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v6n1p40-45
RESUMO. O presente estudo ocorreu no período de setembro a dezembro de 2014, com a finalidade de avaliar a influência do uso de
rações com diferentes concentrações de proteína bruta - PB (28% e 32%), no ganho de peso do tambaqui Colossoma macropomum
alimentado com essas dietas distintas. Para tal, foram analisados 500 exemplares de tambaqui com peso médio inicial de 225,33 g ±
11,31 e cultivados até a fase de abate com ≈ 1000 g, estes indivíduos foram divididos e cultivados em tanques separados. Biometrias
quinzenais foram realizadas utilizando 10% de cada grupo aleatoriamente, para mensurar as variáveis de peso (g) e comprimento
(cm). Ao mesmo tempo, dados relacionados aos parâmetros limnológicos dos tanques foram coletados. O conjunto de informações
colhidas foram posteriormente utilizadas para os cálculos estatísticos, empregando o pacote estatístico Statistic 9.0, onde foi
considerado α = 0,05 estatisticamente significante em todas as análises. Os resultados mostraram que os teores proteicos de 28 e 32%
de proteína bruta na ração não influenciaram significativamente nas variáveis ganho de peso e comprimento do tambaqui entre os
diferentes grupos testados. Ainda, a ração com menor teor proteico 28% PB foi a mais adequada para o cultivo da espécie por
apresentar um melhor custo benefício na produção.
Evaluation of weight gain for tambaqui cultivated with different rate of protein in food
ABSTRACT. The present study occurred from the period of September to December of the year 2014, in order to evaluate the influence of
fish dry feed containing different brute protein - BP (28% and 32%), on the weight gain of tambaqui Colossoma macropomum supplied
with these dissimilar diets. Hence, were evaluated 500 samples of tambaqui with initial average weight of 225.33 g ± 11.31 cultivated
until the caught phase with ≈ 1000 g, these individuals where divided and cultivated in two tanks apart. Biometry were realized on 10% of
the total of individuals randomly, to measure de weight (g) and the length (cm) of the fish. In the same time, data related to limnological
parameters of the tanks were sampled. The joint of information sampled were subsequent used to statistical calculations, applying the
Statistic 9.0 pack, considering α = 0.05 as a statistical significance for all analysis. The results showed that the brute proteins rates of 28
and 32% of fish dry feed did not influenced significantly in the tambaqui weight gain and length between the different groups tested. Also,
the lower protein rate with 28% BP in the fish dry feed still the most adequate to cultivate this specie once it has better benefit cost.
A PCA (autovalor relevante > 0,50) revelou que todos Relação peso e comprimento
os parâmetros limnológicos se agruparam por variáveis Foram verificados, por um período de 85 dias, os
semelhantes entre os tratamentos. No entanto, os dados incrementos de peso e comprimento de 500 indivíduos de
foram distribuídos em três quadrantes diferentes, onde: os tambaqui, divididos em dois tratamentos. O primeiro grupo
valores de pH ficaram no quadrante esquerdo inferior no (250 peixes) apresentou, ao final do experimento, valores
eixo x, a temperatura e a alcalinidade se arranjaram na médios de peso na ordem de 992,6 g ± 116 e
parte superior esquerda do gráfico e a amônia na parte comprimento de 32,7 cm ± 1,39. Similarmente, os valores
superior direita, também no eixo x. (Figura 2). Dentre as de peso e comprimento para o segundo grupo foram
variáveis analisadas, a amônia foi a mais representativa 974,3 g ± 97,7 e 32,8 cm ± 1,14, respectivamente. Estes
para a projeção dos autovalores em ambos os eixos do dados, quando submetidos à análise de variância (ANOVA)
gráfico, com as coordenadas de 0,570 (28% PB) e 0,251 exibiram diferenças significativas (p < 0,05) entre as
(32% PB) representando 37,17% do alinhamento dos coletas, que foram posteriormente identificadas pelo teste
dados no eixo x (fator 1: autovalor=2,973) e valores de de Tukey. Quando utilizado o teste de Pearson para
0,719 (28% PB) e 0,817 (32% PB) representando analisar a variável peso em função do tempo, foi verificado
32,12% do alinhamento dos dados no eixo y (fator 2: uma forte correlação entre estas variáveis, representadas
2
autovalor=2,569). Do mesmo modo, a alcalinidade foi pelos valores quadráticos de r = 0,780 (28% PB), muito
2
importante na espacialização dos valores do eixo y, com similar ao r = 0,837 estimado para o grupo alimentado
valores de coordenadas de 0,677 para ambos os grupos com taxa de 32% PB na ração (Figura 3).
de 28% PB e 32% PB. Ainda, os valores de pH se
1200 ANOVA F
apresentaram inversamente proporcional aos valores de (12,334) = 66,385; p<0,001
Alc 2 Am 1 b
Alc 1 b b
0,5 TC 1
600 b
a
Fator 2:32,12%
a
TC 2 400 aa
0,0
200
pH2
pH1 1 2 3 4 5 6 7 28% PB
-0,5 Coletas (Quinzenais) 32% PB
Figura 3. Distribuição das médias de peso e seus respectivos desvios padrões mensurados
durante o período amostral, para ambos os grupos alimentados com ração a 28% e
32% de PB. Letras iguais para diferentes grupos e períodos de coletas, correspondem a
-1,0 semelhanças signicativas obtidas pelo teste de Tukey. / Figure 3. Distribution of average
weight and their respective standard deviations measured during the sample period for
-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 both groups fed with ration to 28% and 32% CP. The same letter to different groups and
Fator 1:37,17% periods of collections, represent signicant similarities obtained by the Tukey test.
Figura 2. Distribuição das variáveis limnológicas com as coordenadas lineares da análise
de componentes principais. Onde: 1 = Grupo de peixes alimentados com ração a 28% PB,
2 = Grupo de peixes alimentados com ração a 32% PB, TC = Temperatura (ºC), pH =
Quando analisadas as variáveis peso e comprimento
Potencial hidrogeniônico, Alc = Alcalinidade e Amo = Amônia. / Figure 2. Distribution of entre os grupos amostrais (28% e 32% PB) através do teste t
limnological variables with the linear coordinates of principal components analysis. Where: de Student, os resultados mostraram que não existiram
1 = Group of shes fed ration to 28% CP, 2 = group of sh fed with feed to 32% CP, TC =
Temperature (° C), pH = hydrogenionic potential, Alc = alkalinity and Amo = Ammonia. diferenças significativas entre os grupos avaliados, revelados
Biota Amazônia 42
Sousa et al. | Avaliação do ganho de peso de tambaqui cultivado com diferentes taxas de proteínas na alimentação
1600 600
r2 = 0,960
1400 y = (0,066194)*x(2,7438) 400
1200
200
1000 200 400 600 800 1000 1200 1400
Peso (g)
400
Quando analisados os parâmetros de conversão
200 alimentar aparente (CAA), que consiste no resultado da
0 A divisão da quantidade de ração consumida (kg) pelo
18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 ganho de peso final (kg) (SANT´ANA DE FARIA et al.,
Comprimento (cm) 2013), estes apresentaram valores de CAA = 2,21 (28%
1600 r2 = 0,958 PB) e CAA = 2,42 (32% PB).
(2,59718)
1400 y = (0,109063)*x
1200
4. Discussão
O controle dos parâmetros limnológicos adequados
1000 para o cultivo de uma determinada espécie, proporcionam
Peso (g)
foram significativas quando confrontadas pelo teste t (1979), constatou que a dieta contendo 26% PB
utilizado entre os grupos amostrais, permanecendo todas apresentou o pior rendimento no ganho de peso para o C.
as variáveis ambientais nas faixas apropriadas para o macropomum e atribuiu este resultado a utilização de níveis
cultivo da espécie estudada (KUBITZA, 2004; CONAMA, proteicos acima dos exigidos para a espécie. Resultado
2006). Este padrão foi confirmado primeiramente pelos similar foi apresentado também por Vidal Júnior et al.
valores médios da temperatura da água de ambos os (1998) quando avaliaram o efeito dos níveis de PB sobre o
viveiros avaliados, que apresentaram valores análogos desempenho e composição corporal de juvenis de
considerados ótimos para o cultivo do tambaqui (IZEL; tambaqui, com peso inicial de 30 g cultivados até
MELO, 2004). O mesmo ocorreu com as variáveis de pH, alcançarem 250 g, estes foram submetidos as dietas com
alcalinidade e amônia, com seus valores oscilando dentro 18, 21, 24, 27 e 30% de PB na ração, onde constataram
dos limites ideais, conforme estimativas de Kubitza (2004) que conforme se elevam os teores proteicos nas rações,
e Badisserotto (2013). Estes resultados também estes diminuem a eficiência na formação de tecido nos
corroboram com os obtidos por Santos et al. (2014) para animais cultivados. Também, sugeriram que o nível ideal de
as mesmas variáveis mensuradas durante o cultivo de PB para a alimentação da espécie nessa fase de cultivo é
juvenis de tambaqui na região do estudo. de 25,01%. Nesse contexto observamos que rações com
Quando verificados os parâmetros de crescimento teores de PB superiores a 26%, estão acima do exigido
(peso e comprimento), estes exibiram forte correlação e pelo tambaqui na fase de juvenil (VIDAL JÚNIOR et al.
não apresentaram diferenças significativas entre os grupos 1998), caracterizando que os padrões de cultivo atuais
analisados. No entanto, diferenças nesses valores para a espécie, não seguem os preceitos publicados a mais
ocorreram em relação ao tempo amostral, o que já era de de três décadas. Sendo assim, a presente pesquisa reforça
se esperar, uma vez que os peixes tendem a crescer e que o crescimento zootécnico do tambaqui, da fase de
ganhar peso continuamente durante seu ciclo de vida, juvenil até seu abate com ≈ 1000 g, não apresentam
quando as condições ambientais são favoráveis (GAMITO, diferenças significativas que justifiquem o uso de rações
1998). Além disso, os valores de crescimento mostraram com teores proteicos acima dos aqui apresentados.
através do expoente aritmético “b” (2,74 e 2,59) das Para que seja alcançada uma produção de peixes
curvas de peso e comprimento obtidos dos respectivos satisfatória durante um ciclo de cultivo, é imprescindível
grupos (28 e 32% de PB), um padrão semelhante aos considerar, além dos níveis ideias de proteína na
2
encontrados por Santos et al. (2014) que foi de ≈ 2,73 (r alimentação (VIDAL JÚNIOR. et al., 1998), também a
≈ 0,97) mostrando alometria de crescimento negativa, avaliação do quanto desse alimento está sendo convertido
característico da espécie C. macropomum, conforme em carne, calculados através dos índices de conversão
reportado por Correia e Freitas (2013) que apresentaram alimentar aparente - CAA, (SANT´ANA DE FARIA et al.,
valores de b = 2,72 (r2 = 0,95) para indivíduos jovens de 2013). No presente estudo, os valores de CAA foram de
tambaqui coletados em ambiente natural, indicando que os 2,21 e 2,42, considerando a taxa de alimentação de 3%
-1
indivíduos crescem mais rápido do que ganham peso nessa do peso vivo (PV) dia , para os grupos tratados com os
fase da vida. teores de 28 e 32% PB na ração, respectivamente. Estes
No entanto, ao avaliar o desempenho do tambaqui resultados foram duas vezes menores do que os obtidos
alimentado com dietas a 28 e 32% de proteína bruta (PB) por Chagas et al. (2007), onde constataram que a
na ração, verificamos que não houve diferença significativa conversão alimentar de tambaquis alimentados com ração
entre os grupos analisados. Estes resultados corroboram de 28% PB, e tratados com 1%, 3% e 5% do peso vivo
-1
com o trabalho de Merola e Cantelmo (1987) que (PV) dia , obtiveram valores de CAA de 1,98, 4,86 e 7,07
observaram a ausência de diferenças significativas no respectivamente. Mostrando maior eficiência na CAA para
-1
ganho de peso entre grupos de tambaqui alimentados com o grupo mantido com 1% PV dia . Por outro lado, estes
diferentes teores de proteína bruta (PB), 30, 40 e 45%, valores ainda são considerados elevados, uma vez que a
contida na ração, e sugerem que esse padrão entre os CAA recomendada para o cultivo do tambaqui fica em
grupos amostrais pode ser atribuído ao fato de que o teor torno de 1,5 (SANT´ANA DE FARIA et al., 2013).
proteico oferecido aos indivíduos, estaria acima do exigido Observou-se que os valores de conversão alimentar
pela espécie. foram semelhantes entre as distintas dietas aplicadas no
Da mesma forma, Chellappa (1992) observou que o presente estudo, corroborando com os trabalhos de El-
ganho de peso para o tambaqui aumenta linearmente Sayed e Teshima (1992) e Bonfim et al. (2008) onde
conforme se eleva a concentração de PB na ração, entre os relatam que os níveis de proteína não afetam
níveis de 9,6 a 20% PB. Por outro lado, Macedo (1979) significativamente na conversão alimentar. Contudo, ainda
quando analisou a exigência de proteína bruta para o é prematuro fazer essa afirmativa, tendo em vista que
tambaqui, com pesos de 5 a 300 g, alimentados com existem resultados que mostram o oposto, como os
dietas contendo 14, 18, 22 e 26% de PB, constatou que a reportados por Bezerra et al. (2014), onde relatam que a
necessidade proteica dos animais na fase em que pesavam CAA tem relação inversa ao teor de proteína bruta contida
entre 5 a 20 gramas foi de 23% e após essa fase foi de na ração. Sendo assim, ainda tem muito a ser feito para
18% PB até alcançarem 300 g. esclarecer essa lacuna de informação para a criação de
Já Carneiro (1981) em um estudo empregando rações peixes em cativeiro, em especial o tambaqui. O presente
com os mesmos níveis de proteína utilizados por Macedo estudo mostrou informações que direcionam para esse
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Sousa et al. | Avaliação do ganho de peso de tambaqui cultivado com diferentes taxas de proteínas na alimentação