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Cadeia de Custódia em Operações de Busca e Apreensão - Jus - Com.br - Jus Navigandi

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27/08/2021 Cadeia de custódia em operações de busca e apreensão - Jus.com.

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Cadeia de custódia em operações de busca e apreensão


Cadeia de custódia em operações de busca e apreensão

Thiago Velozo Trufini

Publicado em 02/2017. Elaborado em 02/2017.

É necessário formalizar e conceituar a cadeia de custódia no


âmbito da busca e apreensão, visando padronizar os
procedimentos na ação policial.

INTRODUÇÃO: CONCEITUANDO CADEIA DE CUSTÓDIA

A legislação brasileira não define forma especial ou precisa o que vem a ser a
cadeia de custódia. A doutrina explorou o tema por diversos enfoques; enfatizou-
se, na maioria deles, o caráter essencial da cadeia de custódia no âmbito de prova,
após o exame pericial.

Saferstein ensina, de forma simplista, que a cadeia de custódia é “uma lista de


todas as pessoas que estiveram em posse de um item de evidência”. Por esse
conceito inicial, inferimos o caráter de organizacional de tal ferramenta, que visa
enumerar a “cadeia” de pessoas que detiveram o objeto.

Já Melbye e Jimenez, ao definirem cadeia de custódia como “estatuto em que a


evidência, como encontrada in situ, foi acompanhada desde a sua descoberta,
existindo uma sucessão segura desta até a corte”, introduzem a ideia de
conservação. Observe a diferença conceitual: aqui temos como enfoque a proteção
da evidência; diante disso, a respectiva deve, desde o momento de sua coleta, pelos
peritos, até a apresentação para o juiz, talvez já como elemento de prova,
permanecer imaculada, sem quaisquer adulterações.

Como uma fusão entre os dois conceitos acima, Chasin (2009) define a cadeia de
custódia como “um conjunto de procedimentos documentados que possibilitam o
rastreamento de todas as operações realizadas em cada amostra desde as
evidências defensáveis até a preservação da amostra.”. Ainda, a estudiosa divide a

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cadeia de custódia em fase externa, que seria o transporte da evidência do local da


coleta até o laboratório, e a fase interna, ocorrida no laboratório até o descarte ou
aproveitamento das amostras por parte dos magistrados.

As análises feitas pelos estudiosos nos demonstram o caráter essencial que a


cadeia de custódia tem para a persecução penal (e cível). Através desta ferramenta,
visa-se conservar as evidências desde a sua coleta. O que ocorre, por muitas vezes,
é que tais evidências são frutos de operações de mandado de busca e apreensão
(MBA). Desenvolvemos então, a partir desse espectro, e utilizando-se da literatura
explorada até agora, o seguinte conceito de cadeia de custódia: sequência de
proteção ou guarda dos elementos encontrados durante a execução de uma
busca e apreensão, registrada sistematicamente.

Diante disso, utilizando este enfoque, a finalidade precípua da cadeia de custódia é


de assegurar a idoneidade dos objetos e bens apreendidos, a fim de evitar qualquer
tipo de dúvida quanto à sua origem e caminho percorrido durante a investigação
criminal e o respectivo processo judicial (BUSCA E APREENSÃO 1, SENASP).

CADEIA DE CUSTÓDIA NAS EXECUÇÕES DE MANDADOS


DE BUSCA E APREENSÃO

A busca e apreensão é um instituto previsto no Código de Processo Civil e Penal


(em seu CAPÍTULO XI). Marques (2003, p.373), trata a busca e apreensão como
uma colheita acautelatória de provas, destinada a formar o corpo de delito,
sendo que a supramencionada medida é de suma importância para a efetivação de
providências tendentes a assegurar o êxito do inquérito policial.

Pitombo (2005, p. 102) distingue a busca da apreensão. Enquanto a primeira seria


um meio de obtenção da prova, que objetiva encontrar pessoas ou coisas, a
segunda seria uma medida cautelar probatória, ou seja, destina-se à garantia
da prova (trata-se de ato fim em relação à busca, que é ato meio).

Independentemente da abordagem escolhida, a finalidade da busca e apreensão é


de encontrar ou descobrir objetos que interessem à investigação, ou seja,
elementos capazes de tornar certos fatos e circunstâncias conhecidos para que,
nesta condição, sirvam de prova (BUSCA E APREENSÃO 1, SENASP).

Com tal conceito em mente, e considerando a fiscalização a qual a ação


policial (exercida por agentes de polícia e autoridades policiais) sofre,
muitas vezes levanta-se a suspeição sobre as condições de determinado objeto
apreendido, ou sobre a própria certeza de ser aquele o material que de fato fora
apreendido.

Essa suspeição pode ser levantada por  diversos atores agentes: advogados de
defesa, assistente técnico (com nova característica prevista na Lei nº 11.690 de
2008) e perito assistente.

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Faz-se necessário, então, estabelecer uma cadeia de custódia para execução do


MBA, garantindo assim a credibilidade dos elementos colhidos nos cumprimentos
de tais mandados. Essa sequência de proteção, cabe ressaltar, engloba o
momento da realização da busca até a entrega formal do inquérito
policial à justiça, devendo tudo ser registrado em documentos.

Considerando a problemática, o SENASP, por meio do Curso de BUSCA E


APREENSÃO 1, estabeleceu  14 procedimentos a serem realizados durante o
cumprimento dos mandados. Pressupomos a participação dos peritos criminais
integrando a equipe, de forma a manter a integridade das evidências e provas
resultantes.

- Procedimento 1: A busca deve ser efetuada num cômodo de cada vez (sem
desmembrar a equipe para atuar simultaneamente em outros ambientes), visando
o completo controle dos bens desde o exato momento em que forem encontrados.
Vale lembrar que, salvo emergências, o tempo não é um problema durante a
operação. Essa é uma tarefa que deve ser feita sem pressa e com muito critério.

- Procedimento 2: A autoridade policial que estiver coordenando a busca – de


acordo com o planejamento prévio – deverá colocar somente alguns policiais (em
número suficiente para tornar a busca eficiente, mas sem congestionar o ambiente
examinado) nessa tarefa. Os demais ficarão vigiando os outros ambientes.

- Procedimento 3: No momento em que algum objeto for encontrado ou em que


seja evidente a sua descoberta, os peritos criminais deverão coordenar os registros
da busca, utilizando-se dos recursos e técnicas criminalísticas para o tratamento
de vestígios em locais de crime. Além disso, a autoridade policial deverá chamar a
atenção das testemunhas para observarem o local onde o objeto se encontra.

- Procedimento 4: Encontrado o objeto, primeiramente analisa-se as suas


condições, visando conhecê-lo adequadamente, a fim de não comprometer
qualquer informação ali contida e que possa ser alterada com o simples manuseio
incorreto. Neste contexto pode haver inclusive alguma forma de camuflamento do
objeto que seja importante registrar no exame.

- Procedimento 5: Fazer o registro do objeto no exato local onde foi encontrado,


descrevendo tudo e valendo-se de fotografias e medições – a chamada amarração
– para, só depois, começar a manuseá-lo.

- Procedimento 6: Caso seja imprescindível, os peritos criminais devem estar


preparados para realizar alguns exames no próprio local, visando evitar
eventuais perdas antes da sua movimentação e recolhimento. Isso para
evitar a possível perda de alguma informação ao manusear o objeto.

- Procedimento 7: Antes do recolhimento do objeto, fazer a sua respectiva


identificação, para constar do laudo pericial e do auto de apreensão.

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- Procedimento 8: Colocar o objeto em embalagem adequada (malote, caixa,


saco plástico, etc.) e lacrar a sua abertura, apondo a assinatura do perito
criminal e/ou da autoridade policial. Quando tiver lacre próprio, relacionar
no laudo e no auto de apreensão o respectivo número do lacre. Recomendamos
ainda que o perito criminal ou o delegado de polícia acrescente um
sinal/marca própria como garantia adicional, constando essa informação
no laudo e no auto.

- Procedimento 9: Quando se tratar de material sensível ao manuseio e


transporte, tomar os devidos cuidados para mantê-lo como foi encontrado.

- Procedimento 10: Transportar o objeto para o Instituto de Criminalística se


for necessário algum exame pericial. Do contrário, levar diretamente para a
delegacia de polícia onde estão sendo coordenadas as investigações. Em se
tratando de valores ou qualquer outro material peculiar (substância entorpecente,
por exemplo), a autoridade policial deverá providenciar a guarda em local seguro
ou dar a destinação adequada. Exemplo: caso se trate de dinheiro, providenciar o
seu depósito bancário, sob a custódia do Estado, ou colocar em um cofre seguro.

- Procedimento 11: Quando o objeto chegar na Criminalística, o lacre


somente poderá ser rompido pelo perito criminal que examinará o
referido objeto, ficando sob a sua responsabilidade até o final dos exames e
entrega do laudo pericial. Durante o período do exame, nos momentos em que não
estiver sob a sua guarda visual direta, é preciso que a Instituição tenha formas
operacionais de guarda desse objeto, a fim de manter a sua idoneidade. Todas
essas informações deverão constar no laudo pericial.

- Procedimento 12: Se o objeto foi diretamente para a Delegacia ou para lugar


predeterminado em função das suas peculiaridades, a autoridade policial deverá
tomar todas as providências para mantê-lo lacrado. Somente quando necessário o
objeto poderá ser aberto, o que, para tanto, deve ser formalmente
registrado. Após, voltar a lacrar novamente. Também nesse caso, essas
movimentações devem constar de algum documento formal inserido no Inquérito,
inclusive listando o nome de quem abriu e quem manuseou tal objeto até o lacre
seguinte.

- Procedimento 13: Quando o objeto chegar na Delegacia, procedente do


Instituto de Criminalística, juntamente com o laudo pericial, somente poderá
ser aberto na estrita necessidade de algum exame. Não é preciso abrir
para conferir o conteúdo, já que, estando lacrado, a responsabilidade é do perito
criminal até o momento em que for aberto, mesmo que isso ocorra já no âmbito da
Justiça. É bom lembrar que o rompimento do lacre sem motivo justificado levanta
suspeitas a priori sobre a idoneidade do objeto, além de transferir a
responsabilidade da guarda para quem o abriu.

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- Procedimento 14: No encaminhamento do Inquérito Policial ao Judiciário, ao


relacionar os materiais apreendidos, deverão ser registrados todos os
procedimentos adotados para a manutenção da cadeia de custódia e, ao final,
informado que tais lacres só podem ser abertos por autoridade devidamente
habilitada para tal nos autos do processo.

CONCLUSÃO

A preocupação com as evidências colhidas ao longo persecução penal é necessária,


haja vista serem objetos constantes de contestação e suspeição.

A busca e apreensão é um instituto descrito nos Códigos de Processo Civil e Penal


e que resultam, justamente na produção de evidências e provas.

Diante disso, o presente artigo intentou estabelecer procedimentos para uma


cadeia de custódia no cumprimento de MBAs, o que resultaria na maior
possibilidade de evidências isentas de quaisquer vícios.

Tal objetivo resta importante para guiar os agentes de segurança durante tais
operações de busca e apreensão, além de salvaguardar o princípio da verdade
real, um dos pilares do Direito Processual Penal.

BIBLIOGRAFIA

CHASIN, Alice Aparecida da Matta.  Parâmetros de confiança analítica e


irrefutabilidade do laudo pericial em toxicologia Forense. Revista
Brasileira de Toxicologia, v. 14, n. 1, p. 40-46, 2001

CURSO DE BUSCA E APREENSÃO 1, SENASP, 2014

BRASIL.  Código de Processo Penal.  Diário Oficial da República


Federativa do Brasil. Brasília, DF, 13 out. 1941.  Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm> Acesso em
21 fev. 2017.

MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal.


Campinas: Millennium, 2003.

MELBYE, Jerry, JIMENEZ, Susan B. Chain of Custody from the Field to the
Courtroom. In: HAGLUND, Willian D. ; SORG, Marcella Harnish. Forensic
Taphonomy: The Postmortem Fate of Human Remains. Washington, DC: CRC
Press, 1997.

PITOMBO, Cleunice A. Valentim Bastos. Da Busca e da Apreensão no


Processo Penal. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

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SAFERSTEIN, Richard. Criminalistics: introduction to forensic science,


8ed. Upper Saddle River. Prentice Hall, 2004. 

Autor
Thiago Velozo Trufini

Formado em Física pela Universiade de Brasília (UnB). Mestre


em Física também pela Universidade de Brasília. Pós
Graduado (especialização) na área de ensino, pelo IBE. Atualmente Agente
de Polícia do DF e com alguns cursos na área de Direito Penal e Segurança
Pública.

Informações sobre o texto


Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

TRUFINI, Thiago Velozo. Cadeia de custódia em operações de busca e apreensão.


Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 22, n. 5025, 4 abr. 2017.
Disponível em: https://jus.com.br/artigos/56049. Acesso em: 27 ago. 2021.

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