A Origem Das Espécies
A Origem Das Espécies
A Origem Das Espécies
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cendentes.
Além disso, Darwin comentou que nem todas as caracte-
rísticas eram adaptativas nas raças domésticas, mas sele-
cionadas pelo homem para seu próprio benefício. Po-
rém, salientou que apenas nos últimos tempos a sele-
ção tornou-se uma prática metódica, sendo que antes
disso não passava de um hábito inconsciente de escolher
os indivíduos com as características mais interessantes.
Darwin já percebia a influência do tamanho populacional
na oferta de variabilidade das características a serem se-
lecionadas e afirmava que o processo pelo qual ocorria a
domesticação de espécies e a seleção das características
de interesse era extremamente lento e gradual. As ideias
centrais contidas nesse capítulo continuam atuais, apesar
dos grandes progressos em relação ao entendimento dos
mecanismos pelos quais esses processos acontecem.[4]
1.7 Capítulo VI – Dificuldades da teoria Seria inconcebível supor que o olho, sendo um órgão al-
tamente aperfeiçoado, seja formado por seleção natural.
Neste capítulo Darwin levanta pontos que poderiam tor- Darwin conclui que, se modificações benéficas aconte-
nar falha a sua teoria, no entanto, ele não acredita que tais cerem neste órgão de forma gradual e sucessiva, sendo
objeções possam ser fatais. As principais dificuldades e estas variações passadas por hereditariedade, não haverá
objeções tratadas neste capítulo são: problema em acreditar que órgãos perfeitos e complexos
são o resultado de um processo de seleção natural. Tam-
• Uma vez que as espécies descendem de outras, por bém podem acontecer alterações simultâneas, desde que
que não se encontram numerosas formas de transi- sejam lentas e graduais.
ção na Natureza? Darwin é bem enfático quando diz não ser possível com-
provar a existência de um órgão complexo sem ser for-
• Como acreditar que a Seleção Natural pode produ- mado por meio de pequenas modificações, sucessivas e
zir, de um lado, órgãos de pequena importância e, numerosas. Ele infere que existam modos de transição
de outro lado, órgãos de grande perfeição e comple- observando a existência de dois órgãos distintos que pos-
xidade? suam a mesma função. O surgimento de transições pode
ter sido facilitado pela necessidade de especialização de
A extinção e a Seleção Natural andam juntas, os or- um órgão que realizasse ao mesmo tempo diversas fun-
ganismos que se tornam mais aperfeiçoados entram em ções, ou de dois órgãos que realizassem simultaneamente
competição com os menos favorecidos e assim, podem a mesma função, com um deles assumindo gradualmente
eliminá-los. Dessa forma, se considerarmos que toda es- a responsabilidade total da mesma, enquanto o outro aos
pécie descende de alguma, pelo processo de aperfeiço- poucos perderia sua função auxiliar. Isso aconteceu com
amento, tanto os ancestrais quanto as variedades já de- a bexiga natatória que, inicialmente, era utilizada para
veriam ter sido exterminadas. De acordo com essa teo- flutuação, mas que era capaz de realizar trocas gasosas.
ria deveria existir um número grande de formas interme- Posteriormente a seleção natural atuou neste órgão já
diárias. Darwin aponta que essas formas intermediárias existente e há indícios de que este tenha se tornado o pul-
são muito escassas principalmente devido à imperfeição mão nos vertebrados superiores.
do registro geológico, já que são necessárias condições Darwin teve dificuldades em explicar a origem de órgãos
favoráveis e tempo adequado para que os fósseis sejam que aparentemente são pouco importantes e que são afe-
formados, tratando-se de um processo raro. tados pela seleção natural, uma vez que a seleção atuando
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no sentido de preservar indivíduos que possuem caracte- cies. Através deles inúmeras estratégias são criadas na
rísticas vantajosas e eliminando indivíduos que possuem tentativa de aumentar a chance de sobrevivência dos ani-
alguma característica desvantajosa, não teria como agir mais. Sob condições de vida modificadas, pequenas mo-
em estruturas muito simples que a princípio parecem não dificações (variações) nos instintos surgem. E essas mo-
conferir benefício algum ao indivíduo. Ele salientou que dificações quando benéficas para as espécies, serão con-
mesmo nos dias atuais, não sabemos muito a respeito da servadas e preservadas pela ação contínua da Seleção Na-
“economia natural” dos seres vivos e não temos como tural. A todo esse processo é que se deve a origem dos
concluir quais características conferem maior ou menor instintos mais complexos. Os instintos podem ser classi-
importância; órgãos que hoje parecem ser insignifican- ficados em duas categorias:
tes, podem ter sido de grande finalidade para um antigo
ancestral. Além disso muitas estruturas existentes e que • Domésticos são aqueles onde as tendências natu-
não possuem nenhuma relação direta com os hábitos de rais (qualidades mentais) dos animais são profunda-
vida atuais de determinadas espécies, estão ali por serem mente modificadas em função da domesticação (ca-
passadas através da hereditariedade, ou seja, por estarem tiveiro, hábito e seleção metódica contínua). São
presentes nos ancestrais e nestes conferir alguma vanta- menos estáveis que os instintos naturais, por serem
gem. afetados por uma seleção menos rigorosa e por se-
rem transmitidos há um curto intervalo de tempo
A teoria da seleção natural, como nos mostrou Darwin,
sob condições de vida menos estabilizadas. Seu alto
permite que compreendamos o significado da frase con-
grau de hereditariedade se dá em virtude do cruza-
siderada como um velho axioma da História Natural:
mento de diferentes raças.
Natura non facit saltum, a natureza não procede a saltos,
pois a seleção natural só pode agir tirando proveito de • Naturais, como o próprio nome diz, são aqueles em
variações ligeiras e sucessivas, de forma lenta e gradual. que o animal age de acordo com a sua natureza e,
portanto sem a influência do cativeiro hábito e se-
leção metódica. Neste caso as tendências naturais
1.8 Capítulo VII – Instinto dos animais são mantidas. E os instintos só serão
modificados através da interação entre os animais e
destes com o meio.
espécies não pode ter evoluído pouco a pouco atra- Mais adiante, Darwin retoma uma distinção feita no iní-
vés da Seleção Natural. cio do capítulo, entre a capacidade de cruzamento (i.e.,
de gerar um novo indivíduo) e a fecundidade ou esterili-
• A capacidade de entrecruzamento como conceito de dade da prole. Ele comenta que os dois fenômenos não
espécie: algum grau de esterilidade entre híbridos é são necessariamente correlatos; algumas espécies podem
a regra geral, mas não necessariamente universal. cruzar facilmente entre si, porém ter sempre prole estéril,
e vice-versa. Esta esterilidade estaria parcialmente re-
• A esterilidade é um acidente derivado da divergên- lacionada com a afinidade sistemática. Essa tendência
cia entre linhagens e depende em parte da afinidade também varia em cruzamentos recíprocos; isto é, pois às
sistemática, dos modos de vida e do histórico evolu- vezes é mais fácil cruzar o macho de uma espécie com
tivo. a fêmea de outra espécie, do que o contrário (um pensa-
mento que seria o embrião da regra de Haldane). Darwin
observa que, se a esterilidade entre as espécies fosse obra
O capítulo VIII busca responder a uma aparente dificul-
de uma criação especial, esperaria-se um grau semelhante
dade da Teoria da Seleção Natural levantada no capítulo
de esterilidade entre todas as espécies.
VI: Como explicar que as espécies, quando se cruzam,
fiquem férteis ou produzam descendentes estéreis, en- A visão de que o isolamento reprodutivo é uma con-
quanto as variedades, quando cruzadas entre si, mante- sequência natural do distanciamento filético é a visão pre-
nham sua fecundidade inalterada? Este problema existia, dominante atualmente. Para Darwin, no entanto, esse
segundo Darwin, porque a esterilidade não é vantajosa isolamento seria de certo modo acidental e imprevisível,
para o indivíduo, de modo que não poderia surgir grada- enquanto no paradigma atual, esse distanciamento tem
tivamente pela ação da Seleção Natural. um caráter um tanto inexorável (Teoria de Dobzhansky-
Muller). Atualmente é controverso se a Seleção Na-
tural pode ou não influir no isolamento reprodutivo,via
Reforço. Darwin chega a admitir a possibilidade do fenô-
meno do Reforço, mas descarta esta ideia.
sugerindo que na seleção natural quem seleciona é a na- segunda razão era a crença que o registro fóssil estava
tureza e não o homem. Há uma luta pela sobrevivência completo e que apenas aqueles organismos encontrados
uma vez que nascem mais indivíduos do que o ambiente foram os que já existiram e se extinguiram, sem fornecer
é capaz de suportar; sendo assim, a natureza seleciona os assim uma evidência dos intermediários entre as espécies.
mais aptos (com as melhores variações). Darwin ainda Darwin deixa a ideia de que a teoria de descendência com
cita a disputa entre machos pela posse de fêmeas e chama modificação pode abranger membros da mesma classe e
esse processo de seleção sexual, estabelecendo assim que mesmo reino, e ainda sugere a possibilidade de que to-
a seleção natural é a luta pela sobrevivência e a seleção dos os seres vivos tenham se originado a partir de uma só
sexual a luta pelo acasalamento. Em ambos os casos, ape-
forma principal.
nas aquele indivíduo que possuir a variação mais vanta-
josa vencerá a luta. Darwin sugere como a aceitação da Teoria da Seleção Na-
tural pode vir a influenciar os estudos de História Natural.
Ele prevê que não haverá uma definição satisfatória e unâ-
nime do conceito de espécie e que nossas classificações se
transformarão cada vez mais em genealogias onde serão
mapeados os caracteres herdados. Juntando informações
mais precisas de geologia, Darwin diz que seremos capa-
zes de recriar rotas migratórias seguidas pelos habitantes
do mundo. Poderemos ainda utilizar a soma das modifi-
cações nos fósseis encontrados em formações geológicas
consecutivas como medida relativa do tempo decorrido
entre essas formações. Darwin ainda prevê que a seleção
natural pode influenciar estudos de psicologia e auxiliar
no entendimento da origem do homem e de sua história.
Por fim, Darwin aponta que Hereditariedade, Variabili-
dade, Multiplicação dos Indivíduos, Luta pela Existên-
cia, Seleção Natural, Divergência dos Caracteres e Ex-
Fronstispício da 1a edição em inglês do livro A Origem das Es- tinção das Formas Menos Aptas são as principais leis res-
pécies de Charles Darwin (1859) ponsáveis por moldar as formas que conhecemos hoje no
mundo.
Em defesa a teoria da Seleção Natural, Darwin se dedica
a explicar por que espécies não podem ser atos indepen-
dentes de criação. Primeiro ele aponta que se as espécies
fossem independentes não deveria haver dificuldade para
2 Ver também
se definir o limite entre uma e outra, nem tampouco de-
veria haver tantas formas intermediárias entre elas. Ele • Árvore evolutiva
também cita que o axioma Natura non facit saltum (a Na-
• Charles Darwin
tureza não dá saltos) não deveria ser uma lei natural se
as espécies fossem criações independentes. Além disso • Especiação
ficaria difícil explicar a razão da criação de planos bioló-
gicos imperfeitos, como por exemplo o caso de aves que • Evidência da evolução
não voam, ou a abelha que morre ao utilizar seu ferrão.
O fato de duas áreas distantes apresentarem as mesmas • Evolução
condições de vida e habitantes completamente diferen-
• Filogenia
tes seria facilmente explicado pela teoria de modificação
com descendência, mas não pela criação independente. • Fósseis
A presença de morcegos e ausência de outros mamíferos
em ilhas oceânicas distantes do continente e a homologia • História da Biologia
entre os ossos da mão do homem, asas do morcego e bar-
batanas de baleias são outros exemplos que não poderiam • História do pensamento evolutivo
ser explicados pela teoria da criação independente.
• Introdução à evolução
Darwin acreditava que duas razões principais levavam
muitos naquela época a crer que as espécies eram imu- • Paleontologia
táveis. A primeira era a crença que a idade de criação
• Seleção artificial
da Terra fosse muito menor do que realmente é, não ha-
vendo assim tempo geológico suficiente para que todas • Seleção natural
as mudanças ocorressem de forma lenta e gradual, sendo
acumuladas até gerar os organismos como são hoje. A • Variabilidade genética
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3 Referências
[1] G1 > Pop & Arte - NOTÍCIAS - Exemplar da 1ª edição
de “A Origem das Espécies” supera US$ 50 mil em leilão.
Visitado em 29 de Dezembro de 2010.
4 Literatura adicional
• (em inglês) Diamond, J. 2002. Evolution, conse-
quences and future of plant and animal domestica-
tion. Nature 418:700-707.
5.2 Imagens
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Micheletb'>talk</a>)
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(PDF), vol. 1 (Second editon, revised ed.), Nova Iorque: D. Appleton & Co, pp. p. 172 Retrieved on 15 de junho de 2009. Artista original:
Charles Darwin and Francis Darwin
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