Questões de Concurso - Direitos Humanos
Questões de Concurso - Direitos Humanos
Questões de Concurso - Direitos Humanos
Direito Internacional dos Direitos Humanos. Concepções doutrinárias sobre a natureza dos
direitos humanos. Evolução histórica dos direitos humanos e Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão.
##Atenção: O fundamento moral dos direitos humanos na teoria habermasiana toma como base a
conhecida definição do filósofo Immanuel Kant de que as pessoas devem ser tratadas não como
objetos, mas como fins em si mesmas. (Fonte: CESPE).
##Atenção: Jürgen Habermas, filósofo e sociólogo alemão, dedicou a sua vida ao estudo do
problema da democracia. Em relação aos direitos humanos, Habermas considera que o "conteúdo
semântico" destes direitos contém uma pretensão global, admitindo, como indica Lohmann - ao
menos de modo conceitual - o universalismo dos direitos humanos.
##Atenção: Kant, no final do século XVIII, defendeu a existência da dignidade intrínseca a todo ser
racional, que não tem preço ou equivalente. Justamente em virtude dessa dignidade, não se pode
tratar o ser humano como um meio, mas sim como um fim em si mesmo. Esse conceito kantiano do
valor superior e sem equivalente da dignidade humana será, depois, retomado no regime jurídico
dos direitos humanos contemporâneos, em especial no que tange à indisponibilidade e à proibição de
tratamento do homem como objeto.
##Atenção: A afirmativa está em consonância com o sentido dos direitos humanos. A relação é
importante para deixar claro que a maioria não tem poderes ilimitados sobre as minorias e que os
direitos humanos são esse limite, conforme Habermas.
(DPESP-2015-FCC): Analise as assertivas a seguir: I. “Os droits de l'homme, os direitos humanos, são
diferenciados como tais dos droits du citoyen, dos direitos do cidadão. Quem é esse homme que é diferenciado do
citoyen? Ninguém mais ninguém menos que o membro da sociedade burguesa.”; II. “Mulher, desperta. A força
da razão se faz escutar em todo o Universo. Reconhece teus direitos. O poderoso império da natureza não está
mais envolto de preconceitos, de fanatismos, de superstições e de mentiras. A bandeira da verdade dissipou
todas as nuvens da ignorância e da usurpação. O homem escravo multiplicou suas forças e teve necessidade de
recorrer às tuas, para romper os seus ferros. Tornando-se livre, tornou-se injusto em relação à sua
companheira.” São autores, respectivamente, dos excertos críticos à Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão: Karl Marx e Olympe de Gouges.
##Atenção: A primeira assertiva reproduz um trecho contido em "Sobre a Questão Judaica", de Karl
Marx e a segunda, da Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, proposto por Olympe de
Gouges à Assembleia Nacional da França em 1791, durante a Revolução Francesa.
##Atenção: Para quem, assim como eu, nunca ouviu falar dessa personagem da história, segue a
biografia: “Olympe de Gouges, pseudônimo de Marie Gouze nasceu em 1748 e morreu em Paris, em 1773. Foi
uma feminista, revolucionária, historiadora, jornalista, escritora e autora de peças de teatro francesa. Os
escritos feministas de sua autoria alcançaram enorme audiência. Foi uma defensora da democracia e dos
direitos das mulheres. Na sua obra "Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã" (em francês: Déclaration
des droits de la femme et de la citoyenne) de setembro de 1791, desafiou a conduta injusta da autoridade
masculina e da relação homem-mulher que expressou-se na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
durante a Revolução Francesa. Devido aos escritos e atitudes pioneiras, foi executada. Uma revolucionária
dentro da própria revolução francesa, de Gouges faz questão de utilizar-se de seus protetores e amigos para
elevar a voz em favor da mulher: escreveu peças abolicionistas, cartas debatendo idéias dos revolucionários e
chegou a fazer uma versão da “Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão”. Neste último, lança o olhar
sobre a mulher, que esteve lado a lado na revolução porém não estava no mesmo nível de igualdade quanto ao
poder. No entanto, a história que se diferencia da maioria termina de uma maneira semelhante a tantas outras:
os revolucionários, no poder, determinaram que Olympe de Gouges era contra-revolucionária. E isso bastou
para lhe condenar a guilhotina.” (Fonte:
http://blogueirasfeministas.com/2014/09/olympe-de-gouges-feminista-revolucionaria-heroina/)
(DPESP-2015-FCC): “[...] Esse conjunto de entidades envolvido no debate ambiental brasileiro esteve sempre
atravessado por uma questão central: a de como engajar-se em campanhas que evocam a 'proteção ao meio
ambiente' sem desconsiderar as evidentes prioridades da luta contra a pobreza e a desigualdade social ou
mostrando-se capaz de responder aos propósitos desenvolvimentistas correntes que almejam a rentabilização de
capitais em nome da geração de emprego e renda. Em outros termos, como conquistar legitimidade para as
questões ambientais, quando, com frequência, a preocupação com o ambiente é apresentada como um obstáculo
ao enfrentamento do desemprego e à superação da pobreza? Como dar um tratamento lógico e socialmente
aceitável às implicações ambientais das lutas contra a desigualdade social e pelo desenvolvimento econômico?”
(ACSELRAD, Henri. Ambientalização das lutas sociais − o caso do movimento por justiça ambiental.
Estudos avançados, São Paulo, v. 24, n. 68, p. 103-119, 2010. Disponível em: . Acesso em 10 de agosto
2015. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142010000100010). O trecho acima reproduzido alude a
uma das questões centrais em matéria de justiça ambiental: o conflito entre o desenvolvimento
econômico e a preservação ambiental. O tema justiça ambiental:
i) tem sua origem associada, segundo parte da doutrina, às lutas raciais desenvolvidas
pelos negros nos Estados Unidos, na década de 1980.
ii) sustenta a necessidade de consideração da dimensão histórica e social na análise da
questão ambiental. tem dentre seus princípios o fomento à gestão democrática e o
acesso à informação.
##Atenção: O conceito de justiça ambiental desenvolveu-se a partir das lutas por direitos civis da
população negra dos Estados Unidos na década de 1980. As populações mais pobres (em sua maioria
negra), percebeu que os resíduos tóxicos proveniente da indústria, sobretudo química, estavam
sendo depositados em seu território. Pois bem, essa constatação gerou uma série de protesto e
culminou com a construção de um novo campo denominado justiça ambiental, que congrega toda
uma produção teórica crítica sobre a distribuição desigual dos riscos provenientes desse modelo de
desenvolvimento. (http://esmonteiro.blogspot.com.br/2011/10/o-que-e-justica-ambiental.html).
a) que nenhum grupo social, seja ele étnico, racial ou de classe, suporte uma parcela
desproporcional das conseqüências ambientais negativas de operações econômicas, de
decisões de políticas e de programas federais, estaduais, locais, assim como da ausência ou
omissão de tais políticas;
1
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6285
d) o favorecimento da constituição de sujeitos coletivos de direitos, movimentos sociais e
organizações populares para serem protagonistas na construção de modelos alternativos de
desenvolvimento, que assegurem a democratização do acesso aos recursos ambientais e a
sustentabilidade do seu uso.
(DPERS-2014-FCC): O enfrentamento das discriminações que, no Brasil, estão proibidas por força da
Constituição Federal e dos tratados internacionais de direitos humanos dos quais o país é signatário,
atualmente tem discussão em um campo próprio, conhecido como “direito da antidiscriminação”.
Nesse campo, e considerando os conceitos legais vigentes, considera-se discriminação indireta a
adoção de medidas, decisões ou práticas com a aparência de neutralidade que têm o efeito ou
resultam em um impacto diferenciado ilegítimo sobre um indivíduo ou grupo.
##Atenção: “A discriminação direta consiste na adoção de prática intencional e consciente que adote
critério injustificável, discriminando determinado grupo e resultando em prejuízo ou desvantagem. (...) A
discriminação indireta é mais sutil: consiste na adoção de critério aparentemente neutro (e, então,
justificável), mas que, na situação analisada, possui impacto negativo desproporcional em relação a determinado
segmento vulnerável.” (Fonte: ANDRÉ DE CARVALHO RAMOS. “CURSO DE DIREITOS
HUMANOS.”). (...) “Na discriminação direta há a intenção de discriminar; na discriminação indireta,
uma suposta neutralidade vem de forma desproporcional a impactar grupos raciais, limitando o exercício de
seus direitos.” (Fonte: Piovesan, Flavia. “Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional -
14ª Ed. 2013.).
##Atenção: Diferenças:
- Conceito de discriminação direta: Considera-se que existe discriminação direta sempre que uma
pessoa seja sujeita a tratamento menos favorável do que aquele que é, tenha sido, ou venha a ser
dado a outra pessoa em situação comparável.
- Conceito de discriminação indireta: Considera-se que existe discriminação indireta, sempre que
uma disposição, critério ou prática aparentemente neutro seja suscetível de colocar uma pessoa, por
motivo de um fator de discriminação, numa posição de desvantagem comparativamente com outras,
a não ser que essa disposição, critério ou prática seja objetivamente justificado por um fim legítimo e
que os meios para o alcançar sejam adequados e necessários.
##Atenção: O caso Yatama vs Nicarágua retrata uma hipótese de violação ao princípio da igualdade
material conhecida como discriminação indireta e a corte Interamericana de direitos humanos ainda
que não o tenha feito de maneira expressa utilizou-se da teoria do impacto desproporcional para
constatar essas violações. Em outras palavras, embora citada alteração da legislação eleitoral no que
tange as condições de elegibilidade não seja, à primeira vista, reputada ilegal, afetou de maneira
desproporcional as comunidades indígenas (e apenas elas), ao exigir formas de organização política
que eram estranhos ao seus costumes e tradições. Segundo a teoria do impacto desproporcional, é
possível que se constatem violações ao princípio da igualdade quando os efeitos práticos de
determinadas normas, de caráter aparentemente neutro, causando dano excessivo, ainda que não
intencional, aos integrantes de determinados grupos vulneráveis.
(DPERS-2014-FCC): Na teoria geral dos direitos humanos, um dos debates mais relevantes diz
respeito ao dilema dos seus fundamentos filosóficos. Duas correntes bem distintas lideram a
discussão: o relativismo cultural e o universalismo. Os adeptos da doutrina universalista defendem a
visão de que os direitos humanos decorrem da dignidade humana, na qualidade de valor intrínseco à
condição humana, concebendo-se uma noção de direitos baseada em um mínimo ético irredutível.
##Atenção: ##DPERS-2014: ##DPESP-2015: ##FCC: Conforme aduz Flávia Piovesan, “(...) para os
universalistas, o fundamento dos direitos humanos é a dignidade humana, como valor intrínseco à
própria condição humana. Nesse sentido, qualquer afronta ao chamado mínimo ético redutível que
comprometa a dignidade humana, ainda que em nome da cultura, importará em violação a direitos
humanos” (PIOVESAN, F. Direitos humanos e o direito constitucional Internacional. 14a ed. São
Paulo: Saraiva, p. 224).
(DPEAC-2012-CESPE): Assinale a opção correta no que diz respeito à afirmação histórica dos
direitos humanos: A Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição de Weimar de 1919 são marcos
da afirmação dos direitos humanos de segunda geração.
##Atenção: A teoria das gerações ou dimensões dos direitos humanos foi criada pelo jurista francês
Karel Vasak em 1979. Ele classificou os direitos humanos em 3 gerações, cada uma com características
próprias. Os direitos de primeira geração são os direitos de liberdade, também chamados de direitos
de defesa, e compostos pelos direitos civis e políticos ou direitos individuais ( ex: direito à
propriedade, à liberdade, à intimidade etc). Os direitos de segunda geração são aqueles que exigem
um papel mais ativo do Estado, além de mero fiscal das regras jurídicas. São direitos sociais que
demandam uma prestação mínima do Estado, de forma a garantir condição material mínima de
sobrevivência à população (ex: direito à saúde, à moradia, à educação etc). Por fim, os direitos de
terceira geração são de titularidade da comunidade, por essa razão também chamados de direitos da
solidariedade. São oriundos da constatação do vínculo do homem com o planeta, que possui recursos
finitos e uma divisão desigual de riquezas.
##Atenção: A chamada "Cláusula Martens" propõe (em 1907) que, até que um código mais completo
sobre leis de guerra viesse a ser elaborado, os Estados signatários consideravam conveniente declarar
que, em casos não inclusos em regulamentações já adotadas, os civis e beligerantes deveriam
permanecer sob a proteção e regulamentação dos princípios de direito internacional.
##Atenção: De fato, estes três eventos são apontados como marcos do processo de
internacionalização dos direitos humanos e superação da “lógica de Westphalia”, segundo a qual o
direito internacional deveria se ater apenas às relações entre Estados.
##Atenção: O Direito Humanitário tem como objetivo a tutela da pessoa humana, entretanto, numa
situação mais específica, qual seja, pessoa humana como vítima de conflito armado nacional ou
internacional. O Direito Internacional dos Direitos Humanos e o Direito Humanitário são
complementares, apesar de serem dois conjuntos de leis distintas, pois ambos buscam proteger o
indivíduo de ações arbitrárias e de abusos. Os direitos humanos são inerentes ao ser humano e
protegem os indivíduos sempre, seja em tempos de guerra ou de paz. Assim, em tempos de conflitos
armados, eles atuam de forma complementar. Obs.: o Direito Humanitário provém, basicamente, das
quatro Convenções de Genebra de 1949 e seus protocolos adicionais, e das Convenções de Haia
(essas regulam especificamente os meios e métodos utilizados na guerra).
##Atenção: “Além da relação de especialidade, há também uma relação de identidade e convergência. O art. 3º
comum às quatro Convenções de Genebra sobre Direito Internacional Humanitário converge com a proteção de
direitos humanos básicos, como o direito à vida e integridade física em tempo de paz. No mesmo sentido, há
garantias fundamentais que foram adotadas nos dois Protocolos Adicionais de 1977 às Convenções de Genebra
(Protocolo I, art. 75, e Protocolo II, arts. 4º a 6º, ver abaixo)” (André de Carvalho Ramos, Curso de
Direitos Humanos, 5ª ed., São Paulo, Saraiva, 2018, parte II, item I). “Os direitos previstos no artigo 4º,
par. 2, do Pacto de Direitos Civis e Políticos são inderrogáveis em qualquer circunstância e, portanto, devem ser
reconhecidos inclusive em momentos de guerra. (...) Interessante notar que tais direitos coincidem com algumas
obrigações básicas do Direito Humanitário, constantes das Convenções de Genebra”. (Paulo Henrique
Gonçalves Portela, Direito Internacional Público e Privado, 12ª ed., Salvador, Juspodivm, 2020, p.
1184-5).
(DPEMA-2011-CESPE): Considerando a teoria geral dos direitos humanos, assinale a opção correta:
O princípio da proibição do retrocesso social é uma cláusula de defesa do cidadão em face de
possíveis arbítrios impostos pelo legislador no sentido de desconstituir as normas de direitos
fundamentais.
##Atenção: Os direitos sociais têm de seguir o princípio da proibição do retrocesso social, que visa a
impedir que o legislador venha a desconstituir pura e simplesmente o grau de concretização que ele
próprio havia dado às normas constitucionais, ainda mais quando se tratam de normas
constitucionais de eficácia limitada, que dependem das normas infraconstitucionais para se tornarem
eficazes. Desta forma, quando regulamentado um direito constitucional social o legislador não
poderia retroceder a matéria, o que poderia acontecer com a revogação de uma norma, ou ainda, com
qualquer medida prejudicial à sua efetivação, como a imposição de exigências para o seu
cumprimento, por exemplo.
##Atenção: Quem admite tal vedação (ao retrocesso) sustenta que, no que tange a direitos
fundamentais que dependem de desenvolvimento legislativo para se concretizar, uma vez obtido
certo grau de sua realização, legislação posterior não pode reverter as conquistas obtidas. A
realização do direito pelo legislador constituiria, ela própria, uma barreira para que a proteção
atingida seja desfeita sem compensações. Conforme bem destacou o mestre J.J Gomes Caontilho, “O
núcleo essencial dos direitos sociais já realizado e efetivado através de medidas legislativas deve considerar-se
constitucionalmente garantido, sendo inconstitucionais quaisquer medidas estaduais que, sem a criação de
outros esquemas alternativos ou compensatórios, se traduzam na prática numa 'anulação', 'revogação' ou
'aniquilação' pura e simples desse núcleo essencial". (Fonte: J. J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional
e Teoria da Constituição. 5. ed. Coimbra: Almedina, 2002, p. 337-338.)
##Atenção: Em direito internacional público o processo de uma actio popularis, no interesse da ordem
internacional é representada pelos jus cogens pode ser interposto perante um órgão judicial
internacional por um Estado que não tem interesse individual na ação. Os Estados se veem obrigados
a agir no interior de suas jurisdições considerando os interesses comuns da humanidade,
especialmente no que se refere aos direitos humanos.
(DPESP-2015-FCC): “Se há um direito humano à vida e à integridade física, como se pode aceitar então, com
anuência, que as intervenções militares ocidentais matem mais pessoas inocentes que as atrocidades dos
ditadores e dos terroristas? Os EUA, é o que se diz, utilizam os direitos humanos apenas como pretexto para os
interesses totalmente profanos do poder e da economia; não lhes interessa a situação jurídica da população, mas
apenas o petróleo. E por isso, assim prossegue o argumento, há dois pesos e duas medidas: em toda parte onde os
detentores do poder se destacam pelo bom comportamento, deixando por exemplo que os bombardeiros
norte-americanos estacionem em seus territórios (como na Turquia, provavelmente, ou na Arábia Saudita), a
autonomeada polícia mundial ocidental não há de objetar nada contra a pilhagem, a perseguição e a chacina de
grupos inteiros da população ou contra as condições ditatoriais.” (KURZ, Robert. Paradoxos dos direitos
humanos. Folha de São Paulo, São Paulo, 16 mar. 2003. Caderno Mais!, p. 9-11). O excerto acima é
relacionado ao Imperialismo dos direitos humanos.
##Atenção: O imperialismo dos direitos humanos tem características peculiares. Em primeiro lugar,
parte da proposição da legitimidade e até da necessidade de intervenções armadas internacionais
para introduzir ou impor os direitos humanos em uma era de crescente barbárie. Em segundo lugar,
os regimes tiranos seriam imunes à mudança interna, de modo que apenas a força armada externa
poderia conduzi-los a adotar os valores e instituições políticas ocidentais. Em terceiro lugar,
acredita-se que tais instituições podem ter êxito em qualquer lugar e, assim, cuidar eficazmente dos
problemas transnacionais e trazer a paz ao invés de instaurar a desordem. (Fonte: HOBSBAWM, Eric.
Prefácio. In: Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, pp.
14-15.).
Direito Internacional dos Direitos Humanos, Direitos humanos, direito humanitário e direito dos
refugiados.
##Atenção: Discutiu-se, no caso, entre outros pontos, se o direito de recuperação das terras tinha
algum tipo de limitação temporal. A CIDH afirmou: "(...) Corte leva em conta que a base espiritual e
material da identidade dos povos indígenas se baseia principalmente em sua relação única com suas
terras tradicionais. Enquanto esta relação existe, o direito de reivindicar permanecerá em vigor, caso
contrário, será extinto. Essa relação pode ser expressa de diferentes maneiras, dependendo dos povos
indígenas envolvidos e das circunstâncias específicas em que é encontrada, e pode incluir o uso ou a
presença tradicional, seja através de laços espirituais ou cerimoniais; assentamentos ou culturas
esporádicas; caça, pesca ou reunião sazonal ou nômade; uso de recursos naturais vinculados a seus
costumes; e qualquer outro elemento característico de sua cultura". (Fonte:
http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_146_esp2.pdf) (p. 73)
(MPF-2017): A Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas prevê que o Estado deve
obter o consentimento livre, prévio e informado dos povos indígenas antes da adoção de medidas
administrativas ou legislativas que os afetem.
##Atenção: Artigo XXIII, 2, da Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas:
“Participação dos povos indígenas e contribuições dos sistemas legais e de organização indígenos (...) Os
Estados realizarão consultas e cooperarão de boa-fé com os povos indígenas interessados por meio de suas
instituições representativas antes de adotar e aplicar medidas legislativas ou administrativas que os afetem, a
fim de obter seu consentimento livre, prévio e informado."
##Atenção: Segue a notícia do Conjur para explicar o caso tratado pela jurisprudência da CIJ:
COMBATE A IMPUNIDADE: A Corte Internacional de Justiça confirmou, nesta sexta-feira (20/7), a
validade da jurisdição internacional prevista em convenção da ONU para os crimes de tortura. Os
juízes decidiram que o Senegal é obrigado a julgar o ex-presidente do Chade Hissène Habré, que está
exilado em seu território. Se preferir não julgar, o governo senegalês deve extraditar Habré para ser
julgado em outro país competente. A jurisdição internacional está prevista em normas internacionais
como forma de combater a impunidade de acusados de crimes contra a humanidade. Está pendente
de julgamento no Judiciário do Senegal um pedido de extradição feito pela a Bélgica. Foram os
belgas, inclusive, que levaram a briga para a Corte Internacional de Justiça (CIJ). Os juízes de Haia,
no entanto, não analisaram a competência da Bélgica para julgar Habré. Eles apenas lembraram que
as regras da jurisdição internacional para o crime de tortura estabelecem os casos em que um país se
torna competente para exercer a jurisdição: quando o crime foi cometido em seu território, quando o
acusado ou a vítima nasceu lá ou ainda quando o acusado foi encontrado circulando pelo país. Essas
regras estão previstas na Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes, da Organização das Nações Unidas. O pedido de repatriação do Chade
foi negado pelos senegaleses, que consideraram alto o risco de Habré não ter um julgamento
imparcial no seu país. Também foram negados dois pedidos de extradição do ex-presidente para a
Bélgica. Um terceiro pedido foi feito em janeiro deste ano e ainda está pendente de análise. Antes
disso, a Bélgica levou a discussão para Haia. Nesta sexta-feira (20/7), a Corte Internacional de Justiça
decidiu que o Senegal é obrigado a julgar Habré, conforme prevê a Convenção Contra a Tortura da
ONU. Pela norma, assim que tomou conhecimento das acusações contra o ex-presidente do Chade, o
país teria de ter aberto imediatamente uma investigação preliminar para, a partir daí, iniciar um
processo criminal. Ao deixar de fazer isso, o Senegal descumpriu com sua obrigação internacional.
Os juízes de Haia explicaram que a investigação não é uma opção, mas uma obrigação do país onde
está o acusado de crimes de tortura. A única alternativa para não cumprir com a obrigação seria
extraditá-lo para um Estado competente e que tivesse requisitado a extradição, caso da Bélgica.
2
Loayza Tamayo vs. Peru.
- Síntese do caso: a Senhora Loayza Tamayo foi presa pela Divisão Nacional contra o Terrorismo da Polícia
Nacional do Peru, tendo como fundamento delação de Angélica Garcia, que fez uso da Lei de
Arrependimento enquanto estava presa. Não houve decisão judicial decretando a custódia provisória.
Enquanto presa, foi torturada com a finalidade de se autoincriminar e para se declarar integrante do
Partido Comunista do Peru. Além das torturas, ela foi exposta ao público como suspeita de crime de
trição à pátria, sendo vestida com uniforme de penitenciária. Ela foi processada e julgada pela jurisdição
militar, acusada de ter praticado crime de traição à pátria, sendo absolvida por juízes militares "sem rosto".
Todavia, em que pese o decreto absolutório, confirmado pela instância recursal militar, ela continuou presa
e foi submetida a novo julgamento, agora pela justiça comum, sendo condenada por um Tribunal Especial
sem rosto a pena de 20 anos de prisão pela prática de terrorismo.
- Conclusões da Corte IDH: violação à liberdade pessoal e à proteção judicial, pois o habeas corpus era
proibido por lei para crimes de terrorismo; violação ao direito à integridade pessoal, com a apresentação
ao público com traje penitenciário, bem como quando lhe foi proibido o direito à comunicação externa e e
lhe foi imposto tratamento degradante no local da prisão; violação ao princípio do non bis in idem, pois
julgada duas vezes pelo mesmo fato.
- Determinação da Corte IDH: restituição do status libertatis e indenização justa a ela e seus familiares.
- Curiosidade: a CIDH reconheceu, pela primeira vez, o denominado "dano ao projeto de vida".
em segmentos populacionais sem recursos para tal. (Fontes: EXPRESSION, The United Nations (un)
Special Rapporteur On Freedom Of Opinion And. TWENTIETH ANNIVERSARY JOINT
DECLARATION:: CHALLENGES TO FREEDOM OF EXPRESSION IN THE NEXT DECADE. 2019.
Disponível em:
<https://www.osce.org/representative-on-freedom-of-media/425282?download=true>; VALENTE,
Jonas. ONU e organismos internacionais defendem liberdade de expressão online. 2019. Disponível
em:
<http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-07/onu-e-organismos-internacion
ais-defendem-liberdade-de-expressao>.).
##Atenção: A CIDH tem um manual com diretrizes para a redução do número de prisões
preventivas na América Latina, no qual as garantias de liberdade e de devido processo legal são
pormenorizadas em indicações concretas para que os atores do sistema de justiça lidem com a
questão. O CNJ, pela Resolução n.º 255/2016, instituiu a Política Nacional de Justiça Restaurativa no
Poder Judiciário. (Fonte: CESPE)
39. “As vítimas sofreram uma discriminação estrutural, em virtude de pertencer a setores
historicamente marginalizados – cuja origem está vinculada ao fenômeno da escravidão –, que se
manteve no tempo, à margem dos avanços normativos que nunca tiveram efetividade real. Além disso,
sofreram a discriminação intersecional produzida por pertencer a categorias de discriminação elencadas
pela Convenção Americana: etnia, gênero, idade, pertencimento social e outras que confluíram em um
feixe de violações a seus direitos.” (...)3
3
https://summa.cejil.org/api/files/16046796658513lrzf8pll7y.pdf
Itens 187 e 190 do CASO EMPREGADOS DA FÁBRICA DE FOGOS DE SANTO ANTÔNIO DE
JESUS E SEUS FAMILIARES VS. BRASIL - SENTENÇA DE 15 DE JULHO DE 2020:
187. A Corte Interamericana já se pronunciou sobre a pobreza e a proibição de discriminação por posição
econômica. Nesse sentido, reconheceu em várias de suas decisões que as violações de direitos humanos
foram acompanhadas de situações de exclusão e marginalização pela situação de pobreza das vítimas, e
identificou a pobreza como fator de vulnerabilidade que aprofunda o impacto da vitimização. (...)
190.“Além da discriminação estrutural em função da condição de pobreza das supostas vítimas, esta
Corte considera que nelas confluíam diferentes desvantagens estruturais que impactaram sua
vitimização. Essas desvantagens eram econômicas e sociais, e se referiam a grupos determinados de
pessoas, ou seja, observa-se uma confluência de fatores de discriminação. Este Tribunal se referiu a esse
conceito de forma expressa ou tácita em diferentes sentenças,288 para isso utilizando diferentes
categorias”. 4
(TRF3-2018): A narrativa dos direitos humanos tem sido no sentido de ampliar sua proteção. A esse
respeito, “o termo interseccionalidade foi criado por Kimberle Crenshaw para retratar a incidência dos mais
diversos fatores de discriminação em um caso concreto. Tal necessidade foi verificada a partir do momento em
que o caráter universal dos direitos humanos mostrou-se insuficiente para tutelar e salvaguardar os direitos
humanos” (cf. Caio Cezar Paiva e Thimotie A. Heemann, “Jurisprudência Internacional de Direitos
Humanos”, 2. ed., 2017, p. 587). Fatores de discriminação não resolvidos, ou quando enfrentados de
forma desconexa, se entrelaçam, aumentando a opressão em grandeza exponencial. Foi o que ocorreu
com a violação de direitos de mulher refugiada, negra, pobre, analfabeta, homossexual e com a filha
portadora de HIV, a quem foi negado pelo Estado o direito à educação. Ao apreciar essa situação, o
Sistema Interamericano de Direitos Humanos reconheceu pela primeira fez o fenômeno da
interseccionalidade. Trata-se do julgamento do caso: Gonzalez Lluy vs. Equador.
4
https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_407_por.pdf
5
https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_407_por.pdf
##Atenção: Caso Gonzalez Lluy vs. Equador: “A Corte Interamericana de Direitos Humanos julgou o
caso, em 2015, que versava sobre o contágio pelo vírus HIV de uma menina de três anos chamada Talía Lluy,
contraído por ocasião de uma transfusão de sangue contaminado, sendo impedida de frequentar a escola quando
tinha 5 anos de idade. A Corte entendeu pela presença, no caso, de discriminação interseccional, haja vista a
associação da discriminação a múltiplos fatores como a condição de criança, mulher, pobreza e portadora do
vírus HIV, que derivaram de uma forma específica de discriminação. Sobre esse importante precedente, André
de Carvalho Ramos afirma que o caso de Talía demonstra que a discriminação da pessoa com HIV não impacta
de modo homogêneo os indivíduos, mas possui efeitos mais gravosos em grupos vulneráveis. Ao determinar as
reparações no caso, a Corte entendeu que o Equador realizou as devidas diligências no sentido de adequar o seu
direito interno, protegendo legalmente o direito à saúde e dando a atenção necessária aos portadores de HIV,
além de adotar políticas educacionais voltadas ao combate da discriminação aos soropositivos. Embora as
medidas de direito interno tenham sido tomadas posteriormente à ocorrência dos fatos, o tribunal entende que
os esforços do Estado merecem ser levados em consideração, sendo necessárias alegações fundadas de que a
conduta estatal se mostra inadequada ou insuficiente para uma tomada de decisão em sentido oposto.” (Fonte:
http://www.eduardorgoncalves.com.br/2018/06/caiu-e-vai-cair-novamente-caso-gonzales.html).6
(TRF3-2018): Em 1999, Damião Ximenes Lopes, pessoa com deficiência mental, foi internado na Casa
de Repouso Guararapes, na cidade de Sobral (CE), pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em perfeito
estado físico. Poucos dias depois, sua mãe o encontrou agonizante, sangrando, com hematomas, sujo
e com as mãos amarradas para trás, vindo a falecer nesse mesmo dia, sem qualquer assistência
médica no momento de sua morte. Com a demora nos processos cível e criminal na Justiça daquele
Estado na apuração de responsabilidades, a família, alegando violação do direito à vida, à
integridade psíquica (dos familiares, pela ausência de punição aos autores do homicídio) e ao devido
processo legal em prazo razoável, peticionou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH), que veio a processar o Estado brasileiro perante a Corte Interamericana de Direitos
Humanos (Corte IDH). Com relação a esse caso, é correto afirmar que: Foi aplicada pela Corte IDH a
doutrina da eficácia horizontal da proteção internacional dos direitos humanos (“Drittwirkung”),
responsabilizando o Estado brasileiro.
##Atenção: Em meados do século XX surgiu na Alemanha a teoria da eficácia horizontal dos direitos
fundamentais, que defendia a incidência destes também nas relações privadas (particular-particular).
É chamada eficácia horizontal ou efeito externo dos direitos fundamentais (horizontalwirkung),
também conhecida como eficácia dos direitos fundamentais contra terceiros (drittwirkung). Em suma:
pode-se que dizer que os direitos fundamentais se aplicam não só nas relações entre o Estado e o
cidadão (eficácia vertical), mas também nas relações entre os particulares-cidadãos (eficácia
horizontal).
6
Conceito de interseccionalidade:
-De quem é o conceito? O conceito de “interseccionalidade” foi batizado desta maneira por Kimberlé
Williams Crenshaw. Esta mulher é uma feminista e professora especializada nas questões de raça e de
gênero. Ela usou este termo pela primeira vez numa pesquisa em 1991 sobre as violências vividas pelas
mulheres de cores nas classes desfavorecidas nos Estados Unidos. Este conceito foi usado por outros
estudos, mas com os termos de “interconectividade” ou de “identidades multiplicativas”.
-O que estuda? Interseccionalidade é um conceito sociológico que estuda as interações nas vidas das
minorias, entre diversas estruturas de poder. Então, a Interseccionalidade é a consequência de diferentes
formas de dominação ou de discriminação. Ela trata das interseções entre estes diversos fenômenos.
-Como Kimberlé Crenshaw define este conceito? Kimberlé Crenshaw define a interseccionalidade como
“formas de capturar as consequências da interação entre duas ou mais formas de subordinação: sexismo,
racismo, patriarcalismo.” Então, a interseccionalidade tenta estudar não só o fato de ser mulher, estuda ao
mesmo tempo o fato de ser negra, ser LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e
transgênero), etc. Na verdade, segundo Kimberlé Crenshaw, frequentemente o fato de ser mulher
racializada é relacionado à classe e ao gênero.
-Quais são os fatores de discriminação? Kimberlé Crenshaw precisa que o gênero não é o único fator de
discriminação. Então, há a necessidade de estudar os outros fatores de discriminação juntos. Adriana
Piscitelli precisa que é importante estudar classe, gênero e raça juntos. Avtar Brah adiciona que é
importante estudar os diferentes fatores juntos por causa da relação que cada um estabelece com o outro.
“Não podem ser tratadas como “variáveis independentes” porque a opressão de cada uma está inscrita
dentro da outra – é constituída pela outra e é constituída dela”.
(Fonte: www.sociologia.com.br/o-conceito-de-interseccionalidade/)
##Atenção: ##DPESP-2015: ##DPU-2015: ##TRF3-2018: ##CESPE: ##FCC: Entendendo o caso:
breve relato dos fatos: Damião Ximenes Lopes era portador de deficiência mental e, em outubro de
1999, foi internado na Casa de Repouso Guararapes, centro de saúde vinculado ao Sistema Único de
Saúde – SUS, localizado no município de Sobral, no Estado do Ceará. Ocorre que, dias após a
internação, o paciente faleceu com sintomas de tortura, refletindo as condições degradantes de
hospitalização naquele lugar. Apesar dos sinais de maus-tratos no corpo da vítima, o exame
cadavérico atestou que a causa da morte foi indeterminada. A família do paciente recorreu à
jurisdição brasileira objetivando a composição de danos pelo tratamento cruel dispensado ao senhor
Ximenes Lopes que resultou na sua morte. Todavia, diante do descaso deste Estado para com o fato,
a irmã da vítima denunciou o caso à CIDH, ressaltando a violação de vários direitos elencados no
Pacto de São José da Costa Rica: direito à vida, à integridade pessoal, garantias judiciais e proteção
judicial. Depois de notificar o Estado brasileiro para se manifestar sobre as acusações proferidas pela
irmã da vítima, Irene Ximenes Lopes, sem obtenção de qualquer resposta por parte daquele, a
Comissão procedeu ao juízo de admissibilidade, em 2002, se reconhecendo competente para análise
do caso. Em seguida, em outubro de 2003, a Comissão conclui pela violação a vários artigos da
Convenção Interamericana de Direitos Humanos, enviando relatório com recomendações ao Estado
brasileiro, no sentido de investigar adequadamente o caso, além de indenizar a família da vítima,
agindo para evitar situações semelhantes. Após um ano sem cumprimento substancial do que foi
recomendado, a Comissão submeteu o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos,
requerendo que decidisse se o Brasil era responsável pela violação aos artigos 4, 5, 8 e 25, além do
descumprimento da obrigação contida no artigo 1.1 (obrigação de respeitar os direitos) da
Convenção. Em suma, a Comissão tinha por finalidade reconhecer a responsabilidade estatal pela
morte de Damião Ximenes Lopes, bem como pelo descaso nas investigações e no Judiciário para
punir os responsáveis. Durante o processo, o Brasil reconheceu sua responsabilidade pelo desrespeito
ao direito à vida (artigo 4º) e à integridade pessoal (artigo 5º), tornando incontroversos esses pontos
na lide. Em julho de 2006, a Corte reconheceu a responsabilidade parcial do Estado brasileiro pela
violação, em relação à vítima e em relação a sua família, condenando-o nos seguintes termos: à
promoção, em tempo razoável, de investigação e punição dos envolvidos no fato, à publicação no
Diário Oficial o teor da decisão da Corte, à realização de programas de capacitação profissional para
servidores da área e, por fim, à indenização aos membros da família de Damião Ximenes Lopes, além
do pagamento de todas as despesas que estes tenham realizado nos processos na Justiça Brasileira e
no exterior.
(DPU-2015-CESPE): Manuel, deficiente mental que não se encontrava em situação que indicasse
risco de morte ao ser internado em hospital psiquiátrico privado que opera no âmbito do SUS,
faleceu quatro dias após a internação. A família de Manuel, sob a alegação de que sua morte
decorrera de maus tratos por ele recebidos no hospital, incluindo-se a administração forçada de
medicação, e de que esses maus tratos se deveram ao fato de ele ser negro e pobre, deseja
representar contra o Brasil tanto perante a justiça brasileira quanto perante órgãos internacionais
de controle. Com base no disposto na Convenção Interamericana de Direitos Humanos e na
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, julgue o item subsequente, relativo à
situação hipotética acima apresentada. Nesse caso, a responsabilidade do Estado é objetiva,
inclusive perante órgãos internacionais de controle, já que a internação de Manuel ocorreu no
âmbito do SUS.
##Atenção: Este caso faz referência à primeira condenação do Brasil pela Corte Interamericana de
Direitos Humanos, no caso “Ximenes Lopes x República Federativa do Brasil”, no qual o Brasil foi
considerado responsável pelas violações de direitos sofridas por Damião Ximenes Lopes e que
resultaram na sua morte. No caso, a Corte considerou que os Estados tem o dever de regulamentar
e fiscalizar toda a assistência de saúde prestada a pessoas sob sua jurisdição, como o dever
especial de proteção da vida e integridade pessoal, independentemente de ser a entidade que
presta estes serviços de caráter público ou privado. Vale lembrar que, ao ratificar ou aderir a um
tratado internacional, o Brasil é responsável pelo seu cumprimento perante os respectivos
mecanismos de fiscalização internacional, e esta responsabilidade se dá independentemente de
dolo ou culpa; assim, considerando as informações da pergunta, é correto afirmar que a
responsabilidade do Estado é objetiva (e continuaria sendo assim mesmo que o “Manuel” tivesse
sido internado numa clínica particular), pois o Brasil deve assegurar o respeito ao direito à saúde,
integridade física e vida em todas as entidades de atendimento em funcionamento no país.
(MPRO-2017-FMP): Em relação ao controle de convencionalidade e à Corte Interamericana de
Direitos Humanos, assinale a alternativa correta: No caso Ximenes Lopes vs. Brasil, a Corte
Interamericana de Direitos Humanos afirmou que a falta do dever de regular e fiscalizar gera
responsabilidade internacional em razão de serem os Estados responsáveis pelos atos das entidades
tanto públicas quanto privadas que prestam atendimento de saúde.
##Atenção: Caso Gomes Lund (Caso da Guerrilha do Araguaia): O Estado Brasileiro foi condenado
pela CIDH pela detenção arbitrária, tortura e desaparecimento forçado de aproximadamente 70
pessoas, entre elas integrantes do PCB e camponeses da região do Araguaia, situado em Tocantins,
entre 1972 e 1975. Durante o período de ditatura militar, foi promulgada em 1979 a Lei de Anistia,
diploma normativo que perdoou todos aqueles que haviam cometido crimes políticos ou conexos
com eles durante o período militar. A Corte IDH, no caso Gomes Lund, afirmou ser a Lei de Anistia
brasileira inconvencional, por representar graves violações a diversos preceitos constantes do Pacto
de São José da Costa Rica: (a) personalidade jurídica, (b) integridade pessoal; (c) liberdade pessoal;
(d) descumprir a obrigação de adequar seu direito interno à Convenção ADH; etc. Após a
condenação do Brasil, o STF, na ADPF 153, declarou a constitucionalidade da Lei de Anistia,
silenciando sobre o controle de convencionalidade. Por conta deste proceder, o Brasil descumpriu
decisão da CIDH, podendo estar sujeito a nova condenação. A ADPF 320 visa a dar oportunidade ao
STF realizar o controle de convencionalidade sobre a lei de anistia.
(DPESP-2015-FCC): Sobre a proteção dos direitos humanos no Brasil pelo sistema interamericano,
considere a assertiva a seguir: A Corte Interamericana condenou o Estado brasileiro no caso Escher
por violação aos direitos à privacidade, à honra e à reputação, em virtude de interceptação e
monitoramento ilegal de linhas telefônicas de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem-Terra (MST).
##Atenção: A República Federativa do Brasil foi condenada no Caso Escher e outros em julho de
2009.
##Atenção: Site do STF: Corte Interamericana de Direitos Humanos julga caso Mendoza vs
Argentina: A Corte Interamericana de Direitos Humanos notificou, no dia 5 de julho de 2013, o
julgamento do caso Mendoza e outros vs. Argentina, submetido à jurisdição da Corte pela Comissão
Interamericana de Direitos Humanos em 17 de junho de 2011. Os fatos do processo se referem à
imposição de penas de privação perpétua de liberdade a César Alberto Mendoza, Claudio David
Núñez, Lucas Matías Mendoza, Saul Roland e Ricardo Videla David Fernández, por eventos que
ocorreram quando eles ainda eram menores de idade, assim como a falta de adequada assistência
médica a Lucas Matías Mendoza durante o cumprimento de sua sentença, a tortura de Lucas Matías
Mendoza e Claudio David Núñez, e a falta de investigação deste fato e da Morte de Ricardo Videla,
enquanto ele estava sob custódia do Estado. A Corte estabeleceu a responsabilidade internacional da
Argentina pela violação dos direitos à integridade pessoal e à liberdade de César Alberto Mendoza,
Lucas Matías Mendoza, Saúl Roldán, Ricardo Videla e Claudio David Núñez, pela imposição das
penas de privação perpétua de liberdade por crimes cometidos quando ainda eram menores de idade.
O Tribunal considerou que essas penalidades, por sua natureza, não cumprem com o objetivo de
reintegração social das crianças, uma vez que implicam a máxima exclusão da criança da sociedade,
de modo que operam em um sentido puramente punitivo, pois as expectativas de ressocialização
foram anuladas. Além disso, por sua desproporcionalidade, a imposição de tais penas constituiu um
trato cruel e desumano para os jovens citados, e também violou o direito à integridade pessoal de
seus familiares. Além disso, a Corte declarou a responsabilidade da Argentina pela violação dos
direitos à proteção judicial e às garantias consagradas na Convenção Americana, pela falta de uma
adequada investigação da morte de Ricardo Videla, que não havia sido reconhecido pelo Estado
anteriormente, bem como das torturas mencionadas. O Tribunal também observou que a falta de
investigação dos atos de tortura constituiu uma violação das obrigações de prevenção e punição
estabelecidas na Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura. A Corte também
determinou que o Estado adotasse as medidas de reparação cabíveis, como o oferecimento gratuito
do tratamento médico e psicológico necessário aos requerentes, assim como fez imposições de
adequação normativa que devem ser adotadas pelo Estado. (Site:
http://www.corteidh.or.cr/casos.cfm em 08/07/2013.)
(DPERO-2012-CESPE): Considerando a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos no
caso Escher e outros, de 6 de julho de 2009, assinale a opção correta: Nos termos de precedente da
Corte, a comunicação telefônica é abrangida pela garantia de proteção à privacidade prevista na
Convenção Americana sobre Direitos do Homem, ainda que esta não preveja expressamente o sigilo
desse tipo de comunicação.
##Atenção: Cumpre ressaltar que a Corte não discutiu os dispositivos da lei de interceptação, mas
sim o fato de que os requisitos legais não foram observados para a quebra telefônica: “O caso dos
integrantes do MST ocorreu em maio de 1999, na cidade de Querência do Norte, no Paraná. O então major
Waldir Copetti Neves, oficial da Polícia Militar do Paraná, solicitou à juíza Elisabeth Khater, da comarca de
Loanda, região noroeste do estado, autorização para grampear linhas telefônicas de cooperativas de
trabalhadores ligadas ao MST. A juíza autorizou a escuta e não notificou o Ministério Público. Os juízes
integrantes da Corte Interamericana de Direitos Humanos consideraram que houve violação ao direito à
privacidade e honra, liberdade de associação, garantias judiciais, difamação e impunidade. De acordo com a
sentença, o Brasil, além de indenizar os líderes do MST, foi obrigado a retomar as investigações dos fatos que
geraram as violações. O pedido de interceptação foi feito pela Polícia Militar, o que tornou a ação ilegal, já que,
de acordo com a legislação, apenas a Polícia Civil, a Polícia Federal e o Ministério Público podem solicitar a
quebra de sigilo telefônico. Os telefonemas foram gravados durante 49 dias e o conteúdo das gravações foi
divulgado em partes em uma coletiva de imprensa por ordem do então secretário de Segurança Pública do
Estado, Cândido Martins de Oliveira.”
(http://www.conjur.com.br/2010-abr-24/brasil-indeniza-us-110-mil-membros-mst-grampeados-ileg
almente).
##Atenção: O Brasil levantou a preliminar de que a Corte não tem competência para examinar casos
anteriores ao reconhecimento do Estado Brasileiro de sujeição à jurisdição da Corte (10 de dezembro
de 1998), o que foi aceito em parte, já que entendeu-se que as pessoas cujos restos mortais ainda não
foram encontrados tem seus Direitos Humanos permanentemente violados.
##Atenção: " (...) Como o Brasil reconheceu a competência contenciosa da Corte Interamericana em 10 de
dezembro de 1998 e, em sua declaração, indicou que o Tribunal teria competência para os “fatos posteriores”,
ficou excluída da ingerência do Tribunal na alegada execução extrajudicial da senhora Maria Lúcia Petit da
Silva, cujos restos mortais foram identificados em 1996. No entanto, em relação aos demais, considerando que
os atos de caráter contínuo ou permanente perduram durante todo o tempo em que o fato continua, reconheceu
sua competência para analisar os alegados desaparecimentos forçados das supostas vítimas.” (Fonte:
www.ibccrim.org.br/site/revistaLiberdades/_pdf/08/artigo4.pdf+ana+luisa+zago+de+moraes&cd
=8&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br)
(DPESP-2012-FCC): Em relação ao caso da senhora Maria da Penha Maia Fernandes, que transcorreu
perante o Sistema Interamericano de Direitos Humanos, a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos reconheceu que o Estado brasileiro descumpriu o dever de garantir às pessoas sujeitas à
sua jurisdição o exercício livre e pleno de seus direitos humanos e recomendou que o Brasil
simplificasse os procedimentos judiciais penais.
3. Adotar, sem prejuízo das ações que possam ser instauradas contra o responsável civil da
agressão, as medidas necessárias para que o Estado assegure à vítima adequada reparação
simbólica e material pelas violações aqui estabelecidas, particularmente por sua falha em
oferecer um recurso rápido e efetivo; por manter o caso na impunidade por mais de quinze
anos; e por impedir com esse atraso a possibilidade oportuna de ação de reparação e
indenização civil.
b) Simplificar os procedimentos judiciais penais a fim de que possa ser reduzido o tempo
processual, sem afetar os direitos e garantias de devido processo;
c) O estabelecimento de formas alternativas às judiciais, rápidas e efetivas de solução de
conflitos intrafamiliares, bem como de sensibilização com respeito à sua gravidade e às
conseqüências penais que gera;
d) Multiplicar o número de delegacias policiais especiais para a defesa dos direitos da mulher
e dotá-las dos recursos especiais necessários à efetiva tramitação e investigação de todas as
denúncias de violência doméstica, bem como prestar apoio ao Ministério Público na
preparação de seus informes judiciais.
##Atenção: OC. 17. 5. Que deve ser preservado e promovido a permanência da criança no seu núcleo
família, a menos que haja razões determinantes para separar de sua família, os melhores interesses
do primeiro. A separação deve ser excepcional e, preferência temporária.
##Atenção: A Corte Europeia de Direitos Humanos não é a mesma coisa que a Corte de Justiça da
União Europeia e nem a mesma coisa da Corte Internacional de Justiça. Sua função é basicamente
proteger a Convenção Europeia de Direitos Humanos, assinada inicialmente em 1950. A Convenção
é, em essência, similar aos principais incisos do art. 5º da Constituição brasileira, e protege direitos
básicos, como à vida, a liberdade contra tortura, contra o tratamento desumano, contra a escravidão,
o direito a um julgamento justo, a irretroatividade da lei penal, direito à privacidade, liberdade de
expressão, de imprensa, de associação e de casamento e o direito à propriedade. Para alguns países a
Convenção acaba funcionando como uma pequena constituição dos direitos humanos. Mas, ao
contrário das normas da União Europeia, que se sobrepõem às normas nacionais, as normas da
Convenção Europeia de Direitos Humanos não se impõem às normas locais.
##Atenção: Esse trecho foi retirado do livro da Flávia Piovesan em ponto que ela traz uma análise
comparativa dos casos julgados recentemente pelo Sistema Europeu e pelo Sistema Interamericano.
- Sobre o Sistema Europeu: “No sistema europeu, a Corte Europeia de Direitos Humanos tem
proferido relevantes precedentes no sentido de salvaguardar a esfera da liberdade, da autonomia, da
privacidade e da intimidade, adicionando o direito de desenvolver a personalidade, em face de
medidas repressivas adotadas no combate ao terrorismo. Com prudência e baseada no princípio da
proporcionalidade, tem avaliado o alcance de interferência estatal no domínio da vida privada
individual, contendo abusos e excessos do Estado. Tem, ademais, verificado até que ponto a medida
restritiva de direitos é necessária em uma sociedade democrática. Observa-se, assim, que a interpretação
da Corte Europeia é orientada à proteção da vida privada amplamente considerada, de forma a assegurar
o direito ao desenvolvimento pessoal. Os casos examinados apontam violações pontuais,
alcançando vítimas singularmente consideradas.”
##Atenção: Secção 2ª.- Beneficiários das Regras - 1.- Conceito das pessoas em situação de
vulnerabilidade - (3) Consideram-se em condição de vulnerabilidade aquelas pessoas que, por razão
da sua idade, género, estado físico ou mental, ou por circunstâncias sociais, económicas, étnicas e/ou
7
Direitos humanos e justiça internacional. Flávia Piovesan. 9. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva Educação,
2019. Págs. 237 e 238.
culturais, encontram especiais dificuldades em exercitar com plenitude perante o sistema de justiça
os direitos reconhecidos pelo ordenamento jurídico.
##Atenção: Conforme assinala Valério Mazzuoli: “Não há como dissociar a atuação da Defensoria Pública
da defesa dos direitos humanos, podendo-se até mesmo dizer que a instituição existe, primordialmente, para a
proteção e defesa desses direitos. De fato, a Defensoria Pública tem um trabalho destacado na defesa dos direitos
fundamentais dos cidadãos, especificamente no que tange à assistência jurídica gratuita, que possibilita o acesso
dos vulneráveis à Justiça. Em 6 de março de 1008, na XIV Cúpula Judicial Ibero-Americana, foram aprovadas
as 100 Regras de Brasília sobre Acesso à Justiça das Pessoas em Condição de Vulnerabilidade. Ali se
desenvolveram os princípios estabelecidos na ‘Carta de Direitos das Pessoas perante a Justiça no Espaço Judicial
Ibero-Americano’ (Cancun, 2002). (...) Nas 100 Regras de Brasília para o Acesso à Justiça das Pessoas em
Condição de Vulnerabilidade, recomendou-se aos poderes públicos e aos órgãos encarregados de aplicar a justiça
que deem tratamento adequado às pessoas em situação de vulnerabilidade” (MAZZUOLI, Valério de
Oliveira. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Método, 2014, p. p. 298-299).
##Atenção: O princípio da norma mais favorável é uma regra tradicional presente em diversos
tratados internacionais de direitos humanos como o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos,
a Convenção Europeia de Direitos Humanos e a Convenção Americana de Direitos Humanos. O
princípio afirma que o intérprete deve aplicar sempre a norma que mais favoreça ao indivíduo,
independentemente de ser uma norma internacional ou interna. Ocorre que, apesar de ser
amplamente utilizado, esse princípio se mostra ineficaz quando diante de um conflito entre dois
direitos humanos pertencentes a indivíduos diferentes, como por exemplo, em caso de confronto
entre a liberdade de expressão e o direito à privacidade. Nesses “hard cases", tende-se a utilizar o
princípio da ponderação de interesses para auxiliar na delimitação da proteção de cada direito
fundamental envolvido.
##Atenção: ENÉAS CASTILHO CHIARINI JÚNIOR cita FÁBIO KONDER COMPARATO, o qual
afirma que, em caso de conflito entre normas internas e tratados internacionais de direitos humanos,
deve prevalecer a norma que for mais favorável: “Sem entrar na tradicional querela doutrinária entre
monistas e dualistas, a esse respeito, convém deixar aqui assentado que a tendência predominante, hoje, é no
sentido de se considerar que as normas internacionais de direitos humanos, pelo fato de exprimirem de certa
forma a consciência ética universal, estão acima do ordenamento jurídico de cada Estado [...] Seja como for,
vai-se firmando hoje na doutrina a tese de que, na hipótese de conflito entre as regras internacionais e internas,
em matéria de direitos humanos, há de prevalecer sempre a regra mais favorável ao sujeito de direito, pois a
proteção da dignidade da pessoa humana é a finalidade última e a razão de ser de todo o sistema jurídico.”
##Atenção: Esse é o entendimento que o STF adotou no caso da prisão de depositário infiel. A
Constituição Federal estabelece que há duas possibilidades de prisão de civil por dívida: não
pagamento de pensão alimentícia e depositário infiel. O Pacto San José da Costa Rica, no entanto,
estabelece que há uma única hipótese de prisão por não pagamento de dívida. Nesse caso,
prevaleceu a norma internacional, pois esta era a norma mais benéfica à pessoa humana.
(DPESP-2015-FCC): Sobre a proteção dos direitos humanos no Brasil pelo sistema interamericano,
considere a assertiva a seguir: Durante a ditadura civil-militar, a maior parte das denúncias à
Comissão Interamericana foi realizada por indivíduos ou grupo de indivíduos e fundamentada na
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem.
##Atenção: O Brasil é um dos fundadores da Organização dos Estados Americanos (1948) e, neste
mesmo ano, a organização adotou a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem. Ainda
que não seja um documento dotado de força jurídica vinculante, a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos, criada em 1959 é autorizada, desde 1965, a receber e processar denúncias ou
petições sobre casos individuais em que se alegasse violações de direitos humanos, com base na
Declaração Americana. Posteriormente, com a elaboração da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (1969), a Comissão passou a receber denúncias baseadas na violação deste tratado, mas
isso só era possível em relação a Estados que dele fossem signatários. Como o Brasil só veio a
ratificar esta convenção em 1992, está correto afirmar que, antes deste momento (o que inclui o
período ditatorial) a Comissão só podia receber denúncias contra o Brasil se estas tivessem por base
dispositivos da Declaração (e não do Pacto de San José da Costa Rica).
##Atenção: De fato, desde 1995, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos tem entendimento
firmado no sentido de que leis que punem o crime de desacato não são compatíveis com a
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (especialmente o art. 13, que protege a liberdade de
pensamento e de expressão).
##Atenção: ##Parêntese: Sobre o tema, explicita Caio Paiva, de início, que há uma divergência entre
o entendimento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e o entendimento da Corte
IDH. Para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o crime de desacato sempre
será inconvencional. A Comissão Interamericana começou a adotar esse entendimento no ano de
1994 no seu leading case que foi um caso envolvendo uma solução amigável, um acordo da vítima
com a Argentina, isso aconteceu no caso Horácio Verbitsky versus Argentina com solução amigável
celebrada no ano de 1994, a partir da qual a Argentina se comprometeu a descriminalizar o
desacato. Depois disso, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos adotou o seu informe
sobre a incompatibilidade das leis de desacato com a CADH, no ano de 1995. E, por fim,
a Comissão Interamericana, no ano de 2000, adotou a Declaração de Princípios sobre Liberdade de
Expressão, cujo artigo 11 estabelece o seguinte: “ As leis que punem a expressão ofensiva contra
funcionários públicos, geralmente conhecidas como “leis de desacato”, atentam contra a liberdade
de expressão e o direito à informação”. Então a primeira premissa a se assentar é que para a
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o crime de desacato sempre viola a liberdade de
expressão. Quanto a Corte Interamericana de Direitos Humanos, Caio Paiva explica o tema citando
o caso Palamara Iribarne versus Chile, caso onde a Corte IDH enfrentou esse tema da
inconvencionalidade ou convencionalidade das denominadas leis de desacato. Em todas as ocasiões
em que a Corte IDH enfrentou esse tema, em todos os casos esse crime teria sido utilizado para
cercear o direito de liberdade de expressão, mas a Corte IDH, diversamente da Comissão, diverge
da Comissão no sentido de não entender que em todos os casos de desacato ele
será inconvencional, mas apenas e tão somente quando ele cercear o direito a liberdade de
expressão. Para a Corte IDH, o que interessa e preocupa não é a existência de determinado tipo
denominado desacato, um nomen iuris que pode abrigar diversos conteúdos, desde a aceitáveis até
inadmissíveis, mas sim a forma como esse tipo penal incide sobre a liberdade de analise e de
expressão, como também a possibilidade de que a repressão indevida se exerça através de uma
figura delitiva diferente como pode ser a de ameaça. (Fonte: Telegram (grupo do Professor Caio
Paiva)
Pai
i) Criolo alerta para a persistência da bárbarie da violência e das execuções sumárias nas
periferias brasileiras em pleno regime democrático, sobretudo em razão da “guerra
contra as drogas”.
##Atenção: Não apenas nesta música em si, mas quem ouve Criolo sabe que suas letras
geralmente se insurgem contra a barbárie encetada nas favelas notadamente no que
pertine ao combate às drogas. Nessa música, Criolo corresponde à um favelado que
teme levar um tiro ao sair de casa, sobretudo porque muitos inocentes morrem nessa
guerra às drogas.
ii) Chico Buarque e Gilberto Gil denunciam as violações de direitos de que eram vítimas os
opositores políticos do regime ditatorial, enquanto Criolo demonstra que essas violações
perduram ao vitimizarem os excluídos sociais.
##Atenção: Caetano e Gil, além de perseguidos durante o regime de exceção, se
insurgem contra os atos violentos praticados contra os opositres do regime. O cálice, na
ocasião, seria a vinda de um novo governo, porém, sanguinário, opressor e vilento, o
que denota a relação entre o vinho que celebra e o sangue que machuca. O novo
governo veio para derramar sangue. Criolo, por sua vez, demonstra que mesmo após a
queda do regime de exceçao, os excluidos (anteriormente oprimidos pelo regime) ainda
sofrem com incursões policiais na favela em noma da famigerada pacificação social.
iii) Cálice, composta por Chico Buarque e Giberto Gil, realiza uma crítica à ausência de
liberdade de expressão, à tortura e aos assassinatos perpetrados pela ditadura
civil-militar.
##Atenção: A canção Cálice realiza uma crítica à ausência de liberdade de expressão
(“Como é difícil acordar calado; Se na calada da noite eu me dano”), à tortura e aos
assassinatos perpetrados pela ditadura civil-militar (Quero inventar o meu próprio
pecado (“Quero morrer do meu próprio veneno”).
iv) Ambas as canções retratam um cotidiano de violação aos direitos civis e políticos, ainda
que versem sobre momentos históricos distintos.
##Atenção: Enquanto a canção de Caetano e Gil se refere ao período ditatorial, o rap do
Criolo se insurge contra a mesma opressão de outrora, contudo, ventilada
hodiernamente. Ademais, a própria reprodução do nome da canção para seu rap denota
que ele, além de considerar o que acontecia antes, pretendeu adaptar o nome da canção
para o que ocorre nas periferias. Oprimidos pelo regime se tornaram excluídos do
regime.
(DPU-2015-CESPE): Com relação aos direitos humanos, julgue o item que se segue:
Independentemente da existência de condições orçamentárias favoráveis, o Estado deve efetivar os
direitos sociais, especialmente aqueles referentes a grupos mais vulneráveis, como crianças e idosos.
##Atenção: Caso Atala Riffo y Niñas Vs. Chile, de 2012. Karen Atala Riffo era casada com Ricardo
Jaime López Allendes e, dessa união nasceram três filhas. Posteriormente se divorciaram e a guarda
das três ficou com a mãe. Ocorre que tempos depois, esta se envolveu com outra mulher. Diante
disso, o genitor buscou, junto à justiça, a guarda das filhas, por conta do ambiente homossexual em
que a mãe vivia. Embora tenha perdido nas duas primeiras instâncias, teve seu recurso provido na
Suprema Corte do Chile. Isto é, obteve direito de ficar com as filhas, pois como a orientação sexual
materna poderia expor as filhas à discriminação e lhes causar confusão psicológica, a melhor solução
seria mantê-las sob os cuidados paternos, no âmbito de uma família tradicional. Assim, acionada a
Corte Interamericana, esta entendeu que a decisão acima violou Pacto de San José da Costa Rica:
I) princípio da igualdade e não discriminação (Se a sociedade é intolerante, não cabe ao Estado
sê-lo, razão por que só lhe resta adotar medidas para combater o preconceito em razão da
orientação sexual);
III) Também foram violadas garantias processuais: crianças não foram ouvidas (direito
assegurado no art. 8º, I c.c 19 e art. 1º, I);
##Atenção: Karen Atala, no divórcio, ficou com a guarda de 3 filhas. depois disso iniciou relação
homoafetiva. O ex-marido ingressou com medido de guarda alegando que o ambiente doméstico era
prejudicial às crianças. Foi concedida custódia provisória ao pai, mas indeferido o pedido ao final do
processo. Em apelação, o Tribunal manteve a decisão singular de 1º grau. Na Suprema Corte,
afirmou-se que a orientação sexual da mãe expunha as crianças à confusão e discriminação.
Concedeu, assim, guarda definitiva ao pai. A Corte interamericana entendeu que tal decisão da
Suprema Corte Chilena ofendeu diversos princípios do Pacto de São José da Costa Rica, dentre os
quais: igualdade, não discriminação, proteção à vida privada.