Rizzi Corrigida
Rizzi Corrigida
Rizzi Corrigida
São Paulo
2021
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Um Mágico entre Bruxas:
Uma Perspectiva Psicossocial sobre Leitura Fria e Práticas Divinatórias
Versão Corrigida
Banca Examinadora
Nome: ____________________________________________________________
Assinatura: _________________________________________________________
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Assinatura: _________________________________________________________
Nome: ____________________________________________________________
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Resumo
perspectivas que alicerçam tais fenômenos e métodos como a leitura fria, com os
bruxaria moderna.
4
Abstract
Divination practices, psychic readings, and reports of communication with the dead
are present in different ages and socio-anthropological contexts based on magical and
supernatural beliefs about the nature of the world. For a better elucidation of such
that underscore alike phenomena and methods such as cold reading, which
individuals could build the illusion of paranormal phenomena that emerge in such
practices. Due to the scarcity of material on the subject in the Portuguese language,
the first part of the research consists of a bibliographic review and the analysis of
scientific publications related to the theme. Last but not least the second part consists
modern witchcraft.
5
Sumário
Apresentação ..............................................................................................................9
Referências .............................................................................................................124
Anexo.......................................................................................................................134
6
Dedicatória
7
Agradecimentos
Aos Profs. Fátima Regina Machado e Wellington Zangari, pela fonte de inspiração e
ericksonianas.
Aos colegas do Inter Psi: Beatriz, Camila, Douglas, Fábio, Gabriel, Guilherme,
À minha vizinha, que carinhosamente orou por mim quando soube que eu estava
À professora de teatro que, certa vez, disse que eu parecia mágico e não psicólogo.
8
Apresentação
práticas divinatórias.
O primeiro efeito de mágica que ganhei foi a urna dos dados, quando tinha
dos anos graças ao meu peculiar interesse em tal temática. Recordo-me de que,
alguns anos depois, eu conseguia adivinhar, com relativa frequência, em qual das
mãos uma pessoa escondia uma moeda por meio de métodos que viria a estudar
Paradoxalmente, não previ que um dia faria uma dissertação de mestrado em uma
vivenciei nos períodos que antecederam a urgência médica. Anos depois, viria a
9
místicas apresentadas por William James e que as mesmas poderiam também ser
holotrópica, e não apenas por meio de longos períodos de disciplina dos retiros de
meditação.
entortava talheres e lia mentes não era genuíno como eu, ingenuamente, acreditava.
Ao que investigações apontaram, ele utilizava artifícios parecidos aos que eu mesmo
pela qual eu nutria um grande respeito, me havia relatado que ela mesma tinha
entortado um garfo anos antes enquanto assistia Uri Geller na TV. Estaria ela, assim
como diversas pessoas que relatavam experiências parecidas e que viriam a fazer
truques e ilusões? Teria sido Jesus Cristo um grande mágico? As irmãs Fox,
10
período da adolescência, aos fenômenos espirituais típicos a tais contextos, como as
sessões mediúnicas que, por vezes, eram realizadas na residência dos meus pais.
Nesse ambiente, conheci uma pessoa que viria a despertar em mim um grande
interesse por tais fenômenos. Dora é uma senhora negra, de baixa estatura, sorriso
discreto, olhar profundo, com aproximadamente 90 anos. Ela era vidente e médium,
orientação. A seu convite, cheguei a participar de uma sessão dentre as muitas para
as quais eu sempre era estimulado a participar por minha família, mas sempre
recusava. “Se ele quisesse, se tornaria um grande médium, mas ele nunca fará isso.
Ele vê de outra forma”; com tais palavras, Dora ganhou minha admiração. Mas foi a
teria como ter conhecimento por meios convencionais que me fez considerar a
genuínos. No momento em que escrevo tais palavras, duas décadas depois, ainda
com os conhecimentos que tenho atualmente a respeito dessas questões, não sei
explicar por meios convencionais o que ela, naquele momento, aparentemente fez.
11
falacioso do mesmo. Por qual motivo a levitação de mesas em sessões espíritas
estender para a própria dita ciência na qual tais fenômenos eram objetos de estudo.
Foi então que me deparei com alguns artigos e vídeos produzidos pela
decidi retornar ao curso de psicologia, que havia trancado anos antes, com o intuito
interessava e que aprendera por meio da leitura de livros de mágica, e que utilizava
para controlar os meus episódios de migrânea, com efeitos por vezes melhores que
Durante as semanas seguintes, uma espécie de pressentimento que algo ruim iria
acontecer me acompanhou. Um ano mais tarde, meu pai teve um tumor cerebral e
12
Tal acontecimento me levou a ponderar que tais experiências, ilusões ou não,
podem exercer uma influência muito significativa na vida do sujeito que as vivencia,
fator que, a despeito da existência ontológica ou não de tais fenômenos, não deve
uma palestra sobre hipnose e, desde então, comecei a frequentar alguns dos grupos
leitura fria e a procurar por pesquisadores que haviam estudado tal temática sob a
perspectiva científica. Com exceção das pesquisas de Ray Hyman e Chris Roe, são
aparentemente inexistentes.
O estudo da leitura fria se mostra necessário também por essa técnica estar
refletem uma visão mágica sobre o mundo. O trabalho que se segue, portanto, é
13
Justificativa e Objetivos
Metodologia e Procedimentos
temática e na pesquisa de publicações científicas, por meio das bases de dados Web
psychology of magic”.
realizada junto a adeptos de bruxaria moderna que praticam artes divinatórias. Como
14
Parte 1
15
1. Introdução
entendida como a arte da ilusão ou do mistério, é uma arte que pode alterar a
a uma teoria que propõe que fenômenos mentais, como pensamentos e sentimentos,
não podem ser reduzidos a fenômenos físicos (APA, 2010). No entanto, dentro da
Matthew Tompkins, Alice Pailhès e Gustav Kuhn vêm estudando a interação entre
e bem-estar.
16
Quando um mentalista aparentemente entorta uma colher com o poder da sua
mente, ou adivinha o que um indivíduo está pensando, dois fatores podem ser
o ilusionista de fato produz tais efeitos, os quais, em geral, não temos consciência.
Um exímio ilusionista direciona nossa atenção para que percebamos o efeito, mas
Wiseman, 2008).
O mentalista, por meio da sua arte, pode criar a ilusão de possuir habilidades
específicos.
“truques” no sentido estrito do termo (Banachek, 2010; Brown, 2007, 2011), dentre
elas:
17
• hipnose: não são poucos os mentalistas que a utilizam em suas rotinas em
desconhecido. A leitura fria pode estar associada ou não à leitura quente, que
paranormal. A figura mais polêmica envolvendo essa questão é o israelita Uri Geller,
um ilusionista que, por vários anos, alegou ser um verdadeiro paranormal, alcançando
que alega realmente possuir poderes sobrenaturais, podendo se valer disso para
18
Cabe ressaltar que o fato de tais fenômenos paranormais poderem ser
(Lamont, 2017; Wiseman, 2017). Por outro lado, existem pesquisadores, dentre os
possuem de tais métodos, sugerem evidências favoráveis a psi (Bem, 2011; Cardeña,
2018; Radin, 1997, 2008, 2013; Tressoldi & Storm, 2010), mantendo essa polêmica
questão em aberto.
criarem os resultados que buscam, uma vez que o próprio cientista também pode
de “cabra”) poderia obter resultados abaixo do esperado pelo acaso (Parker &
Brusewitz, 2003). Embora não seja a intenção desta pesquisa investigar a existência
necessária por estar relacionada aos fenômenos criados por meio do ilusionismo.
19
Dentre os inúmeros relatos de fenômenos sobrenaturais na história da
humanidade, a adivinhação do futuro e o contato com o além estão entre os que mais
exercem impacto na vida das pessoas, por permear alguns dos aspectos mais
disso, tais fenômenos existiram, ainda se fazem presentes e talvez seja possível
métodos de leitura da sorte e/ou adivinhação do futuro, que vão das linhas das mãos,
2014; Struck, 2016.). Uma pesquisa sobre experiências anômalas na vida cotidiana
verificou em sua amostra que 16,7% dos participantes havia consultado um médium,
própria finitude, tende a ser uma experiência angustiante para os indivíduos, e tal
sentimento pode ser um dos alicerces de muitas crenças religiosas (Becker, 2018).
Desse modo, o pretenso contato com o além seria a evidência da existência de uma
vida após a morte, e tal ideia pode se tornar uma fonte de felicidade e sentido para a
20
Harry Houdini, após a morte da sua mãe, consultou médiuns em uma tentativa
de obter comunicação com o além e aliviar seu sofrimento pela perda. No entanto,
ele ali constatou fraudes deliberadas e, a partir desse evento, iniciou um processo de
exposição de tais charlatães que continua pelo mundo até hoje, com figuras como o
com sinais como batidas em uma mesa de madeira. A partir delas, outras formas de
comunicações foram sendo desenvolvidas, como o tabuleiro ouija, que, por sua vez,
uma das Irmas Fox afirmou tais fenômenos não passavam de uma brincadeira que
terem sido, de fato, uma fraude e que a própria realidade e o mundo em que vivemos
O estudo da arte mágica também pode suscitar uma questão feita há séculos
por filósofos e cientistas: o que é a realidade? Comumente definimos como real aquilo
que existe, em oposição à ilusão, entendida como aquilo que não existe. Tais
concepções são fundamentadas nas percepções que obtemos do mundo através dos
21
conclusão de que o que percebemos na vida cotidiana e a realidade em si podem não
22
2. Psicologia da Mágica
2.1 Conceitualização
e/ou poder de modificar o mundo segundo seus desejos utilizando-se para isso de
Por outro lado, a palavra mágica também é utilizada para se referir à arte
2019).
1: magia
magos”
23
1: arte, ciência ou prática de produzir, por meios ocultos, fenômenos
3: fascínio, encanto
4: ilusionismo, mágica
sorte ou de um inimigo
2: magia negra: prática mágica cuja intenção é causar danos, como destruir ou
ferir alguém
Desse modo, para que a (ilusão) mágica exista, o indivíduo precisa ter a
de um outro mágico talvez não tenha uma experiência mágica caso conheça o
mecanismo por meio do qual tal efeito seja criado. Da mesma forma, um indivíduo
24
que acredita na existência da percepção extrassensorial, especialmente se tal
fenômeno lhe parecer corriqueiro ou ordinário, talvez não experiencie o feito realizado
2011).
carta do tarô em uma carta distinta temos uma experiência mágica que é mediada
e feitiços. Pode-se dizer que rituais mágicos diferem dos rituais religiosos
571).
25
A distinção linguística é ainda mais tênue em outras línguas, como o inglês e
vivencia, seja ela uma ilusão ou sistema de pessoal de crenças e práticas sociais
2.2 Magia
Oráculos e Magia entre os Azande (Pritchard, 1976), O Ramo de Ouro (Frazer, 1976),
(Bronoswik, 1986), e Esboço de uma Teoria Geral da Magia (Mauss & Hubert, 1904).
da presente exposição.
manipularia a natureza por meio de sua vontade, utilizando por vezes elementos da
produzir o fenômeno desejado, enquanto o religioso oraria para os deuses (ou faria
conectadas, utilizadas pelos indivíduos para obter efeitos que estariam além das suas
capacidades humanas.
A distinção entre magia e religião pode se tornar mais obscura e tênue dentro
almejados, elas podem produzir efeitos psicológicos por vezes benéficos ao indivíduo
(Malinowski, 1978). No entanto, da mesma maneira que o efeito nocebo (i.e., o efeito
nocivo de algo originado pela expectativa), a magia também poderia produzir efeitos
épocas, e, ao contrário do que Keith Thomas (Thomas, 1991) propôs no título de sua
27
O movimento “new age”, surgido na América do Norte em meados da década
Bruxas e Magos”, que ocorre anualmente no Brasil desde o ano de 2003, é o maior
suas práticas e sistemas de crença, como a Wicca. Outras religiões, embora não
reconheçam algumas de suas práticas como mágicas, poderiam ter alguns de seus
1996).
da vida fundamentados por meios não habituais quando, por exemplo, desejamos
que a face da moeda caia segundo nossa aposta, ou quando realizamos um desejo
28
Em sua mais recente obra, o parapsicólogo Dean Radin (Radin, 2018) propõe
a teoria de que a magia seria real e utiliza como evidência controversos dados
precognitivos.
utilizar-se do pensamento mágico (ou religioso) como meio para influenciar aquilo que
2.3 Mágica
raízes ligadas à trapaça por um lado, e ao oculto e sobrenatural, por outro, para se
29
a compreensão dos contextos socioculturais em que tais práticas emergem podem
entidades não humanas) (Annemann, 1983; Corinda, 1996). O mentalista, com suas
com os espíritos dos mortos ou até mesmo com o demônio, caso assim quisesse e
Richard Osterlind e, por vezes deixa obscura essa já sutil e tênue fronteira entre ilusão
comunidade mágica. Para tais autores, um ilusionista que diz estar se utilizando de
ilusões para a criação de seus efeitos elimina o mistério envolvendo seus feitos, de
a desempenhar no mentalismo.
Enquanto alguns ilusionistas se opõem a tal feito, outros se valem dele para
plausível. Se, por um lado, são poucos os indivíduos que acreditam que um coelho
30
possa aparecer magicamente dentro de uma cartola, não são poucos os que
épocas.
comunicação com os mortos para feitos mentais como a adivinhação, ou feitos físicos
Personagens enigmáticos ligados a esse universo como Anna Eva-Fay, Irving Bishop,
de falsos médiuns, que ela era uma ilusionista. A convite de Houdini, Eva-Fay seria a
Eva-Fay, viera a criar seu próprio ato, em que realizava incríveis adivinhações por
habilidade. Após sua controversa morte, Bishop teve seu cérebro dissecado em uma
autópsia em busca de uma anomalia que explicasse suas habilidades (Wiley, 2005).
31
Daniel Dunglas Home foi considerado por muitos como o primeiro grande
levitar com seu piano sobre sua casa. Mas, a exemplo do clássico truque da corda
indiana, tal feito talvez nunca tenha existido da forma como fora relatado (Lamont,
2005; 2004).
final de suas vidas, que as supostas comunicações com os mortos que realizavam
não eram reais, mas sim truques (Weisberg, 2004). No entanto suas confissões
como telepatia, não significa necessariamente que tais fenômenos sejam quiméricos.
dos mecanismos mágicos que poderiam criar a ilusão dos fenômenos os quais são
32
2.4 Ciência da Mágica
objeto de estudo da psicologia da mágica, área de estudo que vem crescendo nas
no Brasil.
1900) expõe uma taxonomia dos efeitos mágicos e propõe a hipótese de que
trapaças, enganos e ilusões teriam uma função psicossocial e até mesmo evolutiva.
Uma criança, por exemplo, aprenderia em algum momento de sua vida que por meio
do fingimento ela poderia conseguir algo que não ganharia caso não fingisse. Do
utilizasse o truque de parecer estar morto. Embora tais truques não sejam sinônimos
desconheça o método por meio do qual tal efeito é produzido, o que depende, em
experiência mágica.
33
O misdirection sob uma perspectiva psicológica pode ser compreendido como
subjetiva por vezes nos leva a crer, não temos total consciência das experiências que
coisas distintas uma vez que nossa percepção é constituída por dados sensoriais e
34
A memória, por exemplo, a partir da qual constituímos dentre outras coisas
subjetivo do que usualmente cremos (Kunh, 2019). Falsas memórias podem propiciar
Nosso senso de livre arbítrio, por meio do qual temos a sensação de realização
de escolhas individuais também pode ser uma (inquietante) ilusão psicológica. Como
pesquisas sobre psicologia da mágica apontam, um ilusionista pode nos levar a crer
que realizamos determinada escolha quando de fato fomos manipulados por meio de
fundamentados em uma ilusão, deliberada ou não. Desse modo, uma ilusão mágica
poderia criar uma experiência dita paranormal a qual, por sua vez poderia contribuir
mesmo, culminando em uma realidade psicossocial tão tangível quanto uma xícara
de chá.
35
3. Leitura Fria
3.1 Conceitualização
O conceito de leitura fria foi publicado pela primeira vez na obra “The Dead do
Not Talk”, escrita pelo Mágico Julien J. Proskauer, na qual o autor discorre sobre os
métodos utilizados por médiuns e videntes. O termo “frio” refere-se ao fato do vidente,
de tal feito. Em tal obra, o autor considera que os adeptos de tais práticas são
ingenuamente fazia.
2007), compreende a leitura fria como uma relação diádica entre cliente e leitor, que
36
se utiliza da perspicácia e feedback interacional (verbal e não-verbal) para a criação
O mentalista Ian Rowland, em sua obra (Rowland, 2012, p. 13), define leitura
fria, fundamentalmente:
Proponho definir leitura fria como um método que utiliza técnicas psicológicas
exclusivamente a dois únicos pesquisadores: Chris Roe, com seis publicações (“A
(“Cold Reading: How to Convince Strangers that You Know All About Them”, “Talking
37
with the Dead, Communicating with the Future and Other Myths created by Cold
Embora tenha publicado apenas um artigo exclusivo sobre leitura fria, ele dedicou
boa parte de sua vida ao trabalho de desmascarar falsos paranormais, como Uri
mentalistas Banachek e Mike Edwards conseguiram enganar, por mais de dois anos,
paranormais. Peter Popoff, por sua vez, é um evangelista americano que se denomina
conhecidos na década de 80 por causa dos seus aparentes dons espirituais. Popoff
alega que Deus fala em seus ouvidos e revela informações pessoais sobre os
indivíduos que participam de seus cultos. James Randi expôs ao vivo o método
utilizado por Popoff: a voz de Deus em seus ouvidos era, na verdade, a voz da sua
por terceiros. Ironicamente, muitas pessoas não deram ouvidos a James Randi e
continuam até hoje sendo enganadas por Popoff, que continua muito popular.
textos dos mentalistas Corinda, Max Maven, Bob Cassidy, Richard Osterlind,
38
exclusivamente à temática: “The Full Facts Book of Cold Reading”, de Ian Rowland,
mágicos para mágicos, o que dificulta que o público geral e também os pesquisadores
Systematic Seer”, desenvolvido pelo mágico Ken de Courcy, o mais simples e criativo.
Tal método permite que o mentalista crie leituras individuais improvisadas de acordo
e, por vezes, clichês como as utilizadas no efeito Forer, que serão abordadas em um
capítulo posterior.
Cold Reading Strategies” de Chirs Roe em parceria com Elizabeth Roxburg (Roe &
se tornarem cada vez mais precisas, utilizando o próprio consulente como meio.
39
Figura 1: Estágios da leitura fria: O processo se inicia por meio de uma linguagem vaga e ambígua,
que mediada por pistas ambientais e feedback interacional, se torna acurada e precisa.
processo de feedback não verbal do consulente e citam a relação proposta por Hyman
verbal que acontecia entre ele e seu treinador (Hyman, 1981). Através desse
40
processos não conscientes e constituiriam o conteúdo da interação entre leitor e
consulente.
sobre leitura fria sob a perspectiva do mentalismo, em que a mesma pode ser utilizada
considerar necessariamente idênticas, como fazem alguns autores, uma vez que tal
tais fenômenos.
O fato de concluir a priori que todos os médiuns e videntes utilizem leitura fria
apenas porque mentalistas conseguem criar a ilusão de tais feitos através dessas
técnicas pode ser equivocado da mesma maneira que deduzir que o fenômeno da
extrassensorial, devem ser questionadas por outras razões e critérios, mas não por
41
Outra hipótese defendida por alguns autores, e que pode se mostrar
leitura fria de maneira “inconsciente”. O problema com tal perspectiva é o fato que a
hipótese não é refutável, uma vez que tais pressupostos dificilmente podem ser
verificados ou testados. Não optarei também por classificar tais sujeitos através da
presumindo que aqueles utilizariam técnicas de leitura fria sem que tenham
conhecimento de tal feito, uma vez que tal denominação implica, sob minha
espontânea em suas práticas. Tal denominação não está isenta de problemas, uma
vez que a palavra “intuição”, em alguns contextos, pode ser interpretada como uma
comunicações com os mortos. Mas considerar a priori que eles assim o fazem,
42
Com concepção oposta aos autores céticos estão os autores defensores da
hipótese psi (Radin, 2008, 2018; Targ, 2010, 2014), que também incorrem em erro ao
considerar que tais fenômenos podem ser decorrentes de ilusões deliberadas ou não,
e que podem ser explicadas por outros processos psicológicos como expectativa,
discursiva (Wooffitt, 2020). Por meio de tai métodos é possível analisar, sob uma
mediúnicas apenas depois que hipóteses mais simples, como processos psicológicos
determinado fenômeno.
relação a eventos que estão além do nosso controle, a consciência e a angústia frente
43
2017; Machado, 2009). Tais práticas são encontradas em, eventualmente, todas as
existência de pessoas que encontram nelas maneiras de lidar com suas angústias e
pressupostos que possamos ter a a priori, com o intuito de percebê-lo em sua própria
tampouco diz respeito a uma ingênua subjetivação dos fenômenos, mas constitui um
compreensão.
de prosseguir com a exposição, uma vez que boa parte da discussão dessa
questionavam inclusive se o conhecimento real sobre algo poderia de fato ser obtido.
44
logos, com uma ordem subjacente aos fenômenos (Reale, 2015, 2017). Uma
nenhuma das duas poderiam, de fato, ser verificadas. Epicuristas e estoicos teriam
então crenças distintas a respeito da natureza do universo, mas ambos não saberiam
de fato qual a natureza do universo, o que traçaria uma importante distinção entre
crença e conhecimento.
contraria a perspectiva que tenho sobre a natureza das coisas pode se mostrar uma
estratégias utilizadas em leitura fria, e terá como fundamento a estrutura proposta por
Ian Rowland na obra “The Full Facts book of Cold Reading” (Rowland, 2012). Tal
escolha justifica-se pelo fato de (a meu ver) a referida obra ser a mais completa
realizando leituras frias e das interações situacionais que vivenciei com médiuns e
45
Alguns elementos antecedem o início formal de uma leitura fria. O primeiro
deles tange a escolha do sistema, ou prática, no qual o leitor fundamentará sua leitura,
sendo que tal escolha pode ser decorrente de preferências pessoais, ou parte de uma
tarô difere de uma leitura baseada nas linhas das mãos, de uma leitura na bola de
cristal, de uma leitura mediúnica, ou de uma leitura puramente intuitiva. A escolha por
uma estrutura a partir da qual a leitura se desenvolverá, que poderá ser utilizada para
contornar possíveis erros que possam ocorrer por parte do leitor durante o processo.
elemento aleatório, mas também se desenvolve a partir de uma estrutura básica que
são as linhas das mãos. Em tal sistema, a mão é considerada uma estrutura
46
representados, cabendo ao leitor o reconhecimento dos sinais para a posterior
interpretação.
“Linhas profundas e marcantes... possui uma alma peculiar. Vejo em sua linha
do coração uma tendência a se deixar dominar eventualmente pelas
emoções... Sua linha da mente, no entanto, parece refletir um pensamento, por
vezes, crítico demais. Existe uma ligação tênue entre as duas... Você deve
equilibrar tais ambiguidades. Terá muito tempo para tanto, a julgar pela
característica da sua linha da vida.”
consulente pode discordar de uma afirmação que o leitor faz em relação ao seu futuro,
uma vez que tal possibilidade não pode ser verificada pelo mesmo. Mas imaginemos
uma situação em que o consulente discorda da afirmação que o leitor faz a respeito
vida. O leitor pode reafirmar sua fala reestabelecendo o sistema de crença do sistema,
ao dizer, por exemplo, que as linhas das mãos refletem tendências e que seu papel
é dizer o que ele vê ou então realizar uma reinterpretação da carta afirmando, por
consulente e propiciar um contexto que encoraje sua cooperação, sem que o mesmo
47
“Eu espero te ajudar, mas devo te lembrar que por vezes, as visões que tenho
não são muito claras e que elas podem não fazer muito sentido para mim...
Vou precisar que você se abra para a experiência, e que me auxilie dando
significado para aquilo que eu vejo, para construirmos a experiência juntos ...
Estou vendo relógio antigo. Isso faz sentido para você? O que isso pode
significar?”
maneira:
“Você deve saber que esse processo não ocorre com facilidade, e que por
vezes, ele independe de nossa vontade... Preciso que você relaxe e seja
receptivo... Estou sentido uma presença... É uma mulher...uma mulher
idosa...ela está sorrindo para você, mas não disse seu nome. Me pergunto
quem ela é... Ela disse que sente sua falta e sempre está ao seu lado, mesmo
nos momentos em que você não se recorda dela...”
se valer de tais aspectos dentro do processo de leitura como, por exemplo, ao utilizar
supostas comunicações com os mortos em uma cultura onde existem religiões que
culturas onde tais crenças inexistem. É interessante notar que mesmo crenças
48
programas de TV e reality shows, transformando determinados médiuns em
celebridades.
Por vezes, uma leitura é validada por meio do impacto emocional que essa
causa no consulente e não por meio de uma análise racional feita pelo mesmo. Em
videntes são conselhos sobre como lidar e resolver problemas cotidianos. Tais fatores
ocorrem e de características como tom e ritmo da voz, pausas de silêncio que podem
Imaginemos que tais palavras foram proferidas durante uma leitura informal por meio
volta a beber seu café. Consideremos então, que as mesmas palavras foram
distintas como as descritas anteriormente, não é difícil inferir que as mesmas palavras
49
poderão desencadear pensamentos, sentimentos e ações muito diferentes no
consulente.
bom ouvinte podem, em uma leitura divinatória ou mediúnica, ser mais significativas
(Larson, 2018).
recebe a leitura, assim como a qualidade dos utensílios que são utilizados na leitura.
Um baralho de tarô antigo, com figuras evocativas, que permanece dentro de uma
caixa dourada, envolto a um pano preto, pode evocar uma experiência diferente de
durante uma prática de leitura fria, tais elementos por vezes se misturam e não
50
Brad Henderson, sugere em seu livro “The Dance”, (Henderson, 2017) que a
leitura fria está mais próxima da arte do que de uma ciência, e que o fator mais
mentalista Luke Jermay (Jermay, 2014), possui sua própria metodologia, mas
que constitui uma das bases para sua compreensão (ainda que não a única) será
objeto de discussão.
negar, mesmo que não sejam verdadeiros: “Noto, pela sua mão, que você
Tende a perceber muitas coisas, antes que a maioria das pessoas venham a
se dar conta”.
51
experiência que acontece apenas quando o indivíduo se mostra receptivo para
aos vários estágios da vida: “Percebo que você abriu mão de alguns dos
“Você possui uma grande dedicação para a vida familiar, mas noto que, em
Forer, que será abordado posteriormente em outro capítulo: “Alguns dos seus
• Fato difuso: inicia-se com uma afirmação vaga, que transformará em algo mais
querida?”
mesmo?”
52
• Adivinhação por acaso: refere-se a fazer adivinhações contando com a sorte.
Essa técnica costuma ser utilizada com precaução por parte do leitor, uma vez
Caso a mesma esteja errada, o leitor poderá alterá-la com outras técnicas de
leitura fria: “Vejo uma presença ao seu lado... cabelos grisalhos... vestido
relações”.
valorizar”.
mesmo? Mas, percebo, que elas o tornaram uma pessoa mais forte”.
53
• Toque sazonal: são declarações consistentes com as estações e épocas do
ano: “Prefere uma boa companhia e um chocolate quente a sair para a rua a
noite”.
“Vejo alguém em sua vida, cuja companhia não te agrada... É uma pessoa...”
de algo que o segundo não se recordava. Tal técnica está relacionada aos
passado... um quarto escuro... você era pequeno e por algum motivo estava
sozinho... um objeto redondo cai próximo a você... você sente medo e tenta se
esconder...É uma memória muito antiga... Pode ser que você tenha escondido
consciência de estarem ocorrendo. Por meio dela, o leitor cria a ilusão de revelar
54
mecanismos de percepção e memória seletivas, que estão relacionados a tal
parte de uma afirmação: “Tenho a impressão que você teve uma perda
apresenta uma estreita interação com a linha da mente. Isso sugere que de
e a roda do destino, parece indicar que você é uma pessoa muito criativa e que
parece indicar que existe uma questão em seu íntimo que você prefere não
55
“Você não possui animal de estimação, possui?” “Sim, eu sinto que possui um
afeto grande por ele” ou “Não, eu disse que você não possuía”
digam algo sobre ele, e que podem se fazer despercebidas para a maioria
aos relacionados ao passado. Uma vez que declarações a respeito do futuro, por sua
56
• Predições Peter Pan: consiste em previsões sobre o que o consulente deseja
difusa... Ah sim, agora vejo claramente... você irá encontrar alguém muito
indicam que as dificuldades que você está tendo em relação ao dinheiro serão
• Predições certeiras: diz respeito a previsões que não podem falhar: “As cartas
possibilidades: “Vejo em sua mão que você será mãe de uma menina”
de acontecerem: “Tenho uma forte impressão de que você irá reencontrar uma
57
melhores escolhas...Você notará isso em breve, e se surpreenderá que tais
verificar: “A situação a qual você está vivenciando tem raízes profundas. São
na Inglaterra”
podem ser verificadas caso ocorram: “Sinto que você possuiu um admirador
que deseja expressar seus sentimentos a você, mas está com receio de não
ser correspondido”
Tais técnicas e estratégias são utilizadas por leitores quando algumas de suas
declarações possam vir a ser rejeitadas ou negadas por alguns de seus consulentes.
dificilmente tal feito será percebido como suspeito durante o processo de leitura fria.
contidos na declaração:
58
• Consciência: refere-se a reafirmar a declaração negada pelo consulente,
parte dele:
-Sinto a presença de sua vó aqui comigo... Não faz muito tempo que ela
partiu...
-Na verdade, já se passaram 10 anos...
-Entendo seu ponto de vista, mas da perspectiva espiritual isso é pouco
tempo comparado a eternidade...
59
• Aplicabilidade: refere-se a redirecionar a declaração negada, a alguém que
-Vejo ela agora aqui ao seu lado...ela também diz que o ama muito...e que
sente falta de dormir ao seu direito na cama...
-É muito bom confortante ouvir isso... mas isso não faz muito sentido, ela
sempre dormia ao lado esquerdo da cama
-Hmm... agora faz sentido... eu havia entendido errado...quando ela disse lado
direito eu entendi que se tratava do seu lado direito, mas na verdade ela, era da
perspectiva dela... ela sorriu e acenou com a cabeça quando você disse que ela
dormia ao lado esquerdo...
60
-Você está errado
-Talvez você não esteja reconhecendo essa característica em você. Tenho uma
forte impressão que você vivencia sentimentos intensos em seu íntimo... Mas
talvez escolha não os demonstrar para não expor suas vulnerabilidades... Pode
ser que você esteja fazendo isso comino nesse momento...
-Talvez...
-Talvez?
-De fato, isso ocorre as vezes...
estratégias para uma releitura o leitor pode, por vezes, admitir alguns de seus
tais perspectivas naturalistas não seriam suficientes para compreender tais práticas.
61
As hipóteses sobre as habilidades extrassensoriais dos videntes como;
maneira anômala podem ser consideradas dentro uma pesquisa, depois que os
genéricos.
62
Quando estamos diante de uma descrição psicológica realizada por médiuns,
Tal tendência psicológica foi denominada pelo psicólogo Paul Meehl como
espetáculos, mas que eram percebidas como precisas e objetivas pelos indivíduos
um teste psicológico e validada pelos estudantes, foi criada, na realidade, por meio
admirem;
63
• Você dispõe de grande capacidade não utilizada e que não tem empregado
em seu proveito;
compensá-las;
íntimo;
• Por vezes tem dúvidas quanto a ter tomado a decisão correta ou feito a coisa
certa;
restrições;
facilmente;
com base em suas informações pessoais. No entanto, o referido mapa astral fora
64
No entanto, nem todas as afirmações que ocorrem em leituras psíquicas
podem ser explicadas por meio do efeito Forer, uma vez que tal efeito se refere a
divinatórias.
Minha hipótese é que efeito similar também ocorre com afirmações envolvendo
foram elaboradas pelo autor da presente pesquisa tendo como base as afirmações
• Teve problemas de saúde que fizeram com que você mudasse alguns hábitos;
• Você possui uma verdadeira amizade que perdura desde sua infância;
bebê, mas, por vezes, tem uma sensação estranha de que algo aconteceu com
você.
65
Para verificar se a hipótese de que o processo de validação subjetiva frente a
à tal empreitada futura, uma vez que até o presente momento não tenho
partir de uma perspectiva subjetiva que pode estar enviesada sem que estejamos
próprio sistema de crença (Alcock, 2012; Hood,2010; Lamont, 2017; Shermer, 2012).
também o fazemos a partir de uma perspectiva pessoal que pode por meio de
sustente seu próprio sistema de crença a respeito do que ocorreu (French, 2014;
perceber algo como mágico ou sobrenatural porque desejamos que tal experiência
66
paranormal que realize adivinhações sobre nosso futuro (French, 2014; Kuhn, 2019;
Wiseman, 2017).
não aconteceu, uma vez que nossas memórias podem ser influenciadas por meio de
que propiciou vantagens evolutivas na história humana. No entanto, tal função por
vezes pode ser falaciosa, fazendo como que percebamos padrões em contextos onde
causam angústia e medo com o intuito de diminuir nosso sofrimento psíquico. Tais
2010).
criar estratégias, mesmo que ilusórias, que ocasionem a sensação de que possuímos
67
tal controle. Essa sensação de controle aumenta nosso bem estar e pode auxiliar a
morte e a consciência da nossa própria finitude e dos seres que amamos. A partir
(Becker, 2018).
Existindo ou não vida após a morte, tais crenças podem dar sentido à nossa
vida e à perda de um ente querido. Tais crenças podem nos impelir, por mecanismos
percebidos há algum tempo. O famoso mágico Harry Houdini (1874-1926) relata que
buscou a ajuda de médiuns para se comunicar com sua falecida mãe em busca de
um alívio para seu sofrimento. No entanto, constatou que os médiuns aos quais
ou práticas divinatórias, tal perspectiva pode mostrar-se equivocada uma vez que
mesmo indivíduos cultos, inteligentes e até céticos podem ser iludidos por técnicas
68
O brilhante pioneiro da psicologia norte-americana William James (1842-1910)
médium, mesmo com todo o conhecimento que possuía sobre psicologia e ciente da
de leitura fria para a obtenção e revelação de informações, isso é uma questão que
dificilmente pode ser elucidada, uma vez que tal experiência não acontecera em
métodos científicos.
pessoas, como um estudo envolvendo leitura dos olhos demonstrou. Por outro lado,
tais indivíduos demonstraram níveis elevados de empatia, o que pode explicar alguns
anômalas sob condições cientificas (Beischel et al., 2015; Kelly & Arcangel, 2011;
Paraná et al., 2019), enquanto outros estudos não confirmam tal possibilidade
(Enoksen & Dickerson, 2018; Jensen & Cardena, 2009; O´Keefe & Wiseman, 2005).
Cabe ressaltar que, mesmo que alguns indivíduos de fato obtivessem informações
por meios anômalos, isso não confirma necessariamente a existência da vida pós
morte, uma vez que existem outras hipóteses que explicariam como tais feitos
69
Em uma de minhas experiências com médiuns, eu me recordo da condição
afetiva que me acometeu quando tal indivíduo relatou que estava tendo uma visão do
meu falecido avô. Pessoalmente, não acredito que tal médium estava tentando me
enganar uma vez que eu conhecia sua integridade moral. E as descrições que ela
fizera sobre meu avô não me surpreenderam, pois eu tinha consciência do fato dela
ter conhecido meu avô enquanto estava vivo. No entanto, mesmo não acreditando
que tal médium estava, de fato, se comunicando com meu avô eu me recordo de que,
expectativas, sugestão etc. (Alcock, 2012; Hood,2010; Lamont, 2017; Shermer 2012).
Como nos recorda William James, por vezes acreditamos porque queremos acreditar
(James, 1896). E algumas de nossas crenças podem fazer com que, em alguns
momentos, não sejamos iludidos propriamente por outros, mas por nós mesmos
(Wiseman, 1997).
70
4. Práticas Divinatórias
4.1 Conceitualização
estão intimamente ligadas a outras similares, como a magia e bruxaria (Segal &
Stuckrad, 2015).
como, por exemplo, o voo e sons dos pássaros ou outros elementos da natureza
71
A ênfase em uma categoria ou outra é influenciada por questões históricas,
refletiriam uma ordem subjacente. Tal ordem se expressaria em sinais que poderiam
2016).
ver, percepção de verdade sem raciocínio, visão beatífica. Tal concepção ortodoxa
72
Cunningham, 2018), na qual o conceito de intuição, em geral, é compreendido como
(Flower, 2009). A função social dos videntes persiste até os dias atuais em muitos
4.2.1 Transe
maior frequência em estados de consciência não habituais (May & Marwaha, 2015).
73
De acordo com a Associação Americana de Psicologia (APA, 2010), EAC pode
para pessoas comuns que buscavam respostas para problemas cotidianos, como
problemas sociopolíticos, onde tais práticas exerciam uma grande influência cultural
(Giebel, 2013).
uma sacerdotisa (pítia), que levava uma vida de castidade e recolhimento, e era
74
considerada um receptáculo divino por meio do qual o deus se expressava. Durante
consciência. A pítia poderia exprimir-se ora em versos, ora em prosa, e não era
Tal estado de possessão, por vezes, era considerado uma espécie de “loucura divina”
e por vezes era reconhecida como uma forma de conhecimento superior a razão
“- ele está como quiseres apresentá-lo – tu o tens nas mãos, vivo ou morto.”
(Giebel, 2013)
4.2.2 Sonhos
75
sistema imunológico e no processo de aprendizagem (Walker, 2017). Crenças de que
fenômenos divinatórios poderiam ocorrer por meio dos sonhos são encontrados em
contemporânea.
Os sonhos poderiam ser compreendidos tanto como uma forma natural como
indutiva de divinação, uma vez que o conhecimento oculto poderia se revelar de uma
maneira direta como visões ou por meio de conteúdos simbólicos que deveriam ser
Convenção de Bruxas e Magos do ano de 2018, que acontece desde o ano de 2003
76
• Abacomancia (por meio da poeira)
4.3.1 Tarô
respectivos métodos.
que o tarô teria propriedades mágicas e uma origem mística (Bem-Dov, 2020;
A segunda teoria propõe que que o taro fora criado inicialmente como um
jogo de cartas e não com propósitos divinatórios, mas que posteriormente por
fins (Dummett, 1980). Embora alguns autores influentes no meio reconheçam que
81
Suíça, Áustria e sul da França, mas não chegou à Inglaterra, Espanha e Estados
(Dummett, 1980).
posteriormente nos séculos XIX e XX, por meio de figuras como o bruxo Aleister
movimento Nova Era que emergiu em meados da década de 1970 nos Estados
Unidos.
possui relação com o ocultismo, mas com fatos históricos desconhecidos por
divinatórias podem ser utilizadas em interação a leitura fria, como recurso artístico
mágica onde alguns de seus membros, por vezes, se apresentam como videntes
enquanto outros, ironicamente, não veem tal feito com bons olhos.
82
Parte 2
Pesquisa Etnográfica
83
5. Um Mágico entre Bruxas
5.1 Introdução
entre tais práticas mágicas e o mentalismo, e por nenhuma pesquisa – até onde
Withcraft”, primeiro livro publicado sobre mágica, no ano de 1584. Nele, o autor expõe
crença de que tais fenômenos eram reais e evitar que tais indivíduos acusados de
em que existe uma clara delimitação e separação entre o pesquisador e seu objeto
espontânea e naturalmente.
5.2 “No Creo em Brujas, pero que Las Hay, Las Hay”
Recordo-me que, durante a infância, minha mãe acreditava que uma das nossas
vizinhas era “do mal”. Seu temor não se referia a algum malefício concreto que tal
mulher pudesse realizar, como uma agressão física ou verbal, mas a algum malefício
oculto. Recomendava que eu e meu irmão não olhássemos para os olhos dela, pois
isso poderia nos fazer mal, e não foram poucas as vezes que desviávamos o caminho
de volta para casa para não encontrarmos tal mulher. Se, porventura, isso
acontecesse, éramos levados à outra vizinha, que era benzedeira, para que ela
No sistema religioso que eu fui criado, existiriam dois seres sobrenaturais, deus
85
dualista, por existirem representantes do bem em nosso mundo, também é possível
fazer o bem para outros por meio de orações, também seria possível fazer o mal por
personificação do mal, por vezes, pode ser utilizada pra explicar a existência do mal
no mundo, uma vez que tais feitos seriam inconcebíveis como decorrentes da
Não me recordo de minha mãe utilizar a palavra bruxa para designar essa
culturas: era velha, feia, sozinha e teria o poder de fazer o mal aos outros por meios
primeiro contato real que tive com tal temática aconteceu no ano de 2018, em uma
livros esgotados sobre história da bruxaria em um site que reúne sebos de todo o
presente outro livro, que até então desconhecia, caso eu retirasse os livros em mãos.
86
Agradeci a oferta e combinamos um dia para que eu retirasse os livros em sua
residência.
Ao chegar notei que a antiga casa não possuía campainha, e precisei realizar
a acompanhasse até a garagem, onde seu marido estava para buscar o livro que me
relacionada a bruxaria, ocultismo e magia, que viria a descobrir que eram assuntos
terceiro livro, que, de acordo com os mesmos, era melhor em comparação aos dois
utilizando o livro que acabara de receber. A reação de espanto dos mesmos acabou
também por me espantar. Insistiram para que então eu entrasse na (sombria) casa e
tomasse um chá, que era a especialidade da sua esposa. A insistência fora tão grande
que tive uma incomoda sensação de que algo ruim poderia acontecer caso aceitasse
conscientemente que o casal de velhinhos pudesse fazer algum mal contra mim, uma
parte em meu íntimo me fez sentir medo e evitar tal situação, levando-me a considerar
que as crenças que compartilhei em minha infância poderiam ainda me influenciar por
87
algum processo não consciente. O impacto dessa experiência e a curiosidade a
5.3 Bruxaria
Considerar a bruxaria um assunto trivial que não mereça ser objeto de estudo
cerca de metade desse número foi morta em decorrência de tal acusação entre os
séculos XV e XVII, e que tais fatos históricos eram influenciados por questões de
outros aspectos socioculturais (Durrant & Bailey, 2012; Russell & Alexander, 2019).
todo e que, por meio do conhecimento das ligações ocultas que conectam todos os
fenômenos, seria possível modificá-los de acordo com nosso desejo (Davies, 2016;
tentativas de desconstrução de tal conceito (e.g., Quevedo, 1989) não são bem vistas
diabo em seus rituais mágicos, em que realizavam, dentre outros feitos, infanticídios,
88
levitações, profanações do cristianismo e orgias sexuais – está fundamentada em
feitiçaria, religiões pagãs, folclore e heresia cristã (Durrant & Bailey, 2012; Russell &
Alexander, 2019).
popularmente se acredita, e chegaria ao fim entre 1650 e 1750 (Durrant & Bailey,
supersticiosas e sensuais, sendo, por isso, presas fáceis do diabo, que encontraria
nelas uma maneira de agir no mundo (Kraemer, 2017). Para a filósofa e feminista
movimento político de controle e geração do capital. Tal controle social aconteceu por
meio da opressão de gênero e controle da natalidade, uma vez que tais mulheres
também a América, tendo como destaque o caso das famosas Bruxas de Salém, em
89
aproximadamente 10 anos, que realizaram adivinhações que haviam aprendido com
psicológicos e neurológicos que foram interpretados pela família religiosa das garotas
época. Outras hipóteses sugerem que tais fenômenos seriam consequências de uma
intoxicação causada pelo fungo esporão do centeio (a partir do qual o LSD seria
sintetizado) que teria acometido o vilarejo por, ou até mesmo como uma brincadeira
maliciosa. Embora não exista um consenso a respeito dos fatores que teriam causado
da década de 1950. A Wicca teve como percursor Gerald Gardner e tem como
“encantar” e, de acordo com Gardner, a Wicca seria uma tradição ligada a um culto
ancestral de bruxaria que antecedia a tradição cristã pela qual fora por oprimida,
permanecendo oculta por séculos até seu ressurgimento, fato que não é corroborado
90
A Wicca é uma religião neopagã, mágica e de culto à natureza, ao feminino e,
Gardner foi influenciado pelas teorias de Margaret Alice Murray (Murray, 2001; 2003),
Robert Graves (Graves, 2000), Charles G. Leland (Leland, 2016) e Jules Michelet
(Michelet, 1992), além da figura controversa de Aleister Crowley, com quem teve
Em decorrência das pesquisas sobre leitura fria, tive conhecimento, por meio
o conteúdo programático das palestras, cursos e práticas que ocorreriam nos dois
temáticas que atraíram minha atenção: uma bruxa que praticava clarividência com a
do evento, aproveitei o primeiro dia para participar de outras palestras sobre métodos
vestia de roupas pretas e adereços como capas, anéis, colares e, por vezes, varinhas
91
Além de bruxas, encontrei magos que possuíam olhares peculiares e que, em
mesa com duas bruxas, mãe e filha, que estavam no local. Comentei com elas que
era mágico, além de psicólogo, e fui questionado sobre a linhagem de magia que eu
mágico, uma vez que tal denominação se refere a praticantes de magia e, não a quem
ilusionismo.
A seu pedido, realizei uma adivinhação com algumas moedas. Pedi para que
a garota escondesse uma moeda em uma das mãos e, por meio de leitura muscular,
mas, para minha surpresa, a mãe não se surpreendeu com o efeito, o que me fez
pensar que o misdirection não havia sido realizado da maneira adequada. No entanto
ela comentou que estava habituada a ver fenômenos paranormais, alguns dos quais
a própria filha também realizava. Sugeri que a garota tentasse fazer a mesma
adivinhação e, para minha surpresa, ela também adivinhou por três vezes em qual
92
Questionei a garota quais feitos ela conseguia realizar e ela respondeu que
“apenas coisas básicas de bruxas” (sic) como adivinhações e feitiços, mas que,
muitas vezes, ela não possuía controle sobre os mesmos. Questionado sobre os
sobre adivinhação, onde comprei um tarô. No final da tarde, retornei à cafeteria com
o baralho e uma bruxa que tomava chá questionou a minha preferência por aquele
método de adivinhação. Comentei que desejava uma bola de cristal, mas como não
havia encontrado uma bonita, comprara o tarô para praticar uma técnica que havia
93
Ao ser questionado quanto ao significado de mentalismo, respondi se tratar de
A praticante respondeu que nunca havia sido lida por um ilusionista, mas aceitou
prontamente, deixando sua xícara de lado. Questionei então seu nome e, a partir dele,
realizei uma leitura baseada no método “Systematic Seer” desenvolvido por Ken de
Courcy. Ao término da leitura, pedi para que a mesma escolhesse mentalmente uma
Perguntei se ela poderia me ler e, o que o fez prontamente segurando minhas mãos.
respectivas leituras. A bruxa relatou que nunca tinha ouvido falar em leitura fria, mas
ressaltou que “a diferença é que você estava me enganando (...), eu realmente digo
o que sinto ou vejo em minha mente (...), às vezes minha intuição falha, mas eu não
discordei quanto ao fato de estar enganando-a, uma vez que não disse que possuía
entre as respectivas artes mágicas. Bruxas e mágicos consideram seus feitos como
94
Quando realizei a leitura, estava deliberadamente utilizando técnicas de leitura
fria, com o intuito de criar a ilusão de uma leitura psíquica em que tal conhecimento
concebo. Ela estava, de fato, lendo as cartas do tarô que estavam espalhadas na
desfavoráveis à sua fala. A impressão que tive é que ela poderia realizar a leitura de
olhos vendados, ignorando minha presença, que não seria imprescindível para seu
processo.
bruxa ler as cartas do tarô sem se preocupar se o discurso faria sentido ou seria
confirmado por mim sugere que ela, de fato, acredita que sua prática divinatória
contenha elementos mágicos por meio dos quais seria possível obter conhecimento
sistemas de crenças ou práticas mágicas. “Os céticos afirmam que nós dizemos
apenas coisas vagas e ambíguas, mas eu consigo dizer com exatidão o dia da morte
de qualquer pessoa por meio da leitura de suas mãos”, comentou o bruxo que
“Não existe o acaso, tudo está interligado. As folhas do chá na xícara refletem
95
“Tudo pode se revelar na escuridão. É questão de aprender a ver com olhos
da mente”, afirmou a bruxa que realizara a palestra sobre adivinhação por meio dos
espelhos negros.
Por outro lado, eu, no papel de psicólogo social (e mágico), tendo a perceber
processos psicológicos básicos a partir dos quais processos sociais mais complexos
me relatou que fora testada por psicólogos e que possuía um relatório confirmando
A referida bruxa conduziu uma oficina sobre psicometria (que dentro desse
desconheço, que uma das participantes possuía problemas nos ovários causando
e foi realizada por um bruxo que se intitula paranormal. Ele é conhecido nesse meio
por ter sido vencedor de um reality show sobre a temática. Com discurso claro e
97
persuasivo, olhar magnético, vestuário impecável e carisma pessoal, o conferencista
Franz Anton Mesmer (1734 – 1815) foi um médico vienense que viveu parte da
sua vida na França, onde alcançaria destaque social por meio de suas práticas pouco
que poderia ser emanado do corpo promovendo curas de sinais e sintomas físicos e
redes sociais. Sua fama precedia sua apresentação, criando uma atmosfera mágica
antes do mesmo iniciar seu discurso sobre fenômenos paranormais que poderiam ser
outros tantos, justamente com Mesmer, cujos efeitos de sua presença eram
que suas próprias palavras, e não eram poucas as mulheres que pareciam estar
98
Considero sua tranquila confiança e sua habilidade de criar uma atmosfera
transcende aspectos técnicos da arte, mas que se mostra essencial para propiciar
final de sua conferência, mas posteriormente não obtive resposta quando entrei em
responsável por tal temática também é psicóloga, e tinha conhecimento sobre muitos
99
6. A Clarividência Através1 da Bola de Cristal
6.1 Introdução
por vezes caricata, prática divinatória que, desde a adolescência, atraíra minha
atenção.
A bruxa que conduziu tal evento vestia-se de preto, possuía vários anéis e um
demais por demonstrar bom humor, em contraste com os olhares sombrios de outros
conferencistas. Ela conseguia criar uma atmosfera mágica com suas palavras, a
exemplo dos demais praticantes, mas se mostrava mais acolhedora e empática aos
envolvendo necromancia.
em sua grande maioria mulheres, algumas das quais possuíam suas próprias bolas
sala formavam um círculo em torno de uma mesa, onde havia diversas bolas de
100
Nos momentos iniciais, a conferencista fez uma exposição sobre a história,
de cristal é vista como um artefato vivo conectado à natureza, que pode propiciar o
fenômeno da clarividência ao adepto da arte mágica que faz uso de tais técnicas e
conduziu alguns exercícios respiratórios com o intuito de, em seus termos, acalmar e
habituado a praticar por meio de práticas meditativas, com a diferença de que nunca
havia utilizado uma bola de cristal como objeto de fixação. Minha experiência se
incredulidade.
101
Considero que os demais participantes poderiam de fato ter algum tipo de
não compartilhava do mesmo sistema simbólico do grupo não acreditava que poderia
ter as mesmas experiencias que os demais. Minha descrença pode ter influenciado
minha experiência da mesma maneira como as crenças das bruxas podem ter
Após duas semanas, combinei uma conversa individual com ela e nos
pesquisa e realizei o convite para que ela participasse de uma parte do estudo
convidou para conhecer sua escola de bruxaria, onde seria realizado em breve um
verão, enquanto no hemisfério norte (onde ele tem origem) ocorre no período entre o
outono e o inverno, simbolizando a noite mais escura do ano, em que os mundos dos
todas praticantes e adeptas da bruxaria, uma vez que o ritual não é aberto ao público
102
confraternização, e velas pretas para serem utilizadas no ritual de invocação dos
Além da bruxa que coordena a escola, outras bruxas auxiliavam durante o ritual
redor do centro da sala, onde estavam dispostos utensílios mágicos como caldeirão,
velas em seu interior, que teriam a função de guiar os mortos em sua visita ao mundo
dos vivos.
arrepio percorria meu corpo enquanto minha mente era conduzida a um estado
que estariam sendo visitados pelos mortos. Depois de alguns minutos dedicados à
mundos dos vivos e dos mortos, e conduzir os mortos de volta ao seu próprio mundo.
Embora eu não tenha tido a experiência de ver ou sentir algum ser sobrenatural, me
doces e bebidas.
103
6.2 A Iniciação
recomendações de uma psicóloga que utiliza, dentre outros recursos, cristais em sua
genuína bola de cristal, uma vez que a réplica que eu tinha era de acrílico e não
respeito de tal temática, frustrando-me ao constatar que praticamente nada havia sido
escrito a respeito, com exceção – até onde consegui apurar – de um artigo da Society
por uma autora anônima, além de alguns livros ocultistas e mágicos dedicados as
práticas divinatórias.
de cristal, mas acreditava que seria uma ótima experiência participar de um grupo de
Paulo. Além da ministrante do curso, havia outras duas praticantes de bruxaria com
suas respectivas bolas de cristal sentadas nas almofadas espalhadas na ampla sala
de estudo e práticas. A escola também conta com uma pequena loja de produtos
104
mágicos, uma sala de atendimento, um banheiro e um cozinha onde há dezenas de
clarividência. A aula teve início com uma exposição teórica a respeito dos conceitos
decorrência de sua constituição, uma ligação direta com a natureza e com seus
aspectos ocultos.
entrevistar durante o percurso da pesquisa, mas que, infelizmente, não foi possível
105
perceber a bola de cristal como “uma velha amiga” (sic) que poderá mostrar (ou não)
da natureza: água, fogo, terra e ar. Os rituais eram realizados individualmente antes
exposta à noite de lua cheia, e, quando ela não estivesse sendo utilizada, deveria ser
de cristal estava dormir com ela por algumas semanas, segurá-la entre as mãos de
depois de perceber sua genuína atenção e intenção, a bola de cristal poderia começar
primeira refletiria algo de maneira direta e não por meio de símbolos que
cafeomancia, por exemplo, a borra do café que permanece na xícara após a ingestão
106
uma bola de cristal, maior seria sua capacidade de propiciar a clarividência, além do
Como uma “velha amiga”, a bola de cristal revelaria aquilo que nós precisamos
saber e não aquilo que necessariamente desejamos saber, como – para citar um
conteúdo do curso, o ritual de adivinhação da bola de cristal começa com uma frase
cristal preenchida por uma névoa que, ao evanescer, revelaria algo que não foi visto
a bola de cristal posicionada sobre um pano negro em uma das mãos na altura do
fixação ocular.
a ingerir uma infusão herbal para facilitar o processo de clarividência através da bola
cada praticante encontra um local onde deseje iniciar sua reclusa contemplação, para
107
Minha “intuição” me dizia que eu não veria nada na bola de cristal e, a princípio,
ela estava a correta. Senti apenas cansaço, seguido de um ligeiro tremor muscular,
por permanecer segurando uma bola de 2.5kg na altura do coração por mais 10
minutos enquanto tentava permanecer imóvel. Meus olhos estavam ficando pesados
piscar. Eu acreditava que, se fixasse meu foco visual por tempo suficiente, poderia
relatos dos demais colegas quando o exercício chegara ao fim. Alguns dizeres dos
participantes ilustram o ponto: “As visões foram muito claras para mim”; “Vi apenas
algumas figuras abstratas, mas não sei o que significam”; “Vi um gato muito familiar,
embora nunca tenha tido um (...) tenho a impressão de que era em outra vida”.
na altura adequada, deixando os braços livres para evitar o desconforto que senti na
encontrando padrões da estrutura interna da minha bola de cristal, que possui uma
espécie de arco íris em seu centro, motivo que me levou escolher essa dentre as
outras centenas que haviam na loja. Mesmo ciente de que estava vivenciando o
deixando de lado o senso crítico da mesma maneira que faço quando tenho
experiências hipnóticas.
108
experienciando tal fenômeno, que não possui correlação com quadros
psicopatológicos, mas reflete uma tendência natural de nosso cérebro (APA, 2010).
parar de bloquear a experiência com minha razão, uma vez que tais experiências
com a tarefa que estamos realizando (como ler um livro) ou a circunstância que
não era estática ou tampouco era um padrão formado no interior da bola. O coelho
considerar que a infusão que bebera minutos antes possuía algum componente
alucinatória, me dei conta de que poderia voltar a ela quando eu quisesse. Por vezes,
similares, mas conseguia voltar a ver o coelho se eu voltasse a contemplar a bola por
alguns segundos.
109
Quando questionada, a bruxa respondeu que a infusão de havíamos bebido
antes do início da prática era artemisia, uma planta que, de acordo com a bruxaria,
da aula anterior, na qual havia tido uma experiência anômala com a bola de cristal e
um formato diferente.
Permanecemos frente a frente, e a bola de cristal (do leitor) era colocado entre nós,
enquanto mantínhamos uma de nossas mãos ao redor da bola sem tocá-la, com o
intuito de formar, nos termos adotados naquele contexto, um “círculo de energia” entre
110
minutos de contemplação, minha parceira na dupla começou a me relatar o que
“Vejo água... é uma praia... você está com uma prancha de surf”.
visões que minha colega estaria tendo a meu respeito. Ao mesmo tempo, procurei me
embora, em meu íntimo, eu tivesse consciência de que tais visões não faziam muito
Encerrada sua leitura, foi minha vez de tentar adivinhar algo a respeito da
minha colega por meio da bola de cristal. Tentei não fazer uso de nenhum sinal ou
feedback que minha colega, deliberadamente ou não, poderia me dar a respeito das
informações que eu poderia lhe dar. Eu não tive qualquer visão na bola de cristal, e
senti um incômodo em não lhe dizer nada, mas escolhi manter o silêncio e dizer que
espera que o mágico leia sua mente ou mova um objeto com a sua mente. O mágico
por sua vez é impelido a realizar tais feitos pois caso contrário não será mágico, uma
111
vez que sua identidade psicossocial é construída em sua interação com o meio social
uma vez que é esperado que tais fenômenos e experiências aconteçam durante o
em sua presença e queria que ela, de fato, adivinhasse coisas a meu respeito.
“Algo grande... alto... uma torre, ou prédio... você respirando com várias
... bom, é isso ... não sei se faz sentido ou não”, concluiu a bruxa.
A princípio, eu não teria como confirmar ou negar tais informações, uma vez
que elas supostamente se referiam a algo relacionado ao futuro. Penso que ela
poderia ter deduzido que eu era instrutor de meditação por meio de minhas tatuagens,
mas eu não possuía experiência no referido contexto a partir do qual ela dizia ter
112
acontecimento, consegui estabelecer uma relação entre suas palavras e tal
acontecimento.
A leitura na bola de cristal a respeito do meu futuro pode ter sido um fenômeno
profecia autorrealizadora. Ou seja, a visão que a bruxa teve na bola de cristal pode
acontecimento, pois recordo-me de que foi a partir de sua fala que considerei a
vislumbres sobre o futuro que a bola de cristal poderia propiciar, uma vez que o futuro
aspectos psicológicos como o desejo que, para Wittigenstein (Arrington & Addis,
“Sua vez. Me mostre como um mágico faz”, disse a bruxa com um sorriso
irônico.
das técnicas de leitura fria, embora considere que, por algum processo não
consciente, dificilmente conseguira tal feito. Solicitei que ela posicionasse sua mão
unicamente para o objeto entre nós, com a intenção de não ter qualquer sinal,
consciente ou não, que ela poderia me dar sobre a leitura que intentava sinceramente
113
realizar. Depois de alguns minutos de contemplação sem conseguir ver nada dentro
da bola de cristal, disse que poderia dizer as impressões intuitivas que emergissem
subjetiva sem me importar se elas faziam algum sentido ou não para minha colega:
“Sou míope, mas vou tentar ser clarividente, disse ironicamente, em virtude do
humor aguçado da minha colega. Vejo você em minha mente... você e um homem
Abri os olhos e olhei em seu rosto em busca de algum sinal que demonstrasse
que seria interessante aprofundar minha leitura nessa impressão que surgira em
minha mente ou não. Embora ela não tenha consentido com a afirmação notei um
ligeiro sorriso em seu rosto, que interpretei como um sinal de que a temática de
“Ah, mas isso não vale! Você está lendo minhas emoções. Isso não é
utilizando para tentar inferir e deduzir informações a seu respeito. Confirmei sua
impressão e ressaltei que, de fato, não estava adivinhando coisas utilizando um sexto
114
Espiral Sensoperceptiva Psíquica (E.S.P.). O conceito foi elaborado a partir da ideia
uma afirmação vaga e ambígua teria valores baixos como dois ou três, mas uma
informação precisa teria uma pontuação alta comparada ao nove ou dez no jogo de
interacional.
Ou seja, crenças mais simples, como nas propriedades mágicas de uma semente,
preparariam o terreno para crenças mais complexas, como a de que os frutos de tais
115
Consideremos um exemplo em que o mentalista não possui conhecimentos a
é construído pode ocorrer por processos não conscientes criando a ilusão de que o
- Sim, sua vó está ao seu lado... Não estou conseguindo ouvir seu nome... letra
leitura fria, como arte performática do mentalista intenta criar a experiência do mistério
Perception” (também representado pela sigla E.S.P.), relacionado aos fenômenos psi
116
como telepatia, precognição e clarividência que poderiam estar relacionados as
início da a leitura fria com informações vagas e ambíguas que, mediadas pela interação
A meu pedido, a bruxa que ministrava o curso incluiu na quinta e última aula
cristal tendo como parâmetro alguns dados objetivos que fossem passíveis de
117
bruxaria, onde existiam livros e alguns baralhos de tarô. Utilizando um método mágico
processos não conscientes (Pailhés & Kuhn, 2020), transmiti um dentre os vinte e
dois trunfos (ou arcanos maiores) do baralho para minha última parceira de dupla da
prática realizada na aula anterior. Para a surpresa de todos, ela adivinhou que carta
psicológica a qual desconhecia, minha parceira de dupla comentou: “É... você parece
um dos nossos”.
entanto, a interação entre tais domínios propiciaria uma experiência psicossocial que
círculo, a professora disse que havia escondido uma pequena régua cor de rosa em
de cristal como de costume, com a intenção de identificar o local onde ela escondera
tal objeto. Embora estivesse contemplando a bola por alguns minutos, não acreditava
que conseguiria ver algo em seu íntimo. No entanto identifiquei uma espécie de
fizessem.
118
Os participantes relataram terem experienciados visões de almofadas,
cadeiras, velas e até mesmo a cozinha em suas respectivas bolas de cristal. Meu
relato, por outro lado, era vago e ambíguo como uma pífia leitura fria: um círculo.
Notei um sorriso no rosto da bruxa que conduzira o evento e tive a impressão de que
chegara próximo ao alvo. De fato, a pequena régua com desenhos de gatinhos estava
escondida atrás de uma esfera fixada a parede, que até então não havia notado. “Mais
Mesmo consciente de que minha visão poderia ter sido enquadrada em muitos
dos locais onde a régua poderia estar escondida, fiquei empolgado com a prática e
realmente decidi levar a sério o próximo exercício. A professora então saiu da sala e
retornou alguns minutos depois dizendo que havida colocado um objeto no caldeirão
anel dentro da minha bola de cristal e, por algum motivo, senti uma pequena
solicitou que a acompanhássemos até o balcão da loja onde havia deixado o caldeirão
caldeirão, senti novamente meu coração acelerar e notei que o objeto escondido era,
119
de fato, um anel. Por alguns minutos senti uma prazerosa sensação de euforia
conseguia (ou não queria) raciocinar criticamente sobre a situação que acabará de
ocorrer.
questões que não surgiriam se tal interação não tivesse acontecido. Estar no mundo
das bruxas me propiciou uma maior elucidação sobre mim mesmo e sobre meu
próprio mundo, onde práticas mágicas possuíam um significado que até então era o
mentalismo que eu não me dera conta: minha vivência pessoal entre bruxas
120
Considerações Finais
em que descobriria a leitura fria, que viria a tornar-se (ironicamente) um balde de água
e videntes, e comecei a ver com desdém indivíduos que compartilhassem das crenças
que eu anteriormente possuía. Influenciado por figuras como Houdini e James Randi,
dos anos em que tornei-me psicólogo (clínico e posteriormente social), comecei a ter
121
representaria um estado de espírito por meio do qual poderíamos perceber e
que ocorrem por meio de um processo interacional e que pode criar a ilusão de
entanto, considero uma precipitação concluir a priori que leitura fria, práticas
experiências psi estariam ou não envolvidas em tais práticas. Antes de tal conclusão,
seria importante o estudo de tais fenômenos por métodos adequados como a análise
122
Tradições e práticas mágicas como o ilusionismo e a bruxaria podem ser
memória e percepção, assim como processos sociais mais complexos como crenças
exercício de compreensão.
sobre a temática e ser uma fonte de inspiração para pesquisas futuras que possam
dela obter o alicerce para o desenvolvimento do saber cientifico sobre algo que parece
123
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133
ANEXO
134
PESQUISADOR: Gostaria de agradecer a sua participação na pesquisa. Ela é
imprescindível para os resultados, e para tudo aquilo que foi pesquisado nestes
últimos anos. A primeira pergunta: eu gostaria que você comentasse sobre a
diferença entre a bruxaria antiga e a bruxaria moderna. Nos séculos 15, 16 e 17 às
mulheres eram acusadas de bruxaria, e muitas vezes executadas por conta dessas
práticas. Na bruxaria moderna, as mulheres se intitulam bruxas e se reconhecem
como esse personagem. Na sua perspectiva, qual a maior diferença?
BRUXA: Eu acredito que em algum momento, nós ganhamos um nome, e foi um nome
muito ruim, onde esse nome tinha um peso negativo, e que gerou tudo o que a
inquisição teve de resultar. Porque eu acredito que a bruxa ela sempre existiu
absolutamente... Mas não tinha esse nome, porque era tão natural que ela não
precisa se dar um nome “-Ah eu sou bruxa!”, não, eu sou o que eu sou e dentro do
que eu sou eu falo com a natureza, reconheço para que serve cada erva, eu entro em
uma conexão com ela, e ela me diz que aquilo é bom para o estômago, a outra é boa
para outra coisa. Então eu acredito que sempre fomos bruxas, mas não tinha um
adjetivo... É que bruxa não é meio um adjetivo, nós não tínhamos um nome. Num
dado momento surge o nome que intitula, ‘Ah é uma bruxa, então é do mal…” enfim.
E daí esse nome virou o nome bruxa, que se dá aquela que pontinhos, e aí virou o
nome pela qual começamos a ficar conhecidas, ou seja aquela que tem uma
habilidade; mais sensível de perceber as coisas, se conectar com a natureza, é uma
bruxa, por isso vai ser queimada. Então na verdade eu acho que foi como se eu
sempre soubesse de alguma coisa, e não soubesse o nome que isso tem, e daí você
chega pra mim e fala: ”Isso que você tá falando, é bruxaria!” E aí eu falo, ah então
sou bruxa. Então para mim, eu não me chamo de bruxa, eu não falo que eu sou bruxa
porque quero honrar aquelas que foram queimadas, eu só entendo que bruxaria é
sinônimo de quem tem uma conexão muito, muito profunda com a natureza, por isso
eu digo que sou bruxa, então é porque virou um sinônimo
PESQUISADOR: E a vinculação com o mal? Antigamente as bruxas eram... A crença
que se tinha, que as bruxas eram representantes do diabo da terra, isso ainda perdura
em alguns contextos? Ou você acha que não? Que essa ideia foi desconstruída?
BRUXA: Eu acredito que perdura, e posso dar algumas experiências próprias. Eu
tenho algumas pessoas que deixaram de trabalhar comigo quando descobriram que
eu era uma bruxa, por quê? A partir do momento que descobriu que eu era bruxa,
tem a certeza absoluta que pratica o mal, então eu acredito que perdura sim… Isso
eu estou falando de alguns poucos anos atrás, e mesmo em alguns casos que foi
desconstruído por conta de filmes infantis e cinema e filmes, às vezes é desconstruído
para um lado completamente fantasioso, então eu já vi professor de pós-graduação
me perguntar; “Como assim, Bruxa? Tem varinha?” Na hora eu virei o Harry Potter
para aquela pessoa, imediatamente. Ah, é o Harry Potter na minha frente em versão
feminina. Então eu acredito que há muita ligação com o negativo, sim e acredito que
135
algumas ligações não estão mais pro mal, mas sim estão para o lado Hollywoodiano
e se a gente somar com o que é ensinado, principalmente para as crianças. Eu tinha
uma bruxa na porta da minha casa e uma vez tocou a campainha e fui atender; uma
mãe com a criança, a criança olhou pra mim, a mãe olhou para a criança: “Fala para
ele que essa bruxa é do bem!” Porque a criança ia dormir aterrorizada, por saber que
no hall do elevador de onde ela mora, tinha uma bruxa. Então olha como isso ainda
tá no ar, então eu acredito que perdura sim. E daí eu falo dessa ideia Hollywoodiana
da varinha mágica.
PESQUISADOR: Como ela é utilizada na bruxaria de verdade? Com essa questão
mágica que tem no filme da Disney. Vocês usam a varinha mágica? Isso é
dispensável, isso é coisa simbólica, ela tem uma função?
BRUXA: Sim, a varinha tem uma função, a gente diz que alguns elementos, alguns
instrumentos da natureza são como extensão do nosso próprio corpo, nossa própria
energia. A varinha no contexto da bruxaria e da magia natural entra como uma
extensão do meu corpo é algo que eu defina que é energia que ela capta do meu
corpo e a energia que ela capta da natureza, é uma energia de benção. Então eu uso
a varinha como algo que uso da natureza para consolidar uma força de benção, para
um objeto, para um encantamento ou para uma pessoa. Então usa sim, algumas
escolas vão escolher o tipo de madeira, mas dentro da minha visão de bruxaria, que
é muito mais naturalista, a varinha é uma parte da natureza que a gente usa ao nosso
favor, e dá uma missão, pede um favor para aquele pedaço da natureza; uma benção,
então ela existe, ela tem um ritual específico, onde você passa essa sua vontade,
essa missão, essa propriedade de que aquela parte da natureza vai te ajudar, vai te
somar com a sua energia, isso é sua extensão e levar pela tua vontade pensam aos
seus encantamentos e às pessoas que ela toca.
PESQUISADOR: Já que entramos no assunto dos adereços e utensílios, o que mais
vocês usam? O caldeirão, por exemplo, a vassoura, o chapéu, a capa. O que isso
simboliza?
BRUXA: Simboliza, cada um tem um propósito. A capa é algo que é muito usado no
contexto de proteção. Mas por quê proteção? Dentro de uma visão naturalista, o que
é a capa? Todo mundo usa uma capa, quando você põe uma capa, como se você de
alguma maneira tirasse a sua individualidade no sentido dos seus defeitos, dos seus
problemas, dos seus medos, dos problemas que você tem na sua casa, então a capa
é um instrumento que te traz para um objetivo! Então quando você põe a capa, sei lá.
Eu pus a capa, então eu não sou mais “Bruxa”, eu sou A Bruxa, ou seja, toda parte
que não tem a ver com aquilo que vou fazer é como se ficasse descaracterizado
naquele momento, e daí, óbvio que vai me proteger, porque se naquele momento eu
consigo estar inteira, totalmente concentrada e direcionada no que estou fazendo, eu
não vou cometer deslizes, não relacionado aquilo; então vem como proteção no
sentido de algo que ajuda na minha entrega, no momento de um ritual ou magia.
Outro instrumento, o caldeirão; porque a gente precisa de um local para pôr fogo, a
gente precisa de um local para conter e aguentar a nossa magia; então as magias de
fogueira vieram para o caldeirão. As magias de cozinha vieram, ou seja, o caldeirão
o que é? Algo que eu uso, como na força de um grande útero que consegue conter
136
todos os ingredientes que preciso para que aqueles ingredientes misturados se
transformem num remédio ou na energia que eu preciso para meu feitiço.
137
dançar para celebrar o meu objetivo alcançado ele vai cair, então o chapéu a gente
não usa. Mas eu fugi da pergunta.
138
conhecimento, eu não estou praticando magia negra. Então se para ser rica eu te
deixo pobre, eu estou praticando magia negra, então é a interferência negativa que
conscientemente eu causo ao outro. Isso para mim é magia negra. Porque eu causo,
como eu influencio o tempo todo, eventualmente eu estou fazendo coisas que
prejudicam os outros, mas não conscientemente, então magia negra dentro da nossa
concepção, eu faço mal ao outro conscientemente, ou eu literalmente faço algo que
o outro não quer para vida dele.
PESQUISADOR: E nessa manipulação da natureza, vocês usam algo além da
natureza, alguma coisa sobrenatural, como Deusas, Deuses, espíritos? Ou não? É
uma manipulação da própria natureza?
BRUXA: Sobrenatural?
PESQUISADOR: Sobrenatural no sentido religioso, por exemplo na oração, uma
pessoa ora para um determinado deus ou deusa para conseguir algo, à colheita por
exemplo. Na magia parece-me que não há interseção de um agente sobrenatural,
parece-me que o mago ou a bruxa faz a colheita acontecer sem a intermediação dos
Deuses, ou na bruxaria também há isso?
BRUXA: Existem alguns segmentos da bruxaria que usam, cultuam ou honram
deuses e deusas, geralmente um panteão, pagão em geral, alguns gregos ou de
alguma região específica, mas na magia em si ou na bruxaria de maneira naturalista,
que é a que eu sigo, por observação da natureza, não. Não há uma intermediação,
não há ninguém que faça a comunicação por mim ou traduza o que eu estou pedindo,
ou me ajude, um ser que me ajude, não. Tudo tem vida, por isso que falei do milagre
da vida, tudo tem vida, e eu como bruxa que sou, ao conhecer daquela vida, eu
consigo usa-la dai sim manipular para um objetivo específico, então não há
intermediador, mas dentro de uma bruxaria moderna, posso dizer que sei que existe
uma energia de crença muito forte em São Francisco, mesmo que eventualmente eu
não acredito que São Francisco exista ou esteja aqui liberando pedidos para às
pessoas, mas ainda sim bruxaria moderna hein?! Eu tenho conhecimento da força do
amor que tanta gente tem por São Francisco, então se eu for fazer um feitiço para
proteger o meu animal de estimação, eu posso manipular essa energia gerada pela
crença e amor sobre São Francisco para que isso seja uma força potencializadora
naquela vela que acendi para proteção do meu animal de estimação, então tudo tem
vida, se tem vida tem energia, se tem energia eu posso usar, mas não que tenha um
Deus que eu precise agradar, tudo tem vida, e a vida merece respeito, porque existe
um ciclo muito natural de tudo, então toda vida merece respeito, mas não que eu
tenha que agradar para receber favores.
PESQUISADOR: No caso da bruxaria moderna como a Wicca, é mais uma religião.
Qual a diferença? Toda Wicca é bruxaria, o que diferencia?
BRUXA: Perguntar isso para um wiccano você vai obter uma resposta, se perguntar
para uma bruxa terá outra resposta, mas em geral o que a gente vai encontrar, é que
a Wicca é uma religião. Aí uma vez, eu posso contar? Uma aluna falou assim: Mas
eu não sou da Wicca, eu sou da bruxaria natural e quando alguém me pergunta qual
139
a minha religião, eu digo que a minha religião e a bruxaria natural. Se a gente
considerar a religião como “religare” a bruxaria também é uma religião, tanto quanto
ao Wicca, porque ela é uma religação com aquilo que a gente acredita que é algo
mais sagrado, no caso da bruxa é a natureza, e a força que faz a natureza existir, que
é uma parte mais sutil, não tão tangível como a planta, mas o que faz a planta resistir.
Então como religare a bruxaria é uma religião, porque é uma religação nossa como
uma força especial, mas dentro do conceito de uma religião com uma estrutura que
tem regras, dogmas e divindades, a Wicca é uma religião, porque nos rituais da Wicca
você tem o culto do deus e da deusa, a natureza tem seus polos, suas forças, suas
forças mais masculinas, suas forças mas femininas e a união dessas duas forças que
geram outras forças, mas não é um culto na qual eu tenho uma representação de um
arquétipo ou de um corpo, de uma estátua que representa uma divindade, então
religião como uma estrutura que cultua uma divindade a Wicca é, e a bruxaria não.
PESQUISADOR: Existe uma rivalidade entre wiccanos e bruxas?
BRUXA: Infelizmente, acho que existe rivalidade em tudo, acredito eu, infelizmente.
São pontos de vista de uma mesma realidade, eu acredito. Então tem a rivalidade da
bruxa, que a mãe era bruxa, e da bruxa que a mãe não era bruxa, mas que agora ela
é bruxa, então ela não é uma bruxa de família. Tem a bruxa que é da natureza, mas
não vem de nenhuma tradição, que talvez seja uma das principais rivalidades entre
alguns wiccanos e algumas bruxas, onde a Wicca tem uma tradição, seja de Gardner,
segue uma tradição. A bruxa não segue uma tradição, porque não é um ensinamento
que veio quadradinho, é uma observação da natureza, então falam: ‘fulano não é de
nenhuma tradição, ou não tem tradição”, como se fosse algo ruim, e daí vai encontrar
essa rivalidade sim.
PESQUISADOR: Você falou da questão da família. Qual a sua história pessoal com
a bruxaria?
BRUXA: A minha história pessoal é muito de encontro ao que eu acredito que todo
mundo é bruxa. Por que se eu começar ao perguntar para você chegaremos há algum
momento, onde na tua família tinha alguém onde remédio não existia na farmácia,
então alguém viveu na sua família na época que não tinha remédio na farmácia e
essa pessoa precisava cuidar da dor de barriga de algum jeito, que não era sair e
comprar o que ela precisava. Ou ela aprendia com a mãe, com a bisavó, que tal
matinho espremido e feito com fubá ajudava, então isso para mim é bruxaria. Isso é
manipular a força da natureza para o bem próprio, e benéfico e do bem, então assim
eu acredito, então eu não tenho na minha família que falasse como eu falo: “eu sou
bruxa”, e que eu vim de uma tradição, o que eu tenho na minha família, como história
pessoal, é que eu tinha uma avó que benzia e participou de todas as religiões que ela
encontrou no universo, então ela foi desde o momento que tinha envolvimento
esotérico do pensamento, da editora também, até centro espírita, até católica de todo
domingo. Então eu tenho uma avó que benzia, que muitas pessoas a procuravam
para pedir conselhos, uma indicação de uma reza, uma indicação de remédio. Eu
tenho um bisavô de Piraju que foi chamado de mestre e tinha uma balança com um
monte de pesinhos e ficava falando, fazendo os remédios que ele chamava de
solução para as pessoas, solução para isso, solução para aquilo. Infelizmente eu
140
consegui resgatar pouquíssimo desse avô, das receitas que eu tinha, basicamente
era de ervas para cada tipo de problema. Então o que eu tenho na minha família, eu
tenho essas pessoas que usavam do conhecimento da natureza, cortavam o pão em
cruz, não sabiam muito bem o porquê, mas cortavam, que vem de muito tempo, e que
replicando o que aprendeu com o avô, bisavô e tataravô sobre a preservação da
natureza. A minha avó curava tudo com fubá, é uma manipulação da natureza, o fubá
que outra pessoa fazia não dava aquele mesmo resultado, então ela manipulava de
alguma maneira, não importa se é porque é a minha avó, se porque fazia por amor,
ou se era porque eu acreditava. A manipulação energética daquilo que dava o
resultado, e daí venho eu desde sempre adorando os assuntos místicos desde
criança eu adorava brincar de mexer com os matinhos do jardim, eu misturava e
lembro uma vez eu desejei que algo ruim acontecesse, misturei uns matinhos de uma
pessoa na escola que estava me incomodando em extremo, foi a minha primeira lição
da lei do retorno; uma vez falei: “bem que fulano podia cair”, levantei e cai, então eu
sempre gostei dessas coisas, mas obviamente a vida moderna me levou para outros
estudos, um outro trabalho, e daí passou um tempo eu entrei na mitologia, e comecei
a ler tudo sobre mitologia, comecei com egípcia e depois fui para a grega. E a parte
que sempre falava de um oráculo, de uma magia, de uma feiticeira, que era dado
como feiticeira naquela mitologia me encantava ao extremo, e daí acendeu a luz e eu
comecei a estudar, estudar, estudar. Então a minha história pessoal na verdade, eu
diria que, na minha família a gente encontra isso que seguramente a gente vai
encontrar em outras famílias, um pouco mais longe no tempo, um pouco mais perto
e uma vontade que começou mexendo na terra e no jardim e ganhou forma pela
mitologia e depois foi uma autodescoberta até achar aquele método, ou aquele
pensamento que fez todo sentido para mim, no caso a bruxaria.
PESQUISADOR: E além da manipulação das ervas, dos encantamentos e dos
feitiços. O que mais as bruxas fazem? Elas são muito conhecidas com as questões
das adivinhações. Como vocês veem os métodos divinatórios, as adivinhações?
BRUXA: Eu digo que são ferramentas que nos ajudam a compreender a vida, e que
se tornou absolutamente necessário a partir do momento que a gente passou a
questionar a vida e o que acontece com a gente na vida. Porque se a gente não
questionasse o que é a vida e como melhorar a cada dia, nós não precisaríamos dos
métodos divinatórios, mas a gente começou a querer entender para facilitar e criar
comportamentos no sentido de ações proativas etc e tal. E daí nesse momento da
história, lembra que bruxa para mim é aquela que observava a natureza e tirava dela
os ensinamentos, ou seja, chamada de bruxa ou não, sempre existiu, e daí chega um
momento onde a vida se torna mais complexa e eu sinto falta de compreender um
pouco mais do que está acontecendo na minha vida. Vêm os oráculos e as artes
divinatórias que dentro da bruxaria foi se modificando pela modernidade,
eventualmente a bruxa lá atrás, como eu conheci uma que tudo era borboleta. Então
qual era o método divinatório dela? Borboleta azul, ah problema, apareceu uma
borboleta azul, fulano vai me ligar.
PESQUISADOR: Ah! Ela utilizava borboletas, isso eu nunca tinha ouvido falar...
141
BRUXA: Sim, ela usava borboletas. Era avó de uma aluna minha. Então às próprias
artes divinatórias do passado era a própria natureza dando sinais. A natureza
continua dando sinal o tempo todo, mas nós nos distanciamos da natureza, prédios,
asfaltos, etc e tal. O tempo exigiu que novas ferramentas divinatórias viessem a tona
e algumas ficaram mais, às práticas de algumas se tornaram mais fortes dentro do
conceito da bruxaria, então a gente tem um espelho negro, a gente tem a bola de
cristal e geralmente alguma arte divinatória de jogo, ou seja aquela bruxa vai buscar
o respaldo no tarô, nas runas nórdicas, o campo, o oráculo das árvores celtas, ou vai
buscar os cristais, que hoje nós conhecemos sobre o significado de cada pedra que
vira um jogo, que você põe tudo na sua mãos como o búzios, que quando você abre
ao mão ao forma como elas caem te traz uma interpretação divinatória. Então são as
ferramentas que hoje eu ensino e hoje está mais presente na bruxaria, mas tirando
essas que a gente pega das tradições, às artes divinatórias que a gente tem como
ferramentas principais seria a bola de cristal e o espelho negro, fora às ferramentas
internas que chamamos de intuição, aquilo que a gente sente ou mesmo visualiza em
alguém e de alguma maneira avisa ou toma como aprendizado.
PESQUISADOR: Qual a diferença de um espelho negro, para um espelho normal?
BRUXA: Se você perguntar isso para qualquer outra pessoa, o espelho negro é feito
de obsidiana negra, que é um cristal especifico e que possui suas propriedades
especiais, mas na minha experiencia espelho negro, na verdade é qualquer espelho,
é qualquer objeto ou instrumento que tenha reflexo, ou seja que você consiga se ver
nele e que você manipule para que ele sirva como espelho negro, ou seja tem mais
haver com o preparo que você faz daquele objeto, do que pelo material que ele é
feito, então no espelho negro você precisa de um reflexo, você precisa se olhar, você
precisa se concentrar para entrar em um estado mais profundo de consciência e usar
aquele espelho como uma porta, que ele te diz que o espelho negro é uma porta onde
você acessas outros lugares, outras dimensões, ou outros tempos.
PESQUISADOR: E qual a diferença do espelho para a bola de cristal para o espelho,
já que as duas são superfícies reflexivas.
BRUXA: A bola de cristal você não vai… O espelho negro começa com a sua imagem.
PESQUISADOR: Contemplando o próprio olhar?
BRUXA: Sim, você vai contemplar o seu olhar e essa é a porta, e aí você vai para
outras dimensões, então, por exemplo; deixa eu pegar um exemplo meu, nem vou
pegar um exemplo de aluno ou um exemplo de estudo, eu precisei, eu queria muito
lembrar uma situação, vou dar um exemplo ainda mais legal. Eu lia muito, há muito
tempo atrás sobre a dimensão onde vive a energia que habita a natureza, ou seja, a
dimensão onde vive os elementais da terra, a dimensão onde vive os elementais do
ar, o mundo deles, vai. Onde eles vivem e onde eles se manifestam quando os
mundos se mesclam, e eles se manifestam nas plantas aqui na minha dimensão, mas
que tem um lugar onde a energia deles existe, o mundo da energia antes de virar
planta, ou o que dá alicerce para a planta existir, então eu usei o espelho para ir até
lá, por isso a gente chama o espelho negro de porta. Então é como se eu conseguisse
me transportar a partir do espelho negro para outros lugares, com a bola de cristal
142
isso não é possível, pelo menos eu não consegui e também não conheço ninguém
que tenha conseguido, o espelho tem uma interação. Por exemplo, vamos dizer que
eu tenho um arrependimento na minha vida, o espelho é uma porta onde eu vou até
a bruxa que ela fez o que ela se arrepende, e aí eu converso com aquela, como se
eu pudesse literalmente me transportar para o passado para o presente ou para uma
outra existência, para o mundo dos mortos, para o mundo dos anjos, então existe
uma interação como uma porta, eu abro uma porta e consigo interagir com o mundo
de lá. A bola de cristal não é uma porta, não me permite interação, ela é uma arte
divinatória onde eu consigo visualizar algo que aconteceu que é relevante para o que
eu quero saber, ou o futuro daquela situação que eu quero descobrir o que vai
acontecer, então isso é uma limitação de ver o tempo, ou seja passado, presente e
futuro, o espelho não, ele me permite ir para outros lugares.
PESQUISADOR: Às imagens que foram na bola muitas vezes são difusas. Como
você vê na bola de cristal?
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muito profunda que tem a ver com merecimento ou um padrão de dinheiro fácil vai
fácil ou seja uma série de coisas escondidas dentro de nós que de alguma maneira
para os números da mega sena tornam difíceis, realmente muito difícil de você
conseguir, mas eu não tenho nada que me faça acreditar que não seria possível.
PESQUISADOR: Nesse mundo das artes divinatórias, existe uma visão do senso
comum que muitos desses videntes são charlatães. Como a bruxa vê isso? Como
você, uma bruxa que por vezes utiliza esses métodos divinatórios, vê alguém que se
vale dos mesmos para enganar os outros?
BRUXA: Eu penso que existe uma... tudo está na linha da integridade nos valores
humanos, porque a partir do momento que eu ganho dinheiro com isso, vamos dizer,
eu tenho as minhas visões e você paga para que eu te diga às minhas visões, tudo
bem? A integridade está na medida que eu tenho as visões, eu falo, você paga e tudo
bem. Onde entra o charlatanismo, você veio aqui, você me pagar, mas hoje eu não
estou vendo nada, só que eu tenho conta para pagar, por exemplo, venceu hoje.
Então o que eu faço? Se eu falar para você que eu não estou vendo nada, você vai
embora, não me paga e eu não pago a conta. Então o charlatanismo vem na minha
opinião, de uma vinculação com a magia com um status porque eu vejo ou de posse
porque eu recebo por isso, e daí eu inverto, eu deixo de ter o objetivo de ter visões e
passo ter o objetivo de ganhar dinheiro ou ser famosa. Então na hora que virou se
tornou charlatanismo, ou seja alguém que tem visões que tem sensibilidade, ou de
alguém que simplesmente tem uma certa facilidade em fazer os outros acreditarem
nela, porque usa isso para ter poder ou dinheiro, então para mim o charlatanismo é
uma tentativa desesperada, porque para mim é um desespero do coração que inverte
o seu valor e daí você passa ao objetivar o dinheiro e o poder com aquilo, então para
mim é quando você não têm, não têm, não vê não vê e ao hora que você obedece
isso você vai no charlatanismo.
PESQUISADOR: E dentro da bruxaria qual a implicação disso? De uma pessoa que
está enganando os outros? O mágico também pode enganar os outros, mas ele está
dentro do contexto artístico e utiliza técnicas da mágica. Mas como uma bruxa vê
quem engana os outros com as mesmas técnicas, por exemplo o tarô, quem não é
bruxa e usa isso para enganar os outros?
BRUXA: Por exemplo você me diz: Eu queria muito um banho que tirasse os
invejosos, eu queria ficar invisível para os invejosos. Então dentro do que eu conheço,
eu sei que tem cinco ervas que combinadas num banho ajudam ao criar uma camada
energética que te protege, só que eu não tenho essas ervas aqui, no meu armário
não tem, mas você vai acabar comprando em outro lugar e o que seria à charlatã
nesse sentido? Eu pego outras ervas, já que você não sabe mesmo, eu misturo e falo:
‘são essas”, mas eu coloquei ervas que não tem nada a ver com isso, que possuem
outras propriedades e te engano nesse sentido. Eu poderia te enganar passando um
feitiço que você não vai ter condição de questionar que eu estou te ensinando errado,
eu poderia fazer isso por dinheiro ou poder. Numa arte divinatória quando eu paro de
falar o que eu realmente estou percebendo, intuindo ou lendo naquela ferramenta, eu
começo ao falar coisas por ego, ou seja, ou eu vou falar o que você quer escutar,
geralmente eu vou falar o que você quer escutar por mal ou por bem. Você vem aqui
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e eu percebo o que você quer que eu fale, que sua vida, sua empresa, seu emprego,
que estão todos querendo passar a perna em você, e aí você fala: -É verdade. E aí
você vai me amar, não é verdade? No fundo não tem nada a ver, eu não vi nada disso
naquela arte divinatória, ou seja, estou manipulando para te agradar porque eu quero
teu elogio, teu poder, e teu dinheiro. Então uma bruxa charlatã é aquela que
negligencia a real propriedade de um feitiço, ou a real visão de um oráculo ou arte
divinatória para causar o resultado que é bom para ela.
PESQUISADOR: Que conselho você daria para alguém que quer começar na
bruxaria ou na adivinhação? Que caminho ela deve percorrer? Você acha que a
bruxaria e a adivinhação são para todo mundo?
BRUXA: Eu de verdade... deixa eu pensar melhor para responder. Eu de cara, diria
que sim, e agora eu fiz um retrocesso aqui de pessoas que desistiram no caminho, e
fiz um paralelo na minha cabeça e o que eu diria é o seguinte. Que bruxaria é sim
para qualquer um que tenha o desejo de aprender ou de recordar, por que recordar?
Porque volta naquela história que bruxa para mim é aquela que sabe observar a
natureza. quem sabe observar a natureza? Quem tem olhos, então se você tem olhos
e permite ajustar às lentes dos olhos da vida que se apresenta ao cada segundo na
natureza por um brilho do sol, por uma semente que brota, então se você se permitir
ao ajustar os seus olhos para observar a natureza de alguma maneira você se conecta
com seus antepassados, os nossos antepassados que faziam isso naturalmente,
porque de alguma maneira isso está registrado na história da humanidade e você
começa ao acessar esse conhecimento, seja pelos livros que você começa a ler sobre
o assunto, seja uma escola bacana que você encontra de alguém que já passou por
esse caminho que então pode te ajudar com dicas e exemplos sobre como resgatar
esse conhecimento, partindo do princípio que a bruxaria é observação da vida por
trás de toda a natureza, qualquer um que tem olhos. Ah, então cego não pode? Aquele
que é um deficiente visual tem outras percepções, outras habilidades na verdade…
PESQUISADOR: Você comentou de um cego que advinha na bola de cristal.
BRUXA: Sim eu conheci um rapaz que era cego e que usava ao bola de cristal, ele
obviamente não usava ao bola de cristal para ver os cenários, muito menos símbolos
dentro dessa outra linha que eu mencionei, ele usava ao bola de cristal como uma
energia que o ajudava ao acessar pela própria instituição e visões que ele tinha, agora
ao bola de cristal em especial por ela ser feita de cristal e os cristais dentro da magia
serem considerados grandes arquivistas da história da humanidade e sabendo que
aquele que conhece o passado pode dizer o futuro, porque é tudo um ciclo, ao bola
de cristal serve energeticamente na magia, serve sim como uma ferramenta, mesmo
sem usar como bola de cristal para ter às visões, ela serve como uma conexão de
acesso ao informações, histórias da humanidade e era o caso deste rapaz. então ele
usava muito mais a propriedade mágica de um cristal, então eu arrisco dizer que nem
precisaria ser uma bola de cristal, ao invés de uma esfera poderia ser um formato
qualquer, porque ele usava a característica vibratória do cristal e não pela
possibilidade daquilo se transformar em visões. Na bruxaria qualquer um que se
permitir sentir pelos olhos, pela audição, pelo tato ou qualquer um dos sentidos, ou
mesmo a intuição que não está dentro dos cinco sentidos, a vida que está presente
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na natureza, aquele que se permitir vai acessar essa história das antepassadas e vai
se conectar com a história da natureza e vai resgatar todo esse conhecimento, então
eu acredito que a bruxaria é sim para qualquer um, independente da atual situação
física daquela pessoa.
PESQUISADOR: Muito obrigado!
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