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Aula 22 - Os Novos Modelos de Responsabilidade Social Corporativa

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Os novos modelos de

22
AULA
gestão da responsabilidade
social corporativa
Meta da aula
Apresentar teorias e modelos sobre
gestão da responsabilidade social
corporativa.
objetivos

Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:


1 analisar os argumentos contra e a favor da
ação social nas empresas;
2 identificar as áreas de atuação social de
empresas;
3 definir o papel das empresas no
desenvolvimento do exercício da
responsabilidade social;
4 destacar os tipos de responsabilidade social
que uma empresa pode assumir.

Pré-requisito
Para compreender melhor esta aula,
releia o item "Empreendedorismo"
na Aula 19.
História do Pensamento Administrativo | Os novos modelos de gestão da responsabilidade social corporativa

INTRODUÇÃO Para muitas empresas, a prática da Responsabilidade Social restringe-se ao


desenvolvimento de programas e projetos sociais voltados para a comunidade,
em sua maioria, de natureza assistencialista e filantrópica, como, por exemplo,
distribuição de alimentos, roupas, cestas básicas ou ainda projetos de voluntariado
em obras de mutirão, coletas de lixo, limpeza de praças e jardins.
Outras empresas focalizam problemas e temas sociais e desenvolvem projetos
de combate à exclusão social, redução do analfabetismo, combate à violência,
redução e prevenção de doenças etc.
Há empresas que atuam como verdadeiros agentes do desenvolvimento local e
regional, com suas ações geradoras de empregos, fomento do cooperativismo
e de formação de grupos e associações de pequenas e médias empresas e de
natureza sustentável.
Na verdade, são abordagens distintas do exercício da Responsabilidade Social
Corporativa – RSC.

O CONCEITO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL


CORPORATIVA – RSC

O conceito de RSC, que se relaciona com a ética e a transparência


na gestão dos negócios, reflete-se nas decisões que influenciam a
sociedade, o meio ambiente e o futuro da empresa. Essas decisões são
apoiadas na ética, quando os interesses da empresa respeitam os direitos
e os interesses de todos por elas afetados. A ética é a base da RSC e se
expressa por meio dos princípios e valores adotados pela organização,
sendo importante seguir uma linha de coerência entre discurso e ação.

Fonte: http://www.sxc.hu/photo/487456

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Uma empresa que tem compromisso com bem-estar e
melhoramento da qualidade de vida dos empregados, suas famílias e

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comunidade em geral produz a riqueza voltando-se para a criação de
valor para todos os públicos com os quais se relaciona. Ao produzir a
riqueza com o foco na sustentabilidade, a empresa compromete-se, enfim,
a exercer a responsabilidade social. Há uma palavra repetida por todos
os que se propõem a definir o que é RSC: público-alvo (stakeholders),
constituído de acionistas, empregados, fornecedores, governo e todas as
entidades que de alguma forma se relacionam ou poderiam se relacionar
com a empresa. As ações de RSC objetivam criar e reforçar vínculos
com tais públicos.

Na página do Senac Paraná, na internet, você pode encontrar


a síntese de todos os conceitos, idéias e pressuposições
importantes para o melhor entendimento do conceito:
“A RSC é uma nova maneira de conduzir os negócios
da empresa, tornando-a parceira e co-responsável pelo
desenvolvimento social, englobando preocupações com o
público maior.”
O endereço do site é www.pr.senac.br

! O termo responsabilidade
deriva do latim respondere (responder)
e quer dizer “a qualidade de responsável”, que
“responde por atos próprios ou de outrem”.

Veja outra definição de RSC: é o compromisso que uma orga-


nização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e
atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma
comunidade, de modo específico, agindo proativamente e concretamente
no que tange a seu papel específico na sociedade e à sua prestação de
contas para com ela. Ashley, Patrícia (org.), 2002.

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História do Pensamento Administrativo | Os novos modelos de gestão da responsabilidade social corporativa

?
As diferenças entre
filantropia e RSC

• Filantropia é a relação social da organização para com a


comunidade. É uma ação social isolada ou assistemática. Trata
basicamente de ação social externa da empresa, em suas diversas
formas (conselhos comunitários, organizações não-governamentais,
associações comunitárias etc.) e organização.
• RSC faz parte do planejamento estratégico da empresa, trata diretamente
dos negócios e de como ela os conduz. É instrumento de gestão. Engloba
preocupações com um público maior (acionistas, funcionários, prestadores
de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio
ambiente), cujas demandas e necessidades a empresa deve buscar
entender e incorporar em seus negócios.
Instituto Ethos, 2002/ Portal do Meio Ambiente
(http://www.jornaldomeioambiente.com.br/
gestaoambiental/rs.asp)

WELFARE STATE A HISTÓRIA DA RSC NO BRASIL


Forma de política
social orientada As ações sociais empresariais ganharam destaque nos EUA e na
pela concepção de
que todo indivíduo, Europa no final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Com a crise do
ao nascer, tem
Estado do Bem-Estar Social (W E L F A R E S T A T E ), a partir dos anos 1970,
direito a bens e
serviços (educação as empresas intensificaram suas ações sociais para preencher a lacuna
em todos os níveis,
saúde, auxílio ao deixada pelo Estado e contribuir para a solução dos problemas sociais
desempregado, à
garantia de uma
em processo de agravamento e expansão.
renda mínima, No Brasil, o termo RSC surgiu, pela primeira vez, na “Carta de
recursos adicionais
para sustento Princípios dos Dirigentes Cristãos de Empresas”, publicada em 1965 pela
dos filhos etc.),
que devem ser Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas do Brasil (ADCR Brasil).
fornecidos direta ou Mas somente a partir dos anos 1980 surgiram instituições promotoras
indiretamente pelo
Estado. Esse sistema das idéias e das práticas de RSC em nosso país – o Grupo de Institutos,
se desenvolveu
com o fim dos Fundações e Empresas (GIFE), em 1989, a Fundação Abrinq pelos
regimes totalitários
Direitos da Criança, em 1990, e o Instituto Ethos de Responsabilidade
na Europa e a
ampliação do Social, em 1998.
conceito de
cidadania. A partir O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE)
de 1975, entretanto,
começa a diminuição
teve papel primordial ao divulgar o primeiro modelo de Balanço Social
da expansão do das empresas. Durante os anos 1994 e 1995, o sociólogo Hebert de
Estado e tem início
a crise do Welfare Souza, o Betinho, contribuiu enormemente para a difusão das ações
State.
sociais com a sua campanha contra a fome.

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“Para nascer um novo Brasil, humano, solidário, democrá-
tico, é fundamental que uma nova cultura se estabeleça,

AULA
que uma nova economia se implante e que um novo
poder expresse a sociedade democrática e a democracia
no Estado.”
Conheça mais sobre a vida e a obra de Betinho no ende-
reço http://www.ibase.org.br/betinho_especial/luta_cidada.htm

Em 16 de junho de 1997, à frente do IBASE, Betinho lançou


a campanha pela divulgação anual do Balanço Social das Empresas.
A Campanha contou com o apoio de diversos líderes empresariais, da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), do jornal Gazeta Mercantil,
de empresas como a Xerox do Brasil, Banco do Brasil, Grupo Gerdau,
Banco do Nordeste, Light, Usiminas e outras, e de entidades como a
Firjan, Associação Comercial do RJ, Associação Brasileira de Mercado
de Capitais.
A mídia exerceu papel importante ao criar prêmios, publicações e
eventos sobre práticas da RSC, como, por exemplo, o Prêmio Valor Social
e o Guia Exame de Cidadania Corporativa. O Sebrae, a ADVB e demais
entidades intensificaram suas ações de divulgação de programas e projetos
sociais inovadores. Ainda nos anos 90, surgiram várias ONGs e, assim,
consolidou-se o Terceiro Setor no país.

Howard Bowen publicou, em 1953, o livro Social Responsabilities of the


Businessman, no qual destacou o papel social dos empresários e sua
responsabilidade na condução das ações sociais empresariais.
Acesse o site e conheça mais detalhes dessa história.
www.balancosocial.org.br

Os primeiros balanços sociais no Brasil


Em 1984, a empresa estatal Nitrofértil, que atuava no pólo petroquímico de
Camaçari (Bahia), publicou um relatório social que recebeu o nome de Balanço
Social. Trata-se, portanto, do primeiro balanço social publicado por empresa
brasileira no país. Em 1992/93, surgiu o Balanço Social do Banespa.

Os franceses saem na frente


Em 12 de julho de 1977, a França aprova a Lei no 77.769 que tornou obriga-
tória a publicação de balanço social anual para todas as empresas com
mais de 700 funcionários. A partir de 1982, esse número caiu para 300,
abrangendo um maior contingente de empresas. Em 1986, o balanço social
tornou-se obrigatório na Bélgica, e na primeira metade da década de 90,
em Portugal.

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História do Pensamento Administrativo | Os novos modelos de gestão da responsabilidade social corporativa

Muitas empresas acham que desenvolver ou financiar programas


e projetos sociais é suficiente para exercerem eficientemente a prática
da Responsabilidade Social. Como você pode perceber, a empresa
verdadeiramente social é aquela que tem a prática da RS como um de
seus valores básicos, e tais valores são compreendidos e praticados por
todos os seus empregados e parceiros. Isto só se consegue por meio de
ações estratégicas de difusão da RS, como, por exemplo, a realização de
palestras, cursos, seminários, criação de grupos de trabalho, programas
de sugestões, inserção de cláusulas sociais nos contratos com clientes
e nos projetos da empresa, monitoramento do trabalho realizado por
prestadores de serviços, realização de ações que beneficiam o cliente, os
empregados, o público em geral e a sociedade.

Atividade 1
Você já conhece a opinião do economista Milton Friedman
(Aula 21) a respeito da RSC. Agora, analise outra afirmação
dele: “Os gestores de uma empresa são empregados dos
acionistas e, portanto, têm responsabilidade fiduciária, que é
de maximizar seus lucros.” Para ele, dar dinheiro para causas
sociais ou praticar caridade é roubar os acionistas. Friedman
afirma, ainda, que “desenvolver projetos sociais transcende
as competências de uma empresa, pois o social não é o seu
negócio, e sim do governo”.
Fonte: Friedman, Milton. “The Social Responsability of Business is to
increase its profits”, The New York Times, September 13th, 1970.
Lendo os argumentos de Friedman, você tem duas opções: ser
contra ou a favor. Dê sua opinião a respeito, expressando suas
Milton Friedman
razões.
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Comentário
Se você é a favor da argumentação de Friedman, isto significa que, em sua opinião,
a empresa já exerce a sua função social ao cumprir suas obrigações legais (pagar
salários, conceder benefícios, pagar impostos etc.) e, portanto, investir em projetos
sociais externos significa reduzir a sua lucratividade. Assim, você entende que a
RSC é função do Estado e não das empresas.

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Se você é contra os argumentos de Friedman, é a favor do exercício da

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responsabilidade social pelas empresas. E, desse modo, entende que desenvolver
projetos sociais e praticar filantropia fazem parte das funções de qualquer
empresa. O lucro, nesse caso, é apenas um dos objetivos da empresa.

Para o economista Milton Friedman, a única responsabilidade dos


negócios é gerar lucros. Outros autores criticam tal abordagem e afirmam
que as empresas devem apoiar a comunidade na busca de soluções para
os seus problemas, investindo em projetos e programas sociais.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Fljhfdshrukeurrewfd.jpg

Os friedmanianos afirmam que a prática da RS se esgota no


pagamento de salários, benefícios para os empregados, geração de
empregos e pagamento de impostos. Para eles, a empresa lucrativa
reinveste seus lucros na expansão dos negócios, reiniciando um novo
ciclo de geração de riqueza que beneficia o governo, a comunidade, os
acionistas, os clientes, os fornecedores e demais parceiros. Os argumentos
defendidos pelos adeptos de Friedman resumem-se no seguinte: Quando
as empresas se afastam da sua missão natural de gerar lucros e procuram
atender a requisitos de responsabilidade social, ética e meio ambiente,
geram custos mais altos e prejudicam si mesmas, os consumidores e
a sociedade. Com custos mais elevados, as empresas perdem força e
vantagem competitiva em seus mercados de atuação.

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Já os antifriedmanianos pregam a prática extensiva da RS, por


meio de doações, patrocínios e investimentos em ações sociais, sobretudo
externas, com o foco na busca de soluções para os problemas sociais
da comunidade, além, é claro, da geração de empregos, pagamento de
salários, benefícios e impostos.
Os adeptos da RS argumentam que as ações sociais das empresas
reforçam sua imagem, que, hoje, é um dos principais ativos empresariais.
Com uma boa imagem no mercado (empresa-cidadã), a empresa fortalece
sua posição competitiva, melhora as relações com seus funcionários,
clientes, fornecedores, parceiros, governo e comunidade e, dessa forma,
obtém novos lucros em seus negócios.
Como você pode concluir, o aparente conflito entre o comporta-
mento ético-social da empresa e o seu interesse econômico (busca do
lucro) é de fácil solução. Existe uma correlação positiva entre a ética nos
negócios e a lucratividade, pois uma empresa que melhora as condições
de trabalho (aumentando a produtividade) valoriza os clientes, apóia
a comunidade, preserva o meio ambiente, obtém ganhos de imagem e
ganhos financeiros e reduz seus custos, o que contribui para o aumento
dos seus lucros. O social e o ético são também lucrativos.

OS BENEFÍCIOS DA RSC

A empresa obtém os seguintes benefícios ao praticar a RSC:


• facilita o acesso ao capital de investidores, principalmente
estrangeiros (existem fundos de investimentos interessados em
investir somente em empresas socialmente responsáveis);
• reforça a visibilidade da marca e aumenta as vendas;
• ajuda a gerenciar riscos;
• facilita a tomada de decisões;
• motiva os empregados;
• fortalece os vínculos comerciais e sociais da empresa;
• gera valor.

A pequena empresa que adota a filosofia e as práticas da RSC


tende a ter uma gestão mais consciente e maior clareza quanto à
própria missão, consegue melhor ambiente de trabalho, com maior
comprometimento dos seus funcionários, relações mais consistentes
com seus fornecedores e clientes e melhor imagem na comunidade.

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Tudo isso contribui para a sua permanência e seu crescimento,
diminuindo o risco de mortalidade, que costuma ser alto entre os

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novos negócios (Texto extraído do documento “Responsabilidade
Social e Empresarial para Micro e Pequenas Empresas.)”

Atividade 2
O caso da Unimed

A Unimed de João Pessoa, na Paraíba, criou o Unigente, um instituto de responsabilidade


social para gerenciar todas as ações sociais da empresa, nas áreas de promoção da saúde,
desenvolvimento sustentável, cidadania e meio ambiente. O Instituto coordenará ações
de incentivo ao primeiro emprego na área da saúde e apoiará estudos que contribuam
para a melhoria da saúde da população.
Nas ações voltadas para o meio ambiente, a ênfase recairá na reciclagem e no apro-
veitamento de alguns tipos de resíduos, além de um projeto de coleta seletiva para o
Hospital Unimed. O Instituto também vai atuar em projetos de promoção da valorização
humana, melhoria da qualidade de vida e inclusão social.
Agora, responda: como as três dimensões abrangidas pela responsabilidade social
(a econômica, a social e a ambiental) se traduzem nas ações sociais desenvolvidas pela
Unimed?
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Resposta Comentada
A dimensão ambiental compreende as ações de reciclagem e aproveitamento de
resíduos e de coleta seletiva. A dimensão social refere-se às ações de promoção da
saúde e de fomento da cidadania. E a dimensão econômica também se reflete nas
ações de reciclagem do lixo hospitalar que, possivelmente, dará origem à criação
ou apoio a cooperativas, cujos membros vão se beneficiar economicamente
da venda desses resíduos e do material reciclado.

Uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Responsabilidade Empresarial da


Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, sob o patrocínio da
Fundação Avina, identificou os principais problemas sociais percebidos pelas
empresas em suas comunidades de entorno: mão-de-obra pouco qualificada,
desemprego, atendimento precário à saúde, crianças e adolescentes carentes
e deficiência de oferta cultural. Segundo as empresas, os problemas que
mais impactam negativamente os seus negócios são mão-de-obra pouco
qualificada, e saúde e educação precárias.
Se você quiser obter mais informações sobre essa pesquisa, acesse o site
www.firjan.org.br

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A VISÃO DOS EMPRESÁRIOS SOBRE O CONCEITO DE RSC

Pesquisas realizadas pela InterScience, em 2002 e 2003, junto a


100 executivos de diversas empresas, analisaram a visão dos empresários
sobre o conceito de Responsabilidade Social. Na pesquisa de 2002, o
conceito de Responsabilidade Social era visto pelos empresários como
“apoio às entidades filantrópicas” (62,0%), “melhoria das condições
de vida dos funcionários” (57,0%) e “apoio a programas de proteção
ambiental” (52,0%). Tais percentuais ultrapassam o valor de 100%
porque foi permitida mais de uma resposta por participante. Em 2003,
prevaleceram os conceitos de Responsabilidade Social como “melhoria
das condições de vida dos funcionários” (90,0%) e “proteção ambiental”
(81,0%).
Em 2002, 65% das empresas afirmaram que realizam alguma ação
social; em 2003, este percentual subiu para 73%. Encontram-se dentre as
ações sociais que mais se destacaram: as ações de melhoria das condições
de vida dos funcionários (em 2002, 54% das empresas confirmaram a
realização de tais ações; em 2003, 82%), ações de preservação ambiental
(respectivamente 20% e 70%), apoio a eventos culturais (respectivamente
3% e 16%), apoio a entidades esportivas (0 e 8%) e patrocínio de filmes
e peças teatrais (0 e 8%). (Fonte: Amplia-se a Responsabilidade Social,
Carta capital, 19.2.03, p. 57.)

O CONCEITO DE AÇÃO SOCIAL

Denomina-se ação social “o conjunto das atividades que as


empresas realizam em benefício da comunidade externa (desde pequenas
doações pontuais a pessoas ou instituições filantrópicas até projetos
ou programas mais estruturados e que beneficiam públicos externos),
como também as atividades ou benefícios não obrigatórios por lei que
destinam aos seus empregados e seus familiares” (excluídas as atividades
executadas por obrigação legal do tipo vale-transporte, salário-família,
cumprimento das normas trabalhistas) (Fonte: www.firjan.org.br).

OS VETORES DA AÇÃO SOCIAL EMPRESARIAL

O exercício da RSC abrange não apenas as ações sociais


desenvolvidas pela empresa, mas a forma como ela trata seus emprega-

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dos, a transparência com que se revela para os acionistas e para a
comunidade em geral e as políticas que desenvolvem para não agredir

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o meio ambiente.
As ações sociais de uma empresa podem ser direcionadas para
um ou mais campos de atuação (Figura 22.1). Há empresas que focam
a solução de problemas sociais específicos (a Fundação Bradesco, na
Educação, a Fundação McDonald, no combate e prevenção ao câncer
infantil). Outras empresas atuam como verdadeiros agentes de evolução
social em suas comunidades de entorno (são exemplos as empresas do
tipo Usiminas, Belgo-Mineira e outras), realizam investimentos nas
áreas social, educacional, médico-hospitalar, habitacional e de infra-
estrutura, atuando como verdadeiras entidades NEOGOVERNAMENTAIS.
N E O G O V E R-
E, finalmente, aquelas empresas que agem no campo do desenvolvimento NAMENTAL

sustentável (a Natura e O Boticário são bons exemplos). Expressão do


sociólogo Manuel
Castells, autor
da trilogia Era
da Informação
(1996-1998)
para caracterizar
Reduzir organizações que
desenvolvem uma
os problemas sociais
política sustentável
de ação social, que
trabalham com e a
partir do governo,
mesmo sem uma
representação
formal,
institucionalizada.
Atuar como
agente de Contribuir para
evolução social o desenvolvimento
econômico
sustentável

Figura 22.1

OS INSTRUMENTOS REGULADORES DAS AÇÕES DE RSC

As empresas socialmente responsáveis pautam suas ações


sociais com base em diversos instrumentos normativos e reguladores.
Os mais utilizados são o Pacto Global da ONU, a Norma SA 8.000 e
os indicadores Ethos.

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O Pacto Global da ONU defende dez princípios (Objetivos


de Desenvolvimento do Milênio – ODM) em quatro áreas: Direitos
Humanos, Direitos do Trabalho, Meio Ambiente e Combate à
Corrupção.
Princípios de Direitos Humanos:
1. Respeitar e proteger os Direitos Humanos.
2. Impedir violações dos Direitos Humanos.
Princípios de Direitos do Trabalho:
3. Apoiar a liberdade de associação no trabalho.
4. Abolir o trabalho forçado.
5. Abolir o trabalho infantil.
6. Eliminar a discriminação no ambiente de trabalho.
Princípios de Proteção Ambiental:
7. Apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais.
8. Promover a responsabilidade ambiental.
9. Encorajar tecnologias que não agridam o meio ambiente.
Princípio contra a Corrupção:
10. Combater a corrupção em todas as suas formas.

Você poderá saber mais sobre este assunto, inclusive a


história do Pacto Global no Brasil, no endereço http://
www.pactoglobal.org.br/pg_oqe.php

A Norma SA 8.000

A Social Accountability International (SAI) é uma organização


não-governamental criada em 1997, nos EUA, com o objetivo de
aprimorar e acompanhar as condições de trabalho nas empresas, com
base nas normas internacionais de direitos humanos e nas convenções da
Organização Internacional do Trabalho (OIT). A Norma SA 8.000 é um

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certificado internacional baseado nas convenções da OIT, na Declaração
Universal dos Direitos Humanos e na Convenção da ONU dos Direitos da

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Criança sobre o resultado do trabalho da SAI. Essa norma de qualidade
tem por objetivo certificar empresas que contam com seu sistema gerencial
voltado para projetos de responsabilidade social. Desenvolvida por um
conselho internacional que reúne empresários, ONGs e organizações
sindicais, a SA 8.000 quer encorajar a participação de todos os setores
da sociedade na busca de dignas condições de trabalho.
A norma SA 8.000 estabelece um modelo de sistema de Gestão
da RSC e requisitos relacionados ao:
– trabalho infantil;
– trabalho forçado;
– saúde;
– segurança;
– liberdade de sindicalização;
– direito de negociação coletiva;
– discriminação;
– práticas disciplinares;
– horas de trabalho;
– remuneração.

Os indicadores Ethos de RSC

O Instituto Ethos é uma organização não-governamental criada


para ajudar as empresas a compreender e incorporar o conceito de
responsabilidade social no cotidiano de sua gestão, tornando-as parceiras
na construção de uma sociedade sustentável e justa. Sua atuação é
apoiada nos seguintes indicadores:

Valores e transparência
Valores e princípios éticos formam a base da cultura de uma
empresa, orientando sua conduta e fundamentando sua missão social.
A noção de responsabilidade social empresarial decorre da compreensão
de que a ação das empresas deve, necessariamente, buscar trazer benefícios
para a sociedade, propiciar a realização profissional dos empregados,
promover benefícios para os parceiros e para o meio ambiente e
trazer retorno para os investidores. A adoção de uma postura clara e
transparente no que diz respeito aos objetivos e compromissos éticos da
empresa fortalece a legitimidade social de suas atividades, refletindo-se
positivamente no conjunto de suas relações.
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Público interno
A empresa socialmente responsável não se limita a respeitar os
direitos dos trabalhadores, consolidados na legislação trabalhista e nos
padrões da OIT (Organização Internacional do Trabalho), ainda que
esse seja um pressuposto indispensável. A empresa deve ir além e investir
no desenvolvimento pessoal e profissional de seus empregados, bem
como na melhoria das condições de trabalho e no estreitamento de suas
relações com os empregados. Também deve estar atenta para o respeito
às culturas locais, revelado por um relacionamento ético e responsável
com as minorias e instituições que representam seus interesses.

Meio ambiente
A empresa relaciona-se com o meio ambiente causando impactos
de diferentes tipos e intensidades. Uma empresa ambientalmente respon-
sável deve gerenciar suas atividades de maneira a identificar esses
impactos, buscando minimizar aqueles que são negativos e amplificar
os positivos. Deve, portanto, agir para a manutenção e melhoria das
condições ambientais, minimizando ações próprias potencialmente
agressivas ao meio ambiente, e disseminando para outras empresas as
práticas e conhecimentos adquiridos neste sentindo.

Fornecedores
A empresa socialmente responsável envolve-se com seus forne-
cedores e parceiros, cumprindo os contratos estabelecidos e trabalhando
pelo aprimoramento de suas relações de parceria. Cabe à empresa
transmitir os valores de seu código de conduta a todos os participantes
de sua cadeia de fornecedores, tomando-o como orientador em casos de
conflito de interesses. A empresa deve conscientizar-se de seu papel no
fortalecimento da cadeia de fornecedores, atuando no desenvolvimento
dos elos mais fracos e na valorização da livre concorrência.

Consumidores e clientes
A responsabilidade social em relação aos clientes e consumidores
exige da empresa o investimento permanente no desenvolvimento de
produtos e serviços confiáveis, que minimizem os riscos de danos à saúde
dos usuários e das pessoas em geral. A publicidade de produtos e serviços
deve garantir seu uso adequado. Informações detalhadas devem estar

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incluídas nas embalagens e deve ser assegurado suporte para o cliente
antes, durante e após o consumo. A empresa deve alinhar-se aos interesses

AULA
do cliente e buscar satisfazer suas necessidades.

Comunidade
A comunidade em que a empresa está inserida fornece-lhe
infra-estrutura e o capital social representado por seus empregados
e parceiros, contribuindo decisivamente para a viabilização de seus
negócios. O investimento pela empresa em ações que tragam benefícios
para a comunidade é uma contrapartida justa, além de reverter em
ganhos para o ambiente interno e na percepção que os clientes têm da
própria empresa. O respeito aos costumes e culturas locais e o empenho
na educação e na disseminação de valores sociais devem fazer parte de
uma política de envolvimento comunitário da empresa, resultado da
compreensão de seu papel de agente de melhorias sociais.

Governo e sociedade
A empresa deve relacionar-se de forma ética e responsável com os
poderes públicos, cumprindo as leis e mantendo interações dinâmicas com
seus representantes, visando à constante melhoria das condições sociais e
políticas do país. O comportamento ético pressupõe que as relações entre
empresa e governos sejam transparentes para a sociedade, os acionistas,
os empregados, os clientes, os fornecedores e os distribuidores. Cabe à
empresa manter uma atuação política coerente com seus princípios éticos
e que evidencie seu alinhamento com os interesses da sociedade.
(Fonte: http://cidadania.terra.com.br/interna/0,,OI289819-EI3453,00.html)

Atividade 3
O caso da Bunge

A Bunge é uma das principais empresas de agribusiness e alimentos do país. Por meio
de suas subsidiárias – a Bunge Fertilizantes e a Bunge Alimentos –, produz fertilizantes
e ingredientes para nutrição animal, processa e comercializa soja, trigo e outros grãos,
fornece matéria-prima para a indústria de alimentos e food service, além de produzir
alimentos para o consumidor final. Em 2004 faturou 23,2 bilhões de reais. Tem 11 mil
funcionários distribuídos em 300 unidades (fábricas, portos, centros de distribuição e
silos de grãos).
Em 2002, a Fundação Bunge, braço social do grupo, lançou o programa “Comunidade
Educativa”, com o objetivo de capitalizar o entusiasmo e a criatividade dos

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funcionários para que juntos, empresa, funcionários e comunidade, pudessem contribuir


para melhorar a qualidade de ensino das escolas da rede pública.
As principais ações desenvolvidas são a promoção da cultura participativa, o incentivo
à relação entre a família e a escola e o estímulo à produção de projetos de melhoria
do ambiente escolar das comunidades onde a Bunge atua.
O programa, com metas de longo prazo, une educadores, alunos, pais, auxiliares
administrativos e de manutenção, líderes comunitários e voluntários em torno de um
objetivo comum: a melhoria do Ensino Fundamental (Fonte: www.bunge.com.br).
Há projetos sociais direcionados para o público interno (empregados e seus dependentes)
e para o público externo (clientes, fornecedores, governo, comunidade). São poucos os
projetos com duplo foco: voltados para os públicos interno e externo. E são poucos os
projetos que mobilizam diferentes públicos em torno de seus objetivos.
Identifique as principais características do programa Comunidade Educativa da Bunge:
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Resposta
São as seguintes as principais características desse programa:
– voltado para diversos públicos (empregados, membros da comunidade, alunos,
pais de alunos, professores etc.);
– tem um duplo objetivo: interno (promover a cultura corporativa, capitalizar o
entusiasmo e a criatividade dos funcionários) e externo (melhorar a qualidade
de ensino na rede pública);
– fomenta o voluntariado corporativo na empresa;
– é centrado em dois problemas sociais de grande relevância: promove as melhores
práticas de ensino público fundamental e combate a evasão escolar;
– formação de uma rede social.
Trata-se, portanto, de um voluntariado corporativo de ação.
Os empregados voluntários trabalham no programa e contribuem decisivamente
para o alcance dos seus resultados. A rede criada pelo programa é constituída
de funcionários, consultores, alunos e professores.

164 C E D E R J
?

22
AULA
Uma cultura participativa dentro
da empresa refere-se a um tipo de gestão que
dá poderes aos funcionários, permite que eles participem de
decisões importantes, mantém uma comunicação simétrica, incentiva
o trabalho em equipe e possui menos regras rígidas de acompanhamento
de tarefas. Ao contrário, uma cultura autoritária trata os funcionários
como parte da máquina, valoriza mais os resultados do que a
criatividade para a inovação e pratica regras rígidas com
detalhamento das tarefas.

A pesquisa do IPEA
O Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), uma
fundação pública vinculada ao Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão, realizou, em 1998, uma pesquisa
nacional sobre as ações sociais desenvolvidas pelas empresas.
No Rio de Janeiro foi constatado que 59,0% das empresas
já haviam realizado algum tipo de ação social. No Espírito
Santo, esse percentual foi inferior (45,0%). Os Estados de São
Paulo e Minas apresentaram índices maiores: 66,0% e 81,0%,
respectivamente.

OS MODELOS DE GESTÃO DA RSC

Dentre os principais modelos de Gestão da RSC, destacam-se


os de Lipson, Prakash Setti, Davis e outros que você vai conhecer na
seqüência desta aula.

O modelo de Lipson

Para Lipson, são cinco os elementos formadores do que ele


denomina abordagem desejável e socialmente responsável para o
cumprimento das obrigações sociais:
• incorporação das metas sociais ao processo anual de plane-
jamento;
• busca, em seu ramo, de normas comparativas para programas
sociais;
• prestação de contas das atividades de RS da empresa aos
acionistas, empregados e membros do Conselho;

C E D E R J 165
História do Pensamento Administrativo | Os novos modelos de gestão da responsabilidade social corporativa

• uso de diferentes modelos e abordagens com o objetivo de avaliar


o desempenho social da empresa;
• avaliação dos custos das ações de RS, bem como o retorno dos
investimentos em programas e projetos sociais.

O modelo de Davis

Desenvolvido por Keith Davis, este modelo compreende as


seguintes proposições:
• a responsabilidade social nasce do poder social (a empresa tem
grande influência e poder sobre temas sociais);
• as empresas devem funcionar como um sistema aberto de duas
vias, recebendo informações da sociedade e informando-a sobre
suas ações (a empresa deve interagir com a sociedade, trocando
informações relevantes sobre suas ações e as necessidades
daquela);
• os custos e benefícios sociais de uma atividade, produto ou
serviço devem fazer parte dos estudos de viabilidade e avaliação
dos mesmos (a lucratividade e a viabilidade técnica, econômico-
financeira não devem ser os únicos critérios utilizados no
processo de decisões empresariais);
• os custos sociais das atividades, produtos e serviços da empresa
devem ser repassados aos consumidores (as empresas devem
repassar os custos de atividades economicamente desvantajosas
e socialmente desejáveis para os consumidores);
• as empresas, assim como os cidadãos, têm o compromisso de se
envolver com as questões sociais (as empresas têm uma função
social importante a cumprir).

O modelo de Prakash Setti

Sethi apresenta três abordagens administrativas para cumprir as


obrigações sociais:
• abordagem da obrigação social (as empresas têm finalidades
econômicas e devem cumprir apenas as obrigações sociais que
são definidas em lei);
• a abordagem da responsabilidade social (as empresas devem
cumprir seus objetivos econômicos e sociais);
• a abordagem da resposta social (as empresas devem cumprir suas
obrigações econômicas e sociais e também prever problemas
166 C E D E R J
22
sociais e contribuir para a busca de soluções para tais problemas,
pois elas devem atuar como agentes do desenvolvimento

AULA
econômico e social da sociedade em que atuam).

OS MODELOS DOS SETE VETORES DA RSC

Melo Neto e Froes (1999) definem sete vetores da responsabilidade


social corporativa:
• apoio ao desenvolvimento da comunidade na qual atua a
empresa;
• preservação do meio ambiente;
• investimento no bem-estar dos funcionários e dependentes e em
um ambiente de trabalho agradável;
• comunicações transparentes;
• retorno aos acionistas;
• sinergia com os parceiros;
• satisfação de clientes e consumidores.
Os autores distinguem dois tipos de RS: a RS interna (foco no
público interno) e RS externa (foco no público externo).

O MODELO DE WOOD

Donna Wood (1991) definiu três níveis de responsabilidade social


corporativa:
Nível 1: princípios de responsabilidade social: refere-se à
publicação de balanço social e à elaboração de um código de ética.
Nível 2: processos de capacidade de resposta social: refere-se à
existência de políticas e mecanismos de gerenciamento das relações com
os stakeholders (auditoria social, prestação de contas).
Nível 3: resultados/ações de responsabilidade social: diz respeito
à avaliação do impacto das ações sociais junto aos stakeholders internos
(funcionários, acionistas, executivos) e externos (clientes, meio ambiente,
fornecedores, comunidade).

MODELO DE MICHAEL HOPKINS

Hopkins definiu os seguintes indicadores do exercício da RSC:


• legitimidade (existência e divulgação do Código de Ética);

C E D E R J 167
História do Pensamento Administrativo | Os novos modelos de gestão da responsabilidade social corporativa

• responsabilidade pública (criação de empregos, contribuição


para inovações, administração de litígios e penalidades);
• arbítrio dos executivos (condenação de executivos por atividades
ilegais e adoção do código de ética pelos executivos);
• percepção do ambiente (exame das questões sociais relevantes
para a empresa);
• gerenciamento dos stakeholders (relacionamento, políticas,
auditoria social, relatórios de prestação de contas);
• administração de questões (políticas, regulamentos);
• efeitos nos stakeholders (lucratividade/valor, atividades ilegais,
bem-estar da comunidade, filantropia, código de ética, relação
com sindicatos, segurança, salários e benefícios, demissões,
políticas para mulheres e minorias);
• efeitos nos stakeholders externos (propaganda enganosa,
relação com clientes e consumidores, recall de produtos,
litígios, reciclagem e uso de produtos reciclados, uso de etiqueta
ecológica nos produtos, relação com a comunidade, doações,
envolvimento com os programas comunitários);
• relação com os fornecedores (litígios, controvérsias);
• efeitos institucionais externos (processos por ações clássicas,
litígios, melhorias nas políticas públicas e legislação).

MODELO DE CARROLL: OS DEGRAUS DA


RESPONSABILIDADE SOCIAL

Archie B. Carroll (1991) desenvolveu um modelo com base nos


diversos tipos de responsabilidades assumidos por uma empresa.

4o Responsabilidades filantrópicas

3o Responsabilidades econômicas

2o Responsabilidades éticas

1o Responsabilidades legais

Figura 22.2: Os degraus da RSC.

168 C E D E R J
22
No 1o degrau, temos as responsabilidades legais, das quais derivam
as outras. Ao aplicá-las, as empresas cumprem as leis e os regulamentos

AULA
do governo.
No 2o degrau, temos as responsabilidades éticas, que se traduzem
na adoção de padrões de conduta aceitável no relacionamento da empresa
com seus stakeholders (empregados, clientes, fornecedores, governo,
sociedade).
No 3o degrau, estão as responsabilidades econômicas que dizem
respeito à busca incessante do lucro (a maximização da riqueza ou valor
para seus stakeholders, sobretudo proprietários, empregados, clientes,
acionistas e sociedade).
Finalmente, as responsabilidades filantrópicas (4o degrau), que se
traduzem na realização de ações sociais em benefício da sociedade.

O MODELO DE LOGSDON E YUTHAS

Os autores definem três tipos de abordagens da RSC que podem


ser utilizados pela empresa:
• a abordagem pré-convencional: ocorre quando o foco da empresa
é voltado para si próprio; sendo assim, despreza as relações com
seus públicos externos;
• a abordagem convencional: o foco da empresa encontra-se nos
parceiros e no cumprimento restrito da legislação vigente;
• a abordagem pós-convencional: a empresa adota princípios
éticos universais e sua ênfase está na promoção do bem-estar
dos empregados e demais stakeholders (governo, acionistas,
comunidade etc.).

C E D E R J 169
História do Pensamento Administrativo | Os novos modelos de gestão da responsabilidade social corporativa

O filme Quanto vale ou é por quilo, de Sérgio Bianchi, critica o que ele denomina indústria da
boa ação da qual participam empresas socialmente responsáveis, ONGs, governo e entidades que
realizam ações sociais filantrópicas. Para Bianchi, a indústria da caridade ou da boa ação é centrada
nos sintomas e não nas causas dos problemas sociais. Vive de doações, mas não dá condições para
o pobre reerguer-se. São ações meramente pontuais, feitas, em sua grande maioria, por ONGs que
gastam mais com sua estrutura do que propriamente com suas ações sociais, sendo que muitas vivem
exclusivamente dos recursos do governo. Cria a falsa noção do mercado dos pobres e da miséria.

Sinopse
Uma analogia entre o antigo comércio de escravos e a atual exploração da
miséria pelo marketing social, que forma uma solidariedade de fachada.
No século XVII um capitão-do-mato captura uma escrava fugitiva, que
está grávida. Após entregá-la ao seu dono e receber sua recompensa, a
escrava aborta o filho que espera. Nos dias atuais uma ONG implanta o
projeto Informática na Periferia em uma comunidade carente. Arminda,
que trabalha no projeto, descobre que os computadores comprados foram
superfaturados e, por causa disto, precisa agora ser eliminada. Candinho, um
jovem desempregado cuja esposa está grávida, torna-se matador de aluguel
para conseguir dinheiro para sobreviver.
Atenção: Acesse o site e veja o trailler do filme.

(Fonte: http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/quanto-vale-ou- e-por-quilo/


quanto-vale-ou-e-por-quilo.htm#Sinopse)

O filme The corporation (A corporação), de Mark Achbar e Jennifer Abbot


,critica o comportamento amoral das grandes empresas, muitas delas
tidas como empresas-cidadãs e mostra a verdade por trás das grandes
corporações que utilizam a RSC como uma necessidade de legitimação
de suas práticas altamente lucrativas.
O filme apresenta um histórico da ascensão das grandes corporações,
como Nike, Monsanto, Coca-Cola e outras, abordando as questões
sociais, políticas, ambientais e econômicas ligadas a essas corporações.
Mostra também as repercussões da hegemonia dessas corporações na
sociedade e na vida das pessoas. Baseado no best seller The corporation:
the pathological pursuit of profit and power (A corporação: a patológica
busca do lucro e do poder), foram convidados CEOs, lobbistas, gurus,
espiões, jogadores, hipotecários, corretores de títulos e estudiosos para
revelar o trabalho, as curiosidades, os impactos controversos e os futuros
possíveis de quatro grandes corporações. Com grandes entrevistas com
personalidades do mundo dos negócios como Noam Chomsky e Howard
Zinn, e o documentarista Michael Moore, The corporation denuncia muitas irregularidades e
apresenta diversas vitórias contra algumas instituições que se dizem invencíveis.

(Fonte: http://www.comciencia.br/200405/resenhas/resenha2.htm)

170 C E D E R J
22
CONCLUSÃO

AULA
São muitas as controvérsias que cercam a prática da RSC pelas
empresas. Os seguidores do economista Milton Friedman alegam que a
empresa, ao cumprir suas obrigações legais, gera empregos, paga salários
e benefícios para os seus empregados e, portanto, já cumpre o seu papel
social. Exigir dela novas ações sociais implica transformá-la em uma
entidade neogovernamental e retirar do Estado a sua função básica de
prestar serviços sociais à comunidade.
Os críticos de Friedman, ao contrário, defendem a prática da
RSC como uma função empresarial compatível com a busca do lucro.
E, para os adeptos do marketing social, ajuda a empresa a incrementar
seus lucros e obter melhor posicionamento e vantagens competitivas no
mercado.
O uso das ações sociais como instrumento de marketing também
tem sido alvo de muitas polêmicas. Para alguns teóricos, as empresas
socialmente responsáveis devem adotar um perfil low profile (baixa
visibilidade) e não divulgar suas ações sociais na mídia, pois, se o fizerem,
estarão incorporando o social ao seu negócio e dele tirando proveito
em termos de lucros e oportunidades de mercado. Para esses críticos do
marketing social, a RSC é uma prática secundária e paralela e, sendo
assim, não deve ser objeto do marketing da empresa, porque este deve
ser restrito às práticas comerciais.
Por outro lado, existe a corrente dos adeptos do marketing
social que pregam a estratégia do high profile (alta visibilidade) das
ações sociais. Defendem as práticas do marketing social e demonstram
os seus benefícios para os empregados da empresa, para o fomento do
voluntariado e para o estímulo à participação da sociedade.
É neste contexto que a RSC tornou-se um dos principais objetos
de estudo da moderna teoria administrativa.

C E D E R J 171
História do Pensamento Administrativo | Os novos modelos de gestão da responsabilidade social corporativa

Atividades Finais
Ações sociais inovadoras com sinergia: o caso Tecnisa

1. A Tecnisa é uma empresa de construção civil. Criada em 1977 em São Paulo e


reconhecida como uma das empresas mais bem administradas no Brasil, na pesquisa
Carta capital/Interscience, em 2003 e 2004, atua nos campos do desenvolvimento de
projetos, na incorporação e construção, principalmente de edifícios residenciais. Sua
especialidade é a construção de condomínios, flats e prédios de escritório.
Em 2001, a empresa decidiu complementar sua função de agente econômico e iniciou
seu programa de Responsabilidade Social Estratégica, com os projetos Ler e Construir
(alfabetização de adultos) e Profissionais do Futuro (capacitação técnica).
Em 2003 e 2004, a Tecnisa ganhou os prêmios Amanco e Master Imobiliário,
respectivamente pelas suas ações de responsabilidade social.
O projeto Ler e Construir teve início em abril de 2002 e já conta com cerca de 150 alunos
que trabalham nas obras da empresa. Três vezes por semana, após o expediente, eles
assistem às aulas nos próprios canteiros de obras. O projeto conta com o apoio da
Universidade Estadual Paulista – UNESP –, que fornece os professores, e o SENAI, que
desenvolve o material didático. Ao final do curso, que dura oito meses, os alunos fazem
uma prova final e, se aprovados, obtêm o certificado de alfabetização, correspondente
à 4a série, reconhecido pelo Ministério de Educação e Cultura. O projeto também inclui
visitas a museus, bibliotecas e galerias de arte.
O projeto Profissionais do Futuro, iniciado em 2003, tem como objetivo capacitar mão-
de-obra para a construção civil: pedreiros, eletricistas, carpinteiros etc.
A empresa tem hoje mais de 60 alunos participando de diversos cursos, que são
ministrados por engenheiros, mestres, estagiários e técnicos voluntários da Tecnisa
(Fonte: www.tecnisa.com.br).

Agora que você leu com atenção, identifique algumas características das ações sociais
desenvolvidas pela empresa (os projetos Ler e Construir e Profissionais do Futuro) e
informe porque elas são importantes.
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22
Resposta Comentada

AULA
A principal característica de tais ações é a sua alta sinergia com o negócio da empresa.
Seu objetivo é formar e capacitar futuros profissionais para a própria empresa. Com
isso, a empresa aumenta a qualidade da sua mão-de-obra, incentiva a lealdade dos
novos empregados e constrói um clima saudável de trabalho entre os instrutores da
empresa e os empregados participantes do programa.

2. As ações sociais da Tecnisa não param por aí. Um outro projeto inovador da empresa
é o Projeto Vizinho.
Seu objetivo é estabelecer um relacionamento e, sobretudo, o convívio pacífico com
todos os vizinhos que residem no local próximo ao empreendimento em obras.
No início da obra, a empresa envia uma xícara que simboliza a política de boa
vizinhança, com uma carta de apresentação do engenheiro responsável pela obra.
Na carta, são explicados os detalhes da obra, suas características, seus benefícios para
a vizinhança e são solicitadas sugestões.
Abre-se, também, um canal de relacionamento com os vizinhos da obra, através
da divulgação do e-mail da empresa, para envio de futuras reclamações, dicas e
sugestões.
Identifique a principal característica inovadora desse projeto.
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Resposta Comentada
Trata-se de um projeto social inovador porque atua como um instrumento de comunicação
e marketing de relacionamento com os vizinhos. Cria e reforça vínculos com a vizinhança
e fortalece a imagem da empresa na comunidade local.

3. Agora, identifique, para cada uma das afirmações contidas nos itens a seguir, os
níveis de responsabilidade social envolvidos no desempenho da Tecnisa.
a. A Tecnisa segue rigorosamente todas as leis municipais que regem os aspectos
relacionados à poluição sonora e dos horários de trabalho. Por exemplo, no estágio
da fundação, de segunda a sábado, os trabalhos nas obras se iniciam às 8 horas da
manhã (e não às 6 horas) e se encerram às 19:30h e não às 22:00h, conforme previsto
em lei.

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C E D E R J 173
História do Pensamento Administrativo | Os novos modelos de gestão da responsabilidade social corporativa

b. Uma das grandes prioridades sociais da Tecnisa é estabelecer bons relacionamentos


com os vizinhos que residem próximo a seus empreendimentos em construção.
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c. A Tecnisa trata, cuidadosamente, de cada detalhe em seus projetos imobiliários. O


conjunto desses cuidados é o que a torna "mais construtora por m2". Isso se inicia com
a escolha da localização de cada empreendimento, passa pela concepção dos projetos
e termina no acabamento sofisticado de alta qualidade.
______________________________________________________________________________

d. A Tecnisa promove junto a seus empregados campanhas de doação de roupas e


alimentos para entidades da comunidade.

Respostas Comentadas
a. Nível de responsabilidades legais (pagamento de impostos e cumprimento das leis).
b. Nível de responsabilidade nos campos ético e social (adoção de padrões de conduta
aceitável no relacionamento da empresa com os seus diversos públicos: empregados,
clientes, fornecedores e sociedade).
c. Nível de responsabilidade no campo econômico (produzir bens e serviços, maximizar
riqueza ou valor para seus proprietários, acionistas e parceiros).
d. Nível de responsabilidade filantrópica (conjunto de ações sociais que beneficiam
pessoas, grupos e entidades da sociedade).

174 C E D E R J
22
RESUMO

AULA
A prática da RSC teve início em 1953, nos Estados Unidos, e chegou ao Brasil
nos anos 1970, quando foi publicada a carta de princípios do dirigente
cristão de empresas pela Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas
do Brasil.
O exercício da RSC ganhou grande impulso com os trabalhos realizados
pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas – GIFE (1989), da Fundação
Abrinq (1990) e do Instituto Ethos (1998). E, mais recentemente, com a
criação de diversos institutos e fundações de caráter social pelas empresas
e o surgimento das ONGs no âmbito do Terceiro Setor.
Em 1997, surgiu o primeiro modelo de Balanço Social, criado pelo IBASE,
sendo hoje um instrumento de gestão muito utilizado pelas empresas.
A prática da RSC foi amplamente disseminada no mundo empresarial e
na mídia. Muitas empresas, até mesmo as micro, pequenas e médias, já
incorporaram as ações sociais ao seu modelo de gestão. Na mídia, já são
várias as iniciativas sob a forma de prêmios, pesquisas e publicações especiais
que divulgam e fomentam novas práticas de RSC.
Em 1998, a pesquisa do IPEA demonstrou significativo crescimento das
ações sociais empresariais, sobretudo nas regiões Sul e Sudeste. No mundo
acadêmico, foram produzidos diversas teorias e modelos de análise dos
processos de RSC nas empresas e no âmbito do Terceiro Setor.
A partir dos anos 1990, houve um expressivo crescimento das ações de
marketing social e ampliou-se enormemente o escopo das ações de RSC,
com a incorporação das dimensões da ética e da sustentabilidade.

INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA

Na próxima aula, você vai conhecer as idéias de Tom Peters e seus seguidores,
que analisam o fenômeno da busca da excelência empresarial.

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