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Questões de Concurso - Direitos Humanos

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(Atualização em 12/10/2021: questões de concurso)

Direito Internacional dos Direitos Humanos. Concepções doutrinárias sobre a natureza dos
direitos humanos. Evolução histórica dos direitos humanos e Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão.

(DPEDF-2019-CESPE): Com fundamento nas teorias sobre direitos humanos e na Declaração


Universal dos Direitos Humanos, julgue o item que se segue: A teoria de Habermas sobre os direitos
humanos, fundamentada na filosofia de Kant, considera os direitos humanos em espécie como
derivações da dignidade humana: embora cada direito tenha sentido específico, todas as pessoas
merecem proteção jurídica.

##Atenção: O fundamento moral dos direitos humanos na teoria habermasiana toma como base a
conhecida definição do filósofo Immanuel Kant de que as pessoas devem ser tratadas não como
objetos, mas como fins em si mesmas. (Fonte: CESPE).

##Atenção: Jürgen Habermas, filósofo e sociólogo alemão, dedicou a sua vida ao estudo do
problema da democracia. Em relação aos direitos humanos, Habermas considera que o "conteúdo
semântico" destes direitos contém uma pretensão global, admitindo, como indica Lohmann - ao
menos de modo conceitual - o universalismo dos direitos humanos.

##Atenção: Kant, no final do século XVIII, defendeu a existência da dignidade intrínseca a todo ser
racional, que não tem preço ou equivalente. Justamente em virtude dessa dignidade, não se pode
tratar o ser humano como um meio, mas sim como um fim em si mesmo. Esse conceito kantiano do
valor superior e sem equivalente da dignidade humana será, depois, retomado no regime jurídico
dos direitos humanos contemporâneos, em especial no que tange à indisponibilidade e à proibição de
tratamento do homem como objeto.

(DPEDF-2019-CESPE): Com fundamento nas teorias sobre direitos humanos e na Declaração


Universal dos Direitos Humanos, julgue o item que se segue: Na perspectiva de Jürgen Habermas, os
direitos humanos pressupõem a soberania popular, e vice-versa, na medida em que esses direitos são
fruto de decisões populares soberanas que, ao mesmo tempo, estão limitadas por esses mesmos
direitos.

##Atenção: A afirmativa está em consonância com o sentido dos direitos humanos. A relação é
importante para deixar claro que a maioria não tem poderes ilimitados sobre as minorias e que os
direitos humanos são esse limite, conforme Habermas.

(DPESP-2015-FCC): Analise as assertivas a seguir: I. “Os droits de l'homme, os direitos humanos, são
diferenciados como tais dos droits du citoyen, dos direitos do cidadão. Quem é esse homme que é diferenciado do
citoyen? Ninguém mais ninguém menos que o membro da sociedade burguesa.”; II. “Mulher, desperta. A força
da razão se faz escutar em todo o Universo. Reconhece teus direitos. O poderoso império da natureza não está
mais envolto de preconceitos, de fanatismos, de superstições e de mentiras. A bandeira da verdade dissipou
todas as nuvens da ignorância e da usurpação. O homem escravo multiplicou suas forças e teve necessidade de
recorrer às tuas, para romper os seus ferros. Tornando-se livre, tornou-se injusto em relação à sua
companheira.” São autores, respectivamente, dos excertos críticos à Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão: Karl Marx e Olympe de Gouges.

##Atenção: A primeira assertiva reproduz um trecho contido em "Sobre a Questão Judaica", de Karl
Marx e a segunda, da Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, proposto por Olympe de
Gouges à Assembleia Nacional da França em 1791, durante a Revolução Francesa.

##Atenção: Para quem, assim como eu, nunca ouviu falar dessa personagem da história, segue a
biografia: “Olympe de Gouges, pseudônimo de Marie Gouze nasceu em 1748 e morreu em Paris, em 1773. Foi
uma feminista, revolucionária, historiadora, jornalista, escritora e autora de peças de teatro francesa. Os
escritos feministas de sua autoria alcançaram enorme audiência. Foi uma defensora da democracia e dos
direitos das mulheres. Na sua obra "Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã" (em francês: Déclaration
des droits de la femme et de la citoyenne) de setembro de 1791, desafiou a conduta injusta da autoridade
masculina e da relação homem-mulher que expressou-se na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
durante a Revolução Francesa. Devido aos escritos e atitudes pioneiras, foi executada. Uma revolucionária
dentro da própria revolução francesa, de Gouges faz questão de utilizar-se de seus protetores e amigos para
elevar a voz em favor da mulher: escreveu peças abolicionistas, cartas debatendo idéias dos revolucionários e
chegou a fazer uma versão da “Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão”. Neste último, lança o olhar
sobre a mulher, que esteve lado a lado na revolução porém não estava no mesmo nível de igualdade quanto ao
poder. No entanto, a história que se diferencia da maioria termina de uma maneira semelhante a tantas outras:
os revolucionários, no poder, determinaram que Olympe de Gouges era contra-revolucionária. E isso bastou
para lhe condenar a guilhotina.” (Fonte:
http://blogueirasfeministas.com/2014/09/olympe-de-gouges-feminista-revolucionaria-heroina/)

(DPESP-2015-FCC): “[...] Esse conjunto de entidades envolvido no debate ambiental brasileiro esteve sempre
atravessado por uma questão central: a de como engajar-se em campanhas que evocam a 'proteção ao meio
ambiente' sem desconsiderar as evidentes prioridades da luta contra a pobreza e a desigualdade social ou
mostrando-se capaz de responder aos propósitos desenvolvimentistas correntes que almejam a rentabilização de
capitais em nome da geração de emprego e renda. Em outros termos, como conquistar legitimidade para as
questões ambientais, quando, com frequência, a preocupação com o ambiente é apresentada como um obstáculo
ao enfrentamento do desemprego e à superação da pobreza? Como dar um tratamento lógico e socialmente
aceitável às implicações ambientais das lutas contra a desigualdade social e pelo desenvolvimento econômico?”
(ACSELRAD, Henri. Ambientalização das lutas sociais − o caso do movimento por justiça ambiental.
Estudos avançados, São Paulo, v. 24, n. 68, p. 103-119, 2010. Disponível em: . Acesso em 10 de agosto
2015. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142010000100010). O trecho acima reproduzido alude a
uma das questões centrais em matéria de justiça ambiental: o conflito entre o desenvolvimento
econômico e a preservação ambiental. O tema justiça ambiental:

i) tem sua origem associada, segundo parte da doutrina, às lutas raciais desenvolvidas
pelos negros nos Estados Unidos, na década de 1980.
ii) sustenta a necessidade de consideração da dimensão histórica e social na análise da
questão ambiental. tem dentre seus princípios o fomento à gestão democrática e o
acesso à informação.

##Atenção: O conceito de justiça ambiental desenvolveu-se a partir das lutas por direitos civis da
população negra dos Estados Unidos na década de 1980. As populações mais pobres (em sua maioria
negra), percebeu que os resíduos tóxicos proveniente da indústria, sobretudo química, estavam
sendo depositados em seu território. Pois bem, essa constatação gerou uma série de protesto e
culminou com a construção de um novo campo denominado justiça ambiental, que congrega toda
uma produção teórica crítica sobre a distribuição desigual dos riscos provenientes desse modelo de
desenvolvimento. (http://esmonteiro.blogspot.com.br/2011/10/o-que-e-justica-ambiental.html).

##Atenção: PRINCÍPIOS E PRÁTICAS DA JUSTIÇA AMBIENTAL:1 A Justiça Ambiental, em todos


os países que a adotam, prevê um conjunto de princípios e práticas que assegurem:

a) que nenhum grupo social, seja ele étnico, racial ou de classe, suporte uma parcela
desproporcional das conseqüências ambientais negativas de operações econômicas, de
decisões de políticas e de programas federais, estaduais, locais, assim como da ausência ou
omissão de tais políticas;

b) o acesso justo e equitativo, direto e indireto, aos recursos ambientais do país;

c) o amplo acesso às informações relevantes sobre o uso dos recursos ambientais e a


destinação de rejeitos e localização de fontes de riscos ambientais, bem como processos
democráticos e participativos na definição de políticas, planos, programas e projetos que lhes
dizem respeito;

1
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6285
d) o favorecimento da constituição de sujeitos coletivos de direitos, movimentos sociais e
organizações populares para serem protagonistas na construção de modelos alternativos de
desenvolvimento, que assegurem a democratização do acesso aos recursos ambientais e a
sustentabilidade do seu uso.

(DPERS-2014-FCC): O enfrentamento das discriminações que, no Brasil, estão proibidas por força da
Constituição Federal e dos tratados internacionais de direitos humanos dos quais o país é signatário,
atualmente tem discussão em um campo próprio, conhecido como “direito da antidiscriminação”.
Nesse campo, e considerando os conceitos legais vigentes, considera-se discriminação indireta a
adoção de medidas, decisões ou práticas com a aparência de neutralidade que têm o efeito ou
resultam em um impacto diferenciado ilegítimo sobre um indivíduo ou grupo.

##Atenção: “A discriminação direta consiste na adoção de prática intencional e consciente que adote
critério injustificável, discriminando determinado grupo e resultando em prejuízo ou desvantagem. (...) A
discriminação indireta é mais sutil: consiste na adoção de critério aparentemente neutro (e, então,
justificável), mas que, na situação analisada, possui impacto negativo desproporcional em relação a determinado
segmento vulnerável.” (Fonte: ANDRÉ DE CARVALHO RAMOS. “CURSO DE DIREITOS
HUMANOS.”). (...) “Na discriminação direta há a intenção de discriminar; na discriminação indireta,
uma suposta neutralidade vem de forma desproporcional a impactar grupos raciais, limitando o exercício de
seus direitos.” (Fonte: Piovesan, Flavia. “Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional -
14ª Ed. 2013.).

##Atenção: Diferenças:

- Conceito de discriminação direta: Considera-se que existe discriminação direta sempre que uma
pessoa seja sujeita a tratamento menos favorável do que aquele que é, tenha sido, ou venha a ser
dado a outra pessoa em situação comparável.

- Conceito de discriminação indireta: Considera-se que existe discriminação indireta, sempre que
uma disposição, critério ou prática aparentemente neutro seja suscetível de colocar uma pessoa, por
motivo de um fator de discriminação, numa posição de desvantagem comparativamente com outras,
a não ser que essa disposição, critério ou prática seja objetivamente justificado por um fim legítimo e
que os meios para o alcançar sejam adequados e necessários.

##Atenção: O caso Yatama vs Nicarágua retrata uma hipótese de violação ao princípio da igualdade
material conhecida como discriminação indireta e a corte Interamericana de direitos humanos ainda
que não o tenha feito de maneira expressa utilizou-se da teoria do impacto desproporcional para
constatar essas violações. Em outras palavras, embora citada alteração da legislação eleitoral no que
tange as condições de elegibilidade não seja, à primeira vista, reputada ilegal, afetou de maneira
desproporcional as comunidades indígenas (e apenas elas), ao exigir formas de organização política
que eram estranhos ao seus costumes e tradições. Segundo a teoria do impacto desproporcional, é
possível que se constatem violações ao princípio da igualdade quando os efeitos práticos de
determinadas normas, de caráter aparentemente neutro, causando dano excessivo, ainda que não
intencional, aos integrantes de determinados grupos vulneráveis.

##Atenção: Segundo o ministro aposentado Joaquim Barbosa, a teoria do impacto desproporcional


consiste em “(...) toda e qualquer prática empresarial, política governamental ou semigovernamental, de cunho
legislativo ou administrativo, ainda que não provida de intenção discriminatória no momento de sua concepção,
deve ser condenada por violação do princípio constitucional da igualdade material se, em consequência de sua
aplicação, resultarem efeitos nocivos de incidência especialmente desproporcional sobre certas categorias de
pessoas” (Ação afirmativa e princípio constitucional da igualdade, Renovar, 2001, p. 24).
(http://www.emagis.com.br/area-gratuita/que-negocio-e-esse/teoria-do-impacto-desproporcional/)

(DPERS-2014-FCC): Na teoria geral dos direitos humanos, um dos debates mais relevantes diz
respeito ao dilema dos seus fundamentos filosóficos. Duas correntes bem distintas lideram a
discussão: o relativismo cultural e o universalismo. Os adeptos da doutrina universalista defendem a
visão de que os direitos humanos decorrem da dignidade humana, na qualidade de valor intrínseco à
condição humana, concebendo-se uma noção de direitos baseada em um mínimo ético irredutível.

##Atenção: ##DPERS-2014: ##DPESP-2015: ##FCC: Conforme aduz Flávia Piovesan, “(...) para os
universalistas, o fundamento dos direitos humanos é a dignidade humana, como valor intrínseco à
própria condição humana. Nesse sentido, qualquer afronta ao chamado mínimo ético redutível que
comprometa a dignidade humana, ainda que em nome da cultura, importará em violação a direitos
humanos” (PIOVESAN, F. Direitos humanos e o direito constitucional Internacional. 14a ed. São
Paulo: Saraiva, p. 224).

##Atenção: ##DPERS-2014: ##DPESP-2015: ##FCC: Boaventura de Sousa Santos destaca-se por


entender que é necessário se promover um diálogo entre as culturas, capaz de compor um
"multiculturalismo emancipatório", o que implicaria em uma concepção multicultural de direitos
humanos. Para este autor, o multiculturalismo "é pré-condição de uma relação equilibrada e
mutuamente potenciadora entre a competência local e a legitimidade local" e é preciso superar o
embate entre as visões universalistas e relativistas, já que todas as culturas possuem concepções
distintas de dignidade humana, mas são incompletas - e apenas o diálogo entre estas culturas seria
capaz de promover a necessária proteção de direitos humanos.

##Atenção: ##DPERS-2014: ##DPESP-2015: ##FCC: Multiculturalismo dos direitos humanos:


Segundo Boaventura de Souza Santos, os ideais da corrente que defende o universalismo dos direitos
humanos implicam uma imposição moral universal; isto é, eles não poderiam ser postos em prática
no cenário mundial sem a imposição de uma cultura hegemônica às minorias, o que caracterizaria
uma espécie de “canibalização cultural”. Em resposta a esse problema, Santos defende uma
concepção multicultural dos direitos humanos, pautada no diálogo entre as culturas com o objetivo
de alcançar uma universalidade construída por diversas concepções culturais, sem, no entanto, a
imposição de valores ocidentais às culturas orientais e vice-versa, atingindo com isso um ideal
cosmopolita.

(DPEGO-2014-UFG): Os direitos humanos ganharam nas últimas décadas especial atenção da


sociedade e dos meios internacionais e já se encontram incorporados ao pensamento jurídico do
século XXI. Estudiosos da matéria sustentam que o seu fundamento filosófico e a justificativa estão
ligados a movimentos históricos, políticos e jurídico-sociais que marcaram a história da humanidade.
Nessa perspectiva, o reconhecimento dos direitos humanos teve como um dos seus fundamentos
filosóficos o movimento denominado “jusnaturalismo”.

##Atenção: Entre outros pensamento filosóficos – como os pensamentos racionalista e positivista – o


“jusnaturalismo” teve forte influência para o reconhecimento dos direitos humanos.

(DPERR-2013-CESPE): O conceito de universalismo de chegada sintetiza as garantias universais


aptas a sustentar uma teoria dos direitos humanos intercultural.

##Atenção: ##DPERR-2013: ##DPESP-2015: ##CESPE: ##FCC: O conceito de “universalismo de


chegada” foi elaborado pelo jurisfilósofo espanhol Joaquim Herrera Flores ao debater sobre o papel
dos Direitos Humanos em unir os indivíduos em prol de lutas comuns pela dignidade. Entretanto,
para se entender os Direitos Humanos como forma de resistência é preciso estabelecer o núcleo duro
de direitos mínimos que garantiriam a dignidade do indivíduo. Na visão de Flores, essa definição
deve passar antes pelo reconhecimento das diferenças culturais e pela compreensão de que tais
direitos são uma construção. Ou seja, Flores defende a superação da clássica dicotomia entre a visão
universalista e a visão culturalista dos Direitos Humanos. O universalismo, conceito derivado de
uma concepção ocidental, defende que práticas universalistas neutras estabelecem um conjunto de
direitos preestabelecidos. Seus seguidores buscam um marco comum de direitos que possibilitaria a
convivência harmônica entre os indivíduos. Flores critica a visão universalista por levar à crença de
que só há uma verdade sobre os fenômenos essenciais da condição humana, e que esta verdade é
válida para todas as pessoas em todos os tempos. Ao contrário, ele acredita há muitos caminhos e
muitas formas de ação como forma de resistência e para se lutar pela dignidade. É vital buscar um
ponto de encontro em que todas as propostas e diferenças sejam levadas em conta. Já a visão
culturalista, baseia-se em uma perspectiva mais comunitária, onde há primazia da comunidade, do
local e, portanto, do valor da diferença. Esses fatores são essenciais para estabelecer o conjunto
mínimo de direitos que satisfaçam os membros de determinado grupo. A dignidade está no respeito
à sua diferença, às suas práticas particularistas. Um dos problemas que essa visão apresenta é
compreender a cultura como algo fechado, e por isso determinado grupo não valora ou não
incorpora aquilo que não coincide com sua cultura. Como resultado dessas premissas falhas de
ambas as visões, surgem racionalidades e práticas sociais que não conseguem atender à função de
resistência dos Direitos Humanos, pois não relacionam suas propostas com o contexto real, que,
segundo Flores, hoje é regido por uma “racionalidade da mão invisível" ( que seria a racionalidade
do capitalismo). A visão universalista, por exemplo, ao construir um sistema de regras e princípios
reconhecidos juridicamente, acaba por priorizar o formalismo e , nesse sentido, deixa de analisar
questões importantes, como poder, diversidade e desigualdades econômicas. Essa racionalidade
formal culmina em uma prática universalista que o teórico chamará de “universalismo de partida".
Para Flores, a visão culturalista também constrói um universalismo - chamado por ele de
“universalismo de retas paralelas"-. Nesse caso, a proposta é se fechar em si mesmo e por isso,
impedir o indivíduo de ter conhecimento de outras formas de visão do mundo. Fruto de uma reação
ao universalismo, a visão culturalista acaba por desenvolver uma perspectiva separatista,
fomentando, muitas vezes, o conflito. Portanto, não auxilia a resistência, a luta contra opressão e sim,
a desagregação. Nesse contexto, o jusfilósofo propõe uma visão mais complexa dos Direitos
Humanos, realmente capaz de promover uma “racionalidade de resistência". Para tanto, se faz
necessário, a priori, que os indivíduos se reconheçam como detentores de direitos e, além disso, se
reconheçam em situação de opressão. Para compreender essa visão complexa, o indivíduo deve se
situar na periferia e não no centro, pois é lá onde é possível reconhecer relações que nos mantém
condicionados tanto interno quanto externamente. A pluralidade da periferia conduziria ao diálogo e
à convivência. E esse é um ponto essencial na visão proposta por Flores, uma vez que ele acredita em
uma cultura de direitos que acolha em seu seio a universalidade das garantias e o respeito pelo
diferente. A visão complexa de Direitos Humanos assumiria a realidade e a presença de múltiplas
vozes, todas com o mesmo direito a se expressar, a demandar e a lutar. Flores chega então ao conceito
de “universalismo de chegada ou confluência" em que se propõe a construir um universalismo
onde a convivência interpessoal e intercultural, o encontro com o outro é valorizado e respeitado.
Guardando profundas semelhanças com o conceito de “diálogo intercultural" de Boaventura de
Sousa Santos, o “universalismo de chegada" é um universalismo de misturas, cruzamentos, que
permite ao indivíduo se deslocar pelos diferentes pontos de vista sem pretensão de negar a
possibilidade de luta pela dignidade humana a ninguém.

##Atenção: ##DPERR-2013: ##DPESP-2015: ##CESPE: ##FCC: Universalismo de confluência dos


direitos humanos: Joaquim Herrera Flores propõe o denominado “universalismo de chegada” ou de
“confluência”, segundo o qual os indivíduos buscam chegar até uma concepção universalista dos
direitos humanos através da convivência e de diálogos interculturais, proporcionando cruzamentos e
misturas entre os indivíduos sem a pretensão de excluir nenhum ser humano na luta por sua
dignidade.

(DPEAC-2012-CESPE): Assinale a opção correta no que diz respeito à afirmação histórica dos
direitos humanos: A Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição de Weimar de 1919 são marcos
da afirmação dos direitos humanos de segunda geração.

(DPEES-2012-CESPE): Julgue o seguinte item, sobre a teoria geral, a afirmação histórica, os


fundamentos e a universalidade dos direitos humanos: A hermenêutica diatópica constitui proposta
de superação do debate sobre universalismo e relativismo cultural.

##Atenção: ##DPEES-2012: ##DPERS-2014: ##DPESP-2015: ##CESPE: ##FCC: O teórico


português Boaventura de Sousa Santos propõe a transformação paradigmática da concepção de
direitos humanos diante da constatação de uma falsa matriz universal desses direitos. Ele afirma que,
por meio da globalização hegemônica, os valores ocidentais se disfarçam de universais, no intuito de
disseminar ideias intimamente ligadas ao mundo ocidental como o liberalismo político, o
individualismo e a economia liberal de mercado. Santos defende um novo tipo de universalidade,
construída de baixo para cima: o cosmopolitismo. Ele não nega os esforços para universalizar um
conjunto de valores que possa ser compartilhado por todas as culturas, porém, esses direitos
humanos “universais" devem ser alcançados a partir da construção de um diálogo intercultural.
Como uma das premissas para a reconceitualização dos direitos humanos, o autor exalta a
necessidade de superação entre universalismo e relativismo. Para Santos, a disputa entre essa duas
visões inviabiliza o diálogo intercultural, uma vez que a posição universalista conduz, na verdade, a
um “localismo ocidental globalizado"; e, por outro lado, a posição relativista não consegue
vislumbrar a possibilidade de compreensão cultural mútua, sem inferir na imposição de uma cultura
à outra. No que se refere à superação do universalismo, o teórico português incentiva diálogos
interculturais que focalizem questões isomórficas. Essas seriam questões que, embora decorrente de
universos de sentidos diferentes, poderiam ser conciliadas em uma unidade valorativa, que seria um
“denominador comum" de dignidade. Já o relativismo cultural deve ser superado por meio da
diferenciação de práticas conservadoras e progressivas no âmbito das políticas culturais internas. Na
visão de Santos, as práticas progressistas devem ser tidas como válidas e estimuladas por todas as
culturas. No intuito de se alcançar a superação entre universalismo e relativismo, o autor propõe
uma hermenêutica diatópica no diálogo travado entre as diferentes culturas. Esse tipo de
interpretação baseia-se na convicção de que cada cultura apresenta um universo de sentido diferente.
Tais universos de sentido consistem, segundo Santos, em constelações de topoi fortes, que seriam “os
lugares comuns retóricos mais abrangentes de determinada cultura", ou seja, de onde surgem
premissas e argumentos irrefutáveis de uma cultura. Para que ocorra o diálogo entre os diversos
valores culturais é necessário que os distintos topoi sejam reciprocamente compreendidos pelas
diferentes culturas envolvidas. Para tanto, Souza propõe a utilização da hermenêutica diatópica que
se baseia na ideia de incompletude desses topoi. Nesse sentido, a hermenêutica diatópica busca
aumentar “a consciência de incompletude mútua através de um diálogo que se desenrola com um pé
em uma cultura e outro, noutra". Dessa forma, é possível compreender os distintos universos de
sentido em suas respectivas realidades. Portanto, em seu projeto cosmopolita de direitos humanos,
Santos defende uma visão multicultural, em que a concepção de direitos humanos não mais se baseia
em um falso universalismo, mas sim, em “uma constelação de sentidos locais, mutuamente
inteligíveis, através da hermenêutica diatópica.

##Atenção: Hermenêutica X Diatópica:

⮚ Hermenêutica: Reunião das normas ou mecanismos utilizados na interpretação de um texto


de teor legal ou das leis.
⮚ Diatópica: Na linguística, é a relação que se dá as diferentes naturezas geográficas de uma
língua. Por exemplo: variações locais ou regionais da língua. Também refere-se às diferenças
de natureza geográfica (variedades locais, regionais).

(DPEES-2012-CESPE): Julgue o seguinte item, sobre a teoria geral, a afirmação histórica, os


fundamentos e a universalidade dos direitos humanos: A universalidade e a indivisibilidade são
características próprias da concepção contemporânea dos direitos humanos.

##Atenção: ##DPEES-2012: ##DPESP-2015: ##CESPE: ##FCC: A Declaração Universal dos Direitos


Humanos de 1948 foi responsável por introduzir a concepção contemporânea dos direitos humanos,
marcada pela universalidade, indivisibilidade e interdependência desses direitos. A universalidade
significa que todos os indivíduos, independente da raça, credo, nacionalidade, convicção política, ou
seja, a coletividade jurídica em geral, pode pleitear um conjunto de direitos humanos básicos em
qualquer foro nacional ou internacional. A indivisibilidade, por sua vez, estabelece que os direitos
humanos compõem um único conjunto de direitos, uma vez que não podem ser analisados de
maneira isolada, separada. Nesse sentido, o desrespeito a um deles constituiria a violação de todos.
Por fim, a interdependência reitera que os direitos fundamentais estão vinculados uns aos outros,
não podendo ser vistos como elementos isolados, mas sim como um todo, um bloco que apresenta
interpenetrações. Assim, as várias previsões constitucionais, apesar de autônomas, possuem diversas
intersecções para atingirem suas principais finalidades. Essa visão contemporânea dos direitos
humanos foi reafirmada na Conferência de Viena sobre Direitos Humanos em 1993, quando o tema
ganhou um enfoque global.

##Atenção: Universalidade X Indivisibilidade:


⮚ Universalidade: Destinam-se, de maneira indiscriminada, a todos os seres humanos. Os
direitos humanos devem alcançar a todos, independentemente de orientação sexual, cor,
raça, etnia, origem, procedência nacional, sexo, idade, crença religiosa, convicção política ou
filosófica, nacionalidade ou quaisquer outras formas de discriminação.
⮚ Indivisibilidade: A indivisibilidade dos direitos humanos está associada ao maior objetivo
do sistema internacional de direitos humanos, a promoção e garantia da dignidade da
pessoa humana. Afirmando-se que tais direitos são indivisíveis, diz-se que não há o
meio-termo, pois somente há vida digna se todos os direitos materializados em uma
Constituição, por exemplo, estiverem sendo providos de efetividade, sejam civis e políticos,
sejam sociais, econômico e culturais.

(DPEES-2012-CESPE): Julgue o seguinte item, sobre a teoria geral, a afirmação histórica, os


fundamentos e a universalidade dos direitos humanos: As três gerações de direitos humanos
demonstram que visões de mundo diferentes refletem-se nas normas jurídicas voltadas à proteção da
pessoa.

##Atenção: A teoria das gerações ou dimensões dos direitos humanos foi criada pelo jurista francês
Karel Vasak em 1979. Ele classificou os direitos humanos em 3 gerações, cada uma com características
próprias. Os direitos de primeira geração são os direitos de liberdade, também chamados de direitos
de defesa, e compostos pelos direitos civis e políticos ou direitos individuais ( ex: direito à
propriedade, à liberdade, à intimidade etc). Os direitos de segunda geração são aqueles que exigem
um papel mais ativo do Estado, além de mero fiscal das regras jurídicas. São direitos sociais que
demandam uma prestação mínima do Estado, de forma a garantir condição material mínima de
sobrevivência à população (ex: direito à saúde, à moradia, à educação etc). Por fim, os direitos de
terceira geração são de titularidade da comunidade, por essa razão também chamados de direitos da
solidariedade. São oriundos da constatação do vínculo do homem com o planeta, que possui recursos
finitos e uma divisão desigual de riquezas.

##Atenção: ##DPEES-2012: ##CESPE: ##Parêntese: A concepção contemporânea dos direitos


humanos surgiu com o término da 2ª Grande Guerra Mundial: Após as atrocidades cometidas
durante a Segunda Guerra Mundial, surge a necessidade de se reconstruir os direitos humanos, como
paradigma e referencial ético a orientar a ordem internacional, mediante a formulação de um código
universal de valores. Este código universal significaria o consenso sobre os preceitos minimamente
necessários para assegurar uma vida com dignidade. Em 10 de dezembro de 1948, foi criada, assim, a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, pela aprovação unânime de 48 Estados, com 8
abstenções. A Declaração consolida a afirmação de uma ética universal, ao consagrar um consenso
sobre valores a serem seguidos pelos Estados. Ela introduz a concepção contemporânea de direitos
humanos, marcada pela universalidade, interdependência e indivisibilidade destes direitos.

(DPEPR-2012-FCC): O Direito Internacional dos Direitos Humanos, o Direito Internacional


Humanitário e o Direito Internacional dos Refugiados são constituídos, cada um deles, por distintos
conjuntos normativos que, no entanto, gradualmente, evoluíram de um funcionamento
compartimentalizado para uma crescente interação. Sobre o relacionamento dessas três vertentes da
Proteção Internacional da Pessoa Humana é correto afirmar: Pela Cláusula de Martens, instituto de
Direito Internacional Humanitário, nas situações não previstas, tanto os combatentes, quanto os civis,
ficam sob a proteção e a autoridade dos princípios do direito internacional, o que abre espaço para a
incidência do Direito Internacional dos Direitos Humanos.

##Atenção: A chamada "Cláusula Martens" propõe (em 1907) que, até que um código mais completo
sobre leis de guerra viesse a ser elaborado, os Estados signatários consideravam conveniente declarar
que, em casos não inclusos em regulamentações já adotadas, os civis e beligerantes deveriam
permanecer sob a proteção e regulamentação dos princípios de direito internacional.

##Atenção: O que é CLÁUSULA MARTENS? No Direito Internacional, em especial no Direito


Humanitário, também denominado de Direito de Haia, vige a “cláusula martens”, mas o que é ela?
Em primeiro, é ela fonte material  de direito humanitário, que consiste basicamente no fato de que,
em uma guerra, os beligerantes devem sempre ter em mente que o conflito é entre eles -e não
devem envolver a população civil.  A cláusula Martens visa a justamente proteger a população civil
dos crimes contra a humanidade, também chamados de Crimes de lesa humanidade. Segundo a
doutrina (Bassiouni), a Cláusula Martens tem origem na apresentação do delegado russo Friedrich
von Martens na I Conferência de Paz de Haia de 1899, tendo sido posteriormente inserida nas
Convenções de Haia de 1899 e IV Convenção de Haia de 1907. Conforme a Cláusula Martens: “Até
que um código mais completo das leis de guerra seja editado, as altas partes contratantes
consideram conveniente declarar que, em casos não incluídos nas regulamentações por elas
adotadas, os civis e beligerantes permanecem sob a proteção e a regulamentação dos princípios do
direito internacional, uma vez que estes resultam dos costumes estabelecidos entre povos
civilizados, dos princípios da humanidade e dos ditames da consciência pública”. Ademais,
conforme Cançado Trindade, essa norma impede o non liquet, exercendo papel de hermenêutica e de
aplicação da normativa humanitária.
(Fonte: https://iudexsapiens.blogspot.com.br/2015/08/o-que-e-clausula-martens.html).

(DPESE-2012-CESPE): Com relação ao direito humanitário, assinale a opção correta: O direito


humanitário, a criação da Liga das Nações e a criação da Organização Internacional do Trabalho são
apontados pela doutrina como antecedentes históricos do moderno direito internacional dos direitos
humanos.

##Atenção: De fato, estes três eventos são apontados como marcos do processo de
internacionalização dos direitos humanos e superação da “lógica de Westphalia”, segundo a qual o
direito internacional deveria se ater apenas às relações entre Estados.

##Atenção: ##DPESE-2012; ##DPERR-2013: ##CESPE: “O processo de internacionalização dos


direitos humanos tem diversas fontes históricas, sendo que as principais são oriundas do DIREITO
HUMANITÁRIO, bem como os TRATADOS CELEBRADOS DURANTE A LIGA DAS NAÇÕES e
ainda as CONVENÇÕES e TRATADOS DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO
TRABALHO.

✔ O DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO, criado no século XIX, [...] elevou ao


status internacional a proteção humanitária em casos de guerra, regulamentando
juridicamente, em âmbito internacional, proteções aos feridos e aos civis. Passa a haver nas
guerras certos limites. Nos casos, à liberdade e à autonomia dos Estados conflitantes,
ganham regramento. Fica assim indicado um caminho por onde os direitos humanos, mais
tarde, também deveriam trilhar, alcançando amplitude universal.
✔ A CONVENÇÃO DA LIGA DAS NAÇÕES, de 1920, segundo explica Flávia Piovesan
(2000, p.124), tinha como finalidade promover a cooperação, paz e segurança internacional,
condenando agressões externas contra a integridade territorial e a independência política de
seus membros. A Convenção da Liga das Nações ainda estabelecia sanções econômicas e
militares a serem impostas pela comunidade internacional contra os Estados que violassem
suas obrigações, o que representou uma redefinição do conceito de soberania estatal
absoluta.
✔ A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, criada finda a PRIMEIRA
GUERRA MUNDIAL foi [...] o antecedente que mais contribuiu para a formação do Direito
Internacional dos Direitos Humanos, com o objetivo de estabelecer critérios básicos de
proteção ao trabalhador, regulando sua condição no plano internacional, tendo em vista
assegurar padrões mais condizentes de dignidade e de bem estar social.

##Atenção: ##DPESE-2012; ##DPERR-2013: ##CESPE: Em face deste breve apanhado histórico,


pode-se concluir, nas palavras da Flávia Piovesan (2000, p. 125), que ESTES TRÊS INSTITUTOS,
CADA QUAL AO SEU MODO, CONTRIBUÍRAM PARA O PROCESSO DE
INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS. (Fonte:
http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/2328/1823)

(MPF-2012): SOBRE A RELAÇÃO ENTRE DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS


HUMANOS E DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÅRIO, É CORRETO DIZER QUE: os dois
âmbitos de regulação se interceptam quanto à disciplina do estado de emergência no direito
internacional dos direitos humanos, em que se estipulam direitos mínimos inderrogáveis que
coincidem, em grande parte, com as garantias mínimas do art. 3.° comum às quatro Convenções de
Genebra.

##Atenção: O Direito Humanitário tem como objetivo a tutela da pessoa humana, entretanto, numa
situação mais específica, qual seja, pessoa humana como vítima de conflito armado nacional ou
internacional. O Direito Internacional dos Direitos Humanos e o Direito Humanitário são
complementares, apesar de serem dois conjuntos de leis distintas, pois ambos buscam proteger o
indivíduo de ações arbitrárias e de abusos. Os direitos humanos são inerentes ao ser humano e
protegem os indivíduos sempre, seja em tempos de guerra ou de paz. Assim, em tempos de conflitos
armados, eles atuam de forma complementar. Obs.: o Direito Humanitário provém, basicamente, das
quatro Convenções de Genebra de 1949 e seus protocolos adicionais, e das Convenções de Haia
(essas regulam especificamente os meios e métodos utilizados na guerra).

##Atenção: “Além da relação de especialidade, há também uma relação de identidade e convergência. O art. 3º
comum às quatro Convenções de Genebra sobre Direito Internacional Humanitário converge com a proteção de
direitos humanos básicos, como o direito à vida e integridade física em tempo de paz. No mesmo sentido, há
garantias fundamentais que foram adotadas nos dois Protocolos Adicionais de 1977 às Convenções de Genebra
(Protocolo I, art. 75, e Protocolo II, arts. 4º a 6º, ver abaixo)” (André de Carvalho Ramos, Curso de
Direitos Humanos, 5ª ed., São Paulo, Saraiva, 2018, parte II, item I). “Os direitos previstos no artigo 4º,
par. 2, do Pacto de Direitos Civis e Políticos são inderrogáveis em qualquer circunstância e, portanto, devem ser
reconhecidos inclusive em momentos de guerra. (...) Interessante notar que tais direitos coincidem com algumas
obrigações básicas do Direito Humanitário, constantes das Convenções de Genebra”. (Paulo Henrique
Gonçalves Portela, Direito Internacional Público e Privado, 12ª ed., Salvador, Juspodivm, 2020, p.
1184-5).

(DPEMA-2011-CESPE): Considerando a teoria geral dos direitos humanos, assinale a opção correta:
O princípio da proibição do retrocesso social é uma cláusula de defesa do cidadão em face de
possíveis arbítrios impostos pelo legislador no sentido de desconstituir as normas de direitos
fundamentais.

##Atenção: Os direitos sociais têm de seguir o princípio da proibição do retrocesso social, que visa a
impedir que o legislador venha a desconstituir pura e simplesmente o grau de concretização que ele
próprio havia dado às normas constitucionais, ainda mais quando se tratam de normas
constitucionais de eficácia limitada, que dependem das normas infraconstitucionais para se tornarem
eficazes. Desta forma, quando regulamentado um direito constitucional social o legislador não
poderia retroceder a matéria, o que poderia acontecer com a revogação de uma norma, ou ainda, com
qualquer medida prejudicial à sua efetivação, como a imposição de exigências para o seu
cumprimento, por exemplo.

##Atenção: Quem admite tal vedação (ao retrocesso) sustenta que, no que tange a direitos
fundamentais que dependem de desenvolvimento legislativo para se concretizar, uma vez obtido
certo grau de sua realização, legislação posterior não pode reverter as conquistas obtidas. A
realização do direito pelo legislador constituiria, ela própria, uma barreira para que a proteção
atingida seja desfeita sem compensações. Conforme bem destacou o mestre J.J Gomes Caontilho, “O
núcleo essencial dos direitos sociais já realizado e efetivado através de medidas legislativas deve considerar-se
constitucionalmente garantido, sendo inconstitucionais quaisquer medidas estaduais que, sem a criação de
outros esquemas alternativos ou compensatórios, se traduzam na prática numa 'anulação', 'revogação' ou
'aniquilação' pura e simples desse núcleo essencial". (Fonte: J. J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional
e Teoria da Constituição. 5. ed. Coimbra: Almedina, 2002, p. 337-338.)

##Atenção: ##DPEMA-2011: ##DPEPB-2014: ##CESPE: ##FCC: ##Parêntese: A chamada “teoria


da margem de apreciação” foi desenvolvida pela Corte Europeia no caso Handyside v. Reino Unido, e
até hoje é frequentemente utilizada em casos nos quais há uma ponderação de direitos. Segundo a
teoria, os Estados europeus possuem uma certa margem de apreciação para tomar decisões sobre
questões internas, visto que as autoridades locais teriam um melhor entendimento da situação sendo
analisada. Neste sentido, a Corte Europeia deve determinar nos casos concretos em que
circunstâncias a margem de apreciação do Estado deve ser ampla, e quando deve ser restrita.
Tratando-se de uma teoria de relativização a conclusão parece cristalina no sentido oposto ao
enunciado da questão. Segundo André de Carvalho Ramos (Teoria geral dos direitos humanos na
ordem internacional): “Um dos principais instrumentos de interpretação utilizado pelo Direito Internacional
dos Direitos Humanos, adotado especialmente pela Corte Europeia de Direitos Humanos é a teoria da margem
de apreciação (margin of appreciation). Essa tese é baseada na subsidiariedade da jurisdição internacional e
prega que determinadas questões polêmicas relacionadas com as restrições estatais a direitos protegidos devem
ser discutidas e dirimidas pelas comunidades nacionais, não podendo o juiz internacional apreciá-las.”

##Atenção: ##DPEES-2012: ##DPESP-2015: ##CESPE: ##FCC: ##Parêntese: Segundo Flávia


Piovesan, a universalidade “chama pela extensão universal dos direitos humanos, sob a crença de que a
condição de pessoa é o requisito único para a titularidade de direitos, considerando o ser humano como um ser
essencialmente moral, dotado de unicidade existencial e dignidade” (Piovezan, Flávia (2005). Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais e Direitos Políticos. In: Sur: Revista Internacional de Direitos
Humanos. Ano 1, N° 1, p. 21-47.).

(DPEMA-2011-CESPE): No que se refere à proteção internacional dos direitos humanos, que é


constituída por mecanismos unilaterais e coletivos da responsabilidade internacional do Estado,
assinale a opção correta: A actio popularis ou actio publica refere-se à possibilidade de qualquer Estado
acionar, para a proteção de interesses considerados essenciais pela comunidade internacional, Estado
infrator.

##Atenção: Em direito internacional público o processo de uma actio popularis, no interesse da ordem
internacional é representada pelos jus cogens pode ser interposto perante um órgão judicial
internacional por um Estado que não tem interesse individual na ação. Os Estados se veem obrigados
a agir no interior de suas jurisdições considerando os interesses comuns da humanidade,
especialmente no que se refere aos direitos humanos.

(DPEMA-2011-CESPE): Acerca da afirmação histórica dos direitos humanos, assinale a opção


correta: A importância histórica do habeas corpus, de 1679, consiste no fato de que essa garantia
judicial, instituída na Inglaterra para proteger a liberdade de locomoção, serviu de modelo para a
criação de outras formas de proteção das liberdades fundamentais, como o juicio de amparo, na
América Latina.

##Atenção: ##DPEMA-2011: ##MPDFT-2021: ##CESPE: A importância histórica do habeas-corpus,


tal como regulado pela lei inglesa de 1679, consistiu no fato de que essa garantia judicial, criada para
proteger a liberdade de locomoção, tornou-se a matriz de todas as que vieram a ser criadas
posteriormente, para a proteção de outras liberdades fundamentais. (COMPARATO, Fabio Konder.
“A afirmação história dos direitos humanos. 7 ed. rev e atual. – São Paulo: Saraiva, 2010).

##Atenção: ##DPEMA-2011: ##MPDFT-2021: ##CESPE: O amparo surgiu na Constituição Estadual


de Yucatán, em 1834, no México. Surgiu inicialmente como meio de assegurar os direitos e garantias
individuais garantidos pelo texto constitucional. O recurso de amparo é o remédio processual cabível
sempre que houver uma lesão a direitos individuais garantidos, seja pela Constituição, seja por leis
ordinárias. O instituto é apontado como uma das fontes de inspiração do nosso mandado de
segurança. No entanto, o juicio de amparo possui efeitos mais abrangentes, uma vez que, além de
tutelar os direitos individuais violados pelos atos de autoridade pública, é um mecanismo de
controle da constitucionalidade das leis.

Direito Internacional dos Direitos Humanos, Características dos direitos humanos.

(DPESP-2015-FCC): “Se há um direito humano à vida e à integridade física, como se pode aceitar então, com
anuência, que as intervenções militares ocidentais matem mais pessoas inocentes que as atrocidades dos
ditadores e dos terroristas? Os EUA, é o que se diz, utilizam os direitos humanos apenas como pretexto para os
interesses totalmente profanos do poder e da economia; não lhes interessa a situação jurídica da população, mas
apenas o petróleo. E por isso, assim prossegue o argumento, há dois pesos e duas medidas: em toda parte onde os
detentores do poder se destacam pelo bom comportamento, deixando por exemplo que os bombardeiros
norte-americanos estacionem em seus territórios (como na Turquia, provavelmente, ou na Arábia Saudita), a
autonomeada polícia mundial ocidental não há de objetar nada contra a pilhagem, a perseguição e a chacina de
grupos inteiros da população ou contra as condições ditatoriais.” (KURZ, Robert. Paradoxos dos direitos
humanos. Folha de São Paulo, São Paulo, 16 mar. 2003. Caderno Mais!, p. 9-11). O excerto acima é
relacionado ao Imperialismo dos direitos humanos.

##Atenção: O imperialismo dos direitos humanos tem características peculiares. Em primeiro lugar,
parte da proposição da legitimidade e até da necessidade de intervenções armadas internacionais
para introduzir ou impor os direitos humanos em uma era de crescente barbárie. Em segundo lugar,
os regimes tiranos seriam imunes à mudança interna, de modo que apenas a força armada externa
poderia conduzi-los a adotar os valores e instituições políticas ocidentais. Em terceiro lugar,
acredita-se que tais instituições podem ter êxito em qualquer lugar e, assim, cuidar eficazmente dos
problemas transnacionais e trazer a paz ao invés de instaurar a desordem. (Fonte: HOBSBAWM, Eric.
Prefácio. In: Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, pp.
14-15.).

Direito Internacional dos Direitos Humanos, Direitos humanos, direito humanitário e direito dos
refugiados.

(DPEGO-2014-UFG): A cerca das três grandes vertentes jurídicas da proteção internacional da


pessoa humana – direitos humanos, direito humanitário e direito dos refugiados – existem
convergências e divergências. Nesse sentido, o reconhecimento, inclusive judicial, do alcance e da
dimensão amplos das obrigações convencionais de proteção internacional da pessoa humana
assegura a continuidade do processo de expansão do direito de proteção.

##Atenção: ##MPF-2012: ##DPEGO-2014: ##UFG: A questão é doutrinária e segue, em grande


medida, o entendimento de Augusto Cançado Trindade, a respeito das vertentes dos Direitos
Humanos. Nesse sentido, o doutrinador explica: “O reconhecimento, inclusive judicial, do alcance e
dimensão amplos das obrigações convencionais de proteção internacional da pessoa humana assegura a
continuidade do processo de expansão do direito de proteção. As aproximações ou convergências entre os
regimes complementares de proteção, - entre o direito internacional dos direitos humanos, o direito
internacional humanitário e o direito internacional dos refugiados, – ditadas pelas próprias necessidades – de
proteção e manifestadas nos planos normativo, hermenêutico e operacional, contribuem à busca de soluções
eficazes a problemas correntes neste domínio, e ao aperfeiçoamento e fortalecimento da proteção internacional da
pessoa humana em quaisquer situações ou circunstâncias.”

Corte Interamericana de Direitos Humanos, Povos Indígenas e Tribais.

(MPF-2017): A Corte Interamericana de Direitos Humanos, no Caso Comunidade Indígena


Sawhoyamaxa v. Paraguai, decidiu que, enquanto o vínculo espiritual e material da identidade dos
povos indígenas continuar existente em relação às suas terras tradicionais, subsiste o direito desses
povos à recuperação de suas terras.

##Atenção: Discutiu-se, no caso, entre outros pontos, se o direito de recuperação das terras tinha
algum tipo de limitação temporal. A CIDH afirmou: "(...) Corte leva em conta que a base espiritual e
material da identidade dos povos indígenas se baseia principalmente em sua relação única com suas
terras tradicionais. Enquanto esta relação existe, o direito de reivindicar permanecerá em vigor, caso
contrário, será extinto. Essa relação pode ser expressa de diferentes maneiras, dependendo dos povos
indígenas envolvidos e das circunstâncias específicas em que é encontrada, e pode incluir o uso ou a
presença tradicional, seja através de laços espirituais ou cerimoniais; assentamentos ou culturas
esporádicas; caça, pesca ou reunião sazonal ou nômade; uso de recursos naturais vinculados a seus
costumes; e qualquer outro elemento característico de sua cultura". (Fonte:
http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_146_esp2.pdf) (p. 73)
(MPF-2017): A Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas prevê que o Estado deve
obter o consentimento livre, prévio e informado dos povos indígenas antes da adoção de medidas
administrativas ou legislativas que os afetem.

##Atenção: Artigo XXIII, 2, da Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas:
“Participação dos povos indígenas e contribuições dos sistemas legais e de organização indígenos (...) Os
Estados realizarão consultas e cooperarão de boa-fé com os povos indígenas interessados por meio de suas
instituições representativas antes de adotar e aplicar medidas legislativas ou administrativas que os afetem, a
fim de obter seu consentimento livre, prévio e informado."

(MPF-2013): De acordo com a Corte Internacional de Justiça, no julgamento de 20 de Julho de 2012


do caso “Questões relativas à obrigação de perseguir ou extraditar” (BÉLGICA V. SENEGAL), o crime de
tortura é, no direito internacional, de natureza consuetudinária, mas, a obrigação do Senegal de
extraditar ou promover a persecução penal (aut dedere aut judicare) contra o ex-presidente do Chad,
Hissène Habré, somente prevalece para os fatos que tiveram lugar após a entrada em vigor da
Convenção da ONU contra a Tortura para o Senegal.

##Atenção: Segue a notícia do Conjur para explicar o caso tratado pela jurisprudência da CIJ:
COMBATE A IMPUNIDADE: A Corte Internacional de Justiça confirmou, nesta sexta-feira (20/7), a
validade da jurisdição internacional prevista em convenção da ONU para os crimes de tortura. Os
juízes decidiram que o Senegal é obrigado a julgar o ex-presidente do Chade Hissène Habré, que está
exilado em seu território. Se preferir não julgar, o governo senegalês deve extraditar Habré para ser
julgado em outro país competente. A jurisdição internacional está prevista em normas internacionais
como forma de combater a impunidade de acusados de crimes contra a humanidade. Está pendente
de julgamento no Judiciário do Senegal um pedido de extradição feito pela a Bélgica. Foram os
belgas, inclusive, que levaram a briga para a Corte Internacional de Justiça (CIJ). Os juízes de Haia,
no entanto, não analisaram a competência da Bélgica para julgar Habré. Eles apenas lembraram que
as regras da jurisdição internacional para o crime de tortura estabelecem os casos em que um país se
torna competente para exercer a jurisdição: quando o crime foi cometido em seu território, quando o
acusado ou a vítima nasceu lá ou ainda quando o acusado foi encontrado circulando pelo país. Essas
regras estão previstas na Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes, da Organização das Nações Unidas. O pedido de repatriação do Chade
foi negado pelos senegaleses, que consideraram alto o risco de Habré não ter um julgamento
imparcial no seu país. Também foram negados dois pedidos de extradição do ex-presidente para a
Bélgica. Um terceiro pedido foi feito em janeiro deste ano e ainda está pendente de análise. Antes
disso, a Bélgica levou a discussão para Haia. Nesta sexta-feira (20/7), a Corte Internacional de Justiça
decidiu que o Senegal é obrigado a julgar Habré, conforme prevê a Convenção Contra a Tortura da
ONU. Pela norma, assim que tomou conhecimento das acusações contra o ex-presidente do Chade, o
país teria de ter aberto imediatamente uma investigação preliminar para, a partir daí, iniciar um
processo criminal. Ao deixar de fazer isso, o Senegal descumpriu com sua obrigação internacional.
Os juízes de Haia explicaram que a investigação não é uma opção, mas uma obrigação do país onde
está o acusado de crimes de tortura. A única alternativa para não cumprir com a obrigação seria
extraditá-lo para um Estado competente e que tivesse requisitado a extradição, caso da Bélgica.

##Atenção: Em função do posicionamento da Corte Internacional de Justiça, que mesmo diante da


obrigação erga omnes das normas investigar e julgar ou extraditar, entendeu que estas somente
prevalecem para os fatos que se passaram após a entrada em vigor da Convenção da ONU contra a
Tortura para o Senegal, respeitando-se assim o artigo 28 da Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados. Lembro que Direito consuetudinário é o direito que surge dos costumes de uma certa
sociedade, não passando por um processo formal de criação de leis. A obrigação de investigar e
julgar ou extraditar, também denominada “aut dedere aut judicare”, constitui norma internacional
de caráter processual que tem por finalidade combater a impunidade e centrar o sistema de proteção
aos direitos humanos na vitimização dos seres humanos.

Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos: Instituições


(DPEDF-2019-CESPE): A respeito do Sistema Regional Interamericano de Proteção dos Direitos
Humanos, julgue o item subsecutivo: O Sistema Regional Interamericano de Proteção dos Direitos
Humanos adota um modelo de justiça de transição que inclui a persecução penal de autores de atos
de afronta a direitos humanos durante períodos de autoritarismo, de ditadura, de conflitos ou de
graves lutas civis na América Latina.

##Atenção: ##TRF3-2018: ##DPEDF-2019: ##CESPE: A adoção da justiça de transição pelo Sistema


Regional Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos e a persecução penal de seus autores é
verificada a partir de uma série de decisões e manifestações como, por exemplo, os casos Loayza
Tamayo vs. Peru,2 Gomes Lund, entre outros. (Fonte: CESPE)

##Atenção: O conceito de “justiça de transição”, segundo Roht-Arriaza, “inclui o conjunto de práticas,


mecanismos e preocupações que surgem após um período de conflito, luta civil ou repressão, e que visam
diretamente confrontar e lidar com violações dos direitos humanos e do direito humanitário cometidas no
passado". Bernardi explica que, no Sistema Interamericano de Proteção de Direitos Humanos, tem havido
(desde o final da década de 80), uma consolidação do entendimento da Corte e da Comissão Interamericana no
sentido de banir "a validade de leis de anistia, firmando a obrigação de investigar e punir; proíbe a realização de
julgamentos de civis por tribunais militares; define os desaparecimentos forçados como um crime continuado e
veta a aplicação da jurisdição militar para membros das Forças Armadas acusados de violações de direitos
humanos". Vale lembrar, a título de exemplo, a condenação da República Federativa do Brasil no Caso
Gomes Lund e outros, relativo aos desaparecimentos forçados havidos durante a Guerrilha do
Araguaia e que trouxe diversas determinações neste sentido.

Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos: Instituições

(DPEDF-2019-CESPE): Acerca dos direitos à liberdade de expressão e de comunicação e ao acesso à


informação, julgue o item seguinte: A Organização das Nações Unidas defende que a Internet se
paute no princípio da neutralidade da rede, como forma de proteção da liberdade de expressão.

##Atenção: O princípio da neutralidade é um componente importante da liberdade de expressão. O


Relatório da ONU sobre Liberdade de Expressão e Internet aponta os riscos que a ausência de
neutralidade pode causar aos direitos dos usuários. (Fonte: CESPE).

##Atenção: A questão aborda a temática relacionada ao direito fundamental de liberdade de


expressão. Tendo por base a assertiva, é correto afirmar que Relatores para a liberdade de expressão
da Organização das Nações Unidas (ONU) e de outros organismos internacionais divulgaram uma
declaração conjunta apontando os desafios para a garantia do direito à comunicação da sociedade na
próxima década e as medidas a serem adotadas por governos, Parlamentos e empresas de modo a
assegurar esse exercício. A declaração conclama autoridades e outros setores a construir uma Internet
livre, aberta e inclusiva. Isso passa por reconhecer o acesso à web como um direito fundamental,
combater a derrubada das conexões (shutdowns), assegurar a neutralidade de rede (o tratamento não
discriminatório do tráfego de dados) e elaborar políticas de fomento à conectividade, especialmente

2
Loayza Tamayo vs. Peru.
- Síntese do caso: a Senhora Loayza Tamayo foi presa pela Divisão Nacional contra o Terrorismo da Polícia
Nacional do Peru, tendo como fundamento delação de Angélica Garcia, que fez uso da Lei de
Arrependimento enquanto estava presa. Não houve decisão judicial decretando a custódia provisória.
Enquanto presa, foi torturada com a finalidade de se autoincriminar e para se declarar integrante do
Partido Comunista do Peru. Além das torturas, ela foi exposta ao público como suspeita de crime de
trição à pátria, sendo vestida com uniforme de penitenciária. Ela foi processada e julgada pela jurisdição
militar, acusada de ter praticado crime de traição à pátria, sendo absolvida por juízes militares "sem rosto".
Todavia, em que pese o decreto absolutório, confirmado pela instância recursal militar, ela continuou presa
e foi submetida a novo julgamento, agora pela justiça comum, sendo condenada por um Tribunal Especial
sem rosto a pena de 20 anos de prisão pela prática de terrorismo.
- Conclusões da Corte IDH: violação à liberdade pessoal e à proteção judicial, pois o habeas corpus era
proibido por lei para crimes de terrorismo; violação ao direito à integridade pessoal, com a apresentação
ao público com traje penitenciário, bem como quando lhe foi proibido o direito à comunicação externa e e
lhe foi imposto tratamento degradante no local da prisão; violação ao princípio do non bis in idem, pois
julgada duas vezes pelo mesmo fato.
- Determinação da Corte IDH: restituição do status libertatis e indenização justa a ela e seus familiares.
- Curiosidade: a CIDH reconheceu, pela primeira vez, o denominado "dano ao projeto de vida".
em segmentos populacionais sem recursos para tal. (Fontes: EXPRESSION, The United Nations (un)
Special Rapporteur On Freedom Of Opinion And. TWENTIETH ANNIVERSARY JOINT
DECLARATION:: CHALLENGES TO FREEDOM OF EXPRESSION IN THE NEXT DECADE. 2019.
Disponível em:
<https://www.osce.org/representative-on-freedom-of-media/425282?download=true>; VALENTE,
Jonas. ONU e organismos internacionais defendem liberdade de expressão online. 2019. Disponível
em:
<http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-07/onu-e-organismos-internacion
ais-defendem-liberdade-de-expressao>.).

Direitos Humanos no Ordenamento Nacional. Instrumentos Normativos de Proteção aos Direitos


Humanos:

(DPEDF-2019-CESPE): A respeito do Sistema Regional Interamericano de Proteção dos Direitos


Humanos, julgue o item subsecutivo: A Comissão Interamericana de Direitos Humanos indica, como
forma de redução das prisões preventivas, a utilização das práticas de justiça restaurativa, que, no
Brasil, são incentivadas por resolução do Conselho Nacional de Justiça.

##Atenção: A CIDH tem um manual com diretrizes para a redução do número de prisões
preventivas na América Latina, no qual as garantias de liberdade e de devido processo legal são
pormenorizadas em indicações concretas para que os atores do sistema de justiça lidem com a
questão. O CNJ, pela Resolução n.º 255/2016, instituiu a Política Nacional de Justiça Restaurativa no
Poder Judiciário. (Fonte: CESPE)

##Atenção: A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão do Sistema Interamericano de


Direitos Humanos, apresentou, em 2017, um Relatório sobre Medidas Destinadas à Redução do uso
da Prisão Preventiva na América; neste relatório, a Comissão valorou positivamente os esforços dos
Estados na implementação de programas de justiça restaurativa, dentre outras medidas voltadas a
evitar privações desnecessárias da liberdade. A justiça restaurativa pode ser entendida como um
"conjunto ordenado e sistêmico de princípios, métodos, técnicas e atividades próprias, que visa à
conscientização sobre os fatores relacionais, institucionais e sociais motivadores de conflitos e
violência, e por meio do qual os conflitos que geram dano, concreto ou abstrato, são solucionados de
modo estruturado" (Res. n. 225/2016 - Conselho Nacional de Justiça, que dispõe sobre a Política
Nacional de Justiça Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário). Assim, é correto afirmar que as
práticas de justiça restaurativa são incentivadas por resolução do Conselho Nacional de Justiça.

Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos: Instituições. Corte Interamericana de


Direitos Humanos.

(MPAP-2021-CESPE): No julgamento do caso Trabalhadores da Fábrica de Fogos de Santo Antônio


de Jesus e seus Familiares versus Brasil, a Corte Interamericana de Direitos Humanos estabeleceu
parâmetros importantes na definição da discriminação estrutural e intersecional. Nessa sentença, a
referida corte baseou-se no entendimento de que, em um caso de discriminação estrutural, deve-se
considerar em que medida a vitimização do caso concreto evidencia a vulnerabilidade das pessoas
que pertencem a um grupo.

##Atenção: Item 39 do VOTO CONCORDANTE DO JUIZ RICARDO C. PÉREZ MANRIQUE:

39. “As vítimas sofreram uma discriminação estrutural, em virtude de pertencer a setores
historicamente marginalizados – cuja origem está vinculada ao fenômeno da escravidão –, que se
manteve no tempo, à margem dos avanços normativos que nunca tiveram efetividade real. Além disso,
sofreram a discriminação intersecional produzida por pertencer a categorias de discriminação elencadas
pela Convenção Americana: etnia, gênero, idade, pertencimento social e outras que confluíram em um
feixe de violações a seus direitos.” (...)3

3
https://summa.cejil.org/api/files/16046796658513lrzf8pll7y.pdf
Itens 187 e 190 do CASO EMPREGADOS DA FÁBRICA DE FOGOS DE SANTO ANTÔNIO DE
JESUS E SEUS FAMILIARES VS. BRASIL - SENTENÇA DE 15 DE JULHO DE 2020:

187. A Corte Interamericana já se pronunciou sobre a pobreza e a proibição de discriminação por posição
econômica. Nesse sentido, reconheceu em várias de suas decisões que as violações de direitos humanos
foram acompanhadas de situações de exclusão e marginalização pela situação de pobreza das vítimas, e
identificou a pobreza como fator de vulnerabilidade que aprofunda o impacto da vitimização. (...)

190.“Além da discriminação estrutural em função da condição de pobreza das supostas vítimas, esta
Corte considera que nelas confluíam diferentes desvantagens estruturais que impactaram sua
vitimização. Essas desvantagens eram econômicas e sociais, e se referiam a grupos determinados de
pessoas, ou seja, observa-se uma confluência de fatores de discriminação. Este Tribunal se referiu a esse
conceito de forma expressa ou tácita em diferentes sentenças,288 para isso utilizando diferentes
categorias”. 4

##Atenção: ##MPAP-2021: ##CESPE: A referida questão do concurso também cobrou o seguinte:


No julgamento do caso Trabalhadores da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus e seus
Familiares versus Brasil, a Corte Interamericana de Direitos Humanos estabeleceu parâmetros
importantes na definição da discriminação estrutural e intersecional. Nessa sentença, a referida corte
reconheceu que “pobreza”, como parte da proibição da discriminação por “posição econômica”,
possui particular relevância para a jurisprudência interamericana — e, em geral, para o contexto
latino-americano. Assim, pela primeira vez, considerou a pobreza como um componente da
proibição de discriminação por “posição econômica” (categoria que se encontra contemplada de
maneira expressa no artigo 1.1 da Convenção Americana, diferentemente de outros tratados
internacionais); com especial relevância que as violações tenham sido declaradas “no marco de
uma situação de discriminação estrutural histórica, em razão da posição econômica dos 85
trabalhadores” no caso particular.

##Atenção: ##MPAP-2021: ##CESPE: A referida questão do concurso também cobrou o seguinte da


sentença do caso “Trabalhadores da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus e seus Familiares versus
Brasil”: Item 189 do CASO EMPREGADOS DA FÁBRICA DE FOGOS DE SANTO ANTÔNIO DE
JESUS E SEUS FAMILIARES VS. BRASIL - SENTENÇA DE 15 DE JULHO DE 2020: “Assim, o fato de
que uma atividade econômica especialmente perigosa tenha se instalado na área está relacionado à
pobreza e à marginalização da população que ali residia e reside. Para os moradores dos bairros de
origem das trabalhadoras da fábrica de fogos, o trabalho que ali lhes ofereciam era a principal, senão a única
opção de trabalho, pois se tratava de pessoas com muito baixo nível de escolaridade e alfabetização, que, ademais,
eram rotulados como pouco confiáveis, e por essas razões não podiam ter acesso a outro emprego. A esse
respeito, os Princípios Orientadores sobre Extrema Pobreza e Direitos Humanos reconhecem que “as pessoas
que vivem na pobreza enfrentam o desemprego ou o subemprego e o trabalho ocasional sem garantias, com
baixos salários e condições de trabalho inseguras e degradantes.286” 5

(TRF3-2018): A narrativa dos direitos humanos tem sido no sentido de ampliar sua proteção. A esse
respeito, “o termo interseccionalidade foi criado por Kimberle Crenshaw para retratar a incidência dos mais
diversos fatores de discriminação em um caso concreto. Tal necessidade foi verificada a partir do momento em
que o caráter universal dos direitos humanos mostrou-se insuficiente para tutelar e salvaguardar os direitos
humanos” (cf. Caio Cezar Paiva e Thimotie A. Heemann, “Jurisprudência Internacional de Direitos
Humanos”, 2. ed., 2017, p. 587). Fatores de discriminação não resolvidos, ou quando enfrentados de
forma desconexa, se entrelaçam, aumentando a opressão em grandeza exponencial. Foi o que ocorreu
com a violação de direitos de mulher refugiada, negra, pobre, analfabeta, homossexual e com a filha
portadora de HIV, a quem foi negado pelo Estado o direito à educação. Ao apreciar essa situação, o
Sistema Interamericano de Direitos Humanos reconheceu pela primeira fez o fenômeno da
interseccionalidade. Trata-se do julgamento do caso: Gonzalez Lluy vs. Equador.

4
https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_407_por.pdf
5
https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_407_por.pdf
##Atenção: Caso Gonzalez Lluy vs. Equador: “A Corte Interamericana de Direitos Humanos julgou o
caso, em 2015, que versava sobre o contágio pelo vírus HIV de uma menina de três anos chamada Talía Lluy,
contraído por ocasião de uma transfusão de sangue contaminado, sendo impedida de frequentar a escola quando
tinha 5 anos de idade. A Corte entendeu pela presença, no caso, de discriminação interseccional, haja vista a
associação da discriminação a múltiplos fatores como a condição de criança, mulher, pobreza e portadora do
vírus HIV, que derivaram de uma forma específica de discriminação. Sobre esse importante precedente, André
de Carvalho Ramos afirma que o caso de Talía demonstra que a discriminação da pessoa com HIV não impacta
de modo homogêneo os indivíduos, mas possui efeitos mais gravosos em grupos vulneráveis. Ao determinar as
reparações no caso, a Corte entendeu que o Equador realizou as devidas diligências no sentido de adequar o seu
direito interno, protegendo legalmente o direito à saúde e dando a atenção necessária aos portadores de HIV,
além de adotar políticas educacionais voltadas ao combate da discriminação aos soropositivos. Embora as
medidas de direito interno tenham sido tomadas posteriormente à ocorrência dos fatos, o tribunal entende que
os esforços do Estado merecem ser levados em consideração, sendo necessárias alegações fundadas de que a
conduta estatal se mostra inadequada ou insuficiente para uma tomada de decisão em sentido oposto.” (Fonte:
http://www.eduardorgoncalves.com.br/2018/06/caiu-e-vai-cair-novamente-caso-gonzales.html).6

(TRF3-2018): Em 1999, Damião Ximenes Lopes, pessoa com deficiência mental, foi internado na Casa
de Repouso Guararapes, na cidade de Sobral (CE), pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em perfeito
estado físico. Poucos dias depois, sua mãe o encontrou agonizante, sangrando, com hematomas, sujo
e com as mãos amarradas para trás, vindo a falecer nesse mesmo dia, sem qualquer assistência
médica no momento de sua morte. Com a demora nos processos cível e criminal na Justiça daquele
Estado na apuração de responsabilidades, a família, alegando violação do direito à vida, à
integridade psíquica (dos familiares, pela ausência de punição aos autores do homicídio) e ao devido
processo legal em prazo razoável, peticionou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH), que veio a processar o Estado brasileiro perante a Corte Interamericana de Direitos
Humanos (Corte IDH). Com relação a esse caso, é correto afirmar que: Foi aplicada pela Corte IDH a
doutrina da eficácia horizontal da proteção internacional dos direitos humanos (“Drittwirkung”),
responsabilizando o Estado brasileiro.

##Atenção: Em meados do século XX surgiu na Alemanha a teoria da eficácia horizontal dos direitos
fundamentais, que defendia a incidência destes também nas relações privadas (particular-particular).
É chamada eficácia horizontal ou efeito externo dos direitos fundamentais (horizontalwirkung),
também conhecida como eficácia dos direitos fundamentais contra terceiros (drittwirkung). Em suma:
pode-se que dizer que os direitos fundamentais se aplicam não só nas relações entre o Estado e o
cidadão (eficácia vertical), mas também nas relações entre os particulares-cidadãos (eficácia
horizontal).

6
Conceito de interseccionalidade:
-De quem é o conceito? O conceito de “interseccionalidade” foi batizado desta maneira por Kimberlé
Williams Crenshaw. Esta mulher é uma feminista e professora especializada nas questões de raça e de
gênero. Ela usou este termo pela primeira vez numa pesquisa em 1991 sobre as violências vividas pelas
mulheres de cores nas classes desfavorecidas nos Estados Unidos. Este conceito foi usado por outros
estudos, mas com os termos de “interconectividade” ou de “identidades multiplicativas”.
-O que estuda? Interseccionalidade é um conceito sociológico que estuda as interações nas vidas das
minorias, entre diversas estruturas de poder. Então, a Interseccionalidade é a consequência de diferentes
formas de dominação ou de discriminação. Ela trata das interseções entre estes diversos fenômenos.
-Como Kimberlé Crenshaw define este conceito? Kimberlé Crenshaw define a interseccionalidade como
“formas de capturar as consequências da interação entre duas ou mais formas de subordinação: sexismo,
racismo, patriarcalismo.” Então, a interseccionalidade tenta estudar não só o fato de ser mulher, estuda ao
mesmo tempo o fato de ser negra, ser LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e
transgênero), etc. Na verdade, segundo Kimberlé Crenshaw, frequentemente o fato de ser mulher
racializada é relacionado à classe e ao gênero.
-Quais são os fatores de discriminação? Kimberlé Crenshaw precisa que o gênero não é o único fator de
discriminação. Então, há a necessidade de estudar os outros fatores de discriminação juntos. Adriana
Piscitelli precisa que é importante estudar classe, gênero e raça juntos. Avtar Brah adiciona que é
importante estudar os diferentes fatores juntos por causa da relação que cada um estabelece com o outro.
“Não podem ser tratadas como “variáveis independentes” porque a opressão de cada uma está inscrita
dentro da outra – é constituída pela outra e é constituída dela”.
(Fonte: www.sociologia.com.br/o-conceito-de-interseccionalidade/)
##Atenção: ##DPESP-2015: ##DPU-2015: ##TRF3-2018: ##CESPE: ##FCC: Entendendo o caso:
breve relato dos fatos: Damião Ximenes Lopes era portador de deficiência mental e, em outubro de
1999, foi internado na Casa de Repouso Guararapes, centro de saúde vinculado ao Sistema Único de
Saúde – SUS, localizado no município de Sobral, no Estado do Ceará. Ocorre que, dias após a
internação, o paciente faleceu com sintomas de tortura, refletindo as condições degradantes de
hospitalização naquele lugar. Apesar dos sinais de maus-tratos no corpo da vítima, o exame
cadavérico atestou que a causa da morte foi indeterminada. A família do paciente recorreu à
jurisdição brasileira objetivando a composição de danos pelo tratamento cruel dispensado ao senhor
Ximenes Lopes que resultou na sua morte. Todavia, diante do descaso deste Estado para com o fato,
a irmã da vítima denunciou o caso à CIDH, ressaltando a violação de vários direitos elencados no
Pacto de São José da Costa Rica: direito à vida, à integridade pessoal, garantias judiciais e proteção
judicial. Depois de notificar o Estado brasileiro para se manifestar sobre as acusações proferidas pela
irmã da vítima, Irene Ximenes Lopes, sem obtenção de qualquer resposta por parte daquele, a
Comissão procedeu ao juízo de admissibilidade, em 2002, se reconhecendo competente para análise
do caso. Em seguida, em outubro de 2003, a Comissão conclui pela violação a vários artigos da
Convenção Interamericana de Direitos Humanos, enviando relatório com recomendações ao Estado
brasileiro, no sentido de investigar adequadamente o caso, além de indenizar a família da vítima,
agindo para evitar situações semelhantes. Após um ano sem cumprimento substancial do que foi
recomendado, a Comissão submeteu o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos,
requerendo que decidisse se o Brasil era responsável pela violação aos artigos 4, 5, 8 e 25, além do
descumprimento da obrigação contida no artigo 1.1 (obrigação de respeitar os direitos) da
Convenção. Em suma, a Comissão tinha por finalidade reconhecer a responsabilidade estatal pela
morte de Damião Ximenes Lopes, bem como pelo descaso nas investigações e no Judiciário para
punir os responsáveis. Durante o processo, o Brasil reconheceu sua responsabilidade pelo desrespeito
ao direito à vida (artigo 4º) e à integridade pessoal (artigo 5º), tornando incontroversos esses pontos
na lide. Em julho de 2006, a Corte reconheceu a responsabilidade parcial do Estado brasileiro pela
violação, em relação à vítima e em relação a sua família, condenando-o nos seguintes termos: à
promoção, em tempo razoável, de investigação e punição dos envolvidos no fato, à publicação no
Diário Oficial o teor da decisão da Corte, à realização de programas de capacitação profissional para
servidores da área e, por fim, à indenização aos membros da família de Damião Ximenes Lopes, além
do pagamento de todas as despesas que estes tenham realizado nos processos na Justiça Brasileira e
no exterior.

(DPU-2015-CESPE): Manuel, deficiente mental que não se encontrava em situação que indicasse
risco de morte ao ser internado em hospital psiquiátrico privado que opera no âmbito do SUS,
faleceu quatro dias após a internação. A família de Manuel, sob a alegação de que sua morte
decorrera de maus tratos por ele recebidos no hospital, incluindo-se a administração forçada de
medicação, e de que esses maus tratos se deveram ao fato de ele ser negro e pobre, deseja
representar contra o Brasil tanto perante a justiça brasileira quanto perante órgãos internacionais
de controle. Com base no disposto na Convenção Interamericana de Direitos Humanos e na
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, julgue o item subsequente, relativo à
situação hipotética acima apresentada. Nesse caso, a responsabilidade do Estado é objetiva,
inclusive perante órgãos internacionais de controle, já que a internação de Manuel ocorreu no
âmbito do SUS.
##Atenção: Este caso faz referência à primeira condenação do Brasil pela Corte Interamericana de
Direitos Humanos, no caso “Ximenes Lopes x República Federativa do Brasil”, no qual o Brasil foi
considerado responsável pelas violações de direitos sofridas por Damião Ximenes Lopes e que
resultaram na sua morte. No caso, a Corte considerou que os Estados tem o dever de regulamentar
e fiscalizar toda a assistência de saúde prestada a pessoas sob sua jurisdição, como o dever
especial de proteção da vida e integridade pessoal, independentemente de ser a entidade que
presta estes serviços de caráter público ou privado. Vale lembrar que, ao ratificar ou aderir a um
tratado internacional, o Brasil é responsável pelo seu cumprimento perante os respectivos
mecanismos de fiscalização internacional, e esta responsabilidade se dá independentemente de
dolo ou culpa; assim, considerando as informações da pergunta, é correto afirmar que a
responsabilidade do Estado é objetiva (e continuaria sendo assim mesmo que o “Manuel” tivesse
sido internado numa clínica particular), pois o Brasil deve assegurar o respeito ao direito à saúde,
integridade física e vida em todas as entidades de atendimento em funcionamento no país.
(MPRO-2017-FMP): Em relação ao controle de convencionalidade e à Corte Interamericana de
Direitos Humanos, assinale a alternativa correta: No caso Ximenes Lopes vs. Brasil, a Corte
Interamericana de Direitos Humanos afirmou que a falta do dever de regular e fiscalizar gera
responsabilidade internacional em razão de serem os Estados responsáveis pelos atos das entidades
tanto públicas quanto privadas que prestam atendimento de saúde.

##Atenção: ##DPESP-2013/2015: ##MPRO-2017: ##FCC: ##FMP: O Sr. Damião Ximenes Lopes,


pessoa com doença mental, foi assassinado cruelmente em 1999 na Casa de Repouso de Guararape
(Ceará). Com a delonga nos processos cível e criminal na Justiça estadual do Ceará, a família peticiou
à Comissão IDH alegando violação do direito à vida, integridade psíquica (dos familiares, pela
ausência de punição aos autores do homicídio) devido processo legal em prazo razoável. Na
sentença de mérito da Corte, ficou reconhecida a violação do direito à vida e à integridade pessoal,
bem como das garantias judiciais, e, consequentemente, foram fixadas diversas obrigações de
reparação. Importância – É o primeiro caso envolvendo pessoa com deficiência na Corte IDH. A
sentença expõe as mazelas do Brasil. Um cidadão, portador de doença mental, com as mãos
amarradas, foi morto em Casa de Repouso situada em Guararapes (Ceará), em situação de extrema
vulnerabilidade. Somente sete anos depois (2006) é que uma sentença restaurou, em parte, a justiça,
concedendo indenizações (danos materiais e morais) e exigindo punições criminais dos autores do
homicídio. Também ficaram estabelecidos deveres do Estado de elaboração de política
antimanicomial. O caso mostra que o Brasil pode ser condenado por ato de ente federado ou por ato
do Poder Judiciário, não sendo aceitas alegações como “respeito ao federalismo” ou “respeito à
separação de poderes”.

##Atenção: ##DPESP-2013/2015: ##MPRO-2017: ##FCC: ##FMP: Caso Ximenes Lopes: Ximenes


Lopes era portador de deficiência mental que faleceu em hospital privado em virtude de maus tratos.
Houve inércia do Estado em investigar e punir os envolvidos. A Corte IDH responsabilizou o Estado
Brasileiro em razão do dever de fiscalizar/supervisionar hospital particular vinculado ao SUS.
Reconheceu-se violações à vida e à integridade física; às garantias judiciais e à proteção judicial.

##Atenção: Caso Gomes Lund (Caso da Guerrilha do Araguaia): O Estado Brasileiro foi condenado
pela CIDH pela detenção arbitrária, tortura e desaparecimento forçado de aproximadamente 70
pessoas, entre elas integrantes do PCB e camponeses da região do Araguaia, situado em Tocantins,
entre 1972 e 1975. Durante o período de ditatura militar, foi promulgada em 1979 a Lei de Anistia,
diploma normativo que perdoou todos aqueles que haviam cometido crimes políticos ou conexos
com eles durante o período militar. A Corte IDH, no caso Gomes Lund, afirmou ser a Lei de Anistia
brasileira inconvencional, por representar graves violações a diversos preceitos constantes do Pacto
de São José da Costa Rica: (a) personalidade jurídica, (b) integridade pessoal; (c) liberdade pessoal;
(d) descumprir a obrigação de adequar seu direito interno à Convenção ADH; etc. Após a
condenação do Brasil, o STF, na ADPF 153, declarou a constitucionalidade da Lei de Anistia,
silenciando sobre o controle de convencionalidade. Por conta deste proceder, o Brasil descumpriu
decisão da CIDH, podendo estar sujeito a nova condenação. A ADPF 320 visa a dar oportunidade ao
STF realizar o controle de convencionalidade sobre a lei de anistia.

(DPESP-2015-FCC): Sobre a proteção dos direitos humanos no Brasil pelo sistema interamericano,
considere a assertiva a seguir: A Corte Interamericana condenou o Estado brasileiro no caso Escher
por violação aos direitos à privacidade, à honra e à reputação, em virtude de interceptação e
monitoramento ilegal de linhas telefônicas de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem-Terra (MST).

##Atenção: A República Federativa do Brasil foi condenada no Caso Escher e outros em julho de
2009.

(DPEPR-2014-UFPR): O caso conhecido como “Campo Algodonero”, julgado pela Corte


Interamericana de Direitos Humanos em 16 de novembro de 2009 (exceção preliminar, fundo,
reparações e custas), tornou-se célebre por tratar da violência estrutural de gênero (feminicídio).
##Atenção: CASO GONZÁLEZ E OUTRAS (“CAMPO ALGODONERO”) vs. MÉXICO: Caso
envolvendo FEMINICÍDIO (VIOLÊNCIA DE GÊNERO): houve o desaparecimento e assassinato de 3
mulheres cujos corpos foram encontrados em um campo algodoeiro em Ciudad Juárez (México),
tendo as autoridades locais agido com descaso na condução das investigações. A CIDH analisou,
pela primeira vez, a situação de violência estrutural de gênero. O México foi condenado pela violação
de vários Direitos Humanos. A sentença voltou-se, além da indenização aos familiares, também à
promoção de medidas gerais de compatibilização do direito interno com parâmetros internacionais
de proteção à mulher, sobretudo em relação à Convenção de Belém do Pará.

##Atenção: O Caso “Campo Algodoeiro” representa a primeira vez em que um tribunal


internacional de direitos humanos reconheceu a existência de feminicídio como um crime específico.

(DPESP-2013-FCC): Na sentença do Caso Mendoza y otros con Argentina, de 14 de maio de 2013, a


Corte Interamericana de Direitos Humanos declarou a República da Argentina internacionalmente
responsável, bem como obrigou a referida nação ao cumprimento das devidas reparações pelas
violações dos seguintes direitos previstos na Convenção Americana de Direitos Humanos: direitos da
criança, direito à proteção judicial, direito à vida e direito à integridade pessoal contra a tortura e a
pena perpétua privativa de liberdade.

##Atenção: A Corte Interamericana de Direitos Humanos publicou hoje a sentença do julgamento do


caso Mendoza e outros v Argentina, que estava sujeito à jurisdição da Corte após ter sido enviado
pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos em 17 de junho de 2011. A íntegra da sentença
pode ser acessada aqui: http://www.corteidh.or.cr/index.php/16-juris/22-casos-contenciosos. O
caso refere-se à imposição de prisão perpétua a César Alberto Mendoza, Claudio David Núñez,
Lucas Matías Mendoza, Saul Roland e Ricardo Videla David Fernández (quando ainda eram
menores), a falta de assistência médica adequada e a falta de investigação acerca da tortura sofrida
por Lucas Matías Mendoza e Claudio David, e a morte de Ricardo Videla, quando se encontrava sob
custódia do Estado.

##Atenção: Site do STF: Corte Interamericana de Direitos Humanos julga caso Mendoza vs
Argentina: A Corte Interamericana de Direitos Humanos notificou, no dia 5 de julho de 2013, o
julgamento do caso Mendoza e outros vs. Argentina, submetido à jurisdição da Corte pela Comissão
Interamericana de Direitos Humanos em 17 de junho de 2011. Os fatos do processo se referem à
imposição de penas de privação perpétua de liberdade a César Alberto Mendoza, Claudio David
Núñez, Lucas Matías Mendoza, Saul Roland e Ricardo Videla David Fernández, por eventos que
ocorreram quando eles ainda eram menores de idade, assim como a falta de adequada assistência
médica a Lucas Matías Mendoza durante o cumprimento de sua sentença, a tortura de Lucas Matías
Mendoza e Claudio David Núñez, e a falta de investigação deste fato e da Morte de Ricardo Videla,
enquanto ele estava sob custódia do Estado. A Corte estabeleceu a responsabilidade internacional da
Argentina pela violação dos direitos à integridade pessoal e à liberdade de César Alberto Mendoza,
Lucas Matías Mendoza, Saúl Roldán, Ricardo Videla e Claudio David Núñez, pela imposição das
penas de privação perpétua de liberdade por crimes cometidos quando ainda eram menores de idade.
O Tribunal considerou que essas penalidades, por sua natureza, não cumprem com o objetivo de
reintegração social das crianças, uma vez que implicam a máxima exclusão da criança da sociedade,
de modo que operam em um sentido puramente punitivo, pois as expectativas de ressocialização
foram anuladas. Além disso, por sua desproporcionalidade, a imposição de tais penas constituiu um
trato cruel e desumano para os jovens citados, e também violou o direito à integridade pessoal de
seus familiares. Além disso, a Corte declarou a responsabilidade da Argentina pela violação dos
direitos à proteção judicial e às garantias consagradas na Convenção Americana, pela falta de uma
adequada investigação da morte de Ricardo Videla, que não havia sido reconhecido pelo Estado
anteriormente, bem como das torturas mencionadas. O Tribunal também observou que a falta de
investigação dos atos de tortura constituiu uma violação das obrigações de prevenção e punição
estabelecidas na Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura. A Corte também
determinou que o Estado adotasse as medidas de reparação cabíveis, como o oferecimento gratuito
do tratamento médico e psicológico necessário aos requerentes, assim como fez imposições de
adequação normativa que devem ser adotadas pelo Estado. (Site:
http://www.corteidh.or.cr/casos.cfm em 08/07/2013.)
(DPERO-2012-CESPE): Considerando a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos no
caso Escher e outros, de 6 de julho de 2009, assinale a opção correta: Nos termos de precedente da
Corte, a comunicação telefônica é abrangida pela garantia de proteção à privacidade prevista na
Convenção Americana sobre Direitos do Homem, ainda que esta não preveja expressamente o sigilo
desse tipo de comunicação.

##Atenção: Cumpre ressaltar que a Corte não discutiu os dispositivos da lei de interceptação, mas
sim o fato de que os requisitos legais não foram observados para a quebra telefônica: “O caso dos
integrantes do MST ocorreu em maio de 1999, na cidade de Querência do Norte, no Paraná. O então major
Waldir Copetti Neves, oficial da Polícia Militar do Paraná, solicitou à juíza Elisabeth Khater, da comarca de
Loanda, região noroeste do estado, autorização para grampear linhas telefônicas de cooperativas de
trabalhadores ligadas ao MST. A juíza autorizou a escuta e não notificou o Ministério Público. Os juízes
integrantes da Corte Interamericana de Direitos Humanos consideraram que houve violação ao direito à
privacidade e honra, liberdade de associação, garantias judiciais, difamação e impunidade. De acordo com a
sentença, o Brasil, além de indenizar os líderes do MST, foi obrigado a retomar as investigações dos fatos que
geraram as violações. O pedido de interceptação foi feito pela Polícia Militar, o que tornou a ação ilegal, já que,
de acordo com a legislação, apenas a Polícia Civil, a Polícia Federal e o Ministério Público podem solicitar a
quebra de sigilo telefônico. Os telefonemas foram gravados durante 49 dias e o conteúdo das gravações foi
divulgado em partes em uma coletiva de imprensa por ordem do então secretário de Segurança Pública do
Estado, Cândido Martins de Oliveira.”
(http://www.conjur.com.br/2010-abr-24/brasil-indeniza-us-110-mil-membros-mst-grampeados-ileg
almente).

(DPERO-2012-CESPE): Com base na sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso


Gomes Lund e outros, de 24 de novembro de 2010, assinale a opção correta: A sentença não
reconheceu a competência da referida Corte para julgar a violação à Convenção Americana sobre
Direitos Humanos apenas no que se refere à execução extrajudicial de pessoa cujos restos mortais
foram identificados antes da data em que o Brasil reconheceu a jurisdição contenciosa da Corte.

##Atenção: O Brasil levantou a preliminar de que a Corte não tem competência para examinar casos
anteriores ao reconhecimento do Estado Brasileiro de sujeição à jurisdição da Corte (10 de dezembro
de 1998), o que foi aceito em parte, já que entendeu-se que as pessoas cujos restos mortais ainda não
foram encontrados tem seus Direitos Humanos permanentemente violados.

##Atenção: " (...) Como o Brasil reconheceu a competência contenciosa da Corte Interamericana em 10 de
dezembro de 1998 e, em sua declaração, indicou que o Tribunal teria competência para os “fatos posteriores”,
ficou excluída da ingerência do Tribunal na alegada execução extrajudicial da senhora Maria Lúcia Petit da
Silva, cujos restos mortais foram identificados em 1996. No entanto, em relação aos demais, considerando que
os atos de caráter contínuo ou permanente perduram durante todo o tempo em que o fato continua, reconheceu
sua competência para analisar os alegados desaparecimentos forçados das supostas vítimas.” (Fonte:
www.ibccrim.org.br/site/revistaLiberdades/_pdf/08/artigo4.pdf+ana+luisa+zago+de+moraes&cd
=8&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br)

(DPESE-2012-CESPE): De acordo com a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos


Humanos, a exceção de não esgotamento dos recursos internos só será tempestiva quando
apresentada na etapa de admissibilidade do procedimento perante a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos.

##Atenção: ##DPESE-2012: ##DPESP-2015: ##CESPE: ##FCC: Em dois casos paradigmáticos o


tema da exceção do não esgotamento dos recursos internos foi tratado de forma explícita pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos: “caso Damião Ximenes” e “caso Nogueira de Carvalho”.  No
caso de Damião Ximenes, a Corte Interamericana de Direitos Humanos “considerou extemporânea a
exceção preliminar acerca do não esgotamento dos recursos internos apresentada pelo Brasil, já que
não foi arguida no momento adequado. Segundo o entendimento da Corte, a exceção de não esgotamento
dos recursos internos deve ser suscitada, para que seja oportuna, na etapa de admissibilidade do
procedimento perante a Comissão, ou seja, antes de qualquer consideração sobre o mérito. Caso isso
não aconteça, presume-se que o Estado tacitamente a renunciou. O Tribunal, portanto, decidiu
desestimar a exceção preliminar interposta, inclusive tendo como base a jurisprudência da Corte: caso
Almonacid Arellano e outros; caso Comunidade Indígena Sawhoyamaxa; caso Acevedo Jaramilo e outros; caso
irmãs Serrano Cruz; caso das meninas Yean e Bosico; caso da Comunidade Mayagna Awas Tingni; entre
outros.” No caso de Nogueira de Carvalho, a Corte Interamericana de Direitos Humanos concluiu:
“i) não pode exercer sua competência contenciosa para aplicar a Convenção e declarar sua violação
nas hipóteses em que os fatos alegados ou a conduta do Estado demandado forem anteriores ao
reconhecimento da competência do tribunal, não podendo conhecer do fato da morte de Gilson Nogueira;
ii) no entanto, o tribunal declarou-se competente para examinar as ações e omissões relacionadas com
violações contínuas ou permanentes, que têm início antes da data do reconhecimento de sua
competência. Algo semelhante ocorreu no pronunciamento da Corte sobre as exceções arguidas nos casos
Vargas Areco; da Comunidade Moiwana e das irmãs Serrano Cruz; iii) a falta de esgotamento de recursos
internos é uma questão de pura admissibilidade e que o Estado que a alega deve indicar os recursos internos que
se haveria de esgotar, assim como demonstrar que esses recursos são adequados e eficazes. Observem que
esses pontos foram levantados pelo Brasil como preliminares.

(DPESP-2012-FCC): Em relação ao caso da senhora Maria da Penha Maia Fernandes, que transcorreu
perante o Sistema Interamericano de Direitos Humanos, a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos reconheceu que o Estado brasileiro descumpriu o dever de garantir às pessoas sujeitas à
sua jurisdição o exercício livre e pleno de seus direitos humanos e recomendou que o Brasil
simplificasse os procedimentos judiciais penais.

##Atenção: Quanto às Recomendações propriamente ditas e que influenciam diretamente na criação


da Lei Maria da Penha, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos descreve particularmente a
necessidade de uma reforma que evite a tolerância estatal e o tratamento discriminatório com
respeito à violência doméstica contra mulheres no Brasil. Especificamente, o Relatório discrimina em
seu item VIII as recomendações a serem observadas pelo Estado brasileiro citando[31]:

RECOMENDAÇÕES DA COMISSAO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS SOBRE O


CASO MARIA DA PENHA:

61. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos reitera ao Estado Brasileiro as seguintes


recomendações:

1. Completar rápida e efetivamente o processamento penal do responsável da agressão e


tentativa de homicídio em prejuízo da Senhora Maria da Penha Fernandes Maia.

2. Proceder a uma investigação séria, imparcial e exaustiva a fim de determinar a


responsabilidade pelas irregularidades e atrasos injustificados que impediram o
processamento rápido e efetivo do responsável, bem como tomar as medidas administrativas,
legislativas e judiciárias correspondentes.

3. Adotar, sem prejuízo das ações que possam ser instauradas contra o responsável civil da
agressão, as medidas necessárias para que o Estado assegure à vítima adequada reparação
simbólica e material pelas violações aqui estabelecidas, particularmente por sua falha em
oferecer um recurso rápido e efetivo; por manter o caso na impunidade por mais de quinze
anos; e por impedir com esse atraso a possibilidade oportuna de ação de reparação e
indenização civil.

4. Prosseguir e intensificar o processo de reforma que evite a tolerância estatal e o tratamento


discriminatório com respeito à violência doméstica contra mulheres no Brasil. A Comissão
recomenda particularmente o seguinte:

b) Simplificar os procedimentos judiciais penais a fim de que possa ser reduzido o tempo
processual, sem afetar os direitos e garantias de devido processo;
c) O estabelecimento de formas alternativas às judiciais, rápidas e efetivas de solução de
conflitos intrafamiliares, bem como de sensibilização com respeito à sua gravidade e às
conseqüências penais que gera;

d) Multiplicar o número de delegacias policiais especiais para a defesa dos direitos da mulher
e dotá-las dos recursos especiais necessários à efetiva tramitação e investigação de todas as
denúncias de violência doméstica, bem como prestar apoio ao Ministério Público na
preparação de seus informes judiciais.

e) Incluir em seus planos pedagógicos unidades curriculares destinadas à compreensão da


importância do respeito à mulher e a seus direitos reconhecidos na Convenção de Belém do
Pará, bem como ao manejo dos conflitos intrafamiliares.

5. Apresentar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, dentro do prazo de 60 dias a


partir da transmissão deste relatório ao Estado, um relatório sobre o cumprimento destas
recomendações para os efeitos previstos no artigo 51 da Convenção Americana.

(DPESP-2010-FCC): Recentemente o Supremo Tribunal Federal julgou improcedente a Arguição de


Descumprimento de Preceito Fundamental nº 153, em que se requeria declaração daquela Corte no
sentido de reconhecer que a anistia concedida pela Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979, aos crimes
políticos ou conexos, não se estende aos crimes comuns praticados pelos “agentes da repressão contra
opositores políticos, durante o regime militar (1964/1985).” A respeito das chamadas "leis de autoanistia",
a Corte Interamericana de Direitos Humanos já se posicionou diversas vezes. A partir da
jurisprudência deste tribunal é correto afirmar: O Estado-parte na Convenção Americana de Direitos
Humanos tem o dever de punir os responsáveis por crimes de lesa humanidade, não podendo
aventar a prescrição criminal para deixar de fazê-lo, mesmo que os fatos tenham ocorrido há mais de
vinte anos.

##Atenção: A Corte Interamericana de Direitos Humanos considera as "leis de autoanistia" como


prática inválida, pois são contrárias ao princípio do Estado Democrático de Direito. O marco
histórico que inaugurou este entendimento jurisprudencial da Corte foi o "Caso Barrios Altos" (2001),
quando a Corte condenou o Estado do Peru a tornar sem efeito decisão judicial fundamentada na lei
de anistia que ordenou o arquivamento de investigações, a proceder à investigação das violações e à
identificação, ao devido processamento e à punição dos culpados, bem como determinou a reparação
material e moral dos danos sofridos pelos familiares.

Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos: Instituições; Corte Interamericana de


Direitos Humanos:

(DPEAC-2012-CESPE): Com relação à jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos


a respeito dos direitos e da condição jurídica das crianças (OC-17) e dos imigrantes sem
documentação (OC-18), assinale a opção correta: Os Estados-membros devem favorecer, mas não
impor, a permanência do menor em seu núcleo familiar. BL: OC. 17. 5.

##Atenção: OC. 17. 5. Que deve ser preservado e promovido a permanência da criança no seu núcleo
família, a menos que haja razões determinantes para separar de sua família, os melhores interesses
do primeiro. A separação deve ser excepcional e, preferência temporária.

Sistema Europeu de Direitos Humanos.

(TRF3-2018): “Sob a inspiração do ideal liberal-individualista, esse ORGANISMO INTERNACIONAL tem


salvaguardado o valor da liberdade e sua projeção na esfera privada e familiar, afirmando o direito de todo e
qualquer indivíduo de desenvolver sua personalidade. Com base no princípio da proporcionalidade, tem
invalidado interferências estatais abusivas. Ao proteger de forma indireta os direitos sociais, tem entendido que
o direito à vida privada requer não apenas obrigações negativas do Estado, mas ainda prestações positivas,
condenando a omissão estatal quando afronta o direito à vida privada – por exemplo degradação ambiental
causada por empresa. Referida INSTITUIÇÃO é movida pelo respeito à vida privada e pelo ideal
liberal-individualista como princípios basilares” (cf. Flavia Piovesan, “Direitos Humanos e Justiça
Internacional”, 7. ed., p. 212, ADAPTADA). Assinale a INSTITUIÇÃO a que o texto acima se refere:
Corte Europeia de Direitos Humanos.

##Atenção: A Corte Europeia de Direitos Humanos não é a mesma coisa que a Corte de Justiça da
União Europeia e nem a mesma coisa da Corte Internacional de Justiça. Sua função é basicamente
proteger a Convenção Europeia de Direitos Humanos, assinada inicialmente em 1950. A Convenção
é, em essência, similar aos principais incisos do art. 5º da Constituição brasileira, e protege direitos
básicos, como à vida, a liberdade contra tortura, contra o tratamento desumano, contra a escravidão,
o direito a um julgamento justo, a irretroatividade da lei penal, direito à privacidade, liberdade de
expressão, de imprensa, de associação e de casamento e o direito à propriedade. Para alguns países a
Convenção acaba funcionando como uma pequena constituição dos direitos humanos. Mas, ao
contrário das normas da União Europeia, que se sobrepõem às normas nacionais, as normas da
Convenção Europeia de Direitos Humanos não se impõem às normas locais.

##Atenção: Esse trecho foi retirado do livro da Flávia Piovesan em ponto que ela traz uma análise
comparativa dos casos julgados recentemente pelo Sistema Europeu e pelo Sistema Interamericano.

- Sobre o Sistema Europeu: “No sistema europeu, a Corte Europeia de Direitos Humanos tem
proferido relevantes precedentes no sentido de salvaguardar a esfera da liberdade, da autonomia, da
privacidade e da intimidade, adicionando o direito de desenvolver a personalidade, em face de
medidas repressivas adotadas no combate ao terrorismo. Com prudência e baseada no princípio da
proporcionalidade, tem avaliado o alcance de interferência estatal no domínio da vida privada
individual, contendo abusos e excessos do Estado. Tem, ademais, verificado até que ponto a medida
restritiva de direitos é necessária em uma sociedade democrática. Observa-se, assim, que a interpretação
da Corte Europeia é orientada à proteção da vida privada amplamente considerada, de forma a assegurar
o direito ao desenvolvimento pessoal. Os casos examinados apontam violações pontuais,
alcançando vítimas singularmente consideradas.”

- Sobre o Sistema Interamericano: “Já no sistema interamericano, a Corte Interamericana, com


firmeza e solidez, tem condenado o arbítrio estatal causador de violações graves e sistemáticas de direitos
humanos, a envolver casos de tortura, execução sumária, assassinatos e desaparecimento
forçado. Sua jurisprudência teve a força catalisadora de desestabilizar regimes ditatoriais,
sob o argumento de que, por vezes, observa-se a instrumentalização do poder do Estado que, de garante
de direitos, converte-se em violador deles — o que estaria a configurar “terrorismo de Estado”. Sustenta
a Corte que não se pode combater o terror com o terror, sendo necessário afirmar o primado do Direito
sobre a força. Note-se que, diversamente do repertório de casos apreciados pela Corte Europeia,
o repertório de casos examinados pela Corte Interamericana envolve graves e maciças
violações de direitos humanos, a alcançar um amplo universo de vítimas.”7

Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos: Instituições e Mecanismos.

(DPERS-2014-FCC): O documento conhecido como as “100 regras de Brasília”, elaborado em 2008


durante a Cúpula Judicial Ibero-americana, consiste em uma declaração de garantia efetiva aos
direitos humanos, principalmente pela facilitação do acesso à justiça voltado às pessoas em situação
de maior vulnerabilidade. Para fins de aplicação das regras contidas no documento e, de acordo com
a concepção ali firmada, consideram-se em condição de vulnerabilidade as pessoas que por razão da
sua idade, gênero, estado físico ou mental, ou por circunstâncias sociais, econômicas, étnicas e/ou
culturais, encontram especiais dificuldades em exercitar com plenitude, perante o sistema de justiça,
os direitos reconhecidos pelo ordenamento jurídico.

##Atenção: Secção 2ª.- Beneficiários das Regras - 1.- Conceito das pessoas em situação de
vulnerabilidade - (3) Consideram-se em condição de vulnerabilidade aquelas pessoas que, por razão
da sua idade, género, estado físico ou mental, ou por circunstâncias sociais, económicas, étnicas e/ou

7
Direitos humanos e justiça internacional. Flávia Piovesan. 9. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva Educação,
2019. Págs. 237 e 238.
culturais, encontram especiais dificuldades em exercitar com plenitude perante o sistema de justiça
os direitos reconhecidos pelo ordenamento jurídico.

##Atenção: Conforme assinala Valério Mazzuoli: “Não há como dissociar a atuação da Defensoria Pública
da defesa dos direitos humanos, podendo-se até mesmo dizer que a instituição existe, primordialmente, para a
proteção e defesa desses direitos. De fato, a Defensoria Pública tem um trabalho destacado na defesa dos direitos
fundamentais dos cidadãos, especificamente no que tange à assistência jurídica gratuita, que possibilita o acesso
dos vulneráveis à Justiça. Em 6 de março de 1008, na XIV Cúpula Judicial Ibero-Americana, foram aprovadas
as 100 Regras de Brasília sobre Acesso à Justiça das Pessoas em Condição de Vulnerabilidade. Ali se
desenvolveram os princípios estabelecidos na ‘Carta de Direitos das Pessoas perante a Justiça no Espaço Judicial
Ibero-Americano’ (Cancun, 2002). (...) Nas 100 Regras de Brasília para o Acesso à Justiça das Pessoas em
Condição de Vulnerabilidade, recomendou-se aos poderes públicos e aos órgãos encarregados de aplicar a justiça
que deem tratamento adequado às pessoas em situação de vulnerabilidade” (MAZZUOLI, Valério de
Oliveira. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Método, 2014, p. p. 298-299).

(DPEPB-2014-FCC): No tocante à interpretação e aplicação dos tratados internacionais de direitos


humanos, é correto afirmar: O princípio da primazia da norma mais favorável ao indivíduo é
insuficiente nos hard cases, nos quais dois direitos de indivíduos distintos entram em conflito
aparente, em decorrência da relatividade e coexistência dos direitos humanos.

##Atenção: O princípio da norma mais favorável é uma regra tradicional presente em diversos
tratados internacionais de direitos humanos como o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos,
a Convenção Europeia de Direitos Humanos e a Convenção Americana de Direitos Humanos. O
princípio afirma que o intérprete deve aplicar sempre a norma que mais favoreça ao indivíduo,
independentemente de ser uma norma internacional ou interna. Ocorre que, apesar de ser
amplamente utilizado, esse princípio se mostra ineficaz quando diante de um conflito entre dois
direitos humanos pertencentes a indivíduos diferentes, como por exemplo, em caso de confronto
entre a liberdade de expressão e o direito à privacidade. Nesses “hard cases", tende-se a utilizar o
princípio da ponderação de interesses para auxiliar na delimitação da proteção de cada direito
fundamental envolvido.

(DPESP-2009-FCC): De acordo com o Direito Internacional dos Direitos Humanos, no tocante à


interpretação, em caso de conflito, das normas definidoras de direitos e garantias, prevalece sempre a
norma mais benéfica à pessoa humana.

##Atenção: ENÉAS CASTILHO CHIARINI JÚNIOR cita FÁBIO KONDER COMPARATO, o qual
afirma que, em caso de conflito entre normas internas e tratados internacionais de direitos humanos,
deve prevalecer a norma que for mais favorável: “Sem entrar na tradicional querela doutrinária entre
monistas e dualistas, a esse respeito, convém deixar aqui assentado que a tendência predominante, hoje, é no
sentido de se considerar que as normas internacionais de direitos humanos, pelo fato de exprimirem de certa
forma a consciência ética universal, estão acima do ordenamento jurídico de cada Estado [...] Seja como for,
vai-se firmando hoje na doutrina a tese de que, na hipótese de conflito entre as regras internacionais e internas,
em matéria de direitos humanos, há de prevalecer sempre a regra mais favorável ao sujeito de direito, pois a
proteção da dignidade da pessoa humana é a finalidade última e a razão de ser de todo o sistema jurídico.”

##Atenção: Esse é o entendimento que o STF adotou no caso da prisão de depositário infiel. A
Constituição Federal estabelece que há duas possibilidades de prisão de civil por dívida: não
pagamento de pensão alimentícia e depositário infiel. O Pacto San José da Costa Rica, no entanto,
estabelece que há uma única hipótese de prisão por não pagamento de dívida. Nesse caso,
prevaleceu a norma internacional, pois esta era a norma mais benéfica à pessoa humana.

(DPEMA-2009-FCC): Na hipótese de conflito entre uma norma do direito interno e um dispositivo


enunciado em tratado internacional de proteção dos direitos humanos, merece prevalecer a norma
mais benéfica à vítima, considerando que os tratados de direitos humanos constituem um parâmetro
protetivo mínimo.
##Atenção: ##PGESP-2002: ##DPEMA-2009: ##FCC: Os sistemas não funcionam de maneira
excludente, mas são complementares. Assim, o objetivo é reforçar o respeito aos direitos inerentes à
condição humana. A prevalência é da proteção mais benéfica, independente da sua alçada
normativa, já que a intenção é dotar a tutela humana da maior eficácia possível. Além disso: "O
critério da norma mais favorável às pessoas protegidas, consagrado expressamente em tantos tratados de
direitos humanos" – diz Antônio Augusto Cançado Trindade –, "contribui, em primeiro lugar para reduzir
ou minimizar as pretensas possibilidades de ‘conflitos’ entre instrumentos legais em seus aspectos normativos.
Contribui, em segundo lugar, para obter maior coordenação entre tais instrumentos, tanto em dimensão vertical
(tratados e instrumentos de direito interno), quanto horizontal (dois ou mais tratados).” Para LFG em
matéria de direitos humanos quando os tratados internacionais conflitam com a constituição
brasileira (esse é o caso da prisão civil do depositário infiel) a solução não pode ser buscada no
princípio da hierarquia. Não funciona (no conflito entre os tratados e a constituição) a hierarquia,
mas sim, o princípio pro homine, que significa o seguinte: sempre prepondera a norma mais
favorável ao ser humano. Não importa a hierarquia da norma, sim o seu conteúdo. O mais favorável
prevalece. Não há que se falar em revogação da norma constitucional que conflita com o tratado.
Todas as normas continuam vigentes. Mas no caso concreto será aplicada a mais favorável, ou seja,
considerando que no conflito entre a CF-88 e os Tratados de Direitos humanos, deve prevalecer a
norma que melhor atende os direitos da vítima (Princípio pro homine).

Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos: Instituições, Comissão Interamericana


de Direitos Humanos.

(DPESP-2015-FCC): Sobre a proteção dos direitos humanos no Brasil pelo sistema interamericano,
considere a assertiva a seguir: Durante a ditadura civil-militar, a maior parte das denúncias à
Comissão Interamericana foi realizada por indivíduos ou grupo de indivíduos e fundamentada na
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem.

##Atenção: O Brasil é um dos fundadores da Organização dos Estados Americanos (1948) e, neste
mesmo ano, a organização adotou a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem. Ainda
que não seja um documento dotado de força jurídica vinculante, a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos, criada em 1959 é autorizada, desde 1965, a receber e processar denúncias ou
petições sobre casos individuais em que se alegasse violações de direitos humanos, com base na
Declaração Americana. Posteriormente, com a elaboração da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (1969), a Comissão passou a receber denúncias baseadas na violação deste tratado, mas
isso só era possível em relação a Estados que dele fossem signatários. Como o Brasil só veio a
ratificar esta convenção em 1992, está correto afirmar que, antes deste momento (o que inclui o
período ditatorial) a Comissão só podia receber denúncias contra o Brasil se estas tivessem por base
dispositivos da Declaração (e não do Pacto de San José da Costa Rica).

(DPESP-2015-FCC): Sobre a compatibilidade do crime de desacato, tipificado no artigo 331 do


Código Penal brasileiro, com os tratados internacionais de direitos humanos, é correto afirmar: A
Comissão Interamericana já entendeu que as leis que punem a manifestação ofensiva dirigida a
funcionários públicos, geralmente conhecidas como “leis de desacato", atentam contra a liberdade de
expressão e o direito à informação.

##Atenção: De fato, desde 1995, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos tem entendimento
firmado no sentido de que leis que punem o crime de desacato não são compatíveis com a
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (especialmente o art. 13, que protege a liberdade de
pensamento e de expressão).

##Atenção: ##Parêntese: Diante da inconvencionalidade constatada pela Comissão Interamericana


de Direitos Humanos, bem como em razão da postura do Estado brasileiro em continuar a praticar a
persecução criminal em decorrência do delito de desacato, a Defensoria Pública da União denunciou
o Estado brasileiro à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. A Defensoria Pública do
Estado de São Paulo também denunciou o Brasil à Comissão IDH. Dessa forma, espera-se que, em
um futuro próximo, o Brasil cesse a violação permanente à Comissão Americana de Direitos
Humanos e expurgue o artigo 331 do Código Penal brasileiro.. (A Defensoria Pública de SP aciona
Comissão Interamericana de Direitos Humanos contra condenação criminal por desacato;
Disponível em:
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Conteudos/Noticias/NoticiaMostra.aspx?idItem=43218&i
dPagina=3086).

##Atenção: ##Parêntese: Sobre o tema, explicita Caio Paiva, de início, que há uma divergência entre
o entendimento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e o entendimento da Corte
IDH. Para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o crime de desacato sempre
será inconvencional. A Comissão Interamericana começou a adotar esse entendimento no ano de
1994 no seu leading case que foi um caso envolvendo uma solução amigável, um acordo da vítima
com a Argentina, isso aconteceu no caso Horácio Verbitsky versus Argentina com solução amigável
celebrada no ano de 1994, a partir da qual a Argentina se comprometeu a descriminalizar o
desacato. Depois disso, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos adotou o seu informe
sobre a incompatibilidade das leis de desacato com a CADH, no ano de 1995. E, por fim,
a Comissão Interamericana, no ano de 2000, adotou a Declaração de Princípios sobre Liberdade de
Expressão, cujo artigo 11 estabelece o seguinte: “ As leis que punem a expressão ofensiva contra
funcionários públicos, geralmente conhecidas como “leis de desacato”, atentam contra a liberdade
de expressão e o direito à informação”. Então a primeira premissa a se assentar é que para a
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o crime de desacato sempre viola a liberdade de
expressão. Quanto a Corte Interamericana de Direitos Humanos, Caio Paiva explica o tema citando
o caso Palamara Iribarne versus Chile, caso onde a Corte IDH enfrentou esse tema da
inconvencionalidade ou convencionalidade das denominadas leis de desacato. Em todas as ocasiões
em que a Corte IDH enfrentou esse tema, em todos os casos esse crime teria sido utilizado para
cercear o direito de liberdade de expressão, mas a Corte IDH, diversamente da Comissão, diverge
da Comissão no sentido de não entender que em todos os casos de desacato ele
será inconvencional, mas apenas e tão somente quando ele cercear o direito a liberdade de
expressão. Para a Corte IDH, o que interessa e preocupa não é a existência de determinado tipo
denominado desacato, um nomen iuris que pode abrigar diversos conteúdos, desde a aceitáveis até
inadmissíveis, mas sim a forma como esse tipo penal incide sobre a liberdade de analise e de
expressão, como também a possibilidade de que a repressão indevida se exerça através de uma
figura delitiva diferente como pode ser a de ameaça. (Fonte: Telegram (grupo do Professor Caio
Paiva)

Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), Desenvolvimento e Direitos Humanos.

(DPESP-2015-FCC): Considere as letras de música abaixo.

“Pai, afasta de mim esse cálice

Pai, afasta de mim esse cálice

Pai, afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga

Tragar a dor, engolir a labuta

Mesmo calada a boca, resta o peito

Silêncio na cidade não se escuta

De que me vale ser filho da santa

Melhor seria ser filho da outra

Outra realidade menos morta


Tanta mentira, tanta força bruta

Como é difícil acordar calado

Se na calada da noite eu me dano

Quero lançar um grito desumano

Que é uma maneira de ser escutado

Esse silêncio todo me atordoa

Atordoado eu permaneço atento

Na arquibancada pra a qualquer momento

Ver emergir o monstro da lagoa

De muito gorda a porca já não anda

De muito usada a faca já não corta

Como é difícil, pai, abrir a porta

Essa palavra presa na garganta

Esse pileque homérico no mundo

De que adianta ter boa vontade

Mesmo calado o peito, resta a cuca

Dos bêbados do centro da cidade

Talvez o mundo não seja pequeno

Nem seja a vida um fato consumado

Quero inventar o meu próprio pecado

Quero morrer do meu próprio veneno

Quero perder de vez tua cabeça

Minha cabeça perder teu juízo

Quero cheirar fumaça de óleo diesel

Me embriagar até que alguém me esqueça"

(Cálice. Chico Buarque e Gilberto Gil. 1973)

“Como ir pro trabalho sem levar um tiro

Voltar pra casa sem levar um tiro

Se as três da matina tem alguém que frita

E é capaz de tudo pra manter sua brisa


Os saraus tiveram que invadir os botecos

Pois biblioteca não era lugar de poesia

Biblioteca tinha que ter silêncio,

E uma gente que se acha assim muito sabida

Há preconceito com o nordestino

Há preconceito com o homem negro

Há preconceito com o analfabeto

Mas não há preconceito se um dos três for rico, pai.

A ditadura segue meu amigo Milton

A repressão segue meu amigo Chico

Me chamam Criolo e o meu berço é o rap

Mas não existe fronteira pra minha poesia, pai.

Afasta de mim a biqueira, pai

Afasta de mim as biate, pai

Afasta de mim a cocaine, pai

Pois na quebrada escorre sangue, pai.

Pai

Afasta de mim a biqueira, pai

Afasta de mim as biate, pai

Afasta de mim a coqueine, pai.

Pois na quebrada escorre sangue"

(Cálice. Criolo Doido. 2010)

A partir das letras de música acima, são corretas as seguintes afirmativas:

i) Criolo alerta para a persistência da bárbarie da violência e das execuções sumárias nas
periferias brasileiras em pleno regime democrático, sobretudo em razão da “guerra
contra as drogas”.
##Atenção: Não apenas nesta música em si, mas quem ouve Criolo sabe que suas letras
geralmente se insurgem contra a barbárie encetada nas favelas notadamente no que
pertine ao combate às drogas. Nessa música, Criolo corresponde à um favelado que
teme levar um tiro ao sair de casa, sobretudo porque muitos inocentes morrem nessa
guerra às drogas.

ii) Chico Buarque e Gilberto Gil denunciam as violações de direitos de que eram vítimas os
opositores políticos do regime ditatorial, enquanto Criolo demonstra que essas violações
perduram ao vitimizarem os excluídos sociais.
##Atenção: Caetano e Gil, além de perseguidos durante o regime de exceção, se
insurgem contra os atos violentos praticados contra os opositres do regime. O cálice, na
ocasião, seria a vinda de um novo governo, porém, sanguinário, opressor e vilento, o
que denota a relação entre o vinho que celebra e o sangue que machuca. O novo
governo veio para derramar sangue. Criolo, por sua vez, demonstra que mesmo após a
queda do regime de exceçao, os excluidos (anteriormente oprimidos pelo regime) ainda
sofrem com incursões policiais na favela em noma da famigerada pacificação social.

iii) Cálice, composta por Chico Buarque e Giberto Gil, realiza uma crítica à ausência de
liberdade de expressão, à tortura e aos assassinatos perpetrados pela ditadura
civil-militar.
##Atenção: A canção Cálice realiza uma crítica à ausência de liberdade de expressão
(“Como é difícil acordar calado; Se na calada da noite eu me dano”), à tortura e aos
assassinatos perpetrados pela ditadura civil-militar (Quero inventar o meu próprio
pecado (“Quero morrer do meu próprio veneno”).

iv) Ambas as canções retratam um cotidiano de violação aos direitos civis e políticos, ainda
que versem sobre momentos históricos distintos.
##Atenção: Enquanto a canção de Caetano e Gil se refere ao período ditatorial, o rap do
Criolo se insurge contra a mesma opressão de outrora, contudo, ventilada
hodiernamente. Ademais, a própria reprodução do nome da canção para seu rap denota
que ele, além de considerar o que acontecia antes, pretendeu adaptar o nome da canção
para o que ocorre nas periferias. Oprimidos pelo regime se tornaram excluídos do
regime.

Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), Universalizar Direitos em um Contexto de


Desigualdades.

(DPU-2015-CESPE): Com relação aos direitos humanos, julgue o item que se segue:
Independentemente da existência de condições orçamentárias favoráveis, o Estado deve efetivar os
direitos sociais, especialmente aqueles referentes a grupos mais vulneráveis, como crianças e idosos.

##Atenção: Esta questão exige conhecimento do posicionamento do STF a respeito da ponderação


entre os princípios da reserva do possível e do mínimo existencial. Ainda que os direitos sociais, de
segunda dimensão, sejam tradicionalmente entendidos como direitos de realização progressiva e sem
(ou com baixo grau) de autoaplicabilidade, o reconhecimento deste direito pela Constituição Federal
exige, ao menos em um grau mínimo, a sua implementação. No julgamento da ADI n. 1.484/DF,
entendeu-se que “a cláusula da reserva do possível - que não pode ser invocada pelo Poder Público com o
propósito de fraudar, frustrar ou inviabilizar a implementação de políticas públicas definidas na própria
Constituição - encontra insuperável limitação na garantia constitucional do mínimo existencial, que representa,
no contexto de nosso ordenamento positivo, emanação direta do postulado da essencial dignidade da pessoa
humana”. Em outras palavras, de fato, independentemente da existência de condições orçamentárias
favoráveis, o Estado deve efetivar estes direitos sociais.

(DPESP-2015-FCC): Sobre os direitos da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis,


transexuais e transgêneros), considere a assertiva: No caso Atala Riffo, a Corte Interamericana
afirmou, pela primeira vez, que orientação sexual e identidade de gênero são categorias protegidas
pela Convenção Americana de Direitos Humanos, após considerar discriminatória decisão da
Suprema Corte do Chile que retirou da mãe a guarda das filhas em virtude de convivência
homoafetiva.

##Atenção: Caso Atala Riffo y Niñas Vs. Chile, de 2012. Karen Atala Riffo era casada com Ricardo
Jaime López Allendes e, dessa união nasceram três filhas. Posteriormente se divorciaram e a guarda
das três ficou com a mãe. Ocorre que tempos depois, esta se envolveu com outra mulher. Diante
disso, o genitor buscou, junto à justiça, a guarda das filhas, por conta do ambiente homossexual em
que a mãe vivia. Embora tenha perdido nas duas primeiras instâncias, teve seu recurso provido na
Suprema Corte do Chile. Isto é, obteve direito de ficar com as filhas, pois como a orientação sexual
materna poderia expor as filhas à discriminação e lhes causar confusão psicológica, a melhor solução
seria mantê-las sob os cuidados paternos, no âmbito de uma família tradicional. Assim, acionada a
Corte Interamericana, esta entendeu que a decisão acima violou Pacto de San José da Costa Rica:

I) princípio da igualdade e não discriminação (Se a sociedade é intolerante, não cabe ao Estado
sê-lo, razão por que só lhe resta adotar medidas para combater o preconceito em razão da
orientação sexual);

II) princípio da proteção da vida privada dos indivíduos;

III) Também foram violadas garantias processuais: crianças não foram ouvidas (direito
assegurado no art. 8º, I c.c 19 e art. 1º, I);

(DPESP-2013-FCC): Em relação à Corte Interamericana de Direitos Humanos e sua jurisprudência, é


correto afirmar: No caso Atala Riffo y ninãs, a Corte Interamericana de Direitos Humanos decidiu pela
responsabilidade internacional do Estado violador em face do tratamento discriminatório e da
interferência indevida na vida privada da vítima em razão de sua orientação sexual.

##Atenção: Karen Atala, no divórcio, ficou com a guarda de 3 filhas. depois disso iniciou relação
homoafetiva. O ex-marido ingressou com medido de guarda alegando que o ambiente doméstico era
prejudicial às crianças. Foi concedida custódia provisória ao pai, mas indeferido o pedido ao final do
processo. Em apelação, o Tribunal manteve a decisão singular de 1º grau. Na Suprema Corte,
afirmou-se que a orientação sexual da mãe expunha as crianças à confusão e discriminação.
Concedeu, assim, guarda definitiva ao pai. A Corte interamericana entendeu que tal decisão da
Suprema Corte Chilena ofendeu diversos princípios do Pacto de São José da Costa Rica, dentre os
quais: igualdade, não discriminação, proteção à vida privada.

Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), Educação e Cultura em Direitos Humanos.

(DPESP-2015-FCC): A legislação vigente confere à Defensoria Pública, como expressão e instrumento


do regime democrático, a atribuição de prestar orientação jurídica, difundir e conscientizar os
necessitados dos direitos humanos, da cidadania e do ordenamento jurídico. Em relação à educação
em direitos humanos, cidadania e democracia, analise a seguinte afirmação: A educação em direitos
extrapola o espectro da educação escolar, consistindo em método de formação e evolução
humanística que perpassa por toda a vida e integra todas as esferas de convivência humana para o
desenvolvimento, propiciando uma verdadeira revolução ética, divorciada de qualquer estrutura
preestabelecida de poder.

(DPESP-2015-FCC): A legislação vigente confere à Defensoria Pública, como expressão e instrumento


do regime democrático, a atribuição de prestar orientação jurídica, difundir e conscientizar os
necessitados dos direitos humanos, da cidadania e do ordenamento jurídico. Em relação à educação
em direitos humanos, cidadania e democracia, analise a seguinte afirmação: O conceito de cidadania
que se coaduna com o modelo de Defensoria Pública vigente rompe com a cidadania passiva,
caracterizada pelo poder circundado às instituições estatais que instituíam uma democracia pregada.
A cidadania deve propiciar a criação de uma micropolítica dentro de espaços sociais de lutas que
utilize do local de proliferação de conflitos para construções coletivas de cidadania.

(DPESP-2015-FCC): A legislação vigente confere à Defensoria Pública, como expressão e instrumento


do regime democrático, a atribuição de prestar orientação jurídica, difundir e conscientizar os
necessitados dos direitos humanos, da cidadania e do ordenamento jurídico. Em relação à educação
em direitos humanos, cidadania e democracia, analise a seguinte afirmação: Os oprimidos têm como
característica o sofrimento com injustiças históricas, econômicas, políticas e sociais. Essa
desumanização deve ser vencida mediante uma prática de liberdade, que enseja à ousadia coletiva
transformadora, colocando-se contra qualquer obstáculo à emancipação dos homens ou contra
qualquer aprisionamento dos direitos das pessoas. Nesta linha, a prática da liberdade é obtida pela
educação em direitos que colide com interesses de pessoas que buscam manter privilégios injustiças
socais existentes no mundo contemporâneo levando a uma postura de desmoralização da própria
expressão direitos humanos.

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