Freud
“A renúncia
progressiva dos
CHARDIN, Jean-Siméon. Os atributos das artes, 1766. instintos parece ser
um dos fundamentos
Descartes, pensador e matemático, ao contrário de Hume, já se do desenvolvimento da
situa dentro de outra corrente da teoria do conhecimento, o racio civilização humana.”
nalismo. A grande questão da filosofia cartesiana é a busca de um
fundamento do conhecimento, assegurado de forma “clara e indubi-
tável”, ou seja, um conhecimento que não é passível de dúvidas.
Que certeza poderia ser dessa natureza, ou seja, inquestioná
vel? Para Descartes, o método consiste em recusar tudo aquilo em
que pudermos colocar a menor dúvida. Tal método o conduzirá à
certeza de que, se estamos duvidando, é porque existe um sujeito
que duvida. Essa constatação leva-o à famosa conclusão: “se duvi
do, eu existo”, ou, “penso, logo existo”.
Assim, a posição desse pensador é claramente distinta do
empirismo, pois o pensamento é anterior à experiência. A razão
1 C Ur Í O s l d a d eS é, assim, a essência da realidade e da compreensão de mundo e
deve ser priorizada em relação aos sentidos.
Essa visão do racionalismo de Descartes, também chamada
PENSADORES cartesiana, alterou e acelerou profundamente as descobertas
científicas, exercendo até hoje grande influência nos processos
de conhecimento.
Os conhecimentos acumulados pelas correntes empiristas
e racionalistas levam a novas indagações que serão a fonte das
preocupações dos pensadores iluministas no século XVIII.
Atividades de aplicação
ATIVIDADE 8
René Descartes
1l
Na concepção filosófica racionalista, o conhecimento
(França, 1596 - 1650)
a) ocorre como resultado da experiência sensível por meio da qual o
conhecimento se organiza.
Filósofo e matemático, b) busca resultados objetivos, valorizando a natureza e suas relações.
pertencente a uma família c) baseia-se na busca da certeza e da demonstração, apoiado pelas
de posses, dedicada estruturas a posteriori do pensamento.
ao comércio, ao direito d) privilegia a razão em detrimento da experiência sensível como via
e à medicina. de acesso ao conhecimento.
Vivendo de rendas
e perseguindo a ATIVIDADE 9
realização de seu
sonho na carreira militar, Do pensamento cartesiano podemos concluir que
viajou por vários paises
a) a subjetividade, ou seja, o conhecimento do mundo não se faz sem
da Europa - Alemanha,
o sujeito que conhece.
Holanda e França
b) a objetividade, ou seja, o conhecimento do mundo se faz a partir
(1622-23) - como um do objeto.
oficial no exército imperial. c) o conhecimento começa com a experiência, mas a experiência
Renunciou definitivamente à sozinha não nos dá o conhecimento.
carreira militar para d) o conhecimento é consequente da relação entre um sujeito e um
dedicar-se à investigação objeto.
científica e filosófica.
ATIVIDADE 10
Obras: M editações m etafísicas e
Discurso do método. RETIRE do texto de Descartes, na abertura do capítulo, algumas
passagens e comente-as, relacionando-as à corrente racionalista
estudada neste capítulo.
ATIVIDADE 11
DEFINIÇÃO
DE CIÊNCIA
Copérnico
“A Ciência busca
compreender a realidade
de maneira racional, descobrindo
relações universais e necessárias
entre os fenômenos,
o que permite prever
acontecimentos,
e consequentemente,
agir sobre a natureza.
Para tanto, a Ciência se utiliza
de métodos rigorosos e atinge
um tipo de conhecimento
sistemático, preciso
e objetivo”.
Walter Benjamin
“Ciência: do latim
scien tia ,‘sabedoria’,
conhecimento, é
o conhecimento
de caráter racional,
sistemático e seguro
dos fatos e dos fenômenos
do mundo”.
Reprodução
Bronowski
“O controle da natureza
pela Ciência implica
força e poder. Toda a
natureza começaria por
se lastimar se lhe fosse
dada a palavra”.
Reprodução
A razão entre o empirismo e o
intelectualismo
C U r 10 sidades
As transformações ocorridas a partir do Renascimento levaram
R "DOIS EXCESSOS: ao questionamento dos critérios e métodos para aquisição do
I EXCLUIR A RAZÃO, conhecimento verdadeiro. Uma das funções da filosofia moderna
S
M
ADMITIR APENAS A RAZÃO” é investigar até que ponto o saber científico atinge o seu objetivo
0 (BLAISE PASCAL) de gerar esse conhecimento.
Conhecendo as teorias propostas pelos empiristas e pelos racio-
E
nalistas, percebemos claramente uma oposição entre intelectualis
R mo e experiência: aquilo que é interior, que vem do nosso espírito,
A que acreditamos estar primitivamente em nós de modo inato (o
C priori); e aquilo que é exterior, cuja existência e as propriedades
I
O SIGNIFICADO DA PALAVRA descobrimos fora de nós (a p osteriori), algo adquirido.
N
A RAZÃO
L
s Logos, ra tio ou
M razão significa pensar e falar
O ordenadamente, com medida e
proporção, com clareza e de modo
compreensível para outros.
Assim, na sua origem, racionalismo
empirismo
a palavra razão significa a
capacidade intelectual
para pensar e exprimir-se
correta e claramente, para pensar ^ ,É .
e dizer as coisas tais como são.
■3
II
■I
40
Capítulo 2
Jusnaturalismo e
Contrato Social
‘Democracia é quando
eu mando em você;
ditadura é quando
você manda
em mim.”
(Millor Fernandes)
1 C u r l OsldadeS
Texto e contexto
PENSADORES
Reprodução
P Eu imagino os homens chegados ao ponto em que os
obstáculos, prejudiciais à sua conservação no estado natural,
os arrastam, por sua resistência, sobre as forças que podem
ser empregadas por cada indivíduo a fim de se manter em tal
estado. Então, esse estado primitivo não mais tem condições
de subsistir, e o gênero humano perecería se não mudasse sua
maneira de ser.
Ora, como é impossível aos homens engendrar novas forças,
mas apenas unir e dirigir as existentes, não lhes resta outro
meio, para se conservarem, senão formando, por agregação,
uma soma de forças que possa arrastá-los sobre a resistência,
pô-los em movimento por um único mobile fazê-los agir
de comum acordo. Essa soma de forças só pode nascer do
concurso de diversos; contudo, sendo a força e a liberdade de
cada homem os primeiros instrumentos de sua conservação,
como as empregará ele, sem se prejudicar, sem negligenciar
os cuidados que se deve? Esta dificuldade, reconduzida ao meu
---- Jean Jacques Rousseau
assunto, pode ser enunciada nos seguintes termos: “encontrar
uma forma de associação que defenda e proteja de toda a
(Genebra, 1712-1778) força com uma pessoa e os bens de cada associado e pela qual
cada um, unindo-se a todos, não obedeça, portanto, senão a si
Rousseau é um dos mesmo, e permaneça tão livre como anteriormente.”
principais pensadores da Tal é o problema fundamental cuja solução é dada pelo
concepção jusnaturalista ou contrato social. As cláusulas deste contrato são de tal modo
contratualista. Suas obras determinadas pela natureza do ato, que a menor modificação
serviram de referencial as tornaria vãs e de nenhum efeito; de sorte que, conquanto
à Revolução Francesa jamais tenham sido formalmente enunciadas, são as mesmas
e permanecem em todas as partes tacitamente admitidas e reconhecidas,
como fundamentais até que, violado o pacto social, reentra cada qual em seus
ao entendimento do primeiros direitos e retoma a liberdade natural, perdendo a
que conhecemos por liberdade convencional pela qual ele aqui renunciou.
Estado moderno. ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social. Livro I.
Tradução de Rolando Roque da Silva. São Paulo: Cultrix.
0 grande diferencial de
sua teoria é a exigência
da participação A política como arte modeladora dos
direta do povo no ato
legislativo. A sua crítica
interesses comuns
ao Estado representativo
A grande preocupação dos filósofos iluministas é a crítica à
o aponta como um
sociedade e à política do Antigo Regime, por meio da apologia à
crítico do liberalismo,
teoria emergente em sua época. investigação racional de todas as esferas da vida humana, seja ela
de cunho econômico, social, natural ou metafísico.
O lluminismo propõe uma laicização da razão em nome do
projeto de criação de uma esfera pública burguesa. Nesse contexto
das Luzes, o saber adquire um lugar privilegiado, uma vez que é
por meio dele que o poder será exercido.
72
0 Contrato Social pode ser considerado o ponto de partida
para as bases da democracia moderna e das teorias dos direitos
políticos que se formam a partir do lluminismo. C u M osidades
Para Rousseau, a propriedade privada marca a transição do
estado de natureza para a gestação da sociedade civil. O que ele
propõe é a destituição do poder fundado no uso da força para a COSTUMES
instituição de poderes legítimos, ou seja, sob a direção suprema da
vontade geral, definida como aquela que representa os interesses Vestuário
que cada pessoa tem em comum com todas as demais, de modo Século XVIII
que, ao ser atendido um interesse seu, também estarão sendo
atendidos os interesses de todas as pessoas.
Rousseau acreditava que essa vontade geral surgiu como
necessidade dos homens de solucionar os conflitos entre as
vontades particulares para proveito dos interesses comuns. 0
pacto social se firma pela vontade geral, não como vontade da
maioria, mas no sentido de uma igualdade moral e legítima contra
aquilo que a natureza poderia trazer de desigualdade física entre
os homens, uma vontade moral em prol da razão pública. Nessa
visão, a política é a arte modeladora dos interesses comuns.
Atividades de aplicação
ATIVIDADE 1
J C u M osidades
U
S
N
A
! A IMPRENSA E O PANFLETO ;
T
U
R Apoiaram-se também os
A iluministas na imprensa.
L Editou-se muito no século XVIII.
I
S A tal ponto que o filósofo Hegel
M disse que a leitura diária do
O jornal “era a oração do homem
Vamos compreender, passo a passo, o processo de construção
E moderno”. Somente na América
da teoria do pacto social.
do Norte daquele século,
C
estima-se que mais de dois
O
mil títulos de jornais tenham
Estado de natureza e sociedade civil
N
T vindo à luz. Mas o panfleto 0 direito natural tem sua origem no jusnaturalismo, uma ideia
R
foi o veículo soberano racional de direitos inatos, universais e inalienáveis que existia
A
T da comunicação no Século no homem antes da existência das sociedades, ou seja, no estado
O das Luzes. de natureza, anterior ao pacto social.
S
Eram de baixo custo, fáceis de
0
c
1
A
L
; serem transportados e escondidos, ;
e geralmente eram escritos
em linguagem sintética
e objetiva, que depois veio
IP [...] perfeita liberdade para regular suas ações e dispor
de suas posses e pessoas do modo como julgarem acertado
a ser a escrita comum de quase dentro dos limites da lei da natureza, sem pedir licença ou
toda a imprensa moderna. depender da vontade de qualquer outro homem. E também
Era também uma publicação um estado de igualdade, em que é recíproco todo o poder e
democrática, pois atingia jurisdição, não tendo ninguém mais que outro qualquer.
tanto o salão do aristocrata,
como a taverna operária e o LOCKE, 1998. p. 382.
café do literato.
: :
No estado civil, as pessoas abrem mão dos direitos do estado
Disponível em: http;//www. de natureza por meio de um pacto social que representa a
educaterra.terra.com.br/voltaire/
vontade do conjunto dos indivíduos, através de uma legislação
cultura/iluminismo.htm - 20k
- Acesso em: 18 mar. 2009. que estabelece os limites necessários para que todos sejam
beneficiados, harmonizando a vida coletiva.
Atividades de aplicação
A
ATIVIDADE 2
II
■I
74
5
ATIVIDADE 3
O 2
E
C
Thomas Hobbes e o L e v ia t ã 0
N
T
Thomas Hobbes, em sua obra mais conhecida, o Leviatã, R
A
afirma que os homens no estado natural são egoístas e inseguros,
T
não conhecem leis, seguindo apenas suas paixões e desejos em 0
busca de seus próprios interesses, numa constante competição
S
pela riqueza, segurança e glória. 0
A consequência disso é uma “guerra de todos contra todos”, cuja -----Thomas Hobbes
c
solução seria delegar a soberania de modo absoluto e autoritário ao 1
(1588-1679) A
Estado e suas instituições, como forma de induzir os homens pelo L
medo e pela repressão, a honrar seus pactos, mantendo a paz.
Filósofo e cientista político
■ T inglês, Hobbes quis fundar
(1632-1704)
Locke afirma que a principal função do estado no Contrato
Filósofo inglês e Social é garantir a propriedade privada, fruto do trabalho
ideólogo do liberalismo, humano, como direito natural. Essa valorização do trabalho
é considerado o principal eleva a burguesia numa sociedade onde reis e nobres viviam
representante do como parasitas.
empirismo britânico
e um dos principais teóricos
do Contrato Social.
Rousseau e o Contrato Social
A maior parte de sua
Para Rousseau, ao contrário, a soberania está no povo, que a
obra se caracteriza
exerce por meio da vontade geral, sendo o governante apenas o
pela oposição ao autoritarismo,
representante da soberania popular.
em todos os níveis: individual,
político e religioso. Acreditava
no uso da razão para obter
a verdade e determinar
a legitimidade das
P Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo seu
instituições sociais. poder sob a direção suprema da vontade geral, e recebemos,
enquanto corpo, cada membro como parte indivisível
do todo.
ROUSSEAU, Jean Jacques. Do contrato social.
Rio de Janeiro: Globo, 1962.
(Fragmento)
DECLARAÇÃO DOS
DIREITOS DO HOMEM
Na concepção de Rousseau (no século XVIII), em estado
E DO CIDADÃO
de natureza, os indivíduos vivem isolados pelas florestas,
sobrevivendo com o que a natureza lhes dá, desconhecendo
lutas e comunicando-se pelo gesto, pelo grito e peto
canto, numa língua generosa e benevolente. Esse estado
O ^
de felicidade original, no qual os humanos existem sob a
forma do bom selvagem inocente, termina quando alguém
m
cerca um terreno e diz: “É meu”. A divisão entre o meu e
o teu, isto é, a propriedade privada, dá origem ao estado
O —t > P O H Z O O
de sociedade.
O O c n
Tema em debate reuniões.
Preâmbulo:
A sociedade civil
O Povo Francês,
A sociedade civil vive sob leis instituídas para que haja convencido de que o
organização dos diversos interesses. Essas leis representam a esquecimento e o desprezo
“vontade geral”, sendo a expressão dos interesses do povo. A dos direitos naturais
função do Estado, como garantidor da “vontade geral” , faz dele do Homem são as únicas
nada mais que uma representação dos direitos através das leis. causas das infelicidades do
Por esse ponto de vista, podemos afirmar que a sociedade civil se mundo, resolveu expor,
confunde com o próprio Estado. numa declaração solene,
estes direitos sagrados e
inalienáveis, a fim de que
■ E qual é a origem dessas leis? Que idéias justificam sua todos os cidadãos,
instituição e a obediência às mesmas? podendo comparar sem
cessar os atos do Governo
com o fim de toda
Segundo Rousseau, elas surgem do contrato social, quando instituição social, não
cada indivíduo, ao se associar, abdica do direito natural que é se deixem jamais oprimir
transformado em direito civil ou positivo, um direito artificial, e aviltar pela tirania;
que vai tentar suprir a fragilidade do direito natural e do uso da para que o Povo tenha
força, garantindo a vida, a liberdade e a propriedade privada sempre distante dos
dos governados. A partir desse contrato, o uso da força passa a olhos as bases
ser direito exclusivo do Estado, justificado e restrito à defesa da sua liberdade
e de sua felicidade,
da liberdade comum, quando se fizer necessário. A questão
o Magistrado, a
filosófica fundamental passa a ser como conciliar os interesses
regra dos seus deveres,
do homem e do cidadão convivendo na mesma pessoa. Nasce
o Legislador, o objeto
daí a distinção entre o homem e o cidadão, e as implicações e da sua missão.
funções que caberia a cada um no novo modelo de sociedade.
j
u
Curiosidades
P O homem natural é tudo para si mesmo: ele é a unidade
s numérica, o inteiro absoluto que só tem relação com ele
N próprio ou com seu semelhante. O homem civil é apenas uma
A
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS
T DO HOMEM E DO CIDADÃO unidade fracionária que depende do denominador cujo valor
U está em sua relação com o inteiro, que é o corpo social. As
R
(FRAGMENTOS)
boas instituições são aquelas que melhor sabem desnaturar
A
L
o homem, tirar-lhe sua existência absoluta para lhe dar uma
I relativa, e transportar o eu para a unidade comum: de tal
S modo que cada particular não se creia mais um, mas parte da
O ^
Atividades de aplicação
O O on
ATIVIDADE 4
III
Todos os homens são iguais
por natureza e diante da lei.
Os povos antigos não são mais um modelo para os modernos;
IV sob todos os aspectos, eles lhes são muito estranhos.
A lei é a expressão livre e Sobretudo vós, genebrinos, ficai em vosso lugar, não ides aos
solene da vontade geral; ela objetos elevados que se vos apresentam para vos esconder
é a mesma para todos, quer o abismo que se cava diante de vós. Vós não sois romanos,
proteja, quer castigue; ela só nem espartanos, nem mesmo sois atenienses. Abandonai esses
pode ordenar o que é justo e grandes nomes que não vos cabem. Vós sois mercadores,
útil à sociedade; ela só pode artistas, burgueses, sempre ocupados com vossos interesses
proibir o que lhe é prejudicial. particulares, com vosso trabalho, vosso comércio, vosso
ganho, pessoas para as quais a própria liberdade é apenas um
meio de adquirir sem obstáculo e possuir em segurança.